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1 5º SEMESTRE 2021.2 – UNIFTC HEMATOLOGIA JULIANA OLIVEIRA ANEMIAS HEMOLÍTICAS O QUE É? Hemólise consiste na diminuição de sobrevida da hemácia, o tempo médio de vida de uma hemácia é de 120 dias ou 4 meses, desse modo, toda vez que se tem uma redução do tempo de vida de uma hemácia por sua destruição, é chamado de anemia hemolítica. O grande marcador de uma anemia hemolítica é a reticulocitose desde que não haja sangramento recente¹, por que há uma alta produção de eritropoietina a fim de compensar essa perda ou correção de deficiência de minerais ou vitaminas². Pode ser que se tenha mecanismos de anemia hemolítica em um indivíduo, mas algumas das condições já citadas que são necessárias para a produção de células vermelhas estejam faltando. Logo, é importante saber que a reticulocitose é um marcador de anemia hemolítica, mas pode-se ter um contexto de uma anemia hemolítica sem reticulocitose caso não haja condições adequadas para produzir reticulócitos. Mecanismos de hemólise sem mecanismos compensatórios → NÃO há reticulocitose. CLASSIFICAÇÕES Intrínseco ou extrínseco à hemácia: Ao falar de anemias hemolíticas ou essa hemácia está se destruindo por problemas intrínsecos ou extrínsecos. ➔ Intrínsecos: Dentro da hemácia. ▪ Problemas na citoarquitetura. ▪ Problemas de membrana. ▪ Problemas de enzima. ➔ Extrínsecos: Fora da hemácia. p.ex. sequestro esplênico. Hereditária ou adquirida: ➔ Hereditário: Existe uma regre que geralmente quando se tem uma anemia intrínseca (enzima, conteúdo do citoplasma e membrana) o mecanismo é hereditário p.ex. G6PD, piruvato kinase, anemia falciforme, talassemia. ➔ Adquiridas: Em sua maioria são causadas por causas extrínsecas. P.ex. doença hepática, hiperesplenismo, infecções, medicamentos → agentes oxidantes, toxinas, infusão de solução hipotônica e microangiopatia. Aguda ou crônica: ➔ Aguda; ➔ Crônica; Intravascular ou extravascular: A clínica do paciente vai direcionar se é primariamente intravascular ou extravascular. ➔ Intravascular: Tudo o que ocorre dentro do vaso. São mais perigosas, pois, causam grandes danos estruturais em membrana da hemácia. Tem-se um dano muito abrupto de modo que a hemácia não consegue se manter e libera hemoglobina livre no sangue, o que é altamente tóxico. - Hemoglobina livre é liberada em grande quantidade no sangue e também sai pela urina. - Hemoglobina livre → ligação à haptoglobina, é um mecanismo de defesa do nosso corpo para retirar a hemoglobina livre da circulação. Toda hemólise intravascular vai consumir a haptoglobina, no entanto, a haptoglobina é uma proteína que é produzida diante de todo processo agudo de inflamação, ou seja, não dá para esperar haptoglobina baixa consumida em pacientes que possuem anemia hemolítica e algum processo inflamatório agudo. ➔ Extravascular: Tudo o que ocorre por destruição de hemácias secundária a fagocitose por macrófagos do sistema reticuloendotelial. Normalmente, nesses casos a hemácia tem algum defeito em sua superfície e a sua destruição vai ocorrer no fígado, no baço, na medula e nos linfonodos, ou seja, não será dentro do vaso. De modo que haverá tempo para que os macrófagos destruam a hemácia e consigam digerir o heme em biliverdina e a biliverdina em biliverdina indireta. O ferro é levado para a medula para ser reaproveitado, o monóxido de carbono é excretado do organismo. Logo, não é que o caso não seja grave, mas é menos grave que o intravascular já que o organismo tem tempo para degradar a hemoglobina sem apenas liberá-la na corrente sanguínea. HEMÁCIAS Para ela ter a capacidade de ser deformável é importante que ela tenha: ▪ Membrana e citoesqueleto deformáveis. ▪ A proporção entre a superfície e o volume dessa hemácia precisam estar em um nível em que o volume não exceda a superfície. ▪ Sistema enzimático. É importante lembrar que a hemácia é anuclear, logo, é uma célula muito suscetível a toxinas, por isso é extremamente importante um sistema enzimático bem regulado, para que seja possível destruir as toxinas sem que elas danifiquem a estrutura da hemácia. 2 5º SEMESTRE 2021.2 – UNIFTC HEMATOLOGIA JULIANA OLIVEIRA CAUSAS DE ANEMIA HEMOLÍTICA ➔ Causas não imunes: ▪ Hereditária: - Deficiência enzimática. - Hemoglobinopatias. - Defeitos de membrana. ▪ Adquirida: - Doença hepática - Hiperesplenismo - Infecções - Medicamentos → agentes oxidantes - Toxinas - Infusão de solução hipotônica - Microangiopatia ➔ Causas imunes: ▪ Anemia hemolítica por anticorpo quente ▪ Anemia hemolítica induzida por drogas ▪ Reações transfusionais → quanto menos transfunde menor anticorpos o pcte tem. ▪ Hemoglobinúria paroxística a frio “donath landsteimer”. ▪ Hemoglobinúria paroxística nocturrnal ▪ Cold agglutinin disease ▪ Infusão intravenosa de IVIG or anti-RhD imune globulin HISTÓRIA + EXAME FÍSICO Se o paciente tem uma hb de 15 e tem anemia hemolítico, ele corre o risco de ter uma oscilação brusca nos valores de hemoglobina p.ex. de 15 a 7, de 7 a 15, queixando-se de uma síndrome anêmica súbita, que consiste em uma síndrome secundária à anemia não compensada que ocorre em decorrência à falta de oxigênio, apresentando icterícia, astenia, dispneia, palidez, sem apresentar sangramento. Os pacientes que apresentam anemia hemolítica tendem a apresentar icterícia devido a produção de bilirrubina indireta que se acumula nas mucosas. Toda vez que houver hemólise intravascular a bilirrubina circulará no sangue e na urina, ou seja, a urina tende a ficar escura, recebendo o nome de hemoglobinúria. O paciente pode referir transfusão sanguínea recente, logo, deve-se suspeitar de reações hemolíticas tardias, ou ainda introdução recente de uma nova medicação. Devemos investigar a existência de quadros de anemia hemolítica prévia e familiares com o mesmo quadro → causas genéticas. Anemia súbita + esplenomegalia que é um mecanismo de anemia extravascular. EXAMES COMPLEMENTARES ➔ Hemograma: É importante investigar por meio do hemograma se esse quadro se trata de uma anemia isolada ou manifestação aguda de uma doença que está na base como p.ex. lúpus ➔ LDH, bilirrubina indireta. ➔ Reticulócitos: Não devemos descartar anemia hemolítica caso não se tenha reticulocitose visto que pode haver falta de algum micronutriente. É importante analisarmos os valores de reticulócitos com a contagem corrigida para o grau de anemia do paciente. Mas como corrigir? % de reticulócitos x (ht do paciente/ht normal) ➔ Haptoglobina: Não se pode confiar isoladamente nesse exame de forma isolada, visto que é um reagente positivo de fase de inflamação. ➔ Coombs direto: Analisar se tem anticorpos reagindo contra a minha própria hemácia. Autoanticorpo → agregado à superfície da hemácia. Aloanticorpo → não agregado à superfície da hemácia. No coombs indireto utiliza-se o soro do paciente com uma hemácia do laboratório. No coombs direto utiliza-se a hemácia do paciente com soro do laboratório. Teste de coombs com aglutinação → prova-se que na superfície da hemácia tem-se anticorpo IgG ou complemento ou os dois.Crioaglutinina é IgM! ➔ Pesquisa de esquizócitos: Esquizócitos são fragmentos de hemácia, é um marcador de subgrupo de anemias microangiopáticas. Normalmente quando esse exame é positivo o coombs direto é negativo. ➔ Sumário de urina: Importante para analisar se há hemoglobinúria ou não. 3 5º SEMESTRE 2021.2 – UNIFTC HEMATOLOGIA JULIANA OLIVEIRA DEFICIÊNCIA DE G6PD É uma doença hereditária ligada ao X, logo, os homens vão manifestar mais essa doença do que as mulheres, visto que os homens possuem apenas um X sem chance de compensação, consiste em um defeito enzimático em hemácias mais comum em crianças. Nossa hemácia é cheia de oxidantes, como qualquer célula, e os oxidantes levam a produção de H2O2 o qual vai ser degradado em água pela GPx, mas para isso, ela se modificou da sua forma reduzida para a oxidada, e sempre que tem algo oxidado no citoplasma das nossas células é perigoso, então para que essa enzima retorne da forma oxidada para a reduzida e continue a degradar os peróxidos, é necessário que se tenha o NADPH, o qual fornece hidrogênio para a forma oxidada a fim de que ela retorne ao seu estado reduzido e o NADPH retorna ao NADP, saindo do seu estado reduzido → oxidado, nesse sentido, quem faz a restauração do NADP é a G6PD, assim, para que seja possível reduzir os oxidantes das células é necessário que se tenha as enzimas GPx, GSR e G6PD e quem finaliza tudo é o G6PD. Mas então qual o problema? O grande problema é que quem tem mutações no gene do G6PD até consegue produzir essa enzima nas hemácias, mas tem uma meia vida curta, e com o tempo essa enzima deixa de funcionar, se ela deixa de funcionar, se ela deixa de funcionar o NADPH não será reduzido, se o NADPH não for reduzido ele não consegue reduzir a glutationa (GSH), se ela não consegue ser reduzida a glutationa fosforilase não consegue degradar o peróxido, assim, com a deficiência de G6PD há um acúmulo de metabólitos oxidativos extremamente grave no citoplasma, de modo que haverá destruição da célula visto que o oxigênio irá degradar as estruturas. ➔ Variantes de G6PD: ▪ Classe I: Severa G6PD <10% no citoplasma, anemia crônica. ▪ Classe II: Severa, anemia intermitente em surtos ▪ Classe III: Moderada G6PD >10% no citoplasma, é intermitente, ocorrendo em surtos. ▪ Classe IV: Sem defeito ou hemólise ▪ Classe V: Atividade aumentada. ➔ Manifestações clínicas: ▪ Pode-se ter desde pacientes assintomáticos que manifestam a anemia quando expostos a situações de estresse oxidativo como o uso de determinados medicamentos, alimentos p.ex. consumo de fava, desse modo, quando expostos as células acumulam toxinas e por não ter G6PD não conseguem degradar as toxinas e a hemácia se destrói. ▪ Pacientes que apresentam uma anemia intermitente, ou seja, com períodos de remissão. ▪ Pacientes com icterícia neonatal e anemia crônica → classe I. É importante fornecer ao paciente que tem G6PD uma tabela que liste todos os alimentos/medicamentos que devem ser evitados por ele. ➔ Quadro clínico: Imediatamente o paciente 2 a 4 dias após o uso de um determinado medicamento irá cursar com anemia, icterícia, palidez, hemoglobinúria e dor abdominal e dor dorsal. Normalmente no achado periférico tem-se hemácias com mordeduras e hemácias com bolhas em seu citoplasma que são as “british cells”. Com a destruição das hemácias há o aumento de eritropoietina no sangue, de modo que ela sai do rim e vai para a medula, demorando cerca de 5 a 7 dias para que ela estimule a célula tronco à produzir a hemácia e essa hemácia se transforme em reticulócitos. 5 dias → reticulose 7 a 10 dias → pico de reticulócitos. É uma doença auto-limitada, pois quando há a produção de reticulócitos há uma recuperação rápida do quadro visto que esses reticulócitos possuem bastante G6PD, ou seja, as hemácias não são produzidas sem G6PD, no entanto, o perdem com tempo. https://www.google.com/search?sxsrf=ALeKk01hTuAnwtFcQHqt4-Jo0HjmoLoMdg:1629754750036&q=hem%C3%A1cias+com+bolhas+british+cells&spell=1&sa=X&ved=2ahUKEwid8sjHjcjyAhXdrJUCHadwA0oQBSgAegQIARA1 4 5º SEMESTRE 2021.2 – UNIFTC HEMATOLOGIA JULIANA OLIVEIRA ➔ Diagnóstico: Não se deve testar a deficiência de G6PD em uma hemólise aguda, pois, nesse momento tem-se uma destruição de todas as hemácias pobres em G6PD, nem 3 meses após a hemólise, pois, nesse período haverá muitas hemácias jovens circulando e ainda haverá uma quantidade de G6PD satisfatória, no entanto, falsa. Mas então quando deve ser feito o teste de deficiência de G6PD? 3 meses após um evento de hemólise. Caso o paciente tenha crises recorrentes deve-se esperar estabilizar. ➔ Conduta: ▪ Tentar melhorar o organismo desse paciente reduzindo os metabólitos p.ex. se ele usou algum medicamento que causou isso eu vou retirar a droga, etc. ▪ Se o pcte tem hemólise crônica devo suplementar esse paciente com ácido fólico. ▪ Hidratação. ▪ Transfusão. ▪ Restrição dietética.