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ESTRATÉGIAS ORGANIZACIONAIS Zaida Cristiane dos Reis Evolução da estratégia empresarial Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir estratégia empresarial. Traçar um paralelo entre a história da humanidade e a evolução da estratégia nas organizações. Identificar as escolas do pensamento estratégico. Introdução Segundo Oliveira (2015), Maximiano (2014) e Nogueira (2014), entre outros, a estratégia empresarial visa orientar a empresa a definir um objetivo e refletir sobre como ela pretende chegar lá (metas e meios). Silva (2013) salienta que a evolução rápida das tecnologias e o crescimento da globa- lização demonstram que a gestão de negócios está em uma dinâmica de transformação acelerada. Desse modo, os gestores organizacionais não podem mais confiar apenas na sua intuição para agirem estrategicamente nas decisões dos seus negócios. Neste capítulo, você vai estudar os conceitos relacionados à estratégia empresarial, bem como a sua história e evolução, e vai verificar como ela pode afetar as ações da organização. Na sequência deste estudo, você vai verificar os referenciais teóricos que embasam os estudos sobre a estratégia empresarial e a relação da organização com o meio no qual está inserida. Definição de estratégia empresarial A palavra estratégia está relacionada a termos como competição, concorrência, vantagem competitiva, ganhos competitivos, valor agregado, entre outros. Por isso, ao iniciar os estudos sobre estratégia empresarial, pode-se associar o contexto da estratégia com uma arena de batalha. Oliveira (2015) aborda esse tema e leciona que a palavra estratégia significa a arte do comandante. Ela deriva da palavra grega strategos, que significa general. Nesse sentido, a estratégia, na Grécia Antiga, expressava tudo o que o general fazia. Antes de Napoleão, a estratégia consistia na arte e na ciência de conduzir forças militares para derrotar o inimigo ou abrandar os resultados da derrota. Na época de Napoleão, a palavra teve o seu significado estendido para os movimentos políticos e econômicos que buscavam as melhores mudanças para se obter a vitória. Ainda segundo Oliveira (2015), a gestão estratégica, baseada no plane- jamento, é a ação fundamental estruturada e desenvolvida pela organização para alcançar, de forma adequada, os objetivos idealizados para o futuro, com o melhor posicionamento da empresa perante seu ambiente. Silva (2013) aponta que, com a estratégia empresarial bem definida, é possível diminuir o risco de tomar uma decisão errada. Sabe-se que os desafios da empresa se renovam diariamente, o que torna o amanhã diferente de hoje e o hoje diferente de ontem. Então, planejar essas variações é um meio de se adiantar e enfrentar os fatos desconhecidos e incer- tos. Diante desse contexto, planejar constitui uma estratégia para sobreviver. Resumidamente, Oliveira (2015) e Silva (2013) salientam que a estratégia empresarial pode ser apontada como a junção das ações relacionadas a produto/ serviço versus mercado, ou seja, a especificação dos produtos com os quais a organização pretende abordar os seus objetivos e satisfazer o mercado no qual ela pretende atuar. Seguindo a linha de Nogueira (2014) e Oliveira (2015) estratégia empresa- rial é a mobilização de todos os recursos da organização no contexto global, destacando atingir os seus objetivos de longo prazo. Trata-se, portanto, do conjunto de objetivos, finalidades, metas, diretrizes principais e planos de ação, que definem em que tipo de atividades a empresa atua — isto é, o seu negócio — e que tipo de empresa ela é ou deseja ser — a sua missão. Evolução da estratégia empresarial2 Nesse sentido, pode-se entender que a estratégia empresarial aborda ações pontuais para o crescimento da empresa, que indicam em qual direção ela quer seguir e onde ela quer chegar para alavancar o seu diferencial — a sua vantagem competitiva —, que diz respeito ao perfil de competência da empresa em relação aos seus concorrentes. Evolução da estratégia nas organizações A estratégia nas organizações vem evoluindo ao longo da história, especial- mente a partir das teorias dos principais autores que abordam o tema em questão. Nota-se que um propulsionador para esse desenvolvimento está relacionado ao crescimento das organizações, o que tem exigido uma maior habilidade dos gestores para estabelecer e implementar ações estratégicas que contribuam para superar os desafi os de mercado e atingir seus objetivos, sejam de curto, médio ou longo prazo. O caráter militar da palavra estratégia constantemente é lembrado, em especial quando se analisa a origem do termo, que, para os gregos antigos, designava a liderança do exército ou a arte do general, como vimos anterior- mente. Diversos autores — dentre os quais se destacam Sun Tzu (1963), em A arte da guerra, de 500 a.C., Maquiavel (1999), em O príncipe, de 1532, e Von Clausewitz, em Da guerra, de 1976 — relatam fatos da história relacionados à aprendizagem estratégica em contextos diplomáticos e militares, elaborando teorias e orientando comportamentos futuros, conforme aponta Quinn (1980). O Quadro 1 mostra a evolução do pensamento estratégico ao longo do século XX, apresentando os pontos da gestão estratégica que foram introduzidos em cada período. 3Evolução da estratégia empresarial Fo nt e: A da pt ad o de T av ar es (2 00 5) . A no s 1 95 0 e 19 60 A no s 1 97 0 A no s 1 98 0 A no s 1 99 0 A br an gê nc ia Pl an ej am en to fi na nc ei ro O rç am en to a nu al Pl an ej am en to a lo ng o pr az o Pr oj eç ão d e te nd ên ci as An ál ise d e la cu na s Pl an ej am en to e st ra té gi co Pe ns am en to e st ra té gi co An ál ise d as m ud an ça s n o am bi en te An ál ise d as fo rç as e fra qu ez as d a or ga ni za çã o G es tã o es tra té gi ca Fl ex ib ilid ad e Ên fa se n a in fo rm aç ão Co nh ec im en to c om o re cu rs o cr íti co In te gr aç ão d e pr oc es so s, pe ss oa s e re cu rs os Ên fa se Cu m pr im en to d o or ça m en to Pr oj et ar o fu tu ro D ef in ir a es tra té gi a In te gr ar e st ra té gi as e or ga ni za çã o Pr ob le m a O rie nt ad o pe la di sp on ib ilid ad e fin an ce ira N ão p re vi a m ud an ça s D iss oc ia çã o en tre pl an ej am en to e im pl em en ta çã o M ai or c om pl ex id ad e de a bo rd ag em Q ua dr o 1. P on to s m ar ca nt es n a ev ol uç ão h is tó ric a da g es tã o es tr at ég ic a Evolução da estratégia empresarial4 Segundo Tavares (2005) e Certo e Peter (2011), no início do século XX surgi- ram as condições necessárias para a implementação do pensamento estratégico. O executivo Sloan, que trabalhou na GM no período de 1923 a 1946, foi um dos precursores da estratégia na forma como é trabalhada atualmente. Ainda conforme os autores, depois da Segunda Guerra Mundial, no início da década de 1950, as organizações empresariais perceberam mudanças em seu ambiente, em consequência do momento da guerra. As empresas entenderam que não havia mais condições para olhar apenas o seu ambiente interno, já que o mercado consumidor estava mudando e, por isso, eram necessárias novas posturas gerenciais. Nesse momento, a gestão estratégica iniciou uma nova etapa, abordada por Albert Humphrey no período entre 1960 e 1970, que trabalhou um projeto de pesquisa na Universidade de Stanford utilizando dados da revista Fortune, uma das 500 maiores corporações da época. Com a análise e a elaboração desse trabalho, Humphrey desenvolveu a técnica que deu origem à matriz SWOT (strengths, weaknesses, opportunities and threats, ou forças, fraquezas, oportunidades e ameaças). Trata-sede um momento de grande relevância no contexto da evolução da estratégia, pois a aplicação e o entendimento da matriz SWOT trouxe uma nova visão sobre o ambiente no qual as organizações estão inseridas. A partir daí, com o desenvolvimento de novos conceitos de estratégia elaborados por Peter Drucker, em A prática da gestão, de 1954, a estratégia empresarial passou a ser entendida como uma busca para determinar o negócio da organização, avaliando o futuro da empresa, bem como o seu propósito. Em 1965, Igor Ansoff lançou Estratégia corporativa, considerado o pri- meiro livro sobre estratégia nas empresas. A partir daí, o conceito foi mudando e atualizando o contexto estratégico das organizações. Mais recentemente, Zaccarelli, em seu livro Estratégia e sucesso nas empresas (2004), observou que as teorias de todos esses autores em relação à estratégia foram se concre- tizando — seus conceitos e suas ferramentas são praticadas continuamente dentro do contexto empresarial nos dias atuais. No entanto, essa evolução não termina por aqui — ela é constante. Escolas do pensamento estratégico Até agora, vimos a evolução do conceito de estratégia; agora, veremos como Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2007) conseguiram organizar os estudos estra- tégicos em dez escolas de pensamento, o que auxiliou os gestores e estudantes no entendimento do pensamento estratégico. As escolas apresentadas pelos autores 5Evolução da estratégia empresarial tratam do processo estratégico como um todo. Observa-se, nesse contexto, que cada uma delas reforça uma maneira diferenciada de estabelecer ou formular estratégias. Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2007) dividiram a sua abordagem em escolas prescritivas e descritivas, sendo que cada um desses grupos aborda o processo estratégico por meio de diferentes atitudes. As escolas prescri- tivas apontam observações quanto ao modo como as estratégias devem ser formuladas, apresentando fórmulas gerais para a concepção das estratégias empresariais. Já as escolas descritivas focalizam os seus apontamentos e as suas explicações nos fatos que podem criar as estratégias empresariais. Escola prescritiva de design A escola de design, conforme apontam Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2007), aborda a formação da estratégia como a adaptação essencial entre as forças e as fraquezas internas da empresa com as ameaças e oportunidades externas de seu ambiente. Diante do exposto, nessa escola, a formação da estratégia é desenvolvida pela gestão sênior da empresa, em um processo determinado pelo pensamento consciencioso, não apresentando formalmente um aspecto analítico, informal ou intuitivo. Com essa percepção, todos os participantes do processo podem aplicar a estratégia. Nessa escola, a formulação da estratégia aponta uma abordagem de con- cepção, ou seja, o gestor sênior desenvolve mentalmente estratégias determinadas. Ao fazer a análise do ambiente de uma empresa utilizando a ferramenta matriz SWOT, com o objetivo de avaliar os pontos fortes e fracos da situação interna e as ameaças e oportunidades da situação externa, criando e gerando a base da estratégia da organização, está sendo empregado o contexto da escola de design. Escola prescritiva de planejamento A escola de planejamento, segundo Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2007), foi iniciada por Ansoff e Andrews em 1965, refl etindo fortemente as ideias da escola de design. Porém, a principal diferença foi o acréscimo do entendimento de que o processo estratégico não é apenas intelectual, mas também formal. Nesse sentido, a formalidade significa que o processo estratégico pode ser desenvolvido em etapas distintas, apresentado por meio de listas de verificações Evolução da estratégia empresarial6 e sustentado por técnicas, dentre as quais podem ser destacadas: orçamenta- ção, programas e planos operacionais. Nota-se, assim, que a estratégia e seu desenvolvimento nessa escola são definidos como um método formal. Nesse momento, inicia-se a técnica de planejamento estratégico. Desenvolvimento de atividades de controle aplicadas pelo setor de planejamento e controle de produção (PCP) de uma empresa. Com a análise das atividades, é possível averiguar os pontos a serem melhorados na organização; por exemplo, melhorar a programação da produção de um setor industrial com produção em linha. Escola prescritiva de posicionamento Conforme Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2007) descrevem, a escola de po- sicionamento foi estimulada por Michael Porter. Sob essa ótica, a estratégia se restringe a posições genéricas nomeadas por meio de críticas formalizadas das situações da indústria que apresentam maior ênfase no mercado naquele momento. No posicionamento estratégico, as avaliações são apresentadas por meio do modelo das cinco forças competitivas de Porter. Percebe-se que, nessa escola, a formulação da estratégia deve ser antecedida por uma avaliação criteriosa da indústria e de uma detalhada análise do ambiente externo e interno da empresa. Os autores destacam que as ameaças e oportunidades do ambiente e as forças e fraquezas da organização devem ser medidas conforme o método genérico de estratégia a ser seguido pela empresa. Resumidamente, a formulação da estratégia nessa escola consiste em um processo analítico. Desenvolvimento da análise da competitividade e atratividade do mercado, apresen- tando as cinco forças de Porter indicativas do negócio, com o objetivo de averiguar a rivalidade dos concorrentes, as ameaças de novos entrantes, a ameaça de produtos substitutos e o poder de barganha dos fornecedores e dos clientes. Com base na análise dos resultados, torna-se possível desenvolver uma estratégia competitiva para entrar ou se manter no negócio. 7Evolução da estratégia empresarial Escola descritiva empreendedora Na descrição de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2007), a escola empreen- dedora, mesmo mantendo traços relacionados à prescrição, como centrar o processo estratégico no presidente da empresa, contrasta-se com as escolas anteriores ao se basear em processos intuitivos. Dessa forma, a estratégia e sua formulação passam de projetos, planos e posições precisas para observações vagas ou perspectivas amplas, associadas, na maioria das vezes, a metáforas. Diante desse entendimento estratégico, o líder mantém o controle sobre a prática das suas observações formuladas, constituindo-se como detentor de todo o processo estratégico. A escola empreendedora afi rma que a sua estratégia está resumida a um processo visionário do líder. Nota-se que pequenas empresas gerenciadas pelo próprio dono e criador do negócio são dependentes das ideias e visões desse empreendedor para formular estratégias de concorrência. Como exemplo, podemos citar um posto de combustível localizado em uma região metropolitana; para aumentar as suas vendas ou reter a sua clientela, o gestor resolve distribuir gás natural veicular, visto que é uma tendência de combustível que os clientes estão optando e não há qualquer posto na região oferecendo esse produto. Escola descritiva cognitiva Segundo Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2007), na escola cognitiva existe uma busca constante pela origem das estratégias; assim, essa escola concentra os seus estudos nos processos mentais e a sua criação. Dentro desse contexto, analisam-se as estratégias que se desenvolvem na mente das pessoas, com o intuito de compor e organizar os processos mentais em estruturas, modelos, mapas, conceitos e esquemas. Assim, o estudo é direcionado para observar o modo como a mente humana processa a informação e mapeia a estrutura e o conhecimento, desenvolvendo a formação de conceitos, focalizando, desse modo, a percepção na criação da estratégia. Outra corrente dessa escola estratégica aponta sua pesquisa para o modo como a percepção é usada para construir novas estratégias por meio de interpretações, e não simplesmente para mapear a realidade com um método mais ou menos objetivo e distorcido. Resumidamente, essa escolaambiciona desvelar o processo mental de criação das estratégias ao estudar a sua formação na mente do estrategista. Evolução da estratégia empresarial8 Diante de um ambiente em crise econômica — por exemplo, a crise mundial apre- sentada em decorrência do não pagamento das hipotecas nos Estados Unidos —, o gestor de uma organização aproveita o seu conhecimento inconsciente e/ou cons- ciente, relacionando-o com a percepção do ambiente, e estabelece uma estratégia de sobrevivência financeira para a empresa. Escola descritiva de aprendizado Conforme Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2007), outra doutrina descritiva é intitulada de escola de aprendizado, por perceber que a estratégia é um processo emergente gerado por toda a organização por meio de seus membros, individual ou coletivamente. Sob essa ótica, as estratégias surgem dos padrões comportamentais exercitados pelas empresas, não existindo divergência entre formulação e implementação da estratégia. Nesse sentido, as estratégias são vistas como o aprendizado das organizações, que emerge em função do fl uxo das ações organizacionais. O conhecimento tácito (isto é, que está na mente) de uma pessoa pode envolver insights — ideias vindas de experiências anteriores que estão na mente e, ao serem apresentadas a situações semelhantes, ajudam a resolver um problema —, conceitos e estratégias que não seria possível alcançar apenas com o conhecimento explícito (que está em manuais, livros, entre outros meios). Veja um exemplo clássico: os funcionários que trabalhavam no processo de fabricação de creme dental possuíam uma solução mais simples e barata do que os engenheiros para o problema de caixas de creme dental vazias, pois obtinham o conhecimento tácito do processo. Escola descritiva do poder Outra corrente de pensamento estratégico-descritivo, apontada por Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2007), é a escola de poder, que enfatiza a formação da estratégia como um procedimento de negociação, dividido em duas dimen- sões. A primeira chama-se de micropoder e distingue o desenvolvimento da estratégia dentro das empresas como um fato fundamentalmente político, de 9Evolução da estratégia empresarial modo que o processo formulado envolve barganha, persuasão e confrontação entre os gestores que dividem o poder na empresa. A segunda categoria dessa escola é marcada pelo macropoder, que observa a empresa como uma entidade que utiliza seu poder sobre os outros e desenvolve seus parceiros de alianças, realizando joint ventures e outras redes de relacionamento para negociar estratégias coletivas de seu interesse. Diversos municípios solicitam ao governo federal recursos para financiar obras de saneamento para a população. Pode ser que todos se enquadrem nos pré-requisitos definidos pelo governo; entretanto, sabe-se que os recursos são limitados e é difícil atender a todos. Desse modo, os prefeitos que possuem alcance político com os governantes — na maioria das vezes, por serem do mesmo partido — terão mais probabilidade de obter os recursos para seu município. Escola descritiva cultural Contrariando a escola de poder, observa-se a escola cultural. Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2007) entendem essa estratégia como um processo social fundamentado na questão cultural. Enquanto a escola do poder se concentra em interesses próprios e fragmentação, a escola cultural abrange os interesses comuns e a integração dentro da organização. A cultura organizacional está conectada à ideia de percepção coletiva, caracterizada pela mente da organização e divulgada por meio de crenças comuns que se refletem nas tradições, nos hábitos e nas manifestações mais palpáveis relacionadas à história, aos símbolos e até mesmo aos edifícios e produtos da organização. Desse modo, a cultura seria responsável pela formação da estratégia e uma desencorajadora das mudanças estratégicas. Um exemplo são as dificuldades oriundas de estratégias de fusão de empresas; nesse caso, as divergências advindas das diferenças culturais podem servir para desfazer a união. Evolução da estratégia empresarial10 Escola descritiva ambiental Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2007) tratam a escola ambiental como uma estratégia com processo reativo; ou seja, a empresa é analisada como um indi- víduo passivo que consome seu tempo reagindo a um ambiente que constitui a resolução a ser seguida. Nesse sentido, o ambiente desenvolve as estratégias em função de seu grau de estabilidade ou instabilidade, levando em consideração as forças institucionais políticas e ideológicas sofridas pela organização. Um pequeno mercado, localizado em um bairro longe da região central da cidade, trabalha há anos no mesmo ritmo e da mesma forma, não se preocupando em melhorar procedimentos e inovar em produtos e serviços. Em um determinado momento, abre um novo mercado concorrente, que já inicia com maior variedade de produtos e promoções atraentes. O gestor do mercado antigo, ao entender que o ambiente mudou e que está perdendo a clientela, reage com o lançamento de promoções e busca ajustar-se à nova realidade, melhorando o seu negócio. Escola descritiva da configuração A última visão estratégica apresentada por Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2007) é a da escola da confi guração, que compreende a estratégia como um processo de transformação. Sob essa ótica, as empresas são percebidas como confi gurações, ou seja, agrupamentos coesos de características e comportamentos, com a fi nalidade de transformar uma organização. Dessa forma, a empresa precisaria saltar de uma confi guração para a outra, na qual desenvolveria uma mudança estratégica. Portanto, cada uma das confi gurações descritas por essa escola apresentaria um modo diferente de estratégia a ser abraçada. Assim, o entendimento da confi gu- ração organizacional seria o início para a formulação da estratégia corporativa. Você se lembra da empresa Fugi? Essa empresa trabalhava somente com filmes fo- tográficos, mas precisou mudar radicalmente a sua estratégia a fim de se ajustar às novas tecnologias do negócio fotográfico: passou a comercializar máquinas digitais em vez de filmes fotográficos. 11Evolução da estratégia empresarial Análise crítica sobre as dez escolas de Mintzberg Observando as dez escolas estratégicas de forma crítica, percebe-se que qual- quer processo de formulação estratégica, atualmente, poderá incluir uma ou mais das abordagens das escolas de pensamento estratégico. Dentro desse contexto, percebe-se que as estratégias empresariais existentes, de fato, são formuladas com base na combinação do conhecimento de diversas escolas estratégicas, fazendo com que a formação da estratégia se dê de forma híbrida, podendo ser aplicada por meio de processos cognitivos conscientes, resolvidos e analítico-formais, ou inconscientes, não deliberados e intuitivo-informais. Dessa forma, por meio desse processo híbrido de formação da estratégia, é possível assegurar que ela trará aspectos advindos de uma percepção racional, como planos preestabelecidos, além de aspectos advindos de processos menos formais, ligados a conexões empíricas do estrategista, a determinações do meio externo e a valores das pessoas responsáveis pela concepção e implementação da estratégia. Resumidamente, a formulação estratégica precisa contrabalançar os distin- tos contextos das escolas prescritivas, que incluem a lógica analítica de Porter, com as observações descritivas das demais escolas, com a finalidade de se obter a melhor estratégia empresarial para o caso concreto (PORTER, 2004). CERTO, S. C.; PETER, J. P. Administração estratégica: planejamento e implantação da estratégia. São Paulo: Pearson, 2011. MAQUIAVEL, N. O príncipe. São Paulo: Martins Fontes, 1999. MAXIMIANO, A. C. A. Fundamentos de administração: introdução à teoria geral e aos processos da administração. 3. ed. 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