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ESTHER ANDRADE | TURMA 85 | Patologia II – P.S.D. II FISIOLOGIA RENAL: FUNÇÕES Os rins convertem cerca de 1,7L de sangue em 1L de urina por dia para: Excretar resíduos metabolitos Regular a concentração corporal de água, sal, cálcio e fósforo Manter o equilíbrio ácido apropriado do plasma Também é um órgão endócrino: secreta eritropoietina, renina e prostaglandinas e regula o metabolismo de vitamina D. HISTOLOGIA RENAL Possui 4 componentes básicos: glomérulos, túbulos, interstício e vasos sanguíneos. O estudo da patologia renal irá se basear nas doenças que afetam esses 4 componentes morfológicos. A divisão dos 4 componentes também facilita a compreensão da forma de agressão renal: a maioria das doenças glomerulares é imunomediada e os distúrbios tubulares e intersticiais são causados por agentes tóxicos ou infecciosos. Os distúrbios dos vasos sanguíneos afetam todas as estruturas supridas por eles. Qualquer que seja a origem da lesão, todas as formas de doença renal crônica, em última análise, destroem todos os componentes do rim (se tornam rins terminais). A estrutura do glomérulo é formada por: Uma rede anastomosada de capilares, revestida por endotélio fenestrado, envolvido por 2 camadas de epitélio (visceral e parietal) entre os quais está o espaço de Bowman. O espaço visceral (podócitos) está incorporado à parede capilar, separada do endotélio por uma membrana basal (membrana basal glomerular entre o endotélio e os podócitos). Célula mesangial: sustenta todo o tufo glomerular. É contrátil, fagocítica, capaz de se proliferar, produzir matriz mesangial e colágeno e secretar mediadores biológicos. Permeabilidade capilar: função de barreira dependente do tamanho e da carga. Em relação ao tamanho, a permeabilidade é extremamente alta para água e pequenos solutos. No entanto, proteínas do tamanho da albumina são impermeáveis. Em relação à carga, quanto mais catiônica (+), mais permeável. RESPOSTAS PATOLÓGICAS DO GLOMÉRULO À LESÃO (GLOMERULOPATIAS) As formas de reação do organismo à injúria são limitadas, tornando possível reconhecer o padrão de reação e correlacionar o mesmo com o diagnóstico (microanatomia funcional). Hipercelularidade Proliferação celular de mesangio ou endotélio. Infiltração de leucócitos. Formação de crescentes acúmulos de células epiteliais parietais proliferantes e infiltração leucocitária, num formato de meia lua (crescente). Espessamento da membrana basal Deposição de material amorfo (complexos imunes) na membrana basal glomerular (MBG). Aumento de síntese de proteínas pela MBG. (ex. glomerulosclerose diabética) Formação de camadas adicionais de MBG, às vezes formando uma lâmina densa totalmente duplicada. (ex. glomerulonefrite membranoproliferativa). ESTHER ANDRADE | TURMA 85 | Patologia II – P.S.D. II Hialinose e esclerose Hialinose: acúmulo de material extracelular e amorfo homogêneo e eosinófilo. (composto de proteínas plasmáticas que saem da circulação e se acumulam no glomérulo). Geralmente consequência de injuria endotelial ou da parede capilar, sendo geralmente o resultado final de várias formas de danos glomerulares. Esclerose: deposição extracelular de matriz colágena. O processo esclerosante pode resultar em obliteração de luzes dos capilares glomerulares. PATOGÊNESE DA LESÃO GLOMERULAR: MECANISMOS IMUNOLÓGICOS Mediada por anticorpos: IN SITU: lesão por anticorpos que reagem dentro do glomérulo. Deposição de complexos Ag-Ac circulantes no glomérulo. Os anticorpos que já são presentes no glomérulo começam a executar suas funções quando algum patógeno ou antígeno é plantado ou surge no glomérulo, desencadeando uma resposta imunológica no próprio glomérulo. Mediada por células: De origem inflamatória (neutrófilos, monócitos, macrófagos, linfócitos T), plaquetas, células glomerulares residentes (mesangiais). Há uma deposição do complexo imune que iniciou sua reação na corrente sanguínea e moveu-se para o glomérulo com a finalidade de ser secretado. A reação não teve início no espaço glomerular. Mediadores solúveis/químicos: Ativação da via alternativa do sistema complemento (doença de depósito denso): eicosanoides, oxido nítrico, angiotensina, endotelina, citocinas, quimiocinas, sistema de coagulação. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DAS DOENÇAS RENAIS Lesão renal aguda: declínio rápido da TFG (em poucas horas ou poucos dias), oligúria ou anúria e retenção de escórias metabólicas, incluindo ureia e creatinina. Doença renal crônica (antiga IRC): TFG persistentemente diminuída por mais de 3 meses e/ou albuminúria persistente. Defeitos tubulares renais: poliúria (urinar excessivamente), nictúria (urinar com frequência de noite) e distúrbios eletrolíticos (acidose metabólita). Afetam diretamente a estrutura tubular ou que causam defeitos em funções tubulares específicas. Obstruções do trato urinário e tumores renais: a clínica depende da natureza da lesão. Infecção do trato urinário: piúria (bactérias e leucócitos na urina) e bacteriúria. Nefrolitíase: espasmos de dor severa (cólica renal) e hematúria, em geral com formação recorrente de pedras no rim. Azotemia: alteração bioquímica relacionada ao aumento dos níveis de nitrogênio ureico sanguíneo e creatinina. Está relacionada à diminuição da taxa de filtração glomerular. Quando associada a uma constelação de sinais e sintomas clínicos (gastroenterite urêmica, neuropatia periférica, pericardite fibrinosa urêmica) é chamada de uremia. Síndrome nefrítica: entidade clínica dominada pelo início agudo de hematúria visível (macroscópica) ou microscópica (hemácias dismórficas e cilindros hemáticos), TFG diminuída, proteinúria leve a moderada e hipertensão. Síndrome nefrótica: proteinúria intensa (>3,5g/dia), hipoalbuminemia, edema grave, hiper lipidemia e lipidúria. OBS: O edema grave da síndrome nefrótica está associado à proteinúria. ESTHER ANDRADE | TURMA 85 | Patologia II – P.S.D. II SÍNDROME NEFRÍTICA Doença caracterizada por inflamações nos glomérulos. Sinais e sintomas: hematúria, cilindros hemáticos na urina, azotemia, oligúria e hipertensão leve a moderada. Também proteinúria e edema (porém menores que na síndroma nefrótica = proteinúria subnefrótica). Presente na glomerulonefrite exsudativa e proliferativa aguda. GLOMERULONEFRITE PROLIFERATIVA AGUDA (PÓS-ESTREPTOCÓCICA, PÓS-INFECCIOSA) Grupo de doenças que se caracterizam histologicamente por proliferação difusa das células glomerulares, associadas ao influxo de leucócitos. Geralmente causadas por complexos imunológicos. O antígeno pode ser exógeno ou endógeno. Pós-estreptocócica é o estereótipo da glomerulonefrite de etiologia complexa imune. Glomerulonefrite pós-estreptocócica Aparece 1 a 4 semanas após uma infecção estreptocócica na faringe ou na pele. O período de latência entre a infecção e o início da nefrite é compatível com o tempo requerido para a produção de anticorpos e para a formação de complexos imunológicos. Cepas de estreptococos Beta-hemolíticos do grupo A. Ocorre mais frequentemente em crianças de 6 a 10 anos. Patogenia: causada por complexos imunes contendo antígenos de estreptococos e anticorpos específicos formados in situ, que induzem uma resposta inflamatória. Curso clínico (GNPA): em casos típicos, iremos ver a criança com aparecimento súbito de mal estar, febre, náusea, oligúria e hematúria após 1 a 2 semanas depois da recuperação de uma garganta inflamada. Urina com hemácias dismórficas e cilindros hemáticos, proteinúria leve, edema periorbital e hipertensão leve a moderada. Achado laboratoriais -> elevação detítulos de anticorpos antiestreptocócicos e declínio da cascata do complementos C3. Microscopia óptica Glomérulo aumentado e hipercelular (infiltração global e difusa de leucócitos: neutrófilos e monócitos), proliferação de células mesangiais e endoteliais. Em casos graves, formação de crescentes. Há também edema das células endoteliais, obliterando as luzes capilares. No interstício também pode haver edema e inflamação e os túbulos frequentemente contêm cilindros hemáticos. Microscopia de fluorescência Depósito de granulares de IgG, IgM e C3 no mesângio e ao longo da membrana basal glomerular. Embora difusamente presentes, os complexos imunes são vistos de forma focal e esparsa (dando aspecto nítido granular). Microscopia eletrônica Depósitos elétron-densos, bem individualizados e amorfos, no lado epitelial da membrana, tendo a aparência de protuberâncias (corcovas), presumivelmente representando os complexos antígeno-anticorpo na superfície das células epiteliais. No curso da doença também podem ser observados depósitos subepiteliais, mesangiais e intremembranosos. SÍNDROME NEFRÓTICA Doença causada por desarranjo nas paredes capilares glomerulares, resultando em permeabilidade aumentada para proteínas plasmáticas. Proteinúria maciça (>3,5g/dia) Hipoalbuminemia (níveis plasmáticos <3g/dl) Edema generalizado Hiperlipidemia e lipidúria. Doenças renais que cursam com a síndrome nefrótica: nefropatia membranosa, doença de lesão mínima, glomerulosclerose segmentar focal, glomerulonefrite membranoproliferativa, doença de depósitos densos. DOENÇAS NOS TÚBULOS E INTERSTÍCIO Infecção do trato urinário - PIELONEFRITE É uma das doenças mais comum dos rins. Em resumo, é uma inflamação que afeta os túbulos, o interstício e a pelve renal. Complicação séria das infecções do trato urinário que afetam a bexiga (cistite e os rins). Se apresenta de 2 formas: pielonefrite aguda ou crônica. Patogenia: causada por bacilos Gram- negativos (>85% dos casos), residentes da flora intestinal (E. coli, Proteus, Enterobacter, Streptococcus faecalis). ESTHER ANDRADE | TURMA 85 | Patologia II – P.S.D. II -> contaminação da flora fecal no ambiente urinário. A rota de chegada desses microrganismos no rim pode ser: via corrente sanguínea (infecção hematogênica) e via trato urinário inferior, que é mais comum (infecção ascendente). Etapas da ascensão: colonização da uretra distal e parte inicial por bactérias coliformes. Acesso da uretra para bexiga por cateterização uretral ou outra instrumentação. OBS.: Predisposição feminina: uretra curta e ausência de propriedades antibacterianas do fluido prostático. Mecanismos (deslocamento da bexiga para os rins: Obstrução do trato urinário e estase da urina: os microrganismos são eliminados pelo fluxo contínuo do esvaziamento vesical. Obstrução do fluxo ou disfunção geram um esvaziamento incompleto e volume residual de urina, propício para multiplicação bacteriana. Refluxo vesicoureteral: incompetência da válvula vesicoureteral permitindo a subida das bactérias para o ureter e até a pelve renal. Anatomicamente, é uma válvula de mão única que evita o fluxo retrógrado de urina quando a pressão intravesical aumenta. Refluxo intrarrenal: da pelve renal até o interior das papilas renais. PIELONEFRITE AGUDA Inflamação supurativa do rim causada por infecção bacteriana, que pode atingir o órgão por disseminação hematogênica ou pela via ascendente. Principais causas: obstrução do trato urinário (congênita ou adquirida), refluxo vesicoureteral, gravidez, lesões renais pré-existentes, diabetes (disfunção neurogênica), imunossupressão e imunodeficiência. Gênero e idade: até o primeiro ano de vida é mais comum em meninos (quando as anomalias congênitas no sexo masculino se expressam). A partir do primeiro ano de vida até os 40 anos é mais comum em mulheres (uretra curta, gestação e etc.). Com o avanço da idade, volta a ser mais comum nos homens (resultado da hipertrofia prostática e instrumentação) Clínica: dor no ângulo costovertebral de início abrupto, evidências sistêmicas de infecção (febra, mal estar, calafrios). Há indicação de irritação da bexiga e uretra (disúria, aumento da frequência e urgência urinária). Laboratório: urina com leucócitos (piúria – pus na urina), cilindros leucocitários, urinocultura positiva. Macroscopia: abcessos focais, nítidos na superfície cortical. Após a resolução do quadro, os focos inflamatórios são substituídos por cicatrizes irregulares (depressões fibrosas na superfície cortical). Microscopia: infiltração neutrofílica nos túbulos, seguida de infiltração neutrofílica no interstício, produzindo abcessos e destruição dos túbulos envolvidos. Há edema intersticial. Complicações: Necrose papilar – uma ou todas as pirâmides renais podem estar envolvidas. Macroscopicamente, as pontas das pirâmides têm áreas de necrose branco acinzentadas ou amareladas. Microscopicamente, há necrose coagulativa isquêmica com preservação do contorno dos túbulos. Pionefrose - obstrução total ou quase completa onde o exsudato supurativo é incapaz de drenar e preenche a pelve renal, os cálices e o ureter com pus. OBS.: Pionefrose - acúmulo de pus em uma cavidade já existente no corpo. Abcesso - acúmulo de pus após a formação de uma nova cavidade. ESTHER ANDRADE | TURMA 85 | Patologia II – P.S.D. II PIELONEFRITE CRÔNICA Inflamação tubulointersticial crônica e cicatrização, envolvendo os cálices e pelve renal. Mesma inflamação no interstício, com episódios de agudização. É unilateral (atrofia de um rim) ou bilaterais (levando a IRC). Alterações pielocalicias são um importante marcador diagnóstico pois só a pielonefrite crônica e a nefropatia por analgésicos afetam os cálices renais. Toda a inflamação da pielonefrite crônica no início ocorre nos túbulos e interstício. 2 formas: nefropatia de refluxo e pielonefrite obstrutiva crônica (cálculos e anomalias do ureter). Nefropatia de refluxo: forma mais comum de cicatrização da pielonefrite crônica. Ocorre precocemente na infância como resultado de sobreposição de infecção urinária em portadores de refluxo vesicoureteral congênito. Pielonefrite obstrutiva crônica: a obstrução predispõe o rim à infecção. Infecções recorrentes sobrepostas a lesões obstrutivas levam a surtos de inflamação renal e cicatrização determinando ao longo do tempo, a atrofia do parênquima. Macroscopia: rins com cicatrizes irregulares e assimetria (quando bilateral). Cicatrizes córtico-medulares grosseiras, nítidas, sobrepondo-se aos cálices dilatados, aplanados e achatamento das papilas. Há uma intensa atrofia do rim. Microscopia: as alterações envolvem predominantemente os túbulos e o interstício. Túbulos com áreas de atrofia e outras de hipertrofia ou dilatação. Vasos arqueados e interlobulares com esclerose obliterativa da camada íntima nas áreas de cicatriz. Túbulos dilatados com epitélio achatado e preenchidos por cilindros se parecem com coloide tireoideano (tireoidização). Vários graus de inflamação crônica e fibrose da córtex e medula renal.
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