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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE LUIZ GUILHERME MOTTA BIER CONTROLE DE TEMPERATURA COM PLACAS PELTIER UTILIZANDO O MÉTODO DE LINEARIZAÇÃO POR REALIMENTAÇÃO Natal – RN 2019 LUIZ GUILHERME MOTTA BIER CONTROLE DE TEMPERATURA COM PLACAS PELTIER UTILIZANDO O MÉTODO DE LINEARIZAÇÃO POR REALIMENTAÇÃO Relatório final apresentado ao Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como parte das exigências para a obtenção do título de Engenheiro Mecânico. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA Orientador: Prof. Dr. Wallace Moreira Bessa Natal – RN 2019 RESUMO Nas últimas décadas a indústria vem utilizando métodos de controle de processos cada vez mais sofisticados e precisos. Todavia, ainda é possível encontrar métodos tradicionais em diversas instalações industriais. No passado, a utilização de métodos de controles não-lineares demandava equipamentos de alto custo. Entretanto, avanços tecnológicos possibilitaram a criação de dispositivos de simples utilização e baixo custo, tal como o Arduino, que conseguem controlar sistemas não-lineares de forma satisfatória. Este trabalho propõe uma implementação do método de controle de linearização por realimentação em uma aplicação de refrigeração para testar a sua viabilidade de utilização na indústria. Foram utilizadas placas Peltier para refrigerar de maneira controlada uma placa de alumínio. A refrigeração também foi feita com um método de controle linear tradicional, o on/off. O objetivo é comparar os dois métodos, identificando as vantagens e desvantagens de cada um. Foi utilizado um controlador do tipo Arduino para a realização dos experimentos, em conjunto com outros componentes eletrônicos, tais como fontes elétricas, resistores e capacitores. Através da teoria de transmissão de calor e de testes realizados na bancada, foram estabelecidas as equações que controlam o sistema, e estas foram inseridas na programação do conjunto. Foram então realizados experimentos utilizando os métodos de linearização por realimentação e on/off, e com os dados obtidos, elaborou-se gráficos que serviram para comparação entre os dois métodos. O método de linearização por realimentação mostrou-se mais estável, preciso e vantajoso no que tange o gerenciamento de energia do sistema. Concluiu-se então que esse método é uma alternativa viável para ser aplicado na indústria, pois sua implementação não é complexa e seu desempenho é superior aos métodos tradicionais de controle. Palavras chave: linearização por realimentação; método on/off; refrigeração; placas Peltier. ABSTRACT Over the last decades the industry has been using process control methods increasingly sophisticated and precise. However, is still possible to find traditional methods at many industrial facilities. At the past, the utilization of non-linear control methods required high cost equipment. Nonetheless, technological advancements made the creation of simple and low-cost devices possible, such as Arduino, which are capable of control non-linear systems satisfactorily. This paper proposes an implementation of the feedback linearization in a cooling application to test its viability for utilization at the industry. Peltier Plates were used to control the cooling process of a aluminum plate. The cooling process was also made using a traditional control method, the on/off. The objective is to compare the two methods, identifying the advantages and disadvantages of each one. An Arduino controller was used to do the experiments, associated with other electronic components, such as an electric source, resistors and capacitors. Through de heat transfer theory and tests made at the test bench, the system control equations were defined, and they were inserted at the system programming. Then the experimentation using the feedback linearization and on/off methods were made, and with the data collected, graphs were elaborated to compare the two methods. The feedback linearization method showed more stability, precise and advantageous at the system power management topic. It is concluded then that this method is a viable option to be applied at the industry, since its implementation it is not complex and its performance is higher than the traditional control methods. Keywords: feedback linearization; on/off method; cooling; Peltier plates. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Representação de uma placa Peltier 4 Figura 2 – Detalhe da representação de uma placa Peltier 4 Figura 3 – Simulação de enchimento de caixa d’água utilizando um sistema controlado pelo método de linearização por realimentação 7 Figura 4 – Gráfico genérico para um equipamento controlado pelo método on/off 8 Figura 5 - Fluxograma do algoritmo utilizado 9 Figura 6 – Arduino Uno 12 Figura 7 – Gráficos de sinais analógicos em função do tempo 13 Figura 8 – Conexão do filtro RC 14 Figura 9 a – Capacitor polarizado 14 Figura 9 b – Resistor de 1000 Ohms 14 Figura 10 – TIP 120 15 Figura 11 – Placa Peltier 16 Figura 12 – Termistor NTC 10K 17 Figura 13 – Esquema de conexão do Termistor 17 Figura 14 – Conjunto com dissipador de calor, ventilador, placas Peltier e placa de alumínio montado 18 Figura 15 – Esquema da conexão entre Arduino, placas Peltier e Componentes eletrônicos 19 Figura 16 – Bancada montada 19 Figura 17 – Curvas de calor retirado e temperatura de equilíbrio térmico em função do valor do sinal enviado para as Placas Peltier 24 Figura 18 – Curva do calor retirado e respectiva aproximação linear para valores de sinal entre 70 e 75 25 Figura 19 – Curva do calor retirado e respectiva aproximação linear para valores de sinal entre 76 e 105 25 Figura 20 – Curva do calor retirado e respectiva aproximação linear para valores de sinal entre 106 e 205 26 Figura 21 – Gráfico T x t 30 Figura 22 – Gráfico U x t32 Figura 21 – Gráfico Te x t 33 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Parâmetros do sistema 20 Tabela 2 – Significado, valor e unidade dos termos da equação 5.3 21 Tabela 3 – Valores de R² e respectivas equaçõespara Qout 26 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 1 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................... 3 2.1. Efeito Peltier ........................................................................................... 3 2.2. Linearização por realimentação ............................................................ 5 2.2.1. Exemplo de aplicação ........................................................................ 6 2.3. Método de controle do tipo on/off ........................................................ 7 2.3.1. Exemplo de aplicação ........................................................................ 8 3. METODOLOGIA ............................................................................................. 9 3.1. Algoritmo ................................................................................................ 9 3.1.1. Entrada de constantes e configuração dos sensores ........................ 9 3.1.2. Definição da temperatura alvo e do valor de lambda ....................... 10 3.1.3. Leitura da temperatura .................................................................... 10 3.1.4. Cálculo do erro ................................................................................ 10 3.1.5. Cálculo e emissão do sinal .............................................................. 10 3.1.6. Sistema ............................................................................................ 11 3.2. Montagem da bancada......................................................................... 11 3.2.1. Arduino UNO ................................................................................... 11 3.2.2. Filtro Resistor-Capacitor .................................................................. 12 3.2.3. Transistor ......................................................................................... 15 3.2.4. Placas Peltier ................................................................................... 16 3.2.5. Placa de alumínio ............................................................................ 16 3.2.6. Termistor .......................................................................................... 16 3.2.7. Dissipador de calor .......................................................................... 18 3.2.8. Circuito montado .............................................................................. 18 3.2.9. Imagem da bancada ........................................................................ 18 3.3. Calibração do sistema ......................................................................... 20 3.3.1. Modelo matemático ......................................................................... 20 3.3.2. Definição de uma expressão matemática para Qin ......................... 21 3.3.3. Definição de uma expressão matemática para Qout ....................... 22 3.3.4. Definição da lei controle do sistema ................................................ 24 3.4. Prova que T→Td quando t→∞ ............................................................ 28 4. EXPERIMENTO ........................................................................................... 29 4.1. Resultados e discussões .................................................................... 29 4.1.1. Comportamento da temperatura em função do tempo .................... 29 4.1.2. Comportamento do valor do sinal emitido pelo controlador em função do tempo .................................................................................................... 30 4.1.3. Análise do erro ................................................................................. 32 5. CONCLUSÃO ............................................................................................... 34 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 36 1 1. INTRODUÇÃO Processos industriais modernos demandam controles precisos e eficientes, visando diminuir custos e tempo de fabricação. A qualidade de um processo industrial está diretamente relacionada com a capacidade de controlar as grandezas que o envolvem, tais como pressão, temperatura, esforços dinâmicos e etc. Durante o século XX, a implementação de sistemas com controle linear foi amplamente utilizada, devido a facilidade de elaborar um sistema com essa característica. Entretanto, diversos sistemas possuem não- linearidades complexas e de difícil linearização. Como consequência, o método de controle utilizado pode resultar em imprecisões que irão distanciar os resultados obtidos dos resultados desejados (OGATA, 2011). A solução então foi encontrar técnicas de controle não-lineares, tal como a linearização por realimentação. Considerada como uma técnica de simples implementação, pode ser encontrada em diversos setores da indústria. O método se tornou mais acessível nos últimos anos devido ao baixo custo dos componentes necessários para sua implantação, tais como componentes eletrônicos e controladores digitais. O método consiste em anular algebricamente as não linearidades do sistema em uma malha fechada através da leitura de sensores, análise do erro associado as leituras e controle ativo por determinado atuador (BAUMANN, 2018). Essa sequência de comandos possibilita contornar as imprecisões do modelo matemático, possibilitando a obtenção de resultados satisfatórios. Ao longo das últimas décadas, os processos industriais se tornaram cada vez mais automatizados, e isso só foi possível com a implementação de métodos de controle, tal como a linearização por realimentação. Por muito tempo foram empregados métodos tradicionais de controle, como, por exemplo, o método on/off. Esse tipo de controle só tem dois modos de atuação, desligado ou com capacidade total. Foi muito aplicado em processos de remoção de calor, tais como aparelhos condicionadores de ar, e também em atividades industriais que necessitam de adição de calor, como fornos para tratamentos térmicos de aços. Entretanto, o método apresenta problemas no controle da temperatura, sendo o principal deles a dificuldade em manter a temperatura constante no valor 2 desejado (CAON, 1999). A solução para esse problema é utilizar um método de controle capaz de compensar as incertezas do sistema e diminuir as imprecisões dos métodos de controle tradicionais. A técnica de linearização por realimentação, por seu baixo custo e simples implementação, se apresenta como uma possível alternativa que solucionaria os problemas encontrados no método de controle on/off. O objetivo deste trabalho é comparar o método de controle on/off com o método de linearização por realimentação. Para isso, foram utilizadas duas placas Peltier para refrigerar uma placa de alumínio utilizando os dois métodos. Os resultados obtidos possibilitaram uma comparação no quesito de precisão e oscilação da temperatura desejada, assim como o comportamento do sistema que fornece potência elétrica para as placas Peltier. 3 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Para a compreensãode como o sistema irá funcionar, é necessário entender a teoria do efeito Peltier, responsável pela refrigeração do sistema, assim como o desenvolvimento e aplicação dos métodos de controle que serão utilizados. 2.1 Efeito Peltier O efeito Peltier é o fenômeno responsável por produzir um gradiente de temperatura na junção de dois condutores ou semicondutores de materiais diferentes quando existe uma corrente elétrica passando por esses materiais. É considerado o inverso do efeito Seebeck, onde uma diferença de temperatura na junção de dois condutores provoca o surgimento de um fluxo de corrente elétrica. A essência do efeito consiste no movimento dos elétrons que compõem os materiais condutores. Quando submetidos a uma corrente elétrica, os elétrons tendem a se acumularem em um dos materiais, causando aumento da temperatura em um dos condutores, e resfriamento no outro. O responsável pela descoberta do efeito é Jean Charles Athanase Peltier, que em 1834 submeteu um termopar de bismuto e antimónio a pequenos valores de corrente elétrica. Por esse motivo, as placas Peltier são construídas em sua maioria por Telureto de bismuto – Bi2Te3. Os blocos desse material são posicionados de forma alternada entre um bloco do tipo N seguido por um bloco do tipo P, ligados eletricamente em série. A cobertura é feita de um tipo de cerâmica com boa condutividade térmica (Easy Trom Labs, 2017). 4 Figura 1 - Representação de uma placa Peltier Fonte: https://easytromlabs.com/arduino/arduino-lab-14-controle-de-temperatura-com-placas- peltier-parte-1/ Figura 2 – Detalhe da representação de uma placa Peltier Fonte: https://easytromlabs.com/arduino/arduino-lab-14-controle-de-temperatura-com- placas-peltier-parte-1/ Esse dispositivo pode ser encontrado em bebedouros elétricos, aquários, resfriamento ou aquecimento de bancos de automóveis, pequenas adegas e resfriamento de componentes eletrônicos. 5 2.2 LINEARIZAÇÃO POR REALIMENTAÇÃO Diversas aplicações industriais demandam um controle não-linear do seu sistema. O método de linearização por realimentação é uma das alternativas para obter os resultados desejados em tais aplicações. Considerado um método de simples implementação, está presente em diversos dispositivos e máquinas, tais como aeronaves, robôs industriais e sistemas de refrigeração (SLOTINE e LI, 1991). O método consiste em modificar um sistema dinâmico não-linear através de uma lei de controle, tornando-o um sistema linear em malha fechada. Para exemplificar, utiliza-se um exemplo com uma Equação Diferencial Ordinária para um sistema dinâmico não-linear dependente do tempo t: 𝑥(𝑛) = 𝑓(𝑥(𝑡), �̇�(𝑡), … . , 𝑥(𝑛−1)(𝑡)) + 𝑏 (𝑥(𝑡), �̇�(𝑡), … . , 𝑥(𝑛−1)(𝑡)) 𝑢(𝑡) (2.1) xn é a n-ésima derivada da variável de estado x em função do tempo, u é a variável de entrada e f e b são funções não-lineares. De forma simplificada, a equação acima pode ser escrita como: 𝑥(𝑛) = 𝑓(𝑥, 𝑡) + 𝑏(𝑥, 𝑡)𝑢(𝑡) (2.2) Onde x representa todos os termos de x e suas derivadas até a ordem n- 1. Para um sistema onde o estado desejado é representado por xd, o objetivo é fazer com que x= xd. Ou seja, existe um erro associado ao sistema, que é representado por �̃� = 𝑥 − 𝑥𝑑. Quando 𝑡 → ∞ espera-se que �̃� → 0. Pode-se então definir as funções f e b, e com isso escrever a variável de entrada u: 𝑢 = 𝑏−1(−𝑓 + 𝑥𝑑 (𝑛) − 𝑎0�̃� − 𝑎1�̇̃�−. . . −𝑎𝑛−1�̃� (𝑛−1)) (2.3) Com a condição de que os coeficientes dos termos x e suas derivadas temporais sejam um polinômio de Hurwitz, é possível garantir que �̃� → 0 quando 6 𝑡 → ∞. O polinômio de Hurwitz tem seus coeficientes compostos por números reais e a parte real das raízes são negativas. 2.2.1 Exemplo de aplicação Para melhor compreensão do método de linearização por realimentação, é utilizado um exemplo de aplicação no enchimento de uma caixa d´água. O modelo matemático para o sistema em questão é: 𝑑ℎ 𝑑𝑡 = 𝑢−√2𝑔 ℎ 𝐴 (2.4) Onde h é o nível de água no reservatório, u é a vazão de entrada controlada pelo sistema, g é a aceleração gravitacional e A é a área do reservatório. Através da comparação da equação 2.2 com a equação 2.4, chega- se em expressões para b e f: 𝑏 = 1 𝐴 (2.5) 𝑓 = −√2𝑔 ℎ 𝐴 (2.6) Utilizando a equação 2.3, é obtido a lei de controle do sistema: 𝑢 = 𝐴(−𝜆 ℎ𝑒 + √2𝑔 ℎ 𝐴 ) (2.7) A lei de controle é aplicada ao sistema partindo de um nível de 100 m³, com um nível desejado de 400 m³.O gráfico abaixo demonstra a variação do nível do reservatório ao longo do tempo, obtida com o controle da potência fornecida para a bomba hidráulica. 7 Figura 3 – Simulação de enchimento de caixa d’água utilizando um sistema controlado pelo método de linearização por realimentação Fonte: autoria própria É possível perceber uma diminuição gradual de potência na medida em que o valor lido do nível do reservatório se aproxima do valor desejado. Esse comportamento é uma característica do método, e espera-se um comportamento semelhante no experimento com as placas Peltier. 2.3. Método de controle do tipo on/off Diferentemente do método de linearização por realimentação, o método on/off opera apenas em dois modos: potência total ou desligado. O algoritmo é simples, onde a potência total é fornecida para o sistema enquanto a condição de funcionamento for satisfeita. Foi muito utilizado no controle de sistemas durante o século XX, principalmente na refrigeração e em fornos industriais. Embora seja cada vez menos utilizado, ainda é possível encontrar fabricantes aplicando o método em aparelhos condicionadores de ar. 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 0 20 40 60 80 100 120 N ív el d a ág u a (m ³) Tempo (s) 8 2.3.1 Exemplo de aplicação O gráfico abaixo demonstra o comportamento genérico do método on/off em aplicações de transmissão de calor. Também é demonstrado o comportamento do sinal em função do tempo. Figura 4 – Gráfico genérico para um equipamento controlado pelo método on/off Fonte: https://www.citisystems.com.br/controle-de-temperatura/ A curva da temperatura em função do tempo revela uma oscilação após o valor desejado ser atingido pela primeira vez. Isso ocorre pela inércia térmica dos objetos aquecidos. Esse fenômeno faz com que a temperatura continue subindo após o desligamento do sistema, assim como provoca também a queda da temperatura quando o sistema é desligado poucos segundo depois (LOCATELI, 2011). Sendo assim, essa oscilação está presente em qualquer sistema de refrigeração ou aquecimento que utiliza o método on/off para controlar a temperatura. 9 3. METODOLOGIA Uma melhor compreensão do experimento é obtida primeiramente com a análise do algoritmo. Na sequência são descritos os passos para montagem da bancada, onde primeiramente foi necessário encontrar na literatura de transmissão de calor, o modelo matemático que descreve a transferência de calor em um volume de controle em função do tempo. Com essa equação, pode- se escrever as expressões matemáticas que controlarão o sistema através do método de linearização por realimentação.A próxima etapa é a montagem da bancada, que consiste na seleção e conexão dos componentes eletrônicos com a fonte de energia, o Arduino e as placas Peltier. Pode-se então obter as curvas da taxa de remoção de calor das placas Peltier em função do sinal enviado pelo Arduino, pois isso é necessário para programar o controlador. O sistema está então pronto para a realização e aquisição de dados do experimento. 3.1. ALGORITMO A programação foi feita na linguagem C, que é a linguagem de programação utilizada pelo Arduino. Para uma melhor compreensão de como o programa funciona, foi feito um fluxograma que ilustra a sequência de comandos realizados pelo controlador. 3.1.1 Entrada de constantes e configuração dos sensores Nesta etapa as constantes são inseridas e os sensores são configurados de acordo com as recomendações do fabricante. As constantes são a área da Figura 5 - Fluxograma do algoritmo utilizado Fonte: autoria própria 10 placa de alumínio, sua massa e calor específico. A configuração dos sensores consiste em inserir uma fórmula que receba e transforme o valor de um sinal e um valor da grandeza a ser medida. 3.1.2 Definição da temperatura alvo e do valor de lambda Apesar de serem constantes durante o funcionamento do equipamento, a escolha da temperatura alvo e o valor de lambda são os valores irão governar a resposta das placas Peltier. Ou seja, são as constantes que podem ter seus valores alterados de acordo com uma necessidade de outra temperatura final ou diferente tempo de resposta. 3.1.3 Leitura da temperatura Estágio onde a leitura do termistor é feita. A partir desse ponto começa um loop infinito que irá fazer com que a temperatura convirja e se mantenha constante no valor selecionado. 3.1.4 Cálculo do erro O controlador calcula a diferença entre a última temperatura registrada e a temperatura alvo. Essa diferença fará parte do cálculo do valor do sinal a ser enviado. 3.1.5 Cálculo e emissão do sinal Todos termos necessários para o cálculo do valor do sinal foram definidos. Através da expressão matemática que define o sinal, o seu valor é calculado e o sinal é enviado pelo controlador para o circuito, liberando uma determinada corrente elétrica para as placas Peltier. 11 3.1.6 Sistema Após o processo de controle ter sido concluído, todas as leituras de sensores são armazenadas em um arquivo de texto e o ciclo começa novamente a partir da leitura de temperatura. Os dados são armazenados em arquivos de texto que serão posteriormente utilizados nas análises dos métodos de controle. 3.2 Montagem da bancada A seguir são descritos os principais componentes do sistema, bem como suas respectivas funções. 3.2.1 Arduino UNO É o controlador do sistema. Através de suas entradas e saídas analógicas e digitais, são emitidos e recebidos sinais em forma de voltagens que variam entre 0 e 5 Volts. Para saída, o sinal pode variar entre 0 e 255 bits, estabelecendo, portanto, uma relação de 19,60 mV por bit. Nas entradas de sinal, ocorre o inverso, onde a voltagem recebida é convertida para um sinal que varia entre 0 e 1023 bits, resultando em uma relação de 4,88 mV por bit. Para o circuito em questão, a principal função do Arduino é ler a temperatura do termistor e calcular e enviar o valor correto de sinal para o transistor. 12 Figura 6 – Arduino Uno Fonte: https://www.curtocircuito.com.br/arduino-uno-compativel-cabo-usb.html 3.2.2 Filtro Resistor-Capacitor O Arduino consegue emitir dois tipos de sinais, analógico e digital. Para o sinal digital, apenas dois valores são emitidos, 0 e 255 bits, que correspondem respectivamente a 0 e 5 V. Para aplicações que necessitam de qualquer valor intermediário, é necessário utilizar um sinal analógico. Nessa situação o sinal emitido pelo controlador varia em formas de ondas quadradas, onde a média desses sinais resulta no valor do sinal escolhido, conforme ilustra a figura abaixo: 13 Figura 7 – Gráficos de sinais analógicos em função do tempo Fonte: https://portal.vidadesilicio.com.br/grandezas-digitais-e-analogicas-e-pwm/ Em determinadas aplicações, essas bruscas variações de sinal podem prejudicar os resultados desejados. Esse foi o caso para o uso das placas Peltier, sendo necessário filtrar o sinal a fim de se obter uma saída constante. Para isso foi utilizado um filtro resistor-capacitor, eliminando a variação do sinal em função do tempo para qualquer valor de sinal inserido. A montagem do filtro se dá dessa forma: 14 Figura 8 – Conexão do filtro RC Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Filtro_passa-baixo Para a seleção do resistor e do capacitor corretos para essa aplicação, foi utilizada uma ferramenta que calcula os valores de resistência e capacitância com base na frequência de funcionamento do sinal analógico do Arduino, que é de 490 Hz para a porta que foi utilizada. A ferramenta indicou um resistor com 1000 Ω e um capacitor com 10 μF (LEARNING ABOUT ELECTRONICS, 2014). Abaixo estão as imagens dos componentes: Fonte: http://www.baudaeletronica.com.br/capaci tor-eletrolitico-10uf-25v.html Fonte: http://www.natalmakers.com Figura 9 a – Capacitor polarizado Figura 9 b – Resistor de 1000 Ohms 15 3.2.3 Transistor O Arduino trabalha com correntes baixas, não podendo ultrapassar 40 mA por pino. As placas Peltier precisaram de 1 A de corrente para poder baixar a temperatura até o valor desejado. O Arduino então foi utilizado apenas para o controle do sinal enviado para as placas, e uma fonte externa de 12 V e 2,5 A foi utilizada para energizar esses componentes. Para permitir que o Arduino controle a corrente que é enviada para as placas é utilizado um transistor. Esse componente é um amplificador de corrente elétrica, e ele possui duas entradas e uma saída. Uma das entradas recebe o sinal do Arduino, outra recebe a corrente da fonte elétrica, e a saída envia a corrente para as placas. Quanto maior o sinal enviado pelo processador, maior será a passagem de corrente pelo transistor que irá para as placas Peltier, podendo-se então enviar de 0 a 1 A para as placas utilizando de 0 a 40 mA do Arduino. Foi utilizado o transistor TIP 120, que possui um fator de amplificação de 1000. O primeiro pino do transistor é conectado na saída do filtro resistor- capacitor, o segundo é conectado no pólo negativo da placa Peltier, e o terceiro é conectado no terra. Figura 10 – TIP 120 Fonte: https://www.electronicaembajadores.com/pt- PT/Productos/Detalle/SMTRTIP120/semicondutores/transistores/transistor-tip120-npn-60-v-5-a- to-220 16 3.2.4 Placas Peltier Como já mencionado anteriormente, as placas Peltier são responsáveis pelo resfriamento da placa de alumínio. Para chegar na temperatura mínima de 19º C, foi necessário o uso de duas placas, a TEC1-12712-40 e a TEC-12708, que funcionam com uma corrente elétrica de 12 e 8 A respectivamente. Entretanto, a corrente máxima que passou pelo circuito foi de pouco mais de 1 A, visto que uma corrente elétrica muito alta percorrendo as placas demanda um eficiente sistema de refrigeração para dissipar o calor gerado no lado quente dos componentes em questão. Ambas as placas possuem 40 mm de comprimento, 40 mm de altura e 3,5 mm de espessura. Dos dois lados de cada placa foi colocado pasta térmica para otimizar a troca de calor entre os componentes. Fonte: https://peltiermodules.com/?p=product 3.2.5 Placa de alumínio Como já foi explicado anteriormente, devido a suas propriedades térmicas, foi utilizado uma placa de alumínio como objeto de controle da temperatura. A placa de alumínio tem dimensões de 50x50x3 milímetros. 3.2.6 Termistor Para a medição da temperatura foiutilizado um Termistor NTC 10K. O componente foi fixado a uma sede feita na placa de alumínio. Tem sua resistência elétrica alterada pela temperatura. Por se tratar de um termistor do Figura 11 – Placa Peltier 17 tipo NTC (Negative Temperature Coeficient), sua resistência elétrica diminui com o aumento da temperatura. O componente foi colocado no centro da placa de alumínio, pois é nesse ponto onde a menor temperatura é alcançada. Para obter resultados mais precisos, foi feita uma sede para alojar o termistor na placa de alumínio. Figura 12 – Termistor NTC 10K Fonte: https://natalmakers.lojaintegrada.com.br/sensor-de-temperatura-termistor-ntc-10k Para o funcionamento desse termistor em específico, é necessário utilizar um resistor de 10 KΩ, conforme ilustra o esquema abaixo: Figura 13 – Esquema de conexão do Termistor Fonte: http://www.squids.com.br/básico17/index.php/projetos-arduino/projetos- squids/básico/153-projeto-41-usando-o-sensor-de-temperatura-termistor-ntc-10k-com-lcd 18 3.2.7 Dissipador de calor Para dissipar o calor gerado pelas placas Peltier, foi utilizado uma estrutura aletada em combinação com uma ventoinha. A dissipação de calor é essencial para não danificar as placas e também aumenta a eficiência do sistema. A imagem abaixo ilustra o dissipador montado junto as placas Peltier e a placa de alumínio. 3.2.8 Circuito montado Os componentes são então conectados através de uma protoboard. A imagem abaixo demonstra como a conexão ocorre: Figura 14 – Conjunto com dissipador de calor, ventilador, placas Peltier e placa de alumínio montado Fonte: autoria própria 19 3.2.9 Imagem da bancada A imagem abaixo mostra o conjunto montado e pronto para ser colocado em operação. Figura 16 – Bancada montada Fonte: autoria própria Fonte: autoria própria Figura 15 – Esquema da conexão entre Arduino, placas Peltier e componentes eletrônicos 20 3.3 Calibração do sistema Para realizar os experimentos propostos, foi preciso conhecer a curva que representa a taxa de remoção de calor em função do sinal enviado pelo Arduino. Primeiramente foi necessário estabelecer um modelo matemático que representa o sistema em questão. Na etapa seguinte utilizou-se a teoria de transmissão de calor juntamente com o método de controle proposto para escrever as equações que controlam o sistema. 3.3.1 Modelo matemático De acordo com SHABANY (2009), o modelo matemático que representa a taxa de transferência de calor em um volume de controle é: 𝑑𝑇 𝑑𝑡 = 𝑄𝑖𝑛 − 𝑄𝑜𝑢𝑡 𝑚𝑐 (3.1) A tabela abaixo contém as informações de significado, valor e unidade dos termos da equação 3.1: Tabela 1 – Parâmetros do sistema Símbolo Significado Valor Unidade 𝑇 Temperatura da placa - °C 𝑡 Tempo - s 𝑄𝑖𝑛 Quantidade de calor que entra na placa - w 𝑄𝑜𝑢𝑡 Quantidade de calor que sai da placa - w 𝑚 Massa da placa 0,022 Kg 𝑐 Calor específico do material da placa 92,05 J(Kg°C) -1 Fonte: autoria própria 21 3.3.2 Definição de uma expressão matemática para Qin Uma vez que a massa da placa e o calor específico do alumínio são constantes conhecidas, é necessário definir expressões para os termos Qin e Qout. Sabe-se que a placa de alumínio, estando a uma temperatura menor do que o ar que a envolve, troca calor com o ambiente por convecção. Como não existe nenhum dispositivo que impulsiona o ar para a placa, a convecção em questão é do tipo natural. Para esse caso, conforme ilustra a equação 3.2, o termo Qin depende do coeficiente convectivo h, da área da placa que troca calor com o ar A, e da diferença de temperatura entre a superfície da placa e o ar que a envolve, representada por ∆T. 𝑄𝑖𝑛 = ℎ𝐴∆𝑇 (3.2) Para calcular o coeficiente convectivo, primeiramente é necessário saber o valor do número de Rayleigh. Esse número representa a razão entre as forças de flutuação e o produto das difusividades térmicas e de quantidade de movimento. Os valores para as constantes da expressão abaixo foram tirados de tabelas de propriedades do ar (ÇENGEL, 2012). 𝑅𝑎𝐿 = 𝑔𝛽(𝑇∞ − 𝑇𝑆)𝐿𝐶 3 𝛾𝛼 (3.3) Tabela 2 – Significado, valor e unidade dos termos da equação 3.3 Símbolo Significado Valor Unidade 𝑔 Aceleração gravitacional 9,81 m/s² 𝛽 Coeficiente de expansão volumétrica 0,0033 1/K 𝑇𝑆 Temperatura da superfície da placa - ºC 𝑇∞ Temperatura do fluído 27 ºC 𝐿𝐶 Comprimento característico 0,052 m 𝛾 Viscosidade cinemática 1,562 X 10-6 m²/s 𝛼 Difusividade térmica 2,141 X 10-5 m²/s² Fonte: autoria própria 22 Como o número de Rayleigh depende da temperatura da superfície da placa, que não é constante em função do tempo, este será calculado posteriormente. Entretanto, com base em testes realizados com as placas Peltier, sabe-se que a menor temperatura alcançada na placa de alumínio foi de aproximadamente 19 ºC. Analisando a expressão acima, conclui-se que o maior número de Rayleigh é obtido quando Ts atinge seu menor valor. O valor encontrado foi menor do que 1x109, possibilitando definir uma expressão matemática que relacione o número de Rayleigh com o número de Nusselt. Essa grandeza representa a razão entre a transferência de calor de um fluido por convecção e um caso particular de convecção. Quando um fluído está parado, o comportamento da troca de calor de uma superfície com esse fluído se assemelha a condução. O número de Nusselt é a razão entre a transferência de calor por convecção e condução (INCROPERA, 2014). As equações abaixo relacionam o número de Rayleigh, o número de Nusselt e o coeficiente convectivo. 𝑁𝑢 = 0,59𝑅𝑎1/4 (3.4) ℎ = 𝑁𝑢 𝑘 𝐿 (3.5) 3.3.3 Definição de uma expressão matemática para Qout Para o cálculo do termo Qout, foi utilizada a primeira lei da termodinâmica. Baseando-se no princípio de que a energia não pode ser criada e nem destruída durante um processo, apenas transformada, chega-se em uma equação para o balanço de energia de um sistema fechado: 𝐸𝑒𝑛𝑡 − 𝐸𝑠𝑎𝑖 = ∆𝐸 (3.6) 23 ∆𝐸 representa a variação de energia de um sistema fechado, podendo esta ser gravitacional, cinética, térmica e etc. A equação abaixo demonstra o que ocorre quando não existe variação da energia do sistema (ÇENGEL, 2013). ∆𝐸 = 0 ∴ 𝐸𝑒𝑛𝑡 = 𝐸𝑠𝑎𝑖 (3.7) Estabelecendo um volume de controle ao redor da placa de alumínio, verifica-se que a única forma de energia que entra e sai do objeto é a energia térmica, através da variação de sua temperatura. A energia que entra, visto que a placa sempre terá uma temperatura menor ou igual a temperatura do ar que a envolve, é a troca térmica por convecção natural com o fluído ao seu redor, representado pelo termo Qin já calculado. E a energia que deixa o sistema ocorre pela condução de calor entre a placa de alumínio e a placa Peltier, que está sempre a uma temperatura inferior. Essa energia, representada por Qout, depende da corrente elétrica que passa pelas placas Peltier. A corrente por sua vez, é diretamente proporcional ao sinal enviado pelo Arduinopara o transistor, que permite a passagem de corrente da fonte para as placas. Para controlar a temperatura da superfície da placa de alumínio, foi necessário então estabelecer uma relação entre o sinal enviado pelo Arduino e Qout. Isso foi feito escolhendo-se vários valores para o sinal enviado pelo Arduino, que varia de 0 a 255, e aferindo a temperatura de equilíbrio térmico da placa de alumínio com o ar que a envolve. Quando a temperatura se estabiliza, sabe-se que não há energia entrando ou saindo do sistema, e como já demonstrado, para essa situação tem-se que: 𝑄𝑖𝑛 = 𝑄𝑜𝑢𝑡 (3.8) 24 3.3.4 Definição da lei controle do sistema Após realização do processo em uma faixa de valores estabelecidas para o sinal, que foi de 70 a 235, chega-se em uma curva que define como o calor retirado varia em função do sinal enviado pelo controlador. Analisando a curva percebe-se que a relação entre o valor do sinal e o calor retirado não é linear. Visando simplificar a implementação do método de controle, optou-se por uma aproximação linear da curva acima. Para isso, dividiu- se os dados em três seções e foi realizada uma regressão linear, onde em cada uma delas o comportamento da curva é similar dentro do intervalo definido. O critério para definir o intervalo foi um valor para o quadrado do coeficiente de determinação (R²) maior ou igual a 0,90. Esse coeficiente varia de 0 a 1,00 e indica o quanto o modelo se aproximou dos valores reais obtidos (CHARNET, 2018). 0 0,02 0,04 0,06 0,08 0,1 0,12 0,14 0,16 70 75 115 165 215 0 5 10 15 20 25 30 W a tt s Valor do sinal (bits) ºC Temperatura de equilíbrio térmico Calor retirado (Qout) Fonte: autoria própria Figura 17 – Curvas de calor retirado e temperatura de equilíbrio térmico em função do valor do sinal enviado para as Placas Peltier 25 0,04 0,06 0,08 0,1 0,12 0,14 0,16 76 105 C a lo r re ti ra d o ( w ) Valor do sinal (bits) Curva real Aproximação linear 0 0,01 0,02 0,03 0,04 0,05 0,06 70 71 72 73 74 75 C a lo r re ti ra d o ( w ) Valor do sinal (bits) Curva Real Aproximação linear Figura 18 – Curva do calor retirado e respectiva aproximação linear para valores de sinal entre 70 e 75 Fonte: autoria própria Fonte: autoria própria Figura 19 – Curva do calor retirado e respectiva aproximação linear para valores de sinal entre 76 e 105 26 Figura 20 – Curva do calor retirado e respectiva aproximação linear para valores de sinal entre 106 e 205 Fonte: autoria própria Tabela 3 – Valores de R² e respectivas equações para Qout Fonte: autoria própria Com todas as variáveis definidas pode-se elaborar uma equação para o sinal enviado pelo Arduino. Adotando o seguinte formato para uma equação genérica para Qout, tem-se que: 𝑄𝑜𝑢𝑡 = 𝑥𝑈 − 𝑦 (3.9) Onde x e y são constantes mostradas na tabela 3. Substituindo os termos Qin e Qout na equação 3.1, o modelo matemático que define taxa de variação da temperatura em função do tempo é: Intervalo do sinal Valor de R² Equação 70 a 75 0,94 𝑄𝑜𝑢𝑡 = 0,0111𝑈 − 0,7775 76 a 105 0,92 𝑄𝑜𝑢𝑡 = 0,0023𝑈 − 0,1102 106 a 215 0,91 𝑄𝑜𝑢𝑡 = 0,0002𝑈 + 0,1109 0,125 0,13 0,135 0,14 0,145 0,15 0,155 106 205 C a lo r re ti ra d o ( w ) Valor do sinal (bits) Curva real Aproximação linear 27 𝑑𝑇 𝑑𝑡 = ℎ𝐴∆𝑇 − 𝑥𝑈 + 𝑦 𝑚𝑐 (3.10) O método de controle de linearização por realimentação divide o modelo matemático em duas partes. Para um caso genérico, uma equação de primeira ordem é dividida da seguinte maneira: 𝑑𝑥 𝑑𝑡 = 𝑏𝑈 + 𝑓 (3.11) Ao comparar as duas equações, chega-se em um valor para b e f: 𝑏 = −𝑥 𝑚𝑐 (3.12) 𝑓 = ℎ𝐴∆𝑇 + 𝑦 𝑚𝑐 (3.13) Por fim, o termo que controla o sistema, U, é definido por: 𝑈 = 1 𝑏 (−𝜆 𝑥𝑒 − 𝑓) (3.14) Substituindo os termos, chega-se em: 𝑈 = 𝑚𝑐 𝑥 (𝜆 𝑇𝑒 + ℎ𝐴∆𝑇 + 𝑦 𝑚𝑐 ) (3.15) 28 3.4 Prova que T→Td quando t→∞ Substituindo o valor de U na equação 3.10 e realizando as simplificações necessárias, a seguinte equação diferencial ordinária de primeira ordem é obtida: 𝑑𝑇 𝑑𝑡 = −𝜆𝑇𝑒 (3.15) Pode-se manipular os termos da seguinte maneira: 𝑇𝑒 = 𝑇 − 𝑇𝑑 ∴ 𝑑𝑇𝑒 𝑑𝑡 = 𝑑𝑇 𝑑𝑡 − 𝑑𝑇𝑑 𝑑𝑡 (3.16) Sabe-se que Td é uma constante, portanto sua taxa de variação em função do tempo é nula. Dessa forma as taxas das variações temporais do erro e da temperatura da placa de alumínio são iguais. Fazendo a substituição o resultado é: 𝑑𝑇𝑒 𝑑𝑡 = −𝜆𝑇𝑒 ∴ 𝑑𝑇𝑒 𝑑𝑡 + 𝜆𝑇𝑒 = 0 (3.17) Essa é uma equação diferencial ordinária de primeira ordem, com a seguinte solução: 𝑇𝑒 = 𝑘1 𝑒𝜆𝑡 (3.18) Onde k1 é uma constante qualquer. Para t→∞, o denominador do lado direito da solução tende ao infinito, fazendo com que Te→0, ou seja, T→Td. 29 4. EXPERIMENTO Para avaliar o comportamento no método de linearização por realimentação aplicado ao controle de temperatura através de placas Peltiers, foi montado uma bancada de testes. A bancada consiste em um controlador Arduino, responsável por emitir o sinal para as placas, todos os componentes eletrônicos necessários, as placas peltiers, um dissipador de calor para sua refrigeração e uma fonte de energia elétrica. O objetivo é comparar o método de linearização por realimentação com o método tradicional de controle de muitos sistemas encontrados na indústria, chamado de método on/off. 4.1 Resultados e discussões Com base nos dados obtidos durante os experimentos com os métodos de linearização por realimentação e on/off, foram feitos gráficos de temperatura, valor do sinal e erro, todos em função do tempo. Foi estabelecida uma temperatura alvo de 21 graus Celsius para ambos os métodos, partindo de uma temperatura de aproximadamente 27 graus Celsius. 4.1.1 Comportamento da temperatura em função do tempo Analisando o gráfico obtido, é possível perceber que o método de linearização por realimentação foi eficaz nos dois aspectos citados. A temperatura alvo foi atingida aproximadamente 110 segundos após o acionamento do sistema e se aproximou bastante do valor alvo. O erro no valor da temperatura será discutido mais à frente. Em comparação com o método on/off, fica claro a vantagem de variar a potência do sistema à medida em que o valor lido pelo sensor se aproxima do valor desejado. Como esperado, o método on/off apresentouoscilações após convergir para o valor alvo da temperatura. Isso ocorre porque, após o valor ser atingido, a placa de alumínio continua a perder calor para as placas Peltier, diminuindo sua temperatura. Após alguns segundos a temperatura começa a subir, e o sistema é acionado novamente. Esse ciclo não ocorre no método de 30 linearização por realimentação, e foi observado que ele se repete indefinidamente para o sistema de placas Peltier. Figura 21 – Gráfico T x t Fonte: autoria própria 4.1.2 Comportamento do valor do sinal emitido pelo controlador em função do tempo O valor do sinal emitido pelo controlador é responsável por gerir a potência que está sendo utilizada pelo sistema. Analisar o comportamento desse sinal é importante para avaliar diferentes aspectos relacionados a utilização de um sistema que gera qualquer forma de potência. Diversos fatores, tais como dimensionamento, manutenção e consumo de energia, são melhor compreendidos e podem ser otimizados quando uma análise desse tipo é feita. A curva do valor do sinal no método de linearização por realimentação apresentou as características esperadas: houve diminuição gradual da potência antes da temperatura da placa de alumínio chegar na temperatura desejada, e em seguida o sinal se manteve estável. O gráfico também demonstra certa oscilação do sinal antes da sua estabilização. O principal motivo para essa oscilação se deve a geração de ruído encontrada na entrada de dados dos 15 17 19 21 23 25 27 29 0 15 30 45 60 75 90 105 120 135 150 165 180 195 210 225 240 T e m p e ra tu ra ( ºC ) Tempo (s) Método de linearização por realimentação Método On/Off 31 sensores. Os dados obtidos pelo sensor de temperatura foram filtrados pelo recurso de média móvel, colocando a oscilação do sinal em níveis que não prejudicaram os resultados finais. O método on/off também apresentou resultados dentro do esperado. Como foi previsto, o sinal se mantém estável em potência máxima até a temperatura desejada ser alcançada, e em seguida ocorre o desligamento do sistema, repetindo esse ciclo indefinidamente. Outra desvantagem do método on/off em relação a linearização por realimentação são os picos de corrente todas as vezes em que o sistema é ligado, o que ocorreu em média a cada 60 segundos no teste realizado. De acordo com BARROS (2010), 68% da energia elétrica consumida pela indústria no Brasil é utilizada para o acionamento de motores elétricos. Por esse motivo, no que tange o consumo de energia elétrica, o método de linearização por realimentação leva vantagem sobre o método on/off. Outro problema associado aos picos de corrente está nas quedas de tensão que ocorrem durante esses picos. Em muitos casos essa queda de tensão ultrapassa o limite calculado no projeto da instalação, podendo provocar quedas de energia e danos aos equipamentos conectados a ela (MAMEDE FILHO,2013). A quantificação da potência utilizada em cada método requer sensores de corrente elétrica e diferença de potencial elétrico, que não fazem parte da bancada deste experimento. Entretanto, através do recurso de média quadrada aplicado ao valor do sinal, pode-se fazer uma aproximação grosseira da energia utilizada em cada método, considerando que o valor do sinal tem uma relação diretamente proporcional com a potência utilizada pelo sistema. Para o método on/off, a média quadrada do sinal foi de 188,34 bits, e para o método de linearização por realimentação foi de 160,92 bits, o que representa uma redução no consumo de energia de 14,56%. É importante ressaltar que nesta aproximação os picos de corrente presentes no método on/off não fazem parte do resultado. Sendo assim, uma análise quantitativa utilizando os sensores necessários revelarão uma economia de energia ainda maior. 32 Figura 22 – Gráfico U x t Fonte: autoria própria 4.1.3 Análise do erro O erro medido no sistema é o resultado da subtração da temperatura medida pela temperatura desejada. O gráfico do erro em função do tempo é semelhante portanto ao da temperatura. No método de linearização por realimentação, o erro se estabiliza em -0,31 °C, ou seja, a temperatura final alcançada está abaixo da temperatura desejada. Para o método on/off, a oscilação do erro corresponde a variação da temperatura, variando entre -0,12 e 0,96 ºC. É importante ressaltar que um sistema com maior capacidade de remoção de calor iria diminuir essa oscilação, uma vez que a temperatura iria atingir um menor valor após o religamento do sistema. A variação da temperatura encontrada no método on/off já teve sua causa discutida nas seções anteriores. Em valores relativos, o erro médio encontrado nesse método foi de aproximadamente 2,2%, contra apenas um valor próximo a 1,5% do método de linearização por realimentação. É possível então concluir 0 50 100 150 200 250 0 30 60 90 120 150 180 210 240 V a lo r d o s in a l Tempo (s) Método de linearização por realimentação Método on/off 33 que o método de linearização por realimentação, além de ser mais eficaz do ponto de vista energético, também é mais preciso que o método on/off. O erro encontrado no método de linearização por realimentação pode ser explicado pelo ruído e precisão dos sensores. Como explicado anteriormente, os dados obtidos pelos sensores trazem consigo algum ruído proveniente de outros componentes ligados no circuito. Esse ruído gera um pequeno erro na medição, ocasionando o erro após a estabilização da temperatura. Outro entrave para conseguir um resultado mais preciso é a precisão dos sensores. O termistor utilizado possui uma imprecisão de medição de 0,5%, impedindo a obtenção de resultados mais precisos. Entretanto, os erros não foram significativos e os resultados ficaram muito próximos do desejado. Ainda assim, para uma aplicação nobre pode-se utilizar componentes mais precisos para obter melhores resultados. Figura 23 – Gráfico Te x t Fonte: autoria própria -1 0 1 2 3 4 5 6 7 0 15 30 45 60 75 90 105 120 135 150 165 180 195 210 225 240 E rr o ( ºC ) Tempo (s) Método de linearização por realimentação Método on/off 34 5. CONCLUSÃO O trabalho consistiu em aplicar e comparar dois métodos de controle para a refrigeração de uma placa de alumínio utilizando placas Peltier. Os métodos de controle utilizados, linearização por realimentação e on/off, foram implementados através de um Arduino, que também foi responsável pela aquisição de dados. A escolha das placas Peltier como elemento refrigerador, e do Arduino como processador visou simplificar o sistema de controle, visto que esses dois componentes são de fácil utilização e de baixo custo. Ao montar a bancada, as expectativas sobre as placas Peltier e o Arduino foram confirmadas. Avaliando os resultados, o sistema como um todo funcionou satisfatoriamente na aplicação dos dois métodos de controle estudados e também na aquisição de dados. A análise dos dados obtidos ao colocar em funcionamento os dois métodos de controle trouxe os comportamentos previstos em cada método. Para o on/off, houve oscilação da temperatura após o valor desejado ser atingido. Já para o método de linearização por realimentação, a temperatura desejada foi alcançada de forma suave e se manteve constante após a convergência para o valor alvo. O valor do sinal representa a potência enviada para o sistema, e os resultados revelaram grandes diferenças entre os métodos analisados. Por possuir apenas dois modos de operação possíveis, que são desligado ou potência total, o método on/off apresentou uma grande amplitude no valor do sinal enviado. Já o método de linearização por realimentação tem uma curva de sinal que cai gradualmente em função do tempo, evitando acionamentos bruscos do sistema. Isso evita picos de corrente no sistema, que játiveram suas consequências explicadas. Por fim foi feita a análise do erro de cada método após a curva da temperatura assumir um comportamento constante. Além da já citada oscilação, o método on/off apresentou um erro 47% maior entre a temperatura obtida e a temperatura desejada quando comparado com o método de linearização por realimentação. Foi possível então concluir que o método de linearização por realimentação pode substituir o tradicional método on/off para controle de diversos equipamentos, tais como sistemas de refrigeração, fornos industriais e bombas hidráulicas. Foram apresentadas vantagens na estabilidade da 35 temperatura, no gerenciamento da potência fornecida e precisão do sistema. A desvantagem nesta substituição seria a complexidade e o custo da operação, fatores que ainda assim não impedem sua implementação. Sugere-se para trabalhos futuros o uso de sensores capazes de medir corrente elétrica, permitindo uma análise quantitativa da economia de energia elétrica ao implementar o método de linearização por realimentação. Outra sugestão é testar o método de controle em sistemas utilizados na indústria, tais como fornos elétricos e sistemas de refrigeração. Experimentos assim possibilitariam uma melhor compreensão da efetividade do método em diferentes equipamentos. 36 REFERÊNCIAS BARROS, Benjamim Ferreira de; BORELLI, Reinaldo; GEDRA, Ricardo Luis. Gerenciamento de energia: ações administrativas e técnicas de uso adequado da energia elétrica. São Paulo-SP: Érica Ltda., 2010. BAÚ DA ELETRÔNICA. Capacitor Eletrolítico 10uF / 25V. 2019. 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Transferência de Calor e Massa: UMA ABORDAGEM PRÁTICA. 4. ed. Porto Alegre: Amgh, 2012. 416 p. 37 ÇENGEL, Yunus; BOLES, Michael. TERMODINÂMICA. 7. ed. Porto Alegre: Amgh, 2013. 1035 p. EASY TROM LABS. Arduino Lab 14 – Controle de temperatura com placas Peltier – Parte 1. 2017. Disponível em: <https://easytromlabs.com/arduino/arduino-lab-14-controle-de-temperatura- com-placas-peltier-parte-1/>. Acesso em: 05 fev. 2019. ELECTRONICA EMBAJADORES. TIP 120. 2019. Disponível em: <https://www.electronicaembajadores.com/pt- PT/Productos/Detalle/SMTRTIP120/semicondutores/transistores/transistor- tip120-npn-60-v-5-a-to-220>. Acesso em: 19 fev. 2019. INCROPERA, Frank et al. Fundamentos de Transferência de Calor e de Massa. 6. ed. Rio de Janeiro: Ltc, 2008. 657 p. LEARNING ABOUT ELECTRONICS. Calculadora de Filtro Passa- Baixa. 2014. Disponível em: <http://www.learningaboutelectronics.com/Artigos/Calculadora-de-filtro-passa- baixa.php>. Acesso em: 15 mar. 2019. LOCATELI, Cristiano Cardoso. 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