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1 
 
 
 
 
LÉLIA GONZÁLEZ: UM LEGADO PARA O FEMINISMO E O MOVIMENTO NEGRO 
BRASILEIRO 
 
Liliane Rodrigues de Azevedo 1 
2 
 Resumo: 
O presente artigo tem a finalidade de realizar um breve histórico sobre o início do 
feminismo no Brasil e suas conquistas, trazendo a mudança para a realidade das 
mulheres de diferentes épocas, relatando sobre a resistência do movimento negro 
contra o racismo e o mito da democracia racial. Uma dessas mudanças é a 
participação ativa da professora, intelectual, feminista, antropóloga e militante Lélia 
González. Tentaremos divulgar sua importante trajetória nessa luta e seu legado para 
os dias atuais. Somado a essas questões, o artigo trará como foco principal a ligação 
das disciplinas ministradas no curso da turma 2017 da Licenciatura em Estudos 
Africanos e Afro-Brasileiros da Universidade Federal do Maranhão com a participação 
do feminismo de Lélia González. 
Palavras-chave: Feminismo; mulher negra; resistência; movimento 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 Acadêmico Licenciatura em Estudos Africanos e Afro-Brasileiros/UFMA 
 
 
 
 
 
2 
 
 
 
 
 
 
 
1. Breve histórico do início do Feminismo no Brasil 
 Feminismo, no dicionário: ideologia que defende a igualdade, em todos os 
aspectos (social, político, econômico), entre homens e mulheres; na sua etimologia: 
Feminino: é a distinção natural, biológica e, no caso, de nós seres humanos, uma 
mulher (do latim muliere) é um ser humano adulto do sexo feminino. -ismo: de origem 
grega que exprime a ideia de fenômeno; geralmente está relacionada a uma atitude, 
a uma participação ativa. E para as mulheres, o que representa esta palavra e seu 
significado? 
 Os arquivos e a cultura material deixados pela História afirmam que o feminismo 
no Brasil surgiu no século XIX, sendo manifestações que desafiaram tal século, uma 
vez que a mulher era vista de maneira única, SERVIR, seja, para o lar com seus 
cuidados, para o homem como objeto e para a sociedade como aquela que sempre 
deveria “andar nos trilhos” e não tinha o direito de sua voz ser ouvida ou seus desejos 
serem respeitados. Na Constituição Republicana de 1821 havia uma medida que dava 
direito de voto para as mulheres, mas, em seguida, foi abolida pelo fato de acharem 
que a política era uma atividade desonrosa para as mulheres. 
 O primeiro passo dado para que o rumo da história fosse outro, foi a da mineira e 
feminista Mietta Santiago, nasceu em 1903 e faleceu em 195, foi escritora e advogada 
onde notou que a proibição ao voto feminino contrariava o Artigo 70 da Constituição 
da República Federativa dos Estados Unidos do Brasil, então em vigor. Dessa forma, 
Mietta Santiago deu seguimento ao processo e assim lhe permitiu que votasse em si 
mesma para um mandato de deputada federal. Apesar de não se eleger, foi uma 
grande conquista e o pontapé inicial para todas as mulheres. Foi a partir desse fato 
que o Partido Republicano do Rio Grande do Nortepôde candidatar Luiza Alzira 
Soriano Teixeira, sendo então, o registro da 1ª mulher eleita no Brasil 
3 
 
 
1.2 História e legado de Lélia González 
 Lélia de Almeida nasceu 01.02.1935 em Belo Horizonte – MG. Filha de operário 
negro e doméstica indígena, Lélia foi a penúltima de dezoito irmãos. Quando ainda 
era criança, sua família se mudou para o Rio de Janeiro. Seria ali o começo de uma 
grande história. Já adulta, formou-se primeiramente em Ciências e Letras, nesse 
período discurso pedagógico brasileiro e o sistema embranquecido fez com que ela 
negasse suas raízes e ancestralidade; em seguida formou-se em História e Filosofia. 
Ao cursar História, percebeu as contradições sociais e raciais e que suas verdadeiras 
raízes eram diferentes e traziam realidades desastrosas e foi então que sua vida e 
militância no feminismo iniciariam. Casou-se com o espanhol Luís Carlos, e foi aqui 
que Lélia teve a certeza para que veio. Enquanto namoravam, a família do seu 
namorado não fez pressão nenhuma, mas, foi a partir do casamento que as coisas 
começariam a mudar. Não aceitavam a ideia de ter como membro da família uma 
negra, devido a toda essa discriminação e situação em que ela e seu marido viviam, 
ele não suportou e veio a suicidar-se. A partir desse triste episódio, Lélia passou a 
usar o sobrenome González do seu marido como uma forma de homenagem e luta 
contra a discriminação ao negro e em especial à mulher negra. 
 Lélia González “bateu de frente” com a discriminação e quebrou paradigmas, onde 
diziam que no Brasil não existia racismo, uma vez em que as mulheres no período da 
escravidão ou em épocas seguintes e até atuais foram vítimas e traduziram isso como 
uma parte da miscigenação brasileira. Lélia foi fundadora do Movimento Negro 
Unificado – MNU; do Instituto de Pesquisa das Culturas Negras do Rio de Janeiro – 
IPCN-RJ; do Nzinga Coletivo de Mulheres Negras; do Olodum (Salvador). Participou 
da 1ª composição do Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres – CNDM (1985-
1989), no governo do presidente José Sarney. Também se dedicou como escritora, 
produzindo dois livros: “Festas Populares no Brasil” e “Lugar de Negro”, além de 
outros escritos e palestras atuando contra o racismo e outras formas de discriminação. 
Teve também importância nas universidades onde lecionou até seu falecimento aos 
59 anos, em 1994, contribuindo assim para a formação acadêmica de muitos que 
conviveram com ela e futuros estudantes. 
4 
 
 
 A partir deste ponto, o artigo irá fazer a ligação do legado que Lélia deixou para 
o feminismo brasileiro com as disciplinas que foram ministradas na turma de 2017 do 
curso de Licenciatura em Estudos Africanos e Afro-brasileiros da Universidade 
Federal do Maranhão. 
 2. O lugar da mulher negra: da colônia a sociedade moderna 
 O negro era visto como um objeto, que não tinha sentimentos, sonhos, desejos. 
Colocados a força nas situações mais humilhantes, nas tarefas mais cansativas e 
degradantes, tinham a sua fé esmagada em todo o período colonial do Brasil e em 
grande parte de sua independência, mesmo depois da abolição ter sido finalmente 
ratificada. Classificados desde o primeiro instante que foram tirados de forma brutal 
de sua terra, eram tidos de acordo com Freitas (1977) como produtivos (trabalhavam 
diretamente para a sustentação da economia) e os não produtivos (dirigidos à 
prestação de serviço) onde é fácil de compreender esse pensamento, onde o lucro a 
custas dos escravizados era primordial para a manutenção dos prazeres da elite 
branca. 
 Mas se formos mais a fundo deixando de lado aquela visão superficial sobre a 
população negra escravizada, tirando o véu que nos foi colocado desde os primeiros 
anos na escola, podemos fazer uma pergunta sem medo da resposta: E a mulher 
negra, qual seu papel enquanto escravizada? Antes de mergulharmos nesse assunto, 
devemos levar em conta que nossa historiografia por muitas décadas sofreu uma 
grande influência marxista. Uma visão cristalizada que nunca observou os sujeitos 
menores, sempre olhando os acontecimentos históricos “de cima para baixo” e nunca 
o contrário, muito menos era levado em consideração nessas analises os escravos 
que nem eram considerados seres humanos. Porém com maiores estudos e novas 
pesquisas sugiram uma historiografia mais complexa e critica analisando de maneira 
mais detalhista e dinâmica percebeu-se a necessidade de expor todas as visões 
existentes que inclusive contribuí-o para a formação critica na década de 1970 e 1980 
de Lélia Gonzalez que questionou e refletiu sobre o que hoje conhecemos como 
FEMINISMO NEGRO, ela foi chamada de uma mulher á frente o seu tempo, pois foi 
capaz de ver que dentro do próprio movimento que defende a igualdade entre 
5 
 
 
gêneros, as dificuldades eram colocadas de maneira muito similar, como se a mulher 
negra tivesse as mesmas condições de umabranca. Depois de décadas de a 
escravidão ter sido abolida de nosso país, não tínhamos a sensibilidade em vê o 
quanto a mulher negra em especifico, sofreu e ainda sofre com as grandes mazelas 
sociais, culturais e educacionais mesmo atualmente tendo atualmente todos os diretos 
básicos a vida garantida por lei, vivendo em sua maioria em regiões pobres, expostas 
a todos os tipos de violência, ainda sendo responsáveis em cuidar do seu lá, que 
inúmeras vezes não tem nenhuma condição de abriga-la de forma digna, o que deixa 
claro que as mulheres afro-descendentes são maiores vítimas desse nosso passado 
perturbador. 
 Mas para entendermos as questões atuais, de como chegamos a essa realidade 
precisamos analisar de perto a nossa historiografia, não da visão dos grandes 
“personagens“, como mencionado anteriormente, uma visão fortemente influenciada 
principalmente por Caio Prado que em suas análises e teorias dominou durante 
décadas a maneira de estuda a história do nosso país, mas do ponto de vista de quem 
mais sofreu, os personagens a que muitos consideram menores ou sem importância, 
sendo que foram estes que realmente acabaram moldando a nossa história. 
 Na colônia, cabiam as mulheres escravizadas dois tipos de obrigações que muitas 
vezes constatamos serem retratas em novelas, series, filmes. A trabalhadora de eito 
e as mucamas, esta última talvez fosse umas das mais dolorosas, pois eram 
responsáveis diretamente em cuidar dos seus senhores, era delas o papel de zelar 
pela casa grande: lavar, passar, cozinhar, fiar, tecer etc. Era das mãos delas, que 
eram preparados à comida para aqueles que comandavam a sua vida, muitas vezes 
estes mesmos que castigavam os seus filhos, irmãos, amigos, e o que podia esta 
mulher fazer? Sendo que muitas vezes as mucamas mais atraentes ainda eram 
obrigadas a força a satisfazer os desejos sexuais do seu dono, ou acabavam sendo 
“responsáveis” pela iniciação sexual dos filhos dos seus donos, ainda tendo que 
conviver com o rancor de suas senhoras por ter tido algum contato com seu esposo, 
porém não podemos imaginar que essa “mãe preta” era acomodada com essa 
6 
 
 
Situação, como inúmeras vezes são retratadas, Como se fosse possível conviver com 
todas as formas de dor e humilhação, infelizmente muitas chegavam a tirar sua própria 
vida, principalmente quando estavam grávidas, pois não queriam que seus filhos 
passassem pelas péssimas condições em que viviam incapazes darem um mínimo de 
conforto possível. 
2.1Lélia Gonzalez: resistência contra o racismo 
 No século XVI, os negros foram trazidos do continente africano para serem 
escravizados pelo português no território brasileiro. Ao longo do tempo, o Brasil foi se 
modernizando, e o racismo institucional foi se criando. O negro não era reconhecido 
como ser humano. A história africana foi abafada pelos europeus, pois se acreditava 
que os negros eram um povo inferior. 
 Com a oficialização do fim do período da escravidão, o Brasil iniciou uma nova 
fase que estabelecia padrões brancos, ou seja, mesmo os negros conquistando sua 
liberdade no parâmetro jurídico, no social, contudo, viviam em uma falsa liberdade, 
pois a abolição foi declarada sem a devida preocupação de como seria a 
sobrevivência destes. Eram homens livres, porém desempregados e sem 
propriedade, mesmo depois de anos de serviços prestados. 
 Aproveitando o fluxo de imigrações, no período pós-escravidão, a elite republicana 
introduziu no seio da sociedade brasileira um novo processo que ficou conhecido 
como branqueamento da população, que tinha como objetivo arrancar toda marca que 
os negros deixaram no país. Essa tese foi sustentada com os argumentos de que 
trazia avanço para o Brasil. 
 Com a adesão a essa política, a população brasileira, foi crescendo negando suas 
raízes africanas, foi implantado que tudo que se remete ao indivíduo negro é negativo, 
não possui valor ou não merece prestígio pela sociedade. A cultura negra foi ocultada 
por diversas formas, criou-se um aparelho ideológico, que marginalizava as diversas 
expressões culturais, tal como aconteceu com a proibição das rodas de capoeira, a 
liberdade de professar sua fé etc. 
 Em 1890 a capoeira foi colocada fora da lei pelo Código Penal da República, que 
dizia: 
7 
 
 
Art. 402. Fazer nas ruas e praças públicas exercícios de agilidade e 
destreza corporal, conhecidos pela denominação capoeiragem; andar 
em carreiras, com armas ou instrumentos capazes de produzir uma 
lesão corporal, promovendo tumulto ou desordens, ameaçando 
pessoa certa ou incerta, ou incutindo temor de algum mal: Pena: De 
prisão cellular de dous meses a seis mezes[..[. (BARBIERI, 1993, 
p.118). 
 
 Com diversas imposições eurocêntricas, às afro-descendência, foram negativando 
a origem dos negros, assim como à sua aparência, tal como: cor, cabelos, roupas, em 
razão de que seus estereótipos eram sempre associados em rótulos pejorativos. A 
discriminação e a negação eram mais alarmantes no gênero feminino, pois além da 
discriminação feita pelos brancos, os homens negros, estimulados pelo espírito 
patriarcal, discriminavam também. A mulher negra foi por muito tempo estigmatizada 
como objeto sexual e prestadora de serviços domésticos. 
 Lélia Gonzalez nasceu nessa sociedade em que os valores da cultura ocidental 
branca são os considerados únicos verdadeiros e universais, entretanto ela se 
recusou a viver essa denegação imposta aos negros. Sua vida foi marcada pela 
militância contra a discriminação racial e de gênero, o seu posicionamento foi de suma 
importância para o movimento negro e feminista do Brasil. 
 Gonzalez estimulava a população negra a denunciar o mito da democracia racial, 
por meio da afirmação da identidade cultural, ou seja, da aceitação das suas origens; 
orientava os negros a se organizarem e terem voz ativa na sociedade, reivindicarem 
acesso a uma boa educação, a ocuparem bons cargos, a receberem um salário que 
supra todas as suas necessidades e as de suas famílias; os homens e mulheres 
deveriam reconhecer o seu valor e lutarem para que seja alcançado a igualdade racial 
em todas os âmbitos da sociedade. Que o silêncio fosse rompido, que a voz fosse 
usada como um instrumento de denúncia, sobretudo nos locais em que exista o 
racismo velado ou institucionalizado. 
Não podemos mais calar. A discriminação racial é um juízo marcante 
na sociedade brasileira, que barra o desenvolvimento da comunidade 
afro-Brasileira, destrói alma do homem negro e sua capacidade de 
realização como ser humano[...]. (GONZALEZ,1982, p. 43). 
 
 O racismo velado ainda é uma das maiores barreiras, pois impossibilita a abertura 
de debates sobre o tema, ou seja, inviabiliza sua extinção, por não ter culpados. 
8 
 
 
Muitos foram e são os argumentos usados na tentativa de ocultar fatos, tal como essas 
expressões que está sendo difundida, a saber: que o preconceito e o racismo estão 
na cabeça de quem os vê; que e o racismo é uma invenção do próprio negro. 
Pensamentos como esses ajudam no processo de esquecimento da história dos afro-
descendentes, que durante anos tiveram a sua humanidade negada pelo homem 
branco. A negação da humanidade dos homens negros foi a justificativa para os anos 
de escravidão. 
 Da notoriedade aos fatos é mecanismo de resistência. O negro não pode se calar 
nunca, pois ainda vivemos sobre as repercussões do período da escravidão. Ainda é 
muito comum na sociedade, de modo especial no âmbito escolar, o menosprezo pelo 
negro e sua história. Um dos ensinamentos que a Lélia Gonzalez nos deixou foi à 
resistência, a militância, que não deve se limitar apenas em passeata e cartazes, deve 
se fazer resistência com a própria vida, ultrapassar os limites que o sistema social 
impõe. É preciso dominar o campo acadêmico, a política, é preciso trabalhar para se 
alcançar a liberdade real. Fazer memória à nossaorigem é uma forma de resistência. 
[..]Destacamos que se toda experiência social produz conhecimento 
uma das funções do tempo de escola será educar a sensibilidade 
dos(das) educadores(as) e dos(das) educando ao longo do percurso 
de formação para captar e conhecer a rica pluralidade de experiências 
sociais que tornam dinâmica e tensa a sociedade. Mostrar as relações 
sociais, políticas, culturais em que essa riqueza de experiência vão 
conformando nossa história[...]. (ARROYO.2013. p.124) 
 
 No atual cenário Brasileiro, a educação escolar tornou-se uma função de grande 
relevância para melhorar a situação social econômica especialmente, o acesso da 
comunidade negra no campo educacional, em 2008 foi aprovado o plano nacional das 
diretrizes curriculares nacionais para educação das relações étnicas raciais e para o 
ensino de história e cultura afro-Brasileira e africana. 
 A lei 10.639/03, foi alterada pela lei 11.645/08, que torna obrigatório o ensino da 
história e cultura afro-brasileira e africana e indígena em todas as escolas, públicas e 
particulares, do ensino fundamental até o ensino médio. Com o novo direcionamento 
curricular, é notório que a comunidade escolar está percebendo que não se pode mas 
aceitar que somente algumas culturas sejam contempladas nos currículos. 
9 
 
 
 É importante compreender que lei 10.639/03 representa uma importante alteração 
na lei de diretrizes nacionais, pois já não se pode falar em uma lei especifica, mas sim 
de uma legislação que rege toda a educação nacional, por isso o seu cumprimento é 
obrigatório, ela se insere em um processo de luta pela superação do racismo na 
sociedade brasileira e tem como protagonista o movimento negro e os demais grupos 
e organizações participes da luta antirracista. Práticas de ações afirmativas na 
educação básica brasileira entra como uma forma de correção da desigualdade 
histórica que incidem sobre a população negra em nosso pais. A execução dessa lei 
propicia um imaginário pedagógico, romper com o silenciamento sobre a realidade 
africana e afro-brasileira nos currículos e práticas escolares e afirmar a história, a 
Memória e a identidade de crianças e adolescentes negros. “Na educação, a teoria é 
uma dimensão indispensável da prática (Carr,1996, p.68) 
 O currículo prescrito, quanto a seus conteúdos e a seus códigos, em suas diferentes 
especialidades, expressa o conteúdo base da ordenação do sistema, estabelecendo 
a sequência do progresso pela escolaridade e pelas especialidades que o compõem 
(Sacristán, 2000, p.113). 
 As teorias do curriculum costumam ressaltar concepções políticas e técnicas 
que, historicamente, têm sido ordenadas para administrá-lo, expressando fórmulas 
para sua elaboração e desenvolvimento. Segundo Sacristán (1995), estas teorias 
desempenham funções fundamentais para a seleção de temas e perspectivas, e dos 
formatos a serem consumidos pelos professores; ressaltam certas funções dos 
profissionais da educação e dão racionalidade às práticas escolares. Destacando a 
resistência de Gonzalez e de outros líderes do movimento negro em fazer memória a 
origem dos afro-descendentes, verificamos que o cumprimento da lei 11.645/08 ainda 
encontra dificuldades em seu processo de execução. Essa 
 
 
 
 
lentidão na execução nos faz analisar o papel do currículo e sua didática, como 
instrumento de domínio 
10 
 
 
Na escola pública estão alguns dos exemplos mais emblemáticos 
deste racismo institucional: as enormes dificuldades de 
implementação da lei 11645/08 – que modificou a lei 10639/03 –, que 
determina o ensino da história da África no ensino fundamental, e o 
debate sobre as cotas nas universidades públicas brasileiras. “Por que 
tanta má vontade em implementar a lei 10639? Porque esta lei nos 
humaniza. Eles nos coisificaram e nos transformaram em mercadoria 
e máquina de trabalho. E a lei muda tudo isso, nos tira do submundo 
da história, e nossa história nos humaniza”, afirma Olivia Santana, 
vereadora de Salvador pelo PCdoB e militante da União de Negros 
pela Igualdade na Bahia.(SANTANA,2017, Fórum Social Mundial 
Temático da Bahia). 
 
3.A ESCOLA COMO UM ÂMBITO DE REFERÊNCIA, MAS NÃO O ÚNICO 
 É importante notar que toda educação formal precisa colocar o educando em 
contato direto com a esfera ‘’não cotidiana’’ isto é, com habilidades e conhecimentos 
que não podem ser adquiridos natural e espontaneamente pelo aprendiz. 
 Dispensar a ação educativa é fundamentado nessa esfera, porém é um recurso no 
qual a educação informal levada a cabo pela família, poderia contar o que foi feito, 
historicamente falando, na época em que os saberes necessários à vida adulta 
emanavam diretamente das relações sociais das crianças com os mais velhos. 
Atualmente, dada a complexidade do cenário social, profissional e ideológico, a 
pedagogia estaria fora do seu tempo ao insistir na possibilidade de educar crianças e 
jovens partindo apenas da espontaneidade de seus espíritos, pois a esfera não 
cotidiana não emerge naturalmente da vivência cotidiana. 
 Porém, seja qual for a conexão entre fazer e aprender, qualquer que seja a validez 
da fórmula pragmática, sua aplicação à educação, ou seja, o modo de aprendizagem 
da educação tende a tomar absoluto o mundo da infância, exatamente da maneira 
como observamos, no caso do primeiro pressuposto básico, também sendo o pretexto 
de respeitar a independência da criança, ela é excluída do mundo dos adultos e 
mantida artificialmente no seu próprio mundo, essa retenção é artificial, porque 
extingue o relacionamento natural, entre adultos e crianças, no qual outras coisa 
11 
 
 
Consistem do ensino à aprendizagem, tanto é que oculta o tempo e o fato de que a 
criança é um ser humano em desenvolvimento, de que a infância é uma etapa 
temporária numa preparação para a condição adulta. 
 Paulo Freire afirmava que o educador ensina o educando, porém é uma 
diversidade de educação, pois são trocas de conhecimentos vividos e compartilhados, 
onde ambos tendem aprender um com o outro, a importância de todos dentro da 
educação baseia-se em todos os profissionais que vivem direto e indiretamente com 
os educandos, os auxiliares de limpeza ao professor, também devem ser capacitados, 
uma vez que todos estão ligados ao processo educativo em uma escola. 
 Lélia Gonzalez foi educadora, ativista e intelectual de destaque, porém seu 
pensamento contribuiu para a formação de uma consciência crítica em relação aos 
preceitos que mantêm mulheres negras em desvantagem na sociedade. Historiadora, 
antropóloga, filosofa, visto que ela é autora de diversos livros e artigos, além de 
militante em movimentos sociais pela igualdade racial. Foi, ainda, uma das fundadoras 
do Movimento Negro Unificado (MNU), principal canal de ressurgimento da luta pela 
igualdade racial nos anos 1970. 
 A partir da experiência pessoal, buscou nos estudos da Psicanálise e na 
Umbanda as reflexões sobre o impacto e a discriminação, trazendo-as para as 
condições de vida da população negra no Brasil, principalmente as mulheres. A 
antropologia inspirou a formação de uma consciência crítica, sua intensa militância 
desconstruiu o mito da democracia racial, propôs modelos de identidade nacional e 
provocou a visibilidade positiva da mulher negra, entretanto, o movimento social 
problematizou a discriminação sofrida pelas mulheres, em razão do machismo. 
Tendo em vista que no âmbito dos movimentos feministas, apontou para a 
discriminação sofrida pelas mulheres devido a cor da pele. Lélia ressaltava o problema 
racial que devem ser discutidos, dentro e fora das salas de aulas, mostrando o 
semblante e a bandeira de luta, pois não adiantaria ficar calado em sala e fora dela 
levantar bandeira. 
 
12 
 
 
4. A ligua(gem) como processo de desconstrução: aspectos políticos, 
econômicos e sociais. 
A linguagem no Brasil, torna-se mais uma formade exclusão de classes, mais 
uma maneira de deixar visível a hierarquização racial e a estigmatizaram a partir do 
ponto em que é colocada uma forma “correta” e privilegiada a uma classe social por e 
para uma minoritária e privilegiada classe social, elitista, branca e heteronormativa em 
que visa e conserva apenas influências europeias, como por exemplo, o português de 
Portugal, por anos sendo imposta aos colonizados ,até por entenderem que 
“enriquece” ou é mais “culto” e correto o uso destas linguagens. A partir desta 
valorização da cultura branca surge o preconceito e a desvalorização da língua afro-
brasileira, da linguagem do nordestino, da própria mulher, assim como a negação das 
influências culturais de origem africanas e indígenas em nosso país, que se constitui 
da miscigenação de várias etnias. 
 [...] Talvez exista uma contradição de base entre ideologia 
democrática e a ideologia que é implícita na existência de uma norma 
linguística. Se segundo os princípios democráticos nenhuma 
discriminação dos indivíduos tem razão de ser, com base em critérios 
de raça, religião, credo político. A única brecha deixada aberta para a 
discriminação é aquela que se baseia nos critérios da linguagem e da 
educação. (GNERRE, Maurizzio, 1985 p.25) 
Lélia escolheu romper com o vocabulário formal, tendo assim oportunidades de 
diálogos com diferentes extratos sociais e movimentos de rua da periferia. González 
participou ativamente de movimentos, militando pela criação de creches nas zonas 
periféricas do Rio de Janeiro, reconhecia na militância, mais uma forma de diálogo 
entre os seus. 
 Nos anos 70 e 80, Lélia produziu livros como: Festas populares no Brasil. Rio de 
Janeiro,1987, e Lugar de negro (com Carlos Hasenbalg). Rio de Janeiro, 1982, e 
ensaios e artigos como: Mulher negra, esse quilombola. ”( Folha de S.Paulo, Folhetim. 
Domingo 22 de novembro de 1981). “A mulher negra na sociedade brasileira. ” In: 
LUZ, Madel, T., org. O lugar da mulher; estudos sobre a condição feminina na 
sociedade atual. Rio de Janeiro, Graal, 1982. 146p. p. 87-106. (Coleção Tendências, 
13 
 
 
1.). “Racismo e sexismo na cultura brasileira. ” In: SILVA, Luiz Antônio Machado et 
alii. Movimentos sociais urbanos, minorias étnicas e outros estudos. Brasília, 
ANPOCS, 1983. 303p. p. 223-44. (Ciências Sociais Hoje, 2. 
 Ministrou palestras, e em todas as vias de comunicação, fazia questão de utilizar 
uma linguagem informal, com algumas gírias, trazia consigo uma maneira 
descontraída de dialogar, nas diversas entrevistas, rodas de conversas… em que fora 
requisitada para palestras. A partir dessa sua atitude, fazia com que o “Pretuguês”, 
expressão que utilizou para se contrapor as costumeiras falas elitizadas, mas do que 
isso para que estes (as) indivíduos pudessem não fazer, ao menos sentir-se parte do 
processo em alusão ao nosso português afro-brasileiro, para que assim fosse 
respeitado e divulgado a aqueles que por não deterem uma educação privilegiada 
pudessem ter acesso as suas obras, criando uma nova forma humana de linguagem. 
 
[...]GONZALES, LÉLIA. Racismo e Sexismo na Cultura Brasileira, pg. 
237. É engraçado como eles gozam a gente quando a gente diz que é 
Framengo. Chamam a gente de ignorante dizendo que a gente fala 
errado. E de repente ignoram que a presença desse r no lugar do l, 
nada mais é que a marca linguística de um idioma africano, no qual o 
l inexiste. Afinal, quem que é o ignorante? Ao mesmo tempo, acham o 
maior barato a fala dita brasileira, que corta os erres dos infinitivos 
verbais, que condensa você em cê, o está em tá e por aí afora. Não 
sacam que tão falando pretuguês. 
 
5. O MITO DA DEMOCRACIA RACIAL 
 Para entendermos a questão racial na América Latina, Lélia Gonzalez nos mostra 
que devemos olhar para o começo da colonização nas Américas. Principalmente a 
América Latina, em países que tiveram em sua história como principais colonizadores, 
os países ibéricos, ou seja, Espanha e Portugal. 
 A formação histórica de ambos se fez a partir de intensas lutas pela reconquista 
de seus territórios contra os mouros, tendo em vista todo este contexto histórico, 
espanhóis e portugueses adquiriram de certa forma experiência em relação as 
questões raciais, mas que fique claro, nessa época o termo “raça” não era levado 
como um conceito de cor da pele, e sim às civilizações que se consideravam 
superiores em relação aos outros, os civilizados sobre os bárbaros. 
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 As sociedades ibéricas se estruturaram de maneira altamente hierarquizada, com 
muitas castas sociais diferenciadas e complementarias. A força da hierarquia era tal 
que se explicitava até nas formas nominais de tratamento, transformados pelo rei de 
Portugal e Espanha em 1597. Desnecessário dizer que neste tipo de estrutura, onde 
Tudo e todos têm o seu lugar determinado, não há espaço para a igualdade, 
principalmente para grupos étnicos diferentes como mouros e judeus, sujeito a um 
violento controle social e político. (Roberto Da Matta). 
 Dessa forma, as colônias absorveram um sistema hierárquico contribuindo assim 
para a segregação das raças, já que desse modo, uma sociedade hierárquica garante 
a superioridade branca como uma classe dominante. 
 Esse tipo de segregação tem um poder muito grande sobre a sociedade, o caráter 
físico, a questão da agressão é só um deles, mas o que de fato mais impacta sobre 
um grupo é a dominação ideológica. 
[...]O racismo latino-americano é suficientemente sofisticado para 
manter negros e indígenas na condição de segmentos subordinados 
no interior das classes mais exploradas, graças a sua forma 
ideológica, mas eficaz: a ideologia do branqueamento. (Lélia 
Gonzalez. p15.). 
 Para elencar aqui, a mídia é um propagador voraz desse segmento, certo que hoje 
as coisas não são como antes, mas ainda há muito que se conquistar, o negro como 
um agente da história, e não como um objeto como os marxistas propuseram, e nem 
tão pouco um sujeito histórico mais recentemente com os neomarxistas. 
[..] Ao longo dos séculos, o conhecimento produzido apareceu como neutro, 
quando sabemos que isso era e é falso. A neutralidade assim como a 
imparcialidade, e a autoridade são construções ideológicas. (Dos Santos, 
2010, p18). 
 Uma questão muito forte também que a mídia perpetua é essa perspectiva 
eurocêntrica da família ideal, muito disseminada nas novelas, onde as famílias 
brancas ricas são o núcleo principal e as famílias negras são o núcleo pobre. “No 
Brasil não existe racismo porque os negros reconhecem o seu lugar”. (Millor 
15 
 
 
Fernandes). Gonzalez em um de seus trabalhos derruba um mito de dominação 
ideológica: o mito da democracia racial. 
 Mas o que seria essa democracia racial, essa perspectiva desenvolvida na década 
de cinquenta pelo antropólogo norte americano Charles Wagley que teve como 
alicerce a obra de Gilberto Freyre, Casa Grande e Senzala (1933), um ensaísta, que 
pega como base o engenho de sua família para explicar a Brasil colônia, o fato do 
senhor se deitar com a escrava não haveria racismo por parte do homem branco, ali 
estaria estabelecido uma convivência harmoniosa, partindo-se desse pressuposto 
Wagley desenvolve um estudo comparando as relações étnico-raciais ocorridas no 
Brasil e Estados Unidos, afirmando que no Brasil havia uma democracia racial e nos 
Estados Unidos uma hierarquia racial hegemônica das classes. 
 Diferentemente do que ocorreu nos Estados Unidos, não houve processo de 
integração social dos negros libertos. Após a libertação dos escravos surgiram órgãos 
de governo, destinados a promover a integração dos ex-escravos, universidade de 
negros, ou seja, o processo foi muito diferente do que aconteceu no Brasil foi muito 
diferente do que aconteceu no Brasil. (Marta Avancini, 2015). 
 
6. Conclusões Provisórias 
 O desenvolvimento do presente artigo, possibilitou uma análisesobre o movimento 
negro e sua resistência ao longo do tempo, fazendo referência da biografia da 
professora, intelectual, feminista, antropóloga e militante Lélia González. Tratamos de 
sua trajetória e seu legado na sociedade brasileiro, como militante do movimento 
negro em especial o movimento feminista. Somado a essas questões, o artigo, trouxe 
como foco principal a ligação das disciplinas ministradas no curso da turma 2017.1 de 
Licenciatura em Estudos Africanos e Afro-brasileiros da Universidade Federal do 
Maranhão. 
 O trabalho realizado sobre Lélia González: Um Legado para feminismo e o 
movimento negro, foi de suma importância para os discentes da licenciatura em 
Estudos Africanos e Afro-brasileiros, pois nos permitiu conhecermos a importância do 
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movimento negro e feminista no cenário brasileiro. Nos levando a compreender a 
necessidade da resistência contra o racismo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Referências Bibliográficas 
Caderno de Formação Política do Círculo Palmarino n.1. (2011 p.12 à 17) 
AVANCINI, MARTA. REVISTA PRÉ- UNIVESP. (2015) 
GONZALEZ, Lélia, Lugar de Negro n03, rio de janeiro; Marco zero limitado,1982 
17 
 
 
GONZALES, LÉLIA. Racismo e Sexismo na Cultura Brasileira, pg. 237 
ZARUR, George de Cerqueira Leite, 1991- A contribuição de Charles Wagley para a 
antropologia brasileira e para idéia de Brasil. 
DOS SANTOS, Gislene Aparecida, 2010- Filosofia, Diversidade e a questão do 
negro: Argumentos criados no seio da filosofia podem nos auxiliar a entender a 
questão racial contemporânea? (p.18) 
ARROYO,MIGUEL.Currículo:território em disputa.5.ed.Petrópolis,Rio de 
Janeiro:Vozes.p.124 
SACRISTÁN,J.Gimeno;PÉREZ GÓMEZ, A.I.Compreender e Transformar o 
Ensino.4.ed. Porto Alegre:Artmed,200,Pag 124. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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