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Psicologia Social II - Ideologia Atualidades (Aula 6)

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PSICOLOGIA SOCIAL II 
Aula 6 - Ideologia – Atualidades 
• O conceito de ideologia tem diferentes usos e conceituações. Nesta aula, abordaremos o conceito de ideologia a partir das contribuições 
de Martín-Baró e de Thompson, e como eles têm sido utilizados em pesquisas na psicologia social. 
 
Objetivos
• Definir a noção de ideologia 
• Identificar funções desse conceito 
• Aplicar esse conceito como categoria de análise na psicologia social 
Ideologia e Neutralidade na Educação - É Possível? 
• Durante o ano de 2017, o Brasil vivenciou muitas discussões sobre a educação, com iniciativas populares e com o projeto de lei conhecido 
como “Escola sem Partido” (PL 7180/2014), sob a acusação de que estariam ocorrendo práticas educacionais ideológicas. 
• Diversos movimentos foram contrários ao projeto, inclusive o Conselho Nacional de Direitos Humanos, que publicou a resolução no 07, 
de 23 de agosto de 2017, em repúdio a iniciativas que restringem a liberdade de comunicação. 
• Como você entende esta realidade? Pense um pouco sobre esta proposta ou sobre a resolução de repúdio. Por outro lado, Freire (1998, 
p. 110) afirma que: [...] a qualidade de ser política é inerente a sua natureza. É impossível a neutralidade na educação. A educação não 
vira política por causa deste ou daquele educador. Ela é política”. 
• O que você entende por ideologia na educação? É possível uma educação que não seja ideológica, no sentido de significar um ato 
político? 
• Pode ser que nas suas reflexões você experimente questionamentos sobre a liberdade de pensamento de cada pessoa e se a perspectiva 
ideológica não seria apenas uma diferença de perspectiva política sobre a vida. 
Atenção - É interessante notar que algumas políticas de vida são hegemonicamente rejeitadas. Por exemplo, não é comum encontrar alguém 
que defenda ou promova uma política de vida que sustente uma percepção racista da vida. 
• Afinal, uma política de vida racista produziu consequências de uma desqualificação de grupos de humanos, resultando em escravidão, 
morte, segregação social. 
• Dificilmente alguém diria que uma perspectiva racista é uma visão de mundo a ser defendida; pelo contrário, mais facilmente 
encontraremos pessoas que sustentem a necessidade de tomar medidas para evitar esse tipo de visão. Por outro lado, algumas bases 
ideológicas estão de tal forma naturalizadas em nossa sociedade que não é evidente o efeito de constrangimento da vida que produz. 
Nesse sentido, o estudo de realidades como violência, sofrimento psíquico e desigualdades diversas pode produzir benefícios a partir da 
análise da base ideológica que os sustenta. 
 
Ideologia e Psicologia Social 
• O conceito de ideologia como categoria de análise pela psicologia social crítica está relacionado com a história da própria psicologia social 
na América Latina. 
• Cabe relembrar, conforme vimos nas primeiras aulas, que a psicologia social passa por um período de crise, teórica e política, assumindo 
um outro modo de fazer psicologia, agora implicado na transformação social para a melhoria das condições de vida. 
Atenção - Um importante pesquisador que fez contribuições no campo da psicologia, utilizando o termo ideologia, foi Ignacio Martín-Baró 
(1986), um espanhol nascido em 1942 e falecido em 1989. 
• Martín-Baró viveu a maior parte de sua vida em El Salvador durante um período de forte repressão em um contexto de ditadura militar 
com fortes índices de desigualdade, violência e elevado número de mortes. Psicólogo e padre, ele ficou conhecido por uma proposta de 
pensamento psicológico denominada Psicologia da Libertação, que teve inspiração na teologia da libertação e no marxismo, no contexto 
dos movimentos sociais latino-americanos. (2012) 
• A teologia da libertação, forte influência para Martín-Baró, tinha como centralidade a opção preferencial pelos pobres, fazendo uma 
releitura bíblica a partir da ideia de libertação de barreiras históricas e sociais que impediam a autonomia do povo, utilizando o marxismo 
como ferramenta de análise da realidade. (LOWY, 1991) 
• Para Martín-Baró (2012), a psicologia social hegemônica de sua época era resultante da percepção de problemas de pesquisa que 
correspondia às necessidades e interesses daqueles que possuíam poder econômico e social. A partir deste princípio, o autor faz uma 
redefinição do objetivo da psicologia social, entendendo que esta estuda a conexão entre duas estruturas, uma pessoal e outra social, 
reconhecendo em que momento a estrutura social se converte em particular. 
• Na mesma direção, afirma que a psicologia social é o estudo científico da atividade do que há de ideológico na ação humana, entendendo 
por ideológico um jogo de forças e interesses sociais, significados e valores que correspondem historicamente a uma estrutura social. 
 
Ideologia Segundo Martín-Baró 
• Martín-Baró (2012, p. 17) afirma que existem, em termos gerais, duas concepções de ideologia: A concepção funcionalista entende 
ideologia como um conjunto coerente de ideias e valores que orienta e dirige uma determinada sociedade e, portanto, que cumpre uma 
função normativa a respeito da ação dos membros dessa sociedade, e, portanto, cumpre uma função normativa a respeito da ação dos 
membros desta sociedade. 
A concepção marxista (que tem suas raízes em Maquiavel e Hegel) entende a ideologia como uma falsa consciência em que se apresenta 
uma imagem que não corresponde à realidade, a qual a encobre e justifica a partir dos interesses da classe social dominante. 
• É relevante considerar que a ideologia é um elemento essencial da ação humana, que pode ser compreendida a partir dos interesses 
sociais que a geraram. Afinal, a ideologia produz sentido para a ação particular. 
• Segundo Martín-Baró (2012, p. 18), a ideologia tem as seguintes funções: [...] oferecer uma interpretação da realidade, subministrar 
esquemas práticos de ação, justificar a ordem social existente, legitimar essa ordem como válida para todos, quer dizer, dar categoria de 
natural ao que é simplesmente histórico, exercer na prática a relação de domínio existente e reproduzir o sistema social estabelecido. 
Desse modo, a partir de uma ideologia, não falamos em “famílias”, mas em “a família”, naturalizada no modelo da classe dominante. Ao 
tratarmos da história, falamos da história do grupo dominante como se fosse uma perspectiva natural, sem outras compreensões 
históricas possíveis. 
Comentário - Ao tratar das funções da ideologia, quando entendemos que no conceito de ideologia está incluído um estudo sobre como as 
interações sociais se convertem em formas de viver, sentir e pensar das pessoas, esta caracterização atende também ao estudo do conceito de 
subjetividade que abordamos na primeira aula. 
• Em outras palavras, o estudo do conceito de ideologia, conforme tratado por Martín-Baró, aponta um caminho de análise sobre 
processos de produção de subjetividade. 
• Se por um lado as ações são expressas individualmente, por outro, as estruturas sociais de que os indivíduos fazem parte serão as origens 
das ideologias. Por isso, o conjunto de atitudes fundamentais das pessoas pode ser concebido como a estrutura que, em cada indivíduo, 
articula psiquicamente a ideologia social em forma de atitudes, como um conjunto “psico-lógico” de crenças e avaliações sobre o mundo. 
Desta perspectiva, o conjunto de atitudes corresponde adequadamente à definição de ideologia dada por Althusser [...]. 
• A ideologia em sua vertente pessoal seria “essa estrutura relacional que determina a modalidade de intercâmbios entre o indivíduo e seu 
mundo em uma circunstância histórica concreta, modalidade vivida antes de ser explicitada, prática antes de ser teórica”. (MARTIN-
BARÓ, 2012, p. 294-295) 
 
Alienação e Conscientização 
• Martín-Baró (2012) também conduz uma discussão sobre os conceitos de alienação e conscientização. Esses conceitos têm uma relação 
fundamental com o conceito de ideologia quando compreendido a partir da concepção marxista,em um sentido negativo, por significar 
uma instituição de normas para ocultar os interesses entre classes sociais, sob a perspectiva da classe dominante. 
• Por alienação, podemos afirmar que é o estado em que a pessoa expressa os interesses da classe dominante em detrimento de seus 
próprios interesses. Este entendimento pode ser analisado pela psicologia investigando o seu grau de alienação ou o seu grau de 
autenticidade. 
• O conceito de alienação é tratado por Martín-Baró (2012, p. 103) a partir da compreensão marxista, ao dizer que corresponde ao: [...] 
estado que o capitalismo produz no ser humano ao desapossá-lo do produto de seu trabalho, reificar suas relações interpessoais e ocultar 
as raízes de sua realidade histórica, desintegrando assim sua essência humana. 
• Já na leitura do autor, a alienação significa “[...] impotência e insatisfação objetivas, como carência e desapropriação real, porém, unidas a 
uma falsa consciência” (MARTÍN-BARÓ, 2012, p. 105) sobre os determinantes sociais. Desse modo, a alienação corresponde a uma 
expressão de consciência desenvolvida a partir de uma ideologia. 
• Contrapondo a noção de falsa consciência, Martín-Baró (2012) apresenta a compreensão de conscientização, correspondendo a um lugar 
de autenticidade, quando a ação expressa e promove os interesses da classe social à qual objetivamente pertence. 
• O processo de conscientização tem como referência o processo de transformação da realidade a partir da superação da falsa consciência 
expressa na alienação. 
 
Ideologia Segundo Thompson 
• Outra forma de abordar o conceito de ideologia está na forma como Thompson (1995) descreve as formulações sobre o conceito, que 
pode ser vinculado a duas visões. 
➢ A primeira visão é descritiva, neutra, sem direcionamento à manutenção ou transformação social. 
➢ A segunda simbólica, que significa um processo de manutenção de relações de dominação, portanto, com uma conotação histórica 
negativa. 
• O uso que o autor faz de ideologia se concentra na forma negativa, que serve para análises que implicam na transformação social. 
• O interesse do autor está na investigação da ideologia que corresponde a: “estudar as maneiras como o sentido serve para estabelecer e 
sustentar relações de dominação”. 
(THOMPSON, 1995, p. 76) 
• Thompson (1995) compreende que uma formação simbólica não é necessariamente ideológica, mas o será quando serve, em 
determinados contextos relacionais, para criar ou manter relações de dominação. 
• Ou seja, quando ações, falas, imagens, textos, expressões linguísticas ou não linguísticas são utilizadas para estabelecer relações 
desiguais, hierárquicas, de modo que uns grupos possuem poder, uma capacidade que é inacessível a outros grupos. 
• Thompson (1995) se distancia da compreensão marxista de ideologia, ao discordar que as formas simbólicas têm que ser 
necessariamente errôneas, ilusórias para serem ideológicas. 
• Segundo o autor: Ao formular essa concepção de ideologia, estou apoiando-me no que descrevi como a concepção latente de Marx. 
Contudo, estou mantendo, de uma forma modificada, apenas um critério de negatividade, como uma característica definidora de 
ideologia: isto é, o critério de sustentação das relações de dominação. Não é essencial que as formas simbólicas sejam errôneas e ilusórias 
para que elas sejam ideológicas. Elas podem ser errôneas e ilusórias. De fato, em alguns casos, a ideologia pode operar através do 
ocultamento e do mascaramento das relações sociais, através do obscurecimento ou da falsa interpretação das situações; mas essas são 
possibilidades contingentes, e não características necessárias da ideologia como tal. (THOMPSON, 1995, p. 76) 
• Outro aspecto sobre o conceito em que Thompson (1995) afirma uma diferença da concepção de Marx é em relacionar a ideologia à 
consciência de classe na sociedade capitalista. 
• O autor entende que a leitura de classes a partir do trabalho é apenas um eixo, uma forma de dominação, mas não representa a única 
forma de dominação. 
• Embora Marx estivesse correto em enfatizar a importância das relações de classe como uma base da desigualdade e exploração, ele 
pareceu negligenciar, ou menosprezar, a importância das relações entre os sexos, entre os grupos étnicos, entre os indivíduos e o estado, 
entre estado-nação e blocos de estados-nação. 
Ele tendeu a pressupor que relações de classe formam o eixo estrutural das sociedades modernas e que sua transformação era a chave 
para um futuro livre de toda dominação. THOMPSON, 1995, p. 78 
• O terceiro aspecto em que a abordagem de Thompson (1995) se diferencia da proposta de Marx está em afirmar que as formas 
simbólicas, mais do que expressões da realidade, são constitutivas dela. Nesse sentido, o autor desloca a análise de visões distorcidas da 
realidade, ou de uma falsa consciência, para estruturas da linguagem, como um meio pelo qual a ideologia opera. 
 
Thompson e Martín-Baró: Semelhanças e Diferenças 
• Os usos do conceito de ideologia desenvolvidos por Thompson ou Martín-Baró terão diferenças significativas, mas, de modo geral, 
podemos afirmar que o uso corrente do termo está na concepção crítica, negativa, que permite uma análise para a transformação social. 
Vejamos alguns exemplos de pesquisas na psicologia social com esse conceito. 
Exemplo - O artigo Mulheres na liderança: discurso, ideologia e poder, fruto da pesquisa de Vicentina Ramires e Dina Ferreira (2018), põe em 
questão como hierarquias de poder no mundo do trabalho fundadas em diferenças de sexo são ideologicamente construídas. 
• Outro exemplo de pesquisa em que a ideologia é trabalhada como categoria de análise: 
Exemplo - O artigo Contribuições da Psicologia de Martín-Baró para o entendimento da violência contra os grupos sociais de sujeitos 
homoafetivos, de Inara Barbosa Leão, e divulgado a partir do XV encontro da Abrapso (Associação Brasileira de Psicologia Social).

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