Prévia do material em texto
Câncer de pulmão O tabagismo causa mais de 80% dos casos de câncer do pulmão. O risco de desenvolver esse tipo de câncer pelos tabagistas aumenta com a duração do uso e o número de cigarros fumados por dia. Além do tabagismo e dos riscos industriais (asbesto), também há indícios sugerindo uma predisposição familiar ao câncer de pulmão. Isso pode ser atribuído a uma predisposição genética, na qual o traço é expresso apenas quando há algum outro fator predisponente importante, como o tabagismo. Subtipos histológicos e patogênese: A maioria (cerca de 95%) dos tumores pulmonares primários é de carcinomas originados dos tecidos pulmonares. Os casos restantes (5%) constituem um grupo diverso que inclui tumores carcinoides brônquicos (tumores neuroendócrinos), tumores das glândulas brônquicas, fibrossarcomas e linfomas. O pulmão também é um órgão acometido frequentemente por metástases de cânceres originados em outras partes do corpo. Os cânceres de pulmão têm sido classificados como tumores agressivos ou não agressivos, localmente invasivos e metastáticos amplamente disseminados que se originam do revestimento epitelial dos brônquios primários. Esses tumores começam como diminutas lesões da mucosa, que podem ter um dentre vários padrões de crescimento. As lesões podem formar massas intraluminares que invadem a mucosa brônquica e infiltram os tecidos conjuntivos peribrônquicos, ou podem produzir massas volumosas que se estendem aos tecidos pulmonares adjacentes. Alguns tumores volumosos sofrem necrose central e desenvolvem áreas localizadas de hemorragia, enquanto outros invadem a cavidade pleural e a parede torácica e espalham-se para as estruturas intratorácicas adjacentes. Todos os tipos de câncer do pulmão, especialmente o carcinoma pulmonar de pequenas células, têm condições de sintetizar produtos bioativos e causar síndromes paraneoplásicas. Essas síndromes são resultado da produção ectópica de peptídios hormonais pelo tumor ou da formação de autoanticorpos liberados em resposta ao tumor. Em geral, as síndromes paraneoplásicas têm etiologia endócrina, neurológica e/ou imune. Cânceres pulmonares de pequenas células: Os CPPC caracterizam-se por células redondas ou ovais pequenas que têm dimensões semelhantes ao tamanho de um linfócito. As células proliferam em grupos, que não demonstram organização glandular ou escamosa. Exames de microscopia eletrônica revelam a existência de grânulos neurossecretórios em algumas células do tumor, que são semelhantes aos encontrados no epitélio brônquico do feto ou do recém-nascido. Esses grânulos sugerem a possibilidade de que alguns desses tumores secretem hormônios polipeptídicos. Marcadores neuroendócrinos, como enolase específica dos neurônios, peptídio semelhante ao paratormônio e outros produtos hormonais ativos, sugerem que esses tumores possam ter origem nas células neuroendócrinas do epitélio brônquico. Esse tipo de célula está diretamente associado ao tabagismo e raramente é observado nos indivíduos que nunca fumaram. Os CPPC são altamente malignos, tendem a causar infiltrados difusos, disseminam em estágios precoces de sua evolução e raramente são operáveis. Metástases cerebrais são especialmente comuns e estas podem ser as primeiras manifestações do tumor. Esse tipo de câncer pulmonar está associado a várias síndromes paraneoplásicas, inclusive síndrome de secreção inadequada de hormônio antidiurético (SSIADH), síndrome de Cushing associada à secreção ectópica de hormônio adrenocorticotrófico e síndrome de Eaton-Lambert (um distúrbio neuromuscular). Cânceres pulmonares de células não pequenas Os CPCNP incluem carcinomas espinocelulares, adenocarcinomas e carcinomas de células grandes. Como também ocorre com os CPPC, esses cânceres podem sintetizar produtos bioativos e causar síndromes paraneoplásicas. Carcinoma espinocelular. É diagnosticado mais comumente nos homens e está relacionado com a história de tabagismo. Esse tipo de carcinoma tende a originar-se dos brônquios centrais na forma de uma proliferação intraluminar e, deste modo, pode ser diagnosticado mais precocemente por exame citológico do escarro que os outros tipos de câncer do pulmão. O carcinoma espinocelular busca disseminar-se centralmente aos brônquios primários e aos linfonodos hilares e, nos estágios mais avançados que com os outros cânceres broncogênicos, espalha-se para fora do tórax. O carcinoma espinocelular está associado às síndromes paraneoplásicas que causam hipercalcemia. Adenocarcinoma. Hoje em dia, adenocarcinoma é o tipo mais comum de câncer de pulmão nos EUA. A associação desse tipo de câncer ao tabagismo é menos evidente que a do carcinoma espinocelular. O adenocarcinoma de pulmão é mais comum nas mulheres e nos indivíduos que não fumam. Os adenocarcinomas podem originar-se dos tecidos bronquiolares ou alveolares do pulmão. Esses tumores tendem a se localizar mais perifericamente que os carcinomas espinocelulares e, em alguns casos, estão associados a áreas de retração fibrótica. Essas áreas podem ser ocasionadas por infartos antigos, corpos estranhos metálicos, feridas e infecções granulomatosas, inclusive tuberculose. Em geral, os adenocarcinomas têm prognóstico mais desfavorável que os carcinomas espinocelulares nos estágios correspondentes. Carcinoma de células grandes. Caracteriza-se por células poligonais volumosas. Esses tumores constituem um grupo de neoplasias altamente anaplásicas e difíceis de classificar como carcinomas espinocelulares ou adenocarcinomas. Os carcinomas de células grandes tendem a ocorrer na periferia dos pulmões e invadir brônquios segmentares e vias respiratórias mais calibrosas. Os tumores desse tipo têm prognóstico desfavorável, em razão de sua tendência a produzir focos metastásticos distantes em estágios iniciais de sua evolução. Manifestações clínicas As manifestações clínicas do câncer de pulmão são divididas em três grupos: 1.Atribuídas ao envolvimento do pulmão e das estruturas adjacentes 2.Efeitos da disseminação local e das metástases 3.Manifestações paraneoplásicas não metastáticas envolvendo as funções endócrinas, neurológicas e dos tecidos conjuntivos. Como também ocorre com outros tipos de câncer, os cânceres causam sinais e sintomas inespecíficos como anorexia e emagrecimento. Como seus sintomas são semelhantes aos que estão associados ao tabagismo e à bronquite crônica, estas queixas geralmente não são levadas em consideração. Muitos pacientes que se apresentam com indícios de um câncer de pulmão já têm metástases. Os locais afetados mais comumente por essas metástases são encéfalo, ossos e fígado. Algumas manifestações clínicas dos cânceres de pulmão resultam da irritação local e da obstrução das vias respiratórias, assim como da invasão do mediastino e do espaço pleural. As primeiras queixas são tosse crônica, dispneia e sibilos causados por irritação e obstrução das vias respiratórias. Hemoptise acontece quando a lesão provoca erosão dos vasos sanguíneos. Os receptores de dor do tórax estão limitados a pleura parietal, mediastino, grandes vasos sanguíneos e fibras vagais aferentes peribrônquicas. Dor retrosternal difusa, intermitente e mal localizada é comum com os tumores que invadem o mediastino. A dor torna-se persistente, localizada e mais grave quando a doença invade a pleura. Os tumores que invadem o mediastino podem causar rouquidão secundária ao envolvimento do nervo laríngeo recorrente e dificuldade de deglutir em consequência da compressão do esôfago. Uma complicação rara conhecida como síndrome da veia cava superior ocorre em alguns pacientes com invasão tumoral do mediastino. A interrupção do fluxo sanguíneo desse vaso geralmente é causada pela compressão pelo tumor ou linfonodos afetados. A síndromepode interferir na drenagem venosa da cabeça, do pescoço e da parede torácica. O prognóstico é determinado pela velocidade com que a síndrome desenvolve-se e pela adequação da circulação colateral. Tumores adjacentes à pleura visceral geralmente causam derrames pleurais insidiosos. Esse derrame pode comprimir o pulmão e causar atelectasia e dispneia, mas tem menos tendência a causar febre, atrito pleural ou dor que os derrames pleurais resultantes de outras etiologias.