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Dinâmica da composição do leite e suas implicações clínicas

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© 2018 ILSI Brasil International Life Sciences Institute do Brasil
ILSI BRASIL
INTERNATIONAL LIFE SCIENCES INSTITUTE DO BRASIL
 Rua Hungria, 664 — conj.113
01455-904 — São Paulo — SP — Brasil
Tel./Fax: 55 (11) 3035-5585 e-mail: ilsibr@ilsi.org.br
© 2018 ILSI Brasil International Life Sciences Institute do Brasil
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Dinâmica da composição do leite humano e suas
 implicações clínicas. -- São Paulo : ILSI Brasil-
 International Life Sciences Institute do Brasil,
 2018. -- (Série de publicações ILSI Brasil :
 força-tarefa de nutrição da criança ; v. 8)
 Vários autores.
 Bibliografia.
 ISBN 978-85-86126-86-4
 1. Crianças - Nutrição 2. Crianças - Saúde
3. Leite humano 4. Leite materno 5. Leite materno -
Aspectos nutricionais 6. Nutrição 7. Nutrição -
Necessidades I. Série.
18-22219 CDD-613.2083
Índices para catálogo sistemático:
1. Crianças : Nutrição : Promoção da saúde : 
 Ciências médicas 613.2083
Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427
Esta publicação foi possível graças ao apoio da Força-Tarefa de 
Nutrição da Criança, cujas empresas associadas são Abbott, Da-
none, DSM, Nestlé e Reckitt Benckiser, e esta subordinada ao 
Comitê de Nutrição e este ao Conselho Científico e de Adminis-
tração do ILSI Brasil.
Segundo o estatuto do ILSI Brasil, no mínimo 50% de seu Con-
selho Científico e de Administração deve ser composto por repre-
sentantes de universidades, institutos e órgãos públicos, sendo os 
demais membros representantes de empresas associadas.
Para mais informações, entre em contato com o ILSI Brasil
pelo telefone (11) 3035-5585 ou pelo e-mail: ilsibr@ilsi.org.br
As afirmações e opiniões expressas nesta publicação são de responsabilidade 
dos autores, não refletindo, necessariamente, as do ILSI Brasil. Além disso, a 
eventual menção de determinadas sociedades comerciais, marcas ou nomes 
comerciais de produtos não implica endosso pelo ILSI Brasil.
4
Dinâmica da Composição do Leite Humano e suas Implicações Clínicas / ILSI Brasil
5
Dinâmica da Composição do Leite Humano e suas Implicações Clínicas / ILSI Brasil
Autores:
Analise Gabriela Zuchi Leite
Nutricionista, especialista em Nutrição Clínica pediátrica pela Faculdade de Medicina da 
Universidade de São Paulo. Supervisora de Nutrição do Centro Neonatal do Instituto da Criança 
ICr – HCFM/USP; e supervisora da sala de extração de leite humano do Centro Neonatal.
 Karina Merini Tonon
Doutora em Ciências pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo 
(EPM/UNIFESP), onde desenvolveu metodologia para a identificação e quantificação de 
oligossacarídeos do leite humano (HMOs), avaliou a composição de HMOs no leite de nutrizes 
brasileiras e a sua relação com características maternas e a microbiota intestinal do lactente. É 
mestre em Ciência dos Alimentos pela Univer¬sidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e 
graduada em Nutrição pela Universidade Regional de Blumenau (FURB).
Liubiana Arantes de Araújo
Neurologista Pediátrica 
Título em Medicina Intensiva Pediátrica 
Mestrado em Neuropediatria 
Doutorado em Neuropediatria - UFBA/ Harvard Medical School 
Professora Adjunta da Faculdade de Medicina da UFMG 
Presidente do Departamento de Pediatria do Neurodesenvolvimento da Sociedade 
Brasileira de Pediatria 
Mônica de Araújo Moretzsohn 
Médica do ambulatório de Nutrologia Pediátrica do IPPMG-UFRJ 
Nutróloga Pediatra e especialista em Suporte Nutricional pela SBP 
Membro do departamento científico do comitê de Nutrologia da SBP 
Presidente do Comitê de Nutrologia da Soperj
Rubens Feferbaum 
Professor Livre Docente em Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São 
Paulo. Especialista em Neonatologia e Nutrologia pela Sociedade Brasileira de Pediatria 
(SBP) e BRASPEN. Médico da UTI neonatal do Instituto da Criança do HC Faculdade de 
6
Dinâmica da Composição do Leite Humano e suas Implicações Clínicas / ILSI Brasil
Medicina da USP. Presidente dos Departamentos Científico de Suporte Nutricional da SBP 
e Nutrologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP). Coordenador científico da 
força tarefa de nutrição infantil ILSI-Brasil.
Paulo Roberto Pachi 
Mestre e Doutor em Medicina.
Professor e Chefe de Clínica Adjunto do Departamento de Pediatria da Santa Casa de São Paulo
Responsável pelo Ambulatório de Seguimento de Prematuros da Santa Casa de São Paulo
Neonatologista da Maternidade Pro Matre Paulista
Membro do Departamento de Neonatologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo 
Membro do Comitê Executivo de Neonatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria
 Valdenise Martins Laurindo Tuma Calil 
Médica pediatra e neonatologista
Mestre e Doutora em Pediatria pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP)
Professora Colaboradora Médica do Departamento de Pediatria da FMUSP (disciplina de Neonatologia)
Especialista em Pediatria com área de atuação em Neonatologia, Terapia Intensiva Pediátrica
e Nutrologia Pediátrica pela Sociedade Brasileira de Pediatria
Médica-assistente do Centro Neonatal do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da FMUSP
Membro do Departamento de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo
Virgínia Spinola Quintal
Mestre em Pediatria pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo,
Doutora em Ciências, na área de Pediatria, pela Faculdade de Medicina da Universidade 
de São Paulo, Título de Especialista em Pediatra e em área de atuação Neonatologista pela 
SBP, Médica Colaboradora do Banco de Leite Humano do Hospital Universitário da Univer-
sidade de São Paulo – 1999 - 2018, Membro do Departamento de Aleitamento Materno da 
Sociedade de Pediatria de São Paulo. Docente do Curso de Medicina, Departamento de 
Saúde III, da Universidade Nove de Julho.
7
Dinâmica da Composição do Leite Humano e suas Implicações Clínicas / ILSI Brasil
ÍNDICE
Introdução
1. Proteômica do leite humano
 1.1 Compreendendo as metodologias “Ômicas”
 1.2 Proteínas do leite humano
 1.3 O que são proteínas bioativas?
 1.4 Proteínas bioativas no leite humano
 1.5 Considerações finais
 1.6 Referências bibliográficas
2. Composição lipídica
 2.1 Características dos componentes lipídicos
 2.2 Fatores que internferem na variação da composição do leite 
 materno
 2.3 Ácidos graxos
 2.4 Principais funções dos ácidos graxos poli-insaturados
 2.5 Referências bibliográficas
3. Carboidratos
 3.1 Lactose
 3.1.1 Biossíntese
 3.1.2 Variações na concentração de lactose no LH
 3.1.3 Digestão e metabolismo da lactose
 3.2 Oligossacarídeos do leite humano
 3.2.1 Composição estrutural e biossíntese
 3.2.2 Variabilidade na composição e concentrações dos HMOS
 3.2.3 Metabolismo dos HMOs
 3.2.4 Efeitos dos HMOs sobre a microbiota intestinal
 3.2.5 Outras potenciais funções biológicas dos HMOs
 3.3 Monossacarídeos livres
 3.4 Conclusão
 3.5 Referências bibliográficas
4. Microbioma do leite humano
 4.1 Introdução
 4.2 Microbioma no início da vida
 4.3 Microbioma do leite materno
 4.4 Modulação do microbioma neonatal pelo leite humano
 4.5 Amamentação e a modulação da microbiota na primeira infância
 4.6 O papel do leite na disbiose do bebê/criança
 4.7 Considerações finais
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Dinâmica da Composição do Leite Humano e suas Implicações Clínicas / ILSI Brasil
 4.8 Referências bibliográficas
 
5. Vitaminas, minerais e oligoelementos
 5.1 Composição mineral
 5.1.1 Cálcio, fósforo e magnésio
 5.1.2 Sódio, potássio e cloreto
 5.1.3 Composição do leite de banco de leite humano
 5.1.4 Microminerais, elementos-traço ou oligoelementos
 5.2 Composição vitamínica
 5.2.1 Vitaminas hidrossolúveis
 5.2.2 Vitaminas lipossolúveis
 5.2.3 Micronutrientes com ação oxidante
 5.3 Referências bibliográficas
6. Elementos bioativos
 6.1 Componentes bioativos derivadosde caseína
 6.2 Componentes bioativos derivados do soro do leite
 6.3 Carboidratos do leite e outros componentes bioativos e seus efeitos 
 fisiológicos
 6.4 Complexos lipídicos e outros
 6.5 Fosfatidilserina, fosfatidilcolina e colina
 6.6 Conclusões
 6.7 Referências bibliográficas
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69
69
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Dinâmica da Composição do Leite Humano e suas Implicações Clínicas / ILSI Brasil
INTRODUÇÃO
Rubens Feferbaum
Esta publicação com diversos capítulos elaborados por especialistas em nutrição da 
criança tem o objetivo de analisar os aspectos da composição do LH e seus benefícios 
à saúde da criança e consequências em longo prazo. 
A amamentação é a continuação natural da nutrição fetal através da placenta. O leite 
humano (LH) é o perfeito alimento para o crescimento harmônico e o desenvolvimento 
saudável de lactentes e crianças pequenas. A OMS recomenda a amamentação ex-
clusiva até os 6 meses de idade, e a partir de então com a introdução da alimentação 
complementar, até pelo menos os 2 anos de idade. 
A composição do leite humano é complexa em relação aos seus macro e micronutrien-
tes que permitem o melhor crescimento e desenvolvimento da criança; esses também 
possuem propriedade bioativas que atuam, como exemplo, na modulação imunológi-
ca e mesmo epigenética do indivíduo. 
O capítulo 1 trata do proteoma do LH; além de fornecer os aminoácidos essenciais e 
proteínas bioativas, o leite humano pode ser classificado segundo suas quatro funções 
principais: proteção imune e contra agentes microbianos, auxílio no funcionamento do 
aparelho digestivo, estímulo ao desenvolvimento do intestino e transporte de outros 
nutrientes como vitaminas e minerais (vide capítulo 5).
Muitas destas proteínas são digeridas e fornecem uma fonte equilibrada de aminoá-
cidos para o crescimento do lactente. Algumas proteínas, como a lipase estimulada 
pelos sais biliares, a amilase, as caseínas, a lactoferrina, a haptocorrina e a alfa 1-anti-
tripsina são importantes na digestão e utilização de macro e micronutrientes do LH.
Várias proteínas com atividade antimicrobiana, tais como as imunoglobulinas, a caseí-
na, a lisozima, a lactoferrina, a haptocorrina, a alfa-lactalbumina e a lactoperoxidase 
são relativamente resistentes contra proteólise no trato gastrointestinal e podem per-
manecer intactas ou parcialmente digeridas e contribuir para a defesa contra bactérias 
e vírus patogênicos. 
Algumas proteínas e peptídeos têm atividades imunomoduladoras (por exemplo, ci-
tocinas e lactoferrina), enquanto outras, como o fator de crescimento epidérmico e a 
lactoferrina tendem a ser envolvidos no desenvolvimento da mucosa intestinal e outros 
órgãos de recém-nascidos (vide capítulo 6). 
Em combinação, as proteínas do leite materno atuam na provisão da nutrição adequa-
da e simultaneamente, auxiliam na defesa anti-infecciosa facilitando diversas funções 
10
Dinâmica da Composição do Leite Humano e suas Implicações Clínicas / ILSI Brasil
fisiológicas importantes em recém-nascidos.
No capítulo 2 analisa-se que a complexa composição lipídica do LH serve não somente 
como principal oferta de energia ao lactente mas também no fornecimento dos ácidos 
graxos poli-insaturados de cadeia longa essenciais das séries ômega-3 e ômega-6 que, 
através do seu metabolismo, produzem ácidos graxos incorporadas na membrana ce-
lular do tecido nervoso (retina e cérebro) e compostos bioativos como os ecosanóides 
que regulam a atividade inflamatória.
O leite materno por sua vez serve de fonte de nutrientes para o microbioma do lac-
tente uma vez que é rico em oligossacarídeos que consiste em uma mistura complexa 
que pode conter dezenas a centenas de estruturas diferentes, com efeito prebiótico 
vide capítulos 3 e 4.
Os oligossacarídeos do leite humano (human milk oligosaccharides - HMO) são carboi-
dratos relacionados aos efeitos sobre a colonização e desenvolvimento da microbiota do 
sistema gastrointestinal dos lactentes, estimulando o crescimento de bactérias como as 
bifidobactérias, e inibindo o crescimento de outras potencialmente patogênicas.
O LH também é a base da alimentação do prematuro; a dieta com leite humano mo-
dula o sistema digestório imaturo através da diminuição do pH gástrico, aumento da 
motilidade intestinal, diminuição da permeabilidade epitelial intestinal e equilíbrio (eu-
biose) do microbioma intestinal.
RN pré-termos que recebem leite materno nas 2 primeiras semanas de vida diminuem 
significativamente o risco de enterocolite necrosante. 
A importância do LH na alimentação do pré-termo é refletida nos mais de 220 bancos 
de leite humano existentes no Brasil e na rede ibero-americana de bancos de leite. 
Os temas apresentados demonstram alguns aspectos na importância do estudo dos 
componentes bioativos do leite humano. 
Muito há de pesquisar este alimento único e perfeito para compreensão da fisiologia 
da criança e seus desfechos clínicos.
 
11
Dinâmica da Composição do Leite Humano e suas Implicações Clínicas / ILSI Brasil
1. PROTEÔMICA DO LEITE HUMANO
Analisa Gabriela Zuchi Leite
Rubens Feferbaum 
1.1 Compreendendo as metodologias “Ômicas”
Com o advento do sequenciamento do genoma humano, os estudos genômicos têm 
se voltado à elucidação das funções de todos os genes, bem como a caracterização de 
suas interações com fatores ambientais1,2. A nutrigenômica surgiu no contexto do pós-
genoma humano e é considerada área-chave para a nutrição nesta década3. Seu foco 
de estudo baseia-se na interação gene nutriente, que pode ocorrer de duas formas: 
nutrientes e compostos bioativos dos alimentos (CBAs) que influenciam o funcionamen-
to do genoma, e variações no genoma que influenciam a forma pela qual o indivíduo 
responde à dieta4,5,6. 
Alguns autores definem, inclusive, nutrigenômica como a aplicação de ferramentas de 
genômica funcional na área de nutrição4,7. Dentre essas, destacam-se as que possibili-
tam a análise do transcritoma (transcritômica), proteoma (proteômica) e metaboloma 
(metabolômica). Diferentemente do genoma (conjunto do material genético), que se 
modifica lentamente, ao longo de gerações, o transcritoma, o proteoma e o metabo-
loma (conjunto em um dado momento de transcritos, proteínas e metabólitos, respec-
tivamente) sofrem alterações constantes, em resposta a diferentes fatores ambientais, 
incluindo a alimentação6,8,9. 
A integração das diferentes metodologias ômicas (transcritômica, proteômica e me-
tabolômica) apresenta potencial de desenvolvimento de biomarcadores para o estado 
de saúde; da identificação de alterações precoces no desenvolvimento de doenças 
crônicas não transmissíveis; de diferenciação entre indivíduos que respondem e não 
respondem a intervenções dietéticas; além da descoberta de CBAs benéficos6,9.
Em virtude das proteínas serem moléculas centrais em diferentes funções biológicas, e 
candidatas a alvos terapêuticos, as ferramentas da proteômica têm apresentado avanço 
progressivo. O termo proteoma refere-se às proteínas expressas por um genoma em 
um dado momento. Enquanto o genoma proporciona somente informação estática, o 
proteoma fornece uma visão geral da maquinaria da célula10,11. Uma análise abrangente 
em alta escala das proteínas é o objetivo da ciência do proteoma, a proteômica. Sua área 
de atuação é ampla; ela engloba a identificação e quantificação de proteínas nas células, 
tecidos e fluidos biológicos; análise de mudanças na expressão normal das proteínas 
versus a expressão em células doentes; caracterização de modificações pós-traducionais; 
estudos de interações proteína-proteína; e outras aplicações11,12. 
12
Dinâmica da Composição do Leite Humano e suas Implicações Clínicas / ILSI Brasil
Pode-se considerar que o estudo com proteínas se torna mais complexo do que com 
ácidos nucléicos, uma vez que estas podem ser modificadas pós-traducionalmente por 
meio de fosforilação, glicosilação, ubiquitinação, sulfatação ou acetilação. Adicional-
mente,proteínas respondem diferentemente dependendo da localização celular, sofrem 
proteólise, se desestruturam e rearranjam de acordo com o que ligam, como ácidos nu-
cléicos, outras proteínas, lipídeos, moléculas de baixo peso molecular e outros ligantes, 
e os níveis de proteínas não refletem necessariamente os níveis de RNAm13.
Finalmente, uma única proteína pode estar envolvida em mais de um processo e, in-
versamente, funções similares podem ser executadas por diferentes proteínas14. Todas 
essas possibilidades resultam no fato que o proteoma apresenta uma maior complexi-
dade comparada ao genoma e, de maneira geral, é possível afirmar que um genoma 
pode apresentar muitos proteomas6. 
O leite materno é a primeira alimentação que o bebê deve receber ao nascer, pois é 
um fluido extremamente complexo que contém fatores protetores e substâncias bio-
ativas que garantem saúde, crescimento e desenvolvimento plenos. Atualmente são 
conhecidos no leite materno mais de 200 constituintes15,16, dentre eles, as proteínas, 
macromoléculas indispensáveis para o lactente, já que são os principais nutrientes con-
strutores do corpo humano, além de serem essenciais para a síntese de hormônios, 
enzimas e anticorpos17. 
1.2 Proteínas do leite humano 
As proteínas do leite humano fornecem de 6 a 7% de energia e podem ser divididas em 
duas principais classes: proteínas do soro, as lactoalbuminas (60%), e caseínas (40%)18,19. 
A importância das proteínas do leite humano para o crescimento e desenvolvimento 
de crianças amamentadas está bem estabelecida. Elas não apenas fornecem uma fonte 
de aminoácidos para bebês, mas também conferem proteção imunológica e desem-
penham funções de desenvolvimento e regulatórias, exercendo benefícios a longo e 
curto prazo, quando comparado com a alimentação com fórmula20,21,22. 
As proteínas do leite humano são particularmente importantes para os bebês que 
nascem prematuramente. Estudos recentes enfatizam a importância tanto da quanti-
dade total de proteína quanto da relação proteína/energia que os bebês prematuros 
recebem para seu crescimento e desenvolvimento. Também promovem a digestão 
e absorção de outros nutrientes, como os minerais, melhorando a sua biodisponibi-
lidade. Proporcionam defesa contra agentes infecciosos, aprimoramento da função 
imunológica, desenvolvimento e maturação do intestino.11,20,23. 
A maioria dos estudos que investigam a composição da proteína do leite tem se con-
centrado nas proteínas mais abundantes presentes, resultando em suas concen-trações 
relativas no leite a termo e pré-termo sendo bem definidas20,24,25. No entanto, também 
13
Dinâmica da Composição do Leite Humano e suas Implicações Clínicas / ILSI Brasil
é importante que a identidade e o comportamento das proteínas de menor abundân-
cia no leite humano sejam caracterizados. Existem duas razões principais para isso. 
Primeiro, é possível que essas proteínas desempenhem papéis importan-tes no cres-
cimento, imunidade e desenvolvimento infantil. Segundo, o conhecimento de como a 
expressão de proteínas de baixa abundância difere entre o leite materno e o prema-
turo pode ser útil no diagnóstico, como reflexo das mudanças no desenvolvimento que 
ocorrem na glândula mamária durante a gravidez e lactação20.
As proteínas presentes em maiores quantidades no soro são as imunoglobulinas, a a-lac-
toalbumina, a lactoferrina, a soroalbumina e a lactoperoxidase. A caseína consiste em 
várias subunidades (a, b e k-caseínas) e forma micelas com Ca2+ e PO4 3-. Os teores 
de caseína e das proteínas do soro mudam drasticamente desde o início da lactação; 
a concentração das proteínas do soro é bastante alta, principalmente devido à IgA 
secretória e lactoferrina, enquanto a caseína é praticamente indetectável nos primeiros 
dias. Subsequentemente, a síntese de caseína na glândula mamária e a sua concentra-
ção no leite aumentam, enquanto a concentração das proteínas do soro diminui, o que 
ocorre parcialmente devido ao maior volume de leite que passa a ser produzido. Como 
consequência, não há uma proporção “fixa” de proteínas do soro em relação à caseína; 
ela varia durante a lactação, de aproximadamente 80:20, no início, para 50:50 no final. 
Como a composição de aminoácidos dessas duas classes de proteínas é diferente, o 
teor de aminoácidos no leite humano também varia durante o período de lactação26,27.
Historicamente, tem havido uma série de desafios técnicos associados à caracterização 
das proteínas de baixa abundância no leite humano. Estudos iniciais utilizando méto-
dos eletroforéticos em gel acoplados à espectrometria de massa foram incapazes de 
detectar mais de 10 produtos gênicos diferentes no leite humano ou bovino, apesar de 
observar centenas de pontos protéicos distintos28,29. Essa dificuldade decorre do fato 
de que seis proteínas, a-lactalbumina, b-caseína, imunoglobulina A secretora, lisozima, 
lactoferrina e componente secretor, constituem mais de 90% do conteúdo total de 
proteínas no leite humano maduro30, obscurecendo a detecção de proteínas menos 
abundantes de potencial interesse biológico20.
Em estudo realizado por Molinari, et al (2012), a maioria das proteínas encontradas foram 
citoplasmáticas (46%) ou proteínas do espaço extracelular (38%). Funcionalmente, a 
maioria das proteínas identificadas estava envolvida na resposta imune (24%) ou no me-
tabolismo celular e crescimento celular (28%). No presente estudo, 415 proteínas foram 
identificadas usando um número de técnicas de separação e identificação, 261 das quais 
não haviam sido encontradas anteriormente em leite desnatado humano20. 
Muitos componentes do leite humano são multifuncionais e entre seus inúmeros com-
ponentes destacam-se como protetores ou agentes ativos contra a infecção, os com-
ponentes antimicrobianos (Lactoferrina, IgA secretória, lisozima, leucócitos, macrófagos, 
linfócitos, oligossacáridos, fibronectina, mucinas), os anti-inflamatórios (Lactoferrina, IgA 
secretória, lisozima, acetil hidrolase, citocinas anti-inflamatórias, antagonistas dos recep-
14
Dinâmica da Composição do Leite Humano e suas Implicações Clínicas / ILSI Brasil
tores das citocinas pró-inflamatórias), os antioxidantes (Lactoferrina, a tocoferol, b-carote-
no, cisteína, ácido ascórbico, ácido úrico, catalase, glutationa peroxidase) e os fatores de 
crescimento (Fator de crescimento da epiderme, o fator de crescimento transformador e 
fatores de crescimento dos granulócitos e dos monócitos)31,32,. 
1.3 O que são proteínas bioativas? 
São proteínas com funções além da nutrição, e incluem atividades enzimáticas, au-
mento da absorção de nutrientes, estimulação do crescimento, modulação do sistema 
imunológico e defesa contra patógenos. Algumas das atividades fisiológicas forneci-
das pelas proteínas bioativas do leite no trato gastrointestinal incluem: 
– Aumento da biodisponibilidade de nutrientes por proteínas de ligação específica;
– Inibidores de enzimas: como os inibidores de tripsina que podem limitar a digestão;
– Enzimas ativas, algumas das quais auxiliam na digestão e absorção de nutrientes;
– Estimulação do crescimento;
– Modulação do sistema imunológico;
– Defesa contra patógenos. Sendo uma das principais ações das proteínas bioativas.
Um conjunto muito complexo de mecanismos de proteção contra bactérias e vírus 
patogênicos fornecidos por proteínas bioativas inclui:
– O efeito prebiótico, isto é, a estimulação de microrganismos benéficos no intestino 
 (por exemplo, lactobacilos, bifidobactérias, etc.);
– Inibição de patógenos e, portanto, a limitação de seus efeitos;
– Mecanismos de neutralização que impedem o apego ou invasão pelo patógeno na 
 mucosa intestinal.33 
Proteínas bioativas fornecem defesa contra infecções através de:
– Fatores imunológicos (anticorpos como a imunoglobulina A secretória (sIgA), 
 células vivas, citocinas ou moléculas de sinalização);
– Proteínas e enzimas ativas (lactoferrina, lisozima); oligossacarídeos/glico
 proteínas; microflora intestinal (atravésdo efeito prebiótico); e nutrientes para 
 otimizar o sistema imune do bebê.33 
1.4 Proteínas bioativas no leite humano
Algumas das principais proteínas bioativas (proteínas do soro do leite, enzimas e caseí-
nas) do leite materno, atualmente conhecidas:
– Lactoferrina;
– Lisozima;
– IgA secretora (sIgA);
15
Dinâmica da Composição do Leite Humano e suas Implicações Clínicas / ILSI Brasil
– Haptocorrina (proteína ligadora de vitamina B12)
– a-lactoalbumina;
– Lipase estimulada por sais biliares;
– k-caseína, b-caseína33;
– Exossomos;
– Defensinas.
LACTOFERRINA
A lactoferrina é uma proteína multifuncional. É bacteriostática; isto é, pode inibir o 
crescimento bacteriano, particularmente se ligando ao ferro, e tornando o mesmo inaces-
sível a patógenos que requerem ferro para crescer.. Além disso exerce efeitos antivirais, 
é facilitadora da absorção do ferro nas células, estimula a produção de citocinas, au-
menta a imunidade da mucosa, a atividade de células NK (Natural Killer) e citotoxici-
dade de macrófagos32. 
Arnold et al.34 mostraram que a forma livre de ferro da lactoferrina, a forma mais co-
mum de lactoferrina no leite materno, pode matar Streptococcus mutans, Streptococ-
cus pneumoniae, Escherichia coli, Vibrio cholerae, Pseudomonas aeroginosa e Can-
dida albicans.
A lactoferrina é uma proteína resistente, com uma estrutura que a torna difícil de di-
gerir. Em um estudo de Davidson e Lönnerdal35, quantidades significativas de lactoferrina 
intacta foram encontradas em fezes, até os 4 meses de idade, sugerindo que a lactoferrina 
sobrevive ao TGI, e é ativa no intestino delgado. A lactoferrina declinou em fezes infantis 
de 155 mg/24 h com 1 semana de idade, para 20 mg/24 h com 14 semanas.
Naturalmente, a capacidade digestiva e a eficiência aumentam com a maturidade e 
o crescimento, mas no início da vida, a capacidade limitada permite que proteínas 
difíceis como lactoferrina e Imunoglobulina IgA secretória (sIgA), sendo resistentes à 
digestão em alguma extensão, embora algumas partes dessas proteínas ainda possam 
ser absorvidas no intestino delgado através da mucosa. Isso levou à hipótese de que 
existem estruturas ligadas à mucosa que a lactoferrina pode se ligar, e estas foram 
nomeadas receptores de lactoferrina, e tal receptor foi posteriormente isolado por 
métodos bioquímicos36.
O gene para o receptor da lactoferrina foi clonado, e a expressão do gene foi explo-
rada em vários tecidos. Foi encontrada a expressão oral em recém-nascidos neonatais 
fetais e jovens, e em tecido intestinal37. 
Com o uso da biologia molecular e celular, o gene para o receptor de lactoferrina foi in-
serido nas células Caco-2, e o receptor da expressão foi aumentada via transfecção. Essas 
células pegaram ferro da lactoferrina muito mais do que as células não transfectadas, in-
dicando que a lactoferrina está envolvida na aquisição de ferro celular, embora a homeostase 
16
Dinâmica da Composição do Leite Humano e suas Implicações Clínicas / ILSI Brasil
celular subsequentemente determine quanto ferro é absorvido pelo corpo33,37.
Evidências moleculares indicam que a lactoferrina dentro da célula age como um fa-
tor de transcrição do DNA no núcleo celular de pequenas células intestinais38. Assim, 
a lactoferrina, como proteína da dieta, afeta a síntese de outras proteínas valiosas, tais 
como proteínas imunitárias e proteínas de sinalização celular33.
A lactoferrina está atualmente sendo investigada como um imunomodulador em doen-
ças como artrite reumatoide e esclerose múltipla39. 
LISOZIMA
A lisozima é uma enzima ativa que está presente em alta concentração no leite ma-
terno, até 3000 vezes mais em humanos do que no leite bovino40.
Atua como uma enzima antibacteriana e cliva as b, 1-4 ligações glicosídicas na parede 
celular de bactérias33,41.
A lisozima tem uma relação especial com a lactoferrina. A lactoferrina primeiro liga-se 
firmemente aos componentes da membrana celular externa, isto é, lipopolissacarídeos, 
de bactérias Gram-negativas, e cria orifícios na membrana, através dos quais a lisozima 
então entra na glicomatriz das bactérias, degradando-as e efetivamente matando o 
patógeno41. 
IMUNOGLOBULINAS
A imunoglobulina A secretória (sIgA) é responsável por 90% do total de imunoglobuli-
nas no leite humano (IgA, IgG, IgM)33.
Quaisquer patógenos bacterianos e virais específicos que a mãe foi exposta durante 
sua vida, e que desenvolveu anticorpos contra eles, serão transferidos para o lactente 
(via enteromamária)33.
A sIgA, ao contrário de outros tipos de IgA, é estável contra enzimas proteolíticas no 
intestino infantil, e lá se liga a bactérias e antígenos virais, promovendo a inibição da 
ligação ao revestimento mucoso. Outras imunoglobulinas tais como IgA, IgM e IgG 
estão presentes, mas em concentrações mais baixas, e são facilmente digeridas, não 
sobrevivendo no intestino delgado à maneira da sIgA33.
A sIgA está presente em altas concentrações no início da lactação e a sua produção 
diminui consideravelmente após os primeiros dias11,42. 
17
Dinâmica da Composição do Leite Humano e suas Implicações Clínicas / ILSI Brasil
Tabela 1: Composição de proteínas e frações do colostro e leite maduro do leite ma-
terno por 100 ml, (Adaptado de Riodan, 2015)43. 
Fonte: Adapatado de Riordan, J. The biological specificity of human milk. In: RIORDAN, J. 
Breastfeeding and lactation. 3.ed. Burlington: Jones & Bartlett Learning, 2005, p. 97-136.43
A imunidade humoral secretora de crianças e adultos é exercida principalmente pela 
secreção de IgA e IgM, que representam quantitativamente o mais importante sistema 
imune humoral do organismo. Consequentemente, as IgAs do leite materno proporciona 
ao lactente a proteção contra patógenos prevalentes no ambiente da nutriz como bacté-
rias e toxinas (E. coli, Salmonella, Shigella, Campylobacter, Vibrio cholerae, H. influenzae, 
S. pneumoniae, Clostridium dificile, Clostridium botulinum, Klebsiela sp.), vírus (rotavirus, 
virus sincicial respiratório, Influenza, Citomegalovirus, HIV – Vírus da Imunodeficiência Hu-
mana) e outros agentes como a Giardia lamblia e Candida sp., para os quais o repertório 
de anticorpos específicos está incompleto nos primeiros meses de vida32,44.
Gao et al. (2012), em um estudo proteômico envolvendo leite de transição e leite madu-
ro, também concluíram que a produção de sIgA diminui no decorrer da lactação e que, 
aliado a isso, há um aumento na síntese de IgG. Eles propuseram, baseado neste fato, 
que a função do leite muda de somente “matar patógenos” em recém-nascidos para 
promover o sistema imune independente em crianças mais velhas45. 
A sIgA tem como principal ação a ligação a microrganismos e macromoléculas, im-
pedindo a sua aderência a superfícies mucosas e prevenindo o contato do patógeno 
com o epitélio. Outros mecanismos de ação da sIgA envolvem a neutralização das 
toxinas liberadas por patógenos e a prevenção da translocação bacteriana através da 
barreira epitelial46.
18
Dinâmica da Composição do Leite Humano e suas Implicações Clínicas / ILSI Brasil
HAPTOCORRINA
A Haptocorrina (proteína de ligação à vitamina B12) é largamente insaturada no leite 
humano; isto é, há muito mais haptocorrina do que há vitamina B12. O fator intrínseco, 
que é necessário para absorção de vitamina B12, está ausente no recém-nascido, e a 
haptocorrina pode facilitar a absorção da vitamina B1233,47.
A Haptocorrina tem propriedades antimicrobianas. Mesmo em muito baixas concen-
trações, demonstrou matar E. coli.48. A haptocorrina é também estável contra enzimas 
digestivas proteolíticas33. 
a-LACTALBUMINA
 
A maioria das proteínas no leite materno será totalmente decomposta e utilizado pela 
criança como um suprimento de aminoácidos. Contudo, algumas proteínas estão su-
jeitas a proteólise parcial, deixando biologicamente fragmentos ativos (por exemplo, 
fosfopeptídeos de caseína -CPPs), e alguns não sofrem proteólise (por exemplo, lac-
toferrina e sIgA) e podem sobreviver a digestão epodem ser encontrados totalmente 
intacto nas fezes.
 
A a-Lactalbumina fornece um exemplo desta variação do processo proteolítico. No 
trato superior do intestino delgado, sua digestão ocorre de forma parcial, formando 
vários tipos de peptídeos. Estes podem exercer bioatividades por algum tempo no 
intestino delgado, mas eventualmente a a-lactoalbumina é digerida, formando ami-
noácidos ácidos. Este é um cenário em que a digestão é lenta, com função transitória 
dos peptídeos, que executam certas funções por um determinado período de tempo.
Pesquisas mostraram que a alfa-lactoalbumina provoca apoptose (“suicídio celular”) 
de mais de quarenta tipos de câncer. O grupo sueco que fez a descoberta estava ex-
plorando as propriedades antibióticas do leite quando um pesquisador notou que as 
células cancerosas do pulmão em um tubo de ensaio morreram ao entrar em contato 
com leite materno. Foi descoberto então que quando a alfa-lactoalbumina se mescla 
com ácidos (presentes no próprio leite materno ou no estômago de lactentes) se trans-
forma num composto chamado de HAMLET (sigla em inglês para Alfa-lactoalbumina 
Humana Transformada em Letal para Células Tumorais). O fator mais importante é que 
a substância não tem efeitos secundários, pois somente elimina o câncer e não danifica 
as células sãs. A pesquisa mostrou que, depois de 5 dias de tratamento com HAMLET, 
pacientes com câncer de bexiga urinavam células mortas de câncer após cada sessão 
de tratamento49.
LIPASE ESTIMULADA POR SAIS BILIARES (BSSL) 
A BSSL compreende apenas 1-2% das proteínas totais do leite, mas é substancial para 
uma enzima ativa. Está presente no leite de alguns espécies, notadamente humanos, 
mas não no leite de vaca ou de cabra33.
19
Dinâmica da Composição do Leite Humano e suas Implicações Clínicas / ILSI Brasil
No lúmen intestinal, hidrolisa a gordura do leite (triglicerídeos, diglicerídeos, mono-
glicerídeos e a hidrólise destes é muito importante para bebês prematuros), ésteres 
de vitamina A, colesterol, ésteres e liso-fosfolípidos. Assim, é muito importante no me-
tabolismo dos lipídeos33.
Andersson et al.50 realizaram estudo clínico em recém-nascidos saudáveis com peso 
ao nascer de 900-1500 g, após 1 semana de alimentação com leite materno fortificado 
ou leite materno pasteurizado fortificado, quantificou a gordura, e avaliou a antropo-
metria destes pré-termos extremos. Eles descobriram que significativamente menos 
gordura foi absorvida do leite pasteurizado. Assim, a BSSL é inativada pelo processo 
de pasteurização, e sem esta, sendo a enzima ativa, os prematuros não poderiam ab-
sorver lipídios na máxima extensão. O resumo antropométrico também revelou que as 
crianças que recebiam leite materno não pasteurizado apresentaram um maior ganho 
de peso e comprimento.
CASEÍNAS
As caseínas compõem 20 a 40% das proteínas do leite materno, o que é menos do que 
no leite de vaca, mas ainda desempenham um papel importante no metabolismo. A 
caseína humana é uma proteína bastante estudada. Sabe-se que a sua síntese é baixa 
nos primeiros dias de lactação, mas com o passar do tempo, é uma das proteínas mais 
expressivas do leite materno21.
A caseína como uma classe de proteínas consiste de várias subunidades (a, b e k-caseí-
nas) que formam micelas com Ca2+ e PO4 3-, dando ao leite sua aparência branca 
característica. Sabe-se que ela também liga zinco e cobre. A b-caseína, que tem 24 kDa, 
é a principal caseína encontrada no leite materno. Atividades biológicas atribuídas à 
b-caseína ou aos seus fragmentos incluem o aumento da absorção de cálcio, imunoes-
timulação e modulação, estímulo da síntese de DNA, dentre outros11. 
b-CASEÍNA
A b-caseína é única entre as caseínas, pois tem múltiplos aminoácidos fosforilados 
ao longo de sua espinha dorsal. Quando digerido, fosfopeptídeos de caseína (CPP) 
menores são formados e facilitam a absorção de cálcio. Também são formadas peque-
nas caseinomorfinas, isto é, peptídeos opióides que têm afinidade por receptores de 
opiáceos, que pode estar envolvido nos padrões de sono-vigília33.
K-CASEÍNA
A k-caseína no leite materno é fortemente glicosilada (~ 40%) e é um inibidor da adesão 
bacteriana (por exemplo, Helicobacter pylori); O H. pylori demonstrou ser muito menos 
frequente em aleitamento do que bebês alimentados com fórmula33. 
20
Dinâmica da Composição do Leite Humano e suas Implicações Clínicas / ILSI Brasil
EXOSSOMOS
Exossomos são pequenas vesículas derivadas de membranas produzidas por quase 
todos os tipos de células, de origem endocítica, e com tamanhos variando entre 30 
e 100 nm, que são liberados pela célula produtora no meio extracelular. Os mesmos 
podem exercer efeitos fundamentais na saúde e desenvolvimento infantil, como um 
importante mensageiro de comunicação intercelular 32,51,52.
De acordo com seu tamanho, são denominadas nanovesículas (vesículas extra-celula-
res de tamanho determinado em nanômetros)53. São formados pelo envaginamento 
de endossomos, produzindo corpos multivesiculares54. Com a fusão desses corpos e 
de membranas celulares, as nanovesículas são lançadas ao espaço extra-celular como 
exossomos. Os exossomos foram descobertos há 30 anos55 e, primeiramente, a pro-
posta para essas pequenas vesículas de origem endocítica era que funcionavam como 
um meio para que os reticulócitos erradicassem os receptores de transferrina durante 
a maturação dentro dos eritrócitos32,53.
Porém, desde a primeira descoberta dos exossomos, uma imensa gama de células foi 
relacionada com a produção e o lançamento dessas vesículas no meio extra-celular. Foi 
mostrado que a composição e o funcionamento dos exossomos dependem da célula 
originária e das condições nas quais eles foram produzidos54. 
Os exossomos do leite humano fornecem um meio natural de transferência de material 
genético para bebês. Não é de surpreender que os reguladores da expressão gênica 
no leite humano sejam muito mais extensos do que se acreditava anteriormente. Embora 
especulativa, a vantagem da distribuição de reguladores de expressão gênica via ama-
mentação é aparente32.
A descoberta de que exossomos contém miRNAs e estão presentes no leite ma-terno, 
implica que eles podem enviar miRNAs a células distantes, ou seja, exossomos podem 
transferir sinais genéticos de mãe para filho no período de aleitamento56. Assim, os 
exossomos podem ser usados por células imunológicas e outros tipos de células a fim 
de proporcionar a comunicação, com a troca direta de RNA e proteínas, entre células 
separadas por uma distância57. Isso aumenta a complexidade conhecida da interação 
mãe e filho durante a amamentação56. Dessa forma, conclui-se que miRNAs represen-
tam um outro grupo de moléculas transportadas pelo leite que podem influenciar o 
sistema imunológico de lactentes32. 
Um ambiente ácido parece favorecer a captação do exossomo pelas células tumorais. 
Não foi observado diferença entre pH 2,0 e pH 4,0, para a eficiência e localização de 
absorção de exossomos do leite humano, sugerindo que a menor acidez no intestino 
suporta a absorção de exossomos52.
Lasser et. al. (2012) demonstraram em seu estudo uma variedade de funções exercidas 
21
Dinâmica da Composição do Leite Humano e suas Implicações Clínicas / ILSI Brasil
pelos exossomos: como a indução da tolerância a alérgenos, erradicação de tumores já 
estabelecidos, inibição e ativação de células NK, promoção de diferenciação de células T 
reguladoras e estimulação da proliferação e indução da apoptose em células T54. 
DEFENSINAS
Defensinas são peptídeos antimicrobianos (PAMs) inatos que participam de maneira 
importante na defesa contra a invasão microbiana58. 
Dentre os PAMs, a família das defensinas constitui uma importante parte da resposta 
imune inata na secreção de fluidos. Uma comprovação cada vez mais forte sugere a im-
portância das defensinas na resposta imune. Resultados em estudos recentes sobre as 
atividades homeostáticas e de combate a doenças das defensinas humanas apontam 
para sua principalrelevância em várias doenças pediátricas58.
Além de sua atividade antimicrobiana, as PAMs modulam o sistema imunológico ao ati-
var células imunes contra organismos patogênicos. Sua importância na defesa contra 
infecções de revestimentos mucosos, como pele, trato respiratório e intestino, tem sido 
claramente demonstrada com modelos animais em que os genes para as defensinas ou 
catelicidinas do rato foram eliminados ou tiveram sua expressão reduzida. Esses estudos 
têm mostrado a importância dos PAMs contra várias infecções, incluindo as causadas por 
E. coli O157:H7, Streptococcus pyogenes e Streptococcus pneumoniae59.
Beta-defensinas são encontradas no leite materno e podem proteger os lactentes con-
tra infecções. A proteção contra infecções em neonatos amamentados parece ocorrer 
por meio de diversos fatores de defesa adquiridos, e inatos complementares encon-
trados no leite materno, inclusive oligossacarídeos e seus glicoconjugados, e nos pep-
tídeos antimicrobianos (PAMs)58. 
Estudos iniciais que investigam a expressão de defensinas no epitélio mamário en-
contraram expressão de hBD1, mas não de hBD260. De fato, o maior peptídeo beta-
defensina produzido no leite parece ser o hBD1 e 261. 
No entanto, Armogida et al. identificaram a expressão do gene hBD2 em 15% das cé-
lulas epiteliais mamárias investigadas62, e Wang et al. foram, recentemente, o primeiro 
grupo a mostrar secreção do hBD2 no leite humano63.
As concentrações elevadas de beta 2 defensina - (hBD2) refletindo fortes respostas 
imunes intestinais foram associadas a cursos moderados de ECN. Contudo, os neo-
natos com ECN grave não apresentaram aumento nas concentrações fecais de hBD2, 
antes e durante a doença. Esses estudos sugerem que uma deficiência específica na 
ativação da imunidade inata em neonatos com extremo baixo peso ao nascer (EBPN), 
em vez de uma barreira epitelial intestinal prejudicada, leva a um curso mais grave de 
ECN. No contexto, a ingestão de hBD2 a partir do leite materno ganha importância64.
22
Dinâmica da Composição do Leite Humano e suas Implicações Clínicas / ILSI Brasil
Notavelmente, os níveis de hBD2 no intestino correspondem a defensinas no leite ma-
terno e secreções das células epiteliais intestinais. As últimas são induzidas por an-
ticorpos catalíticos presentes no leite materno, agindo por meio de dois receptores 
ativados por proteases presentes na membrana plasmática58.
O papel desse peptídeo na fisiologia intestinal do recém-nascido tem sido antimicrobiano. 
A diarreia bacteriana é uma das principais causas de infecção na infância. Portanto, é 
importante determinar a atividade da hBD2 em isolados de casos clínicos diarreicos59.
A presença de hBD2 intacto também foi relatada nas fezes dos neonatos, o que mostra 
que a hBD2 tende a resistir aos processos digestivos do trato gastrointestinal. De fato, 
foi proposto que a quantificação das defensinas nas fezes pode ser um bio-marcador 
efetivo da saúde e de doenças intestinais na população pediátrica. A resistência da 
HBD2 à digestão aumentaria sua disponibilidade, o que possibilitaria a proteção de 
toda a superfície mucosa do trato gastrointestinal65.
Em artigo, Baricelli et al abordaram a produção de hBD2 em doadoras de leite venezu-
elanas, e explorou o possível efeito de proteção da hBD2 contra isolados enteropató-
genos obtidos das fezes diarreicas das crianças58.
Wang et al.63 relataram que os níveis de hBD2 em mães chinesas diferiram entre co-
lostro e leite maduro. No colostro, os intervalos de concentração de hBD2 foram 0,31-
19,12 ng/mL, em comparação a 52,65-182,29 pg/mL encontrados no leite maduro. De 
acordo com Wang et al. também encontramos maiores níveis de hBD2 no colostro do 
que no leite maduro; contudo, ambos os grupos de amostras das mulheres venezu-
elanas mostraram maiores níveis de hBD2.do que no grupo chinês. Os níveis elevados 
de peptídeo encontrados no colostro sugerem a importância desse fator imunológico 
inato nos primeiros dias de vida 58.
As diferenças entre os níveis de expressão de hBD2 entre ambos os resultados dos 
estudos são surpreendentes. Ambos os relatos possuem igual número de doadoras, 
portanto, essas diferenças podem ser atribuídas à etnia dos grupos envolvidos58. 
O peptídeo hBD2 mostrou atividade antimicrobiana em relação a várias bactérias, in-
clusive patógenos comuns que causam diarreia em neonatos e gram-negativos, rel-
evantes em infecções nosocomiais. A atividade e o elevado índice da hBD2 no leite 
materno enfatizam a superioridade da amamentação na nutrição de neonatos.
Além de sua atividade antimicrobiana, foram relatadas outras atividades da hBD2. Hi-
ratsuka et al.66 indicaram redução da atividade das b-defensinas na fibrose cística, su-
gerindo que as b-defensinas podem desempenhar um papel importante no processo 
patológico de infecção crônica do trato respiratório. Os achados de Gambichler et al.7 
mostraram padrões de expressão alterados da hBD2 no carcinoma basocelular não 
ulcerado, sugerindo que a hBD2 também desempenha um papel na patogênese desse 
câncer de pele não melanoma. Recentemente, Li et al. 68 indicaram que a terapia gené-
23
Dinâmica da Composição do Leite Humano e suas Implicações Clínicas / ILSI Brasil
tica com hBD2 pode mediar a imunidade antitumoral e os efeitos antitumorais locais. 
Adicionalmente, a hBD2 apresentou atividade quimiotática para monócitos, macrófa-
gos, neutrófilos e células dendríticas imaturas.
O uso inadequado de antibióticos levou à transferência horizontal de genes entre mi-
cróbios e estimulou seu potencial evolutivo de desenvolver resistência contra antimi-
crobianos convencionais. Em consequência, a resistência bacteriana aos antibióticos 
é um problema crescente no tratamento médico moderno de doenças infecciosas, 
conforme mostrado pelo crescente número de pacientes imunocomprometidos com 
infecções nosocomiais. Para superar temporariamente o problema da resistência são 
necessárias novas abordagens terapêuticas. Como os peptídeos antimicrobianos são 
produtos da evolução de longo prazo por natureza, o estudo dessa família pode for-
necer uma solução viável58. 
1.5 Considerações finais
A proteômica do leite humano é de alta complexidade e responsável por desfechos 
relacionados à qualidade do crescimento e desenvolvimento da criança, a defesa imu-
nológica e a transferência de material genético essenciais na modulação epigenética 
e proteção futura das doenças crônico não transmissíveis. O incentivo à amamentação 
é fundamental na preservação da saúde infantil com reflexos altamente positivos ao 
longo da vida do indivíduo. 
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Dinâmica da Composição do Leite Humano e suas Implicações Clínicas / ILSI Brasil
2. COMPOSIÇÃO LIPÍDICA 
Liubiana Arantes de Araújo 
Mônica de Araújo Moretzsohn
O leite materno é o melhor alimento para os bebês e crianças, completo na sua com-
posição e que atende aos requerimentos do recém-nascido e do lactente. É constituí-
do de proteínas, gorduras e carboidratos, cujas concentrações se alteram a cada ma-
mada, assim como durante toda a lactação, para atender as necessidades de acordo 
com a idade e crescimento. Contém uma miríade de componentes biologicamente 
ativos que orquestram o desenvolvimento do sistema imunológico, microbiota intesti-
nal, desenvolvimento neurológico, gerando benefícios como a redução de enteroco-
lite necrosante, doenças respiratórias, otites, doença celíaca, leucemia, doenças gas-
trointestinais, diabetes mellitus e obesidade. Recém-nascidos (RN) que utilizam leite 
humano apresentam 6 vezes menos risco de desenvolver NEC e este efeito protetor do 
leite materno pode ser atribuído aos seus componentes como DHA, imunoglobulinas, 
lactoferrina, lisozimas e outros imunonutrientes.
Além dos inúmeros nutrientes essenciais para o crescimento e desenvolvimento, o ato 
de amamentar envolve o toque, o afeto e a interação social, os quais se transformam 
em estímulos que são enviados ao cérebro e que geram impulsos nervosos resultando 
em desenvolvimento neurológico1. 
Durante o período pré-industrial a chance de sobrevivência estava relacionada ao aleita-
mento materno ou à sua troca pelo leite de uma ama. Nada podia substituir a ama-
mentação com sucesso, e, portanto, a falta do leite materno determinava altos índices 
de mortalidade. Com a Revolução Industrial, as mulheres foram trabalhar nas fábricas e 
motivou o investimento da indústria no desenvolvimento de fórmulas modificadas que 
poderiam ser oferecidas quando o aleitamento materno não era possível, adequando 
seu conteúdo aos novos conhecimentos sobre nutrição. O leite humanizado foi cedendo 
lugar para o leite adaptado até a década de 70, quando se iniciou o movimento mun-
dial a favor da amamentação com apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS), 
UNICEF entre outras entidades2.
Nas últimas décadas a visão sobre os inúmeros benefícios do leite materno se ampliou 
com a descoberta de novas técnicas que ajudam a revelar fatores que influenciam a 
composição do leite humano e a identificar nutrientes previamente desconhecidos e 
sua influência na saúde. Assim, as pesquisas sobre a composição do leite humano aju-
dam a elucidar com detalhes os seus componentes e suas perspectivas biológicas, 
utilizando técnicas de última geração, como por exemplo pela bioinformática, pela 
metabolômica, pela proteômica e pela espectrometria de massa. Como resultado, a 
30
Dinâmica da Composição do Leite Humano e suas Implicações Clínicas / ILSI Brasil
função das proteínas, das vitaminas, dos minerais, dos fatores bioativos e dos lipídeos 
no leite humano torna-se mais clara.
As publicações têm demonstrado o impacto do aleitamento materno ao longo de toda 
a vida e atualmente o foco envolve otimização do neurodesenvolvimento, fortaleci-
mento do sistema imunológico, equilíbrio endocrinológico e também a prevenção de 
doenças não-comunicáveis, em curto, médio e longo prazo. 
Pesquisas mostram que a nutrição durante períodos críticos do desenvolvimento, tan-
to pré-natal quanto pós-natal, podem produzir impactos em longo prazo, não só na 
saúde, como também na doença, na infância, na adolescência e na vida adulta. Em 
décadas anteriores, o principal objetivo da nutrição do RN e do lactente era o ganho 
de peso e a redução da mortalidade infantil. 
Neste capítulo, atenção especial será dada ao perfil lipídico do leite materno, sendo 
fonte de energia e atuando como elemento bioativo e funcional no organismo do RN 
e do lactente. Os lipídeos são fontes de energia e respondem pela maior parte da 
reserva energética do corpo humano. Atuam na estrutura e fluidez das membranas 
celulares e são componentes estruturais de todos os tecidos. São também fontes de 
colesterol e precursores de mediadores bioquímicos e de hormônios, de substâncias 
que promovem o crescimento de Lactobacillus bifidus e servem de ligação para a ab-
sorção das vitaminas lipossolúveis A, D, E K.
2.1 Características dos componentes lipídicos do leite materno
O leite materno contém de 3 a 5% de lipídios, dentre os quais 98% são de triacilgliceróis, 
1% de fosfolipídios e 0,5% de esteróis3. Os lipídios são apresentados como glóbulos 
que possuem aproximadamente 4 µm de diâmetro, envoltos por uma membrana con-
tendo fosfolipídios e proteínas4. Cerca de 50% do valor calórico total do leite humano 
é proveniente da gordura, que é fonte de colesterol e ácidos graxos essenciais, como os 
ácidos linoleico e linolênico, e vitaminas lipossolúveis5. A quantidade de ácidos graxos 
poli-insaturados (essenciais) no leite humano é maior que a presente no leite de vaca6,7 
(14 % e 3 % respectivamente). 
Os ácidos graxos são em sua maioria de cadeia longa, com cerca de 50% de saturados 
e 50% de insaturados. O ácido palmítico consiste na maior proporção (53-70%) dos 
ácidos graxos saturados5.
Mais de 200 ácidos graxos já foram identificados no leite humano, sendo que apenas 7 
correspondem a cerca de 90% do total da gordura, representados pelos ácidos oleico, 
palmítico, láurico, linoleico, mirístico, esteárico e cáprico. Os ácidos graxos de cadeia 
média (C6 – C12) representam apenas cerca de 7%8. 
Os lipídeos presentes no leite materno aparecem como: 
31
Dinâmica da Composição do Leite Humano e suas Implicações Clínicas / ILSI Brasil
ÁCIDOS GRAXOS POLI-INSATURADOS: 
– ácido linoleico (C18:2n-6) e seus derivados o ácido araquidônico (AA) (C20:4n-6), o 
 ácido palmítico (C16:0) e oácido oleico (C18:1), que compõem cerca de 65% do 
 total de ácidos graxos. 
– ácido alfa-linolênico (C18:3n-3) e seus metabólitos, como o ácido eicosapentaenoico (EPA) 
 (C20:5n3) e o ácido docosa-hexaenoico - DHA (C22:6n-3). 
ÁCIDOS GRAXOS DE CADEIA MÉDIA:
– ácido cáprico (C10:0), ácido láurico (C12:0) e ácido mirístico (C14:0)
 Ácidos graxos saturados de cadeia ramificada, trans e CLAs 
 Membrana do glóbulo de gordura do leite (Milk Fat Globuline Membrane – MFGM), 
 que circunda os triglicerídeos e os ácidos graxos de cadeia longa.
Essa fração lipídica é dependente dos seguintes fatores: 
– diretamente derivados da Presença essencial de ácidos graxos ômega-6 e ômega-3 
 na dieta, por uma via de curto prazo, isto é, através de quilomícrons;
– derivados daqueles incorporados em reservatórios de armazenamento de gorduras, 
 em uma via de longo prazo, como no tecido adiposo ou lipídios hepáticos, antes da 
 sua integração no leite materno;
– da idade materna, do período de lactação e do estágio de lactação.
– da adequação na relação w-6 / w-3 na dieta materna, pois as séries de ácidos graxos 
 (w-3, w-6, w-7 e w-9) competem entre si pelas vias metabólicas de alongamento e 
 dessaturação e a relação de cerca de 5:1 é fundamental para a efetividade das fun
 ções dos w-3+t.
– da modulação negativa, quando houver desnutrição materna, mastite, doença 
 metabólica, ou uso de medicamentos que interfiram na função hepática;
– de outros fatores como alterações hormonais, prematuridade, sazonalidade, 
 tendência genética. 
2.2 Fatores que interferem na variação da composição do leite materno
A composição do leite materno é bastante complexa e apresenta alterações de acordo 
com a variação diurna, tempo de mamada, duração da lactação e o lipídeo é o macro-
nutriente que mais sofre influência na sua concentração1. Fatores que contribuem para 
a modificação da concentração de lipídeo no leite materno:
– Duração da lactação: o colostro possui baixas concentrações de gordura quando 
 comparado com leite maduro e aumenta gradualmente durante a lactação. A con-
 centração de gordura no colostro é de aproximadamente 30 g/L, no leite de tran-
 sição 35g/L e no leite maduro cerca de 40g/L7.
– Tempo entre as mamadas: a concentração de gordura no final da mamada é maior 
32
Dinâmica da Composição do Leite Humano e suas Implicações Clínicas / ILSI Brasil
 do que no início. Sendo assim, o volume de leite ingerido e o tempo entre as ma- 
 madas é um importante preditor da concentração de gordura no leite. Quanto 
 maior o intervalo entre as mamadas, menor é a concentração de gordura9.
– Variação diurna: o pico de concentração de gordura no leite acontece no meio da 
 manhã e diminui no início da noite, variando de 3 a 5 g/100 ml10. 
– A dieta materna: os ácidos graxos específicos que formam a fração lipídica são 
 sintetizados pela glândula mamária ou removidos do plasma e estas duas fontes 
 sofrem influência da dieta. Os ácidos graxos da série w-3 e w-6 provenientes da die-
 ta são rapidamente transferidos para o leite materno e em dois a três dias a concen-
 tração de AG no leite reflete a ingestão materna11. A glândula mamária é capaz de sinteti- 
 zar ácidos graxos de cadeia média (C10:0, 12:0 e 14:0) quando a dieta materna é rica em 
 carboidratos e pobre em gorduras para manter a concentração de triglicerídeos no leite12. 
– Pesquisas têm estudado a possível associação entre concentração de gordura no 
 leite materno com etnia, idade materna, ganho de peso na gestação e peso do 
 bebê ao nascimento, mas os resultados ainda são pouco conclusivos.
Quadro 1: Principais classes de lipídeos do leite humano em diferentes períodos de lactação. 
Adaptado de: Revista de Nutrição, 2010. Modulação e composição de ácidos graxos 
do leite humano. Costa, Andre Gustavo e Sabarense, Céphora.
2.3 Ácidos graxos 
Os ácidos graxos consistem em uma longa cadeia de hidrocarboneto (N-CH2), con-
tendo duas extremidades, uma com grupo carboxila (COOH) e outra com um grupo metil 
(CH3). É denominado saturado quando possui apenas ligações simples entre as unidades 
carbônicas; monoinsaturado quando apresenta uma única dupla ligação; e poli-insaturado 
quando apresenta mais de uma ligação dupla (polyunsaturated fatty acids - PUFA). 
Os ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa (LC-PUFAS) ácido linolênico (LA-18:3 
w-6) e o alfa-linolênico (ALA-18:3 w-3) são os que mais se destacam pelas suas funções no 
organismo. É denominado ômega-3 (w-3) quando a primeira insaturação está no terceiro 
carbono, enumerado a partir do grupo metil terminal, e ômega-6 (w-6) quando a mesma 
se encontra no sexto carbono. Estes são conhecidos como ácidos graxos essenciais, uma 
33
Dinâmica da Composição do Leite Humano e suas Implicações Clínicas / ILSI Brasil
vez que não são sintetizados de forma endógena e dependem da dieta13.
Uma vez no organismo, o ômega 3 ou ácido alfa-linolênico (ALA) participa de uma 
cadeia metabólica que resulta nos ácidos eicosapentaenóico (EPA 20:5 w-3) e decosa-
hexaenóico (DHA 22:6 w-3). A conversão de ALA em EPA e DHA depende do metabo-
lismo individual. Estima-se que a conversão de ALA em EPA é da ordem de 0,2% a 6% 
e que, aproximadamente, 63% do EPA é convertido em DHA. Portanto, a formação de 
DHA é maior que a do EPA13. 
Figura 1: Esquema ilustrativo da biossíntese dos ácidos graxos poliinsaturados ôme-
ga-6 e ômega-3. Adaptado de Calder (2003). 
Tanto o DHA quanto o ARA estão presentes em lipídios da membrana da substância 
cinzenta neuronal do cérebro, da mielinização das fibras nervosas e da retina e o EPA 
desempenha papel mais relevante na saúde cardiovascular e imunológica. 
As concentrações desses ácidos acumulam na retina, cérebro e outros tecidos neuronais 
durante o último trimestre da gravidez e no recém-nascido e lactente nos primeiros 2 
anos de vida, sendo fornecidos através do leite materno. Desta forma, quanto mais pre-
maturo o recém-nascido, maior o risco de deficiência, pois não houve tempo suficiente 
para esta incorporação. Além disso esses bebês têm capacidade limitada para sintetizar 
os PUFAS a partir dos precursores w-3 e w-6 e absorção intestinal reduzida devido a limitada 
34
Dinâmica da Composição do Leite Humano e suas Implicações Clínicas / ILSI Brasil
produção de enzimas gástricas, pancreáticas e biliares14.
Na gestação há situações que podem alterar o aporte desses ácidos como: nutrição 
inadequada, consumo de gordura e óleos com alta proporção de w-6 e muito baixo 
aporte de w-3, gestações frequentes e múltiplas (que podem diminuir consideravel-
mente as reservas de ácidos graxos de cadeia longa)15. Os ácidos graxos de cadeia longa 
são transferidos para o feto através da placenta, porém a síntese materna é limitada, daí a 
recomendação da ingestão de fontes de DHA na gestação, como peixes de águas pro-
fundas ou a suplementação medicamentosa do DHA de 200 mg/dia16. A concentração 
de DHA no leite materno varia de 0,1 a 1,4 % do total de ácidos graxos e depende da 
dieta materna e os níveis de ARA variam de 0,24 a 1%15. 
2.4 Principais funções dos ácidos graxos poli-insaturados
Estudos envolvendo ácidos graxos poli-insaturados têm sido cada vez mais frequen-
tes, abrangentes e promissores, principalmente durante a infância, com benefícios em 
curto, médio e longo prazo.
O w-3 e o w-6, enquanto principais representantes dos ácidos graxos essenciais, apre-
sentam importantes funções, como a formação de prostaglandinas, tromboxanos e 
leucotrienos (que são hormônios locais responsáveis pela regulação de inúmeras fun-
ções no corpo). Desempenham um papel importante no crescimento, reprodução e 
manutenção da integridade da pele, do sistema imunológico, do cardiovascular e do 
sistema nervoso central17.
Com relação ao grupo de w-3, o EPA encontra-se principalmente no colesterol, nos tri-
glicérides e, por último, nos fosfolípides. Já o DHA é particularmente reconhecido pelo 
seu papel fundamentalna formação, estrutura e funcionamento do sistema nervoso. O 
DHA é o principal ácido graxo w-3 presente na substância cinzenta, compondo cerca 
de 15% de todos os ácidos graxos do córtex frontal humano13,18.
Desde a primeira infância até a adolescência, o cérebro apresenta rápida maturação 
neuronal, sinaptogênese e expansão da substância cinzenta e todos esses processos 
são associados ao acúmulo cerebral de DHA18.
Quanto a isso, estudos em diferentes faixas etárias mostram que o DHA se relaciona com 
o QI e preserva o aprendizado viso-espacial e a memória19,20. Vários estudos publicados 
demonstram uma diferença significativa de QI entre as crianças que recebem leite ma-
terno daquelas que não o recebem, podendo alcançar até 7,5-8 pontos a mais para as 
que recebem o leite materno. 
Portanto, a sua função é essencial para a atividade de neurotransmissores, transmissão 
sináptica e transdução do impulso nervoso. Estudos recentes revelam que níveis ade-
35
Dinâmica da Composição do Leite Humano e suas Implicações Clínicas / ILSI Brasil
quados de DHA nas membranas neuronais são importantes para maturação cortical dos 
astrócitos e trama vascular cerebral, além da utilização da glicose e seu metabolismo 
nas funções corticais21-23.
Além disso, acredita-se que a neurotransmissão através das sinapses seja facilitada pe-
los PUFA, uma vez que essas moléculas estão presentes de forma importante na mem-
brana neuronal, modificando a fluidez da membrana e a composição de fosfolipídios, 
que podem alterar a estrutura e função das proteínas incorporadas nessa membrana23. 
Por este mecanismo, o aumento do w-3 e as concentrações de ácidos poliinsaturados 
em membranas neuronais têm demonstrado influência sobre a serotonina e a neuro-
transmissão de dopamina, especialmente no córtex frontal, responsável pela modula-
ção do comportamento social. 
Alta concentração de DHA é encontrada nos lobos frontais, que possuem a função 
de realizar a compreensão de situações complexas, de poder decisório e de socializa-
ção. Os níveis elevados também são evidenciados no córtex pré-central e pós-central, 
hipocampo, gânglios da base e tálamos, com função de integração entre conexões 
sensoriais e motoras e de memória25,26.
 
Deficiências e desequilíbrios de LCPUFAs (w-3 e w-6) apresentam correlação positiva 
com comprometimento no desempenho cognitivo e comportamental da criança. To-
das estas evidências demonstram a importância da ingestão adequada de PUFA du-
rante a gestação e lactação, períodos críticos para o desenvolvimento cerebral e visual 
da criança17,27. 
ÁCIDO PALMÍTICO
A maior parte do ácido palmítico (C16:0) encontrado no leite materno encontra-se 
na posição sn-b (posição) do triacilglicerol28. A sua presença no leite materno está as-
sociada à digestão facilitada, permitindo a sua utilização como fonte energética, na 
produção de outros ácidos graxos ou, ainda, para ser estoque e uso posterior. Esta 
configuração única parece ser a principal causa da eficiência de absorção da gordura 
do leite materno. Dos três ácidos graxos ligados ao glicerol, o ácido palmítico se en-
contra na posição 2, central, e as posições 1 e 3 são ocupadas por ácidos graxos insatu-
rados (oleico e linoleico). A lipase hidrolisa os triglicerídeos das posições 1 e 3 e o ácido 
palmítico é então absorvido juntamente com sais biliares. No leite de vaca, o ácido 
palmítico está nas posições 1 e 3, e ao ser hidrolisado no intestino forma um complexo 
com cálcio e magnésio que são insolúveis, formando fezes endurecidas e favorecendo 
a perda de cálcio e gordura7. 
36
Dinâmica da Composição do Leite Humano e suas Implicações Clínicas / ILSI Brasil
MEMBRANA DO GLÓBULO DE GORDURA DO LEITE 
Milk Fat Globuline Membrane (MFGM)
Figura 2: Membrana do glóbulo de gordura do leite no alvéolo da glândula mamária.
PE= fosfatidiletanolamina, PC= fosfatidilcolina, PI= fosfatidilinusitol, PS= fosfatidilserina. 
Os glóbulos de gordura do leite materno formados por triglicerídeos e ácidos graxos 
de cadeia longa medem cerca de 4-5 µm de diâmetro e, quando são secretados pelos 
lactócitos e liberados para o lúmen da glândula mamária da lactante. Eles são circun-
dados por uma camada tripla de fosfolipídios que contém, além de outros lipídeos 
associados, proteínas e carboidratos. Essa camada é denominada de MFGM, a qual 
constitui de 2 a 6% do leite materno29. 
Wang et al, ao analisarem o teor de fosfolipídios do leite materno, observaram níveis 
aumentados de DHA e ARA. Estima-se que as concentrações de LCPUFAS sejam até 10 
vezes maiores nos fosfolipídios (que circundam a membrana do glóbulo de gordura do 
leite) do que nos triglicerídeos, com consequente melhor incorporação destes ácidos 
graxos nos tecidos cerebrais e na retina29.
37
Dinâmica da Composição do Leite Humano e suas Implicações Clínicas / ILSI Brasil
A MFGM possui efeito essencial para a atividade do cérebro, intestino e outras regiões 
do organismo do recém-nascido e lactente que a recebe do leite materno. A sua es-
trutura é muito complexa, com camadas compostas por carboidratos, glicoproteínas e 
glicolipídios direcionadas para a sua superfície externa, e o centro formado por triglicerídeos 
e ácidos graxos31.
O colesterol, os fosfolípides e os glicoesfingolípides constituem o teor lipídico da 
membrana do glóbulo de gordura do leite. Os fosfolípides mais predominantes são 
a esfingomielina, a fosfatidilcolina e a fosfatidiletanolamina, seguidos pelos ganglio-
sídeos, glicerofosfolipídeos , fosfatidilserina e fosfatidilinusitol. Possuem função no de-
senvolvimento neurológico, intestinal e imune.
A esfingomielina possui concentração estável durante a lactação, cerca de 40-80mg/L. 
Ela contém fosfocolina e participa ativamente na formação cerebral, principalmente 
na mielinização, que é muito intensa nos primeiros meses de vida do recém-nascido e 
lactente, além de estar presente nas células do epitélio intestinal com função de pro-
teção contra invasão de micro-organismos31,32. Os derivados da esfingomielina como 
esfingosina e ceramida agem na atividade inflamatória e imunológica.
A fosfatidilcolina constitui de 18 a 33% do conteúdo fosfolipídico do leite materno. É 
fonte de colina, com função também na produção do neurotransmissor acetilcolina, 
atua como componente das membranas celulares e da produção de muco do epitélio 
do intestino e possui funções atividade inflamatória do organismo.
Os gangiosídeos constituem de 9-40mg/L do leite materno. Componentes celulares, do retí-
culo endoplasmático e da membrana nuclear, concentram-se principalmente na substância 
cinzenta do cérebro, com atividade na sinaptogênese e da neurotransmissão. 
A fosfatidilserina compõe 4-15% dos fosfolípides totais do leite materno, com con-
centração crescente a partir do colostro. A sua função e de regulação da fisiologia da 
dinâmica dos neurotransmissores cerebrais, estando também presente nas atividades 
celulares nos pulmões e rins34.
Nas últimas duas décadas estudos têm demonstrado que a configuração do ácido 
palmítico na posição beta 2 no leite materno desempenha um importante papel na 
saúde infantil melhorando a absorção de gordura e cálcio consequentemente melho-
rando saúde óssea. A configuração lipídica única do leite materno evita a formação de 
sabões de cálcio e a presença de probióticos propicia a formação de ácidos graxos de 
cadeia curta com melhor absorção de cálcio favorecendo a mineralização óssea2. A ab-
sorção e incorporação dos ácidos graxos de cadeia longa nas membranas celulares é 
mais eficiente quando DHA e ARA estão ligados aos fosfolipídios presentes na camada 
externa da membrana do glóbulo de gordura do leite, repercutindo de forma positiva 
no desenvolvimento neurológico.
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Dinâmica da Composição do Leite Humano e suas Implicações Clínicas / ILSI Brasil
A gestação e os primeiros dois anos de vida, período conhecido como os 1000 dias, 
são críticos para o crescimento e o desenvolvimento. Os ácidos graxos de cadeia longa 
(PUFAS- DHA e

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