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A PARENTALIDADE NA PERSPECTIVA PATERNA GEMEB - 2020 O QUE É PARENTALIDADE? "[...] conjunto de atividades desempenhadas pelos adultos de referência da criança no seu papel de assegurar a sua sobrevivência e o seu desenvolvimento pleno. A palavra “parentalidade” é uma derivação do termo original em inglês “parenting”.Os adultos de referência de uma criança são aqueles que convivem com ela no dia-a-dia e estabelecem os vínculos afetivos mais próximos durante os seus primeiros anos de vida." https://www.adocaoempauta.com.br/afinal-o-que-e-parentalidade/ 02 A FAMÍLIA NA CONTEMPORÂNEIDADE A família é um sistema complexo de relações e de mútua influência com o contexto sócio- histórico-cultural no qual está inserida. A família é constituída pelas relações e pela transmissão de padrões de uma geração para outra (DESSEN; BRAZ, 2005). Portanto, para compreender o que é ser “pai” é preciso, primeiro, conhecer o que acontece dentro da “família”, levando em consideração as interações e as relações desenvolvidas entre os seus diferentes subsistemas, bem como o contexto social no qual as ‘famílias’ estão inseridas. (DESSEN; LEWIS, 1998, p. 105) 03 A FAMÍLIA NA CONTEMPORÂNEIDADE (CONT.) De acordo com Roudinesco (2003) existem 3 períodos na evolução da família: 1) O primeiro refere-se à família tradicional que se estruturava visando assegurar a transmissão de um patrimônio ou posição social. Os casamentos eram arranjados e a família era submetida à autoridade patriarcal. Google imagens 04 2) O segundo período incluía a família moderna, fundada no amor romântico, esteve presente entre o final do século XVIII e meados do XX e representa uma ruptura com o modelo tradicional. Nesse segundo período, a conjugalidade passa a ser orientada pela escolha dos cônjuges. Nessa conjuntura, o caráter privado se acentua paralelamente à entrada do terceiro social, que passa a dividir a responsabilidade, a autoridade sobre as crianças, inscrevendo a parentalidade em um âmbito público. A FAMÍLIA NA CONTEMPORÂNEIDADE (CONT.) De acordo com Roudinesco (2003) existem 3 períodos na evolução da família: Canva imagens 05 A FAMÍLIA NA CONTEMPORÂNEIDADE (CONT.) 3) O terceiro período, mostra o surgimento da família contemporânea ou pós-moderna. Sendo descrita a família contemporânea como democrática, frágil e consciente de sua desordem. A democracia se configura como aspecto central, não só nos laços conjugais, mas também no exercício da parentalidade. De acordo com Roudinesco (2003) existem 3 períodos na evolução da família: 06 A COPARENTALIDADE Lamela, Nunes-Costa e Figueiredo (2010) definem a coparentalidade como o Envolvimento conjunto e recíproco de ambos os pais na educação, formação e decisões sobre a vida dos seus filhos. A coparentalidade remete para a organização dos adultos na prestação de cuidados e educação dos filhos imprimindo prioridade ao bem-estar dos filhos, enquanto criam e mantêm uma relação construtiva, com fronteiras mais flexíveis entre si. Tal maleabilidade é apontada por Pedro e Grossi (1998) quando afirmam que o conceito de parentalidade rompe o paradigma de que apenas homem é pai e mulher é mãe. Segundo estas autoras, essas funções podem ser realizadas por pessoas que estão desenvolvendo o papel de cuidar de uma criança, independentemente do sexo. 07 EXISTEM "FUNÇÕES DE MÃE" E "FUNÇÕES DE PAI"? Bossardie Vieira (2015) nos mostra que os modelos de família atualmente aparentam não ter funções claramente definidas do que deve ser feito pelo pai ou pela mãe, ainda que existam especificidades nos comportamentos desempenhados por eles. Logo, tanto pais quanto mães podem cuidar dos filhos, realizar atividades domésticas, como também sair de casa para trabalhar. No entanto, esses autores destacam que pode haver diferenças na forma de pai e mãe exercerem papéis similares. 08 A P R E S E N Ç A D O P A I N O P E R Í O D O D E D E P E N D Ê N C I A A B S O L U T A Ele é uma mãe substituta. Para exercer essa função, o importante não é o seu lado masculino, mas o seu lado materno. Não se trata, contudo, de priorizar a mãe ou o pai nos cuidados com o bebê, mas de compreender que o tipo de ambiente (cuidados) que o bebê precisa encontrar ao nascer, como pré–requisito para um amadurecimento saudável, faz parte mais genuinamente da natureza do ser da mulher. Contudo, para Winnicott (1986), o pai participa da relação mãe-bebê assumindo dois papéis principais: A questão é que, embora o homem possa ser materno, em geral, é custoso para ele, em termos de sua vida pessoal e de sua masculinidade, ocupar o lugar da mãe com a especialização que isso demanda no início da vida. Além disso, se o pai é mais materno, talvez caiba à mãe ser mais paterna, de modo a manter no ambiente as características de segurança, estabilidade e firmeza que são fundamentais para o processo de amadurecimento do bebê. 09 Ele é o principal “cuidador” da dupla mãe–bebê: ele dá sustentação à mãe, protegendo–a das interferências externas de modo a que ela possa entregar–se à “preocupação materna primária”.* Por estar presente e fornecer esses cuidados, ele compõe, junto com a mãe, o ambiente total em que o bebê habita. Neste sentido específico, o pai participa do colo que a mãe dá ao bebê a partir da efetiva experiência que a mãe tem da presença do pai. Winnicott (1986) fala que, entre outras coisas, a mãe cria, com seu corpo e cuidados, um espaço para o bebê habitar. É interessante notar que, de certa maneira, o pai também cria um espaço para que a mãe, seguramente assentada nele, possa entregar-se ao estado de preocupação materna primária. A P R E S E N Ç A D O P A I N O P E R Í O D O D E D E P E N D Ê N C I A A B S O L U T A ( C O N T . ) *conceito winnicottiano e se refere ao estado psicológico da mãe no qual sua sensibilidade em relação ao filho torna-se exacerbada. Tem início na gestação e estende-se às primeiras semanas após o parto. 10 O pai ajuda a mãe a sair do estado de preocupação materna primária, chamando–a para si como esposa. Ele “lembra” à mãe que ela também é uma mulher, de modo a que ela tenha mais um ponto de apoio para recuperar aspectos de sua personalidade e de retomar, aos poucos, a amplitude do mundo que havia sido estreitado pela preocupação materna primária. O bebê começa a distinguir, nos cuidados da mãe, alguns aspectos que podem ser ditos paternos: de ordem, firmeza, dureza, inflexibilidade etc. Esses dois papéis – mãe substituta e sustentador da dupla mãe–bebê – continuarão atuais durante todas as fases do período seguinte, o da dependência relativa, durante o qual as mudanças e conquistas do bebê estarão relacionadas à gradativa transformação desta relação na direção da separação da unidade mãe/bebê e da constituição da identidade pessoal e unitária do bebê. Nesta etapa, a presença do pai ganhará novas facetas: A P R E S E N Ç A D O P A I N O P E R Í O D O D E D E P E N D Ê N C I A R E L A T I V A 11 O pai será “o primeiro vislumbre que a criança tem da integração e da totalidade pessoal”, antecipando o indivíduo unitário que vai chegar a si. Winnicott (1986) aponta que o pai faz parte do ambiente em que o bebê amadurece, um bebê que ainda depende, agora de maneira relativa, da sustentação da mãe para dar continuidade ao alcance do estatuto de um ser unitário. é justamente nesta tarefa de se tornar uno que o pai ajudará o bebê. O “não” que inicialmente a mãe dirigia apenas às interferências do mundo externo passa agora a ser dirigido também ao bebê, com vistas a reorganizar a vida doméstica e a protegê–lo; a aparição desse segundo “não” é, segundo Winnicott (1986), um dos primeiros sinais do paterno na vida da criança. A qualidade da presença do pai no ambiente, ou a sua ausência, modulam o espírito da mãe: o sentimento de estar protegida ou desprotegida depende em parte do que o pai é capaz de fornecer. A P R E S E N Ç A D O P A I N O P E R Í O D O D E D E P E N D Ê N C I A R E L A T I V A ( C O N T . )12 O pai que faz a sua parte, no ambiente total, contribui para que o sentido de família vá sendo implantado na vida da criança. A presença do pai no ambiente acrescenta, aos cuidados maternos de que o bebê tanto necessita, juntamente com as qualidades de segurança e bem–estar para a mãe, os alicerces do sentido de família. O suporte que o pai fornece é, por assim dizer, mais do que o suporte comum que uma pessoa dá a outra, ele é a pessoa mais indicada para, ao lado de sua esposa, criar o ambiente estável e indestrutível onde seus filhos vão crescer. A P R E S E N Ç A D O P A I N O P E R Í O D O D E D E P E N D Ê N C I A R E L A T I V A ( C O N T . ) 13 ENVOLVIMENTO PATERNO interação/engajamento, acessibilidade, responsabilidade pela criança. O envolvimento paterno pode ser definido de muitas maneiras: participação do pai na família; interação com o filho; qualidade da relação pai-filho; cuidados com a criança, entre outros. Charnov e Levine (1985) propõe dimensões do envolvimento paterno com os filhos: A interação refere-se ao contato direto com o filho, em cuidados e tarefas compartilhadas. A acessibilidade implica a presença ou disponibilidade para a criança para possíveis interações. Já a responsabilidade diz respeito ao papel que o pai exerce assegurando cuidados e recursos para a criança. 14 ENVOLVIMENTO PATERNO (CONT.) DE ACORDO COM BARKER E VERANI (2008) EXISTEM DIVERSOS FATORES QUE INFLUENCIAM O ENVOLVIMENTO PATERNO: (A) NÍVEL EDUCACIONAL (ESCOLARIDADE) E ECONÔMICO (RECURSOS FINANCEIROS); (B) QUALIDADE DO TRABALHO DO PAI; C) RELACIONAMENTO DO PAI COM A MÃE; D) IDADE DA CRIANÇA; (E) IDADE E ESTÁGIO DE DESENVOLVIMENTO DO PAI; (F) RELACIONAMENTO QUE OS PAIS TIVERAM COM SEUS PRÓPRIOS PAIS; (G) POLÍTICAS DE APOIO À PATERNIDADE. 15 ENVOLVIMENTO PATERNO - GESTAÇÃO No envolvimento paterno durante a gestação já deve ocorrer interação, acessibilidade, envolvimento tanto com a mãe, quanto com o bebê O envolvimento com a gestante consiste em compartilhar sentimentos relativos à gravidez, ficar ao lado dela, acompanhar a consulta de pré-natal, entretanto o envolvimento paterno não se restringe somente à adoção de comportamentos, como acompanhar consultas e exames, mas inclui o vínculo emocional com a mulher e o filho Quanto mais os pais estão próximos das mães e envolvidos na gravidez, mais se dão conta da gestação do seu filho (a), e mais fácil fica de se preparar para a paternidade A participação paterna no período gravídico-puerperal está relacionada a benefícios como diminuição do tempo de trabalho de parto, do uso de medicações e de cesáreas, aumento do apgar* do bebê e amamentação duradoura 16 *APGAR refere-se a "Escala de Apgar" Avaliação de nível de adaptação do bebê fora do útero, pode ser utilizado para medir a saúde do recém-nascido e a necessidade de atenção médica. Entre os diversos sentimentos que aparecem nos pais durante a gravidez, destacam-se os relativos à ansiedade, apreensão e preocupação, o que se verifica nos relatos seguintes: ENVOLVIMENTO PATERNO - GESTAÇÃO (CONT.) “Me considero apreensivo, aguardando muito a chegada, é algo meio introspectivo.” (P29) “preocupado, porque eu não sei o que virá e eu tento me enquadrar no controle e na paciência para o que virá.” (P9). 17 ENVOLVIMENTO PATERNO - PARTO É no parto que os homens/pais vão ter a primeira possibilidade de estabelecerem trocas com seus filhos. Nesse sentido, o envolvimento do pai durante a gravidez e no parto parece favorecer a vinculação precoce entre pai e bebê A participação paterna no parto contribui para a ativação de respostas emocionais protetivas do pai em relação ao filho, provavelmente favorecidas pela partilha de intimidade e proximidade com o recém-nascido nos primeiros momentos de sua vida A experiência do parto pode encorajar os homens a desenvolverem uma paternidade mais participativa, envolvendo-se mais nos cuidados iniciais com o bebê. A implicação do homem nesse momento, que inaugura sua paternidade, permite que se ligue ao bebê, investindo afetivamente nele e, assim, favorecendo a formação precoce do vínculo pai-filho. 18 ENVOLVIMENTO PATERNO - PARTO (CONT.) Fala dos pais em relação a participar do parto e como isso ajuda na concepção de se sentirem de fato pais : "Participei. Eu entrei na sala, acompanhei o parto, tudo normal. [...] A minha preocupação era só confortar minha esposa, ficar ali acompanhando, segurando a cabeça dela.” "Esse momento em que você vê que você se tornou pai eu acho que é o momento do nascimento. (...) quando você vê o bebê pela primeira". “Eu acho que o momento mais marcante é o parto, pelo menos pra mim, assim". 19 O homem não gesta e não amamenta o filho, dessa forma, a formação do vínculo afetivo pode ser mais lenta, em comparação com a mãe. Geralmente, o vínculo costuma consolidar-se gradualmente, após o nascimento e ao longo do desenvolvimento. Vivenciar momentos de intimidade com o bebê por meio de cuidados, como troca de fraldas, banhos e carinho, é de suma importância para o pai. A razão disto é que na medida em que essa rotina acontece, há construção do vínculo. Ao prestar cuidados ao bebê característicos do puerpério, o pai desenvolve estratégias de comunicação com ele diferentes daquelas que o recém-nascido tem com a mãe, o que contribui para o fortalecimento do vínculo entre pai e filho. ENVOLVIMENTO PATERNO - 3 MÊS DE VIDA 20 PAPEL DA ENFERMAGEM Os serviços de saúde parecem não estar preparados para identificar e responder às demandas dos pais que procuram exercer a paternidade. O próprio enfoque de assistência maternoinfantil contribui para afastar o pai por reforçar a concepção de que o cuidado é de responsabilidade exclusiva da mãe. Para modificar tal situação, os profissionais de saúde, em especial os enfermeiros, precisam ser capacitados para atuar junto aos pais, compreendendo que a gravidez, o parto e o puerpério são eventos sociais que integram a vivência reprodutiva de homens e mulheres. 21 No Grupo Terapêutico de Massagem e Estimulação de Bebês (GTMEB), o pai tem a possibilidade de transitar de sua posição de provedor da família para a posição de um pai que quer participar ativamente da criação de seu filho. Durante as sessões de massagem, os pais revelam-se como homens cuidadosos, desejosos de contato com seus filhos, que de inicio expressam carinho de forma hesitante. De um lado, a dificuldade em perceber a não reciprocidade de suas ações ao tocar o bebê, traz medo e tristeza. Por outro, em suas singularidades, ao superarem os desafios e sentirem seus filhos literalmente em suas mãos, eles externam felicidade e contentamento pelo modo como conseguem relacionar-se com os bebês, percebendo que trocas são possíveis. A PRESENÇA DO PAI NA MASSAGEM 22 A PRESENÇA DO PAI NA MASSAGEM (CONT.) “As vezes me sinto feliz ao perceber que trocas autenticas são palpáveis, vividas”. Os discursos dos pais indicam como a massagem os influencia de forma positiva, enriquecendo o mundo-pai-bebê com descobertas que possibilitam contribuir com a função materna, ampliando as possibilidades de participação ativa na família, com desdobramentos na configuração da função paterna, ao cuidar e educar seu filho. Neste contexto, o mundo da massagem se torna uma forma de auxiliar a compreensão e a interação do mundo do homem com o mundo do homem agora pai, que por meio do toque se comunica e compreende o bebê como ser humano, podendo respeitá-lo em sua existência que é expressa a partir de sua interação. Fala de um pai participante do GTMEB. 23 REFERÊNCIAS ESTEVES, Carolina Marocco; ANTON, Márcia Camaratta; PICCININI, Cesar Augusto. Indicadores da preocupação materna primária na gestação de mães que tiveram parto pré-termo. Psicol. clin., Rio de Janeiro , v. 23, n. 2, p. 75-99, 2011 . Available from . access on 18 Aug. 2020. https://doi.org/10.1590/S0103-56652011000200006. ROSA, Claudia Dias. O papel do pai no processo de amadurecimento em Winnicott.Nat. hum., São Paulo , v. 11, n. 2, p. 55- 96, fev. 2009 . Silva MGB , Andrade FJ , Bonilha R , Espósito VHC , Ohara CVS. Estreitando os laços: a presença participativa do pai no mundo da massagem do bebê. In: IV Congresso Brasileiro de Enfermagem Pediátrica e Neonatal. SOBEP. (Anais). Out. 2011, São Luís – MA. p.1845-48. Matos MG, Magalhães AS,Féres-Carneiro T, Machado RN. Construindo o vínculo pai-bebê:A experiência dos pais.Psico- USF, Bragança Paulista, v. 22, n. 2, p. 261-271, mai./ago. 2017 Fiterman H. O nascimento do pai: Envolvimento paterno na gestação, no parto e aos três meses do bebê, no contexto de Salvador/Bahia. 2016. 206 f. Tese (Doutorado em família na sociedade contemporânea) - Universidade Católica de Salvador. Salvador, 2016. Ribeiro JP, Gomes GC, Silva BT, Cardoso LS, Silva PA, Strefling ISS.Participação do pai na gestação, parto e puerpério: Refletindo as interfaces da assistência de enfermagem. Revista Espaço para a saúde.v. 16 | n. 3 | p. 73-82 | jul/set. 2015.
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