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SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO MARTINS, Júlio C,A Fundamentos Sociológicos da Educação – Itaúna: GAM, 2017. ISBN – Título FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO Copyright © 2017 by Júlio Martins O direito moral do autor foi assegurado. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, ou transmitida por qualquer forma ou meio Eletrônico ou mecânico, inclusive fotocópia, gravação ou sistema de armazenagem e recuperação de informação, sem a permissão escrita do autor. A reprodução sem a devida autorização constitui pirataria. APRESENTAÇÃO As instituições de ensino superior são a ponte para que o indivíduo consiga melhor se qualificar para o mercado de trabalho e, consequentemente, ter a ascensão social tão deseja- da e difundida pelo sistema capitalista. Para que o indivíduo possa desenvolver as suas habilidades, torna-se necessário dar continuidade aos estudos, frequentando um curso de nível superior nas diversas áreas existentes. Ao optar pelo curso de sua preferência é necessário que o aluno tenha em mente que estará entrando para um universo diferente da educação recebida no Ensino Básico e que seu esforço pessoal é indispensável para o seu sucesso, principalmente nos cursos à distância e semipresenciais. Esse processo envolve realizar todas as atividades solicitadas no seu curso, a capa- cidade de ser autodidata e de buscar outras fontes de conhecimento. O objetivo maior deste esforço é melhorar as suas habilidades e, assim, o desempenho para o mercado de trabalho. Sabemos que esporadicamente esse mercado é afetado pelas crises econômicas, políticas e sociais e quem possui o maior grau de conhecimento específico e generalizado consegue suportar melhor essas variações. Como esse processo não é apenas econômico e político, mas principalmente social, cabe a cada um de nós fazer a sua parte através da dedicação à profissão, à educação continuada, ao desenvolvimento da ética e da cidadania em nosso dia a dia, entre outras ações. Segundo Voltaire, “a Educação é uma descoberta progressiva de nossa própria ignorância”, assim ao dar a nossa contribuição para o nosso próprio desenvolvimento, estamos levando adiante um anseio antigo, o de criar um país mais justo e menos desigual. Felicitamos a todas as pessoas que dão continuidade aos estudos ou que tem a iniciativa de voltar aos mesmos, fonte de desenvolvimento pessoal e profissional. Júlio Martins Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 06 UNIDADE I - A SOCIOLOGIA E SEUS PRINCIPAIS PENSADORES ................................................................. 07 1.1. PENSADORES CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA........................................................................ 08 1.1.1. Auguste Comte ................................................................................................................. 08 1.1.1.1. A Influência de Comte no Brasil.................................................................................. 09 1.1.1.2. A lei dos três estados ................................................................................................. 09 1.1.1.3. Algumas obras e citações de Auguste Comte ............................................................ 11 1.1.2. Karl Heinrich Marx ............................................................................................................ 12 1.1.2.1. Algumas obras e citações de Marx ............................................................................. 13 1.1.3. Max Weber ....................................................................................................................... 14 1.1.3.1. Algumas obras e citações de Weber .......................................................................... 17 1.1.4. Emile Durkheim ................................................................................................................ 18 1.1.4.1. Algumas obras e citações de Durkheim ..................................................................... 19 UNIDADE II - A MOBILIDADE SOCIAL .............................................................................................. 21 2.1. A EDUCAÇÃO COMO FATOR DE MOBILIDADE SOCIAL ......................................................... 22 2.2. MOBILIDADE SOCIAL: RETRATO DA SOCIEDADE E SUA ESTRUTURA ................................ 23 2.3. ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL..................................................................................................... 24 2.3.1. Tipos de estratificação social ............................................................................................ 24 2.3.2. Atualizando o pensamento Weberiano .............................................................................. 25 2.3.3. Apontamentos sobre as castas ......................................................................................... 26 2.3.4. Revisando os estamentos ................................................................................................. 27 2.3.5. A desigualdade das relações sociais.................................................................................. 28 2.3.6. Facilidades, oportunidades e restrições ............................................................................. 28 UNIDADE III – A ESCOLA COMO INSTITUIÇÃO SOCIAL ................................................ 30 3.1. A ESCOLA COMO ORGANIZAÇÃO ......................................................................................... 33 3.2. A ESCOLA E O CONTROLE SOCIAL ....................................................................................... 34 3.2.1. A escola e o desvio social ................................................................................................. 26 Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional. SUMÁRIO UNIDADE IV - A SOCIOLOGIA NO BRASIL ..................................................................... 38 3.3. FASES DO DESENVOLVIMENTO DA SOCIOLOGIA NO BRASIL ............................................. 38 3.3.1. Fase de Elaboração (final do século XIX até a década de 30) ............................................. 38 3.3.2. Fase inicial da Institucionalização (de 1930 até 1945) ....................................................... 39 3.3.3. Fase da Consolidação (a partir de 1945) ............................................................................ 40 3.3.4. Fase de Pleno Desenvolvimento (fins dos anos 50 em diante) ........................................... 41 3.4. PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL .......................................................................... 42 3.4.1. Estrutura do sistema educacional brasileiro ....................................................................... 43 3.4.2. Concepções aplicadas à escola ........................................................................................ 47 3.5. ANALFABETISMO E ACESSO À ESCOLA ............................................................................... 48 UNIDADE V - A SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL ............................................ 50 UNIDADE VI - A PROFISSÃO DE PROFESSOR ............................................................... 54 UNIDADE VII: MOVIMENTOS SOCIAIS ......................................................................................................61 7.1. IDEOLOGIA ............................................................................................................................. 62 7.2. O PODER E O ESTADO........................................................................................................... 63 7.2.1. As teorias sociológicas clássicas sobre o Estado ............................................................... 63 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 66 ANEXO I: TESTES DE CONHECIMENTO ........................................................................ 71 ANEXO II: GABARITO DOS TESTES DE CONHECIMENTO ............................................ 80 Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional. INTRODUÇÃO Os sociólogos estudam as organizações sociais e culturais, buscando entender os fenômenos que nelas ocorrem, suas estruturas e as relações que as caracterizam. Assim, buscam compreender os costumes, os hábitos e as relações entre indivíduos, famílias, grupos e instituições. Portanto, a Sociologia é uma ciência extremamente importante para a sociedade, pois busca entender o mundo em que vivemos e a procurar soluções para os problemas vivenciados pela sociedade. Os sociólogos realizam pesquisas sobre diversos temas, envolvendo, principalmente, as áreas humanas e sociais. Entre os temas mais pesquisados estão o Estado, as relações na família, organizações institucionais, comportamento social, estudo da religião e sua influência no comportamento, o papel da política na sociedade, educação, pobreza, desigualdades, criminalidade, entre outros. Para desenvolver as pesquisas são utilizadas técnicas qualitativas e quantitativas. As qualitativas permitem um maior entendimento dos processos sociais, tendo como instrumento as entrevistas dirigidas, discussões em grupo, entre outros. Já a quantitativa permite descrever padrões gerais observados nas relações sociais, levando ao desenvolvimento de modelos que permitem compreender as mudanças sócias e as reações dos indivíduos a elas. Os resultados dessas pesquisas são do interesse geral, mas o principal interessado é o Estado, pois colaboram com o planejamento e com a implantação de programas de intervenção social. A Sociologia tem por objetivo também contribuir para que o indivíduo se conscientize sobre o seu comportamento individual e social, buscando despertá-lo para o papel que deve desempenhar na sociedade, o de um cidadão consciente e ético e que busca contribuir para o bem-estar de todos. A importância da Sociologia está principalmente no fato de compreender e expor os problemas sociais, provocando debates e reflexões que levem à busca de soluções para os mesmos. Além disso, como uma disciplina da área Social e de Humanas, leva os debates para a sala de aula, o que contribui para a formação do indivíduo e para a consciência social. 6 Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional. UNIDADE I A SOCIOLOGIA E SEUS PRINCIPAIS PENSADORES UNIDADE I A SOCIOLOGIA E SEUS PRINCIPAIS PENSADORES UNIDADE I: A SOCIOLOGIA E SEUS PRINCIPAIS PENSADORES A Sociologia desenvolve estudos sobre a vida social humana em grupos e na sociedade, estu- dando o comportamento humano em seu meio e nos levando a compreender os motivos e as consequências de nossos atos individuais ou em grupos. A Sociologia analisa ainda as relações de exigências presentes na vida e na sociedade, não determinando normas quanto aos estados sociais e nem da conduta humana, pois se atém aos fa- tos e à realidade, tornando-se objeto de interesse da filosofia e da ética social. A Sociologia é a ciência pertencente ao grupo das ciências sociais e humanas que tem por ob- jetivo o estudo e a análise dos fenômenos de inte- ração entre os indivíduos, suas formas de estrutu- ração social, que dão origem às camadas sociais; a mobilidade social; a formação dos seus valores sociais, de suas instituições, suas normas, leis e conflitos; e as suas formas de contribuições ge- radas através das relações sociais. Como pode ser percebida, a Sociologia engloba várias áreas, fazendo-se presente através da sociologia comu- nitária, econômica, financeira, política, jurídica, do trabalho, da familiar, entre outras. Os métodos uti- lizados para estudos na sociologia envolvem as técnicas qualitativas e quantitativas, sendo que a primeira trata do detalhamento de situações e comportamentos, enquanto que a quantitativa re- fere-se às análises estatísticas (COSTA, 2005). A Sociologia começou a ser estudada e desen- volvida entre a Revolução Francesa e a primeira Revolução Industrial (1789 – 1857) pelo filósofo francês Isidore Auguste Marie François Xavier Comte, porém o conceito surgiu do pensamen- to social e filosófico do iluminismo e do idealismo alemão. O termo sociologia vem do latim (socius= associação) e do grego (logus= estudo, ciência). Comte acreditava que a sociedade deveria pas- sar por um estudo cientifico, a fim de criar normas e regras gerais para os fenômenos sociais a fim de serem entendidos, tendo por objetivo a solu- ção dos problemas de convivência (FERRARI, 2013). Com o tempo, os estudos sociológicos foram aprofundando e abrangendo outros aspectos das relações humanas, levando à conclusão que a sociedade não possui nenhuma regra fixa ou leis que lidam com os fenômenos sociais. Portanto, é através dos estudos sociológicos que podemos entender as complexidades do mundo e dos nos- sos comportamentos. A corrente sociológica fundada por Comte foi denominada de positivo-funcionalista, sendo que mais tarde Émile Durkheim deu continuidade aos seus estudos. Karl Marx e Max Weber também deram suas contribuições à sociologia, dando origem a importantes correntes, as quais influen- ciam estudos e investigações sociais até a atuali- dade (FERRARI, 2013). A sociologia da educação, que é o objeto desse estudo, é vista como uma área da sociologia que tem a finalidade de estudar a interação entre a 8 Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional. UNIDADE I: A SOCIOLOGIA E SEUS PRINCIPAIS PENSADORES escola e a sociedade onde está inserida, consi- derando ainda a escola como uma organização e uma instituição social. Para que se possa en- tender melhor essa relação, torna-se necessário conhecer os principais clássicos da Sociologia, que são Auguste Comte, Karl Marx, Max Weber e Emile Durkheim. 1.1. PENSADORES CLÁSSICOS DA SOCIO- LOGIA. 1.1.1. Auguste Comte Nascido em 1798, na cidade de Montpellier/ França, Auguste Comte foi um dos mais brilhan- tes filósofos da época e conhecido como o criador da corrente de pensamento chamado “Positivis- mo”. Seus primeiros estudos foram realizados na sua cidade natal, porém, em 1814, mudou-se para Paris e ingressou na Escola Politécnica, que veio a fechar temporariamente, levando-o a retor- nou a Montpellier para dar continuidade a seus estudos na faculdade de medicina (CARDOSO, 1994). Em 1817, retornou a Paris e aos estudos na es- cola politécnica, permanecendo até ser expulso. Durante o mesmo ano, ele se tornou secretário do socialista Saint-Simon (1817-1824), que foi quem o apresentou à intelectualidade francesa. Nessa época, começou a escrever o livro “Curso de Filosofia Positiva”, que se tornaria referência para a filosofia das ciências, pois deu origema uma das classificações das ciências e formulou a chamada Lei dos Três Estados, que é a base fundamental de sua obra. FIG. 1 – Auguste Comte Fonte: Imagem da internet Em 1826, Comte foi internado em uma clínica de saúde mental para tratar de problemas psiqui- átricos. No ano de 1832, voltou à Escola Politéc- nica para lecionar, porém saiu em 1844 por não obter cátedra. Em 1848, fundou a “Sociedade Positivista”, conquistando muitos seguidores. Au- guste Comte faleceu em Paris, França, no dia 5 de setembro de 1857(OLIVEIRA, 1997). 1.1.1.1. A Influência de Comte no Brasil As ideias de Auguste Comte influenciaram mui- to a formação da República no Brasil. O lema da bandeira brasileira, “Ordem e Progresso”, foi uma inspiração da doutrina positivista desse filósofo, sendo que as ações políticas que seguiram à Pro- clamação da República foram, principalmente, a separação entre igreja e Estado, fim do anonima- to na imprensa, estabelecimento do casamento Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional . 9 UNIDADE I: A SOCIOLOGIA E SEUS PRINCIPAIS PENSADORES civil e a reforma educacional que foi proposta por Benjamin Constant, todas influenciadas pela filo- sofia positivista de Auguste Comte. 1.1.1.2. A lei dos três estados A filosofia da história, de acordo como Comte, é de certa forma tão visionária quanto à de Georg Wilhelm Friedrich Hegel, filósofo alemão. Para Comte (VIANA, p. 123) “as ideias conduzem e transformam o mundo” sendo a evolução da in- teligência humana que comanda o desenvolvi- mento da história. Do mesmo modo que Hegel, Comte pensa que nós não podemos conhecer o espírito humano se não for através de suas obras sucessivas como, por exemplo, a da civilização e da história dos conhecimentos e das ciências, que a inteligência, de forma alternada, produziu no curso da história. Dessa forma, Comte acredita que o espírito não poderia se conhecer interiormente, rejeitando a reflexão, pois o sujeito do conhecimento se con- funde com o objeto estudado e, também, porque ele só pode si descobrir através das obras da cul- tura e, principalmente, da história das ciências. A vida espiritual verdadeira não é uma vida interior e, sim, a atividade científica que se desenvolve através do tempo. Como dizia Gouhier (1931, p. 67), a filosofia comtista da história é “uma filosofia da história do espírito através das ciências”. Nesse contexto, Comte (FERRARI, 2013) afir- ma que o espírito humano para desvendar o uni- verso com esforço próprio passa sucessivamente por três estados: I. O estado teológico: estado que explica os acontecimentos por meio de vontades pareci- das com a nossa, sendo abstraído do fetichis- mo, do politeísmo e do monoteísmo como, por exemplo, a tempestade que era explicada por um capricho de Éolo, deus dos ventos; II. O estado metafísico: este estado substitui os deuses por princípios abstratos por longo tempo dado à natureza como, por exemplo, “o horror ao vazio”. Usando o exemplo citado anteriormente, a tempestade neste estado era explicada por “virtude dinâmica“ do ar, sendo que este estado é tão antropomórfico quanto o primeiro, portanto, o homem cria sua própria psicologia sobre a natureza, sendo a explica- ção teológica ou metafísica uma explicação psicológica. A explicação metafísica tem uma importância sobretudo histórica para Comte, que a usa como crítica e negação da explica- ção teológica antecedente. Sendo assim, os revolucionários de 1789 (Revolução France- sa e a Tomada da Bastilha) foram metafísicos quando se referiram aos direitos do homem; III. O estado positivo: este estado é aquele em que o espírito renuncia à procura dos fins últi- mos e a responder aos últimos “por quês”. A ideia de causa, mudança abusiva de nossa ex- periência interior do querer para a natureza, é 10 Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional . UNIDADE I: A SOCIOLOGIA E SEUS PRINCIPAIS PENSADORES por ele substituída pela noção de lei. O espírito deve contentar em descrever como os fatos ocorrem e em descobrir as leis exprimíveis em linguagem matemática, segundo as quais os fenômenos se sujeitam uns aos outros. Esta concepção do saber termina diretamente na técnica em que o conhecimento das leis posi- tivas da natureza permite prever o fenômeno que ocorrerá e, casualmente, agindo sobre o primeiro, transformar o segundo. Para Comte, a Lei dos Três Estados não era so- mente verdadeira para a história da nossa espé- cie, ela serviria também para o desenvolvimento do indivíduo. Para ele, a criança utiliza explica- ções teológicas, os adolescentes a metafísicas e os adultos chegam a uma concepção positivista das coisas. Dessa maneira, são semelhantes me- tafísicas as tentativas de explicação dos aconteci- mentos biológicos que partem do “princípio vital”, como as explicações do comportamento humano que parte da noção de “alma” (FERRARI, 2011). 1.1.1.3. Algumas obras e citações de Augus- te Comte Comte faleceu em setembro de 1857, em Pa- ris, deixando-nos um excelente legado em obras como: Plano de Trabalho Científico para Reorga- nizar a Sociedade (1822), Opúsculos de Filosofia Social (1816-1828), Curso de Filosofia Positiva (1830-1842), Discurso sobre o Espírito Positivo (1848), Discurso sobre o Conjunto do Positivismo (1848), Catecismo Positivista (1852), Sistema de Política Positiva (1851-1854), entre outras. Entre suas citações mais conhecidas estão: ”Ordem e Progresso”;” O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim”;” No fundo, o que real- mente existe é a humanidade”;” O Universo não apresenta qualquer evidência de uma mente dirigente [...]. Todos os bons intelectos têm repetido, desde o tempo de Bacon, que não pode haver qualquer conhecimento real senão aquele baseado em fatos observáveis”;” Cansamo-nos de agir e até de pensar, mas jamais nos cansamos de amar”;” Somente os bons sentimentos é que podem reunir-nos; o interesse nunca determi- na ligações duradouras”;”Não é sem razão que suspeitamos mais dos que ofendem do que dos ofendidos”;”O orgulho divide-nos ainda mais que o interesse”, entre outras. 1.1.2. Karl Heinrich Marx Nascido em maio de 1818 em Trier, Renânia/ Prússia, Marx estudou na Universidade de Bonn e, posteriormente, transferiu-se para a Universi- dade de Berlim, formando-se em Filosofia, His- tória e Direito; no entanto suas ideias abrangiam outras áreas, permitindo a ele acumular conheci- mentos e atuar como economista, historiador, fi- lósofo, jornalista e cientista social. Além disso, foi fundador da doutrina comunista moderna e atuou como revolucionário alemão (COTRIM, 2007). Em 1841, Mark tornou-se integrante e, mais tarde, diretor do jornal Rheinische Zeitung. Ao mesmo tempo, defendeu seu título de Doutora- do, sendo que sua tese continha análises apoia- 1 - Antropomórfico: forma de pensamento que atribui caraterísticas e/ou aspectos humanos a Deus, deuses, elementos da natureza e constituintes da realidade em geral. Dessa forma, toda a mitologia grega, por exemplo, é antropomórfica. Disponível em: www. nossalinguaportuguesa.com.br › Dicionário. Acessado em: 01 dez. 2015 às 14hs. Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional. 11 http://www/ UNIDADE I: A SOCIOLOGIA E SEUS PRINCIPAIS PENSADORES das nas discussões de Hegel sobre as diferenças entre os sistemas filosóficos de Demócrito e de Epicuro. Essas análises contribuíram para que Marx mantivesse sua tendência política, cada vez mais, à esquerda republicana. FIG. 2 – Karl Heinrich Marx Fonte:Imagem da internet Em 1843, casou-se com Jenny Von Westpha- len e foram residir em Paris/França, de onde foi expulso, a pedido do governo prussiano, pelas suas ideias e por sua participação em grupos re- volucionários.Da França mudando-se para Bru- xelas, onde conheceu Friedrich Engels e juntos fundaram a sociedade secreta de propaganda chamada “Liga dos Comunistas” e publicaram as obras “A Sagrada Família”, “A ideologia Alemã” e o “Manifesto Comunista”. Este último expõe a nova concepção do mundo, a teoria da luta de classes, o papel desempenhado pelo proletaria- do na história da revolução universal, a dialética como doutrina essencial para o desenvolvimento, entre outros itens ligados à causa comunista (AN- DREUCCI, 1982). Em 1848, Marx participou de vários movimen- tos revolucionários na Alemanha e foi considera- do elemento perigoso ao regime vigente, o que o levou a mudar para Londres/Inglaterra.Em 1852, publicou O 18 Brumário de Luís Bonaparte e, em 1859, a Contribuição à Crítica da Economia Políti- ca.Oito anos após, publicou o primeiro volume de O Capital, considerada sua obra mais importan- te, que aborda o sistema capitalista, tendo como tema a economia. Esta obra destaca os estudos realizados por Marx sobre o acúmulo de capital, destacando que os capitalistas ficam cada vez mais ricos à custa dos operários que, por sua ve- z,empobrecem cada vez mais (COTRIM, 2007). O segundo e terceiro volume de O Capital fo- ram publicados, por Engels, somente em 1885 e 1894, dois e onze anos, respectivamente, após sua morte (1893 em Londres/Inglaterra). Suas críticas ao sistema econômico capitalista, cita- do como sendo desumano para com a classe trabalhadora, e ao sistema político, que buscou reproduzir o sistema capitalista,tiveram repercus- são mundial, consagrando-o até os dias de hoje. Entre suas ideias humanitárias estão um sistema econômico justo, onde a distribuição de renda 2 - Liga dos Comunistas: primeira organização internacional comunista do proletariado, criada sob a direção de Marx e Engels no início de junho de 1847, em Londres em consequência da reorganização da Liga dos Justos, associação secreta alemã de operários e artesãos, que seguiu na década de 1830. Os princípios programáticos e de organização da Liga fora, elaborados com a participa- ção direta de Marx e Engels, que redigiram também o documento programático, o Manifesto do Partido Comunista, publicado em fevereiro de 1848. A Liga dos Comunistas existiu até Novembro de 1852 e foi antecessora da Associação Internacional dos Traba- lhadores (I Internacional). Os dirigentes mais eminentes da Liga dos Comunistas desempenharam mais tarde o papel dirigente na I Internacional. Disponível em: http://pedagogiaaopedaletra.com/ideologia-segundo-karl-marx/. Acessado em: 03 dez. 2015. 15:57h. 12 Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional . http://pedagogiaaopedaletra.com/ideologia-segundo-karl-marx/ UNIDADE I: A SOCIOLOGIA E SEUS PRINCIPAIS PENSADORES seja igualitária e a classe trabalhadora possuísse condições sociais dignas (ANDREUCCI, 1982). 1.1.2.1. Algumas obras e citações de Marx Marx deixou uma obra excepcional, cujos te- mas abrangem, principalmente, as áreas da Fi- losofia, Direito, Sociologia, Politica e Economia. Seus principais títulos são ”Crítica da filosofia do Direito de Hegel” (1843),“Manuscritos econômi- co-filosóficos” (1844),“A ideologia alemã” (1845- 1846), “Miséria da filosofia” (1847), “Manifesto co- munista” (1848), “Trabalho assalariado e capital” (1849), “As lutas de classe na França de 1848 a 1850” (1850), “O 18 Brumário de Luís Bonaparte” (1852), “Punição capital” (1853), “Para a crítica da economia política” (1859), “População, crime e pauperismo” (1859), “Salário, preço e lucro” (1865), “O Capital: crítica da economia política (Li- vro I: O processo de produção do capital)” (1867), “A guerra civil na França” (1871), “Crítica do Pro- grama de Gotha” (1875), “Notas sobre Adolph Wagner” (1880), entre outros. As suas citações, algumas em parceria com Friedrich Engels, são pérolas da crítica ao capi- talismo e à classe dominante, sendo que as mais conhecidas são: “O movimento proletário é o movimento autônomo da imensa maioria no in- teresse da imensa maioria” (Marx e Engels); “As ideias dominantes de uma época sempre foram as ideias da classe dominante” (Marx e Engels); “Os que no regime burguês trabalham não lucram e os que lucram não trabalham” (Marx e Engels); “As ideias nada podem realizar. Para realizar as ideias são necessários homens que ponham a funcionar uma força prática”; “A religião é o ópio do povo”; “A história da sociedade até aos nos- sos dias é a história da luta de classes”; “Não é a consciência do homem que lhe determina o ser, mas, ao contrário, o seu ser social que lhe determina a consciência”; “O caminho do inferno está pavimentado de boas intenções” (Karl Marx); “As revoluções são a locomotiva da história” (Karl Marx), “Uma ideia torna-se uma força material quando ganha as massas organizadas” (Karl Marx); entre outras. 1.1.3. Max Weber Nascido em 21 de abril de 1864 na cidade de Erfurt (Alemanha), Karl Emil Maximilian Weber foi historiador, jurista, economista e importante soci- ólogo, sendo que suas obras principais foram “ A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo” (1903),“Estudos sobre a Sociologia e a Religião” (1921), “Estudo de Metodologia” (1923), “Política como vocação” (1919) e “Economia e Sociedade” (1920). É considerado um dos principais pensa- dores da modernidade, sendo um dos precurso- res da sociologia econômica (QUINTANEIRO et al, 2003). Segundo Weber, a função do sociólogo era en- tender e encontrar o sentido das ações sociais, as quais são motivadas pelas causas racionais, afe- tivas ou tradicionais. Portanto, este tipo de ação só existe quando o indivíduo estende uma comu- Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional . 13 UNIDADE I: A SOCIOLOGIA E SEUS PRINCIPAIS PENSADORES nicação aos outros indivíduos, como ocorre quan- do, por exemplo, uma pessoa escreve uma carta para alguém e este alguém toma conhecimento dela, tornando-se uma ação social. Já quando essa pessoa escreve um poema apenas para a sua satisfação pessoal, esta ação já não se torna uma ação social. Assim, quando as ações sociais se tornam recíprocas, surge então a relação so- cial (DURANT, 1996). FIG. 2 – Karl Emil Maximilian Weber Fonte: Imagem da internet O autor procurava entender a sociedade a partir de seus aspectos históricos e culturais, analisando, de forma mais complexa e integral, como se estrutura e se organiza. Para ele,a sociedade se formava em diferentes esferas, sendo elas a econômica, política, religiosa e jurídica, onde cada uma possui uma lógica in- dependente de funcionamento, cuja complexi- dade resulta das ações individuais.Weber en- tendia ainda que não seria possível estudar a vida social com métodos naturais (leis gerais), adotando o procedimento histórico-compara- tivo para entender a atividade social, ou seja, compreendê-la através da interpretação e, as- sim, entender a atividade social e sua singulari- dade, buscando explicar suas causas, efeitos e desenvolvimento. Além disso, Weber afirmava que ao se iniciar uma pesquisa sobre a atividade social, deve- ria haver primeiro uma separação de juízo de valor. Esse juízo de valor seria o ponto de par- tida da análise, ou seja, a determinação do tipo ideal. A partir desse momento, parte-se para o juízo de fato, conduzindo a pesquisa e a análi- se de forma imparcial. Segundo Cohen (1982), o instrumento metodológico adotado por Weber erao chamado tipo ideal ou tipo puro, que: [...] consiste na abstração e combinação de elemen- tos da realidade, destacando um ou vários pontos de vista, ordenando os fenômenos, que isolados de tor- nam dados, e com isso, formar um quadro homogêneo de pensamento. Esse se torna o modelo, o tipo ideal. Com esse método, é possível realizar comparações da realidade observada, através da proximidade entre ela e o tipo ideal (1982, p. 98). A metodologia desse autor consiste em deter- minar um tipo puro que será utilizado como guia para o pesquisador em meio à variedade de fe- nômenos que afetam a situação ou fato que este analisa, portanto, tornou-se um recurso analítico baseado em conceitos que são teóricos e abs- tratos, criados com base na realidade-indução. Alguns desses conceitos elaborados por Weber (FILHO, 2010, p. 1-7) são: 14 Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional. UNIDADE I: A SOCIOLOGIA E SEUS PRINCIPAIS PENSADORES I. Poder: possibilidade de impor a própria von- tade; II. Dominação: exercício do poder; III. Estado: Luta de indivíduos pelo poder, sem sentido predeterminado. Os tipos de estado se definem pelos meios de dominação que utilizam. É a única instituição que tem o monopólio da vio- lência, pois a violência cometida pelo Estado é legítima. IV. Formas de dominação legítima: são as cau- sas da ação social, que podem ser classificadas em: a) Racional, que é baseada no direito e na le- gislação (burocracia, Estado); b) Tradicional, que é baseada no costume e na crença de um poder sagrado, que não permite ninguém se opor a ele; e c) Afetiva, que é baseada no carisma do líder. Esses conceitos são classificados por Weber como puros, mas em sociedade ocorrem de for- ma combinada, porém com o predomínio de um deles. Um exemplo seria o populismo de Getú- lio Vargas, que deu muita importância às classes menos favorecidas, conquistando sua confiança e permitindo que exercesse um autoritarismo e dominação consentidos. Outro exemplo que ti- vemos de uma liderança racional e carismática no Brasil foi o do ex-presidente Lula, que usou os anseios de sua classe social e seu carisma para ganhar força política e, de forma racional (elei- ções – dominação racional), tornar-se chefe do Executivo no país. Em relação à ação social, Weber cita quatro ti- pos (QUINTANEIRO ET al, 2003): I. Ação social racional com relação a fins (obje- tivo): a ação é claramente racional, sendo o ob- jetivo (o fim) determinado através de um cálculo racional, onde se estabelece os fins e se organiza os meios necessários para atingi-lo; II. Ação social racional com relação a valores: nesse tipo de ação é o valor que determina a ação a ser tomada e não o objetivo (o fim) como, por exemplo, no caso de um açougueiro evangé- lico que vende a prazo somente para os fiéis da igreja que frequenta, pois acredita que os mem- bros da igreja são mais honestos que os demais fregueses; III. Ação social afetiva: as atitudes são tomadas por sentimentos, sem prever meios e fins. Exem- plo: orgulho, paixão, medo, inveja; IV. Ação social tradicional: as atitudes são to- madas de acordo com os costumes, hábitos ou crenças como, por exemplo, o ato de comer ou não carne na sexta-feira da Paixão. 1.1.3.1. Algumas obras e citações de Weber. Max Weber morreu na cidade de Munique (Ale- manha) em 14 de junho de 1920. Entre os princi- pais legados desse autor estão às obras:“O Es- tado Nacional e a Política Econômica” (1895);“A objetividade do conhecimento na ciência política Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional . 15 UNIDADE I: A SOCIOLOGIA E SEUS PRINCIPAIS PENSADORES e na ciência social” (1904);“A ética protestante e o espírito do capitalismo” (1904); “A situação da democracia burguesa na Rússia” (1905); “En- saios Reunidos de Sociologia da Religião” (1917- 1920);“A ciência como vocação” (1917);“O sentido da neutralidade axiológica nas ciências políticas e sociais” (1918);“Conferência sobre o Socialismo” (1918); e “Economia e Sociedade” (1910-1921). Algumas das passagens de seus livros e discursos mais conhecidos e comentados são: Embora sob a aparência de paz, a luta econômica das nacionalidades prossegue [...] em última análise, os processos de desenvolvimento econômico são lutas de poder; os interesses de poder da nação são inte- resses decisivos se a nação for questionada. A política econômica deve colocar-se a serviço desses interes- ses: a ciência da política econômica nacional é uma ci- ência política. É a serva da política, não da política coti- diana a serviço dos grupos e das classes dominantes, mas dos interesses da nação numa política durável de poder. E, para nós, o Estado nacional não é algo inde- finido, que se julga ter elevado quando sua essência está encerrada numa nebulosa mística, mas trata-se da organização terrestre do poder da nação. E, no seio desse Estado nacional, o último critério de avaliação da observação da economia é a „razão de Estado‟ [...] (WEBER, 1904, p. 112). Economicamente as camadas mais altas da classe operária pensam muito mais do que o querem admi- tir as classes dominantes. E é justo que essa classe reivindique a liberdade de defender seus interesses na forma de luta organizada para obter o poder eco- nômico. Mas politicamente essa classe é bem menos segura do que costuma insinuar a corja de jornalistas que quer monopolizar sua direção. Nos grupos de bur- gueses decadentes, há quem goste de brincar com lembranças do século passado. Desse modo, eles conseguiram de fato assustar alguns espíritos angus- tiados que os vêem como descendentes da Conven- ção. Mas, na realidade, são muito mais inofensivos do que parecem a eles próprios [...], não passam de lastimáveis artesãos da política (WEBER, 1910, p. 46). Apesar da enorme miséria das massas da nação, que pesa na consciência social mais sensível da nova ge- ração, devemos reconhecer com clareza: a consciên- cia de nossa responsabilidade diante da história tem hoje peso ainda maior sobre nós. Nossa geração não chegará a ver se a luta que travamos terá bons frutos, se nossos descendentes nos reconhecerão como seus antepassados. Só com uma condição conseguiremos nos livrar do destino que pesa sobre nós; a saber, o de sermos os epígonos de uma grande era política. É preciso que nos tornemos outra coisa: precursores de uma era ainda maior (WEBER, 1918, p. 87). O homem não deseja, por natureza, ganhar cada vez mais dinheiro, mas deseja, apenas, viver segundo seus hábitos e ganhar o dinheiro necessário para isso. Em toda parte, onde o capitalismo implantou sua obra de crescimento da produtividade do trabalho humano pelo aumento de sua intensidade, esbarrou na resis- tência obstinada desse leitmotiv do trabalho da econo- mia pré-capitalista (WEBER, 1910, p. 76). 1.1.4. Emile Durkheim David Émile Durkheim nasceu em abril de 1858, em Épinal/França. Foi sociólogo, psicólogo social e filósofo, dedicando-se, principalmente, à aná- lise sociológica. Hoje é considerado, junto com Marx e Weber, um dos fundadores da sociologia moderna. Durkheim defendia que a principal função da sociologia era o estudo dos fatos sociais que, de acordo com ele, possuem três características es- senciais, que são (QUINTANEIRO et al, 2003): I. Generalidade e objetividade:os fatos sociais atingem todos os indivíduos, sem exceção, ou 16 Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional. UNIDADE I: A SOCIOLOGIA E SEUS PRINCIPAIS PENSADORES seja, existem para a coletividade e não apenaspara um indivíduo; II. Natureza coercitiva:os fatos sociais possuem o poder de imposição, levando o indivíduo a acei- ta-lo, mesmo que para isso o indivíduo tenha de ser ameaçado ou punido; FIG. 4 – David Émile Durkheim Fonte: Imagem da internet Externalidade: os fatos sociais existem sem que o indivíduo tenha consciência disso, ou seja, são padrões de cultura, os quais independentes de nossas vontades individuais. Desde o nas- cimento, o indivíduo vai internalizando os fatos sociais, adquirindo muitas características como, por exemplo, o fato de estudar. Desde criança ouvimos que estudar é importante para crescer- mos social e economicamente, o que vira norma que deve ser seguida por todos, independente de nossa vontade. Caso não sigamos essa regra, podemos a ser socialmente discriminados. “[...] para saber se o estado econômico atual dos po- vos europeus, com sua característica ausência de or- ganização é normal ou não, procurar-se-á no passado o que lhe deu origem. Se essas condições são ainda aquelas em que atualmente se encontra nossa socie- dade, é porque a situação é normal, a despeito dos protestos que desencadeia” (DURKEIM, 1893,p. 57 - Da Divisão do Trabalho Social). “Um fato social não pode, pois, ser chamado de nor- mal para uma espécie social determinada senão em relação a uma fase, igualmente determinada, de seu desenvolvimento”. (DURKEIM, 1895,p. 52 - As Regras do Método Sociológico). Consciência coletiva é: “[.] conjunto das crenças e dos sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade, formando um sistema determinado com vida própria” (DURKEIM, 1893,p 342 - Da Divisão do Trabalho Social). “[...] o devoto, ao nascer, encontra prontas as crenças e as práticas da vida religiosa; existindo antes dele é porque existem fora dele. O sistema de sinais de que me sirvo para exprimir pensamentos, o sistema de moedas que emprego para pagar dívidas, os instru- mentos de crédito que utilizo nas relações comerciais (...) funcionam independentemente do uso que faço delas. (...) estamos, pois, diante de maneiras de agir, de pensar e de sentir que apresentam a propriedade marcante de existir fora das consciências individuais” (Emile Durkeim, 1902, p. 96 – A Educação Moral). Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional . 17 UNIDADE II A MOBILIDADE SOCIAL UNIDADE III: A ESCOLA COMO INSTITUIÇÃO SOCIAL A palavra mobilidade vem do Latim mobilis, “o que pode ser movido, deslocado ou que é passí- vel de movimento” (GOHN, 2006).Portanto, Mobi- lidade Social é uma concepção da sociologia de suma importância, pois se refere à mudança de nível social ou hierárquico de indivíduos ou grupo sociais, representando o nível de deslocamento social. A mobilidade social está diretamente ligada aos tipos de estruturas sociais existente em dado local ou país como, por exemplo, na so- ciedade estamental (baseada no grupo social) do período feudal, na idade média, onde não se permitia a mobilidade social em sua estrutura social. Naquela época, caso o indivíduo nas- cesse em uma família nobre, assim o seria pelo resto da vida, mesmo que não tivesse posses e riquezas. Do mesmo modo,para os servos dos senhores feudais não existia a possibilidade de se “moverem” de grupo social, mesmo que con- seguissem enriquecer de algum modo. Assim, a pirâmide social estamental da época dividia a sociedade feudal em: rei, nobres, clero e servos (CALABI, 2008). Esse quadro começou a mudar na passagem da Idade Média para a Idade Moderna. Os ser- vos, insatisfeitos com a sua situação econômica e social, começaram a se deslocar para as cidades medievais buscando uma vida melhor. Com a in- tensificação desse movimento, foi surgindo uma nova classe social denominada burguesia. Os burgueses, que realmente detinham o co- nhecimento das técnicas de trabalho e de nego- ciações da época (artesões, guerreiros, pastores, agricultores, armeiros, padeiros, ferreiro, costurei- ras, entre outras profissões) começaram a traba- lhar por conta própria, cobrando pelos seus ser- viços. Os mais bem sucedidos foram dominando a produção, o comércio e as trocas internas e ex- ternas de mercadorias. Entre as façanhas, diretas e indiretas, dessa classe estão a criação de en- trepostos comerciais e de feiras livres, a criação da figura do mestre-artesão, a criação de novas rotas e viagens marítimas em busca de especia- rias, o conceito de “excedente de produção”, en- tre outras (CALABI, 2008). O surgimento da classe burguesa permitiu, a partir de então, a ocorrência de mobilidade em uma sociedade estratificada, aceitando então a mudança de posição social. São dois os tipos de mobilidade social: I. Mobilidade social horizontal: o indivíduo muda de posição por motivos geracionais ou profissio- nais, o que não leva à mudança de classe social. Este tipo de mobilidade ocorre dentro da mesma classe como quando o indivíduo muda de traba- lho, porém sua renda permanece a mesma, ele permanece na mesma classe social; II. Mobilidade social vertical: ocorre quando o indivíduo ou grupo social muda de estrato, cau- sando mobilidade social. Esta mobilidade social Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional . 19 UNIDADE I: A MOBILIDADE SOCIAL poderá ser ascendente ou descendente, sendo que no primeiro caso a renda per capta do indiví- duo ou grupo familiar melhora (da classe B para a A) e no segundo, piora (da classe A para a B). 2.1. A EDUCAÇÃO COMO FATOR DE MOBI- LIDADE SOCIAL. A sociedade contemporânea tem característi- cas ligadas às novas formas tomadas pelo traba- lho, onde a alta competitividade, as exigências de qualificação da mão de obra, entre outras tendên- cias tem feito com que a educação ajude o indi- víduo a atingir uma formação qualificada e atua- lizada. A educação beneficia o desenvolvimento de talentos que contribuem para as atividades econômicas do país e, também, para a mobilida- de social. Portanto, já não é mais contestada por influenciar a escolha profissional do indivíduo e sua posição social e econômica. Na sociedade capitalista, a educação funciona como meio que permite ao indivíduo conseguir uma dada evolução social. Através de uma boa formação educacional é possível ao indivíduo mudar a sua posição na escala social, pois ao tomar posse de um dado nível de conhecimento (através de um diploma, por exemplo), o individuo alcança outras posições no sistema de estratifi- cação. Normalmente, as famílias de baixa renda buscam na educação a oportunidade para que seus filhos tenham ascenção social. Marx, o principal crítico do capitalismo,não acre- ditava que a educação pudesse ser agente de transformação social coletiva, que essa ascen- ção seria possível apenas a alguns indivíduos e, não, para toda a classe trabalhadora, os menos favorecidos. Segundo ele, a estrutura social não poderia ser alterada a partir do sistema educacio- nal (MARX, 1972). No entanto, como pode ser historicamente atestado, a educação e a aquisi- ção de conhecimento provocou uma verdadeira revolução entre as classes sociais. Na atualidade, na medida em que a competitividade aumenta, a sociedade vem cobrando de seus governos, cada vez mais, ações mais concretas por uma educa- ção de qualidade, sendo que a mobilidade social ascendente fez com que a educação se transfor- masse em reivindicação social(LIEDKE FILHO, 2005). 2.2. MOBILIDADE SOCIAL: RETRATO DA SOCIEDADE E SUA ESTRUTURA O sociólogo francês Pierre Bourdieu (1978) di-zia que a educação poderia se constituir em um mecanismo de reprodução social, mantendo e le- gitimando as desigualdades sociais ao dificultar a mobilidade social, pois a camada dominante impõe sua cultura, desvalorizando a da classe do- minada, o que chamava de violência simbólica. O sistema educacional brasileiro dá prioridade ao capital cultural da classe dominante e acaba, assim, reafirmando que existem marcas de dis- tinção, ou seja, formas pelas quais alguns indiví- duos se destacam dos demais, tornando as pes- 3 - Educação: termo muito amplo e é a palavra usada para definir o comportamento e o conhecimento de um indivíduo. Disponível em: www.pedagogiaaopedaletra.com/a-diferenca-entre-a-educacao-na-escola. Acessado em: 02 fev. 2016. 20 Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional. http://www.pedagogiaaopedaletra.com/a-diferenca-entre-a-educacao-na-escola UNIDADE III: A ESCOLA COMO INSTITUIÇÃO SOCIAL soas diferentes umas das outras pelos gostos, atitudes e hábitos em geral. Dessa forma,segue hierarquizando os indivíduos. Nesse contexto, verificamos que a mobilidade social é um conceito dinâmico que deve ser ana- lisado e compreendido através de informações que são recolhidas dentro da própria sociedade em que é analisada, sem haver discriminação de classe.O grande risco em relação à educação é o de ver o sistema educacional transformando- -se em mais um instrumento de dominação e de exclusão, fazendo com que perca a sua função principal, que é a de incluir e socializar as pesso- as(ORTIZ, 1983). 2.3. ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL O termo estratificação social foi criado por Fré- déric Le Play (CASEY, 1982), quando comparou as camadas do solo com as camadas sociais. A partir dessa análise, esse termo passou a deno- minar a forma como os indivíduos são separados em estratos sociais (camadas sociais).Weber (1974) amplia essa análise ao dizer que: [...] a forma pela qual as honras sociais são distribuí- das numa comunidade, entre grupos típicos que par- ticipam nessa distribuição, pode ser chamada de “or- dem social”. Ela e a ordem econômica estão, decerto, relacionadas da mesma forma com a “ordem jurídica”. Não são, porém, idênticas. A ordem social é, para nós, simplesmente a forma pela qual os bens e serviços econômicos são distribuídos e usados. A ordem social é, decerto, condicionada em alto grau pela ordem eco- nômica, e por sua vez influi nela (1974, p.212). Dessa forma, percebe-se que a estratificação social está relacionada ao poder econômico e à ordem jurídica e social, tornando-se um círculo vicioso que favorece sempre a mesma classe, a dominante. 2.3.1 Tipos de estratificação social I. Estratificação econômica: se caracteriza pela propriedade de bens materiais, móveis e imó- veis,levando a classificar as pessoas de acordo com a riqueza que possuem (classe alta, média e baixa); II. Estratificação política:ocorre quando há di- visão de grupos de acordo com o poder político que possuem (desembargadores, congressistas e eleitores). Normalmente, as pessoas que pos- suem riqueza, tem maior acesso ao poder político ou ocupam cargos no Estado, usufruindo dele; III. Estratificação profissional: caracteriza-se pelo grau de importância de cada profissão na sociedade como, por exemplo, quando compa- ramos um médico com um pedreiro. Na maioria das sociedades atuais, o primeiro é muito mais valorizado do que o segundo (OLIVEIRA, 1977). As estratificações podem ser organizadas da seguinte forma: I. Castas: os papéis dos indivíduos na socieda- de são determinados por sua genealogia, assim, não há mobilidade entre classes sociais. As pes- soas que pertencem a uma casta somente po- dem se casar com os membros da mesma cas- Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional . 21 UNIDADE I: A MOBILIDADE SOCIAL ta, se tornando, dessa forma, um grupo fechado. Como dizia Weber (1972): [...] uma completa fraternização das castas foi – e é – impossível, porque constitui um dos princípios das mesmas que deve haver barreiras, pelo menos ritual- mente, invioláveis [...]. Se um membro de casta inferior apenas olha a refeição de um Brâmane, este fica ritu- almente poluído (WEBER,1972, p.144). II. Estamentos:essa estratificação social é for- mada por camadas sociais mais fechadas do que as das classes sociais, porém são mais abertas que as castas, sendo considerado um grupo se- miaberto. Os Estamentos são ligados ao conceito de honra, assim são reconhecidos por lei. O sentimento de dignidade que caracteriza os estamentos positivamente privilegiados relacio- na-se, naturalmente, com seu “ser” que não trans- cende a si mesmo, isto é, relaciona-se com sua “beleza e excelência”. Seu reino é “deste mundo”. Vivem para o presente e explorando seu grande passado. O senso de dignidade das camadas ne- gativamente privilegiados naturalmente se refere a um futuro que está além do presente, seja desta vida ou de outra. Em outras palavras, deve ser nutrido pela crença numa “missão” providencial e por uma crença numa honra específica perante Deus (WEBER, 1974, p.222). III. Classes: nesta estratificação social a diferenciação de um indivíduo para outro é denominada de acordo com seu poder aquisitivo. Não havendo, teoricamente, de- sigualdade de direitos, todos são iguais de acordo com a lei, independentemente da condição de nascimento de cada indivíduo, porém em sua pratica a desigualdade so- cial é perceptível, exemplo claro são as so- ciedades capitalistas. [...] situação de classe, que podemos expressar mais sucintamente como a oportunidade típica de uma ofer- ta de bens, de condições de vida exteriores e experiên- cias pessoais de vida, e na medida em que essa opor- tunidade é determinada pelo volume e tipo de poder, ou falta deles, de dispor de bens ou habilidades em benefício de renda de uma determinada ordem eco- nômica. A palavra classe refere-se a qualquer grupo de pessoas que se encontram na mesma situação de classe (WEBER, 1974, p.212). 2.3.2. Atualizando o pensamento Weberiano Visto os conceitos de casta, estamento e clas- se, a atualização do pensamento de Weber destaca que suas reflexões sobre estratificação social permanecem em análise por meio de au- tores contemporâneos, os quais apontam limites e incluem novas possibilidades à questão.A sis- tematização dos elementos que definem esses conceitos revelam validades ou falhas nos tipos ideais elaborados. A teoria weberiana se edifica através de uma contínua revisão. Conforme destacou o sociólo- go Sedi Hirano (1975), o sentido ou a significa- ção histórica dos acontecimentos observados é atribuído, metodologicamente, pelo investigador, por meio da seleção dos elementos que são con- siderados essenciais. Assim, segundo essa con- cepção, é que são estabelecidos os tipos ideais 22 Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional . UNIDADE III: A ESCOLA COMO INSTITUIÇÃO SOCIAL subjetivos, jogando com as probabilidades ana- líticas referentes à configuração social do objeto. Dessa forma, existem duas séries de fenôme- nos na concepção de Weber, os ideais e os reais, sendo no confronto dessas séries é que encon- tramos a compreensão dos eventos históricos relativos à ordem econômica, social e de poder, como no caso da estratificação (HIRANO, 1975). Através dessa explicação ocorre o entendimento sobre a estratificação social como recurso crítico construído pela abstração de categorias, reque- rendo periodicamente revisão do modo como operam as máximas da Sociologia Compreensi- vade Weber. 2.3.3. Apontamentos sobre as castas Visto a questão apresentada por Hirano (1975) no que se refere ao sistema de castas e sua sis- temática oposição ao sistema capitalista, passa- -se à análise que o autor faz relacionando casta, cultura, religião e capitalismo. Para ele existe um conjunto de “normas sociais culturalmente signifi- cativas às castas” (HIRANO, 1975, p.29) que es- tão ligadas com princípios religiosos de direitos e deveres ritualísticos. Essas normas caracterizam as castas como uma modalidade de estratifica- ção social pré-capitalista. A autoridade de critérios religiosos na configu- ração social das castas faz com que esse siste- ma de estratificação não se adeque aos modelos das empresas capitalistas. “A implantação desta forma racional de exploração das atividades eco- nômicas ocorre por meio da ação de um país economicamente desenvolvido em termos capi- talistas” (HIRANO, 1975, p.126), portanto existe um elemento irracional nas formas de análises econômicas dentro do sistema de castas. O que se destaca nessa análise da diferencia- ção entre o regime de acumulação capitalista e o sistema de castas é a problematização em torno do trabalho nas castas, o qual é entendido como delimitado mediante ordenamentos divi- nos. Apontando para esse caráter estanque entre capitalismo e castas, Hirano (1975) destaca: [...] num e noutro caso, as contraposições são as que se seguem: a) uma maior especialização e aperfei- çoamento artesanal em detrimento da produtividade e de uma maior racionalização na divisão social do trabalho; b) penetração dos elementos mágico-religio- sos essencialmente tradicionalistas em oposição ao racionalismo, ou seja, a atividade econômica no sis- tema de castas é uma vocação imposta por deuses específicos e não uma resultante de uma ação visando valores ou fins racionais animados pela compensação ou consecução de interesses; c) numa ocorre a valo- rização da qualidade, noutra a exploração econômica com aperfeiçoamento tecnológico visando essencial- mente uma economia lucrativa racional; d) em suma, pela consagração religiosa, e ainda, por seu espírito e por suas hipóteses, a chave estrutural desta delimita- ção do conceito de castas é a sagração de cada ação social produtiva como sendo resultante, em termos de imputação causal, de uma vocação (predestinação) profissional adstrita pela religião (1975, p.27). Desse modo, Hirano (1975) ressalta que, em- bora as vedações, o capitalismo e o sistema de Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional . 23 UNIDADE I: A MOBILIDADE SOCIAL castas podem conviverem formação social, como na própria Índia. Além disso, destaca que: Todos os outros tipos de formações sociais e mais es- pecificamente o capitalismo moderno, teoricamente, em termos weberianos, são incompatíveis com o siste- ma de castas. Não elimina, por outro lado, a possibili- dade de coexistência, desde que se importe da Europa o mecanismo acabado do capitalismo, no sentido cul- tural (HIRANO, 1975, p.29). 2.3.4. Revisando os estamentos A análise referente à sociedade estamental pas- sa por uma interpretação bastante interessante do ponto de vista de Hirano (1975), que consi- derava a transformação do estamento em casta, pois quando os estamentos se realizam em to- dos os níveis, trazem como consequência a sua transformação em uma casta fechada. “Nesse momento as distinções estamentais, além de se- rem asseguradas pelas convenções e leis, o são também pelos rituais sagrados” (HIRANO, 1975, p.127). Outro ponto de vista essencial exposto na revi- são teórica contemporânea sobre estamentos diz respeito a não vinculação do mesmo, como nas castas, com categorias típicas do capitalismo mo- derno. Alguns tipos específicos de configuração capitalista podem ser encontrados entre as so- ciedades estratificadas por estamentos como,por exemplo, o capitalismo comercial e o colonial e de plantação. Nesse contexto, podemos observar que as ca- racterísticas típicas e centrais do capitalismo mo- derno como uma “[...] empresa lucrativa sensível em grau máximo às irracionalidades da justiça, da administração e da tributação, e orientada pela si- tuação de mercado dos consumidores com capi- tal fixo e organização racional do trabalho livre” (HIRANO, 1975, p.41) não serão observadas nos estamentos. 2.3.5. A desigualdade das relações sociais Muitas teorias que explicavam as desigualda- des sociais que surgiram no século XIX foram bastante comentadas, destacando-se a de Karl Marx que desenvolveu uma teoria sobre a igual- dade do pensamento liberal e a noção de liberda- de e igualdade, sendo a liberdade relacionada ao ato do indivíduo ter o direito de comprar e vender livremente.Outra teoria bastante discutida foi a re- lacionada à igualdade jurídica,pois considerava, de acordo com as necessidades do capitalismo, as relações como normas jurídicas, inclusive, a relação patrão e empregado era baseada nos princípios do direito (OLIVEIRA, 1997). Karl Marx criticava o liberalismo, pois somente uma parte da sociedade podia se expressar.De acordo com ele, a sociedade só é possível quan- do se expressa como o conjunto de atividades dos homens e de ações humanas, sendo que esta representa o homem se relacionando com o outro. Marx considerava que as desigualdades sociais era produto do conjunto de relações, orde- nado como um fato jurídico e político. O domínio 24 Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional . UNIDADE III: A ESCOLA COMO INSTITUIÇÃO SOCIAL e o poder é que dão origem às desigualdades, se tornando fruto das relações políticas, sociais e culturais (OLIVEIRA, 1997). O indivíduo ao participar de uma classe social demonstra que está em atividade social, indepen- dente da onde esteja, seja na escola, em casa, na família ou em outro lugar qualquer. As atividades sociais desenvolvidas por ele nessas instituições o ajudam a ter melhores pensamentos sobre seu ciclo de relacionamento e sobre si mesmo (HU- RANO, 2002). 2.3.6. Facilidades, oportunidades e restri- ções A mobilidade social pode variar de sociedade para sociedade, sendo que em alguns casos ocor- re de maneira fácil; em outros, quase não aconte- cem no sentido vertical. Na sociedade americana a mobilidade vertical ocorre com maior frequência do que no Brasil, pois este tipo de mobilidade é bem mais intenso em sociedades mais abertas e democráticas. Em sociedades capitalistas, que se divide em classes sociais, embora a mobilidade social ver- tical ocorra com mais facilidade, ela não é igual para todos os indivíduos, dependendo muito da classe a qual cada indivíduo pertença.Pessoas que vivem na camada social mais elevada terão sempre maiores condições e oportunidades de permanecerem nesse nível social.Podermos ve- rificar a ocorrência desses casos quando o indiví- duo vai disputar uma vaga no vestibular, pois os de classes de maior poder aquisitivo, que sempre estudaram em escolas particulares e têm cursos preparatórios de boa qualidade, tem maiores chances de aprovação no vestibular de universi- dades federais, estaduais e, até mesmo,nas par- ticulares. Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional . 25 UNIDADE III A ESCOLA COMO INSTITUIÇÃO SOCIAL UNIDADE III: A ESCOLA COMO INSTITUIÇÃO SOCIAL As instituições sociais referem-se às práticas sociais que sobrevivem ao tempo devido à acei- tação dasmesmas pela maioria dos membros da sociedade. Essas práticas institucionalizadas são mantidas através do estabelecimento de regras, sanções e procedimentos padronizados, porém em nível mais geral, que incorpora uma multipli- cidade de papéis como, por exemplo, a igreja, a família, escola, empresa, entre outras. As insti- tuições sociais possuem certa estabilidade, mas não são imutáveis, pois mudanças nas práticas sociais podem levar ao surgimento de novas ins- tituições . A Sociologia da Educação tem a escola como objeto de estudo,considerando-a um agente de socialização. A escola adquiriu grande importân- cia no século XVII por seu papel socializador, que auxilia as famílias a transmitir cultura e conheci- mento às novas gerações, principalmente pelo objetivo que possui de atender ao crescimento so- cial em contextos históricos diferenciados e para a produção e reprodução de valores culturais, econômicos, políticos e sociais (BERTRAND; VA- LOIS, 1994). As sociedades, ao verificar a utilidade da edu- cação para o desenvolvimento social e humano, criou a educação formal, uma organização com diretrizes, método de ensino, currículo e regula- mentos, que se diferencia da informal exatamen- te pelo seu método de ensino. Mesmo havendo diversos meios que concretizam o processo edu- cativo, a escola é o meio mais coerente e institu- cionalizado para a educação formal. De acordo com Durkheim (2003), as instituições existem com um objetivo maior, o de que sejam importantes para o bom desenvolvimento social, onde cada indivíduo deve exercer seu papel ade- quadamente. O autor entendia que para o bom relacionamento social era essencial haver harmo- nia no funcionamento de suas instituições, que teriam a função de promover determinada moral social, ou seja, condutas, normas e valores que seria parte da consciência coletiva. O descumprimento das normas por parte dos indivíduos seria passível de punições, sendo eles avaliados por seus comportamentos ou, até mes- mo, exclusos do convívio social nos casos mais graves. Sendo assim, a formação da consciên- cia da sociedade era indispensável para o bom desenvolvimento da conduta humana durante a vida, portanto, a ausência dessa moral coletiva seria a causadora do surgimento dos problemas sociais (DIAS, 2002). A educação escolar é uma das principais ins- tituições que desenvolve a formação do indiví- duo para viver em sociedade, preparando-o para isso.A vida em sociedade leva o indivíduo a ter contato com o outro, mais ou menos intenso, e a lidar com os interesses individuais e coletivos. Dessa relação surgem os mais variados conflitos, que exigem das pessoas muito equilíbrio, discer- 4 - Disponível em: http://www.infopedia.pt/$instituicao-social. Acessado em: 03 fev. 2016. Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional . 27 http://www.infopedia.pt/%24instituicao-social UNIDADE III: A ESCOLA COMO INSTITUIÇÃO SOCIAL nimento e respeito às normas e regras sociais, colocando em prática seu processo educacio- nal. Assim, a escola enquanto instituição foi se desenvolvendo na medida em que a sociedade percebeu a limitação da educação dada apenas pela família,percebendo a necessidade de criar um ambiente propício à educação dos indivíduos (DIAS, 2002). Dentre os aspectos importantes para a compre- ensão do estágio atual da sociedade e das insti- tuições está a análise histórica e social das mu- danças estruturais, sociais e culturais pelas quais a sociedade passou. Dessa forma, busca-se veri- ficar quais os caminhos percorridos pela socieda- de ocidental até a atualidade, buscando compre- ender como influenciaram e influenciam o modo de ser e de viver do indivíduo (WEBER, 2003). A análise realizada por Weber (2003) demonstrou que mudanças como o capitalismo, novas tecno- logias e o processo de urbanização tiveram um forte impacto na vida cotidiana do homem, tor- nando-se causa da reorganização institucional do mundo moderno, baseado na lógica racional. No social, a racionalidade atingiu as relações, podendo ser observado na impessoalidade das mesmas, do encolhimento da vida privada e do surgimento de novas formas de sociabilidade, fa- tores que causaram a perda de parte dos valores individuais, familiares e sociais. Por outro lado, surgiram grupos conscientes dessas mudanças e da necessidade de buscar novos caminhos, analisando e criticando a racionalidade exacerba- da nas relações e a necessidade de valorização do humano, buscando reverter alguns processos, principalmente na família, reduto para o indivíduo, onde ele encontrará segurança de ser e de si ex- pressar (DIAS, 2002). Dessa forma, a solidariedade ressurge com grande impacto, sendo um conceito que se con- trapõe ao individualismo. Pode-se dizer que, efe- tivamente, novos valores surgem como reação a esse mundo desigual e, muitas vezes, até de- sumano, o que prova a capacidade do homem a ajustar-se às mudanças, sendo elas benéficas ou não. A juventude, nesse contexto, busca de modo significativo ser um diferencial, adquirindo uma transparência nas ações que tem sua origem e cresce à medida que os jovens procuram por uma definição de novos referenciais comportamentais e de identidade social. Decididos a modificar a so- ciedade, a construir e manifestar uma identidade distinta, os jovens buscam definir sua posição no mundo, até mesmo se opondo ao conceito difun- dido pela mídia de ser “o futuro da nação”. Eles buscam ser aceitos pela sociedade e querem in- vestir em si mesmos como modo de lidar melhor com o fardo de um mundo centrado no indivíduo (CORTELLA, 2015). A indiferença política e o individualismo podem ser combatidos com o resgate de valores relacio- 28 Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional . UNIDADE III: A ESCOLA COMO INSTITUIÇÃO SOCIAL nados, por exemplo, à dignidade; ao respeito pelo espaço público, por si mesmo e pelo próximo;à indiferença diante das injustiças; à falta de ética; à valorização da fraternidade; entre outros.A so- ciedade pode, como uma totalidade, determinar os caminhos que deseja percorrer, podendo bus- car meios efetivos e legais para modificar suas instituições, tornando-as mais humana, ética, de maior qualidade e, assim, criando maior bem-es- tar individual e social (FREIRE, 1993). A escola, por exemplo, é uma instituição de ex- trema importância no processo de socialização das pessoas, portanto, deve ser tratada com a seriedade que merece, pois tem papel efetivo na formação do indivíduo e do cidadão. Assim, tor- na-se essencial compreender os novos tempos e como os indivíduos se modificam em função da sua situação e a da sociedade atual, pois a glo- balização, tecnologias avançadas, política, ques- tões ambientais, regionalismos, a competição nos mercados, outros fatores não podem passar despercebidos pela escola (FREIRE, 1993). 3.1. A ESCOLA COMO ORGANIZAÇÃO As organizações podem ser definidas como unidades sociais ou como agrupamentos huma- nos, que possuem determinados objetivos e que sofrem transformações com o passar do tempo (ETZIONI, 1964). Dessa forma, podemos definir a escola como uma organização com fins especí- ficos, características próprias e tendo por objetivo precípuo a educação e o ensino. A escola é considerada também um espaço que tem por objetivo a educação das crianças e jovens. Segundo Coménio (1657/2006, p. 146) a escola era uma “oficina de humanidade, contri- buindo em verdade para que os Homens se tor- nem verdadeiramente Homens”, portanto, esse espaço era destinado a transmitir ao homem todo o conhecimento necessário paraque pudessem se tornar verdadeiros cidadãos, éticos e respeita- dores das regras e normas sociais. Com o desenvolvimento da sociedade e das instituições, novas características foram sendo in- corporadas à definição de escola, principalmente, as relacionadas à divulgação da cultura, da língua e da ciência; ao ensino-aprendizagem e à sociali- zação de crianças e jovens. Inclusive, a definição de cidadania, direitos e deveres políticos, restri- ta ao país de origem do indivíduo vem mudando com o processo de globalização (VILA e CASA- RES, 2009, p. 47), sendo que hoje a escola edu- ca o cidadão para o mundo. A escola brasileira tem passado por mudanças significativas nas últimas décadas, buscando mu- dar conceitos e se adaptar às novas necessida- des da educação. Assim, de uma instituição ali- cerçada por princípios burocráticos e enrijecidos e por processos uniformizados buscar transfor- mar-se em um espaço mais aberto às mudanças decorrentes da modernidade, onde se prima pela Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional. 29 UNIDADE III: A ESCOLA COMO INSTITUIÇÃO SOCIAL igualdade de oportunidades, justiça, liberdade de escolha, entre outras (MACEDO, 1995). Segundo Dias (2002), a escola possui um pa- pel essencial nas transformações sociais e polí- ticas no mundo de hoje, pois situações como a transformação da instituição familiar, a inclusão social, as identidades sociais, processos migrató- rios, globalização, novas tecnologias interativas, novas culturas urbanas, entre outras, criam uma série de problemas sociais complexos que reper- cutem e se reproduzem dentro do espaço escolar e devem levá-la a busca de respostas que ultra- passam o processo ensino-aprendizado e a so- cialização de crianças e jovens. No atual contexto social, a escola toma novos contornos, buscando desenvolver um conceito de escola-organização mais condizente com as necessidades de seu público, o que depende do local e da sociedade onde está inserida, buscan- do promover, principalmente, a socialização, a inclusão e a equidade. No entender de Bertrand e Valois (1994) é responsabilidade da sociedade orientar a escola quanto à definição de normas e leis, devendo suas práticas ser baseadas nas orientações recebidas. A vida organizacional da escola não pode ser considerada de forma mecânica, portanto, todos (corpo organizacional, pais, alunos e a socieda- de local) devem ser convidados e incentivados a participar do processo educativo. Assim, entre outros ganhos do processo, o aluno aprende a si avaliar e a si conhecer, resultando na troca de conhecimento com o professor, que é apenas um facilitador do aprendizado; os pais passam a participar de forma mais ativa da educação dos filhos e a conhecer melhor as práticas da escola; os professores mantêm-se atualizados; e há uma maior inserção da sociedade na escola, demons- trando os rumos a seguir. 3.2. A ESCOLA E O CONTROLE SOCIAL O controle social é um agrupamento heterogê- neo de recursos materiais e simbólicos disponí- veis em uma sociedade e que servem para ga- rantir que o indivíduo aja de maneira previsível e dentro das regras e condutas vigentes (COR- TELLA, 2014). Ele é importante na educação para que possamos notar como atua a escola enquanto instituição.A sociedade necessita de regras e normas para a boa convivência entre os indivíduos, as quais vão sendo construídas a partir do momento em que determinados valores começam a ser importantes para a organização de uma dada sociedade ou grupo social. Para que esse controle possa ocorrer, os indi- víduos ou grupos criam mecanismos de controle, os quais dão a quem os possui um dado “poder” como, por exemplo,o de fiscalizar e de verificar dados e informações sobre certa pessoa, grupo ou instituição, porém nem todo indivíduo pode exercer esse controle, devendo ter legitimação 30 Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional . UNIDADE III: A ESCOLA COMO INSTITUIÇÃO SOCIAL para isso. O controle social age no sentido “co- brar” o desempenho do indivíduo na realização de seu papel para o bom funcionamento da so- ciedade. Dessa forma, devem existir instituições e pessoas encarregadas para exercer esses con- troles (CORTELLA, 2015). Da vida em sociedade, surgem valores e regras de convivência que foram se institucionalizando para, assim, se ter um mínimo de harmonia so- cial. Com o desenvolvimento da sociedade, es- ses valores mudaram, mas uma variedade deles permaneceu como base para outros, levando aos mecanismos de controle, os quais abrange o comportamento do indivíduo, do grupo e da so- ciedade em geral como, por exemplo, a etiqueta à mesa, moral, horários, o controle familiar sobre o filho, o controle do tráfego, regras e normas da escola sobre o comportamento do aluno, entre outros (MELUCCI, 2001). Dessa forma, a necessidade do controle levou ao surgimento de padrões de comportamento, os quais são fixados a partir do momento em que os valores vão sendo aceitos ou não pela sociedade, tornando-os, na sua maioria, obrigatórios. Esses comportamentos seriam a soma de reações e ati- tudes que os indivíduos têm em face e em relação ao seu meio social, sendo que alguém pode não aceitar certos padrões impostos, desenvolvendo então um comportamento desviante. Para que o controle social seja exercido é ne- cessária a existência de agentes de socialização como, por exemplo,a família e a escola. A primei- ra perpetua padrões de comportamento e tenta impedir desvios; enquanto que a escola adota comportamentos conforme os modelos impostos e gera mecanismos para controle, buscando pre- parar o aluno para o convívio social, ensinando-o a se comportar em sociedade e reeducando-o. As ações educativas da família e da escola aconte- cem no dia a dia e de forma programada, levan- do o indivíduo a agir dentro de padrões determi- nados, porém,como já dito, pode haver desvios (CORTELLA, 2015). Os mecanismos de controle mais utilizados pela sociedade são a persuasão e coerção, sendo que a utilização da comunicação de massa intensifi- ca a utilidade de ambos os mecanismos, pois (MELUCCI, 2001): I. É agente de socialização; II. Orientam comportamentos, levando crianças e adolescente a seguir suas orientações; III. Disseminam modelos de comportamento, conforme interesses do sistema capitalismo; IV. Provocam instabilidade emocional e frag- mentação do caráter da criança e adolescente, incentivando o consumismo, despertando a se- xualidade precocemente, valorizando padrões de beleza difíceis de serem alcançados pelas pesso- as comuns,incentivando a competição desenfre- ada, entre outros; V. Colabora para legitimação do sistema. Os mecanismos de coerção que a sociedade impõe podem variar de intenso a sutil, pois se Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional . 31 UNIDADE III: A ESCOLA COMO INSTITUIÇÃO SOCIAL diferenciam de acordo com o grau de obrigato- riedade a que o indivíduo está sujeito no ato de acatar ou não uma regra ou norma e, também, na persistência do agente de controle em obrigar o indivíduo a acatá-las. Os padrões de controle são elaborados de acordo com a classe social domi- nante e mudam em função da identidade existen- te entre as forças sociais, econômicas e políticas. 3.2.1.A escola e o desvio social Por conformidade entende-se o aceitar e agir de acordo com as normas estabelecidas pela socie- dade e pela escola, portanto, conformismo é o ato de aceitar todas as regras, sem questioná-las. O desvio social ou comportamento
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