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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELÉTRICA CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA MODOS DE FALHA EM TRANSFORMADORES DE POTÊNCIA, SEUS EFEITOS E AS RECOMENDAÇÕES ASSOCIADAS. TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO DE GRADUAÇÃO POR WELLINGTON BEZERRA DE ARAUJO JÚNIOR Orientador: Prof. Cícero Mariano Pires dos Santos RECIFE, 06 / 2017 Wellington Bezerra de Araújo Júnior MODOS DE FALHA EM TRANSFORMADORES DE POTÊNCIA, SEUS EFEITOS E AS RECOMENDAÇÕES ASSOCIADAS. Trabalho de conclusão de curso de graduação apresentado ao Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Pernambuco como requisito parcial para a obtenção do título de Engenheiro Eletricista. Orientador: Prof. Cícero Mariano Pires dos Santos, Doutor. Recife 2017 AGRADECIMENTOS A Deus, fonte de toda sabedoria. A todo o apoio e paciência dado pelos meus pais, Marcia Maria Soares de Araújo e Wellington Bezerra de Araújo, bem como minha irmã Mylenna Lethycia Bezerra de Araújo. Ao Professor Dr. Cícero Mariano Pires dos Santos pela orientação, apoio, paciência e todas as conversas durante o desenvolvimento deste trabalho. A todas as pessoas especiais que tive o prazer de conviver durante a graduação. RESUMO O objetivo deste trabalho é contribuir para o gerenciamento do ciclo de vida do transformador de potência através da análise dos modos de falha, suas consequências e ações que contribuem para o aumento da confiabilidade e mantenabilidade do transformador. Foi elaborada uma revisão bibliográfica com base em artigos científicos, trabalhos acadêmicos, anais de congressos e livros. A pesquisa reuniu modos de falha dos componentes do transformador e dados estatísticos de desempenho de transformadores de potência em operação. O trabalho apresenta ainda a construção de uma árvore de falhas qualitativa do transformador de potência. No tocante a ensaios em transformadores de potência são apresentadas ações de manutenção com o objetivo de reunir recomendações que facilitem a obtenção de elevados valores de disponibilidade, durante a vida útil do mesmo. É apresentada uma associação entre os componentes do transformador de potência, seus modos de falha e as recomendações pertinentes associadas. Palavras-chave: Transformador de Potência, Análise de Falhas, Confiabilidade, Mantenabilidade, Árvore de Falhas, Manutenção de Transformadores de Potência. ABSTRACT The purpose of this study is to contribute to the life cycle management of power transformers through fault modes analysis, their consequences and actions that collaborate on increasing of transformer reliability and maintainability. A bibliogracphic review was elaborated based on science articles, academic papers, conference proceedings and books. The research gathered transformer components failure modes and performance statistical data of power transformers in operation. This research also presents the construction of a qualitative fault tree of the power transformer. Regarding the tests on power transformers, maintenance actions are presented whit the purpose of gathering recommendations that facilitate the attainment of high values of availability, during their life cycle. It’s exhibited a link between the power transformer components, their failure modes and associated recommendations. Keywords: Power Transformer, Failure Analysis, Reliability, Maintainability, Fault Tree Analysis, Power Transformer Maintenance. LISTA DE FIGURAS Figura 2.1 – Circuito magnético simples. .................................................................. 17 Figura 2.2 - Fio de Comprimento infinito percorrido por corrente i. ........................... 18 Figura 2.3 – Laço de Histerese. ............................................................................... 22 Figura 2.4 – Curvas de Histerese de alguns materiais. ............................................ 22 Figura 2.5 – Curva de magnetização para o aço elétrico de grão orientado M-5 de 0.012 polegadas de espessura. ............................................................................... 23 Figura 2.6 – Transformador ideal conectado a carga. .............................................. 24 Figura 2.7 –Disposição do fluxo em um transformador de dois enrolamentos. ......... 25 Figura 2.8 – Circuito equivalente do transformador de potência para regime permanente. ............................................................................................................. 26 Figura 2.9 – Ligações no transformador trifásico. ..................................................... 27 Figura 2.10 – Transformadores de potência no sistema elétrico de potência. .......... 28 Figura 2.11 – Função densidade de probabilidade e função distribuição acumulada. ................................................................................................................................. 30 Figura 2.12 – Conceito de valor esperado e desvio padrão...................................... 31 Figura 2.13- Função densidade de probabilidade de falhas obtida através de histograma. .............................................................................................................. 32 Figura 2.14 – Função f(t), F(t) e R(t). ....................................................................... 33 Figura 2.15 – Distribuição Normal, Exponencial e de Weibull. ................................. 35 Figura 2.16 – Curva da Banheira. ............................................................................ 36 Figura 2.17 – Curvas de Taxa de Falha de alguns itens. ......................................... 37 Figura 2.18 – MTBF, MTTF e MTTR. ....................................................................... 38 Figura 2.19 – Confiabilidade, Mantenabilidade e Disponibilidade. ............................ 39 Figura 2.20 – Interferência Carga-Resistência. ........................................................ 40 Figura 2.21 – O Risco. ............................................................................................. 41 Figura 2.22 – Matriz de criticidade. .......................................................................... 42 Figura 3.1 – Modos de falha em transformadores e causas associadas. ................. 47 Figura 3.2 – Deslocamento das laminas durante vibrações. .................................... 48 Figura 3.3 – Falhas durante ensaios de fábrica........................................................ 49 Figura 3.4 – Danos no terminal de alta tensão de transformador monofásico de 155 MVA, classe de tensão 550 kV. ............................................................................... 51 Figura 3.5 – Parte ativa de transformador trifásico de 418 MVA, classe de tensão 550 kV. ..................................................................................................................... 52 Figura 3.6 – Falha na região superior do enrolamento de alta tensão do transformador. .......................................................................................................... 52 Figura 3.7 – Forças axiais e radias nos enrolamentos do transformador.................. 54 Figura 3.8 – Deformação forçada nos enrolamentos do transformador. ................... 55 Figura 3.9 – Falha mecânica nos enrolamentos de um autotransformador de 400 MVA – 400/230 kV. .................................................................................................. 55 Figura 3.10 – Deformação livre. ...............................................................................56 Figura 3.11 – Falha mecânica nos enrolamentos de um transformador. .................. 56 Figura 3.12 – Deslocamento dos condutores (tilting)................................................ 57 Figura 3.13 – Deslocamento axial das bobinas (telescoping). .................................. 57 Figura 3.14 – Deformação dos condutores entre espaçadores radiais. .................... 58 Figura 3.15 – Curva de condição de vida do transformador. .................................... 63 Figura 3.16 – Degradação da isolação do transformador. ........................................ 64 Figura 3.17 – Modos de falha do transformador e seus componentes. .................... 66 Figura 3.18 – Diagrama de Blocos de Falha nos enrolamentos. .............................. 67 Figura 3.19 – Mecanismo de falha de buchas condensivas. .................................... 68 Figura 3.20 – Localização das falhas para as 797 falhas (excluído as de origem desconhecida). ......................................................................................................... 71 Figura 3.21 – Modos de falhas. ................................................................................ 72 Figura 3.22 – Localização das falhas. ...................................................................... 74 Figura 3.23 - Modos de falhas dos transformadores Cigré Brasil. ............................ 74 Figura 3.24 - Principais causas das falhas nos transformadores Cigré Brasil. ......... 75 Figura 3.25 - Análise das interrupções dos transformadores da Celg. ..................... 76 Figura 3.26 - Análise das interrupções dos transformadores da Celg sem o sistema de proteção. ............................................................................................................. 76 Figura 4.1 – Partes constituintes do transformador de potência. .............................. 80 Figura 4.2 – Tipos construtivos do núcleo do transformador. ................................... 89 Figura 4.3 – Laminação do núcleo. .......................................................................... 90 Figura 4.4 – Desenvolvimento do material do núcleo. .............................................. 91 Figura 4.5 – Transposição de condutores no cabo do enrolamento. ........................ 92 Figura 4.6 – Disposição das bobinas no enrolamento tipo camada. ......................... 93 Figura 4.7 – Enrolamento tipo camada. ................................................................... 93 Figura 4.8 – Disposição das bobinas no enrolamento tipo hélice. ............................ 94 Figura 4.9 – Enrolamento tipo hélice. ....................................................................... 94 Figura 4.10 – Disposição das bobinas no enrolamento tipo disco. ........................... 95 Figura 4.11 – Enrolamento tipo disco. ...................................................................... 95 Figura 4.12 – Arranjos dos enrolamentos e taps. ..................................................... 96 Figura 4.13 – Desenvolvimento da potência ativa dos transformadores. .................. 97 Figura 4.14 – Bucha não-condensiva. ...................................................................... 98 Figura 4.15 – Campo eletrostático e distribuição de diferença potencial das buchas condesiva e não-condesiva. ..................................................................................... 99 Figura 4.16 – Bucha condensiva. ........................................................................... 101 Figura 4.17 – Sequência de chaveamento do comutador sob carga resistivo. ....... 102 Figura 4.18 – Sequência de chaveamento em comutador sob carga tipo reator. ... 103 Figura 4.19 – Sistema de respiração livre. ............................................................. 104 Figura 4.20 – Sistema de preservação isolado externo. ......................................... 104 Figura 4.21 – Sistema de preservação isolado interno. .......................................... 105 Figura 4.22 – Ensaio de curto-circuito. ................................................................... 111 Figura 4.23 – Circuito equivalente do ensaio de curto-circuito. .............................. 111 Figura 4.24 – Ensaio de circuito aberto .................................................................. 112 Figura 4.25 – Circuito equivalente do ensaio a vazio. ............................................ 112 Figura 4.26 – Componentes de corrente no ensaio de resistência do isolamento DC. ............................................................................................................................... 114 Figura 4.27 – Comportamento típico do ensaio de resistência do isolamento DC. . 115 Figura 4.28 – Circuito equivalente do dielétrico. ..................................................... 116 Figura 4.29 – Corrente capacitiva e corrente resistiva no dielétrico. ....................... 116 Figura 4.30 – Corrente de polarização e despolarização. ...................................... 117 Figura 4.31 – Corrente de polarização, despolarização e tensão de retorno. ......... 118 Figura 4.32 – Efeito da condutividade do óleo isolante na corrente de polarização 119 Figura 4.33 – Efeito da condutividade do óleo isolante na tensão de retorno. ........ 119 Figura 4.34 – Efeito da condutividade do isolante sólido na corrente de polarização ............................................................................................................................... 120 Figura 4.35 – Efeito da condutividade da isolação sólida na tensão de retorno. .... 120 Figura 4.36 – Efeito da umidade do isolante sólido na corrente de polarização. .... 121 Figura 4.37 – Efeito da umidade do isolante sólido na corrente de polarização. .... 121 Figura 4.38 – Curva típica de espectroscopia no domínio da frequência (Fator de dissipação). ............................................................................................................ 123 Figura 4.39 – Curva típica de espectroscopia no domínio da frequência (Permissividade complexa). ................................................................................... 123 Figura 4.40 – Tipos de curvas de análise de resposta em frequência. ................... 124 Figura 4.41 – Geração de gases no transformador de potência. ............................ 126 Figura 4.42 – Triângulo 1 de Durval. ...................................................................... 128 Figura 4.43 – Pentágono 1 (esquerda) e 2 (direita) de Duval. ................................ 129 Figura 4.44 – Efeitos físicos e métodos de detecção de descargas parciais. ......... 130 Figura 4.45 – Circuito de medição de descargas parcias com acomplamento na bucha (esquerda) e circuito externo (direita). ......................................................... 130 Figura 5.1 – Ações de manutenção. ....................................................................... 134 Figura 5.2 – Arvore de falhas do transformador de potência (Parte 1). .................. 137 Figura 5.3 – Arvore de falhas do transformador de potência (Parte 2). .................. 138 Figura 5.4 – Árvore de falhas do transformador de potência (Parte 3). .................. 139 Figura 5.5 – Metodologia de avaliação de desempenho do equipamento. ............. 140 Figura 5.6 - Diagnósticos elétricos e análise de gases dissolvidos. ....................... 141 LISTA DE TABELAS Tabela 2.1 – Analogia entre circuitos elétricos e magnéticos. .................................. 20 Tabela 2.2 – Escala de avaliação do NPR. .............................................................. 43 Tabela 2.3 – Exemplo de tabela para FMECA. ........................................................ 44 Tabela 2.4 – Símbolos usuais na construção daFTA. ............................................. 45 Tabela 3.1 – Ocorrências de Falhas devido a sobretensões. ................................... 50 Tabela 3.2 - Falhas incipientes e suas causas. ........................................................ 59 Tabela 3.3 – Formas de ocorrência de descargas parciais em transformadores. ..... 61 Tabela 3.4 – Causas das Falhas. ............................................................................. 65 Tabela 3.5 Taxa de falha de transformadores de subestação. ................................. 70 Tabela 3.6 - Taxa de falha de transformadores elevadores de geração. .................. 70 Tabela 3.7 - Taxa de falha de transformadores de potência..................................... 71 Tabela 3.8 – Possíveis causas de falhas. ................................................................ 72 Tabela 3.9 – Taxa de falhas de transformadores do Cigré Brasil. ............................ 73 Tabela 3.10 – Taxa de falhas de transformadores do Cigré Brasil. .......................... 73 Tabela 4.1 – Tabela orientativa para diagnóstico da isolação ................................ 115 Tabela 4.2 – Método dos gases chave. .................................................................. 127 Tabela 4.3 – Ensaios no óleo isolante. ................................................................... 132 Tabela 5.1 – O uso da metodologia do por quê na falha no enrolamento do transformador de potência. .................................................................................... 135 Tabela 5.2 – Grandezas monitoradas. ................................................................... 142 Tabela 5.3 – Práticas de inspeção. ........................................................................ 143 Tabela 5.4 – Recomendações para falhas em transformadores. ........................... 145 LISTA DE SIGLAS ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas CDF Cumulative Distribution Function CDST Comutador sem tensão Celg Companhia Energética de Goiás Chesf Companhia Hidrelétrica do São Francisco Cigré Conseil International des Grands Réseaux Electriques CLAE Cromatografia Líquida de Alta Eficiência DC Direct Current FMEA Failure Mode and Effect Analysis FMECA Failure Mode, Effects and Criticality Analysis FMM Força magnetomotriz FTA Fault tree analysis FRA Frequency Response Analysis GT Grupo de Trabalho GP Grau de Polimerização HV High Voltage IEEE Institute of Electrical and Electronics Engineers IFRA Impulse Frequency Response Analysis IP Indice de Polarização LTC Load Tap Changer LV Low Voltage MTBF Mean time between failures MTTF Mean time to failure MTTR Mean time to repair NPR Número de Prioridade de Risco OIP Oil Impregnated Paper insulation PD Partial Discharges PDF Probability Density Function RIP Resin Impregnated Paper insulation RBP Resin Bonded Paper insulation SFRA Swept Frequency Response Analysis TF Task Force TR Tempo de Reparo UHF Ultra High Frequency VFT Very Fast Transients WG Working Group SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 15 1.1Objetivos do trabalho .......................................................................................... 15 1.2Estrutura do trabalho ........................................................................................... 16 2 CONCEITOS E FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................... 17 2.1 Teoria do Transformador de potência ................................................................ 17 2.1.1 Circuitos magnéticos ....................................................................................... 17 2.1.2 Materiais Magnéticos ...................................................................................... 21 2.1.3 O transformador ideal ...................................................................................... 23 2.1.4 O transformador real ....................................................................................... 25 2.1.5 Transformadores Trifásicos ............................................................................. 27 2.2 Conceitos da Engenharia de Confiabilidade ....................................................... 28 2.2.1 Probabilidade .................................................................................................. 28 2.2.2 Confiabilidade, Mantenabilidade e Disponibilidade. ......................................... 31 2.2.3 Análise de falhas ............................................................................................. 40 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................. 46 3.1 Falhas em transformadores de potência ............................................................ 46 3.1.1 Falhas de projeto, fabricação e transporte ...................................................... 47 3.1.2 Falhas devido a fenômenos transitórios .......................................................... 49 3.1.3 Falhas incipientes e formação de gases.......................................................... 58 3.1.4 Envelhecimento da isolação ............................................................................ 63 3.2 Falhas nos componentes ................................................................................... 65 3.2.1 Falhas nos enrolamentos ................................................................................ 66 3.2.2 Falhas no núcleo ............................................................................................. 67 3.2.3 Falhas nas buchas .......................................................................................... 67 3.2.4 Falhas em comutadores .................................................................................. 68 3.2.5 Falhas no tanque e sistema de resfriamento ................................................... 69 3.3Pesquisas de desempenho de transformadores ................................................. 69 3.4 Considerações do capítulo ................................................................................. 77 4 ASPECTOS CONSTRUTIVOS E ENSAIOS ......................................................... 79 4.1 Visão geral do transformador de potência .......................................................... 79 4.2 Aspectos construtivos ........................................................................................ 89 4.2.1 Núcleo ............................................................................................................. 89 4.2.2 Enrolamentos .................................................................................................. 92 4.2.3 Buchas ............................................................................................................ 98 4.2.4 Comutadores................................................................................................. 101 4.2.5 Sistema de preservação do líquido isolante .................................................. 103 4.2.6 Sistema de refrigeração ................................................................................ 105 4.3 Ensaios ............................................................................................................ 107 4.3.1 Medição da impedância de curto-circuito e das perdas em carga ................. 110 4.3.2 Medição de perdas em vazio e corrente de excitação ................................... 112 4.3.3 Resistência DC, fator de potência e fator de dissipação do isolamento ......... 113 4.3.4 Métodos de polarização no domínio do tempo ..............................................117 4.3.5 Métodos de polarização no domínio da frequência ....................................... 122 4.3.6 Análise de resposta em frequência ............................................................... 124 4.3.7 Análise de Gás dissolvido no óleo isolante .................................................... 125 4.3.8 Detecção de descargas parciais ................................................................... 129 4.3.9 Ensaios no óleo isolante ............................................................................... 131 5 ELEMENTOS DE MANUTENÇÃO EM TRANSFORMADORES DE POTÊNCIA 134 5.1 Árvore de falhas do transformador de potência ................................................ 135 5.2 Manutenção preventiva de transformadores de potência ................................. 140 5.3 Inspeção visual e periódica .............................................................................. 143 5.4 Recomendações Associadas aos modos de falha do transformador de potência ............................................................................................................................... 145 6 CONCLUSÃO ..................................................................................................... 147 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 149 15 1 INTRODUÇÃO O transformador de potência está presente nos diversos níveis de tensão do sistema elétrico de potência, desde as subestações elevadoras de geração, transmissão e distribuição até as indústrias consumidoras. A falta de capacidade de funcionar, que é interpretada como falha, pode gerar consequências graves como interrupções no fornecimento de energia, explosões e prejuízos financeiros para as transmissoras, distribuidoras de energia e grandes centros de carga. O estudo dos modos e consequências das falhas nos transformadores de potência é uma ferramenta essencial para o seu gerenciamento. Sendo o ativo de maior valor agregado em uma instalação de transmissão e distribuição, o projeto, especificação e operação do transformador de potência deve ter um viés voltado para sua confiabilidade e mantenabilidade, que asseguram uma certa disponibilidade. O investimento em técnicas de manutenção e monitoramento de transformadores de potência merece realce dado a importância deste atributo no gerenciamento da vida útil do transformador, e, portanto, no auxílio para o uso de ferramentas como a Árvore de Falhas. 1.1 Objetivos do trabalho Neste trabalho, os modos de falhas dos transformadores de potência serão estudados de forma a contribuir para o gerenciamento do ciclo de vida do transformador de potência, os danos físicos e operativos também estão entre os assuntos abordados. O objetivo geral deste trabalho é sintetizar informações sobre o desempenho, operação e modos de falha dos transformadores de potência que agregam ao desenvolvimento de ações de manutenção e gerenciamento de transformadores de potência imersos em líquidos isolantes. Dentre os objetivos específicos, está a elaboração de uma revisão bibliográfica com base em artigos científicos e trabalhos disponíveis em plataformas de pesquisa cientifica e livros, a construção de uma árvore de falhas qualitativa do transformador de potência, abordar os principais ensaios e técnicas de manutenção preventiva aplicadas em transformadores de potência imersos em líquidos isolantes. 16 1.2 Estrutura do trabalho Os seguintes capítulos são descritos a seguir: O Capítulo 2 aborda os conceitos teóricos fundamentais para a o entendimento dos capítulos seguintes. Conceitos sobre circuitos magnéticos, teoria do transformador de potência e teoria da confiabilidade são apresentados. No Capítulo 3, é apresentada uma revisão bibliográfica dos modos de falhas em transformadores de potência, falhas nos componentes e dados estatísticos de falhas em transformadores a nível internacional. O Capítulo 4 apresenta aspectos construtivos do transformador de potência bem como os ensaios utilizados em transformadores de potência. O Capitulo 5 apresenta elementos de manutenção em transformadores de potência, aspectos de manutenção preventiva e monitoramento online de transformadores de potência. As considerações finais e sugestões para trabalhos futuros são tratadas no Capítulo 6. .. 17 2 CONCEITOS E FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Teoria do Transformador de potência O transformador de potência é um equipamento elétrico estático que, através da indução eletromagnética, transfere potência de um nível de tensão a outro sem mudança de frequência. A transferência de potência ocorre entre dois ou mais enrolamentos eletricamente isolados e magneticamente acoplados através do fluxo magnético comum a eles (Georgilakis, 2009). Um dos enrolamentos, chamado de primário, é conectado a uma fonte de tensão alternada e um fluxo alternado é estabelecido induzindo tensão nos demais enrolamentos, o valor da tensão induzida depende do número de espiras dos enrolamentos, da magnitude do fluxo comum e da frequência. No transformador de potência, o acoplamento entre enrolamentos é realizado através de um material ferromagnético que delimita o fluxo em sua maior parte (Fitzgerald et al,2003). 2.1.1 Circuitos magnéticos Circuitos magnéticos são estruturas de alta permeabilidade magnética, compostas por materiais com elevada capacidade de transportar fluxo magnético. Na Figura 2.1 está representado um exemplo de um circuito magnético simples: Figura 2.1 – Circuito magnético simples. Fonte: Fitzgeral et al,2003. 18 O núcleo tem seção reta uniforme de área 𝐴𝑐, os enrolamentos possuem 𝑁 espiras e conduzem uma corrente elétrica de 𝑖 ampères que produz um campo magnético no núcleo, assume-se que o núcleo possui permeabilidade muito maior que a do ar (µ >> µ𝑜). O produto 𝑁. 𝑖, que produz o campo magnético do núcleo, é chamado de força magnetomotriz (𝐹𝑀𝑀), expresso em ampères-espiras (𝐴. 𝑒). 𝐹𝑀𝑀 = 𝑁. 𝑖. (2.1) A lei de Ampére estabelece que a integral de linha da componente tangencial da intensidade do campo magnético 𝐻 em torno de um caminho fechado é igual a corrente líquida envolvida pelo caminho: ∮𝐻.𝑑𝑙 = 𝐼𝑒𝑛𝑣 . (2.2) Figura 2.2 - Fio de Comprimento infinito percorrido por corrente i. Fonte: Sadiku, 2012. Para os enrolamentos do transformador de potência, a corrente envolvida é a força magnetomotriz. Assumindo que as dimensões do núcleo são tais que o comprimento do caminho de qualquer linha de fluxo é aproximadamente igual ao comprimento médio do núcleo 𝑙𝑐, a integral de linha da Equação 2.2 pode ser escrita como o produto escalar entre 𝐻 e 𝑙𝑐, logo: 𝐹𝑀𝑀 = 𝑁. 𝑖 = 𝐻𝑐𝑙𝑐 . (2.3) 19 A densidade de fluxo magnético (𝐵), dado em 𝑊𝑏/𝑚2, se relaciona com a intensidade de campo magnético (𝐻), expressa em 𝐴/𝑚, através da permeabilidade do material em que se encontra o campo magnético: 𝐵 = µ.𝐻. (2.4) A permeabilidade do material é expressa em 𝐻/𝑚. O fluxo magnético através da superfície S pode ser expresso pela seguinte equação: 𝜙 = ∮ 𝐵. 𝑑𝑠. 𝑠 (2.5) De acordo com a Equação 2.5, pode-se afirmar que qualquer fluxo que entrar em uma superfície delimitada por um volume deverá deixar esse volume através de outra região dessa superfície, dado que as linhas de fluxo formam laços fechados. Pode-se supor que a densidade de fluxo magnético é uniforme em uma seção reta de um circuito magnético, logo a Equação 2.5 torna-se: 𝜙 = 𝐵𝑐𝐴𝑐 . (2.6) Utilizando as Equações 2.4 e 2.6, pode-se reescrever a Equação 2.3: 𝐹𝑀𝑀 = 𝜙. 𝑙𝑐 µ.𝐴𝑐 . (2.7) A relutância do núcleo magnético é definida como: 𝑅𝑐= 𝑙𝑐 µ.𝐴𝑐 . (2.8) A relutância, expressa em ampères-espiras por Weber (𝐴. 𝑒/𝑊𝑏), pode ser interpretada como a oposição de um meio ao fluxo magnético. Utilizando a definição de relutância: 𝐹𝑀𝑀 = 𝜙𝑐 . 𝑅𝑐 . (2.9) Os circuitos magnéticos são análogos aos circuitos elétricos devido a semelhança matemática de entre suas leis, na Tabela 2.1 está resumida a correspondência entre os circuitos elétricos e magnéticos: 20 Tabela 2.1 – Analogia entre circuitos elétricos e magnéticos. Circuitos magnéticos Circuitos Elétricos Símbolo Nome Unidade Símbolo Nome Unidade 𝜙 Fluxo magnético 𝑊𝑏 𝑖 Corrente elétrica 𝐴 𝐵 Densidade do fluxo magnético 𝑊𝑏/𝑚² 𝐽 Densidade de corrente 𝐴/𝑚² 𝐻 Intensidade de campo magnético 𝐴. 𝑒/𝑚 𝐸 Intensidade de campo elétrico 𝑉/𝑚 𝐹𝑀𝑀 Força magnetomotriz 𝐴. 𝑒 𝑉 Tensão 𝑉 µ Permeabilidade 𝐻/𝑚 ɤ Condutividade (Ω.𝑚)−1 𝑅 Relutância 𝐴. 𝑒/𝑊𝑏 𝑅 Resistência Ω Fonte: Georgilakis, 2009. Assim, considera-se que a soma algébrica dos fluxos magnéticos que entram em qualquer nó de um circuito magnético é igual à soma dos fluxos magnéticos que saem, análogo a lei de Kirchhoff das correntes, e que a soma algébrica das forças magnetomotrizes em torno de qualquer laço do circuito é zero, semelhante a lei de Kirchhoff da tensão. Logo é possível utilizar ferramentas de análise de circuitos elétricos resistivos para o cálculo de circuitos magnéticos utilizando as devidas aproximações (Georgilakis, 2009). A lei de Faraday afirma que um campo magnético variável no tempo produz uma tensão induzida em um circuito fechado de acordo com a Equação 2.10: 𝑒 = − 𝑑𝜆 𝑑𝑡 = − 𝑁. 𝑑𝜙 𝑑𝑡 . (2.10) A força eletromotriz, ou tensão induzida, é igual à taxa de variação no tempo do fluxo magnético enlaçado pelo circuito (𝜆), como o enrolamento concatena o fluxo do núcleo 𝑁 vezes, o fluxo concatenado é o produto do fluxo do núcleo pelo número de espiras. A tensão induzida age de tal forma a se opor à variação de fluxo que a induziu, esse fenômeno, conhecido como lei de Lenz, faz com que o fluxo da corrente induzida no circuito seja tal, que o campo magnético produzido por ela se opõe ao campo magnético original (Fitzgerald et al, 2003). 21 A relação entre o fluxo concatenado e a corrente é linear em um circuito magnético composto de material magnético de permeabilidade constante, essa relação é definida como indutância: 𝐿 = 𝜆 𝑖 . (2.11) A indutância é uma constante de proporcionalidade determinada pela propriedade da geometria física do circuito. A indutância também é uma medida de quantidade de energia magnética armazenada, a energia magnética armazenada num indutor é expressa pela Equação 2.12: 𝑊𝑚 = 1 2 𝐿𝑖2 (2.12) Utilizando as Equações 2.1 e 2.9, pode-se reescrever Equação 2.12 em termos da relutância total do circuito magnético e do número de espiras do enrolamento: 𝐿 = 𝑁2 𝑅𝑡𝑜𝑡 (2.13) 2.1.2 Materiais Magnéticos Os materiais magnéticos possuem a finalidade de delimitar e direcionar os campos magnéticos, dentro de caminhos bem definidos. Para os transformadores de potência, seu uso maximiza o acoplamento entre os enrolamentos e diminui a corrente de excitação. Compostos de ferro e de ligas de ferro com cobalto, tungstênio, níquel, alumínio e outros metais, são os materiais magnéticos mais utilizados em maquinas elétricas (Fitzgerald et al, 2003). Os materiais ferromagnéticos possuem regiões onde os momentos magnéticos de todos os átomos estão em paralelo, o que origina um momento magnético resultante naquela região, dita como domínio. Um campo magnético aplicado externamente ao material pode magnetiza-lo através do alinhamento dos domínios com o campo magnético aplicado, o que produz um valor elevado de densidade de fluxo. Quando todos os momentos magnéticos se encontram alinhados com o campo aplicado, o material está saturado e não pode mais contribuir para o aumento do campo. O campo magnético segue a trajetória mostrada na Figura 2.3, chamada de laço de histerese. Quando o campo magnético se torna nulo, os momentos dos dipolos 22 magnéticos não são mais totalmente aleatórios em suas orientações e existe uma magnetização residual no material (Fitzgeral et al,2003). Figura 2.3 – Laço de Histerese. Fonte: Lee, 2013. A curva de histerese é uma característica intrínseca do material, na Figura 2.4 pode-se notar as características de alguns materiais utilizado em transformadores de potência: Figura 2.4 – Curvas de Histerese de alguns materiais. Fonte : McLyman, 2004. Para algumas aplicações, pode-se desprezar a natureza histerética do material ferromagnético utilizando a curva de magnetização ou curva normal de magnetização, 23 que traduz a relação não-linear entre B e H. A curva normal de magnetização é o lócus dos valores máximos de B e H: Figura 2.5 – Curva de magnetização para o aço elétrico de grão orientado M-5 de 0.012 polegadas de espessura. Fonte: Fitzgeral et al,2003. 2.1.3 O transformador ideal Para introdução dos conceitos básicos do transformador de potência, considera-se um transformador de dois enrolamentos, as perdas elétricas são desprezadas e todo o fluxo está confinado ao núcleo: 24 Figura 2.6 – Transformador ideal conectado a carga. Fonte: Chapman, 2013. De acordo com a Equação 2.14: 𝑒1(𝑡) = 𝑁1. 𝑑𝜙𝑚 𝑑𝑡 . (2.14) Como o fluxo do núcleo concatena o enrolamento secundário, tem-se: 𝑒2(𝑡) = 𝑁2. 𝑑𝜙𝑚 𝑑𝑡 . (2.15) Logo, utilizando as Equações 2.14, 2.15 e desprezando as perdas: 𝑣1 𝑣2 = 𝑁1 𝑁2 . (2.16) Utilizando o conceito de circuitos magnéticos, as forças magnetomotrizes no laço formado pelo fluxo 𝜙𝑚 se cancelam: 𝑁1𝑖1 = 𝑁2𝑖2 , (2.17) 𝑖1 𝑖2 = 𝑁2 𝑁1 . (2.18) Utilizando a forma fasorial das Equações 2.16 e 2.18 𝑉1⃗⃗ ⃗ = 𝑁1 𝑁2 𝑉2⃗⃗ ⃗ , (2.19) 𝐼1⃗⃗ = 𝑁2 𝑁1 𝐼2⃗⃗⃗ . (2.20) A impedância da carga do secundário pode ser considerada como uma impedância equivalente no circuito do enrolamento primário: 𝑍1 = 𝑉1⃗⃗⃗⃗ 𝐼1⃗⃗ ⃗ = ( 𝑁1 𝑁2 ) 2 . 𝑍2 . (2.21) 25 2.1.4 O transformador real O transformador de potência real operando em regime permanente apresenta uma série de perdas em seus enrolamentos primário e secundário, no material ferromagnético do núcleo e ainda dispersão do fluxo (Fitzgerald et al,2003). A operação em regime permanente de um transformador real pode ser representada por um circuito equivalente que envolve um transformador ideal e elementos indutivos e resistivos que representam a dispersão do fluxo, magnetização do núcleo, perdas por efeito joule e perdas no núcleo, elementos capacitivos podem ser desprezados para análise em regime. Ao aplicar tensão no enrolamento primário do transformador, é estabelecida uma corrente de magnetização, suficiente para produzir o fluxo no núcleo. O fluxo que flui no núcleo é responsável pela ocorrência de perdas devido a correntes parasitas no ferro e perdas por histerese. O fluxo magnético é dividido em duas partes: O fluxo que enlaça os dois enrolamentos, e a parcela do fluxo que se dispersa em cada enrolamento. Os fluxos estão representados na Figura 2.7: Figura 2.7 –Disposição do fluxo em um transformador de dois enrolamentos. Fonte: Georgilakis, 2009. O fluxo de dispersão origina uma perda na força eletromotriz do enrolamento. A corrente no enrolamento primário pode ser decomposta em duas componentes: uma componente de excitação e uma componente de carga. A componente de excitação é responsável pelo fluxo mútuo e a componente de carga contrabalança a força 26 magnetomotriz da corrente do secundário.Em regime permanente, a corrente de excitação é representada por uma indutância de magnetização (Lm) e uma resistência de perdas no núcleo (Rc). O circuito equivalente do transformador de potência é composto pelas as reatâncias de dispersão (Xl1 Xl2), perdas por efeito joule nos condutores (R1 e R2) e o ramo de magnetização (Xm e Rc) (Figura 2.8): Figura 2.8 – Circuito equivalente do transformador de potência para regime permanente. Fonte: Fitzgeral et al,2003. Utilizando as Equações 2.19, 2.20 e 2.21, pode-se referir as grandezas do circuito equivalente ao enrolamento primário ou secundário e usar técnicas de análise de circuitos elétricos para operação em regime. Algumas situações especificas podem levar a simplificações do circuito equivalente, como desprezar a corrente de magnetização ou as perdas por efeito joule. Os parâmetros do circuito equivalente para regime permanente podem ser obtidos através de ensaios que serão abordados no Capítulo 4. 27 2.1.5 Transformadores Trifásicos Os transformadores trifásicos podem ser formados por bancos de transformadores monofásicos ligados de forma a operarem em circuitos trifásicos ou possuírem um núcleo comum. Os transformadores trifásicos são compostos de enrolamentos das fases A, B e C de um circuito trifásico dentro de um mesmo equipamento. As ligações dos enrolamentos num transformador trifásico se dá obedecendo as tensões de linha e de entre fases do sistema trifásico conforme o tipo de ligação. Figura 2.9 – Ligações no transformador trifásico. Fonte: Fitzgeral et al,2003. Os transformadores trifásicos são utilizados em conformidade com suas conveniências dado sua modulação de tensão e corrente. Nas usinas geradoras de energia elétrica são uteis para elevar a tensão a níveis aceitáveis de transmissão de energia elétrica, esses transformadores são chamados de transformadores elevadores (step-up transformers). Transformadores que se encontram entre linhas de transmissão e subtransmissão são chamados de transformadores de interligação, ou transformadores de subestação (substation transformers) e os transformadores que alimentam as cargas elétricas a nível de distribuição são chamados de transformadores abaixadores (step-down transformers). 28 Figura 2.10 – Transformadores de potência no sistema elétrico de potência. Fonte: Autor. 2.2 Conceitos da Engenharia de Confiabilidade Equipamentos elétricos em geral estão sujeitos a ocorrências durante a fabricação, transporte ou operação que podem comprometer seu desempenho e dar origem a resultados indesejados. O defeito é caracterizado pelo desvio de uma característica de um equipamento em relação aos seus requisitos, o que pode ou não afetar sua capacidade em desempenhar uma função requerida. Já a falha é o término da capacidade de um item desempenhar a função requerida, o estado de falha é caracterizado pela interrupção da operação do equipamento (ABNT,1994). Durante o ciclo de vida do equipamento, é esperado que os problemas ocorrentes sejam dominantemente de caráter aleatório, o que leva a necessidade do uso de conceitos probabilísticos para análise de risco e desempenho do equipamento. 2.2.1 Probabilidade A probabilidade é uma disciplina utilizada de forma a dar uma previsibilidade a problemas que possuem incertezas associadas através de modelos matemáticos. Para cálculo da probabilidade realiza-se um experimento aleatório de natureza repetitiva seguindo um conjunto de regras imutáveis a cada repetição. O conjunto de todos os resultados possíveis desse experimento é definido como espaço amostral (Santos, 2012, Devore, 2006). Por vezes, é interessante a análise de um subconjunto do espaço amostral, a esse conjunto dá-se o nome de evento. Define-se a probabilidade de um evento A ocorrer de acordo com a Equação 2.22: 29 𝑃(𝐴) = lim 𝑛→∞ 𝑁𝐴 𝑛 , (2.22) Onde 𝑁𝐴 é número de vezes que o evento 𝐴 ocorreu em 𝑛 repetições do experimento. Pode-se entender 𝑃(𝐴) como a frequência relativa de ocorrência do evento 𝐴 em 𝑛 repetições. Em algumas situações, grandes repetições do experimento aleatório tornam-se inviáveis e essa abordagem torna-se proibitiva (Santos, 2012). O estado de falha de um equipamento pode ser definido como um evento, logo de acordo com a Equação 2.22 a probabilidade de falha será: 𝑃(𝑓𝑎𝑙ℎ𝑎) = 𝑁ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑓𝑎𝑙ℎ𝑎𝑠 𝑁ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑑𝑜𝑠 𝑝𝑜𝑠𝑠í𝑣𝑒𝑖𝑠 . (2.23) Considerando que os únicos estados possíveis são sucesso e falha, o número de resultados possíveis é a soma entre número de falhas e o número de sucessos. Os resultados de um experimento podem ser associados a uma variável 𝑋, denominada variável aleatória. A variável aleatória é uma função cujo domínio é o espaço amostral e o contradomínio é um conjunto de números reais (Devore, 2006). Atribuindo-se probabilidades aos valores de qualquer variável aleatória 𝑋, pode- se construir uma função densidade de probabilidade (PDF – Probability Density Function), representada por 𝑓(𝑥), que indica a probabilidade de que 𝑋 irá assumir o valor de 𝑥, algumas propriedades da função 𝑓(𝑥) são descritas a seguir: 1. 𝑓(𝑥) = 0 para ∀ 𝑥 fora do domínio de 𝑋; 2. 0 ≤ 𝑓(𝑥) ≤ 1 para cada 𝑥𝑖 dentro do domínio de 𝑋; 3. ∑ 𝑓(𝑥𝑖) = ∑ 𝑃(𝑋 = 𝑥𝑖) = 1𝑖=1𝑖=1 . Dada a função densidade de probabilidade, pode-se determinar a probabilidade de X ≤ x: 𝑃(𝑋 ≤ 𝑥) = 𝐹(𝑥) = ∫ 𝑓(𝑥).𝑑𝑥 𝑥 −∞ . (2.24) 30 A função 𝐹(𝑋) é chamada de função distribuição acumulada (CDF – Cumulative Distribution Function). A Figura 2.11 mostra a relação entre a função 𝑓(𝑥) e a função 𝐹(𝑋). Figura 2.11 – Função densidade de probabilidade e função distribuição acumulada. Fonte: Devore, 2006 Algumas características da função densidade de probabilidade são bastante utilizadas em análises de probabilidade, são elas a média (µ), a variância (𝜎2) e o desvio padrão (𝜎). A média, ou esperança matemática, é uma medida de locação central da função densidade de probabilidade. A variância é uma medida de dispersão da distribuição. 𝜇 = 𝐸(𝑥) = ∫ 𝑥𝑓(𝑥). 𝑑𝑥 ∞ −∞ , (2.25) 𝜎2 = 𝐸(𝑥2) − 𝐸(𝑥)2 , (2.26) 𝜎 = √𝜎2 . (2.27) 31 Figura 2.12 – Conceito de valor esperado e desvio padrão. Fonte: Devore, 2006. Uma série de funções densidade de probabilidade padronizadas são utilizadas para parametrizar distribuições de uma variável aleatória, estas distribuições são caracterizadas por sua média e desvio padrão, assim como parâmetros de escala e forma, por exemplo a distribuição normal, a distribuição exponencial e a distribuição de Weibull. 2.2.2 Confiabilidade, Mantenabilidade e Disponibilidade. Segundo a NBR 5462, a confiabilidade é definida como a capacidade de um item desempenhar uma função requerida sob condições especificadas, durante um dado intervalo de tempo. Portanto a confiabilidade de um equipamento é função de seus componentes, das condições de operação, das especificações requeridas e do tempo considerado. Em termos quantitativos, a função confiabilidade é a probabilidade de um item poder desempenhar uma função requerida, sob dadas condições, durante um dado intervalo de tempo (𝑅(𝑡)). A função confiabilidade é a probabilidade de não falha em um dado intervalo de tempo. A partir de um banco de dados histórico do equipamento, pode-se construir um histograma de frequência de falhas e obter uma função densidade de probabilidade 32 de falhas através de curvas padronizadas que modelem o comportamento das falhas (Wessels, 2010). Figura 2.13- Função densidade de probabilidade de falhas obtida através de histograma. Fonte:Wessels, 2010. Utilizando a Equação 2.24, obtém-se a função distribuição acumulada de falhas a partir da função densidade de probabilidade de falhas. A função distribuição acumulada de falhas representa a probabilidade de falha até o instante 𝑡. A função confiabilidade, portanto, pode ser obtida como segue: 𝑅(𝑡) = 1 − 𝐹(𝑡) . (2.28) Utilizando a Equação 2.24: 𝑅(𝑡) = 1 − ∫ 𝑓(𝑡). 𝑑𝑡 𝑡 0 . (2.29) Na Figura 2.14, pode-se visualizar graficamente as Equações 2.24, 2.28 e 2.29: 33 Figura 2.14 – Função f(t), F(t) e R(t). Fonte: Adaptado de Billinton; Allan, 1992. Uma definição útil utilizada nos estudos de confiabilidade é a taxa de falha. Ela representa uma proporção de itens sobreviventes num instante t, sua unidade é falhas por unidade de tempo (Monchy, 1989). A taxa de falha é dada pela taxa de variação do número de falhas em relação ao tempo dividida pelo número total de sobreviventes: 𝜆(𝑡) = 1 𝑁𝑠 𝑑𝑁𝑓(𝑡) 𝑑𝑡 . (2.30) A função confiabilidade pode ser obtida através da razão entre a quantidade de itens que não falharam (sobreviventes) e o número total de itens observados em um tempo t: 𝑅(𝑡) = 𝑁𝑠(𝑡) 𝑁𝑜 . (2.31) Logo, a função 𝐹(𝑡) será a razão entre a quantidade de itens que apresentaram falha e o número total de itens observados : 𝐹(𝑡) = 𝑁𝑓(𝑡) 𝑁𝑜 . (2.32) Usando a Equação 2.24: 𝑓(𝑡) = 1 𝑁𝑜 . 𝑑𝑁𝑓(𝑡) 𝑑𝑡 . (2.33) Multiplicando a Equação 2.32 por 𝑁𝑜/𝑁𝑜: 𝜆(𝑡) = 𝑁𝑜 𝑁𝑜 1 𝑁𝑠 𝑑𝑁𝑓(𝑡) 𝑑𝑡 , (2.34) 𝜆(𝑡) = 𝑓(𝑡) 𝑅(𝑡) . (2.35) 34 Escrevendo 𝑓(𝑡) em função da confiabilidade: 𝑓(𝑡) = − 𝑑𝑅(𝑡) 𝑑𝑡 . (2.36) Utilizando as Equações 2.34 e 2.35: 𝜆(𝑡) = −1 𝑅(𝑡) . 𝑑𝑅(𝑡) 𝑑𝑡 . (2.37) Resolvendo a Equação 2.36: 𝑅(𝑡) = 𝑒−∫𝜆(𝑡).𝑑𝑡 . (2.38) A Equação 2.37 é conhecida como equação universal da confiabilidade. Para taxa de falha constante, a Equação 2.37 resulta em: 𝑅(𝑡) = 𝑒−𝜆𝑡 . (2.39) Se a taxa de falha é constante então a função probabilidade de falha pode ser aproximada por uma função exponencial. A Figura 2.15 mostra as funções 𝑓(𝑡), 𝑅(𝑡) e 𝜆(𝑡) para algumas características de taxas de falha, utilizando a função exponencial, a distribuição normal e a distribuição de Weibull: 35 Figura 2.15 – Distribuição Normal, Exponencial e de Weibull. Fonte: O’Connor, 2012. 36 Um item pode apresentar comportamentos diferentes de taxa de falha durante seu ciclo de vida. Itens inéditos tendem a apresentar falhas com característica de taxa de falha decrescente durante o processo de projeto, fabricação, transporte, este período é conhecido como mortalidade infantil. Durante sua vida útil alguns componentes apresentam taxa de falha constante, portanto as falhas são de caráter totalmente aleatório. Devido à degradação, o fim da vida útil é caracterizado pela taxa de falha crescente (Santos, 2012). Este comportamento é conhecido como curva da banheira, ilustrada na Figura 2.16. Figura 2.16 – Curva da Banheira. Fonte: Fogliatto; Ribeiro, 2011. Vale salientar que o comportamento caracterizado pela curva da banheira não é inerente a todos os itens. Na Figura 2.17 pode-se observar taxas de falha típicas de alguns equipamentos: 37 Figura 2.17 – Curvas de Taxa de Falha de alguns itens. Fonte: Romio, 2016. A mantenabilidade é a capacidade de um item ser mantido ou recolocado em condições de executar suas funções requeridas sob condições de uso especificadas, quando a manutenção é executada sob condições determinadas e mediante procedimentos e meios prescritos (ABNT, 1994). A Mantenabilidade de um item é definida durante o projeto, ela está ligada à facilidade, precisão, segurança e economia em realizar as ações de manutenção (Santos, 2012). Matematicamente, a mantenabilidade (𝑀(𝑡)) é a probabilidade de uma dada ação de manutenção efetiva, para um item sob dadas condições de uso, poder ser efetuada dentro de um intervalo de tempo determinado, quando a manutenção é feita sob condições estabelecidas e usando procedimentos e recursos prescritos (ABNT,1994). No contexto de mantenabilidade, utiliza-se a função distribuição de probabilidade de reparos (𝑔(𝑡)), análoga a 𝑓(𝑡), que ilustra a frequência de reparos no tempo. O Tempo médio entre falhas (MTBF – Mean Time Between Failures) e o Tempo Médio de Reparo (MTTR – Mean Time to Repair) podem ser calculados através das seguintes expressões: 𝑀𝑇𝐵𝐹 = ∫ 𝑡. 𝑓(𝑡). 𝑑𝑡 ∞ 0 , (2.40) 𝑀𝑇𝑇𝑅 = ∫ 𝑡. 𝑔(𝑡). 𝑑𝑡 ∞ 0 . (2.41) 38 Utilizando o modelo exponencial para 𝑓(𝑡) e 𝑔(𝑡): 𝑀𝑇𝐵𝐹 = 1 𝜆 , (2.42) 𝑀𝑇𝑇𝑅 = 1 𝜇 . (2.43) Onde 𝜇 é a taxa de reparo, análoga a taxa de falha. Os intervalos de tempo envolvidos durante o ciclo de operação de um item podem ser analisados utilizando a média dos intervalos de tempo entre falhas, tempo para falha e tempo para reparo. Figura 2.18 – MTBF, MTTF e MTTR. Fonte: Adaptado de Santos, 2012. A disponibilidade é uma combinação entre a confiabilidade e a mantenabilidade de um item, ela é definida como a capacidade de um item estar em condições de executar uma certa função em um dado instante ou durante um intervalo de tempo determinado, levando-se em conta os aspectos combinados de sua confiabilidade, mantenabilidade e suporte de manutenção, supondo que os recursos externos requeridos estejam assegurados (ABNT,1994). A disponibilidade é definida como: 𝐷 = 𝑀𝑇𝐵𝐹 𝑀𝑇𝐵𝐹+𝑀𝑇𝑇𝑅 . (2.44) A Figura 2.19 mostra a relação entre a confiabilidade, mantenabilidade e disponibilidade. O aumento da confiabilidade através de ações durante a fase de 39 projeto, uso de monitoramento e de redundância junto com técnicas de manutenção e ações de projeto com vista ao aumento da mantenabilidade contribuem para o aumento da probabilidade de uso efetivo do item. Figura 2.19 – Confiabilidade, Mantenabilidade e Disponibilidade. Fonte: Santos, 2012. 40 2.2.3 Análise de falhas A identificação e priorização das falhas é uma ação de extrema importância para determinar providencias com vista a aumento da confiabilidade. A origem das falhas pode estar relacionada a sobrecargas impostas durante a operação do equipamento. Os estresses ou mecanismos de degradação podem ser de origem mecânica, elétrica, de agressões ambientais e solicitações eletromagnéticas. Quando o estresse ultrapassa a resistência do equipamento a falha ocorrerá. Na Figura 2.20, encontram-se as distribuições de carga (L) e resistência (R), a área onde as curvas se sobrepõem indica uma região de risco de falha do equipamento (Santos, 2012). A interferência Carga-Resistência é uma análise probabilística que auxilia na determinação da confiabilidade do equipamento e na severidade da carga. Figura 2.20 – Interferência Carga-Resistência. Fonte: O’Connor, 2012. A combinação de efeitos através dos quais as falhas são detectadas são chamados de modos de falha (Santos, C.M.P,2012). Entre os modos de falha, encontram-se o fenômeno de fadiga, fratura, choque, corrosão, ruptura de ligação elétrica, desgaste dos contatos, curto-circuito, descargas elétricas, sobretensão, agressões ambientais e sobretemperatura (Santos, 2012, Monchy, 1984). 41 As falhas também podem ter origem no projeto, fabricação e montagem do equipamento. Algunscritérios de especificação de um equipamento, como solicitações mecânicas e elétricas, são importantes e quando desconsiderados podem levar o equipamento a falha durante a operação. 2.2.3.1 Avaliação de risco O risco é o efeito da incerteza nos objetivos, a identificação, análise e gestão do risco tem o objetivo de alcançar metas de desempenho econômico, operacional, de saúde, de segurança e ambiental, a depender dos objetivos da organização (ABNT,2009). No contexto de engenharia de confiabilidade, a gestão de risco está associada aos eventos que interferem no estado de operação do item, a identificação e priorização dos riscos constitui uma parte importante nos processos de decisão na área de confiabilidade e mantenabilidade. O risco é o produto da probabilidade de um evento ocorrer e a gravidade de seus efeitos (Santos, 2012, WG C1.16,2010), conforme registrado na Equação 2.45 e ilustrado na Figura 2.21. 𝑅𝑖𝑠𝑐𝑜 = 𝑃𝑟𝑜𝑏𝑎𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑥 𝐶𝑜𝑛𝑠𝑒𝑞𝑢ê𝑛𝑐𝑖𝑎 . (2.45) Figura 2.21 – O Risco. Fonte: Santos, 2012. 42 Os riscos devem ser identificados, descritos e a severidade de suas consequências estimada para estabelecer um grau de priorização. Uma ferramenta utilizada para a avaliação de riscos é a matriz de criticidade. A matriz de criticidade consiste em uma matriz dividida em quatro regiões: Risco aceitável, Prioridade baixa, Prioridade média e prioridade alta. Figura 2.22 – Matriz de criticidade. Fonte: Adaptado de WG C1.16,2010. A distribuição dos níveis de severidade do risco pode ser realizada levando em consideração impactos financeiros, segurança, confiabilidade e agressão ao meio ambiente a depender dos objetivos e eventos considerados na análise. Os conceitos qualitativos da matriz de criticidade podem ser utilizados na análise de falhas do transformador de potência de forma a priorizar falhas com maior frequência e que tenham maiores consequências no equipamento. Para o uso quantitativo dessa ferramenta, é necessário um banco de dados de falhas em transformadores de potência. Para análise de falhas, um outro fator importante é a detectabilidade da falha, o grau de dificuldade na detecção da falha pode indicar a necessidade de melhorias nas inspeções e de técnicas de monitoramento de componentes a fim obter variáveis que possibilitem a detecção da falha. O Número de Prioridade de Risco (NPR) é uma ferramenta de priorização de falhas dado pela multiplicação entre nível de Gravidade (G), nível de frequência (F) e detectabilidade (D) (Santos, C.M.P,2012). 43 𝑁𝑃𝑅 = 𝐹𝑥𝐺𝑥𝐷 . (2.46) Os fatores de classificação são distribuídos em escalas de 1 a 10 e o Número de Prioridade de Risco é obtido como ferramenta de auxílio nas ações pertinentes a mitigação das falhas. Tabela 2.2 – Escala de avaliação do NPR. Componente do NPR Classificação Fator Frequência (F) Improvável 1 Muito pequena 2 a 3 Pequena 4 a 6 Média 7 a 8 Alta 9 a 10 Gravidade (G) Apenas perceptível 1 Pouca importância 2 a 3 Moderadamente grave 4 a 6 Grave 7 a 8 Extremamente grave 9 a 10 Detectabilidade (D) Alta 1 Moderada 2 a 3 Pequena 4 a 6 Muito Pequena 7 a 8 Improvável 9 a 10 Número de Prioridade de Risco (NPR) Baixo 1 a 50 Médio 51 a 100 Alto 101 a 200 Muito Alto 201 a 1000 Fonte: Santos, 2012. 2.2.3.2 Análise dos modos de falhas e seus efeitos - FMEA A análise dos modos de falha e seus efeitos (FMEA – Failure mode and effect analysis) é um método de análise de falhas que busca identificar todos os possíveis modos potenciais de falha e determinar o efeito de cada uma sobre o equipamento, projeto, produto ou processo antes de sua ocorrência. A FMEA exige a integração de diversos especialistas para a determinação de todos os possíveis modos de falha e efeitos (Santos, 2012). O procedimento consiste na definição de uma equipe, elaboração de um glossário, definição de todos os componentes considerados na análise, identificação 44 de todas as causas possíveis das falhas para cada modo, identificação dos defeitos e estabelecimento das recomendações, e a revisão dos processos. O resultado dessa análise é uma tabela onde são listados todos os modos de falha, causas e efeitos da falha, ao termino da identificação das falhas as recomendações associadas são estabelecidas e o procedimento e revisado. A análise quantitativa da FMEA é chamada de análise dos modos, efeitos e criticidade das falhas (FMECA – Failure mode, Effects and Criticality Analysis) e utiliza o conceito do número de prioridade de risco (NPR) para priorização das falhas (Santos, 2012). Tabela 2.3 – Exemplo de tabela para FMECA. Caracterização da instalação e dos condicionantes Equipamento Modo de falha Causa da falha Efeitos da falha Índices NPR Identificação Descrição Local Sistema Unidade F G D Fonte: Santos, 2012. 2.2.3.3 Árvore de Falhas A árvore de análise de falhas (FTA – fault tree analysis) é um método de análise de falhas onde as combinações de eventos que resultam em causas de falha são representadas graficamente. A FTA se mostra útil para identificar falhas em sistemas complexos, incluir falhas humanas na análise de sistemas, localizar eventos mais relevantes para a falha de um sistema e realizar uma análise quantitativa da probabilidade de falha (Kabir, 2017, Santos, 2012). O método consiste determinação de um evento topo e na construção de um diagrama lógico usando portas lógicas (AND, OR) para associar eventos básicos ao evento topo. A análise qualitativa consiste na análise das combinações mínimas de eventos básicos que são necessárias e suficientes para a causa do evento topo e a análise quantitativa consiste no cálculo da importância dos eventos básicos e da probabilidade de ocorrência do evento topo (Kabir, 2017, Santos, 2012). Para construção do diagrama lógico, uma série de símbolos são utilizados para representação dos eventos: 45 Tabela 2.4 – Símbolos usuais na construção da FTA. Símbolo Descrição Evento básico: Evento que representa o final do processo de análise dedutiva e não requer maior desenvolvimento. Evento não desenvolvido: Evento estatisticamente dependente de outros eventos de menor nível, mas que não são desenvolvidos Evento normal: Evento que é normalmente esperado de ocorrer. Evento topo: Evento que se constitui na falha descrita pela árvore Evento intermediário: Combinação de eventos de nível inferior que contribui para a ocorrência do evento de nível superior. Porta OR: O evento de nível superior ocorrerá se qualquer dos eventos de nível inferior ocorrer. Porta AND: O evento de nível superior ocorrerá se todos os eventos de nível inferior ocorrerem. Porta inibida: O evento somente ocorrerá se determinadas condições forem satisfeitas. Fonte: Adaptado de Santos, 2012. Para construção da árvore de falhas é necessário um conhecimento detalhado do produto ou processo em estudo e de todos os eventos envolvidos e suas interconexões. O conhecimento do projeto e das condições de operação do equipamento também são essenciais, erros humanos de operação e manutenção também devem ser definidos. 46 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA A análise de defeitos e falhas em transformadores de potência requer levantamento dos possíveis fenômenos físicos associados, da localização e das consequências envolvidas. Para estratificação dos mecanismos de falha foi realizada uma pesquisa literária na biblioteca virtual do Instituto de Engenheiros Elétricos e Eletrônicos (IEEE- Institute of Electrical and Electronics Engineers), que reúne produções técnicas e cientificas de mais de 400.000 membros distribuídos em 150 países. A biblioteca virtual engloba mais de 4.194.106 arquivos, entre publicaçõescientificas, normas técnicas, livros virtuais e cursos educacionais, no site Engineering Village, base de dados literária que reúne mais de 20 milhões de registros indexados de 77 países em 190 disciplinas de engenharia, e na livraria virtual do Conselho de Grandes Sistemas Elétricos (Cigré- Conseil International des Grands Réseaux Electriques), que reúne os documentos produzidos por mais de 3.500 especialistas em diversas áreas da engenharia elétrica. As seguintes literaturas também foram utilizadas: livros, teses e dissertações, além de artigos obtidos em buscas através de sites de pesquisa acadêmica (que incluem também eventos nacionais e no continente sul-americano). Para referências de desempenho de transformadores de potência em operação, foram aproveitadas pesquisas de confiabilidade realizadas por companhias elétricas em nível nacional e internacional, envolvendo dados de taxas de falha de transformadores e estatística de interrupções. 3.1 Falhas em transformadores de potência A falha de um transformador envolve um evento ou uma combinação de eventos que forçam o término de sua operação. Falhas podem ser originadas a partir de eventos externos (faltas no sistema de potência, descargas atmosféricas) ou de causas internas (curto-circuito entre espiras, descargas parciais). As causas das falhas envolvem erros de fabricação, projeto, especificação, problemas durante sua operação, degradação, envelhecimento e erros de manutenção (Ding et all, 2009, Dupont, 2003). Os mecanismos de falha de transformadores compreendem solicitações mecânicas, sobreaquecimento, condições elétricas severas e fenômenos químicos de degradação. Os modos de falha podem ocorrer simultaneamente ou de modo sequencial no transformador de potência, por exemplo um curto-circuito impõe 47 solicitações mecânicas aos enrolamentos, provoca sobreaquecimento e degrada a isolação do transformador (Dupont, 2003). A Figura 3.1 mostra possíveis interligações entre modos e causas de falhas em transformadores: Figura 3.1 – Modos de falha em transformadores e causas associadas. Fonte: Dupont,2003. As falhas e defeitos nos transformadores de potência estão localizadas nos mais diversos componentes de sua estrutura e de seu sistema de proteção (isolamento, enrolamentos, buchas, comutadores de carga, núcleo, sistema de resfriamento, tanque, relés de proteção entre outros). A localização das falhas é um fator importante que define o tempo de reparo, o custo da falha e o tipo de ação de manutenção aplicada (Murugan et Ramasamy, 2015). 3.1.1 Falhas de projeto, fabricação e transporte A fase de projeto de um transformador envolve a análise de todas as solicitações impostas durante sua operação, seus requisitos nominais e a estimação do tempo de vida útil. Arranjo dos enrolamentos, escolha do material isolante, tipo de configuração do núcleo, tipo de sistema de refrigeração são definidos durante a fase de projeto. Esforços mecânicos, solicitações elétricas do sistema e ciclo de carregamento diário são estudos realizados durante a especificação do transformador (Harlow, 2004). 48 Os erros de projeto podem não ser detectados durante o comissionamento e testes de fábrica, mas se manifestam logo nos primeiros anos após o início de sua operação e aceleram o processo de degradação do isolamento. O surgimento de bolhas nos materiais isolantes, presença de umidade, má distribuição do campo elétrico nas buchas isolantes, contaminação do óleo e redução da suportabilidade dielétrica são falhas durante o projeto dos materiais (Bechara, 2010, Dupont, 2003, Pena, 2003). Durante a montagem e fabricação, os processos de enchimento de óleo e instalações de acessórios devem ser realizados de acordo com os procedimentos normativos para evitar contaminação e vazamento do óleo isolante. (Pena, 2003, Mislach, 1984). O transformador de potência é um equipamento de dimensões e pesos elevados e requer cuidados durante o seu transporte. Os transformadores de potência de grandes dimensões são transportados geralmente sem óleo e com gás inerte no tanque submetido à pressão de aproximadamente 15 kPA. Grandes distancias de transporte podem submeter o transformador a vibrações mecânicas e impactos que comprometem sua estrutura física. Peças de isolamento, espaçadores e lâminas do núcleo podem se desprender (Figura 3.2), conexões parafusadas tendem a se soltar durante o transporte. Registradores de impacto são conectados em todos os eixos ortogonais do transformador e fixadores são utilizados para manter a estrutura do transformador durante o transporte (WG A2.42, 2016, Mislach, 1984). Figura 3.2 – Deslocamento das laminas durante vibrações. Fonte: WG A2.42, 2016. 49 Dados de avaliação de desempenho de transformadores de potência durante ensaios de fábrica, encontrados em (Montenegro et all, 2015), que englobam 64 unidades entre 138 e 550 kV ensaiadas entre maio de 2011 a janeiro de 2015 adquiridos pela Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), através de 6 fabricantes, mostram possíveis não conformidades, falhas de fabricação e de construção. A Figura 3.3 mostra a distribuição de falhas obtidas durante os ensaios. Durante os ensaios de fábrica apenas 8 transformadores não apresentaram não conformidades. Figura 3.3 – Falhas durante ensaios de fábrica. Fonte: Montenegro et all, 2015. 3.1.2 Falhas devido a fenômenos transitórios Os transformadores de potência estão sujeitos a diferentes tipos transitórios eletromagnéticos durante sua operação. Sobretensões, tensões transitórias muito rápidas e faltas no sistema de potência são fenômenos que podem estressar a suportabilidade dielétrica do transformador, causar aquecimento e levar o transformador ao estado de falha. As sobretensões são solicitações entre fase e terra ou entre fases acima do valor de crista da tensão máxima do sistema, elas são oriundas de descargas atmosféricas, curtos-circuitos e surtos de manobra de equipamentos elétricos. As sobretensões são classificadas de acordo com sua forma de onda, tempo de duração 50 e grau de amortecimento. Descargas atmosféricas e operações de chaveamento dão origem a sobretensões classificadas como transitórias, de curta duração e com espectro de frequência elevado. Rejeição de carga, ressonância, ferroressonância e faltas para a terra causam sobretensões fracamente amortecidas e de longa duração, chamadas de sobretensões temporárias (Vasques, 2011, Bechara ,2010). Sobretensões temporárias estão associadas ao aquecimento do núcleo do transformador, o que acelera o processo de degradação do isolante e sobreaquece outros componentes do transformador. Sobretensões transitórias se distribuem de forma não linear entre os enrolamentos do transformador, o que gera estresse do meio dielétrico, podendo resultar em ruptura (Bechara, 2010). O comportamento do transformador frente à sobretensões é agravado pelas características não lineares de seu circuito magnético. As características eletromagnéticas do transformador fazem surgir faixas de frequências de ressonância que amplificam a onda de sobretensão e causam sobreaquecimento do isolamento do transformador e falhas dielétricas (GT JWG A2/C4-3, 2011, Pena, 2003). Algumas experiências em falhas em transformadores de potências devido a fenômenos de sobretensão extraídas da literatura estão na Tabela 3.1: Tabela 3.1 – Ocorrências de Falhas devido a sobretensões. Local Transformador Evento associado Componente danificado Tipo Potencia nominal (MVA) Tensão (kV) Canadá Elevador 990 21.45/500 kV Falta em subestação SF6 próximo aos terminais da linha de alta tensão Enrolamentos e núcleo México Elevador 75 230/16 kV Ressonância Não informado Noruega Elevador 150 7.75-15,5/420 Manobra de disjuntor Enrolamentos e Tanque EUA Autotrafo200 500/345 Descarga atmosférica a 234 Km do transformador Comutador e Enrolamentos Brasil Subestação 33 230/66,9-44/13,2 Abertura de corrente a vazio Não informado Brasil Subestação 300 550/460/13,8 Ressonância após um curto-circuito fase-terra no sistema de transmissão de 460 kV seguida de religamento automático Comutador em carga Brasil Elevador 185 500/16-16 Sobretensão de Manobra + LT curta Enrolamento Tanque Fonte: Adaptado de WG A2/C4.39, 2014 e Pena, 2003. 51 Um outro fenômeno importante para a análise de falhas são os transitórios muito rápidos (VFT – Very Fast Transients) que estão associados a frentes de onda inferiores a 1µs e com espectro de frequência elevada. Manobras próximas a transformadores, falhas e chaveamento em subestações isoladas a Hexafluoreto de Enxofre (SF6), manobras de grandes motores conectados com cabos de baixa perda, descargas atmosféricas próximas ao transformador, manobras e reignição de disjuntores a vácuo são fontes de tensões transitórias rápidas (Pena, 2003; Craenenbroeck et al, 1999). As tensões transitórias rápidas criam uma distribuição não linear de tensão nos enrolamentos, que depende das características físicas do sistema e dos enrolamentos, resultando em descargas elétricas entre espiras e ainda ressonância entre os enrolamentos (Bechara, 2010; Pena, 2003). O isolamento das espiras mais próximas ao terminal de entrada é o mais solicitado durante transitórios muito rápidos e tem maior probabilidade de falha. As Figuras 3.4, 3.5 e 3.6 mostram danos nos enrolamentos de transformadores que operavam conectados a subestações a SF6: Figura 3.4 – Danos no terminal de alta tensão de transformador monofásico de 155 MVA, classe de tensão 550 kV. Fonte: Bechara, 2003. 52 Figura 3.5 – Parte ativa de transformador trifásico de 418 MVA, classe de tensão 550 kV. Fonte: Bechara, 2003. Figura 3.6 – Falha na região superior do enrolamento de alta tensão do transformador. Fonte: Bechara, 2003. Durante a operação do sistema elétrico, podem ocorrer ligações de baixa impedância entre dois pontos de diferente potencial devido a falhas de isolamento, intempéries ou erro operacional, dá-se o nome de curto-circuito, ou falta, a essas ligações. O curto-circuito produz uma elevação rápida da corrente que flui no sistema, 53 gerando forças eletromagnéticas e aquecimento dos condutores. O curto-circuito pode ocorrer entre uma ou mais fases do sistema elétrico e também pode envolver a terra, as ligações podem ser diretas ou através da disrupção dielétrica do ar (arco elétrico), a severidade da corrente de curto-circuito ao transformador de potência depende das características do sistema de potência, do tipo de falta, sua localização e do tempo de duração (Bertagnolli, 2006). Faltas externas ao transformador de potência submetem seus enrolamentos a correntes elétricas de valores elevados que resultam em esforços mecânicos sobre os enrolamentos, a isolação e as estruturas mecânicas de fixação, e deslocam ou deformam seus componentes, ocorre também a degradação sua isolação devido ao aumento da temperatura, o valor de pico da corrente de curto-circuito e o seu tempo de duração definem os esforços mecânicos e térmicos impostos ao transformador (Gutten et all, 2015). Os enrolamentos do transformador estão submetidos às forças eletrodinâmicas regidas pela seguinte equação: 𝑑 𝐹 = 𝑙. 𝑑𝐼 𝑥�⃗� . (3.1) Onde 𝐹 é a força eletromagnética, 𝑙 é o comprimento considerado, 𝐼 ⃗⃗ é a corrente que atravessa o enrolamento e �⃗� é a densidade de fluxo magnético de dispersão. Durante a operação normal do transformador de potência as forças eletromagnéticas são de baixa intensidade, porém durante o curto-circuito os esforços mecânicos assumem valores significativos que podem danificar os enrolamentos (Araujo, 2016; Bertagnolli, 2006). A força eletromagnética pode ser dividida em uma componente na direção radial e outra da direção axial: 54 Figura 3.7 – Forças axiais e radias nos enrolamentos do transformador. Fonte: Araujo, 2016. Forças radias se concentram no centro dos enrolamentos e possuem menos intensidade nas extremidades, elas originam estresses de tração ou compressão a depender do arranjo físicos dos enrolamentos e do núcleo do transformador. Esforços de expansão radial esticam os condutores da bobina e podem romper a isolação, os fixadores e até as bobinas (Bechara, 2010; Bertagnolli, 2006). Os esforços de compressão radial podem romper o limite elástico do enrolamento causando deformações. Quando os enrolamentos do transformador estão sustentados por espaçadores axiais e a estrutura de suporte do enrolamento possui uma rigidez mecânica maior que o enrolamento, os enrolamentos podem apresentar uma deformação entre os suportes tomando uma forma característica que remete a uma estrela de várias pontas, como mostrado nas Figuras 3.8 e 3.9. Dar-se o nome de deformação forçada (forced buckling) a esse tipo de falha (Azevedo, 2007; Bertagnolli, 2006). 55 Figura 3.8 – Deformação forçada nos enrolamentos do transformador. Fonte: Bertagnolli, 2006. Figura 3.9 – Falha mecânica nos enrolamentos de um autotransformador de 400 MVA – 400/230 kV. Fonte: Bertagnolli,2006. Quando a rigidez mecânica do enrolamento é maior que a estrutura de suporte e isolação, ocorre a deformação livre (free buckling), nesse caso a deformação pode ocorrer em um ou mais pontos do enrolamento, não tendo relação com a estrutura de suporte. As Figuras 3.10 e 3.11 mostram esse tipo de deformação. Um outro tipo de deformação mecânica causada por forças radias de compressão é o “espiralamento” (spiralling) dos enrolamentos, esse tipo de deformação é restrito a alguns arranjos de enrolamentos e podem comprometer os espaçadores axiais e a isolação ao deslocar espiras e os espaçadores na direção tangencial (Bertagnolli, 2006). 56 Figura 3.10 – Deformação livre. Fonte: Bertagnolli,2006. Figura 3.11 – Falha mecânica nos enrolamentos de um transformador. Fonte: Bertagnolli, 2006. As forças axiais podem comprimir ou expandir os enrolamentos do transformador dependendo do seu arranjo físico, causando deformações, curto- circuito entre espiras e danificar a isolação do condutor. Forças axiais compressivas podem comprometer a estabilidade axial dos enrolamentos, deslocando os condutores em forma de zig-zag, essa deformação é chamada de tilting (Bertagnolli, 2006): 57 Figura 3.12 – Deslocamento dos condutores (tilting). Fonte: Azevedo,2007. Forças compressivas axiais podem ainda provocar um colapso das bobinas, deslocando-as na direção axial, destruindo sua isolação sólida e provocando curtos- circuitos, a esta falha dar-se o nome de telescoping (Bertagnolli, 2006). Figura 3.13 – Deslocamento axial das bobinas (telescoping). Fonte: Bertagnolli,2006. O condutor pode também sofrer uma deformação entre os espaçadores radiais (bending), formado ondas de deformação no plano vertical, a Figura 3.14 mostra deformações no condutor devido a força de compressão axial. 58 Figura 3.14 – Deformação dos condutores entre espaçadores radiais. Fonte: Bertagnolli,2006. Falhas mecânicas provocadas por curtos-circuitos podem destruir os enrolamentos do transformador, deslocar e deformar as bobinas, comprometendo a isolação sólida e a circulação do óleo no transformador, e acelerar o fim de vida útil do transformador. 3.1.3 Falhas incipientes e formação de gases Alguns modos de falhas em transformadores de potência se caracterizam pelo seu desenvolvimento de forma gradual envolvendo a isolação do transformador, as falhas incipientes podem ser originadas por transitórios no sistema
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