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@STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA II 1 A acetilcolina (Ach) atua como neurotransmissor em diferentes tipos de receptores colinérgicos. São eles: receptores pré-ganglionares tanto do sistema nervoso autônomo (SNA) simpático como parassimpático; receptores pós-ganglionares do SNA parassimpático e em alguns do simpático; receptores pré e pós- sinápticos no sistema nervoso central (SNC); e receptores pós-juncionais da junção neuromuscular. Os receptores colinérgicos são classificados em muscarínicos e nicotínicos. Estas denominações advêm de estudos dos efeitos colinérgicos obtidos com o emprego dos alcaloides muscarina (obtido de um cogumelo) e nicotina (encontrada em um arbusto). Os agonistas e antagonistas colinérgicos têm como ação principal estimulação ou bloqueio das células efetoras (pós-ganglionares) do SNA parassimpático, respectivamente. Assim, drogas que produzem respostas semelhantes àquelas obtidas após estimulação do SNA parassimpático são denominadas colinérgicas, colinomiméticas ou parassimpatomiméticas. Neste grupo também estão incluídos a Ach e vários ésteres da colina intimamente relacionados, os quais são agonistas muscarínicos e/ou nicotínicos. @STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA II 2 Dentre as substâncias colinomiméticas, encontram-se também os agentes de ação indireta ou agentes anticolinesterásicos, que mimetizam as ações da Ach pela inibição da enzima colinesterase, responsável pela degradação da Ach. Por outro lado, há, também, drogas antagonistas ou bloqueadores de receptores colinérgicos muscarínicos, denominados anticolinérgicas ou parassimpatolíticos, ou ainda, mais especificamente, antimuscarínicos. As drogas colinérgicas mimetizam os efeitos da estimulação dos neurônios colinérgicos, atuando diretamente em receptores da Ach, por isto são denominadas de drogas colinérgicas de ação direta. Classificação As drogas colinérgicas de ação direta podem ser classificadas, segundo sua estrutura química em dois grupos: (a) alcaloides naturais e análogos sintéticos e (b) ésteres da colina. Alcaloides naturais e análogos sintéticos É um alcaloide presente no cogumelo Amanita muscaria e espécies relacionadas. Foi o agente utilizado para caracterizar o receptor muscarínico. Apresenta absorção mais limitada. É um alcaloide encontrado nas folhas de arbustos do gênero Pilocarpus, característico da América do Sul. É o alcaloide obtido das nozes de betel, Areca catechu. É uma substância sintética utilizada como instrumento em pesquisa, para o estudo da ativação de receptores muscarínicos. É substância sintética com ação em receptores muscarínicos do subtipo M1. Ésteres da colina É o neurotransmissor endógeno das sinapses e junções neuroefetoras dos sistemas nervosos central e periférico. Não tem aplicação terapêutica devido à sua ação difusa e rápida hidrólise pela acetilcolinesterase (AchE) e butirilcolinesterase. Por estas razões, utilizam-se derivados sintéticos com ação mais seletiva e efeitos mais prolongados. A sua estrutura é um composto de amônio cuja ação no sistema nervoso central (SNC) é limitada. @STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA II 3 A ação da metacolina é mais prolongada porque ela é hidrolisada pela AchE em uma taxa mais lenta do que a Ach e é totalmente resistente à hidrólise pela colinesterase inespecífica ou butirilcolinesterase. Também denominado carbamilcolina, pois sua estrutura é um éster carbamílico da colina. É resistente à hidrólise pelas enzimas AChE e colinesterase inespecífica. Tanto o carbacol quanto o betanecol são ésteres carbamílicos não substituídos; são totalmente resistentes à hidrólise pela AchE ou butirilcolinesterase. Assim, suas meias-vidas são mais longas e podem ser distribuídos para áreas ou estruturas com pouca circulação sanguínea. Mecanismo de ação das drogas colinérgicas O mecanismo de ação dessas drogas depende do tipo e da localização dos receptores colinérgicos muscarínicos. Tais receptores são encontrados principalmente nas células efetoras autônomas inervadas pelos neurônios parassimpáticos pós-ganglionares, também estão presentes no cérebro, nos gânglios e em algumas células, como dos vasos sanguíneos. Esses receptores pertencem à família de receptores acoplados a proteínas G. Os subtipos de receptores são designados como: M1 Também conhecido como “neural” dada sua extensa distribuição no SNC no córtex e hipocampo. É também encontrado nos gânglios autonômicos, por esta razão, alguns autores o denominam receptor “ganglionar”. Também está localizado em células parietais gástricas. M2 É designado “cardíaco”, presente em átrios, tecido de condução, músculo liso, no SNC; na próstata está envolvido na contração. Está localizado tanto na pós-sinapse de células musculares quanto na pré- sinapse de neurônios, nos quais regula a resposta colinérgica por reduzir a liberação de acetilcolina na fenda sináptica. Na localização pós-juncional, pode reduzir a habilidade de agonistas beta- adrenérgicos (endógenos ou drogas) em diminuir o tônus das células musculares. @STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA II 4 M3 Ou “glandular”, parece estar presente em glândulas exócrinas, músculo liso e endotélio vascular. M4 Foi descrito no pulmão e no SNC (corpo estriado, córtex e hipocampo), olhos, pulmão e coração. É um receptor pré-sináptico e que faz autoinibição da liberação de acetilcolina em terminações nervosas. M5 Encontrado no SNC (substância negra e área tegmental ventral) e regula a liberação de dopamina na via mesolímbica. Os receptores M1 e M3 estão associados à proteína Gq que, por sua vez, ativa a fosfolipase C, responsável pela formação do segundo mensageiro, trifosfato de inositol (IP3). Os receptores M2 e M4 apresentam 2 vias efetoras diferentes: a primeira pela inibição da adenilciclase (via proteína Gi/o), resultando em diminuição da síntese de cAMP, e a segunda através da proteína G, regulando a abertura de canais de potássio. Com relação às ações dos ésteres da colina e dos alcaloides colinomiméticos nos receptores muscarínicos, sabe-se que não existe seletividade desses compostos para os subtipos de receptores muscarínicos. Todavia, esta seletividade é encontrada em alguns antagonistas muscarínicos como a pirenzepina (M1) e a metoctramina (M2 e M4). Muscarina Foi o agente utilizado para inicialmente caracterizar o receptor muscarínico. @STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA II 5 Pilocarpina Esta droga apresenta tanto ações muscarínicas quanto nicotínicas, entretanto, atua predominantemente em receptores muscarínicos. Os efeitos da pilocarpina sobre glândulas são particularmente pronunciados, induzindo aumento da secreção de saliva e sudorese, além de aumento da secreção brônquica. Este composto apresenta efeitos discretos sobre o coração e o sistema gastrintestinal (SGI). Todavia, produz contração intensa do músculo liso da íris, e por essa razão é amplamente empregado no tratamento do glaucoma. Arecolina Atua tanto em receptores muscarínicos como em nicotínicos. Oxotremorina É uma droga sintética, utilizada como instrumento em pesquisa para o estudo da ativação de receptores muscarínicos do subtipo M1. McN-A-343 Substância sintética com ação em receptores muscarínicos M1. Carbacol Atua tanto em receptores muscarínicos quanto em nicotínicos, principalmente nos gânglios autonômicos. Metacolina Apresentaação nicotínica discreta e atua preferencialmente em receptores muscarínicos. Betanecol Atua predominantemente em receptores muscarínicos, com alguma seletividade no SGI e na motilidade vesical. Efeitos farmacológicos Os efeitos dos agonistas colinérgicos muscarínicos equivalem aos efeitos dos impulsos nervosos parassimpáticos pós-ganglionares, diferindo muito mais na potência do que na seletividade entre os diferentes subtipos de receptores muscarínicos. De modo geral, tanto os alcaloides naturais ou sintéticos como os ésteres da colina apresentam ações farmacológicas bastante similares Músculo liso Promovem aumento da musculatura lisa e relaxamento de esfíncteres de todo organismo animal. Assim, observa-se no sistema gastrintestinal aumento do tônus e da motilidade; há também contração da vesícula biliar. @STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA II 6 O uso de altas doses provoca espasmo pronunciado e tenesmo. Observa-se ainda aumento da atividade secretora do SGI. O aumento da motilidade pode ser acompanhado de náuseas, eructações, vômitos, cólicas intestinais e defecação. No sistema urinário observa-se contração da bexiga e ureteres. Os ésteres da colina aumentam a peristalse uretral, contraem o músculo detrusor da bexiga, aumentam a pressão miccional voluntária máxima e reduzem a capacidade vesical. Além disso, o trígono e o esfíncter externo são relaxados. Na musculatura brônquica observam- se broncoconstrição e aumento da secreção das glândulas traqueobrônquicas. A pilocarpina, quando aplicada topicamente no olho, causa constrição pupilar, espasmo da acomodação e elevação transitória da pressão intraocular, seguida de uma redução mais persistente. A miose dura de poucas horas até 24 h, porém o efeito sobre a acomodação visual desaparece em cerca de 2 h. Glândulas Esses compostos produzem estímulo da secreção de glândulas sudoríparas, lacrimais, brônquicas, salivares e de todo sistema digestório. A muscarina, a pilocarpina e a arecolina são diaforéticos (sudoríficos) potentes. Sistema cardiovascular A Ach produz quatro efeitos principais no sistema cardiovascular: vasodilatação, redução da frequência cardíaca (efeito cronotrópico negativo), diminuição da taxa de condução nos tecidos especializados dos nodos sinoatrial (SA) e atrioventricular (AV) (efeito dromotrópico negativo) e redução da força de contração cardíaca (efeito inotrópico negativo). Considerando, em particular, a atuação no SNA parassimpático, os efeitos cardiovasculares mais proeminentes que ocorrem após administração intravenosa de Ach consistem em queda pronunciada e fugaz (pois é rapidamente hidrolisada pelas colinesterases plasmáticas) da pressão arterial e bradicardia, mesmo em doses extremamente pequenas Os ésteres da Ach produzem dilatação em quase todos os leitos vasculares, incluindo o pulmonar e o coronariano, devido a suas ações em receptores muscarínicos, principalmente do subtipo M3, que quando estimulados induzem à liberação de óxido nítrico. @STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA II 7 Estes efeitos típicos das drogas colinérgicas de ação direta podem, em parte, ser mascarados pelos mecanismos compensatórios, conduzindo, por exemplo, à taquicardia compensatória. SNC A Ach é uma amina terciária, que possui um átomo de nitrogênio carregado positivamente e, deste modo, praticamente não atravessa a barreira hematencefálica. Entretanto, a administração intracerebroventricular de Ach produz aumento da excitabilidade e podem ocorrer convulsões. A injeção intravenosa de pilocarpina, muscarina e arecolina produz ativação cortical em gatos, semelhante àquela observada após injeção de Ach ou estimulação da formação reticular do tronco cerebral. Usos terapêuticos O uso das drogas colinérgicas de ação direta visando a efeitos terapêuticos (como medicamento) é relativamente limitado em Medicina Veterinária. Pilocarpina Medicamento padrão no tratamento do glaucoma, usa-se solução aquosa 0,5 a 4,0%, no tratamento do glaucoma de ângulo aberto. A redução da pressão intraocular ocorre dentro de poucos minutos e persiste por 4 a 8 h. Deve-se ter cautela quando houver risco de descolamento da retina. A pilocarpina atua no músculo liso do olho, contraindo a pupila (miose), aumentando a drenagem do humor aquoso e reduzindo a pressão intraocular. Algumas formas desta doença podem ser aliviadas pela administração de pilocarpina e anticolinesterásicos, embora a associação da pilocarpina com timolol, um bloqueador adrenérgico, seja também utilizada, havendo, inclusive, formulações comerciais com as duas drogas combinadas. Carbacol Tem sido empregado a 0,01% para produzir miose durante cirurgia ocular. Para a terapia prolongada do glaucoma de ângulo aberto não congestivo, utiliza-se o carbacol a 0,75 a 3%. O carbacol reduz a pressão intraocular em pacientes que se tornaram resistentes aos efeitos da pilocarpina ou do anticolinesterásico fisostigmina. Betanecol É utilizado por via oral, para estimular a contração da bexiga e do sistema geniturinário (SG). Assim, é indicado no tratamento da retenção urinária e esvaziamento incompleto da bexiga, quando não @STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA II 8 houver obstrução mecânica, como ocorre nas retenções urinárias pós- operatória e pós-parto e em alguns casos crônicos de bexiga hipotônica, miogênica ou neurogênica. Após administração do betanecol esses efeitos duram em média 1 h. Sugere-se que receptores M2 podem se opor ao relaxamento da bexiga mediado pelo simpático, e que, adicionalmente, em bexiga de animais são estes os receptores responsáveis pela inibição muscarínica pré-juncional Metacolina Tem sido empregada no diagnóstico da hiperreatividade brônquica e como modelo de estudos de asma. Também é utilizada para aumentar a motilidade gastrintestinal e atenuar a retenção urinária após anestesia ou vagotomia. Arecolina Foi utilizada como anti-helmíntico em cães e gatos, sendo substituída por outros agentes mais eficientes. Cevimelina A cevimelina, agonista de receptores M3 localizados em glândulas salivares e lacrimais, também é um composto de amônio capaz de aumentar secreções em xerostomia e pacientes com síndrome de Sjögren, uma condição que afeta o sistema imune e causa secura de olhos e boca. Efeitos colaterais e contraindicações Os efeitos colaterais das drogas colinérgicas de ação direta são essencialmente caracterizados pela exacerbação do SNA parassimpático. Assim, observam-se mais frequentemente sudorese, cólicas abdominais, eructações, dificuldade de acomodação visual, aumento da secreção salivar e lacrimal. São contraindicadas em pacientes com obstrução intestinal ou urinária. Os portadores de asma brônquica podem ter as crises precipitadas devido às ações broncoconstritoras. A hipotensão e a bradicardia induzidas por estas drogas podem reduzir o fluxo coronariano em pacientes com insuficiência coronariana, podendo levar o animal à morte. A secreção de ácido clorídrico produzido pelos colinomiméticos pode agravar os sintomas de úlcera péptica, sendo, portanto, contraindicados em pacientes com esta enfermidade. Estas drogas também são contraindicadas durante a gestação, pois podem aumentar a motilidade uterina. Em caso de efeitos colaterais graves, deve-se administrar sulfato de atropina (0,5 a 1,0 mg/kg) por via subcutânea ou intravenosa. @STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA II 9 A epinefrina (0,3 a 1,0 mg/kg)por via subcutânea (SC) pode ser associada para controlar as alterações cardiovasculares e o broncospasmo. Estas drogas não atuam em receptores colinérgicos, como as drogas de ação direta, mas inibem a enzima que degrada a Ach, permitindo que esse neurotransmissor permaneça ativo para atuar em receptores colinérgicos. A Ach é hidrolisada por enzimas denominadas, genericamente, colinesterases. Estas enzimas interrompem as ações da Ach nas junções das terminações colinérgicas com seus órgãos efetores ou sítios pós-sinápticos. As drogas que inibem as colinesterases são denominadas anticolinesterásicos e provocam acúmulo de Ach junto aos receptores colinérgicos e, deste modo, são potencialmente capazes de produzir efeitos equivalentes à estimulação excessiva destes receptores no SNC, SNA e na junção neuromuscular. As colinesterases podem ser de dois tipos, de acordo com a especificidade para o substrato e distribuição nos diferentes órgãos. A colinesterase presente no SNC (medula espinal, principalmente nos gânglios da raiz dorsal), nas fibras pré- ganglionares do SNA simpático e parassimpático, nas fibras motoras somáticas que inervam glândulas sudoríparas e na membrana dos eritrócitos possui maior afinidade pela Ach do que pelos outros ésteres e alcaloides colinomiméticos; esta é denominada acetilcolinesterase (AChE), colinesterase verdadeira ou eritrocitária. É sintetizada no corpo celular dos neurônios e transportada pelo axônio até a terminação nervosa. A colinesterase encontrada no plasma, chamada de pseudocolinesterase, falsa colinesterase, colinesterase plasmática ou ainda de butirilcolinesterase (BChE), por apresentar maior afinidade pela hidrólise dos análogos da colina, é sintetizada principalmente no fígado. Classificação Todos os agentes anticolinesterásicos inibem tanto a acetilcolinesterase como a pseudocolinesterase, embora nem sempre na mesma extensão. @STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA II 10 Os efeitos farmacológicos característicos destas drogas são devidos à inibição da acetilcolinesterase. Os anticolinesterásicos podem ser divididos em 2 grupos: inibidores reversíveis das colinesterases (agentes de curta duração) e inibidores irreversíveis das colinesterases, os quais formam complexos estáveis com a enzima (agentes de longa duração). Inibidores reversíveis das colinesterases Estes agentes são antagonistas competitivos das colinesterases. É um alcaloide extraído da fava do calabar, Physostigma venenosum. É uma droga lipofílica que pode atravessar a barreira hematencefálica e produzir efeitos no SNC; é rapidamente absorvida pelo SGI, tecido subcutâneo e mucosas , São anticolinesterásicos que têm dificuldade em atravessar a barreira hematencefálica. Apresentam algumas ações nicotínicas nos músculos esqueléticos, daí advém seu uso como medicamentos no tratamento da miastenia gravis (doença autoimune, na qual são produzidos anticorpos antirreceptores nicotínicos). O ambenônio é um agente de ação mais prolongada, enquanto a neostigmina tem ação mais curta. Estas drogas não são bem absorvidas por via oral, são destruídas e os metabólitos são eliminados pelos rins. É um inibidor reversível da colinesterase de curta duração (3 a 4 min). É usado na espécie humana por via intravenosa (IV), para diferenciar os sintomas de uma crise colinérgica dos sintomas da miastenia gravis; em pacientes miastênicos, produz uma transiente melhora, enquanto em pacientes em crise colinérgica leva a uma transiente piora. Foi também descrito seu uso em ovelhas (0,5 mg/kg) para antagonizar os efeitos dos bloqueadores neuromusculares atracúrio ou mivacúrio. Um carbamato que é classificado como agente anticolinesterásico de segunda geração. É utilizado para o tratamento de pacientes com demência leve, moderada e grave, em particular na doença de Alzheimer. Inibe preferencialmente a colinesterase presente no SNC com duração intermediária (10 h). @STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA II 11 É uma aminoacridina com ação anticolinesterásica; tem duração de efeito que varia de 4 a 6 h. É metabolizada pelo fígado, podendo causar elevação de transaminases (hepatotoxicidade), o que exige monitoramento laboratorial frequente. É um inibidor da colinesterase de ação prolongada, tipo piperidina. Atua preferencialmente na inibição da acetilcolinesterase e secundariamente sobre a pseudocolinesterase. É um alcaloide extraído de Galanthus nivalis que atua como anticolinesterásico e também como agonista nicotínico. No tratamento da doença de Alzheimer este medicamento produz ligeira melhora cognitiva. O inseticida carbarila, que é extensamente utilizado em produtos de jardinagem, inibe a colinesterase de forma idêntica à de outros inibidores carbamilantes; apresenta toxicidade baixa em relação à absorção dérmica. Inibidores irreversíveis das colinesterases Esta classe é formada por inúmeros agentes denominados genericamente de organofosforados. Inclui desde agentes denominados “gás dos nervos” (tabum, sarim e somam), empregados como arma química, até praguicidas usados na agropecuária, produtos domissanitários e medicamentos anti-helmínticos. Produzem fosforilação do sítio esterásico da acetilcolinesterase, formando uma ligação covalente e bastante estável, sendo por isto considerados inibidores não reversíveis das colinesterases. Os “gases dos nervos” estão entre os agentes sintéticos mais conhecidos que existem e são letais para animais de laboratório em baixas doses. A parationa apresenta baixa volatilidade e instabilidade em solução aquosa, disto decorre sua utilização como inseticida. Todavia, é responsável por mais casos de intoxicação acidental e óbito do que qualquer outro composto organofosforado. A malationa é outro inseticida que tem sido empregado na borrifação aérea contra moscas-das-frutas e mosquitos; pode ainda ser encontrado em diversos preparados dermatológicos utilizados para o tratamento da pediculose. @STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA II 12 A dose letal para mamíferos é de cerca de 1 g/kg. Entre os compostos de amônio quaternário, apenas o ecotiofato tem utilidade clínica, para o tratamento de glaucoma; por apresentar uma carga positiva, este composto não é volátil e não penetra a pele com facilidade. Na maioria, os anticolinesterásicos irreversíveis são líquidos altamente lipossolúveis, que podem ser voláteis; são rapidamente absorvidos por diferentes vias: pele, mucosas dos sistemas digestório e respiratório. Após absorção a maioria dos organofosforados sofre a ação de enzimas fosforilfosfatases presentes em vários tecidos e são excretados quase totalmente como produtos de hidrólise na urina. Como estes agentes são altamente lipossolúveis, podem se depositar no tecido adiposo e retornar à circulação posteriormente. Mecanismo de ação dos anticolinesterásicos Carbamatos Os carbamatos se ligam tanto no local aniônico como esterásico da acetilcolinesterase. O edrôfonio produz a mais potente inibição transitória da enzima. Uma inibição prolongada da enzima é obtida com a fisostigmina e a piridostigmina, as quais se comportam como substrato. Os carbamatos têm também propriedade agonista, produzem dessensibilização e bloqueio do canal do receptor nicotínico. Assim, os carbamatos que contêm aminas quaternárias têm atividade anticolinesterásica e bloqueadora de receptores nicotínicos. Organofosforados Estes agentes inibem a colinesterase através da ligação covalente (fosforilação) como grupo hidroxila da serina presente no local esterásico da enzima; alguns organofosforados ligam-se em ambos os sítios ativos desta enzima. Certos agentes tornam-se ativos somente após biotransformação, como, por exemplo, a parationa, que é convertida a paraoxona sendo esta mais tóxica. Por outro lado, a malationa é um praguicida largamente utilizado e, após a biotransformação, resulta em produtos que são rapidamente metabolizados. Foi demonstrado que a parationa e a diazinona também reduzem a função de receptores M2 em concentrações que não inibem a acetilcolinesterase. Isto sugere que alguns organofosforados causam hiperreatividade de vias respiratórias @STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA II 13 através de mecanismos dependentes de receptores muscarínicos, sem que a inibição da enzima seja necessária para a ocorrência de efeitos adversos. Efeitos farmacológicos Os efeitos farmacológicos dos anticolinesterásicos são consequência do acúmulo de Ach em todos os locais em que este neurotransmissor é liberado. Portanto, os efeitos são consequência da estimulação de receptores colinérgicos tanto muscarínicos como nicotínicos. Junção neuromuscular (JNM) Os anticolinesterásicos produzem aumento da contração da musculatura esquelética, dependente de receptores nicotínicos. Após inibição da acetilcolinesterase, o tempo de permanência da Ach na sinapse aumenta, permitindo a ligação do neurotransmissor aos múltiplos receptores colinérgicos nicotínicos. A estimulação excessiva resulta em prolongamento do decaimento do potencial de placa motora. Observa-se excitação assincrônica, bem como fibrilação das fibras musculares. Com inibição suficiente da acetilcolinesterase, a despolarização da placa motora predomina e ocorre bloqueio em virtude da despolarização excessiva. Os sinais clínicos são: fasciculação muscular e contração espasmódica. Os agentes anticolinesterásicos revertem o antagonismo causado pelos bloqueadores neuromusculares competitivos. Sistema gastrintestinal Os anticolinesterásicos promovem aumento das secreções do sistema gastrintestinal, contração da musculatura lisa e relaxamento dos esfíncteres. O efeito dos anticolinesterásicos sobre a motilidade intestinal representa uma combinação de ações sobre as células ganglionares do plexo de Auerbach e sobre as fibras musculares lisas, em consequência da preservação da Ach liberada pelas fibras colinérgicas pré e pós-ganglionares, respectivamente. Sistema respiratório Observam-se broncoconstrição e aumento das secreções, conduzindo a dispneia e respiração ruidosa. Sistema cardiovascular Os efeitos cardiovasculares dos anticolinesterásicos são complexos, pois refletem tanto os efeitos ganglionares quanto os pós- ganglionares do acúmulo de Ach sobre o coração e vasos sanguíneos. Há tendência de predomínio do tônus do SNA parassimpático, conduzindo a bradicardia e vasodilatação, porém em @STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA II 14 consequência de mecanismos compensatórios podem ocorrer episódios de taquicardia e vasoconstrição. Aliado a isto, a Ach liberada na adrenal promove a liberação de norepinefrina/epinefrina, responsáveis pelo predomínio do tônus do SNA simpático. Sistema nervoso central Os compostos terciários como fisostigmina e organofosforados apolares atravessam a barreira hematencefálica e produzem excitação, que pode resultar em convulsões, seguidas de depressão intensa com perda de consciência e insuficiência respiratória. Neurônios periféricos Alguns organofosforados podem produzir desmielinização com fraqueza muscular e perda sensorial. Esse efeito não ocorre com os anticolinesterásicos usados clinicamente. Olhos Quando aplicados diretamente no saco conjuntival, os anticolinesterásicos causam hiperemia da conjuntiva e contração do músculo esfíncter pupilar, causando miose, e do músculo ciliar, promovendo bloqueio do reflexo de acomodação, com consequente focalização para visão próxima. A pressão intraocular, quando elevada, costuma cair em decorrência da facilitação da drenagem do humor aquoso. Glândulas exócrinas Os anticolinesterásicos produzem aumento nas respostas secretoras das glândulas brônquicas, lacrimais, sudoríparas, salivares, gástricas, intestinais e pancreáticas acinares. Usos terapêuticos Os anticolinesterásicos que são rotineiramente utilizados em Medicina Veterinária são os organofosforados. Antiparasitários Em Medicina Veterinária, os organofosforados são empregados como anti-helmínticos e como ectoparasiticidas, em particular o triclorfom, indicado em ovinos, caprinos, equinos, suínos, aves, coelhos, cães e peixes. Glaucoma A fisostigmina e o ecotiopato (longa duração) podem ser empregados como colírios para provocar constrição da pupila e contração do músculo ciliar, resultando na drenagem do humor aquoso. Entretanto, podem aparecer efeitos colaterais sistêmicos de acordo com a dose utilizada. @STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA II 15 Estes agentes podem ser instilados no saco conjuntival em intervalos que podem variar de 12 a 48 h. Ambos reduzem a pressão intraocular no máximo por um dia, mas tendem a predispor ao aparecimento de catarata com o uso prolongado. Miastenia gravis Doença que se caracteriza por fraqueza progressiva da musculatura esquelética, resultando na paralisia neuromuscular. Sua etiologia resulta da resposta autoimune contra o receptor nicotínico da junção neuromuscular. Neste caso, os agentes de curta duração, neostigmina e piridostigmina, são usados para diminuir a degradação da Ach, que pode então atuar nos receptores nicotínicos remanescentes e, consequentemente, aumentar a transmissão muscular interrompida. Reversão do bloqueio neuromuscular Os anticolinesterásicos de curta duração como edrofônio, neostigmina e piridostigmina podem ser usados para reverter o bloqueio neuromuscular induzido por agentes bloqueadores competitivos da junção neuromuscular, devido ao antagonismo competitivo que se estabelece entre a Ach e o agente bloqueador neuromuscular atuando em receptores nicotínicos da junção neuromuscular. Íleo paralítico e atonia de bexiga Em ambas as condições, a neostigmina é o agente mais satisfatório. A neostigmina é usada para aliviar a distensão abdominal causada por diversas situações médicas e cirúrgicas. Doença de Alzheimer Esta doença é caracterizada por deficiência funcional de neurônios colinérgicos no SNC (levando à perda de memória), concomitante à deposição de proteína beta amiloide e acúmulo da proteína tau. Verificou-se que a fisostigmina e a tacrina (anticolinesterásico de ação prolongada) podem ser usadas nos estágios iniciais da doença para melhora da memória. A tacrina deve ser administrada 4 vezes/dia e produz efeitos colaterais intensos, como náuseas, espasmos abdominais e hepatotoxicidade em alguns pacientes. Outro anticolinesterásico, a donepezila, também comercializado no Brasil, parece induzir menos efeitos adversos em pacientes com demência, mas arritmias foram relatadas em alguns estudos. Efeitos colaterais e/ou tóxicos Estes efeitos são consequência do acúmulo de Ach em todas as terminações nervosas colinérgicas e, @STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA II 16 portanto, observam-se tanto efeitos característicos da excessiva estimulação de receptores muscarínicos como nicotínicos. Tratamento da intoxicação Os efeitos muscarínicos podem ser controlados com doses adequadas de agentes antimuscarínicos,como a atropina. Nas intoxicações por organofosforados podem ser utilizados também os reativadores das colinesterases: as oximas, sendo a pralidoxima uma das mais utilizadas.. As oximas podem deslocar a ligação dos organofosforados junto ao local esterásico, estabelecendo-se uma ligação oxima-organofosforado, reativando a enzima. No entanto, a efetividade do tratamento depende do emprego precoce da oxima logo após a exposição ao organofosforado e do local esterásico da enzima (quanto mais estável, mais difícil torna-se a reativação enzimática). As oximas não são eficazes para antagonizar a intoxicação por inibidores carbamil éster (os carbamatos) que têm uma hidrólise mais rápida e, considerando que a própria pralidoxima possui atividade anticolinesterásica fraca, não são recomendados para o tratamento da superdosagem de neostigmina ou fisostigmina e são contraindicadas na intoxicação por carbarila. Nesta classe de medicamentos serão estudados os agentes antimuscarínicos ou parassimpatolíticos, que antagonizam competitivamente a Ach em seus receptores. O principal uso clínico é como relaxante da musculatura lisa dos brônquios, dos sistemas urinário e digestório, como midriáticos e como antídoto em altas doses de colinomiméticos ou na intoxicação por organofosforados. Classificação Antimuscarínicos de ocorrência natural Os principais compostos que pertencem a esta classificação são a atropina e a escopolamina. É um alcaloide extraído das solanáceas, como a Atropa belladona, o Hyoscyamus niger e a Datura stramonium. É também um alcaloide encontrado nas mesmas plantas que a atropina, mas difere por apresentar um átomo de oxigênio a mais em sua molécula. Esses compostos são também denominados alcaloides da beladona. @STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA II 17 Análogos sintéticos dos antimuscarínicos Os agentes sintéticos incluem drogas estruturalmente relacionadas à atropina. É um composto semissintético produzido pela combinação da base tropina com ácido mandélico. É menos potente que a atropina com relação à atividade antimuscarínica, mas é quatro vezes mais potente como agente bloqueador ganglionar. É um composto que difere da atropina por ter atividade bloqueadora ganglionar muito elevada em relação a sua ação antimuscarínica. É quimicamente semelhante à metantelina, no entanto, é de duas a cinco vezes mais potente. É uma das drogas antimuscarínicas mais utilizadas. Em doses muito altas, ocorre bloqueio da junção neuromuscular esquelética. , , São compostos derivados da atropina. Produzem efeitos semelhantes aos da atropina quando ambos são administrados por via parenteral, mas na clínica são usados por via inalatória como broncodilatadores. , São compostos antimuscarínicos. Esses medicamentos são preferíveis aos alcaloides da beladona, pois sua ação é mais curta. Podem atravessar a barreira hematencefálica. É um antimuscarínico seletivo para receptores do tipo M1. É um análogo da pirenzepina que apresenta maior potência e seletividade para os receptores M1. É um derivado que vem sendo empregado na pré-anestesia em Medicina Veterinária. É uma droga bloqueadora neuromuscular portanto, que bloqueia receptores nicotínicos, além de atuar como antagonista muscarínico do subtipo M2. É um antagonista seletivo para o subtipo M4 com efeitos predominantes no SNC. @STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA II 18 Assim, é utilizada para identificar receptores M4 em estudos experimentais É um antagonista de receptores muscarínicos, que foi especificamente desenvolvido para o tratamento de pacientes com bexiga hiperativa que apresentam frequência, urgência ou incontinência urinária. É um antagonista sem especificidade, que se liga aos subtipos de receptores muscarínicos com a mesma afinidade. O AF-DX 116 ou otenzepado é um análogo da pirenzepina que apresenta grande afinidade por receptores M2 cardíacos. A metoctramina é mais potente que o AF-DX 116 nos receptores M2 e é altamente seletiva para os mesmos. O hexa-hidrosiladifenidol e 4-DAMP são os compostos que possuem maior seletividade para os receptores M3. Mecanismo de ação Os alcaloides de ocorrência natural e seus análogos sintéticos são também denominados antimuscarínicos, ou agentes bloqueadores muscarínicos, porque atuam competitivamente, bloqueando as ações da Ach tanto em receptores muscarínicos centrais (quando atravessam a barreira hematencefálica) como em receptores muscarínicos periféricos. Os anticolinérgicos, como a atropina e a escopolamina, competem com a Ach por todos os subtipos de receptores muscarínicos, de M1 a M4. Outras drogas podem discriminar os subtipos de receptores, como, por exemplo, pirenzepina e diciclomina, que apresentam alta seletividade para bloquear receptores do tipo M1. Ainda, baixas doses de ipratrópio em cães inicialmente podem reduzir o diâmetro das vias respiratórias por bloqueio neuronal de receptores M2, enquanto doses altas bloqueiam receptores M3 em músculos lisos de vias respiratórias, resultando em broncodilatação. Outras drogas que bloqueiam receptores muscarínicos incluem os antidepressivos, neurolépticos e anti- histamínicos. Em doses terapêuticas, estes agentes produzem efeitos semelhantes à atropina Farmacocinética Os alcaloides da beladona são absorvidos rapidamente pelo sistema gastrintestinal, mas também alcançam a circulação quando aplicados topicamente nas mucosas. Os derivados dos alcaloides da beladona são pouco absorvidos após a administração oral; no entanto, alguns compostos aplicados topicamente nos @STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA II 19 olhos podem causar cicloplegia e midríase, característica que permite seu uso em exames e tratamentos de algumas enfermidades oftálmicas. A meia-vida (t1/2) da atropina é de aproximadamente 4 h. A biotransformação hepática é responsável pela eliminação de cerca de 50% da dose, enquanto o restante é excretado inalterado na urina. Traços de atropina podem ser encontrados em várias secreções, inclusive no leite humano. Os compostos com estrutura de amônio quaternário, como o ipratrópio ou a metescopolamina, têm absorção reduzida, entre 10 e 25%, e imprevisível após a administração oral. Esses compostos praticamente não atravessam a barreira hematencefálica. Entretanto, suas ações são um pouco mais prolongadas do que os alcaloides da beladona. Tanto o ipratrópio como o tiotrópio têm alto clearance em cães e ratos, cerca de 87 a 150 ml/min x kg–1, e são extensivamente distribuídos em vários tecidos, tendo volume de distribuição entre 3 e 15 l/kg. A meia-vida de eliminação do tiotrópio ou ipratrópio em ratos, após uma dose intravenosa, é de 21 a 24 h, que é maior do que a meia-vida plasmática correspondente (6 a 8 h). A metescopolamina atua por 6 a 8 h. A duração das ações da metantelina e da propantelina são um pouco maiores do que a da atropina e os efeitos das doses terapêuticas persistem por 6 h. A farmacocinética da tolterodina é similar em camundongos e cães, e correlacionada com a de humanos, porém a metabolização é diferente em ratos. Nessas três espécies animais, a concentração sérica máxima é obtida uma hora após a administração, e a bioviabilidade varia entre 2 e 20% em roedores e 58 a 63% em cães. Apresenta alto clearance, com valores em torno de 10 a 15 l/kg x h–1 em ratos e camundongos e 1,4 l/kg x h–1 em cães. A biotransformação da tolterodina produz dois principais metabólitos que representam 83 a 99% do metabolismo. Os medicamentoscom estrutura de amina terciária, como a benzatropina ou a trihexafenidila, penetram facilmente no SNC e podem ser usados para o tratamento da doença de Parkinson em seres humanos ou para atenuar os efeitos extrapiramidais dos neurolépticos. Efeitos farmacológicos Todos os antagonistas muscarínicos produzem efeitos muito semelhantes, embora alguns agentes possam @STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA II 20 apresentar seletividade para determinados órgãos. SNC A atropina em doses terapêuticas causa discreta excitação, devido à estimulação bulbar, do hipotálamo e do córtex cerebral. Tanto a frequência como a amplitude respiratória aumentam. A escopolamina em doses terapêuticas normalmente causa depressão, que se manifesta por sonolência, amnésia e fadiga. No passado, quando os efeitos depressores e amnésicos eram desejáveis, a escopolamina foi empregada como pré-anestésico. Nos pacientes com dor intensa, doses pequenas de escopolamina podem provocar excitação, agitação, alucinações e delírios. Sistema cardiovascular O principal efeito da atropina sobre o coração é a alteração da frequência cardíaca. Apesar de a resposta predominante ser taquicardia, a frequência cardíaca pode diminuir com doses intermediárias. A atropina em doses altas causa taquicardia em função do bloqueio dos efeitos vagais sobre os receptores M2 no marca-passo nodal sinoatrial. Com baixas doses de escopolamina, a bradicardia é maior do que aquela observada com atropina. Com doses normais, há taquicardia inicial, mas de curta duração. Doses adequadas de atropina podem suprimir muitos tipos de alentecimento ou assistolia cardíaca vagal reflexa, como aquela causada pela inalação de vapores irritativos, ou a estimulação do seio carotídeo. Este anticolinérgico também evita ou suprime a bradicardia ou assistolia causada pelos ésteres da colina, anticolinesterásicos ou outros medicamentos parassimpatomiméticos, bem como a parada cardíaca por estimulação elétrica do vago. Na circulação, a atropina impede a vasodilatação e a acentuada queda na pressão arterial após administração de drogas colinérgicas. Por outro lado, quando administrada isoladamente, os efeitos sobre os vasos e a pressão arterial não são acentuados e nem constantes. Sistema gastrintestinal Os antagonistas de receptores muscarínicos são muito utilizados como agentes antiespasmódicos para os distúrbios gastrintestinais e tratamento da úlcera péptica. Os antimuscarínicos diminuem a atividade motora do estômago, @STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA II 21 duodeno, jejuno, íleo e cólon, caracterizada por redução no tônus, na amplitude e na frequência das contrações peristálticas. Além disto, a atropina bloqueia a atividade motora excessiva do sistema gastrintestinal induzida pelos medicamentos parassimpatomiméticos e agentes anticolinesterásicos. A secreção gástrica é reduzida por algumas drogas antimuscarínicas seletivas como a pirenzepina e a diciclomina, que bloqueiam receptores do tipo M1. A pirenzepina tem sido usada no tratamento da úlcera péptica em humanos, devido sua ação seletiva em receptores M1 e seus efeitos na cicatrização de úlceras devido à inibição da secreção ácida gástrica. Secreções Todos os antimuscarínicos clinicamente empregados produzem diminuição das secreções das glândulas salivares, sudoríparas, lacrimais e brônquicas. A secreção salivar é particularmente sensível à inibição pelos anticolinérgicos; a boca torna-se seca e tanto a fala quanto a deglutição podem ser dificultadas. Os antagonistas de receptores muscarínicos reduzem também a secreção gástrica. Sistema respiratório O sistema nervoso parassimpático desempenha uma função importante na regulação do tônus bronquiolar, contribuindo para a broncoconstrição, via receptores M3 presentes na musculatura lisa das vias respiratórias. Além disto, as glândulas submucosas que são inervadas pelos neurônios pós-ganglionares parassimpáticos também possuem esses receptores. Assim, os antagonistas muscarínicos são particularmente eficazes contra o broncospasmo produzido pelos medicamentos parassimpatomiméticos e também antagonizam parcialmente a broncoconstrição produzida pela histamina, bradicinina ou prostaglandina F2α. Os alcaloides da beladona inibem as secreções do nariz, da boca, da faringe e de brônquios e assim ressecam as mucosas das vias respiratórias. Esse efeito torna-se mais pronunciado quando as secreções estão aumentadas, fato que explica a utilização tanto da atropina como da escopolamina como agentes pré- anestésicos para reduzir tais secreções durante o procedimento anestésico-cirúrgico. Músculo liso Tanto a musculatura lisa bronquiolar quanto a das vias urinárias sofrem @STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA II 22 relaxamento após utilização das drogas antimuscarínicas. A broncoconstrição reflexa que pode ocorrer durante a anestesia é evitada pela atropina, enquanto a broncoconstrição causada por mediadores locais, como a histamina, não é afetada. A atropina reduz o tônus normal e a amplitude das contrações do ureter e bexiga e pode eliminar a hipertonia uretral induzida por agentes farmacológicos. Os efeitos dos antagonistas muscarínicos, como a atropina e a escopolamina, sobre a motilidade uterina são questionáveis, embora formulações comerciais indicadas para o tratamento de dismenorreia tragam escopolamina ou derivados da beladona em sua composição. Olhos As drogas semelhantes à atropina bloqueiam as respostas do esfíncter muscular da íris e da musculatura ciliar do cristalino após uma estimulação colinérgica. Ocorrem ainda, midríase e cicloplegia (paralisia da acomodação visual). Usos terapêuticos As drogas antimuscarínicas têm sido empregadas em diversas situações clínicas, com o objetivo de inibir os efeitos da atividade do SNA parassimpático (efeitos colinérgicos). Sistema gastrintestinal Os agentes antimuscarínicos vêm sendo amplamente empregados no tratamento da úlcera péptica porque, além da diminuição da motilidade, também produzem diminuição das secreções gástricas; entretanto, nestas doses, surgem alguns efeitos indesejáveis, por isto, atualmente, preferem-se os antagonistas da histamina e/ou os inibidores da bomba de prótons. No entanto, a pirenzepina ainda é empregada para esta finalidade dadas suas ações mais seletivas. Os derivados que não atravessam a barreira hematencefálica, como a diciclomina e o metronitrato de atropina, são usados para diminuição da motilidade gastrintestinal; entretanto, além de serem fracamente absorvidos, são mais eficazes quando a hipermotilidade é induzida por drogas como os anticolinesterásicos e antagonistas adrenérgicos. A homatropina pode ser empregada para o alívio de espasmos abdominais. Finalmente, a atropina pode também reduzir a secreção ácida basal em cavalos. Medicação pré-anestésica (MPA) Os alcaloides da beladona, como a atropina e a escopolamina, eram usados para inibir a salivação e secreções excessivas das vias @STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA II 23 respiratórias, induzidas pela administração dos anestésicos gerais, além do efeito broncodilatador desses compostos, que também era desejável. Atualmente, com a utilização de anestésicos relativamente não irritantes, eliminou-se a necessidade de administrar antagonistas muscarínicos. Todavia, a atropina ainda é utilizada para evitar reflexos vagais induzidos pela manipulação cirúrgica dos órgãos internos.Esse anticolinérgico também é usado junto com a neostigmina para compensar seus efeitos parassimpatomiméticos, quando este último agente for administrado para reverter o relaxamento muscular depois da cirurgia. Além disto, a escopolamina pode contribuir para tranquilização, sedação e amnésia em diversas situações clínicas, incluindo o parto. Nesta situação a droga é associada a outros agentes que produzem analgesia e sedação. O glicopirrolato, tanto em cães quanto em gatos, diminui a acidez e o volume das secreções gástricas e reduz a motilidade intestinal, por isso também vem sendo usado como MPA. Cinetose A escopolamina é empregada na prevenção de náuseas e vômitos associados à cinetose quando da exposição curta (4 a 6 h) a movimentos intensos. Olhos A administração local de anticolinérgicos produz midríase e cicloplegia. Os agentes habitualmente empregados são homatropina, ciclopentolato ou tropicamida, pois têm menor duração de efeitos; a atropina e a escopolamina não são usadas, pois produzem efeitos muito prolongados. Sistema cardiovascular Os efeitos cardiovasculares das substâncias anticolinérgicas têm aplicação limitada. A atropina pode ser usada como antídoto para o colapso cardiovascular que pode resultar da administração acidental de um colinérgico ou de um anticolinesterásico. Também pode ser empregada no tratamento inicial de pacientes com infarto agudo do miocárdio, nos quais o tônus vagal excessivo cause a bradicardia sinusal ou nodal. Em cães, verificou-se que a atropina administrada previamente à medetomidina preveniu a bradicardia @STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA II 24 induzida por este sedativo, mas induziu hipertensão e alteração de pulso. Doença de Parkinson Nesta enfermidade ocorre diminuição dos níveis de dopamina no SNC, como consequência observam-se alguns sintomas característicos, como tremor de repouso, rigidez e acinesia. O uso de medicamentos anticolinérgicos como a benzatropina e a trihexafenidila podem atenuar principalmente o tremor. Tanto a atropina como a escopolamina podem ainda ser empregadas para reduzir a salivação excessiva, como a que ocorre nos pacientes parkinsonianos ou com intoxicação por metais pesados. Trato geniturinário A atropina pode ser administrada concomitantemente a um opioide para tratamento de cólica renal com o objetivo de induzir relaxamento da musculatura lisa ureteral e uretral. Os alcaloides da beladona e vários substitutos sintéticos podem reduzir a pressão intravesical, aumentar a capacidade vesical e reduzir a frequência das contrações da bexiga, antagonizando o controle parassimpático desse órgão. Tratamento da intoxicação por anticolinesterásicos A atropina é a droga de escolha para diminuir a bradicardia e antagonizar o aumento da secreção bronquial. Pode ser administrada pela via intravenosa, pois os efeitos sistêmicos da atropina, quando administrada por via oral ou subcutânea, duram somente algumas horas. Sistema respiratório O brometo de ipratrópio é usado em equinos com obstrução aérea recorrente (OAR), preferencialmente por via inalatória, para minimizar os efeitos colaterais. É indicado também em humanos e animais acometidos por doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), pois atua primariamente como broncodilatador e, posteriormente, como antitussígeno, além de abolir o efeito vagal reflexo do broncospasmo deflagrado por agentes não específicos, como fumaça de cigarro, poeira e ar frio, e por mediadores inflamatórios, como a histamina. Bexiga hiperativa A tolterodina tem alta efetividade para reduzir os sintomas de bexiga hiperativa, como urgência, incontinência e alta frequência de micção, e aumenta o volume da bexiga funcional. @STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA II 25 A eficácia neste tratamento é similar à da oxibutinina, porém a incidência de efeitos colaterais é menor. Efeitos colaterais Em doses altas os antimuscarínicos promovem ressecamento da boca, o que pode dificultar tanto a deglutição. No sistema cardiovascular, o principal efeito indesejável é o aumento da frequência cardíaca. Outros efeitos incluem distúrbios oculares como a turvação da visão. A atropina, em função de seu efeito midriático, é contraindicada em casos de glaucoma. Além disto, o uso prolongado dos antimuscarínicos pode provocar retenção urinária. A ingestão intencional ou acidental dos alcaloides da beladona ou de outros medicamentos anticolinérgicos pode levar a intoxicação. Muitos agentes bloqueadores dos receptores histaminérgicos H1, os neurolépticos do tipo fenotiazinas e os antidepressivos tricíclicos possuem atividade bloqueadora muscarínica e podem produzir síndromes que incluem sintomas da intoxicação atropínica. A dose letal 50% (DL50) da atropina intravenosa para cães e gatos é de 50 mg/kg e 70 mg/kg, respectivamente. Alguns pacientes podem apresentar convulsões. Depressão e colapso circulatório são observados em casos graves de intoxicação; a pressão sanguínea diminui, a respiração se torna ineficaz e o óbito pode ocorrer devido à insuficiência respiratória após um período de paralisia e coma. O diagnóstico da intoxicação com atropina é sugerido pela paralisia generalizada dos órgãos inervados pelos neurônios parassimpáticos. As medidas que visam limitar a absorção intestinal devem ser iniciadas imediatamente, caso a absorção tenha sido por via oral. Para o tratamento sintomático, a fisostigmina (1 a 4 mg intravenosa lenta) é o medicamento mais indicado e controla rapidamente o delírio e o coma causados pelas doses elevadas de atropina. Se houver excitação acentuada, o diazepam é o agente mais indicado para sedação e controle das convulsões. @STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA II 26 @STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA II 27 SPINOSA, H. S., et al. (2017). Farmacologia aplicada à Medicina Veterinária. 6ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara. Koogan Capítulo 6 – Agonistas e Antagonistas Colinérgicos.
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