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1 FUNDAMENTOS DA ATUAÇÃO NEUROPSICOPEDAGÓGICA E INSTRUMENTALIZAÇÃO PARA A ATUAÇÃO INSTITUCIONAL E CLÍNICA 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 Sumário FUNDAMENTOS DA ATUAÇÃO NEUROPSICOPEDAGÓGICA E INSTRUMENTALIZAÇÃO PARA A ATUAÇÃO INSTITUCIONAL E CLÍNICA ... 1 NOSSA HISTÓRIA ................................................................................. 2 História da Neuropsicopedagogia ........................................................... 4 O que é Neuropsicopedagogia e qual seu objetivo? ............................... 4 O aspecto inclusivo da atuação do Neuropsicopedagogo ...................... 5 A assessoria Neuropsicopedagógica ...................................................... 9 A atuação do Neuropsicopedagogo frente à educação especial .......... 13 A ética profissional do Neuropsicopedagogo ........................................ 16 A INTERCONECÇÃO ENTRE A NEUROPSICOPEDAGOGIA E AS PRÁTICAS RESTAURATIVAS NO CONTEXTO ESCOLAR ........................... 19 NEUROCIÊNCIAS E EDUCAÇÃO .................................................... 20 TRIAGEM NEUROPSICOPEDAGÓGICA :COMPREENDER EMOÇÕES, SENTIMENTOS E NECESSIDADES ....................................... 23 PRÁTICAS RESTAURATIVAS: TEORIA E PRÁTICA .......................... 28 CONSOLIDAÇÃO DE NOVAS APRENDIZAGENS ........................... 30 AVALIAÇÃO NEUROPSICOPEDAGÓGICA ........................................ 32 O PROCESSO DA AVALIAÇÃO NEUROPSICOPEDAGÓGICA .......... 36 INFORME NEUROPSICOPEDAGÓGICO ............................................ 37 A ESCUTA DAS CRIANÇAS COMO INSTRUMENTO QUALITATIVO PARA A ATUAÇÃO DO NEUROPSICOPEDAGOGO ..................................... 40 A ATUAÇÃO NEUROPSICOPEDAGÓGICA E A APRENDIZAGEM ESCOLAR ....................................................................................................... 41 ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO NEUROPSICOPEDAGÓGICO INSTITUCIONAL E CLINICA .......................................................................... 42 NEUROFARMACOLOGIA .................................................................... 47 O QUE É NEUROFARMACOLOGIA? .................................................. 47 OS LOCAIS DA AÇÃO...................................................................... 47 file:///C:/Users/FACUMINAS/Documents/§FUNDAMENTOS%20DA%20ATUAÇÃO%20NEUROPSICOPEDAGÓGICA%20E%20INSTRUMENTALIZAÇÃO%20PARA%20A%20ATUAÇÃO%20INST.docx%23_Toc75960669 file:///C:/Users/FACUMINAS/Documents/§FUNDAMENTOS%20DA%20ATUAÇÃO%20NEUROPSICOPEDAGÓGICA%20E%20INSTRUMENTALIZAÇÃO%20PARA%20A%20ATUAÇÃO%20INST.docx%23_Toc75960669 4 ALVOS DA ACÇÃO DA DROGA ...................................................... 48 NO RECEPTOR................................................................................ 48 NO NEUROTRANSMISSOR............................................................. 49 ALGUMAS APLICAÇÕES TERAPÊUTICAS..................................... 49 REFERÊNCIAS .................................................................................... 50 História da Neuropsicopedagogia O entendimento sobre os processos cerebrais é cada vez mais preciso e acertado. Há mais de cem anos que os pesquisadores buscam aprimorar seus estudos sobre o cérebro humano, e, atualmente, já se pode afirmar que temos excelentes conhecimentos nessa área. E é claro que a Educação se beneficia dessas descobertas, pois é um campo que lida inevitavelmente com as particularidades do cérebro humano, principalmente no que se refere aos estímulos da aprendizagem. São das funções cerebrais que vem as respostas para muitas indagações da Pedagogia. Por isso, as Neurociências têm muito a acrescentar a diversas áreas do conhecimento, e é dessa fusão que surgiu a Neuropsicopedagogia. O que é Neuropsicopedagogia e qual seu objetivo? De modo geral, diz-se que Neuropsicopedagogia é uma ciência que estuda o sistema nervoso e sua atuação no comportamento humano, tendo como enfoque a aprendizagem. Para isso, a Neuropsicopedagogia busca relações entre os estudos das neurociências com os conhecimentos da psicologia cognitiva e da pedagogia. Sendo assim, essa é uma ciência transdisciplinar que estuda a relação entre o funcionamento do sistema nervoso e a aprendizagem humana. 5 Seu objetivo é promover a reintegração pessoal, social e educacional a partir da identificação, do diagnóstico, da reabilitação e da prevenção de dificuldades e distúrbios da aprendizagem. O aspecto inclusivo da atuação do Neuropsicopedagogo A educação especial e a questão da inclusão têm sido dois temas que estão em voga neste início do século XXI. As propagandas em favor da inclusão têm sido persistentes, e observamos que nem todos os educadores e demais profissionais da educação estão preparados para trabalhar com esse público cada vez mais crescente tendo em vista a complexidade que se apresentam as dificuldades e necessidades específicas de aprendizagem nos diferentes con- textos em que emergem, muito menos os espaços escolares estão adaptados para receber esses cidadãos. Os direitos humanos não são contemplados em sua totalidade, sessenta e um anos após terem sido proclamados, vivemos injustiças em nosso cotidi- ano, todos nós educadores, educandos e cidadãos, enquanto pessoas normais, com todos os membros, com todos os neurônios funcionando regularmente. Não podemos cometer o grande engano de subestimar as capacidades dos alunos portadores de necessidades especiais, escolhendo o caminho mais fácil para eles percorrerem, sem deixar que eles próprios se conscientizem da necessidade do aprendizado. O que dizer então das pessoas portadoras de al- guma necessidade especial, que necessitam de processos inclusivos educaci- onais para que tenham promovidas as suas capacidades de aprendizagem? Vale citar Beauclair (2009), quando nos diz que a demanda social pela aprendizagem em nosso tempo gerou espaços e tempos institucionais novos, onde a atuação do profissional de educação se faz necessária e que novas te- orias capazes de captar novas dimensões se fazem importantes principalmente baseadas na sensibilidade e na intuição das dimensões humanas. 6 Em linhas gerais, o trabalho de assessoria neuropsicopedagógica está relacionado com o objetivo da psicologia educacional/escolar em auxiliar o de- senvolvimento global do aprendente através de um trabalho em equipe multi- profissional juntamente com os gestores, professores, orientadores, pais e co- ordenadores de maneira que o aprendente tenha a sua necessidade básica de aprendizagem desenvolvida. Seu trabalho visa à prevenção, avaliação, orientação psicológica e acom- panhamento, aplicados preferencialmente no contexto institucionalcom vistas ao aspecto da inclusão educacional, em detrimento do atendimento individual, que só é realizado nos casos pelos quais há realmente essa necessidade. A Psicologia Escolar tem como referência conhecimentos científicos sobre desenvolvimento emocional, cognitivo e social, utilizando-os para compreender os processos e estilos de aprendizagem e direcionar a equipe educativa na busca de um constante aperfeiçoamento do processo ensino/aprendizagem. Sua participação na equipe multi- disciplinar é fundamental para respaldá-la com conheci- mentos e experiências científicas atualizadas na tomada de decisões de base, como a distribuição apropriada de conteúdos programáticos (de acordo com as fases de de- senvolvimento humano), seleção de estratégias de ma- nejo de turma, apoio ao professor no trabalho com a he- terogeneidade presente na sala de aula, desenvolvi- mento de técnicas inclusivas para alunos com dificulda- des de aprendizagem e/ou comportamentais, programas de desenvolvimento de habilidades sociais e outras questões relevantes no dia a dia da sala de aula, nas quais os fatores psicológicos tenham papel preponde- rante (CASSINS et al., 2007, p 17). Tendo por base o aspecto inclusivo do trabalho do neuropsicopedagogo na escola, vale destacar o processo de avaliação e acompanhamento individual da escolaridade de alunos socialmente desfavorecidos na forma do trabalho em equipe e colaboração com as escolas, no trabalho conjunto com os profissionais das escolas para conhecer as situações que propiciam a marginalização e ofe- recer recursos a fim de vincular os alunos a espaços mais normalizados, assim como a colaboração com as escolas no planejamento de atuações dirigidas às famílias com desvantagens sociais. 7 Também é importante a assessoria neuropsicopedagógica na forma de intervenção na comunidade educativa para que seja inclusiva a fim de favorecer a ligação entre a escola e os pais e entre a escola e o bairro, mediante progra- mas de prevenção do absenteísmo, de grupos de autoajuda, dos círculos de pais e mestres, dos conselhos escolares colaborativos, dente outros, principal- mente para os educandos com necessidades educacionais especiais. O atendimento educacional para tais alunos deve, portanto, privilegiar o desenvolvimento e a superação daquilo que lhe é limitado, exatamente como acontece com as demais deficiências, como exemplo: para o cego, a possibili- dade de ler pelo Braille, para o surdo a forma mais conveniente de se comunicar e para a pessoa com deficiência física, o modo mais adequado de se orientar e se locomover. Para a pessoa com deficiência mental, por exemplo, a acessibi- lidade não depende de suportes externos ao sujeito, mas tem a ver com a saída de uma posição passiva e automatizada diante da aprendizagem para o acesso e apropriação ativa do próprio saber. Vale destacar que toda e qualquer criança tem o direito a uma educação que lhe permita realizar o seu máximo potencial humano, independente da sua capacidade de aprendizagem, neste sentido, é tarefa de todos os atores da es- cola transformar as instituições de ensino em espaços de inclusão social onde estão presentes a alma e o corpo das crianças especiais. [...] Um processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir, em seus sistemas so- ciais gerais, pessoas com necessidades especi- ais e, simultaneamente, estas se preparam para assumir seus papéis na sociedade. A inclu- são social constitui, então, um processo bilate- ral no qual as pessoas ainda excluídas e a soci- edade buscam, em parceria, equacionar pro- blemas, decidir sobre soluções e efetivar a equi- paração de oportunidades para todos (SAS- SAKI, 1997, p.41). É mister sublinhar que é tarefa principal do neuropsicopedagogo o obje- tivo de promover a assessoria de uma educação de qualidade para todos, com 8 foco no trabalho efetivo da educação inclusiva, assim como de prestar o aten- dimento prioritário às crianças e jovens com dificuldades de aprendizagem em geral. O AEE para as pessoas com deficiência mental, por exemplo, deve estar centrado na dimensão subjetiva do processo de conhecimento, complemen- tando o conhecimento acadêmico e o ensino coletivo que caracterizam a escola comum, por isso, o conhecimento acadêmico exige o domínio de um determi- nado conteúdo curricular. O atendimento educacional, por sua vez refere-se à forma pela qual o aluno trata todo e qualquer conteúdo que lhe é apresentado e como consegue significá-lo, ou seja, compreendê-lo. Neste sentido, o PPP escolar pode realizar adaptações importantes de acesso ao currículo no conjunto de modificações dos elementos físicos e mate- riais do ensino, bem como aos recursos pessoais do professor quanto ao seu preparo para trabalhar com os alunos que apresentam tais dificuldades e limita- ções de aprendizagem, podem ser definidas no planejamento das atividades como alterações ou recursos espaciais, materiais de comunicação que venham a facilitar os alunos com necessidades educacionais especiais a desenvolver as suas habilidades e competências num currículo escolar que atenda as reais ne- cessidades destes sujeitos aprendentes. É importante pontuar que o documento que norteia a educação inclusiva é a Declaração de Salamanca, que se apresenta na forma de Declaração de Direitos e de uma proposta de ação. Surgiu na Conferência Mundial, patroci- nada pela UNESCO, em junho de 1994, em Salamanca, na Espanha, tendo como objetivo maior a garantia dos direitos a todos os alunos com qualquer grau de deficiência ou distúrbio de aprendizagem, ao que comumente chamamos de Educação Comum. É função do neuropsicopedagogo promover processos inclusivos educa- cionais e conscientizar a comunidade escolar que o sentido do termo inclusão não significa promover a adequação ou a normatização de acordo com as ca- racterísticas de uma maioria, seu significado está mais próximo da possibilidade de fazer parte, conviver e não se igualar. 9 Portanto, é com grande cautela que devemos levantar a bandeira da in- clusão escolar de crianças com graves problemas de desenvolvimento ao invés de tomarmos o assunto partindo de um ideal, do que diz a lei, é mais apropriado levar em consideração a própria criança, verificar o problema que ela apresenta e, a partir daí, avaliar a maneira pela qual podemos promover processos inclu- sivos educativos de adaptação no cotidiano da escola, sobre isto veremos mais adiante. A assessoria Neuropsicopedagógica A assessoria neuropsicopedagógica é regulamentada pela Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia, explicitando basicamente duas áreas de atuação para este especialista, a saber: o campo institucional e o campo clí- nico. Se formos analisar o art. 29 do Código de Ética Técnico Profissional do Neuropsicopedagogo com formação no campo institucional, iremos consta- tar que a sua atuação ocorre exclusivamente em ambientes escolares ou em instituições de atendimento coletivo, fazendo parte da equipe técnica-pedagó- gica e do corpo de professores visando à construção de projetos de trabalho nas áreas de conhecimento formal, formulando a orientação de estudos inter- disciplinares, assim como na prevenção da qualidade de vida por meio de cam- panhas internas relacionadas à saúde, à educação e ao lazer. Vale destacar que a prática do neuropsicopedagogo centraliza-se na me- todologia da práxis em fundamentos teóricos e práticos psicopedagógicos. Sobre o tratamento e a assessoria psicopedagógicos, deve-se identificar a fragmentação dos conhecimentos, as atitudes pedagógicas, a construção que o aluno repro- duz da imagem do professor e vice-versa, sobre a ideolo- gia da realidade, dos mitos e símbolos, na direção da im- plantação de recursos preventivos no cotidiano escolar, assim como da investigaçãode diferentes metodologias sócio pedagógicas, histórico antropológicas e etnológico- educativas (SILVEIRA, 2019, p. 127). 10 Nas instituições, o neuropsicopedagogo cumpre a importante função de socializar os conhecimentos disponíveis, promover o desenvolvimento cognitivo e a construção de normas de conduta inseridas num mais amplo projeto social, procurando afastar, contrabalançar a necessidade de repressão. Os procedimentos de adaptação curricular destinados a instituição esco- lar numa perspectiva inclusiva de educação, sem perder de vista o sentido legis- lativo da inclusão social, deve constar no PPP escolar, onde podem ser incenti- vadas a relação professor/aluno nas dificuldades de comunicação do aluno, in- clusive a necessidade que alguns possuem de utilizar sistemas alternativos de ensino, como (Língua de Sinais, Sistema Braille, Sistema Bliss, dentre outros), a relação entre colegas pode ser marcada por atitudes positivas de cooperação, os alunos podem ser agrupados de modo que favoreça as relações sociais e o processo de ensino e aprendizagem, o trabalho do professor da sala de aula e dos professores de apoio ou outros profissionais envolvidos pode ser realizado de forma cooperativa, interativa e bem definida do ponto de vista dos papéis desempenhados no grupo, a organização do espaço e dos aspectos físicos da sala de aula em sua funcionalidade, boa utilização e otimização dos recursos, assim como a seleção, adaptação e a utilização dos recursos materiais, equipamentos e mobiliários de modo que favoreça a aprendizagem de todos os alunos numa perspectiva inclusiva de educação. Historicamente, a Psicopedagogia surgiu na fronteira entre a Pedagogia e a Psicologia, a partir das necessidades de atendimento de crianças com distúrbios de aprendizagem, consideradas inaptas dentro do sistema educacional convencional. No momento atual, à luz de pesquisas psicopedagógicas que vêm se desenvolvendo, inclusive no nosso meio, e de contribuições da área da psicologia, sociologia, antro- pologia, linguística, epistemologia, o campo da psicope- dagogia passa por uma reformulação. De uma perspec- tiva puramente clínica e individual, busca-se uma com- preensão mais integradora do fenômeno da aprendiza- gem e uma atuação de natureza mais preventiva (KI- GUEL apud BOSSA, 2000, p. 18). Nos espaços do terceiro setor, como em ONG’s (Organizações Não go- vernamentais), o neuropsicopedagogo pode atuar de maneira psicopedagógica, 11 apresentando projetos interdisciplinares relacionados às dificuldades de apren- dizagem do aprendente, fazendo triagens para encaminhamentos aos profissi- onais da saúde quando necessários, assim como inserindo as crianças e os ado- lescentes em oficinas pedagógicas, a fim de acompanhar o desempenho da aprendizagem em relação às dificuldades apresentadas. Quanto às intervenções do neuropsicopedagogo clínico, vale destacar que a sua avaliação deve ter por objetivo principal identificar no aprendente o seu desenvolvimento e a aprendizagem em relação a atenção e as funções executivas de expressão do comportamento, o aspecto da linguagem, a com- preensão leitora, a memória dos processos de ensino e aprendizagem, a moti- vação intrínseca e extrínseca, as próprias estratégias de aprendizagem, o seu desenvolvimento neuromotor, as habilidades matemáticas, assim como as habi- lidades sociais de interação interpessoais. Portanto, atua em equipe multiprofissional em consultórios, clínicas, pos- tos de saúde, terceiro setor, dentre outros, fazendo avaliação e intervenção em crianças e adolescentes com dificuldades escolares, considerando que lidar com o insucesso escolar, com o baixo rendimento, com as múltiplas implicações para a auto avaliação da criança, para a família, professores e comunidade constitui-se em tarefa complexa e desafiadora para a qual não se tem ainda uma resposta acabada e pronta, o que aponta para a necessidade de buscar alternativas que possam minimizar tal situação. O arcabouço teórico que sustenta a formação do neuropsicopedagogo institucional e clínico está relacionado à neurociência e à educação, principal- mente, no sentido de que para compreender o mecanismo do aprender é ne- cessário conhecer um pouco sobre o funcionamento do sistema nervoso, assim como da organização dos nossos comportamentos e emoções a partir da com- preensão de que os 86 bilhões de neurônios do nosso cérebro interagem entre si formando redes neurais para que possamos aprender o que é significativo e relevante para a vida. Cada tipo de habilidade ou comportamento pode ser bem relacionado a certas áreas do cérebro em particular. As- 12 sim, há áreas habilitadas a interpretar estímulos que le- vam a percepção visual e auditiva, à compreensão e a ca- pacidade linguística, à cognição, ao planejamento de ações futuras, inclusive de movimento, e assim por diante (RELVAS, 2010, p. 14). Na avaliação neuropsicopedagógica clínica, por exemplo, pode aplicar testes e escalas padronizadas para a população brasileira em relação a apren- dizagem adquirida, utilizar a observação clínica, lúdica e do material escolar para a elaboração da hipótese diagnóstica. O contato com a escola, com a família, com os demais membros que re- sidem com o sujeito aprendente, com os demais profissionais que atuam no caso, torna-se relevante para a compreensão do quadro e do projeto de inter- venção que melhor poderá se adequar em cada caso específico na demanda apresentada. Portanto, vale pontuar que as especificidades da sua atuação, seja no campo institucional ou no campo clínico, não perdem de vista a sua objetividade principal do saber-fazer, principalmente em se tratando da avaliação inicial, o neuropsicopedagogo deve elaborar as hipóteses diagnósticas centradas no pró- prio sujeito nos aspectos orgânicos e afetivo-cognitivos, nos aspectos psicoló- gicos onde deverá encaminhá-lo a um psicólogo com relatório especificando a situação encontrada, nos aspectos familiares, em como aprendeu a aprender nos vínculos com a construção do conhecimento. Na escola, a avaliação poderá estar centrada na relação professor/aluno, da inadequação metodológica e na didática do ensino e da sua instrumentalização, ainda que consideremos ser mais difícil a análise porque o professor/ensinante está em atividade com muitos alunos. Assim, pode-se afirmar que as intervenções neuropsicopedagógicas de- vem prestar a assessoria desenvolvendo um trabalho com o intuito de criar pos- sibilidades para que a aprendizagem ocorra satisfatoriamente e desenvolver in- tervenções com o objetivo de detectar e estimular áreas que estão comprome- tendo o processo de aprender. Para tanto, a intervenção inicial deve possuir um caráter preventivo e, em seguida ser reeducativa e desenvolvido em clínicas ou consultórios psicológicos 13 para a identificação dos motivos que provocam os problemas de aprendizagem como o déficit intelectual, as incapacidades físicas ou sensoriais, as inadapta- ções grupais, a imaturidade psicomotora, a ausência dos pré-requisitos básicos para a alfabetização, métodos de ensino inadequados, fatores emocionais, dis- lexias entre outros, possibilitando a intervenção com o intuito de solucionar os problemas de aprendizagem tendo como eixo norteador o aluno, assim como de buscar a realização de um diagnóstico e intervenção psicopedagógica, utili- zando métodos, instrumentos e técnicas próprias da psicopedagogia institucio- nal. A atuação do Neuropsicopedagogo frente à educação especial Historicamente, a educação especial tem sido considerada como a edu- cação de pessoas com deficiência mental, auditiva, visual, motora, física, múlti- pla ou decorrente de distúrbios invasivos de desenvolvimento geral ou especí- fico, além das pessoas superdotadasque também têm integrado o conjunto de características dos sujeitos que são direcionados para as políticas de educação especial. A mobilização social começa nas décadas de 50 e 60 com o surgimento e fortalecimento de algumas organizações e de movimentos socioeducativos como ocorreram nos primeiros trabalhos de Paulo Freire, com a Pedagogia Pro- gressista. Por isso, tem sido grandes os progressos nas áreas de diversidade e equidade, com melhores oportunidades educacionais e maior disponibilidade de informações necessárias a educadores que ensinam grupos de estudantes diversos, entretanto, a promoção de ambientes educacionais flexíveis e sensí- veis às necessidades singulares de todo aluno não é uma tarefa fácil no âmbito da educação tradicional. Neste contexto de mudanças de paradigmas socioculturais e políticas bra- sileiras, o governo brasileiro assume em 1961 a educação do deficiente, quando promulga a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 14 4.024/61, em seu título X, nos art. 88 e 89, que fazem referência à educação dos excepcionais, garantindo a educação aos deficientes. Art. 88. A educação de excepcionais, deve, no que for possível, enquadrar-se no sistema geral de educação, a fim de integrá-los na comunidade; Art. 89. Toda iniciativa privada considerada eficiente pelos conselhos estaduais de educação, e relativa à educação de excepcionais, re- ceberá dos poderes públicos tratamento especial medi- ante bolsas de estudo, empréstimos e subvenções (BRA- SIL, LDBEN 4024/61). Em seu contexto histórico, verifica-se que ao longo do tempo, as demais legislações educacionais, como as que foram promulgadas em 11 de agosto de 1971, na Lei nº 5.692, a Constituição Federal de 1988, assim como a nova LDB nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996, de alguma forma buscam garantir a in- clusão de crianças com necessidades educacionais especiais como direito de todos e dever do Estado e da família, na promoção e incentivo com a sociedade como um todo, para o pleno desenvolvimento do indivíduo, de sua cidadania e qualificação para o mundo do trabalho. As mudanças na educação ao longo dos anos assumiram muitas formas e progressos graduais foram feitos. Os desenvolvimentos têm sido cada vez mais progressistas rumo a critérios educacionais e sociais mais inclusivos, na educação, o movimento apresenta-se em mudanças como: da educação dos privilegiados para a educação da população geral, para o desenvolvimento de classes e escolas especiais, para o enfoque nos direitos de todas as crianças de receber educação, para o reconhecimento da educabilidade e dos talentos que todos os alunos tem a oferecer às suas comunidades e aos seus pares, para o reconhecimento da necessidade de proximidade e interação entre alunos de diferentes características, sem discriminação, em ambientes escolares natu- rais. A educação especial e os diferentes tipos de necessidades especiais exi- gem do profissional de Neuropsicopedagogia o planejamento das ações peda- gógicas, a fim de identificar através do diagnóstico e da avaliação psicopedagó- gicas as necessidades de aprendizagem apresentadas pelo aprendente, que estão basicamente localizadas no âmbito físico, sensorial, mental, na paralisia 15 cerebral, no autismo, no TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperativi- dade), no TDA (Transtorno de Déficit de Atenção), na dislexia e disgrafia, na gagueira e na lentidão. As ações do profissional de Neuropsicopedagogia, quanto à educação in- clusiva de portadores de necessidades educacionais especiais, devem preocu- par-se com a igualdade de oportunidades ao acesso ao ensino escolar na es- cola regular, como afirma Sahb (2004, p.6), que a escola inclusiva para os alu- nos portadores de necessidades especiais “[...] pressupõe uma nova escola, comum na sua organização e funcionamento, pois adota os princípios democrá- ticos da educação de igualdade, equidade, liberdade e respeito à dignidade que fortalecem a tendência de manter na escola regular os alunos”. Assim, o trabalho do neuropsicopedagogo coincide com a política educa- cional inclusiva, integradora, propondo um modo de se construir o sistema edu- cacional que considere as diferenças e necessidades de todas as crianças, jo- vens e adultos, sem discriminá-los ou segregá-los nas suas diferenças e dificul- dades de aprendizagem escolar. A defesa da cidadania e do direito à educação das pes- soas portadoras de deficiência é atitude muito recente em nossa sociedade. Manifestando-se através de medi- das isoladas, de indivíduos ou grupos, a conquista e o re- conhecimento de alguns direitos dos portadores de defici- ência podem ser identificados como elementos integran- tes de políticas sociais, a partir de meados deste século (MAZZOTA, 1996, p. 15). Neste sentido, pode-se constatar que a mobilização da sociedade mo- derna é um fenômeno recente que busca incluir em praticamente todos os am- bientes socioculturais, as crianças, jovens, homens e mulheres com deficiência ou dificuldades de aprendizagem em geral, na busca da garantia dos direitos sociais e humanos, buscando o direito à qualidade de vida dessas pessoas, um direito que é muitas vezes negado pelo Estado que não dá conta de gesticular políticas de inclusão na efetivação dos direitos da cidadania, oportunidade e igualdade para todos. 16 Ainda que se considere que o manejo das dificuldades de aprendizagem no ambiente escolar não se constitui em tarefa fácil, e muitas vezes, a alterna- tiva dada envolve a colocação das crianças em programas especiais de ensino como o proposto para as salas de reforço ou de recuperação paralela, destina- das a alunos com dificuldades não superadas no cotidiano escolar. Entretanto, a promoção de ambientes educacionais flexíveis e sensíveis às necessidades singulares dos educandos, juntamente com a promoção de amizades e sistemas de apoio natural entre pares, não será uma tarefa fácil no âmbito da educação tradicional, concedendo ao profissional de Neuropsicope- dagogia o desafio de buscar alternativas interdisciplinares junto a outros profis- sionais da área da saúde e educação, em parcerias socioeducativas que articu- lem a busca de uma educação mais igualitária e inclusiva. A ética profissional do Neuropsicopedagogo O compromisso ético do neuropsicopedagogo perpassa a sua prática de investigação do conhecimento epistêmico das neurociências da educação, no sentido de constituir na sua práxis, segundo Ribas (2006), uma visão progres- siva das complexidades nervosa e comportamental ao longo da evolução das espécies, a análise filogenética da própria conceituação de termos como cons- ciência e psiquismo, principalmente por propiciar especulações sobre os possí- veis paralelos comportamentais existentes entre as diferentes espécies e o pró- prio ser humano. A partir daí, conceitua-se o reconhecimento das funções essenciais do sistema nervoso humano em ajustar o organismo ao ambiente, em perceber e identificar as condições ambientais externas, bem como as condições reinantes dentro do próprio corpo, em elaborar respostas que adaptem a essas condições, em integrar as funções sensoriais, integrativas e motoras. A prática no campo institucional e clínico deve ter o objetivo principal de integrar, de modo coerente, conhecimentos e princípios de distintas ciências 17 humanas, objetivando adquirir uma ampla compreensão sobre os variados pro- cessos inerentes ao aprender, no sentido de que o neuropsicopedagogo atua com metodologia psicopedagógica num amplo conjunto de tarefas e funções que prestam assessoramento às escolas, apesar de sua diversidade. O trabalho psicopedagógico não se constitui em aula de reforço escolar, é muito mais am- plo e abrangente, embora seja possível trabalhar também comconteúdos edu- cacionais, deve envolver as defasagens reais biopsicossociais em um trabalho voltado para a vinculação com a aprendizagem e o compromisso com o edu- cando e as famílias envolvidas nestes contextos socioeducativos. É interessante pontuarmos que na sua atividade prática (antes, durante e depois) das intervenções, o neupsicopedagogo deve estar sempre e constante- mente avaliando sua postura ética, os procedimentos realizados e as técnicas utilizadas a fim de favorecer o aprendizado do educando. A natureza dos objetivos do assessoramento psicopedagógico em quatro eixos principais, como aponta (COLL; MARCHESI, 2004), o primeiro está nos objetivos da intervenção em tarefas que se centram, prioritariamente no sujeito e aquelas que têm como finalidade incidir no contexto educacional; o segundo está nas modalidades de intervenção que podem ser consideradas como corre- tivas, preventivas ou enriquecedoras; o terceiro está nos modelos de interven- ção porque enquanto alguns psicopedagogos trabalham diretamente com o aluno de forma individualizada, outros combinam momentos de intervenção direta com intervenções indiretas centradas nos agentes educacionais que in- teragem com ele; e por último, o quatro eixo está no lugar preferencial de inter- venção na diversidade de níveis e contextos, tanto nas tarefas localizadas no nível de sala de aula, em algum subsistema dentro da escola, na instituição em seu conjunto, ano, assim como aquelas que se dirigem ao sistema familiar, à zona de influência, dentre outras. Para a SBNPp, a atuação do neuropsicopedagogo na área institucional, de educação especial e de educação inclusiva, deve contemplar observação, identificação e análise do ambiente escolar nas questões relacionadas ao de- senvolvimento humano do aluno nas áreas motoras, cognitivas e comportamen- tais, deve analisar a criação de estratégias que viabilizem o desenvolvimento 18 dos processos de ensino e aprendizagem do educando, assim como de reali- zar os encaminhamentos dos alunos para outros profissionais quando se fizer necessário, sendo a necessidade de assistência de outra área de atuação ou especialização. Constitui-se um princípio ético, a realização por parte do neuropsicopeda- gogo sobre testagens, protocolos e estratégias de intervenção como determina as Normas Técnicas de seu regulamento, observando que no contexto escolar deve prestar assessoria em conjunto com toda a equipe técnica e pedagógica da instituição, observando e analisando as demandas que necessitam de avali- ação e intervenção, sem perder de vista o desenvolvimento integral do apren- dente. O neuropsicopedagogo deverá conhecer as características dos contextos em que irá atuar, no caso institucional, como em ONG’s, deverá atender de forma coletiva, e dependendo do caso em análise, deve prestar assessoria in- dividual realizando encaminhamentos a outros profissionais especializados quando se fizer necessário, assim como de propor o planejamento institucional das suas atividades nesses contextos, inclusive considerando a observação e a anamnese. Cada instituição desempenha atividades em ramos diversificados, assim como possuem a cultura própria de atendimento, definindo instrumentos de uso coletivo, por isso a necessidade de um diagnóstico institucional para que se identifique o que necessita ser trabalhado nesses locais, dentre as necessida- des podem surgir as funções executivas, as habilidades sociais, a linguagem, as habilidades matemáticas e comportamento motor. A execução de projetos de trabalho ou oficinas temáticas devem ser pre- viamente planejadas e socializadas com todos os agentes do contexto instituci- onal, assim como o tempo necessário pelos indicadores dos objetivos pretendi- dos. Em relação a atividade do neuropsicopedagogo clínico, segundo Paín (1989), vale destacar a intervenção com o objetivo de levantar e sistematizar o perfil do aluno no processo de aprender, em detectar os principais pontos de 19 dificuldades e necessidades apresentadas pelo educando nos diferentes mo- mentos de sua formação, com a finalidade de identificar o seu desenvolvimento em relação a atenção e as funções executivas de expressão do comporta- mento, o aspecto da linguagem, a compreensão leitora, a memória dos proces- sos de ensino e aprendizagem, a motivação intrínseca e extrínseca e as pró- prias estratégias de aprendizagem. O olhar clínico neuropsicopedagógico pretende analisar a dinâmica rela- cional do indivíduo nos processos de ensino e aprendizagem na forma preven- tiva, diagnóstica e curativa, desenvolvendo atividades e dinâmicas de aprendi- zagem acadêmicas eficazes para o bom andamento da vida escolar do aluno, atendendo-o individualmente nas suas necessidades e dificuldades, de maneira pedagógica e realizando encaminhamentos quando se fizer necessário para ou- tros profissionais e especialistas. A assessoria neuropsicopedagógica, tanto na equipe gestora de profes- sores quanto para os alunos, em âmbito institucional ou clínico, torna-se indis- pensável para a formação da cidadania crítica destes nos seus diferentes con- textos socioculturais, na participação social, na formação ética, além da prepa- ração para o mundo do trabalho, no combate ao fracasso escolar e a elevação da autoestima. A INTERCONECÇÃO ENTRE A NEUROPSICOPEDAGOGIA E AS PRÁTICAS RESTAURATIVAS NO CONTEXTO ESCOLAR Em pleno século XXI, a cultura da violência ainda se perpetua em nossa sociedade e no ambiente escolar exigindo que se ampliem estratégia para que a cultura da paz se faça presente. Tendo em vista que, nos deparamos com grandes dificuldades em nossas relações intrapessoais e interpessoais, questões de conflitos e violências que estão afetando diretamente na questão da aprendizagem. 20 Percebe-se que os alunos envolvidos em situações de violência e que não estão aprendendo de acordo com sua idade/ano estão sendo excluídos do contexto escolar, o que gera um obstáculo para o processo de aprendizagem. Com o objetivo de agregar os conhecimentos do estudo teórico dos conhecimentos da neuropsicopedagogia. A seguir, será exposto um pouco do que já se vem fazendo em termos de práticas restaurativas no ambiente escolar, bem como o impacto que este trabalho agrega aos conhecimentos da neuropsicopedagogia podem trazer no restabelecimento de vínculos afetivos e consequentemente a consolidação de novas aprendizagens. NEUROCIÊNCIAS E EDUCAÇÃO Segundo Cosenza, (2011, p.142) “a educação tem por finalidade o desenvolvimento de novos conhecimentos ou comportamentos”, pois “aprendemos quando somos capazes de exibir, de expressar novos comportamentos que nos permitem transformar nossa prática e o mundo em que vivemos, realizando-nos como pessoas vivendo em sociedade”. Cada aluno tem a sua história de vida pessoal, sua estrutura genética herdada, o meio em que está inserido na família, na comunidade, na escola sendo que seu processo de aprendizagem é individual e fruto desta história pessoal. Observando o mundo em que vivemos atualmente, um dos grandes pontos de interrogação na educação hoje é: Porque muitas criança e adolescentes não estão aprendendo, porque existem muitos problemas nas relações interpessoais e intrapessoais? Porque os índices do IDEB estão tão baixos? Porque tanta distorção idade/ano? Porque adolescentes abandonam a escola? Responder a estes questionamentos tem sido um desafio e nossas escolas tendo em conta as grandes mudanças estruturais das famílias e da sociedade. Compreender o ser humano na sua plenitude e entender como se processa a aprendizagem no contexto escolar tem sido um grande desafio, uma 21 tarefa muito difícil para as mais variadas áreas. Com os avanços na área da neurociência entendemos que a aprendizagem é mediadapelas propriedades estruturais e funcionais do sistema nervoso, especialmente do cérebro, sendo ele o órgão da aprendizagem. O cérebro humano é bem mais complexo do que pensamos, é abrangente e criativo e se for corretamente conhecido, estudado e estimulado poderá aprender muito mais, podendo se expandir, bem como saber lidar melhor com as emoções. Segundo Antunes (2005, p.10) “a cada dia, neste exato momento, em inúmeros lugares, cientistas se debruçam sobre os segredos da mente humana, visando desvendá-los não há mais possibilidade de deter o notável avanço das ciências cognitivas na busca dos segredos do cérebro.” Segundo o autor, estas conquistas cientificas são relativamente recentes, iniciando na primeira metade do século XIX. Desta última década, muito se tem debatido mundialmente sobre esta temática. Porém, segue o alerta de Cosenza (2011, p.142) “embora muitas vezes se observe certa euforia em relação às contribuições das neurociências para a educação, é importante esclarecer que elas não propõem uma nova pedagogia nem prometem soluções definitivas para as dificuldades da aprendizagem”. Porém, podemos observar no dia a dia que estes conhecimentos colaboram para fundamentar as intervenções nas práticas pedagógicas que respeitam a forma como o cérebro funciona. Os avanços das neurociências possibilitam uma abordagem mais científica do processo ensino-aprendizagem, fundamentada na compreensão dos processos cognitivos envolvidos. As neurociências são ciências naturais que estudam princípios que descrevem a estrutura e o funcionamento neurais, buscando a compreensão dos fenômenos observados, já a educação tem outra natureza e finalidades, como a criação de condições para o desenvolvimento de competências pelo aprendiz em um contexto particular, sendo não apenas regulada por leis físicas e biológicas, mas principalmente por aspectos humanos. (Cosenza 2011, p.143). 22 Neste contexto temos a interface entre as neurociências e a educação, onde podemos agregar estes conhecimentos no trabalho do professor no ambiente escolar: O trabalho do educador pode ser mais significativo e eficiente quando ele conhece o funcionamento cerebral. Conhecer a organização e as funções do cérebro, os períodos receptivos, os mecanismos da linguagem, da atenção e da memória, as relações entre cognição, emoção, motivação e desempenho, as dificuldades de aprendizagem e as intervenções a elas relacionadas contribui para o cotidiano do educador na escola, junto ao aprendiz e à sua família. (COSENZA, 2011, p.146) Reforçando este tema, nos diz Russo (2015p.15,) que “o estudo da neurociências ajuda a compreender a complexidade do funcionamento cerebral e as articulações entre cérebro e comportamento” Agregar conhecimentos neurocientíficos a educação vai permitir explorar as potencialidades do sistema nervoso de forma criativa e autônoma com intervenções significativas para a melhoria do aprendizado escolar e da qualidade nas relações intrapessoais e interpessoais dos alunos Entendemos a necessidade transdisciplinar que envolve esta temática. Segundo Cosenza (2011, p.145) “por meio dessa perspectiva, as diversas áreas do conhecimento utilizarão seus pressupostos para avançar em direção a um conhecimento novo”. A transdisciplinariedade é um nível que vai além da multidisciplinariedade e interdisciplinariedade, nela não existem fronteiras e nem saberes mais importantes. Neste contexto de transdisciplinariedade a neuropsicopedagogia vem para contribuir para essa discussão, pois possui um olhar múltiplo que busca compreender o ser humano em sua complexidade, conforme a Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia: A neuropsicopedagia é uma ciência transdisciplinar, fundamentada nos conhecimentos da Neurociência aplicada a educação, com interfaces da Psicologia e Pedagogia, que tem como objetivo formal de estudo a relação entre cérebro e a aprendizagem humana numa perspectiva de reintegração pessoal, social e escolar. SBNPp (cap.II art.10) 23 Considerando esta perspectiva de reintegração pessoal, social e escolar temos que agregar os conhecimentos na área da Justiça Restaurativa, que é uma nova abordagem de resolução do conflito, focada nas relações pessoais prejudicadas em conflito através de práticas restaurativas que se constituem num amplo campo fértil e desafiador de pesquisa e reflexão que poderá trazer benefícios e mudanças em nossa sociedade a longo prazo. TRIAGEM NEUROPSICOPEDAGÓGICA :COMPREENDER EMOÇÕES, SENTIMENTOS E NECESSIDADES Nosso cérebro tem três funções: a reptiliana, responsável por funções vitais; o cérebro límbico pelas emoções e o neocortex, essencial para o desenvolvimento da linguagem, raciocínio lógico e pensamento abstrato. Percebe-se em nossa cultura um grande emprenho pelo desenvolvimento do neocortex relegando em segundo plano as questões relacionadas ao emocional. Aristóteles já dizia que educar a mente sem educar o coração, definitivamente não é educar. Por isso precisamos resgatar a importância do estudo das emoções: No estudo da mente humana as emoções e as cognições não podem ser analisadas cada uma para o seu lado. As emoções afetam as cognições e as cognições ampliam o leque e de respostas possíveis e adequadas que um organismo pode dar face a uma situação. Há mecanismos cerebrais distintos e mecanismos comuns no processamento da informação (PINTO, p.170) Segundo Cosenza (2011, p.75) “o fenômeno emocional tem raízes biológicas antigas e foi mantido na evolução exatamente por seu valor para a sobrevivência das espécies e dos indivíduos” e na verdade, os processos cognitivos e emocionais estão profundamente entrelaçados no funcionamento do cérebro evidenciando que as emoções estão presentes em todos os momentos importantes da vida dos indivíduos. Sendo assim necessário aprender a lidar de forma adequada com elas. O autoconhecimento emocional é uma habilidade que pode ser aprendida e aperfeiçoada o que pode fazer uma grande diferença na nossa vida pessoal e 24 nas nossas relações. A capacidade de conseguir controlar adequadamente é o que chamamos de inteligência emocional, e esta contribui para o aumento da aprendizagem, a diminuição dos problemas de disciplina e para a preparação de indivíduos mais capazes de viver a vida em sociedade e de atingir a plenitude de realização pessoal (COSENZA, 2011, p.85) Para lidar com as questões de conflito, é preciso empatia, acolher sem julgamento, é preciso acolher ambas as partes, o que gera o conflito e o que sofre com o conflito. Nesta questão temos que aprender com a linguagem da comunicação não-violenta, desenvolvida por Marshall B. Rosemberg, em psicologia clínica, mediador internacional e fundador do Centro Internacional da Comunicação Não Violenta, que é conhecida por sua capacidade de inspirar ação compassiva e solidária. A comunicação não-violenta é conhecida como a linguagem do coração na prática da paz, por ser uma forma de comunicação que leva a nos entregar de coração, e fortalece a nossa capacidade de continuarmos humanos mesmo em situações adversas. O enfrentamento deste problema é possível, quando descobrimos o que tem por trás destas manifestações, precisamos entender as mensagens escondidas, as mensagens explicitas atrás dos atos de violência. Escondido em cada ato de violência existe uma necessidade não atendida. Podemos dizer que a violência é uma manifestação trágica de uma necessidade não atendida (ROSEMBERG, 2006). Vivemos em uma sociedade em que não podemos demonstrar nossos reais sentimento, nossas emoções e muito menos nossas necessidades. Não fomos educados para falar de nossos sentimentos e nem de nossas necessidades. Todo ser humano tem em sua programação biológica as emoções e necessidades. Nosso cérebro é muito sensível a qualquer violação das nossasnecessidades. Entre as necessidades básicas de todos os seres humanos podemos citar: nutrição física (ar, alimento, descanso, abrigo...) autonomia (liberdade, sonhos, metas e valores) independência (aceitação, respeito, amor, confiança 25 apreciação), lazer ( brincar), celebração (celebrar os sonhos realizados, elaborar as perdas), comunhão espiritual (paz, harmonia...) Considerando que necessidade é algo do qual não se pode abrir mão e não tem cérebro humano que possa eliminá-las podemos nos perguntar: Nossos alunos tem estas necessidade básicas atendidas? O contexto escolar está propiciando isso? Percebemos que os alunos vão para a escola com muitas destas necessidades básicas não atendidas e, além disto, com redes neurais para comportamentos negativos: Alguns alunos, vem para a escola com redes neurais para comportamentos que são os mais úteis para a sobrevivência em um lar ou numa comunidade com stress tóxico, porém esses mesmos comportamentos podem perturbar demais quando apresentados dentro da sala de aula. (PRANIS, 015. p.16) Em nossa essência, somos seres biologicamente configurados para o bem. Segundo Pranis (2010, p. 22) “cada um tem um eu que é bom, sábio, poderoso e sempre presente – o eu verdadeiro”. Segundo Rosenberg (2006, p.19) é da nossa natureza gostar de dar e receber de forma compassiva. Segundo Gandhi “a violência é fruto da cultura, não é da natureza’. Cappelari (2012 p.23) nos fala que nosso cérebro originalmente foi “programado pela natureza para cooperar, contribuir, compartilhar e conviver, são redes de neurônios organizados em função da nossa herança biológica, por isso possuímos circuitos cerebrais bem pavimentados para a solidariedade e o amor”. Considerando que a nossa biologia não nos abandona, podemos nos perguntar: Porque então existe tanta violência em nosso contexto, porque nos afastamos da nossa natureza que é compassiva? Aprendemos a ser assim no convívio com os outros, pois conforme Jeferson Cappellari: A absorção desses comportamentos é feita de maneira espontânea, simplesmente pelo fato de estarmos inseridos no meio social em que vivemos, numa cultura que nos desconecta de nossas necessidades, emoções e sentimentos e nos ensina a usar o poder, a maldade e os julgamentos. (2012, p.33) 26 Considerando que a aprendizagem do ser humano começa no período do neurodesenvolvimento, precisamos entender que a nossa cultura e o meio em que vivemos, todas as nossas experiências desde a concepção, período de gravidez e a nossa infância ficam registrado em nosso cérebro, mas nem tudo permanece para sempre. Pois nosso cérebro passa por um processo chamado de poda neural: A ciência nos diz que a partir dos dois anos começa a ocorrer no nosso cérebro um fenômeno biológico, chamado poda sináptica... Assim como um jardineiro apara os galhos, o cérebro faz o mesmo, eliminando suas redes neurais. Esse processo de poda é altamente influenciado por estímulos ambientais, mais ou menos como a lei do “uso-desuso”. Se determinadas sinapses são muito usadas, elas ficam; as que não tem função são podadas. Não geram prejuízo para a anatomia do cérebro. (CAPPELLARI, 2012 p.28) O convívio familiar e na comunidade tem sido complicado e todas as experiências vivenciadas e repetidas - sejam de afeto ou de violência - tornam- se hábitos fazendo com que nosso cérebro se estruture com esses comportamentos positivos ou negativos. Crianças com convívios razoavelmente afetivos tem vantagens em seu desenvolvimento, mas ainda podem apresentar dificuldades em seus relacionamentos, porém as criança que vivem com poucos vínculos afetivos, em um ambiente em que a comunicação é fundamentada em xingamentos, ameaças, humilhações, que sofrem maus tratos, abandono e violência tenderão a ter grandes problemas em seu processo de aprendizagem. Se com a poda neural, o que permaneceu foram os registros negativos, Cappellari coloca que é por meio destes circuitos neurais que ela irá se desenvolver. Traumas na infância, abuso sexual, abuso físico, maustratos emocionais e negligência podem ter efeitos diferenciais no cérebro que e persistem tornando estes sujeitos reprodutores destas atitudes em seu meio. Kay Pranis nos chama a atenção para que estes sujeitos não sejam abandonados, separados ou excluídos de nosso meio quando cometem violências e atos infracionais, porque compartilha do pensamento de Albert 27 Einstein quando diz que o ser humano é parte do todo por nós chamado de “universo” e acrescenta dizendo que em nossos relacionamentos estamos profundamente interconectados. A sociedade africana tradicional usa o termo “ubuntu” com a ideia de que cada um de nós é, fundamentalmente uma parte do todo. Nós acreditamos que este princípio nos faz lembrar que não há jovens e pessoas que possamos jogar fora desistir, chutar ou nos livrarmos de nada sem, 10 literalmente, jogar fora uma parte de nós mesmos. Ao excluir alguém, nós nos prejudicamos e prejudicamos o tecido de nossa comunidade. Pelo fato de estarmos conectados, o que fazemos ao outro, fazemos a nós mesmos, embora possamos não nos dar conta de que isto esteja acontecendo. (PRANIS 2010, p.23) A afirmação de que tudo no universo está ligado, e que é impossível isolar algo e agir sobre aquilo sem atingir todo o resto nos remete uma grande responsabilidade com nossas crianças e jovens que estão em conflitos com a lei nos atos infracionais. Para trabalhar no resgate destes alunos a neurociência, que busca entender as bases biológicas do comportamento, mostra-nos que podemos criar rotas neurais alternativas para criar novos caminhos para superar as aprendizagens negativas que tivemos, dizendo: Se os comportamentos dependem do cérebro, a aquisição de novos comportamentos, importante objetivo da educação, também resulta de processos que ocorrem no cérebro do aprendiz. As estratégias pedagógicas promovidas pelo processo ensino-aprendizagem, aliadas às experiências de vida às quais o indivíduo é exposto, desencadeiam processos como a neuroplasticidade, modificando a estrutura cerebral de quem aprende. Tais modificações possibilitam o aparecimento dos novos comportamentos, adquiridos pelo processo da aprendizagem. (COSENZA,2011 p. 142) Sabemos que esta plasticidade é maior nos primeiros anos de vida, mas segundo Russo (2015, p.44) “o conhecimento atual do cérebro e de seu funcionamento permite afirmar que a plasticidade nervosa, ainda que diminuída permanece pela vida inteira, logo a capacidade de aprender é mantida”. Considerando que a plasticidade é a capacidade que o cérebro tem de fazer e desfazer ligações entre os neurônios através das interações constantes com o ambiente interno e externo do corpo, precisamos investir em nossos adolescentes e jovens no sentido e que as negativas encontres estas novas 28 rotas de que as aprendizagens positivas possam ser consolidadas em seus cérebros Faz-se necessário que os novos estímulos sejam constantes. Aprender dá trabalho, é difícil, gastamos muita energia e tempo, mas é preciso consolidar estas novas aprendizagens e novos comportamentos podem ser modulados, buscando comportamentos considerados socialmente desejáveis. PRÁTICAS RESTAURATIVAS: TEORIA E PRÁTICA As práticas restaurativas podem ser aplicadas nas escolas de forma preventiva por meio da construção da Cultura de Paz e dos "Círculos da Cultura de Paz". Porém, em situações de crise aplica-se o trabalho de mediação de conflitos por meio dos "Círculos Restaurativos" que buscam superar a forte lógica de punição. Para aquisição de novas aprendizagens, no sentido de resgatar o lado bom do eu verdadeiro podemos aprender muito com os ensinamentos de Kay Pranis, através dos Círculos de Construção de Paz, que são práticas restaurativas inspiradas nos povos indígenas e canadenses que reúnema antiga sabedoria comunitária e o valor contemporâneo do respeito pelos dons, necessidades e diferenças individuais num processo que; respeita a presença e dignidade de cada participante, valoriza as contribuições de todos os participantes, salienta a conexão entre todas as coisas; oferece apoio para a expressão emocional e espiritual; dá voz igual a todos. (PRANIS, 2010 ) É preciso ajudar as pessoas a reconhecer e buscar alternativas saudáveis para suprir suas necessidades. O círculo de construção de paz é um lugar para se adquirir habilidades e hábitos para construir relacionamentos saudáveis. No círculo as pessoas têm a possibilidade de falar de si, de seus sentimentos e necessidades se aproximam das vidas uma das outras a partir da partilha de histórias significativas, elas partilham experiencias pessoais de alegria e dor, vulnerabilidade e força luta e conquista. 29 Quando alguém conta uma história, mobiliza as pessoas a sua volta nos níveis emocional, espiritual, físico e mental. O corpo relaxa, se acalma, fica mais aberto e menos ansioso. A filosofia subjacente aos círculos reconhece que todos precisam de ajuda e que ajudando os outros, estamos ao mesmo tempo ajudando a nós mesmos (PRANIS, 2010) Aprendi a trabalhar com Círculos de Construção de Paz em 2015 através de uma formação na Secretaria Estadual de Educação (SEDUC/Porto Alegre/RS) e em 2016 na Promotoria Regional de Educação (PREDUC/ Santa Maria/RS). Desde então tenho colocado em prática na resolução de conflitos envolvendo aluno, professores, funcionários, pais e comunidade escolar, bem como multiplicado estes conhecimentos na formação de orientadoras educacionais, profissionais membros da CIPAVE e profissionais da Rede de Apoio à escola. Socializando com colegas que também realizam os círculos, comumente dizemos que o círculo é mágico, tudo pode acontecer nele. As pessoas são envolvidos emocionalmente, deixam de lado as máscaras e defesas, para estar presente como ser humano inteiro, para revelar suas aspirações mais profundas, para reconhecer erros e temores e para agir segundo valores. Costumo dizer que se as paredes da minha sala falassem poderiam revelar muitas experiências positivas. A conexão, o sentimento de pertencimento, o ser ouvido, poder falar 12 de seus sentimentos e necessidades fazem uma grande diferença na vida das pessoas, promovem responsabilidade de todos. Segundo MARTINS (2017, p. 11) “as práticas restaurativas na escola são como ferramentas de resolução de conflitos que emergem em contexto escolar a fim de contribuir para a transformação do ofício docente e a melhoria do ambiente escolar de maneira geral”. Precisamos aprender e nos empoderar destas práticas e este é o empenho da 24ª Coordenadoria Regional de Educação, enquanto entidade educacional, realizar estas práticas em seu ambiente e multiplicar com os profissionais da educação e profissionais da rede 30 de apoio para que a aprendizagem se efetive no dia a dia das escolas e nos demais ambientes da sociedade. CONSOLIDAÇÃO DE NOVAS APRENDIZAGENS Segundo Cosenza (2011), as inteligências emocionais estão ligadas ao conceito de funções executivas, que embora não exista um consenso sobre a conceituação destas, podemos defini-las como o conjunto de habilidades e capacidades que nos permitem executar as ações necessárias para atingir um objetivo. Elas também asseguram, que as normas sociais sejam respeitadas, em um padrão comportamental considerado tendo como essência a capacidade de planejar no longo prazo, de medir a consequência dos próprios atos, de inibir comportamentos inadequados. Outro aspecto fundamental do conhecimento a neurociência é a questão da consolidação da aprendizagem: É indispensável para que os registros no cérebro sejam retidos por um tempo maior. Na consolidação ocorrem alterações biológicas nas ligações entre os neurônios, por meio das quais o registro vai se vincular a outros já existentes, tornando-se mais permanente. Essas alterações envolvem a produção de proteínas e outras substâncias que são utilizadas para o fortalecimento ou a construção de sinapses nos circuitos nervosos, facilitando a passagem do impulso nervoso. Tratase de um processo que não ocorre instantaneamente, que demora algum tempo para ocorrer. Terminado o processo, novas memórias estarão consolidadas e serão menos vulneráveis ao desaparecimento do que as lembranças recentes. (COSENZA, 2011, p.63) Alguns estudos, tem sido realizado e existem evidências que esta consolidação ocorra durante o sono, mostrando a importância de termos um bom sono pois sua privação pode acarretar grandes prejuízos na questão da aprendizagem. Pois segundo o mesmo autor é durante o sono que os mecanismos eletrofisiológicos e moleculares envolvidos na formação de sinapses mais estáveis estão em funcionamento. É como se o cérebro, durante o sono, passasse a limpo as experiências vividas e as informações recebidas durante o período de vigília, tornando mais estáveis e definitivas aquelas que são mais significativas (COSENZA, p 65). 31 Como foi visto na questão das nossas necessidades básicas, o sono é considerado uma de nossas necessidades básica. Sendo ele tão importante na consolidação da aprendizagem podemos encontrar outro fator para as dificuldades de aprendizagem destas criança e adolescentes que vivem em situações de violência e de vulnerabilidade social. Então a escola tem este grande desafio, enfrentando as mazelas de nosso mundo contemporâneo, não desistindo de seus alunos e professores. Reforçando diariamente o seu trabalho de acreditar no ser humano, fortalecendo as relações. Segundo Pranis (2015 p.16) “Para escolher comportamentos diferentes, os alunos têm de, primeiramente aprender novos comportamentos. E aprender qualquer coisa nova leva tempo. É preciso praticar”. Não basta apenas desenvolver o trabalho das práticas restaurativas, os valores da justiça restaurativas, apenas esporadicamente. Faz-se necessário um trabalho constante e persistente para que estas novas rotas neurais se estabilizem e virem novos hábitos e formas de viver para que as aprendizagens aconteçam. Os alunos podem aprender que é possível treinar a controlar nossa maneira de ser e manter o autocontrole das nossas condutas e praticar com progressiva segurança aprendizagens positivas. A inclusão de todos os sujeitos na escola com permanência e sucesso é o grande desafio da educação. Os estudos das neurociências têm comprovado que os mais variados tipos de violências, como maus tratos, negligências... tem sido uma das causas do insucesso na aprendizagem. Conhecendo como funciona o nosso cérebro podemos avançar nas questões da aprendizagem. Através do processo de neuroplasticidade cerebral é possível superar aprendizagens negativas. O estudo da neuropsicopedagogia entrelaçado com as práticas restaurativas pode mostrar caminhos, novas alternativas e estratégias para que a cultura da paz esteja presente nas escolas e que nosso aluno esteja em relações saudáveis criando vínculos afetivos que favoreçam a aprendizagem em todos os seus aspectos. 32 O trabalho constante com as práticas restaurativas, através de círculo de construção de paz e círculos restaurativo - onde as emoções, sentimentos e necessidades podem vir à tona e serem reconhecidos - tem como objetivo resgatar valores restaurando relações. Enquanto educação precisamos reconhecer que as emoções necessitam ser consideradas nos processos educacionais, para que as novas rotas neurais sejam consolidadas. Logo, é importante que o ambiente escolar seja planejado e organizado com estratégias para a gestão dos conflitos, precisando criar espaços humanos. É tarefa da educação preparar as futuras gerações para o mundo melhor, criando ambientes seguros de aprendizagem e estimulando o usode soluções criativas e pacíficas para os conflitos. AVALIAÇÃO NEUROPSICOPEDAGÓGICA A Neuropsicopedagogia, aos poucos vem conquistando espaço no território brasileiro surgindo como uma nova área do conhecimento e pesquisa na atuação interdisciplinar, abarcando conhecimentos neurocientíficos e tendo seu foco nos processos de ensino aprendizagem. Está pautada em atividades que avaliam e intervêm nos processos de aprendizagem procurando obter informações de todas as ciências que possam contribuir para formar o entendimento mais detalhado da aprendizagem de cada indivíduo. Assim sendo, a Neuropsicopedagogia, que agrega conhecimentos da neurociência, psicologia e pedagogia realiza um trabalho de prevenção, pois avalia e auxilia nos processos didático-metodológicos e na dinâmica institucional para que ocorra um melhor processo de ensino-aprendizagem (HENNEMANN, 2015). Em entrevista para a Associação Brasileira de Psicopedagogia - ABPb, através de Racy e Vieira (s.d.), Dr Marco Tomanick Mercadante, contextualiza a Neuropsicopedagogia com as seguintes palavras: “Um campo do conhecimento que procura reunir os avanços advindos das neurociências com a psicopedagogia. Assim, o profissional com essa perspectiva deve ter conhecimento amplo das bases neurobiológicas do aprendizado, do 33 comportamento e das emoções, e dominar os elementos clássicos da psicopedagogia. Além disso, uma coerência epistemológica que garanta uma adequada articulação dessas áreas dispares do conhecimento é fundamental para a atuação na área”. Nesta perspectiva, faremos um breve relato sobre os conhecimentos advindos das neurociências para a atuação e avaliação neuropsicopedagógica. O cérebro humano é uma maravilhosa máquina que transforma uma simples sensação em pensamento, é um órgão complexo, desvendado parcialmente pela ciência, composto por células nervosas e glândulas. Dentro desta complexidade é importante ressaltar as funções do encéfalo e dos neurotransmissores, o encéfalo diferente do cérebro, é um conjunto de estruturas que estão anatomicamente e fisiologicamente ligadas, são estruturas especializadas que funcionam de forma integradas, para assegurar a unidade ao comportamento humano. Possui uma constituição elaborada ao receber mensagens que informam ao homem a respeito do mundo que o cerca além de receber um permanente fluxo de sinais de outros órgãos que o capacita a controlar os procedimentos vitais do individuo, batimento cardíaco, a fome e a sede, as emoções, o medo, a ira, o ódio e o amor tudo iniciando no encéfalo tendo o cérebro, a parte maior e mais importante. Na aprendizagem a criança tem na concentração e atenção aspectos importantes e fundamentais para o desenvolvimento cognitivo e motor, o aprendizado depende de alguns outros fatores, estimulo, interesse e da funcionalidade adequada das estruturas que irão receber tais estímulos e principalmente da atenção desta criança. Se a atenção é fundamental para a aprendizagem é através do desempenho de uma estrutura complexa localizada na parte central do tronco encefálico denominada de formação reticular (age como se fosse um filtro), que mantém o córtex em condições para que possa receber novos estímulos, decodificá-los e interpretá-los principalmente os sensitivos que devem ser 34 selecionados onde somente os estímulos importantes passam por este "filtro", chegando ao córtex o que os torna conscientes impedindo que os constantes bombardeios não venham atingir o córtex de forma indiscriminada. Quanto aos neurotransmissores, são substancias químicas produzidas pelos neurônios, as células nervosas, por meio delas podem enviar informações a outras células, podem também estimular a continuidade de um impulso ou efetivar a reação final no órgão ou músculo alvo, elas agem nas sinapses que são o ponto de junção do neurônio com outra célula. Os Neurotransmissores possibilitam que os impulsos nervosos de uma célula influenciem os impulsos nervosos de outra permitindo assim que as células do cérebro por assim dizer, "conversem entre si". O corpo humano desenvolve um grande número dessas mensagens químicas para facilitar a comunicação interna e a transmissão de sinais dentro do cérebro, são substancias que funcionam como combustível cerebral, nos deixam mais felizes e são fundamentais para o bom funcionamento do organismo. O interesse dos pesquisadores, suas descobertas, tem crescido em resposta á necessidade de, não somente entender os processos neuropsicobiológicos normais mais principalmente para respaldar a ciência da educação.Modernas técnicas estão começando a revelar como o cérebro tem conseguido a notável proeza da aprendizagem, as ciências cognitivas modernas, estão sendo capazes de estudar objetivamente muitos componentes do processo mental tais como atenção, cognição visual, linguagem, imaginação mental etc. Novos desafios terão pela frente, certamente novas conquistas, possivelmente os obstáculos existentes entre neurocientistas e educadores serão ultrapassados, novos paradigmas irão impulsionar a ciência principalmente a aqueles que se preocupam com a educação sob novos olhares (BARBOSA; KOPPE, 2013). O neuropsicopedagogo utiliza-se dos processos de metacognição, o pen- sar sobre o pensar, fazendo com que o indivíduo entenda o porquê de responder 35 "de tal maneira, tal pergunta", de que forma poderia ter feito melhor, sendo as- sim, os processos metacognitivos vão além da cognição, uma vez que esta se baseia somente em ensinar o aluno a dar respostas e se possíveis certas. Aliado aos demais profissionais do contexto educativo ele procura transformar “queixas” em pensamentos, criando espaço para a escuta e observação, para a partir daí fazer devolutivas. Através de estudos de como o cérebro aprende, de modo mais eficiente, encontradas em disciplinas voltadas às neurociências, o neuropsicopedagogo possui procedimentos e práticas eficazes para lidar com situações de dificuldades de aprendizagem. Dificuldades estas, que podem estar relacionadas à linguagem escrita, tanto na matemática quanto na comunicação, ou talvez defasagem decorrente de déficit visual, motor ou transtornos emocionais, bem como desenvolvimento intelectual diferenciado, tanto de alunos com incapacidade como dos com altas habilidades. Para que seja realizado uma avaliação neuropsicopedagógica ade- quada, é necessário compreender como funciona na prática o aparelho cogni- tivo. 36 O encéfalo, nosso aparelho cognitivo, forma um todo complexo pouco compre- endido, entretanto, o pouco sabido é suficiente para incrementar nossas práti- cas para avaliação. Pode-se didaticamente dividi-lo em três partes: o cerebelo (1), o sistema límbico (2) e o córtex (3). O cerebelo (1) é a parte do encéfalo responsável por estruturar os comandos mecânicos de nosso corpo. Quando aprendemos a falar, a escovar os dentes ou andar de bicicleta é este sistema que recebe as instru- ções que programam sua rede de neurônios, instruções estas difíceis de serem implantadas mas que depois jamais são esquecidas. O sistema límbico (2) se compõe do hipotálamo, tálamo, amígdalas e hipocampo. Pode ser entendido como um cérebro réptico completo em si mesmo. A evolução fez com que fosse somado a este cérebro réptil um córtex capaz de dar suporte as capacidades humanas superiores e manteve este cérebro primitivo atribuindo-lhe vários papéis instintivos além da função essencial de reter as informações colhidas durante o dia. Instintos básicos como o medo e a decisão de lutar ou correr diante de uma ameaça são gerenciados pelas amígdalas e hipotálamo, já o hipocampo perfaz a memória que registra os dados colhidos durante o dia. É no córtex (3) onde se registram definitivamente o que se aprendeu durante o dia. Diversos casos clínicos como o do sujeitoacidentado que esquece o que aprendeu minutos atrás forneceram as pistas de como funciona a aprendizagem. O PROCESSO DA AVALIAÇÃO NEUROPSICOPEDAGÓGICA O processo de avaliação inclui numerosas atividades entrelaçadas e interdependentes entre si. Vamos iniciar pela anamnese. A palavra anamnese tem origem grega e significa – ana= trazer novamente – mnesis= memória. É um entrevista que o profissional da área da saúde ou educação vai realizar com o responsável pelo aluno, em seu primeiro encontro, tentando relembrar fatos ocorridos. Os objetivos da anamnese são os seguintes: Saber qual a queixa do pacientes para melhor direcionar o tratamento; 37 Obter informações desde o período intrauterino para pesquisar possíveis causas da patologia atual; Levantar a hipótese diagnóstica (HD); Providenciar os encaminhamentos necessários para avaliações de outros especialistas. INFORME NEUROPSICOPEDAGÓGICO A avaliação neuropsicopedagógica tem se caracterizado por suas diversas possibilidades de levantamento, análise e interpretação de fenômenos relacionados ao funcionamento do sistema nervoso e a aprendizagem humana, os quais oportunizam ao neuropsicopedagogo respaldar-se para a tomada de decisões e delineamento de intervenções. Antes de mais nada, a consolidação dos achados neuropsicopedagógicos, oriundos do processo avaliativo, deve substancialmente ser clara, objetiva, concisa e precisa ao que de fato é exigido para a demanda profissional investigada. Nisto, o papel do informe neuropsicopedagógico resultante do output avaliativo é condição para a clareza sobre os objetivos, a justificativa e os procedimentos metodológicos norteadores da avaliação. Nisto, o neuropsicopedagogo encontra-se posicionado frente a contextos profissionais os quais a intervenção avaliativa deverá fundamentar-se tanto no delicado esmero teórico quanto na adequabilidade prática de sua atuação. Todo este processo se realiza para dar uma resposta profissional e especializada à demanda destacada e deve veicular-se através da comunicação dos resultados deste, que constitui o momento de fechamento da avaliação. É através dos informes finais que se pode descrever e transmitir os processos neuropsicopedagógicos e a dinâmica interpessoal que caracteriza o sujeito, através de suas amostras adquiridas a partir de vários processos durante a intervenção/acompanhamento. Isto ocorre segundo os objetivos que orientam a avaliação neuropsicopedagógica e as pessoas a quem se destinam o informe. Segue abaixo um modelo de informe: 38 IDENTIFICAÇÃO Paciente: XXXXX D.N XX/XX/XXXX Modalidade de Ensino: _______________________ Instituição de Ensino__________________________ AVALIAÇÃO INICIAL A Mãe ou rsponsável apresentou a seguinte queixa: (exemplos de tipos de queixa) Apresenta distração, tem dificuldade de fazer coisas solicitadas, apresenta uma conduta ansiosa, não consegue executar mais de uma coisa ao mesmo tempo, apresenta esquecimento, tem dificuldade relacionamento interpessoal desde criança, muitas vezes se isola, é tímida. Mantém sempre uma média de no máximo 2 amigos, os amigos taxam ela de infantil para idade, sendo assim ela acaba fazendo amizade com pessoas mais novas. Estágio de negação nas coisas que falam. Tem dificuldade em seguir regras. Quando era pequena não entendia metáforas, tem dificuldade de distinguir realidade de fantasia. Apresenta boas notas, exceto em exatas, já reprovou no 1º ano. Muitas vezes e sente triste isolada deprimida, chora quando está estressada e apresenta oscilação de humor. DADOS DO APRENDENTE Tipo de parto___________________ Chorou quando nasceu__________ Observações sobre o parto:_____________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ . INSTRUMENTOS UTILIZADOS: 39 Anamnse; EOCA (Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem); Avaliação Cognitiva de Funções Executivas (Teste de Repetição de Pseudopalavras, Teste de Atenção por cancelamento; Torre de Londres; Teste das Trilhas; SNAP – IV; Neurofeedback. PARECER PSICOPEDAGÓGICO Comparando os testes aplicados, com a análise comportamental e também com o exame EEG espectral com FEI e Mapa, foi observado que há uma _________________________________________________________. Inserir o resultado de todos os testes realizados CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES PARA ENCAMINHAMENTO O paciente apresenta características de____________________. Sugiro suporte Neuropsicopedagógico para auxiliar nas adaptações escolares bimestralmente. Terapia Neuropsicopedagógica combinada com treino de neurofeedback duas vezes por semana no período de seis meses para intervir no controle inibitório, no aperfeiçoamento das funções executivas e consequentemente melhora no rendimento escolar. Repetição do EEG com Fei (mapa) no período de três meses. É indispensável a psicoeducação com a família uma vez por mês para intervir em aspectos comportamentais. Encaminho para avaliação ainda para avaliação neurológica. Cidade, data. Atenciosamente, _______________________________________ Nome do profissional Neuropsicopedagoga Nº SBPNN 40 A ESCUTA DAS CRIANÇAS COMO INSTRUMENTO QUALITATIVO PARA A ATUAÇÃO DO NEUROPSICOPEDAGOGO Considerando a importância da escuta das crianças para a atuação do neuropsicopedagogo dentro do espaço educativo e deste recurso como instrumento qualitativo para o desempenho do trabalho deste profissional, indaga-se sobre: o que pensam as crianças a respeito de sua escola, de sua professora, de seu ensino e de sua aprendizagem? Em decorrência, desta inquietação, surgiram diversos questionamentos os quais serviram para nortear este estudo, a saber: a) O que as crianças gostam na escola? b) O que as crianças aprendem? c) Como as crianças sabem que aprenderam? d) Como é a professora? A partir desta problematização o objetivo deste artigo é analisar as respostas das crianças entrevistadas de modo a conhecer os diversos fatores, entre eles, estruturais, emocionais, didático-pedagógico, os quais constituem o cotidiano escolar destes sujeitos. Logo, procurou-se apreender seus anseios, necessidades e concepções referente à todo o contexto da escola. Nesse sentido, conhecer o que pensam as crianças a respeito de aspectos importantes relacionados à sua aprendizagem e tudo o que norteia o ambiente escolar, tem sido uma prática cada vez mais comum por parte de profissionais neuropsicopedagogos que já compreenderam a importância da participação destes sujeitos nas ações do processo educativo. Os sujeitos apresentados a seguir como exemplo para pesquisa, são crianças de 6 (seis) anos de idade, matriculadas no primeiro ano do ensino fundamental de uma escola pública pertencente à rede municipal de ensino. A abordagem empregada foi a qualitativa, haja vista que foram utilizados instrumentos de coleta de dados como a entrevista semiestruturada e o desenho oralizado como mote para um diálogo espontâneo com as crianças, o que 41 contribuiu para que se alcançasse o objetivo que se buscava, qual seja, o de conhecer as percepções dos sujeitos da pesquisa. A ATUAÇÃO NEUROPSICOPEDAGÓGICA E A APRENDIZAGEM ESCOLAR O trabalho do neuropsicopedagogo no espaço escolar torna-se cada vez mais relevante haja vista que sua formação está amparada nos conceitos da neurociência, o que assegura embasamento teórico diferenciado para lidar com as questões que envolvem o funcionamento das estruturas cerebrais, o que configura-se indispensável para o emprego de estratégias que corroborem para o desenvolvimento da criança nos aspectos relacionados à aprendizagem. De
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