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SEMIÓTICA Cláudia Renata Pereira de Campos André Corrêa da Silva de Araujo Sistemas simbólicos e semissimbólicos – Sociossemiótica Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: n Caracterizar a Semiótica Discursiva e os processos de signifi cação elaborados por Greimas. n Reconhecer o funcionamento e a diferença entre os sistemas simbó- licos e semissimbólicos e operar seus métodos de análise. n Identifi car as áreas de aplicação da perspectiva da Sociossemiótica. Introdução Será que a Semiótica existe para além do estudo dos signos? A Semiótica Discursiva elaborada por Algirdas Julien Greimas tem essa proposta. Para além e para aquém da ciência geral dos signos, Greimas se propõe a estudar os processos que produzem sentido. Uma perspectiva processual, que visa dar conta dos modos como entendemos o mundo e nos comunicamos em seu interior. Neste texto, você vai conhecer as principais ferramentas da aná- lise discursiva de Greimas (1976) além da categorização de sistemas significantes como o simbólico e o semissimbólico. Por fim, você vai conhecer a perspectiva da Sociossemiótica, elaborada por Eric Landowski. U N I D A D E 3 Semiotica_U3_C01.indd 69 13/03/2017 14:56:29 Greimas e a Semiótica Discursiva A elaboração da semiologia por Ferdinand de Saussure provocou reverberações em diversos campos das ciências humanas, da linguística à antropologia. Inclusive, toda uma escola de pensamento foi inaugurada a partir de suas colocações acerca do funcionamento do signo na linguagem, o chamado Estruturalismo. Figuras como Claude Lévi-Strauss na antropologia e Jacques Lacan na psicanálise foram pensadores proeminentes que aplicaram as ideias de Saussure e da semiologia em seus respectivos campos de estudo. Um dos mais célebres estruturalistas, o lituano Algirdas Julien Greimas (1917-1992), desenvolveu uma semiótica voltada não apenas para o estudo do funcionamento do signo linguístico em si, mas para os processos de sig- nificação em geral (NÖTH, 1996). Ou seja, Greimas estava interessado em descobrir como que, a partir das relações entre significante e significado, nós “damos sentido ao mundo” (NÖTH, 1996). A primeira questão importante que você deve prestar atenção é a noção de discurso elaborada por Greimas (1976). Diferentemente da semiologia tradicional, a semiótica discursiva não se preocupa com uma estrutura geral da língua, mas sim aos processos com os quais essa língua funciona concre- tamente nas relações entre pessoas. É uma perspectiva social, que se preocupa menos em entender o sentido específico de um determinado texto e mais no processo pelo qual ele assume uma dada significação. Por isso que é chamada de discursiva, pois tenta entender de que forma usamos a língua e os diferentes sistemas de signos em nossos discursos diários para nos comunicarmos e nos fazer entender. O projeto semiótico de Greimas (1976) entende a linguagem e a comuni- cação como um todo, não apenas voltada ao signo linguístico. Por isso que seu objeto de análise sempre serão sistemas semióticos organizados, como, por exemplo, um texto ou uma obra de arte. Seu objetivo é compreender como que tal texto produz sentido, quais as operações semióticas que ali estão em jogo. A questão central da semiótica de Greimas é o estudo da linguagem e dos discursos “[...] com base na ideia de que uma estrutura narrativa se manifesta em qualquer tipo de texto [...]” (NÖTH, 1996, p. 163). Mas o que isso quer dizer? Greimas (1976) afirma que há uma estrutura por detrás de todo e qualquer texto, e que essa estrutura organiza o modo como Semiótica70 Semiotica_U3_C01.indd 70 13/03/2017 14:56:29 concebemos o sentido das coisas. Ele está preocupado não com o funcionamento formal da língua, mas sim com os conteúdos que usamos para nos comunicar. A semiótica discursiva é baseada naquilo que Hjelmslev conceituou como Plano de Conteúdo (BARTHES, 2014). O linguista dinamarquês Louis Hjelmslev foi um dos mais importantes teóricos da semiótica. Foi ele o responsável por atualizar as noções de significante e significado para, respectivamente, Plano de Expressão e Plano de Conteúdo. Para Hjelmslev, um sistema semiótico é sempre formado pela interação entre esses dois planos (BARTHES, 2014). Ainda que indissociáveis do ponto de vista do funcionamento cotidiano da linguagem, Hjelmslev afirma que cada plano pode ser estudado e compreendido separadamente (BARTHES, 2014). Saiba mais em Barthes (2014). Com base na ideia de Saussure de que o signo linguístico opera sempre por uma oposição ou diferença (como, por exemplo, a diferença entre pato e fato), Greimas aplicou essa ideia ao plano dos conceitos e conteúdos. Greimas (1976) afirma que, no nível estrutural mais profundo, nossos conteúdos são organizados por oposições binárias: vida/morte, bem/mal, forte/fraco. Esse nível mais profundo e estrutural dos conteúdos, se torna cada vez mais com- plexo quanto mais na superfície dos discursos posicionamos nossa análise. Mas Greimas (1976) é categórico: o processo de significação sempre parte dessas oposições fundamentais entre conceitos. Greimas (1976) elaborou um diagrama para dar conta dessas relações de contrariedade e diferença que existem entre os conteúdos ou unidades semân- ticas fundamentais. O chamado Quadrado Semiótico serve como instrumento de análise para visualizar e mapear as unidades semânticas fundamentais que se manifestam nos níveis mais profundos do discurso, como vida/morte e bem/mal. Você pode ver abaixo que não apenas encontramos essa relação de contrariedade, na parte superior do Quadrado, o chamado Eixo Semântico, como o diagrama também prevê duas outras categorias, que se colocam como contraditórias e complementares às duas primeiras. 71Sistemas simbólicos e semissimbólicos – Sociossemiótica Semiotica_U3_C01.indd 71 13/03/2017 14:56:30 Figura 1. Diagrama do Quadrado Semiótico. Fonte: Adaptada de Nöth (1996). O processo de significação parte dessas estruturas mais profundas e fun- damentais e atravessa um caminho até virar um discurso como o conhecemos e compreendemos. Greimas (1976) organiza esses níveis a partir de estruturas discursivas em três categorias: n Estruturas profundas: O nível fundamental, onde operam as oposições semânticas mais básicas. É nesse nível que observamos as categorias semânticas que formam a base estrutural de todos os conceitos, numa relação de contrariedade e contradição, tal como o signo saussuriano. n Estruturas superficiais: O nível narrativo, onde as formas semióticas e gramáticas expressivas se organizam como possibilidade para expressar um conjunto de conteúdos. É onde são elaborados os enunciados, onde as categorias semânticas do nível fundamental se organizam hierarqui- camente de forma a delinear um sentido. n Estruturas de manifestação: O nível discursivo, a parte aparente do discurso, onde se manifesta uma dada intencionalidade e também a compreensão do sentido pelo leitor. É o nível concreto, onde o discurso aparece como resultado inteligível para o leitor ou espectador. A passagem do nível fundamental até o nível do discurso é o que Greimas (1976) chama de Percurso Gerativo de Sentido. Nós nem notamos, mas, de acordo com Greimas (1976), toda a nossa comunicação obedece essa ordem, que pode ser decomposta e estudada separadamente. Você pode ver que a base da Semiótica Discursiva de Greimas é voltada ao estudo dos conteúdos, do modo como organizamos o mundo em conceitos e o Semiótica72 Semiotica_U3_C01.indd 72 13/03/2017 14:56:30 comunicamos. Entretanto, Greimas (1976) notou que há sistemas semióticos que criam uma relação muito íntima entre o Plano de Expressão e o Plano de Conteúdo, ao que ele dá o nome de Sistemas Simbólicos e Semissimbólicos. O modo como tais sistemas funcionam é o tema da próxima seção. Sistemas simbólicos e semissimbólicos O projeto de Greimas visa estudar os processosde signifi cação de sistemas semióticos. Você viu na seção anterior como o autor propõe uma análise estrutural que seja voltada ao Plano de Conteúdo desses sistemas, voltado aos aspectos semânticos. Assim você pode notar que o Plano de Expressão, ou dimensão do signifi cante em si, fi ca de fora das análises greimasianas num primeiro momento. Entretanto, quando Greimas (1976) parte para analisar obras de arte visual, ele se depara com um tipo de confi guração semiótica que difi culta a separação tão clara entre planos, onde certas ca- racterísticas da expressão se conjugam com as do conteúdo. A esse tipo de sistema onde os planos são sobrepostos, Greimas (1976) deu o nome de sistemas semissimbólicos. Mas antes de entrar nessa caracterização, é preciso retomar alguns conceitos de Saussure. Em sua tipologia sígnica, Saussure distinguiu três tipos de signos convencionais, aqueles criados pela atividade humana (BARTHES, 2014). Os signos linguísticos seriam aqueles arbitrários, onde a relação entre o significante e o significado não possuem uma correlação imediata. O sig- nificante/casa/ não tem nenhum vínculo com o significado de casa, é uma relação arbitrária e imotivada. Já os ícones são os signos totalmente motivados, pois mantêm uma relação de contiguidade com o objeto representado. O desenho de uma casa, por exem- plo, é um ícone, pois representa graficamente aspectos visuais do objeto casa. Por fim, os símbolos são signos relativamente motivados e relativamente arbitrários. Diferentemente do ícone, o símbolo representa uma ideia genérica, como a pomba branca que representa a paz ou uma balança que representa a justiça. Não há uma semelhança absoluta, o que faz do símbolo ser relativamente arbitrário, assim como não há uma arbitrariedade absoluta, pois iconicamente o símbolo representa alguns conceitos visualmente de seu significado. Símbolos são constituídos socialmente, juntando uma representação a um conceito gené- rico. Após essa junção ter sido feita, eles se cristalizam e acabam confundindo até mesmo a ideia que representam com a sua representação, como acontece no caso da balança como símbolo da justiça (BARTHES, 2014). 73Sistemas simbólicos e semissimbólicos – Sociossemiótica Semiotica_U3_C01.indd 73 13/03/2017 14:56:30 Figura 2. Balança: símbolo da Justiça. Fonte: focal point/Shutterstock.com Tendo isso em vista, Greimas (1984) passa a se perguntar que tipo de relação existe entre essas representações visuais com os conteúdos que podem veicular. Como a sua semiótica é voltada para os processos de significação e não para uma ciência dos signos, Greimas (1984) reuniu em três grandes sistemas o modo como funcionam os signos dentro de suas capacidades representativas de conteúdos: o sistema Simbólico, o sistema Semiótico e o sistema Semis- simbólico. Nos sistemas Simbólicos, um elemento do Plano de Expressão possui apenas um correspondente no Plano de Conteúdo. Como exemplo de sistemas Simbólicos temos as linguagens científicas, como a matemática, por exemplo. Na linguagem matemática, um signo como “%” só pode representar uma única coisa, uma operação de porcentagem. Também são sistemas Simbólicos códigos visuais de trânsito, como o semáforo por exemplo. Há uma convenção de que, no espaço limitado do semáforo, o vermelho só pode significar “pare” e o verde significar “avance”. Se esses sistemas tivessem possibilidades de interpretação, o trânsito seria um caos! No caso dos sistemas Semióticos, há uma conformidade relativa entre os planos de expressão e conteúdo. Os signos nos sistemas semióticos não se relacionam necessariamente a apenas um elemento, mas sim a universos semânticos distintos. O exemplo de sistemas Semióticos são as línguas na- turais, como o Português ou o Francês. As palavras ou significantes dessas Semiótica74 Semiotica_U3_C01.indd 74 13/03/2017 14:56:31 línguas não são limitadas a apenas uma intepretação e seus planos podem ser separados para propósitos de análise. É nesse sistema que se posicionam as análises de Greimas que abordamos na primeira seção desse texto, sepa- rando o plano de conteúdo da língua francesa para investigar os processos de significação semânticos. Por fim, encontramos o mais interessante de todos os sistemas: o sistema Semissimbólico. O semissimbolismo é um tipo de articulação que diz respeito a uma homologação não entre elementos isolados do plano de expressão e de conteúdo, mas que relaciona categorias de ambos os planos. Os sistemas semissimbólicos são os sistemas da arte, da poesia, da música. Encontramos um tipo de elaboração expressiva que corresponde a um tipo de categoria de conteúdo. Como afirma Ribeiro (2006, p. 3), “[...] o semissimbolismo se dá quando da possibilidade da homologação de categorias do plano do conteúdo com categorias do plano da expressão [...]”. Isso quer dizer que há uma relação no semissimbólico que, na tipologia de Saussure, fica entre o motivado do ícone e do símbolo e o arbitrário do signo. Isso quer dizer que os sistemas semissimbólicos são aqueles que elaboram as características da língua, das imagens, dos sons para produzir conteúdos que se relacionem com esses modos expressivos. A descoberta de Greimas e de alguns de seus seguidores, como Jean Marie Floch (RIBEIRO, 2006, p. 3), é a de que existem categorias gerais de expressão que se relacionam a categorias de conteúdo. Você já notou que em alguns filmes, quando a história se volta para o passado (um flashback), vemos a imagem em preto e branco? Isso é uma operação semiótica semis- simbólica: o preto e branco, que não é mais que um uso expressivo de características da imagem, representa uma categoria de conteúdo, o passado. É uma relação ao mesmo tempo arbitrária e motivada: não há nenhuma conexão natural entre uma coloração preto e branco e o passado (arbitrário), entretanto reconhecemos automaticamente o seu conteúdo (motivado). Tirado de seu contexto, como por exemplo em uma gravura, o preto e branco perde essa relação com a categoria do conteúdo “passado” e assume outras possíveis significações. A semiótica discursiva de Greimas pode lhe ajudar a analisar textos que sejam do sistema semissimbólico, utilizando as categorias do percurso gerativo 75Sistemas simbólicos e semissimbólicos – Sociossemiótica Semiotica_U3_C01.indd 75 13/03/2017 14:56:31 de sentido. No caso da semiótica visual, especificamente, podemos nos utilizar das categorias elaboradas por Floch (RIBEIRO, 2006, p. 4) para realizar essas análises. Floch elabora três categorias do plano expressivo visual que podem ser análogas a conceitos no plano do conteúdo. São elas (RIBEIRO, 2006): n Edética, que se refere às formas visuais e os elementos que constituem a figuração do quadro; n Cromática, que se refere às cores presentes e a sua relação; n Topológica, que se refere à organização espacial, o modo como estão dispostas as figuras. Essas categorias, em textos específicos, teriam correspondentes no plano do conteúdo, ou seja, homologações entre ambos os planos que não são nem absolutamente motivadas nem absolutamente arbitrárias. Você pode ver como isso funciona ao analisar uma das mais célebres pinturas da época da Revolução Francesa, A Liberdade Guiando o Povo, de Eugène Delacroix. Figura 3. A Liberdade Guiando o Povo, de Eugène Delacroix. Fonte: Oleg Golovnev/Shutterstock.com Semiótica76 Semiotica_U3_C01.indd 76 13/03/2017 14:56:32 Esta pintura possui um bom indicativo de como funciona os sistemas semis- simbólicos, especialmente pelo seu caráter sincrético: temos um texto visual (a pintura) e um texto verbal (seu título). A liberdade aparece como principal elemento, indicado pelo título da obra. O eixo semântico fundamental, no nível profundo, coloca uma oposição entre liberdade-opressão. Como essa categoria de conteúdo se manifesta nas categorias expressivas visuais da pintura? Você pode proceder usando as categorias de Floch. Na categoria eidética,temos uma forma feminina em destaque, liderando um grupo de homens. Sendo “liberdade” um substantivo feminino, podemos criar uma relação entre a mulher da pintura e o conceito de liberdade. Interessante que na categoria cromática, temos três elementos em destaque: o vermelho, azul e branco; cores da bandeira francesa, elaborada na época da revolução cujos princípios eram justamente liberdade, igualdade e fraternidade. Por fim, na categoria topológica podemos destacar a posição de liderança que a mulher assume no quadro. Se voltarmos ao nível profundo, podemos entrever que a intencionalidade da pintura se refere a um conteúdo semântico que afirma que a liberdade irá superar a opressão. Você pode notar que não nenhuma dimensão estritamente arbitrária nem estritamente motivada. A relação entre expressão e conteúdo aqui é construída pontualmente, semissimbolicamente. Esse é um breve exercício de interpretação semissimbólica utilizando as ferramentas da semiótica discursiva que pode ser aplicado a uma variedade de objetos. É importante destacar que a relação semissimbólica entre expressão e conteúdo pode ser também uma construção social, como encontramos na arte e na poesia. Essa dimensão da semiótica greimasiana é a que foi explorada sob o nome de sociossemiótica, especialmente pelo francês Eric Landowski (2014). Sociossemiótica A semiótica discursiva elaborada por Greimas já tinha por objetivo analisar o modo como o sentido se constrói no interior da sociedade. Greimas (1976) entendia que havia uma estrutura fundamental por trás de todo o discurso, mas os conteúdos que circulam por essa estrutura vão se transformando com a história. Em determinado momento de sua carreira, Greimas decidiu que não apenas os textos em sentido estrito eram passíveis de uma análise semiótica, mas sim toda a relação social. No livro Semiótica e Ciência Social (GREIMAS, 1976), o autor propõe a utilização do termo “sociossemiótica” para designar a análise de práticas cotidianas, como a comunicação midiática e discursos políticos. Para Greimas (1976), há uma “dimensão semiótica na sociedade”, 77Sistemas simbólicos e semissimbólicos – Sociossemiótica Semiotica_U3_C01.indd 77 13/03/2017 14:56:32 que articula não apenas o modo como nos comunicamos, mas que também funda práticas de interação e entendimento do mundo. Um dos mais célebres alunos de Greimas, o professor francês Eric Lando- wski, seguiu em frente com o projeto de seu mestre, elaborando uma teoria geral para aquilo que estava apenas indicado por Greimas. Para Landowski (SILVA, 2014), a semiótica não é um instrumento interpretativo de textos apenas, mas uma teoria que se volta para o modo como damos sentido à vida em sociedade. Para ele, é preciso atentar para as práticas de significação que existem em diferentes esferas, como os vocabulários de subculturas, o modo como agimos em diferentes situações como ir ao banco ou sentar em um bar com amigos, o tipo de gesto que utilizamos no cotidiano. Como ele afirma, a semiótica “Não se trata de uma ontologia, mas da busca da compreensão sobre o modo como atribuímos sentidos às nossas relações com o mundo e a alteridade.” (SILVA, 2014, p. 347). A partir dessa colocação, se chega ao ponto central da perspectiva de Lan- dowski: “[...] considerar a interação como lugar mesmo da aparição do sentido [...]” (SILVA, 2014, p. 353). Landowski desloca uma compreensão tradicional sobre a semiótica, a qual afirma que o sentido emerge das condições próprias do texto, de seu funcionamento interno. Para Landowski (SILVA, 2014), o objeto de estudo da semiótica não é o texto, mas sim o sentido. E, mais que isso, o sentido aparece como dado social, a partir da interação das pessoas entre si e com o mundo que as rodeia. Um dos locais privilegiados para a investigação dessa construção social do sentido é justamente os discursos que circulam pela mídia. Para Landowski (SILVA, 2014), a mídia exerce um papel ao mesmo tempo criativo e também regulador do modo como produzimos significações. Não se trata de saber apenas o que está dito, mas sobretudo entender quem diz, como diz, em que contexto e com qual intenção. A proposta de Landowski é retirar a semiótica do estudo interpretativo textual e colocá-la para interpretar as significações do mundo. Você pode notar que há uma continuidade no trabalho de Landowski em relação a Greimas. A semiótica discursiva já se propunha a analisar aquilo que estava aquém e além do signo em um discurso. Landowski apenas amplia a noção de discurso para práticas sociais diversas, aplicando as mesmas ferramen- tas do percurso gerativo de sentido. E, no caso específico da sociossemiótica, é a partir da interação que esse sentido emerge. Há ainda duas questões importantes para destacar a você sobre a sociossemi- ótica. A primeira diz respeito ao fato de Landowski não considerar as práticas sociais resultado de uma representação de um sistema social estabelecido. Não há um conjunto de regras e estruturas que comandam a interação social. Semiótica78 Semiotica_U3_C01.indd 78 13/03/2017 14:56:32 Pelo contrário, é justamente a partir das práticas de sentido que possíveis configurações sociais vão tomando forma. Para Landowski (SILVA, 2014), é a comunicação e a interação que constroem o social, e não o contrário. O “social” em sua visão é um universo de sentido que é construído a partir de interações e negociações de sentido. A segunda questão que Landowski destaca é o objetivo da sociossemiótica em abandonar as teorias totalizantes. Isso quer dizer que a sociossemiótica não está preocupada em descrever sistemas e elaborar modelos, mas sim mapear e descrever as práticas significantes que emergem a partir da interação e seus processos de elaboração de sentido. Como o próprio Landowski (2014, p. 12) deixa claro: “Menos que uma análise do sentido realizado, investido nos objetos — nos enunciados, nos textos, nas coisas que nos circundam ou nos comportamentos que nós observamos —, a sociossemiótica se propõe como uma teoria da produção e da apreensão do sentido em ato.”. 1. Dentro da semiótica discursiva de Greimas, qual a característica fundamental do processo gerativo de sentido? a) Oposição entre unidades semânticas presentes na estrutura profunda. b) Intenção do emissor em comunicar um determinado conteúdo. c) Estilo retórico e estratégias persuasivas para o convencimento. d) Narrativa articulada na forma de uma boa história. e) Repertório interpretativo do leitor ou receptor. 2. Greimas afirma que a sua semiótica não se trata de um estudo dos signos, mas de ume estudo dos modos como o sentido se manifesta na sociedade. Sendo assim, você pode afirmar que o objeto de estudo de Greimas é: a) Textos ficcionais da literatura mundial. b) O Plano de Expressão e as características formais próprias dos significantes. c) O Plano de Conteúdo e o modo como conceitos se manifestam e produzem processos de significação. d) A interação entre pessoas e o modo como elas se comunicam entre si. e) O funcionamento de instituições sociais, como o Direito e a Publicidade. 3. Considerando a definição de Greimas a respeito dos sistemas simbólicos e semissimbólicos, qual alternativa a seguir define as características desses sistemas? 79Sistemas simbólicos e semissimbólicos – Sociossemiótica Semiotica_U3_C01.indd 79 13/03/2017 14:56:33 a) Os sistemas simbólicos são aqueles que utilizam imagens e os semissimbólicos que utilizam texto. b) Os sistemas simbólicos são aqueles que se utilizam apenas de uma linguagem, enquanto os semissimbólicos são aqueles que utilizam múltiplas linguagens. c) Os sistemas simbólicos são os sistemas que admitem a existência de múltiplos significados para um significante, enquanto os semissimbólicos admitem apenas um único significado. d) Os sistemas simbólicos são aqueles em que um elemento do plano de conteúdo se relaciona apenas a apenas um elemento doplano de expressão, enquanto os semissimbólicos são aqueles que relacionam categorias de expressão com categorias de conteúdo. e) O sistema simbólico diz respeito a signos que possuem uma significação socialmente construída, enquanto os semissimbólicos possuem uma significação natural. 4. Qual dos exemplos abaixo caracteriza um sistema simbólico? a) A Constituição de um Estado-Nação. b) Uma equação matemática. c) Um poema de Mário Quintana. d) A obra de Pablo Picasso. e) Um disco de Caetano Veloso. 5. Qual alternativa a seguir define a produção de sentido na perspectiva da sociossemiótica de Eric Landowski? a) O sentido é produzido a partir dos mecanismos internos do texto. b) O sentido é produzido a partir da interação. c) O sentido e a sociedade são esferas separadas, que devem ser estudadas independentemente. d) O sentido não é nada mais que um reflexo do modo como a sociedade está estruturada. e) O sentido é um dispositivo político, organizado por aqueles que detêm o poder. Semiótica80 Semiotica_U3_C01.indd 80 13/03/2017 14:56:33 BARTHES, R. Elementos de semiologia. São Paulo: Cultrix, 2014. GREIMAS, A. J. Semiótica e ciências sociais. São Paulo: Cultrix, 1976. GREIMAS, A. J. Semiótica figurativa e semiótica plástica. Significação: Rev. 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LANDOWSKI, E. Presenças do outro. São Paulo: Perspectiva, 2002. SAUSSURE, F. de. Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix, 1970. 81Sistemas simbólicos e semissimbólicos – Sociossemiótica Semiotica_U3_C01.indd 81 13/03/2017 14:56:33 http://goo.gl/Xc3YuH http://revistas.pucsp.br/index.php/galaxia/article/ http://www.revistas.usp.br/esse/article/ http://seer.fclar.unesp.br/casa/article/view/7129 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo: Semiotica_U3_C01
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