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Epidemiol. Serv. Saude, Brasília, 28(2):e2017407, 2019 1 Artigo originAl Acurácia da hipertensão arterial sistêmica autorreferida em adultos de Rio Branco, Acre* Endereço para correspondência: Thatiana Lameira Maciel Amaral – BR 364, Km 4, Distrito Industrial, Campus Rio Branco, Rio Branco, Acre, Brasil. CEP: 69920-900 E-mail: thatianalameira27@gmail.com Cleuciane Lima de Melo1 – orcid.org/0000-0003-3379-0144 Thatiana Lameira Maciel Amaral1 – orcid.org/0000-0002-9197-5633 Cledir de Araújo Amaral2 – orcid.org/0000-0002-7221-5364 Maurício Teixeira Leite de Vasconcellos3 – orcid.org/0000-0003-1658-2589 Gina Torres Rego Monteiro4 – orcid.org/0000-0002-9900-1825 1Universidade Federal do Acre, Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Rio Branco, AC, Brasil 2Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Acre, Rio Branco, AC, Brasil 3Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Escola Nacional de Ciências Estatísticas, Rio de Janeiro, RJ, Brasil 4Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Rio de Janeiro, RJ, Brasil Resumo Objetivo: analisar a validade da hipertensão arterial sistêmica (HAS) autorreferida na população adulta de Rio Branco, Acre, Brasil. Métodos: estudo de acurácia diagnóstica com 576 adultos (18-59 anos); foram calculados acurácia, sensibilidade, especificidade e valores preditivos positivo e negativo para construção da curva de Receiver Operating Characteristic (ROC). Resultados: as prevalências de HAS aferida (padrão ouro) e autorreferida foram de 19,6% e 16,6%, respectivamente; a HAS autorreferida apresentou 53,7% de sensibilidade e 92,4% de especificidade; a sensibilidade variou de 29,9%, nos indivíduos abaixo de 40 anos, a valores superiores a 70,0% entre os obesos e os que autorrelataram dislipidemia; a especificidade apresentou uma variação de 70,0%, nos que referiram diabetes mellitus, a 95,3% nos eutróficos; a curva ROC para análise da hipertensão apresentou área sob a curva de 0,77 (IC 95% 0,72;0,81). Conclusão: o autorrelato de HAS em adultos a partir dos 40 anos apresenta acurácia para utilização em pesquisas no município. Palavras-chave: Hipertensão; Acurácia dos Dados; Estudos Transversais; Adulto; Sensibilidade e Especificidade; Diagnóstico. doi: 10.5123/S1679-49742019000200018 Accuracy of self-reported systemic arterial hypertension in adults, Rio Branco, Acre, Brazil Precisión de la hipertensión arterial sistémica autorreferida en adultos de Rio Branco, Acre, Brasil *Artigo derivado da dissertação de mestrado intitulada ‘Validação diagnóstica da hipertensão arterial sistêmica autorreferida em adultos de um município da Amazônia brasileira’, defendida por Cleuciane Lima de Melo junto ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Acre (UFAC) em 2016. Estudo financiado com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)/Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações – MCTI/ CNPQ/MS-SCTIE-DECIT no 06/2013 – destinados ao apoio a pesquisas estratégicas para o Sistema de Saúde pela Rede Brasileira de Avaliação de Tecnologias em Saúde (REBRATS) – Processo no 401081/2013-3; da Fundação de Amparo à Pesquisa do Acre (FAPAC) – PPSUS no 001/2013; e do Programa de Pesquisa para o SUS: gestão compartilhada em saúde – MS/CNPq/FAPAC/ SESACRE no 6068-14-0000029. 2 Epidemiol. Serv. Saude, Brasília, 28(2):e2017407, 2019 Acurácia da hipertensão arterial autorreferida Introdução A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é um rele- vante fator associado às morbidades cardiovasculares, acarretando a diminuição da qualidade e expectativa de vida e o aumento dos custos socioeconômicos. O número de inquéritos para estimar a prevalência da HAS tem aumentado. Este aumento se deve à impor- tância das informações de frequência e complicações nas diversas populações, e à necessidade de avaliar e monitorar ações de prevenção e controle da doença, além de subsidiar a elaboração de propostas de inter- venções. A prevalência de HAS pode ser estimada pela mensuração da pressão arterial ou pelo autorrelato.1 A identificação da HAS pela mensuração é mais acurada, porém onera a pesquisa, ao envolver profis- sionais, uso de equipamentos, preparo do paciente e técnica padronizada para aferição.2,3 Os custos para o sistema público de saúde são menores quando a HAS é autorreferida por meio de entrevistas ou aplicação de questionários, método mais acessível e rápido para sua estimação em estudos epidemiológicos. Esse método, entretanto, está mais sujeito a erros: a informação depende do conhecimento do diagnóstico prévio pelo participante, assim como das características do instru- mento de coleta de dados e de como ele é entendido pela população à qual é aplicado.4,5 Neste contexto, torna-se necessário o estudo da validade da HAS au- torreferida,3 viabilizando seu emprego em estudos e na vigilância dessa doença na população. Estudos mostram divergência sobre a validade do autorrelato de HAS, cuja prevalência pode ser subes- timada ou superestimada.6,7 Uma revisão sistemática sobre acurácia do autorrelato de HAS elegeu cinco estudos realizados no Brasil, país com maior número de artigos selecionados para compor a revisão. Dos es- tudos brasileiros, em dois observou-se superestimação por autorrelato, enquanto outros dois subestimaram a prevalência de HAS. Vale ressaltar que, entre os es- tudos brasileiros elencados nessa revisão sistemática, nenhum foi realizado na região Norte do país.8 Dada a importância do conhecimento da prevalência de HAS a partir de estudos epidemiológicos, é oportuna a verificação da validade, mediante indicadores de acurácia do autorrelato da população que se pretende avaliar. Dadas as diferenças regionais e metodológicas entre os estudos existentes,8 torna-se imperiosa a reali- zação de investigações dessa natureza, posto que o Brasil é um país de proporções continentais e a validade do autorrelato da HAS em determinados locais não garante a necessária segurança para uso dessas validações em todo o país, especialmente na região da Amazônia. O desconhecimento de dados de base populacional sobre a prevalência de HAS mensurada em Rio Branco, capital do estado do Acre, Brasil, como também da validade do autorrelato pela população para utilização em pesquisas epidemiológicas, motivou a realização do presente estudo, cujo objetivo foi analisar a validade da HAS autorreferida na população adulta de Rio Branco. Métodos Trata-se de um estudo de validade do autorrelato de HAS em adultos por meio da avaliação dos indicadores de acurácia diagnóstica, tendo como fonte de dados o inquérito ‘Estudo das Doenças Crônicas – EDOC’. O EDOC constituiu-se de dois inquéritos: EDOC-A, realizado com adultos (18 a 59 anos); e EDOC-I, com idosos (60 anos e mais). Todos os indivíduos inquiridos eram residentes em Rio Branco, Acre, no período de abril a setembro de 2014. Tomou-se por base os dados do Censo Demográfico de 2010, de responsabilidade do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que apontaram a capital do Acre como a sexta cidade mais populosa da região Norte, com 336.038 habitantes e 96.276 domicílios distribuídos em 338 setores censitários. O plano amostral foi elaborado considerando-se dois estágios: setor; e domicílio. A seleção dos setores foi feita com probabilidade proporcional ao número de domicílios particulares encontrados pelo Censo 2010. Os domicílios foram selecionados por amostragem sistemática, com equiprobabilidade, e todos os adultos neles residentes, entrevistados. Foram excluídos da população de pesquisa os indivíduos com comprome- timentos cognitivos que inviabilizassem a comunicação ou o entendimento das perguntas e as mulheres grávidas. Os custos para o sistema público de saúde são menores quando a HAS é autorreferida por meio de entrevistas ou aplicação de questionários, método mais acessível e rápido para sua estimaçãoem estudos epidemiológicos. 3 Epidemiol. Serv. Saude, Brasília, 28(2):e2017407, 2019 Cleuciane Lima de Melo e colaboradores O tamanho da amostra foi calculado considerando- -se a prevalência de alteração da função renal de 15% em adultos,9 com grau de confiança de 95% e erro absoluto de 3 pontos percentuais10 para amostragem aleatória simples de proporções. Este procedimento resultou em uma amostra de 652 adultos. Dividindo- -se esse tamanho de amostra pelo número médio de adultos por domicílio, obtido do mesmo Censo 2010, contatou-se a necessidade de selecionar 440 domicí- lios. Fixados esses parâmetros, decidiu-se pela seleção de 40 setores e 11 domicílios por setor. Para a amostra efetiva do EDOC-A, foram determinados os pesos das observações para produzir estimativas sobre a popu- lação estimada pelo IBGE para 1º de julho de 2014. Considerando-se a perda pontual de informações de determinadas variáveis, foram criadas subamostras, e os pesos das observações foram recalibrados para pro- duzir estimativas populacionais. Detalhes sobre o plano de amostragem, calibração dos pesos das observações, subamostras e demais procedimentos metodológicos do EDOC estão descritos por Amaral et al.11 Os dados demográficos e socioeconômicos, assim como as informações sobre hábitos de vida e de saúde, foram obtidos mediante aplicação de questionário estruturado entrevistadores treinados. Na presente análise, utilizam-se os dados sobre faixa etária (em anos: 18 a 39; 40 a 59), sexo, escolaridade (sem es- colaridade; ensino fundamental; ensino médio; ensino superior), situação conjugal (com companheiro; sem companheiro), morbidades autorreferidas (diabetes mellitus; dislipidemia; estresse), prática de atividade física (sim [ao menos uma vez por semana]; não), tabagismo (não fumante; fumante ou ex-fumante) e consumo habitual de bebida alcoólica (sim; não). A HAS autorreferida foi obtida a partir da propo- sição da pergunta “Alguma vez o(a) senhor(a) já foi diagnosticado por algum médico com [...] hipertensão (pressão alta)?”. Foram considerados com HAS autor- referida aqueles que relataram o diagnóstico. A aferição da pressão arterial (PA) foi realizada por profissionais de saúde em dia posterior à aplicação do questionário, respeitando-se o tempo de 30 minutos ou mais da última ingestão de cafeína ou de cigarro fumado. O participante foi orientado a sentar com as pernas descruzadas, os pés apoiados no chão, o dorso recostado na cadeira, e relaxar, com o braço na altura do coração, livre de roupas, apoiado, com a palma da mão voltada para cima e o cotovelo ligeiramente fletido. O manguito foi bem ajustado, 2 a 3cm acima da fossa cubital. A PA foi mensurada utilizando-se aparelho digital da marca Beurer®. Foram realizadas três aferições: a primeira, após 5 minutos de repouso inicial; e as outras duas, a intervalos de 2 minutos. O valor final da PA foi calculado pela média aritmética entre a segunda e a terceira medidas.2 Foram considerados com HAS mensurada aqueles cujos valores da média da PA mensurada foram ≥140 mmHg para a PA sistólica e/ou ≥90 mmHg para a PA diastólica, ou com uso atual de medicamento anti-hipertensivo.2 O diagnóstico da HAS mensurada foi considerado padrão ouro para HAS, no presente estudo. O ponto de corte foi definido a priori, tanto para o teste-índice (autorrelato) quanto para o pa- drão. O uso atual de medicamentos anti-hipertensivos foi identificado a partir de receituário médico ou da embalagem dos medicamentos de uso atual. O peso dos participantes foi mensurado por balança digital, colocada em superfície plana (BalGl 200 da G-Tech®); e a altura, determinada por estadiômetro portátil (Sanny®). O índice de massa corporal (IMC), obtido pela razão do peso (kg) pelo quadrado da al- tura em metros (m²), foi classificado em três grupos: <25kg/m² (valores normais ou de baixo peso); 25 a <30kg/m² (sobrepeso); e ≥30kg/m² (obesidade).12 Os dados foram analisados de forma descritiva e exploratória, para avaliar a distribuição das variáveis e caracterizar a população estudada. A descrição das variáveis categóricas foi apresentada pela distribuição das proporções. As prevalências de HAS autorreferida e mensurada foram calculadas e comparadas pelo teste qui-quadrado de McNemar, sendo adotado nível de significância de 95%. A validade do autorrelato de HAS, tendo como padrão ouro a HAS mensurada, foi expressa utilizando-se os indicadores de acurácia, sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo e valor preditivo negativo. Esses indicadores foram apresentados segundo informações socioeconômicas e demográficas, hábitos de vida e morbidades autor- referidas (estresse, diabetes e dislipidemia). As curvas da Receiver Operating Characteristic (ROC), para avaliação da pressão arterial sistólica e da hipertensão arterial autorreferida, estratificadas por sexo e faixa etária, foram analisadas para obtenção das áreas sob a curva e seus respectivos intervalos de confiança a 95% (IC 95% ): resultado igual a 1,0 significa que se trata de um teste perfeito; e resultado inferior a 4 Epidemiol. Serv. Saude, Brasília, 28(2):e2017407, 2019 Acurácia da hipertensão arterial autorreferida 0,5, que a resposta da variável-teste se deve ao acaso. As análises dos dados foram realizadas pelo pacote estatístico SAS®, versão 9.4, tendo-se adotando um nível de significância de α=0,05. Todas as análises levaram em conta o efeito do dese- nho amostral e os pesos calibrados das observações. As frequências das observações foram expressas por ‘n’, e sua correspondente populacional, a partir da inferência da amostra para a população, por ‘n expandido’ (N). O projeto da pesquisa atendeu aos preceitos éticos da Resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS) no 466, de 12 de dezembro de 2012, e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Huma- nos da Universidade Federal do Acre (CEP/UFAC): Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) no 17543013.0.0000.5010, de 30 de janeiro de 2014. Todos os participantes assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Resultados Foram avaliados 685 adultos e destes, 644 aferiram a pressão arterial e responderam ao questionário quanto à presença ou ausência de hipertensão ar- terial, o que correspondeu a 211.902 indivíduos após extrapolação da amostra para a população. Não houve diferença estatisticamente significativa entre os indivíduos analisados e os excluídos, segundo sexo e idade (p>0,05). Entre os indivíduos com HAS mensurada, a maioria era de homens, da faixa etária de 40 a 59 anos, de raça/ cor da pele autorreferida como branca, com até o en- sino fundamental, trabalhadores, com companheiros, sedentários, fumantes ou ex-fumantes, com sobrepeso ou obesos, com diabetes e dislipidemia autorreferida. Ao se comparar a distribuição das variáveis segundo a forma de identificar HAS, observou-se subestimação da autorreferida nos homens, naqueles com ocupação, nos que apresentaram sobrepeso e nos que referiram ter diabetes (Tabela 1). A prevalência de HAS autorreferida foi de 16,6% (IC 95% 13,2;20,7), e a mensurada (padrão ouro), de 19,6% (IC 95% 16,5;23,1). Na comparação da HAS autorreferida com o padrão ouro, a acurácia do autorrelato foi elevada: os resulta- dos estiveram corretos em mais de 80,0% dos casos, para a maioria das variáveis investigadas. A sensibili- dade revelou que 53,7% dos indivíduos hipertensos foram corretamente identificados pelo autorrelato, enquanto 92,4% dos não hipertensos informaram corretamente sua condição (Tabela 2). A sensibilidade do autorrelato foi menor entre os indivíduos jovens (29,9%) e com sobrepeso (37,2%). O menor VPP foi observado na faixa etária dos 18 aos 39 anos (35,3%) e o VPN mais baixo naqueles com diabetes (50,7%). A acurácia foi superior a 79% em todas as variáveis analisadas, exceto para diabetes (Tabela 2). A curva ROC para análise da HAS apresentou áreasob a curva (AUC) de 0,77 (IC 95% 0,72;0,81), apon- tando para a consonância entre o diagnóstico avaliado pela medida da pressão arterial sistólica e o autorre- lato de diagnóstico de HAS na população inquirida (Figura 1). Na análise da curva ROC estratificada por sexo, as mulheres obtiveram valor da AUC de 0,77 (IC 95% 0,72;0,82), enquanto para os homens a AUC foi de 0,78 (IC 95% 0,69;0,87). Nos estratos de idade, a AUC na faixa etária até 40 anos foi de 0,75 (IC 95% 0,67;0,83), e na de 40 anos e mais, de 0,71 (IC 95% 0,65;0,77). Discussão A HAS autorreferida foi classificada como um bom método para estimar a hipertensão arterial em estu- dos epidemiológicos com adultos, na cidade de Rio Branco, Acre. Não obstante, ela deve ser utilizada com cautela naqueles com idade inferior a 40 anos, com sobrepeso e autorrelato de diabetes. A prevalência de HAS autorreferida foi menor que a mensurada, embora essa diferença não se tenha revelado estatisticamente significativa. Esse resultado é corroborado por estudo realizado no Canadá, onde a prevalência da HAS pelo autorrelato foi de 18,2% e a mensurada 20,3%.13 Pesquisa realizada na Carolina do Norte, Estados Unidos, com maiores de 18 anos, também apontou a subestimação da prevalência de HAS pelo autorrelato (16,1%) em relação à mensurada (24,8%).14 Observou-se subestimação da HAS pelo autorrelato com diferenças estatisticamente significa- tivas entre os homens, pessoas com ocupação, com sobrepeso pelo IMC e com autorrelato de diabetes. Em contraposição, estudo brasileiro realizado em Pelotas, RS, demonstrou que a prevalência global da HAS foi superestimada pelo autorrelato, o que também se confirmou entre indivíduos abaixo de 49 anos e no sexo feminino.4 5 Epidemiol. Serv. Saude, Brasília, 28(2):e2017407, 2019 Cleuciane Lima de Melo e colaboradores Tabela 1 – Prevalência da hipertensão arterial sistêmica autorreferida e mensurada (padrão ouro) segundo as variáveis analisadas em adultos de Rio Branco, Acre, 2014 Variáveis Total Hipertensão arterial sistêmica Mensurada Autorreferida n Na n Na %b IC 95% c n Na %b IC 95% c Sexo Masculinod 197 101.624 59 22.017 21,7 16,3;28,2 44 15.879 15,6 10,4;22,7 Feminino 447 110.278 108 19.556 17,7 14,6;21,4 99 19.355 17,6 14,1;21,6 Grupo etário (em anos) 18-39 339 146.447 34 15.640 10,7 7,1;15,8 32 13.252 9,0 5,6;14,3 40-59 305 65.455 133 25.933 39,6 39,2;46,8 111 21.981 33,6 26,7;41,2 Raça/cor da pele Branca 120 38.846 37 10.473 27,0 18,4;37,6 30 7.348 18,9 12,0;28,5 Não branca 524 173.056 130 31.101 18,0 14,5;22,0 113 27.886 16,1 12,6;20,3 Escolaridadee Ensino médio e superior 272 96.332 53 14.251 14,8 10,5;20,4 43 10.941 11,4 8,0;15,8 Até o ensino fundamental 358 111.524 113 27.114 24,3 19,2;30,3 97 23.438 21,0 16,3;26,7 Ocupação Não 334 96.366 80 15.563 16,2 12,5;20,6 79 16.448 17,1 13,1;22,0 Simd 310 115.536 87 26.010 22,5 17,7;28,2 64 18.786 16,3 11,4;22,7 Situação conjugale Com companheiro 306 98.269 97 24.776 25,2 20,1;31,2 76 20.212 20,6 15,8;26,3 Sem companheiro 335 112.747 69 16.589 14,7 11,5;18,6 66 14.813 13,1 9,6;17,7 Atividade físicae Sim 164 70.284 38 11.335 16,1 10,0;25,0 31 9.064 12,9 8,8;18,6 Não 477 140.328 127 29.808 21,2 18,1;24,7 110 25.739 18,3 14,2;23,3 Tabagismoe Não fumante 348 122.593 76 21.484 17,5 13,6;22,2 63 16.696 13,6 10,0;18,3 Fumante ou ex-fumante 292 88.230 91 20.089 22,8 17,5;29,1 79 18.221 20,7 16,1;26,0 Consumo de bebida alcoólicae Não 463 142.147 128 29.461 20,7 17,2;24,8 112 26.343 18,5 14,8;23,0 Sim 155 60.885 33 9.762 16,0 10,5;23,7 24 7.182 11,8 6,9;19,4 Índice de massa corporal (IMC)e Eutrófico (<25Kg/m²) 250 91.213 37 9.579 10,5 6,8;16,0 39 9.189 10,1 6,8;14,6 Sobrepeso (25 a <30Kg/m²)d 238 75.831 70 17.376 22,9 17,4;29,6 45 10.964 14,5 10,1;20,3 Obeso (≥30Kg/m²) 141 39.763 53 13.154 33,1 26,6;40,3 53 14.171 35,6 24,8;48,2 Estresse autorreferido Não 464 153.855 125 30.643 19,9 16,0;23,4 99 24.844 16,1 12,6;20,5 Sim 160 50.794 37 9.493 18,7 11,9;28,2 41 9.712 19,1 13,1;27,1 Diabetes autorreferidae Não 604 198.959 143 34.869 17,5 14,6;20,9 123 30.611 15,4 12,0;19,4 Simd 33 10.886 20 6.027 55,4 35,1;74,0 16 3.946 36,2 21,2;54,5 Dislipidemia autorreferidae Não 575 193.580 139 35.173 18,2 15,2;21,4 116 29.451 15,2 11,8;19,3 Sim 56 14.687 24 5.207 35,5 21,2;52,9 26 5.471 37,2 25,1;51,2 Total 644 211.902 167 41.573 19,6 16,5;23,1 143 35.234 16,6 13,2;20,7 a) N = N expandido a partir dos pesos e o delineamento amostral. b) %: proporção a partir do N expandido. c) IC 95% : intervalo de confiança de 95%. d) Teste de McNemar significativo (p<0,05). e) As diferenças em relação ao total são decorrentes de falta de informação na variável. 6 Epidemiol. Serv. Saude, Brasília, 28(2):e2017407, 2019 Acurácia da hipertensão arterial autorreferida Tabela 2 – Acurácia da hipertensão arterial sistêmica autorreferida segundo as variáveis independentes dos adultos de Rio Branco, Acre, 2014 Variáveis Acurácia Sensibilidade (IC 95% a) Especificidade (IC 95% a) Valores preditivos Positivo (IC 95% a) Negativo (IC 95% a) HASb autorreferida 84,8 53,7 (53,2;54,2) 92,4 (92,3;92,5) 63,3 (61,3;77,2) 89,1 (85,6;91,6) Sexo Masculino 84,4 50,0 (49,3;50,6) 93,9 (93,7;94,0) 69,3 (57,5;87,9) 87,2 (81,3;92,8) Feminino 85,2 57,8 (57,1;58,5) 91,1 (90,9;91,3) 58,4 (58,8;77,3) 90,9 (85,8;92,6) Idade (em anos) 18-39 86,7 29,9 (29,2;30,6) 93,4 (93,3;93,6) 35,3 (13,1;45,0) 91,8 (91,7;97,2) 40-59 80,7 68,0 (67,4;68,6) 89,0 (88,7;89,3) 80,2 (74,2;89,4) 80,9 (73,7;85,6) Raça/cor da pele Branca 84,3 55,9 (55,0;56,9) 94,7 (94,5;95,0) 79,7 (59,0;91,0) 85,3 (80,7;94,9) Não branca 90,3 52,9 (52,4;53,5) 91,9 (91,8;92,1) 59,0 (58,9;77,1) 89,9 (85,4;92,0) Situação conjugal Com companheiro 79,2 49,4 (48,9;50,2) 89,2 (89,0;89,4) 60,6 (58,7;80,4) 84,0 (78,6;88,9) Sem companheiro 86,7 40,7 (40,0;41,5) 94,8 (94,7;95,0) 57,6 (56,6;80,1) 90,3 (89,0;95,6) Escolaridade Até o ensino fundamental 82,2 56,7 (56,1;57,3) 90,4 (90,3;90,6) 65,6 (94,7;95,0) 86,7 (94,7;95,0) Ensino médio e superior 87,8 47,2 (46,4;48,1) 94,9 (94,7;95,0) 61,5 (94,7;95,0) 91,2 (94,7;95,0) Ocupação Não 88,4 66,8 (66,0;67,5) 92,5 (92,3;92,7) 63,2 (61,9;82,6) 93,5 (87,1;94,6) Sim 81,9 45,8 (45,2;46,4) 92,3 (92,2;92,5) 63,5 (53,3;77,7) 85,4 (81,6;90,8) Prática de atividade física Sim 84,9 43,2 (42,3;44,1) 92,9 (92,7;93,1) 54,0 (62,1;79,6) 89,5 (85,5;92,3) Não 84,6 57,0 (56,4;57,6) 92,1 (91,9;92,2) 66,0 (44,7;81,2) 88,8 (81,7;93,5) Tabagismo Não fumante 85,9 48,7 (48,1;49,4) 93,8 (93,7;94,0) 62,7 (40,9;80,8) 89,6 (77,1;91,6) Fumante e ex-fumante 83,4 59,0 (58,3;59,7) 90,7 (90,4;90,9) 65,0 (52,9;78,0) 88,2 (86,4;93,8) Consumo de bebida alcóolica Não 84,5 57,4 (56,8;57,9) 91,6 (91,5;91,8) 64,2 (63,9;81,9) 89,2 (85,2;92,1) Sim 87,7 48,6 (47,6;49,6) 95,2 (95,0;95,4) 66,0 (38,8;75,5) 90,6 (82,7;93,9) Índice de massa corporal (IMC: kg/m²) Eutrófico (<25Kg/m²) 91,1 55,5 (54,5;56,5) 95,3 (95,1;95,4) 57,9 (40,7;77,8) 94,8 (88,4;96,4) Sobrepeso (25 a <30Kg/m²) 79,7 37,2 (36,5;37,9) 92,3 (92,1;92,5) 59,0 (53,4;81,4) 83,2 (81,1;91,5) Obeso (≥30Kg/m²) 79,7 73,1 (72,4;73,9) 82,9 (82,4;83,4) 67,9 (64,0;86,0) 86,2 (79,4;92,6) Estresse autorreferido Não 84,7 52,0 (51,5;52,6) 92,8 (92,6;92,9) 64,2 (61,3;80,0) 88,6 (83,3;90,5) Sim 86,8 65,8 (64,9;66,8) 91,6 (91,3;91,9) 64,3 (50,7;80,9) 92,1 (89,1;98,2) Diabetes autorreferida Não 86,7 52,6 (52,1;53,1) 93,7 (93,6;93,8) 63,0 (57,9;76,1) 90,6 (86,4;92,3) Sim 63,3 59,4 (58,2;60,6) 70,0 (68,5;71,5) 76,8 (67,8;100,6) 50,7 (40,0;93,3) Dislipidemia autorreferida Não 85,4 51,8 (51,3;52,3) 92,9 (92,8;93,0) 61,9 (57,4;75,3) 89,7 (85,6;91,7) Sim 83,0 78,6 (77,5;79,7) 85,4 (84,7;86,2) 74,8 (72,0;100,0) 87,9 (75,3;100,0) a) IC 95% : intervalo de confiança de 95%. b) HAS: hipertensão arterial sistêmica. 7 Epidemiol. Serv. Saude, Brasília, 28(2):e2017407, 2019 Cleuciane Lima de Melo e colaboradores As prevalências do autorrelato de HAS encontradas pela Vigilância de Fatores de Risco e Proteçãopara Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), realizada nas capitais brasileiras em 2012, variaram de 15,2% (TO) a 28,7% (RJ), tendo Rio Branco referido 22,3%.15 Todavia, de acordo com dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2013, a pre- valência de HAS autorreferida no Acre foi de 16,1% (homens, 12,6%; mulheres, 19,3%),16 enquanto noutro inquérito realizado no mesmo ano de 2013, mediante mensuração da HAS, a prevalência foi de 15,6%, maior entre homens (15,8%) quando compa- rados às mulheres (10,8%),17 reforçando os achados do presente estudo. O autorrelato é considerado um importante método para a vigilância da HAS na população.4 Entretanto, somente a mensuração da pressão arterial possibilita a detecção de novos casos, permitindo a formulação de estratégias de prevenção e controle das doenças crônicas.18 Estudos populacionais revelam o des- conhecimento da situação de saúde no Brasil. Em Nobres, MT, por exemplo, um estudo realizado com 1.003 indivíduos maiores de 18 anos evidenciou que 26,5% dos hipertensos desconheciam sua condição.19 Um recurso para avaliar a validade do autorrelato de HAS é compará-lo com a pressão arterial aferida e calcular sua sensibilidade, especificidade e valores preditivos – especialmente o positivo –, objetivando estimar a probabilidade de um indivíduo ser realmente hipertenso quando assim se declara. Revisão sistemática de amplitude mundial publi- cada no ano de 2018, com metanálise, sobre dados de 112.517 adultos, destacou a importância da in- vestigação da acurácia da HAS autorreferida antes de adotá-la como instrumento de avaliação, em virtude da variação encontrada em diferentes populações;8 e revelou valores de sensibilidade da HAS autorreferida de 42,1% (IC 95% 30,9;54,2) e de especificidade de 89,5% (IC 95% 84,0;93,3). Apesar da baixa acurácia, a mesma revisão mostrou que, no Brasil, houve um melhor resultado,8 reforçando os achados observados na presente investigação, que apresentaram valores pouco mais elevados: 53,7% de sensibilidade e 92,4% de especificidade. Valores mais elevados de sensibilidade e de especi- ficidade foram identificados em outras pesquisas. No sul da Espanha, de 2001 a 2003, foi mostrada uma baixa capacidade da HAS autorreferida em captar os Nota: ROC: Receiver Operating Characteristic. Figura 1 – Curva Receiver Operating Characteristic comparando a hipertensão arterial autorreferida e a pressão arterial sistólica em Rio Branco, Acre, 2014 1 - Especificidade Curva ROC Modelo baseline (0,50) Modelo teste (0,77) 1,00 0,75 0,50 0,25 0,00 Se ns ib ili da de 0,00 0,25 0,50 0,75 1,00 8 Epidemiol. Serv. Saude, Brasília, 28(2):e2017407, 2019 Acurácia da hipertensão arterial autorreferida hipertensos (sensibilidade de 49,4% e especificidade de 96,8%), quando comparada ao padrão ouro, sen- do a informação autorreferida considerada inválida para estimar a prevalência dessa doença naquela população.5 Um inquérito realizado em São Paulo, em 2008 e 2010, encontrou sensibilidade de 71% da HAS autorreferida entre maiores de 20 anos.3 Nos Estados Unidos, o National Health and Nutrition Examination Survey III (NHANES III) de 1998-1991,20 realizado com maiores de 24 anos, identificou 71% de sensibilidade e 90% de especificidade. Destaca-se que o NHANES é a principal fonte de dados para a vigilância de HAS nos Estados Unidos. Entre imigrantes com 18 anos ou mais, residentes em Nova Iorque, o autorrelato de HAS mostrou sensibilidade de 77,8% e especificidade de 89,9%.21 No inquérito com maiores de 20 anos realizado em Pelotas, observou-se sensibilidade de 84,3% e especificidade de 87,5%.4 Na presente investigação, foram identificados valores preditivos positivo e negativo inferiores aos re- portados pelos estudos citados no parágrafo anterior: NHANES III (72% e 89%, respectivamente),20 Espanha (89,4% e 77,8%),5 São Paulo (73,7% e 78,5%)³ e Pelotas (73,9% e 93,0%).4 Esses resultados mostram que a prevalência de HAS autorreferida se aproxima da mensurada, apontando sua validade em inquéritos nessas populações. Contudo, salienta-se que os va- lores preditivos, especialmente o VPP, são altamente dependentes da prevalência do evento na população estudada. Nesse sentido, a maior magnitude desses indicadores encontrados em tais estudos, quando comparados com os achados de Rio Branco, pode ser explicada, em parte, pela maior oferta de serviços de saúde naquelas regiões. Vale destacar que, no presente estudo houve, maior sensibilidade da HAS autorreferida entre as mulheres e entre os mais velhos (40 a 59 anos). Na mesma direção apontou outro estudo espanhol, com adultos de 30 a 69 anos, ao apresentar maior sensibilidade entre mulheres e indivíduos mais velhos, evidenciando, ademais, o aumento da sensibilidade entre aqueles com menor escolaridade e os obesos.22 No estudo de Pelotas, o sexo feminino apresentou sensibilidade de 92,2% e VPP de 72,9%, enquanto no sexo masculino a sensibilidade foi de 72,7% e o VPP de 75,8%, com aumento desses valores a partir dos 50 anos de idade.4 A alta sensibilidade de HAS autorreferida em mulheres, tanto neste estudo sobre Rio Branco como em outros, pode decorrer da maior utilização dos serviços de saú- de pela população feminina.23 Já a maior sensibilidade entre os mais velhos pode se relacionar ao fato de o conhecimento da doença se manifestar com o avanço da idade24 e/ou com o aparecimento de morbidades que levam o indivíduo a buscar consultas médicas e, dessa forma, favorecer o diagnóstico de HAS.3,4,25 Maiores níveis de sensibilidade e VPP foram en- contrados entre aqueles que referiram comorbidades, diferentemente do apresentado no Colorado, Estados Unidos, onde (i) a sensibilidade foi de 73,2% e o VPP de 88,2% nos que referiram diabetes, enquanto (ii) a sensibilidade foi de 59,1% e o VPP de 62,7% nos que relataram hipercolesterolemia.26 No estudo brasileiro realizado na cidade de São Paulo (2008 e 2010), maiores níveis desses critérios de acurácia da HAS autorreferida ocorreram entre as pessoas com obesidade (78,3% de sensibilidade e 72,3% de VPP) e nos que referiram ter diabetes mellitus (sensibilidade de 88,9% e VPP de 76,9%),3 corroborando os achados deste trabalho. Morbidades como a obesidade e o diabetes mellitus exigem maior número de consultas médicas e exames para acompanhamento, condições que ampliam o conhecimento da própria condição de saúde.3,4,25 Outrossim, obesidade, diabetes mellitus e dislipidemia são fatores associados à HAS.27 Todavia, convém destacar o seguinte achado deste trabalho: entre os indivíduos que referiram ter diabetes, cerca de 50% relataram negativamente o diagnóstico prévio de HAS, sugerindo que os adultos são mais atentos ao diagnóstico de diabetes que ao de hipertensão. A baixa escolaridade entre os adultos de Rio Bran- co apresentou-se como um importante fator para a acurácia da HAS autorreferida. Em São Paulo, a sen- sibilidade da HAS autorreferida foi maior entre os que tinham menos de nove anos de estudo (77,9%; VPP de 74,9%).3 Sustenta-se a assertiva de que a situação socioeconômica adversa, representada pela escolari- dade, contribui para o aparecimento de morbidades,24 maior demanda por serviços de saúde e consequente diagnóstico de doenças. Outro importante elemento a se considerar é o acompanhamento dessa população pela Estratégia Saúde da Família (ESF), cujo modelo assistencial prioriza a cobertura de áreas com popu- lações mais vulneráveis.3 Também merece destaque a frequência de falsos- -negativos de HAS pelo autorrelato, sendo observadas maiores proporções de pessoas que desconhecem ser 9 Epidemiol. Serv. Saude, Brasília, 28(2):e2017407, 2019 Cleuciane Lima de Melo e colaboradores portadoras da doença, com destaque para os homens, pessoas na idade até 39 anos, fumantes, etilistas, indiví- duos dotados de maior escolaridade, não praticantes de atividades físicas, com sobrepeso e com ocupação. Estes indicadoressinalizam a importância de ações educativas de prevenção voltadas a esses grupos populacionais. Os resultados apresentados são corroborados por um estu- do realizado no município de Ribeirão Preto, SP, onde sobressaíram homens, jovens, trabalhadores e pessoas com maior escolaridade como os que menos procuram os serviços de saúde.28 Tal achado pode ser explicado (i) pelo fato de nem sempre o trabalhador ter facilita- da – pelo empregador – a busca por cuidados com a própria saúde; (ii) pela maior escolaridade implicar maior demanda por serviços de saúde e, ademais; (iii) por ainda ser comum entre os jovens a necessidade de conciliar estudo e trabalho.29 Algumas limitações devem ser consideradas na presente investigação. A primeira consiste na coleta de dados pelo autorrelato de HAS e na mensuração da PA terem se realizado em dias diferentes, ainda que se mantivesse um intervalo de tempo suficientemente curto de modo a garantir que não houvesse mudança no estado de saúde dos participantes. Também pode-se considerar uma limitação a definição da HAS (padrão ouro) por meio de mensuração pontual, ainda que amenizada ao se realizarem três mensurações sequen- ciais, obedecendo-se as recomendações de repouso, posicionamento e intervalo entre as medidas, e utilizar as médias das duas últimas aferições da PA sistólica e diastólica. Outra limitação potencial reside no viés de memória: era necessário que o participante se lembrasse do diagnóstico prévio de HAS feito por profissional de saúde. Finalmente, cumpre citar a simplificação na definição de algumas variáveis, como atividade física e consumo de álcool, além da perda de informação de alguns participantes, embora não houvesse diferenças significativas entre os grupos para idade e sexo. Como seus pontos fortes, o estudo apresenta a vali- dade da HAS autorreferida para a população adulta de Rio Branco, respalda futuros estudos de prevalência e contribui para compensar a escassez de estudos dessa natureza disponíveis sobre a região Norte do país. Não poucas vezes, o autorrelato é a opção viável para obtenção de dados sobre saúde. A hipertensão arterial sistêmica autorreferida, tema deste trabalho, é válida em estudos populacionais, desde que se reserve a devida cautela na avaliação de jovens até 39 anos, homens, trabalhadores, pessoas com sobre- peso e com relato de diabetes, em razão de sua baixa sensibilidade e baixo valor preditivo positivo. Estes resultados demonstram a necessidade de medidas de Saúde Pública a serem tomadas pelas autoridades sanitárias da capital do Acre, voltadas para esse público de modo a conscientizá-lo sobre a própria condição de saúde, favorecendo ações de prevenção e controle das doenças crônicas e outros agravos. Estudos de prevalência são necessários porque subsidiam informações sobre o estado de saúde da população. A validação das informações sobre do- enças crônicas pelo autorrelato é importante para a vigilância das morbidades crescentes, frente às atuais mudanças comportamentais e de estrutura etária da sociedade brasileira. Contribuição dos autores Amaral TLM, Monteiro GTR, Amaral CA e Vascon- cellos MTL contribuíram na concepção do projeto do estudo. Amaral TLM, Melo CL e Amaral CA contribuíram na coleta dos dados, análise e interpretação dos dados e redação do artigo. Todos os autores contribuíram na revisão crítica relevante do conteúdo intelectual, na aprovação da versão final e são responsáveis por todos os aspectos do trabalho, garantindo a exatidão e integridade de qualquer parte do artigo. 1. Passos VMA, Assis TD, Barreto SM. Hipertensão arterial no Brasil: estimativa de prevalência a partir de estudos de base populacional. 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Results: the prevalence rates of measured (gold standard) and self-reported SAH rates were 19.6% and 16.6%, respectively; self-reported SAH showed 53.7% sensitivity and 92.4% specificity; sensitivity ranged from 29.9% in individuals under 40 years of age, to levels above 70.0% among obese individuals and those who reported having dyslipidemia; specificity varied from 70.0% in those who self-reported diabetes mellitus, to 95.3% in eutrophic patients; the area under the ROC hypertension analysis curve was 0.77 (95%CI 0.72;0.81). Conclusion: self-reported SAH in adults 40 years old and over was found to be accurate for use in studies in Rio Branco. Keywords: Hypertension; Data Accuracy; Cross-Sectional Studies; Adult; Sensitivity and Specificity; Diagnosis. Resumen Objetivo: analizar la validez de la hipertensión arterial sistémica (HAS) autorreferida en adultos de Rio Branco, Acre, Brasil. Métodos: estudio de la exactitud diagnóstica con 576 adultos de 18 a 59 años; se calculó precisión , especificidad, valores predictivos positivo y negativo para la construcción de la curva de Receiver Operating Characteristic (ROC). Resultados: la prevalencia de la HAS comparada (patrón-oro) fue del 19,6% y de la HAS autorreferida del 16,6%; la HAS autorreferida presentó 53,7% de sensibilidad y 92,4% de especificidad; la sensibilidad varió del 29,9%, en los individuos con menos de 40 años, a niveles del 70,0% entre los obesos y los que relataron dislipidemia; la especificidad varió de 70,0%, entre los que refirieron diabetes mellitus, a 95,3% en los eutróficos;la curva ROC para análisis de la hipertensión presentó área bajo la curva de 0,77 (IC 95% 0,72;0,81). Conclusión: el autorrelato de HAS en adultos a partir de los 40 años tiene precisión para uso en investigaciones poblacionales en Rio Branco, Acre. Palabras clave: Hipertensión; Exactitud de los Datos; Estudios Transversales; Adulto; Sensibilidad y Especificidad; Diagnóstico. Recebido em 06/05/2018 Aprovado em 01/05/2019 Editora associada: Doroteia Aparecida Höfelmann – orcid.org/0000-0003-1046-3319 Examine o título, autores, instituição, revista e data. Título: O título do artigo não evidencia o delineamento da pesquisa. Em parte, acreditamos que essa escolha se deva ao fato de que estudos de acurácia diagnóstica são, por definição, estudos de análise dos padrões da amostra em um momento único — ou seja, estudos transversais. Ainda assim, a inclusão explícita do desenho do estudo é desejável, à medida em que facilita a leitura objetiva por parte de outros pesquisadores. A partir do título, podemos deduzir o fator em estudo (a acurácia da HAS autorreferida como teste diagnóstico) e a população da qual se colheu a amostra (adultos da cidade de Rio Branco, Acre). Todavia, deve-se citar que o elemento de comparação (nesse caso o padrão-ouro para diagnóstico da HAS, a aferição da pressão arterial) também não foi citado na designação do trabalho. Isso é um problema, pois, tratando-se da avaliação de acurácia de um teste diagnóstico, a primeira coisa que desejamos saber é o que serve de parâmetro. Autores: Cleuciane Lima de Melo — orcid.org/0000-0003-3379-0144 — Na plataforma ORCID, não foram encontradas informações públicas a respeito da autora. A partir de outros registros, sabe-se que Cleuciane Lima de Melo é Bacharel em Enfermagem pela Universidade Federal do Acre (2013), que tem Pós-Graduação e Mestrado (2016) em Saúde Coletiva pela mesma instituição. Inclusive, o artigo em questão foi derivado da dissertação de mestrado defendida pela autora junto ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Acre (UFAC) em 2016, explicitando com isso um conflito de interesses a se considerar. Os trabalhos já publicados pela autora cobrem áreas temáticas várias, dentre as quais podemos citar: avaliação da acurácia de testes diagnósticos para coleta de informações populacionais (referente ao trabalho atual), ações de segurança para o exercício da enfermagem perioperatória, metodologias de ensino para alunos do curso de Enfermagem, prevalência da HAS em adultos de Rio Branco, entre outras. Thatiana Lameira Maciel Amaral – orcid.org/0000-0002-9197-5633 — Conforme disposto na plataforma ORCID, Thatiana possui graduação em enfermagem pela Universidade Federal do Acre (2006), mestrado em parasitologia pela Universidad Autónoma de Asunción (2010), mestrado em Saúde Coletiva pela UFAC, doutorado e pós-doutorado em Saúde Pública e Meio Ambiente pela Escola Nacional de Saúde Pública (FIOCRUZ) (2017). Atualmente, é docente do curso de Enfermagem na Universidade Federal do Acre (Rio Branco, AC, BR), no Centro de Ciências da Saúde e do Desporto. A autora colaborou em uma lista extensa de pesquisas que, em sua maioria, avaliam diferentes fatores de saúde da população adulta de Rio Branco (AC). Desses, podemos citar: a acurácia da HAS autorreferida (trabalho em discussão), doença renal crônica, prevalência e fatores associados à polifarmácia em idosos, fatores de risco para óbito por COVID-19, autoavaliação negativa da saúde em pessoas idosas associada a condições socioeconômicas e de saúde, dentre outros trabalhos que seguem uma linha de investigação semelhante. Cledir de Araújo Amaral – orcid.org/0000-0002-7221-5364 — Conforme consta no ORCID, Cledir é mestre em Saúde Pública pela Universidade Federal do Acre (UFAC) e Doutora na mesma área pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP-FIOCRUZ). Atualmente, trabalha como Docente do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Acre. Quanto aos trabalhos que publica, nota-se consistente colaboração com a já citada autora Thatiana Lameira Maciel em trabalhos como: ‘Autoavaliação negativa da saúde em pessoas idosas associada a condições socioeconômicas e de saúde: inquérito populacional em Rio Branco, Acre’, ‘Factors associated with low handgrip strength in older people: data of the Study of Chronic Diseases (Edoc-I)’, ‘Relationship between anthropometric indicators and risk factors for cardiovascular disease in adults and older adults of Rio Branco, Acre’, ‘Hand grip strength: Reference values for adults and elderly people of Rio Branco, Acre, Brazil’, dentre outros. Maurício Teixeira Leite de Vasconcellos – orcid.org/0000-0003-1658-2589 — Conforme registrado na plataforma ORCID, Maurício é graduado em Estatística pela Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE/IBGE) e Doutor em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública (FIOCRUZ). Atualmente, trabalha como professor no IBGE, onde atuou por mais de 35 anos com dedicação especial à amostragem probabilística, métodos de pesquisa e técnicas de análise estatística. Quanto aos trabalhos publicados, nota-se colaboração recorrente com Thatiana Lameira e Cledir de Araújo Amaral, com quem publicou: ‘Prevalência e fatores associados à polifarmácia em idosos residentes em Rio Branco, Acre, Brasil: estudo transversal de base populacional’, ‘Doença renal crônica em adultos de Rio Branco, Acre: inquérito de base populacional’, Relationship between anthropometric indicators and risk factors for cardiovascular disease in adults and older adults of Rio Branco, Acre’, Autoavaliação negativa da saúde em pessoas idosas associada a condições socioeconômicas e de saúde: inquérito populacional em Rio Branco, Acre’. Gina Torres Rego Monteiro – orcid.org/0000-0002-9900-1825 — Médica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Mestre em Saúde Pública e Doutora em Ciências da Saúde pela FIOCRUZ. Atualmente, tem vínculo empregatício com a FIOCRUZ, onde desempenha o papel de pesquisadora no Departamento de Epidemiologia e Métodos Quantitativos em Saúde. Quanto aos trabalhos publicados, apresenta recorrente colaboração com Thatiana Lameira, Cledir de Araújo Amaral e Maurício Teixeira, com quem publicou: ‘Doença renal crônica em adultos de Rio Branco, Acre: inquérito de base populacional’, ‘Prevalência e fatores associados à polifarmácia em idosos residentes em Rio Branco, Acre, Brasil: estudo transversal de base populacional, 2014’, ‘Relationship between anthropometric indicators and risk factors for cardiovascular disease in adults and older adults of Rio Branco, Acre’, ‘Autoavaliação negativa da saúde em pessoas idosas associada a condições socioeconômicas e de saúde: inquérito populacional em Rio Branco, Acre’. Instituição: O trabalho em questão deriva de uma dissertação desenvolvida e defendida junto ao Programa de Pós Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Acre (UFAC), em 2016. O estudo da primeira autora, Thatiana Lameira Maciel Amaral, foi financiado com recursos de apoio a pesquisas de interesse do SUS pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), sob a égide do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações do Governo Federal Brasileiro. A UFAC é uma instituição pública e gratuita cujo objetivo é produzir e difundir conhecimento. Revista: O artigo foi publicado na revista ‘Epidemiologia e Serviços de Saúde’, periódico de caráter técnico-científico editado pela Coordenação Geral de Desenvolvimento de Epidemiologia em Serviços, do Departamento de Gestão da Vigilância em Saúde da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde do Brasil. Os patrocinadores desta são, portanto, a Secretaria de Vigilância em Saúde e o Ministério da Saúde. Não foi possível identificar qualquer associação entre os autores do presente trabalho e os integrantes do corpo editorial do periódico. O fator de impacto da revista é de 1.377 — valor considerável, se estabelecermos comocomparação a revista Ciência e Saúde Coletiva da Associação Brasileira de Saúde Coletiva, que atingiu em 2019 fator de impacto 1.008. Data: O artigo foi recebido em 06/05/2018 e aprovado em 01/05/2019. Presume-se com esse longo período de adequações que o trabalho inicialmente submetido foi consistentemente alterado para publicação na Revista. Qual é o objetivo? O objetivo do presente estudo é analisar a validade da HAS autorreferida na população adulta de Rio Branco (AC, BR), de modo a viabilizar o seu emprego em estudos e na vigilância da doença na respectiva população. Qual é o teste diagnóstico (fator em estudo)? HAS autorreferida — método este que depende do conhecimento, por parte da população, do diagnóstico prévio de HAS, assim como das características do instrumento de pesquisa de dados e de como ele é compreendido pela população. É, contudo, mais rápido e acessível para a estimação dos dados de HAS em estudos epidemiológicos. Qual o teste padrão ouro escolhido? A aferição da pressão arterial — método que, apesar de mais acurado, onera a pesquisa por envolver profissionais, o uso de equipamentos, o preparo do paciente e a aplicação de técnicas de aferição. Qual a população e o delineamento de pesquisa? O presente estudo transversal de teste diagnóstico engloba adultos (18 a 59 anos) residentes do município de Rio Branco (AC, BR) no período de abril a setembro de 2014. Excluiu-se da pesquisa mulheres grávidas e indivíduos com comprometimentos cognitivos que inviabilizassem a comunicação ou o entendimento das perguntas Vícios de seleção podem ter influenciado nos resultados? http://www.saude.gov.br/svs http://www.saude.gov.br/svs http://www.saude.gov.br/ Os dados da presente pesquisa foram colhidos a partir do eixo Edoc-A (para indivíduos com idade entre 18 e 59 anos) de um estudo de base populacional precedente, melhor descrito em Estudo das Doenças Crônicas (Edoc): aspectos metodológicos independentes. Para ambos os eixos, utilizou-se de um plano amostral conglomerado em dois estágios baseado nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de que em Rio Branco havia 336.038 habitantes, 96.276 domicílios e 338 setores censitários (2010). Na primeira fase, selecionou-se os setores censitários a serem pesquisados. Para isso, a chance de cada setor ser escolhido era proporcional ao número de domicílios particulares que continha. Na segunda fase, fez-se a seleção dos domicílios por amostragem sistemática com equiprobabilidade. Em cada domicílio, os pesquisadores entrevistaram todos os indivíduos adequados aos critérios de inclusão/exclusão (isto é, indivíduos com idade entre 18-59 anos, não gestantes e sem comprometimentos cognitivos) que aceitaram participar da pesquisa. Sendo assim, o presente estudo engloba 40 setores com 11 domicílios cada, totalizando 440. De uma maneira geral, os estudos de acurácia diagnóstica (testes transversais) são bastante representativos da prática clínica, pois selecionam suas amostras a partir de critérios de elegibilidade que se aplicam a todos os indivíduos selecionados (single-gate). As Doenças Crônicas Não-Transmissíveis — tais quais HAS, DM, doenças cerebrovasculares, neoplasias, obesidade, entre outras — se distribuem em maior prevalência na população idosa (idade superior a 60 anos). Sabendo disso, não é necessariamente um erro do estudo excluir essa população da análise, já que este se propõe a avaliar a acurácia da HAS autorreferida na população adulta, e não na população idosa. Todavia, deve-se dizer já de antemão que, em relação ao objetivo do estudo (que é ter esse dado para viabilizar o seu emprego em estudos e na vigilância da doença na respectiva população), esse critério etário de inclusão/exclusão é uma considerável restrição do quão representativo o resultado é, em relação à população como um todo. Ao se estudar a acurácia de um teste diagnóstico, espera-se que a pesquisa seja conduzida (pelo menos) com a população na qual essa condição é mais prevalente. Além disso, considerando a forma como se deu a seleção dos indivíduos participantes do estudo (por setor censitário e domicílio), é possível que a pesquisa tenha analisado setores censitários que desviam das características gerais da população de Rio Branco. Por mais que seja extremamente improvável, uma vez que foram selecionados 40 de 338 setores, devemos nos atentar ao fato de que o único critério relevante para a seleção dos setores foi a quantidade de domicílios em cada um. Como supracitado, a chance de cada setor ser selecionado era proporcional à quantidade de domicílios particulares que abrangia. Sendo assim, é possível que a pesquisa tenha incluído setores com padrões demográficos que desviam do que seria “média” para a população como um todo. Para sustentar este argumento, propõe-se a análise das 22 regiões de Rio Branco com base em 3 dados demográficos que mais nos interessam — (1) mortalidade infantil, (2) taxa de escolarização e (3) PIB per capita — no mesmo documento utilizado pela pesquisa de Claudiane et al., o Censo Demográfico de 2010 (IBGE). (1) Mortalidade Infantil — Para o Censo Demográfico, a taxa de mortalidade infantil é o principal indicador da saúde populacional. Em 2010, Rio Branco apresentou média de 18,18 óbitos por 1.000 nascidos vivos. Nos anos posteriores, esse índice caiu consideravelmente, sendo o dado mais recente de 2019, com uma média de 11,07 óbitos a cada 1.000 nascidos vivos. Esses dados se referem à cidade como um todo. Todavia, quando analisamos região por região, percebemos discrepâncias consideráveis. Nas regiões de Manoel Urbano, Rodrigues Alves, Santa Rosa do Purus e Feijó as taxas de mortalidade infantil são (respectivamente e em ordem decrescente) de 43.48, 41.92, 37.63 e 35.59. A partir desses dados, pressupomos que as condições globais de vida dessas populações sejam piores, um desvio do padrão populacional da cidade. (2) Taxa de escolarização — Servindo de critério para avaliação do nível educacional da população, a taxa de escolarização dos 6 aos 14 anos de idade média de Rio Branco é de 95,1%. Em uma análise mais aprofundada, contudo, nota-se que algumas das regiões já mencionadas — Santa Rosa do Purus (63.8), Manoel Urbano (78), Feijó (82.9) — se juntam a outras, como Jordão (71.3), compondo o grupo de piores taxas de escolarização. Isso só reforça o já exposto argumento de que há regiões da cidade com piores indicadores de desenvolvimento e que, sendo assim, é possível que os setores censitários selecionados para compor a amostra não sejam representativos, necessariamente, de toda a população de Rio Branco. (3) PIB per capita — Indicativo da condição socioeconômica da população de Rio Branco, o PIB per capita médio de Rio Grande é de 22.287,70 R$. Em relação a este critério, ainda há considerável disparidade de região para região, com escores baixos em locais como Jordão (9428.70 R$), Porto Walter (9569.61 R$), Rodrigues Alves (9973.26 R$), Feijó (10500.72 R$) e Santa Rosa do Purus (11233.49 R$). Tudo isso em vista, é possível (apesar de improvável) que a seleção dos setores censitários (e, portanto, dos domicílios) tenha apresentado uma amostra viciada da população geral. A pesquisa em questão contorna esse vício de seleção à medida em que os próprios questionários aplicados (Edoc-1 e Edoc-2) sondam critérios de sexo, escolaridade, situação conjugal, morbidades, prática de atividade física, etilismo e tabagismo para uma análise equilibrada da população. Se os dados apresentados forem compatíveis com a média de Rio Branco, o possível vício é neutralizado. Analisando os detalhes do desenho amostral descritos por Amaral et al. no artigo Estudo das Doenças Crônicas (Edoc): aspectos metodológicos, repara-se um aspecto bastante positivo da seleção amostral: como a pesquisa seria conduzida com todos os moradores dos domicílios selecionados que aceitassem participar da pesquisa e que fossem elegíveis, era preciso se pensar em quem, afinal, estaria presente nessa habitação e também em todas as pessoas quese negariam a integrar a pesquisa. Em consideração disso, o estudo prevê que é mais provável que os idosos estejam em casa e aceitem participar da pesquisa que os adultos (dado que estes últimos compõem, majoritariamente, a PEA). Sendo assim, as amostras das pesquisas Edoc-A e Edoc-I (antes calculadas com base na prevalência de alterações da função renal em ambas essas populações) foram ampliadas em 20% e 12,5%, respectivamente. Com isso, o estudo atingiu o número final de 576 adultos entrevistados. Se estudo de caso-controle, qual o espectro da doença refletido pelos casos; qual o padrão de saúde do grupo controle? A escolha do teste-padrão foi adequada? O presente estudo adota o delineamento desejado para um teste de acurácia diagnóstica, a transversalidade. Isso significa, de modo geral, que os mesmos critérios de elegibilidade foram aplicados a todos os indivíduos que compõem a amostra. Quanto à escolha do teste-padrão, pode-se dizer que esta foi adequada, já que se adequa às diretrizes brasileiras de hipertensão para diagnóstico da HAS. Vícios na aferição poderiam ter influenciado nos resultados? Os critérios de medida foram objetivos? A aferições do teste e do teste-padrão foram feitas independentemente? Para que possamos pensar nos possíveis vícios de aferição, primeiro precisamos saber como esta foi conduzida em cada um dos processos: (1) HAS autorreferida e (2) HAS por mensura da PA. (1) HAS autorreferida — Ao se questionar ao(a)paciente se ele(a)a já havia sido diagnosticado, por algum médico, com o quadro de HAS, foram considerados com HAS aqueles que relataram que sim. (2) Aferição da PA — Realizado um dia depois da aplicação dos questionários Edoc-A e Edoc-I, o procedimento: respeitou a conduta de só ser realizado 30 minutos (ou mais) depois da última ingestão de cafeína ou de fumo de cigarro; foi executado com o paciente sentado, com as pernas descruzadas, os pés apoiados no chão, o dorso recostado na cadeira, o paciente relaxado, com o braço na altura do coração, livre de roupas e apoiado com a palma da mão voltada para cima e o cotovelo ligeiramente fletido; (3) utilizou aparelho digital da marca Beurer®, com o manguito bem ajustado 2 a 3cm acima da fossa cubital; (4) baseou-se em três aferições (a primeira após 5 minutos de repouso inicial e as duas seguintes com 2 minutos de intervalo, cada). Foram considerados como HAS mensurada pacientes que apresentaram m ≥140 mmHg para a PA sistólica e/ou ≥90 mmHg para a PA diastólica, assim como indivíduos que relataram uso de medicamentos anti-hipertensivos (mediante comprovação pela apresentação de receita ou de embalagem do medicamento). Os critérios de medida foram bastante objetivos (principalmente no caso da Aferição da PA) e ambas as aferições (tanto do teste, quanto do do teste-padrão) foram realizadas independentemente e em dias diferentes. Todavia, deve-se citar que a HAS autorreferida tem como limitação a memória do paciente, o diagnóstico falso-positivo/falso-negativo do médico com quem o indivíduo se consulta, a ausência de diagnóstico por não haver procura do serviço de saúde, dentre outras situações menores. O teste-padrão (aferição da PA) foi conduzido em conformidade com as diretrizes brasileiras de hipertensão, tanto para realização do procedimento quanto para diagnóstico da HAS. Examine os resultados (figuras e tabelas e, se necessário, o texto). Comparado com o teste padrão, qual a sensibilidade e especificidade do teste em estudo? Adotando-se IC=95% e p>0,05, a sensibilidade do teste em estudo (em relação ao teste padrão) foi de 53,7% (53,2;54,2), enquanto a especificidade foi de 92,4% (92,3;92,5). Em termos práticos, isso significa que a HAS autorreferida foi capaz de identificar corretamente 53,7% das pessoas com HAS (de acordo com o teste padrão). Também aponta que 92,4% das pessoas que autorreferiram diagnóstico tinham, de fato, a doença. Intervalos de confiança da sensibilidade e especificidade foram relatados? Qual é a variabilidade do teste e do teste-padrão? Adotando-se IC=95% e p>0,05: (1) Sensibilidade = 53,7% (53,2;54,2); (2) Especificidade = 92,4% (92,3;92,5). Entre os indivíduos positivos no teste, que porcentagem é verdadeiramente doente? (Probabilidade pós-teste positiva ou Valor preditivo positivo) Para os indivíduos que autorreferiram HAS: a probabilidade de que, de fato, tenham HAS é de 63,3%. Entre os indivíduos negativos no teste, que porcentagem tem a doença? (Probabilidade pós-teste negativa ou 1- Valor preditivo negativo) Para os indivíduos que não autorreferiram HAS: a probabilidade de, de fato, não tenham HAS é de 89,1%. No estudo qual é a prevalência da doença [Probabilidade pré-teste = (a+c)/(a+b+c+d)] da doença? Compare as probabilidades pré e pós-teste. No estudo, a prevalência/probabilidade pré-teste (VP+FN)/(VP+FP+VN+FN) de Hipertensão Arterial Sistêmica é de 25,9%. A probabilidade pós-teste (HAS autorreferida), por outro lado, é de 16,6% (IC95% 13,2;20,7). A probabilidade pré-teste do estudo é maior do que a probabilidade pós-teste, ou seja, maior do que a prevalência de HAS disposta na literatura. Qual a capacidade de generalização dos resultados? A apresentação clínica no seu caso encaixa-se bem nos espectros de doença e não doença dos participantes do estudo? Dado que a população de Rio Branco é demograficamente equilibrada em relação ao sexo dos cidadãos (com um número total de homens muito próximo ao número total de mulheres), a participação majoritária de mulheres (447) em relação aos homens (197) no estudo nos concerne em relação à capacidade de generalização dos resultados. Essa característica da pesquisa é bastante compreensível — dado que, historicamente, a entrada das mulheres na população economicamente ativa é mais tardia e culturalmente desestimulada. Desse modo, é mais comum que se encontre mulheres do que homens nos domicílios, estes os quais serviram de base à construção da amostra do estudo. Além de o sexo feminino ser um fator de risco para a maioria das DCNT, é fato que as mulheres procuram mais os serviços de saúde e que, portanto, têm maior conhecimento da ausência/presença de doenças. O estudo reconhece isso ao estabelecer que, com a HAS autorreferida, há subestimação da realidade quando se tratando de homens, de indivíduos com ocupação (maioria na população real, minoria na amostra), pessoas apresentando sobrepeso, diabéticos e dislipidêmicos (autorreferidos). Ainda, há o esclarecimento de que a sensibilidade do teste índice é menor entre indivíduos jovens (atingindo somente 29,9%, provavelmente porque esta população tem menor prevalência de comorbidades e porque procuram menos os serviços de saúde) e obesos. Por isso, acreditamos que a capacidade de generalização dos resultados proposta pelo estudo é coerente com a realidade, dado o reconhecimento de suas limitações. Quanto à apresentação clínica, pode-se dizer que a caracterização do que é (ou não) doença no estudo é condizente com o que se adere na prática clínica cotidiana. Se a prevalência da doença no estudo é diferente da probabilidade pré-teste de seu caso, como ficariam as probabilidades pós-teste do mesmo? O teste em estudo é factível em sua prática (está à disposição, é de baixo risco e de razoável custo?) A probabilidade pré-teste (prevalência — 25,9%) é maior que a probabilidade pós-teste (16,6%), o que significa que a prevalência de HAS indicada pelo estudo é superestimada, se em comparação com a prevalência indicada por outras literaturas. Essa maior prevalência pelos resultados do estudo provoca aumento do Valor Preditivo Positivo (se um indivíduo autorrefere HAS, qual a chance de ter, de fato, a doença?) e diminuição do Valor Preditivo Negativo (se o indivíduo não refere HAS, qual a real chance de ele não ter a doença?).. Quanto a ser factível, o estudo em questão é acessível (não representa custo adicional algum), não apresenta quaisquer riscos ao paciente e está disponível a todos os profissionais da saúde e pesquisadores. Suas conclusões concordam com as conclusões dos autores?Sim. Reconhecidas as limitações da HAS autorreferida para homens, indivíduos com ocupação, pessoas com sobrepeso, diabéticos e dislipidêmicos (em razão de uma subestimação dos resultados), os demais resultados são compatíveis com a realidade populacional e atestam que a HAS autorreferida é uma estratégia útil à pesquisa populacional da Hipertensão Arterial Sistêmica.
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