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pensamento medieval - filosofia do dir

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a) Judaísmo e Cristianismo – 23/08/2021 
 
* Para os judeus e cristãos a figura de Abraão é de percursor da fé = história de 
obediência -> Deus faz aliança e leis para serem seguidas (ex.: Torá e 10 mandamentos) 
-> Justiça: é viver na obediência às leis divinas. 
* Com o cristianismo, a lei divina (dada pela divindade, criador) se estende para toda a 
espécie humana (pretensão universalista do cristianismo) que é convocada para à 
redenção (figura de Jesus Cristo) e obediência (à lei) 
* Para Paulo todo ser humano tem acesso à divindade -> Lei Natural (lei dada por Deus 
aos homens, ilustrado em Romanos, quando ele diz que a lei divina está no coração dos 
homens) =/= Lei Positiva (a lei humana que varia de acordo com os povos, já que 
advém dos costumes). Mesmo aqueles que nunca tiveram acesso a Jesus tem acesso à 
divindade, o ser humano pode seguir a lei sem ter acesso à divindade, pois é uma lei do 
coração (Deus colocou essa lei em cada ser humano). A lei natural seria “comum” a 
todos os povos, já que todos tem acesso através do coração, é uma lei eterna. 
 
b) Romanos 
* Marco Túlio Cícero (106 a.C – 43 a.C) -> diz que o Direito não resulta do arbítrio. 
Direito é dado pela Natureza (sendo constante e eterno) -> sentido de Direito Natural. 
- Justiça e injustiça são definidos a partir do que Cícero chama de “lei suprema” (lei 
suprema = lei natural). Tal lei seria atingida através da razão. Pelo fato de todo ser 
humano possuir uma razão, a justiça, para ele, é o que está de acordo com a natureza. 
Ou seja, viver de acordo com a natureza -> influência estoica (estoicismo). 
- Há Direitos dos povos (das gentes – comum – provavelmente se constitui pelos 
costumes) = observado pelos povos (comum) e Direito Civil (direito de um povo). 
- Há uma hierarquia: 
1)Direito Civil (direito particular/direito positivo) 
2)Direito dos povos/gentes (direito comum aos povos. Ex.: direito internacional) 
3)Direito natural (atingido através do processo reflexivo/racionalidade) 
* Romanos são conhecidos como grandes juristas 
* Em Roma há a figura do Jurisconsulto (“especialista” em Direito): 
- Há relação entre Direito e Moral, mas há diferença entre o lícito moral (honestidade) e 
o lícito jurídico (ilícito). Ex.: é lícito o governante aumentar seu salário, mas não é 
honesto. 
- Para Eneu Domício Ulpiano (170 – 228 d.C.) -> o Direito tem duas definições 
1) Direito como conhecimento das coisas divinas e humanas -> leva em conta o Direito 
Natural 
Direito no pensamento Medieval I 
2) Direito como ciência do Justo e do Injusto (justo e injusto depende da perspectiva 
que estamos tomando. Lei Natural ou Lei Positiva) 
- No Corpus Iuris Civilis (organizado por Justiniano (527 – 565 d.C)) há 3 preceitos 
fundamentais do Direito: 
1) Viver honestamente (de acordo com a natureza = razão – estoicismo) 
2) Não lesar ninguém (Epicuro) 
3) Dar a cada um o que é seu (justiça distributiva – Aristóteles) 
 
c) Santo Agostinho 
* O Império Romano não poderia ser chamado de República, pois não tinha justiça -> 
para Cícero, a República é coisa do povo (associação de homens baseada no consenso 
do direito e na comunidade de interesses) -> a concórdia vem com a justiça -> só a 
república quando governado com honestidade e justiça. Sem justiça o reino seria 
pirataria. Diz que o Império Romano não era uma república, já que não era 
verdadeiramente justa. 
*A justiça, para Agostinho, não é apenas um conceito filosófico natural, mas possui um 
sentido filosófico religioso -> Justiça = vera iustitia -> fundada na divina ordem ou lei 
eterna -> depende da vera caritas (amor a Deus e ao próximo) -> jamais são atingidos 
nesse nível -> por isso, nunca teremos uma república verdadeiramente. Sei o que é 
justiça, mas não vou cumprir o que é justiça, pois preciso do amor (tendo Cristo como 
exemplo). Jamais atinjo esse amor por conta própria, porque o ser humano é decaído, 
portanto, preciso da graça, nem todos tem graça, por isso, não atinge o amor, não 
atingindo, assim, a justiça. A lei eterna depende da caridade. Associa a justiça à Deus. 
Deus é parâmetro de justiça. Tal parâmetro jamais será atingido nesse mundo. Não dá 
para atingir, mas é o que nos resta, não tem como negligenciar o estado civil terreno 
enquanto vivemos submetido a ele. O Estado nunca será justo, mas ele valoriza, pois é o 
que nós temos. Não existe um Estado Civil justo. 
- Justiça = Deus. Parâmetro absoluto é Deus, criador da lei eterna. 
- Justiça = amar o que deve ser amado -> na verdadeira República todos vivem na 
caridade. 
- O que deve amar, para Agostinho, é Deus. Mas nem todos amam Deus. 
- Obs: amor = vontade. Para Agostinho, a vontade deve se voltar a Deus. 
- Se não houvesse pecado original, não seria preciso de Estado 
- Agostinho não considera os homens como seres políticos, como Aristóteles 
- Vivemos em sociedade, porque somos seres pecadores. Sem o Estado, não teria como 
viver. É melhor viver em um Estado ruim, do que em Estado nenhum. 
* Por influência grega de Cícero e de Paulo, Agostinho diz que existe leis eternas (dada 
pela razão suprema – que governa todo universo) -> cumprida por amor. Lei temporal 
(lei humana, mutável) -> cumprida por temor (quanto mais próxima a lei temporal da lei 
eterna, mais justa). Cumprimos a lei, pois temos medo da sanção. 
* O Estado visa a paz (maior dos bens temporais). Tal paz é a ordem, tal ordem é 
sinônimo de justiça (dar a cada um o que é seu) -> dar fé a Deus e concórdia aos seres 
humanos -> ajuda do Estado através das leis civis. 
* Povo = conjunto de seres racionais associados pela comunidade de objetivos amados. 
2 amores (valores) fundam duas cidades: 
1) amor aos bens temporais (amor a si = gera o orgulho - visa a autoglorificação, como 
Roma) funda a cidade terrena (não é sinônimo de Estado civil, é uma perspectiva 
metafísica). A cidade terrena é a cidade do orgulho. A sociedade civil é necessária para 
todos os indivíduos, ou seja, cidade terrena e de Deus, por isso, não pode ser um 
sinônimo de cidade terrena. 
2) amor à Deus funda a cidade de Deus (fundada e governada por Cristo). A cidade de 
Deus é a cidade onde os indivíduos que vivem nela amam Deus mais do que todas as 
outras coisas. 
- Precisamos de Estado para preservar os bens materiais, tais bens também dizem 
respeito aos nossos corpos. Vivemos em sociedade civil organizada por necessidade e 
utilidade. Por mais injusta que seja, Agostinho diz que existe algum sentido na 
totalidade das coisas. Bem material é tudo que não é Deus, para Agostinho. 
- Antes do fim dos tempos, as duas cidades caminham juntas -> todo indivíduo, 
enquanto ser temporal, necessita do Estado terreno (=/= cidade terrena) -> apesar de leis 
imperfeitas, deve-se obedecer às leis temporais por utilidade/necessidade e por mais 
injustas que sejam, há uma providência divina para as suas existências. 
- Sem justiça pessoal não há justiça na República. Relação entre moral e Direito. 
- A justiça é um parâmetro jamais alcançado na cidade terrena -> tem uma alta 
exigência de perfeição (ex.: abandono dos bens terrenos) e possui inaptidão para a 
sanção terrena. 
* Leis pelas quais Deus faz o homem conhecer a justiça: 
1) Lei Natural = atingida pela razão, mas limitada devido ao pecado original (ser 
humano decaído) 
2) Lei Mosaica = era uma ordem de Deus que valida para determinada época, mas que 
prescreveu 
3) Lei de Cristo = dada pelos Evangelhos = lei perfeita, assumida em “amar a Deus 
sobre todas as coisas e o próximo como a si mesmo”. 
 
 d) São Tomás de Aquino - 24/08/2021 
* 1224/25 – 1274 
* Lei é regra/medida dos atos formados pela razão. Lei é a criação da razão que serve de 
parâmetro para as ações. 
* Lei é ordem. Ela visa o fim (bem) comum, o fim da comunidade que é a felicidade. A 
comunidade é a comunidade humana e universal (Deus). Refere-se a Lei de Deus e a 
Lei Positiva, depende da abordagem. 
-Emana da comunidade ou do legítimo representante -> legitimidade do poder: a lei 
emana da comunidade ou do representante legítimo -> quem faz a lei deve ser 
reconhecido pela sociedade. Ele não pode criar leis de maneira arbitrária. Só será 
legítimo se a sociedade reconhecer. 
- A lei válida deve ser promulgada. 
- A lei faz os humanos bons, pois é justa 
- A lei gera o temor da pena 
* Tipos de Lei 
a) Comunidade governada por Deus (universo) -> Deus possui razão eterna, portanto, 
cria Leis Eternas. A lei eterna é a lei criada por Deus para governar o universo. 
b) A razão humana é temporal e, por isso, não consegue captar a razão eterna. Porém, na 
tentativa de a razão humana capturar a razão eterna, a razão humana atinge a Lei 
Natural. A Lei Natural não é sinônimo de Lei Eterna. A Lei Natural depende da Lei 
Eterna. A Lei Natural é o que o ser humano consegue captar na tentativa de assimilar a 
Lei Eterna. Os homens não têm acesso a Lei Eterna, por isso, não podemos falar sobre o 
conteúdo dela, o máximo que sabemos é que é a Lei que deus governa o universo. 
 Para Tomás, a ordem que captamos põe uma criação de Deus. Tomás, sendo 
jusnaturalista e falando de Lei Natural, justifica a lei natural através da eterna. A 
estrutura que Tomás monta entre natural e humana (positiva) pode ser lida por alguém 
que não parte da mesma fé que Tomás. É possível fazer essa relação sem entrar no 
mérito da existência de divindade. A lei natural é captada pela razão humana através da 
capacidade humana de perceber um ordenamento das coisas. A razão capta a ordem nas 
coisas. Há uma lei suprema da lei natural (lei que sintetiza a lei natural), por isso, não é 
uma lei a parte. A lei suprema da lei natural é fazer o bem e evitar o mal. Fazer o bem a 
partir da nossa capacidade de captar um ordenamento no universo, a lei natural é isso! 
No fundo, a lei natural é o bom senso. A Lei Natural é comum a todos os indivíduos, o 
que diferencia, depois, é a lei humana, pois a lei humana expressa a lei natural, ou seja, 
a lei natural está expressada na lei positiva. Ex.: autoconservação, conservação da 
humanidade, união dos seres humanos, educação dos filhos, conhecer a verdade (Deus), 
viver em sociedade. O homem tem a capacidade de ir contra a lei natural. Quanto mais 
próximo a lei positiva estiver das naturais, mais justa ela será. 
c) Lei Humana surge através do legislador que tem a possibilidade de se aproximar, ou 
não, da lei natural. Cada legislador faz uma lei positiva diferente. A lei humana esta 
expressa nas sociedades concretas, nesse momento, temos o Direito constituído. A lei 
humana é: 
- Necessária, por causa da natureza humana sociável. Necessária para as relações 
sociais, pois o homem é um ser social. 
- Tem sua origem na autoridade política e na aceitação popular 
- Um prolongamento do Direito Natural 
- Adaptada às circunstâncias temporais, mutável de acordo com o momento 
- Deve ser seguida por buscar a justiça (é um parâmetro de justiça humana) 
d) Lei Divina: revelação que Deus faz aos homens para guiar a vida humana. Possibilita 
o conhecimento do sobrenatural para direção (salvação) da vida humana. Não se 
confunde com lei eterna. É a parte. Não temos acesso a lei eterna. A lei divina, pode ser, 
que seja uma explicitação da lei eterna. Temos acesso a lei divina, pois Deus nos 
concebe esse acesso. Não há relação de lei divina e lei eterna.

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