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Glomerulopatias Definição: As glomerulopatias são causadas por agressões aos glomérulos, prejudicando suas funções básicas: formar o filtrado glomerular e servir de barreira. As conseqüências são basicamente proteinúria, hematúria, queda da filtração glomerular e retenção de sódio. Dependendo do tipo e da intensidade da agressão, há predomínio de um sinal sobre outro, podendo caracterizar uma Síndrome Nefrítica ou uma Síndrome Nefrótica. Histologia do glomérulo: A barreira glomerular é formada basicamente por 3 camadas que se superpõem: endotélio, membrana basal glomerular (MBG) e o epitélio visceral. Endotélio: Possui fenestras que facilitam a ultrafiltração e são compostas por um diafragma que gera resistência à passagem de macromoléculas. Ele é recoberto por uma camada de proteoglicanos e glicoproteínas, denominada glicocálice, a qual é rica em cargas negativas. MBG: Essa camada é formada basicamente por fibras de colágeno IV (cadeias alfa3, alfa4,alfa5), como uma ‘cerca de arame’. É sobreposta por proteoglicanos, fibronectina e laminina. Todos esses compostos possuem grupamentos aniônicos e portanto a MBG também é rica em cargas negativas. Possui muitos poros pequenos e uma pequena quantidade de poros grandes (poros não discriminantes). Ocorre passagem de água e pequenas moléculas, mas restringe as macromoléculas. Epitélio visceral: Formado pelos podócitos que possuem prolongamentos chamados pedicelas, os quais se ramificam e se interdigitam. Formam um ‘manto’ ao redor do capilar. Possui uma membrana diafragmática que é delgada e perfurada por aberturas microscópicas que regula a filtração, impedindo a passagem de macromoléculas. Essa membrana diafragmática é formada por moléculas de nefrina (proteína sintetizada pelos podócitos). Além dessa barreira mecânica, os podócitos possuem uma nuvem eletronegativa que confere uma barreira de carga. Isso ocorre devido as podocalixina, uma glicoproteína que fica voltada para parte externa (para o espaço de Bowman). Mesângio: Garante sustentação aos capilares glomerulares . Composto por colágeno tipo III, IV, V, VI. É formado por células mesangiais e pela matriz mesangial. As células mesangiais são semelhantes a células musculares lisas tendo inclusive propriedades contráteis. A matriz mesangial é formada por moléculas encontradas na matriz extracelular de outros tecidos. A região mesangial é recoberta apenas pelo endotélio (não há MBG e podócito) e por isso as proteínas conseguem alcançar o mesângio pelas fenestras do endotélio. Consegue controlar estreitando ou dilatando as alças dos capilares quando há proliferação ou contração. Fisiopatologia dos sinais e sintomas das glomerulonefrites: Proteinúria: A MBG possui carga negativa e poros fazendo com que ela seja permeável à água e a pequenas moléculas (uréia, creatinina, glicose) e praticamente impermeável a macromoléculas (albumina, Ig). Nas glomerulopatias há perda de cargas aniônicas e aumento da quantidade de poros não discriminantes da MBG, aumentando então a permeabilidade. Ou seja, facilita a passagem de macromoléculas como proteínas e causa proteinúria. 1) Proteinúria seletiva: Em algumas glomerulopatias há apenas alteração na barreira de carga (ex: por lesões mínimas) e nesses casos as proteínas encontradas na urina são basicamente albumina e transferrina. 2) Proteinúria não seletiva: Em outras glomerulopatias, há aumento da quantidade de poros ou seja, há alteração na barreira de tamanho. Nesses casos então, além de albumina e transferrina, encontram-se proteínas de maior peso molécular, como as imunoglobulinas. Queda da Filtração Glomerular: A FG depende da pressão intraglomerular e do coeficiente de permeabilidade. Nas glomerulopatias, há aumento na pressão hidrostática e redução do coeficiente de permeabilidade. A retração de podócitos, infiltração de neutrófilos e redução da área filtrante causada pela esclerose glomerular podem explicar a queda do coeficiente de permeabilidade. Ou seja, há redução da FG. Hematúria: As glomerulonefrites causam pequenas rupturas de alças glomerulares, formando fendas que permitem a passagem de células sanguíneas, principalmente hemácias. Essas hemácias são eliminadas na urina caracterizando a hematúria. A passagem dessas células é por diapedese e causa intensa alteração na forma da hemácia e, por isso, são encontradas hemácias dismórficas na urina dos pacientes (dismorfismo eritrocitário). Isso garante que a hematúria provém de alteração glomerular. Edema: O edema é uma das manifestações causadas pela retenção de sódio. Há dois tipos de edema que podem acometer pacientes com nefropatias. Natalie Celezinsky Clazer - Edema por under-felling: Comum em síndromes nefróticas. Em casos de perda de proteínas, ocorre hipoalbuminemia e esta é considerada a causa do edema, pois há redução da P oncótica do plasma e desequilíbrio das Forças de Starling, gerando extravasamento do líquido para o interstício. Isso causa hipovolemia que faz ativar sistemas de retenção de sódio (SRAA, sistema simpático e redução do fator natriurético) agravando o edema (edema generalizado). - Edema por over-flow: Comum em síndrome nefrítica. Nos casos em que não há perda de proteínas (sem hipoalbuminemia), o edema é considerado conseqüência da retenção de sódio devido a lesão renal, com aumento da volemia, aumento da P hidrostática intravascular e extravasamento do interstício. Restrito à região palpebral e membros inferiores. Escolhe esses locais devido a formação do tecido conjuntivo, nesses locais é tecido conjuntivo frouxo, conseguindo acumular esse líquido. HAS: É explicada pela retenção de sódio. Hipercolesterolemia: Normalmente, o pouco de albumina que é filtrada acaba sendo reabsorvida pelos túbulos proximais, não chegando na urina. Em casos de glomerulopatias, a hipoalbuminemia estimula aumento da síntese protéica pelo fígado, gerando maior síntese de triglicerídeos, causando hipercolesterolemia e hipertrigliceridemia. Além disso, a hipoalbuminemia inibe a lipólise piorando o caso. Hipocalcemia: Parte do cálcio está ligada à albumina e isso explica sua queda na concentração plasmática. Além disso, há queda do cálcio iônico devido a perda urinária de proteínas ligadas ao metabolismo desse íon. Fenômenos trombóticos e comprometimento da imunidade: Nas glomerulopatias, há perda de fatores antitrombóticos pela urina (altera cascata de coagulação). Perde antitrombina III e então não desenvolve coágulos. Há perda urinária também de imunoglobulinas essenciais para combater infecções e por isso o paciente fica mais sujeito a infecções repetidas. Síndrome Nefrítica Conjunto de sinais, sintomas e achaados laboratoriais que surgem quando há um processo inflamatório acometendo os glomérulos através de mecanismos imunológicos. Tem início abrupto e costuma aparecer após infecções de VAS ou de pele. Fisiopatologia: A inflamação glomerular gera uma alteração na permeabilidade permitindo que as substâncias passem. Há uma alteração na barreira de TAMANHO e também na barreira de CARGA, ou seja, há uma proteinúria não seletiva, passando além de albumina outras proteínas como imunoglobulinas, proteínas de coagulação etc. Além disso, o paciente apresenta hematúria devido a passagem de hemácias para a urina. A oligúria também é um sintoma, pois há retenção de sódio e consequentemente de água, reduzindo o fluxo urinário. O aumento dessa volemia também causa aumento da P hidrostática e extravasamento de líquido causando edema por over flow. Isso pode complicar, causando edema aguda de pulmão e IC. Características principais: Hematúria + edema (over flow) + hipertensão + proteinúria = Síndrome Nefrítica Síndrome Nefrótica Conjunto de sinais, sintomas e alterações laboratoriais que surgem quando há alteraçãonas paredes dos capilares, com alterações nos podócitos. É caracterizada por proteinúria maciça (mais que 3500mg/dia). Fisiopatologia: Há uma alteração apenas na barreira de CARGA, ou seja, ocorre uma proteinúria seletiva. Essa perda de proteínas é maciça, ultrapassando a capacidade hepática de repor essa quantidade. Diante disso, ocorre hipoalbuminemia, ou seja, redução da concentração plasmática de albumina. Isso faz cair a pressão oncótica e gerar desequilíbrio nas Forças de Starling, causando extravasamento de fluído para o interstício. Isso leva a um edema generalizado (edema por under feeling). Isso também gera uma hipovolemia relativa, ativando SRAA, SN simpático etc. Além disso, a hipoalbuminemia faz com que o fígado aumente sua produção de lipoproteínas e isso causa aumento da síntese de colesterol causando hipercolesterolemia. Os pacientes apresentam também uma hipocalcemia, explicada pela ligação do cálcio à albumina. Devido a perda da barreira, também há maior excreção de hormônios, vitaminas e imunoglobulinas. Isso compromete o sistema imune e altera os fatores de coagulação. Consequentemente, há hipercoagulação e efeitos trombóticos. Características principais: Proteinúria + Hipoalbuminemia + edema generalizado + Hipercolesterolemia = Síndrome Nefrótica As glomerulopatias também podem ser divididas em primárias e secundárias. - Primárias: 1) Por lesão mínima: Epidemiologia: É a principal causa de síndrome nefrótica na infância. 25% das nefropatias primárias em adultos. Acomete mais sexo masculino, entre 1-8 anos, com pico aos 3 anos. Em 60% dos casos está associada a IVAS. Causas: A maioria é idiopática. São lesões causadas por alterações no sistema imune. Há uma predisposição genética quando possui CD80 (molécula expressa no podócito) que, na presença de algum patógeno (IVAS), faz com que suas células T começam a atacar o podócito através do seqüestro de proteínas específicas que ficam na barreira de ultrafiltração, levando ao rompimento do diafragma de fenda. Fisiopatogenia: Na microscopia óptica, observa-se glomérulos praticamente normais, podendo ter hipercelularidade mesangial e hipertrofia dos podócitos. Na microscopia eletrônica, é possível observar retração dos prolongamentos podocitários, com fusão dos processos podais. Isso gera uma proteinúria seletiva, com alteração de carga. Diante disso, há proteinúria, com perda de albumina. Isso caracteriza uma síndrome nefrótica. O paciente tem proteinúria, mas não apresenta HA ou hematúria, com função renal preservada, podendo ser precedida de alguma infecção (IVAS). Há uma hipótese (não confirmada) em que esses pacientes, por algum estímulo ainda não determinado, produzem linfocinas com cargas positivas que se ligam às cargas negativas da MBG neutralizando-as. Quadro clínico e Diagnóstico: O diagnóstico é clínico e caracteriza-se por: Síndrome nefrótica: Proteinúria seletiva e maciça, dislipidemia, edema, hipoalbuminemia. A função renal costuma não estar alterado. Costuma ser criança em média de 6 anos com quadro de IVAS prévio. Exames complementares: - Complemento: normal. - Pode ocorrer redução de IgG e aumento de IgM. - Biópsia: Indicada quando há recidivas freqüentes (após 2 semanas de cura inicia novo quadro), corticorresistentes, corticodependentes, menores de 1 ano precisa descartar síndrome congênita e maiores de 8 anos descartar GESF e GNDA. Microscopia óptica: normal. Imunofluorescência: negativa. Microscopia eletrônica: fusão dos processos podais ou apagamento dos pedicelos. Tratamento: Geral: Restrição de sal; Dieta normoproteica (TGF está normal); Diuréticos: Usar com precaução. O VEC normalmente está muito alto devido a perda de albumina, então o diurético vai depletar o volume intravascular, podendo gerar uma IRA pré- renal. Furosemida ou Hidroclorotiazida. Albumina: Não tem muita função. Uso criterioso: 0,5g/kg sem diluição. Estatinas: Para pacientes maiores de 10 anos. Controle pressórico: BCC 1ª opção. Específico: - Glicocorticoide VO: 1ª opção de tto. Prednisona: restaura citoesqueleto dos podócitos. Dose de 60 mg/m2 ou 2 mg/kg em crianças; 1 mg/kg em adultos. Problema: fecha epífise e predispõe a diabetes. Usar por 4 a 8 semanas, com redução progressiva da dose até 12 semanas.Para adultos o tempo de tratamento é de até 16 semanas. - Inibidor de calcineurina: Ciclosporina, ciclosporina e micofenato. Usado apenas para pacientes corticorresistentes. Ciclofosfamida pode provocar infertilidade. Micofenolato (MMF): Para pacientes corticodependentes, recidivantes freqüentes e corticorresistentes não há bom resultado. - Rituximab (anticorpo antimonoclonal CD20): É uma ótima opção, porém é caro e só é liberado para corticodependentes com recidivas freqüentes. 375 mg/g². Única recidiva: repetir prednisona Dependência de esteróide ou recidivas freqüentes: Cidosporina, Micofenalato de mafetil, ciclofosfamida ou doses baixas de prednisona com desmame lento. Obs: - Corticosensível (CS): remissão do quadro nefrótico durante o TTO. Paciente que responde ao tratamento de corticóide em até 8 semanas de uso. - Corticorresistente (CR): sem resposta após pelo menos 4 semanas de tratamento. - Corticodependente (CD): proteinúria negativa na vigência da corticoterapia e recidiva durante as 2 semanas após redução da dose. É o paciente que teve resposta mas quando você reduz a dose há recidiva ou então quando você já terminou o tratamento e há recidiva em 14 dias. Glomeruloesclerose segmentar e focal: GESF Epidemiologia: É a principal causa de glomerulopatia em adultos. Responsável por 10-15% das síndromes nefróticas em crianças e por 15-20% nos adultos. El adultos costuma ocorrer antes dos 40 anos e nas crianças antes dos 5 anos. Predomina no sexo masculino e raça negra, na média de 30 anos. Em 30% dos casos ocorre hematúria mesmo sendo uma síndrome nefrótica. Causas: Pode ser primária ou secundária. Primária: Presença do fator suPAR (receptor solúvel da uroquinase) que ativa uma molécula chamada b3-integrina, que causa fusão dos processos podais. Esse fator está relacionado a forma familiar. Se tiver esse fator, não faz transplante de doador vivo. Secundárias: hiperplasia da célula epitelial, hiperfluxo glomerular, lesão endotelial do capilar glomerular, hiperfluxo glomerular, HIV, LES, vasculite. Fisiopatologia: É focal e segmentar porque acomete apenas alguns glomérulos (focal) e com lesões apenas localizadas (segmentar). Observa-se aumento da matriz mesangial em alguns glomérulos com colapso da alça capilar. Na microscopia eletrônica aparecem podócitos volumosos e degenerados, com retração de podócitos e vacúolos intracitoplasmáticos. Podócitos se desprendem e causam colapso das alças. Quadro clínico e diagnóstico: (pode ter tudo e de todo jeito). O diagnóstico é feito pela clínica + biópsia. É nefrótica + nefrítica. O paciente apresenta uma síndrome nefrótica mas pode ter outras características junto, como proteinúria não seletiva. Hipertensão leve (geralmente pacientes já mais velhos), azotemia, hematúria leve, proteinúria assintomática, perda precoce da capacidade de concentração urinária. Paciente típico: 30 anos, masculino, edemas em MMII, urina espumosa. Proteinúria com cerca de 2g ou 2,5g. Colesterol normal. Exames: - Sistema complemento normal. - Biópsia: Em todos os casos. Microscopia óptica: Glomeruloesclerose, hialinose, hipertrofia glomerular e sinéquias. Imunofluorescência: normal ou com depósitos de IgM e Ic3. Microscopia eletrônica: esclerose e fusão de podócitos. Tratamento: Tratamento de suporte: Controle da diurese, controle da dislipidemia e controle pressórico. Avaliar grau de proteinúria e função renal. - Proteinúria não nefrótica e função renal normal: não faz imunossupressão,só medida nefroprotetora com IECA/BRA. - GESF primária: Prednisona 1mg/kg/dia (máximo 80mg) por no mínimo 12 a 16 semanas. - GESF citotóxicas (ciclosporinas e FK): recidivas freqüentes ou corticodependentes. Transplante: É possível realizar transplante em GESF primária e secundária. - GESF primária possui maior risco de rejeição, em virtude da citocina circulante, que pode lesar o podócito do enxerto. Sendo assim, na GESF primária, só será feito o transplante de doador cadáver. Prognóstico: Remissão completa ou espontânea raramente ocorre. Proteinúria persistente indica pior prognóstico. - Melhor prognóstico: Pacientes sensíveis a imunossupressores (corticoide e ICN); Acometimento de glomérulos justamedulares; Lesões em ponta glomerular. Por IgA: Epidemiologia: É a glomerulopatia mais comum. Predomina no sexo masculino, 3:1.Atinge principalmente adultos jovens entre 20 e 30 anos. 20 a 30% evoluem para DRC. Causas: Deposição de imunocomplexos, podendo surgir 2 a 3 dias após infecção, após vacinas ou após exercício físico intenso. Pode ser: - Primária (doença de Berger) - Secundária: Púrpura de Hench-Schonlier (depósito de IgA no glomérulo e nãos vasos, portanto há presença de púrpura). Cirrose (reduz depuração de Ig). Hepatopatia crônica alcoólica. Enteropatias. Artrites. Fisiopatologia: O paciente apresenta depósitos de IgA na região mesangial. Há proliferação células mesangiais com expansão da matriz. Essas alterações podem ser focais ou difusas. Em casos mais graves pode aparecer esclerose glomerular focal e segmentar. - Anomalias estruturais da IgA: glicosilação defeituosa, com deficiência em galactase. - Anomalias de expressão e glicosilação de receptor das IgAs, causando retardo no clearence das IgA plasmáticas. Quadro clínico e diagnóstico. Caracteriza uma síndrome Nefrítica. O diagnóstico é clínico. Hematúria macroscópica. Costuma ocorrer 2-3 dias após alguma infecção como faringite, ITU e persiste por 10 dias. Proteinúria persistente em 90%. Raramente apresenta HAS e edema. O paciente também pode apresentar dor lombar. Exames: - Dismorfismo eritrocitário. - Complemento: normal. - Biópsia: Microscopia óptica: Expansão e proliferação mesangial, esclerose segmentar e FIAT (fibrose intersticial e atrofia tubular). Imunofluorescência: Deposição de IgA, IgG e Ic3 no mesângio. Púrpura de Rennolt (quando há IgA tubular). Microscopia eletrônica: Depósito eletrodenso nos mesângios com distribuição difusa. A membrana basal pode ter sua espessura alterada. Riscos de progressão: Masculino, Proteinúria >1g, HAS, TGF alterada, Alterações secundárias (púrpura de Henoch Schonlier), Biópsia com crescentes e FIAT. Tratamento: Tratamento de suporte: Controlar diurese, dislipidemia e HA. Tratamento específico: Corticoide + Imunossupressor. Corticoide: reduz proteinúria e estabiliza função renal. É indicado na síndrome nefrótica/proteinúria nefrótica e em alterações histlógicas mínimas (sem FIAT e sem crescentes acentuadas) com função renal preservada. Prednisona: 4 a 6 meses (reduz a dose após 6 meses). Dose inicial: 1mg/kg/dia. Ciclofosfamida: 1,5 mg/kg/dia por 3 meses. Azatiopina também está sendo muito usada. Esquema de Pozzi: Para fatores de risco de progressão. Intercala corticóide VO e IV até completar 6 meses. Pulsoterapia: fazer antes da pulsoterapia anti-histaminico e vacina. - Proteinúria <1g/dia, função renal normal e PA normal: IECA ou BRA. - Proteinúria >1g/dia, função renal normal e PA normal/elevado: Biópsia. Se tiver lesão histológica leve: IECA ou BRA e usar corticóide. Se tiver lesão histológica grave: corticóide obrigatório. - Proteinúria >3g/dia e função renal normal: corticóide. - Proteinúria > 3g/dia e função renal alterada: Biópsia. Se tiver lesão histológica aguda: corticóide + ciclosporina. Se tiver lesão histológica crônica: óleo de peixe. Transplante: Pode ser feita porque há pequena chance de recidiva. A IgA tem trofismo menor no rim novo e não consegue depositar. Glomerulonefrite membranosa GNM: Epidemiologia: Atinge mais o sexo masculino, na faixa etária entre 40-50 anos principalmente, mas pode aparecer em qualquer idade. Predomina na raça branca e possui uma instalação insidiosa. É a principal em idosos e pode estar associada a neoplasias. Causas: Idiopática ou Secundária por LES, hepatite B ou C, esquistossomose, tumores sólidos, linfomas. Presença de C1q significa Fisiopatologia: 3 mecanismos: - Os pacientes apresentam deposiçção e imunocomplexos IgG e Ic3 na MBG na região subepitelial, gerando espessamento dessa membrana. - Reação de anticorpos circulantes com componentes da membrana citoplasmática dos podócitos. - Reação de anticorpos circulantes com antígenos adsorvidos à MBG. PLA2R (receptor de fosfolipase A2) causa ativação do complemento e também gera uma resposta inflamatória oxidativa. Isso causa desestruturação dos podócitos e produção de fendas na MBG resultando em proteinúria. Quadro clínico e diagnóstico: O diagnóstico é feito pela clínica + biópsia. Caracteriza uma síndrome nefrótica, com proteinúria entre 5-10g/dia, podendo estar associada com hematúria microscópica leve. 20% apresenta proteinúria assintomática. A função renal costuma manter-se normal na maioria dos casos. Pacientes costumam apresentar como complicação eventos tromboembólicos como trombose de veia renal. Exames: - Biópsia: Em todos os casos Microscopia óptica: ausência de aumento da celularidade. Estágio 1 Aumento da espessura da membrana basal. Estágio 2 Espículas na prata, adentrando a quase totalidade da membrana. Estágio 3 Elo em corrente, adentrando em toda a membrana. Imunofluorescência: depósito de IgG e C3 granular em alça capilar. Microscopia eletrônica: depósitos subepiteliais. Prognóstico: Fatores de mau prognóstico: Síndrome nefrótica severa, HAS, >50 anos, sexo masculino, aumento da creatinina no início >1,6, comprometimento túbulo-intersticial, esclerose glomerular significativa. A taxa de sobrevida renal é superior a 75% em 10 anos. A taxa de remissão espontânea completa varia de 10 a 20%; já a parcial varia de 25 a 40%. Perda progressiva da função renal ocorre em 40-50% dos pacientes, com prazo médio de 15 anos Tratamento: Conservador: em casos de ausência de FR + proteinúria assintomática ou ausência de FR + síndrome nefrótica oligossintomática. Diurético, dieta hipossódica e ICA/BRA. Triagem de exames: FAN, complemento sérico, anti-DNA, HbsAg, anti-HCV, VDRL. RX tórax, US abdome, sangue oculto nas fezes; > 50 anos: mamografia e colonoscopia. Área endêmica: pesquisar esquistossomose e malária. Imunossupressor: para casos de síndrome nefrótica sintomática, FR, trombose de veia renal. Esquema de Ponticelli: Metilprednisolona no 1º, 3º e 5º mês + Ciclofosfamida no 2º, 4º e 6º mês. Transplante: Tem risco > 50% de recidivar, principalmente se houver risco aumentado de PLA2R GNMP: Membranoproliferativa Epidemiologia: Predomina em crianças de maior idade e adultos jovens, mas pode ocorrer em qualquer idade. Predomina no sexo feminino (52-58%). Em 40% dos casos pode ter IVAS anteriores. Está frequentemente associada com o vírus da hepatite C. Causas: Pode ser primária ou secundária. Classificação: - GNMP tipo I: É a mais comum. É mediada por imunocomplexos, com ativação da via clássica do complemento e consumo de C3 e C4. Com crioglobulinemia: hepatite B e C, LES, endocardite, doenças linfoproliferativas. Sem crioglobulinemia: hepatite B e C, endocardite, infecção de shunt, deficiência congênita de complemento (LES-like), cirrose hepática, tumores sólidos e doenças linfoproliferativas, SHU. - GNMP tipo 2: Ativação da via alternativa do complemento e consumo apenas de C3. Doença de depósito denso (DDD) no interior da membrana basal.Presença de fator nefrítico (autoanticorpo que se liga à C3- convertase da via alternativa e degrada C3 continuamente). - GNMP tipo 3: hipocomplementemia é infrequente, mas quando presente, o C4 é normal. Fator nefrítico ausente. Imunodepósitos subepiteliais se comunicando com imunodepósitos subendoteliais através de roturas na membrana. Fisiopatologia: Lesão glomerular clássica, com aumento de celularidade, expansão da matriz mesangial e duplicação da MBG. Na GNPI provavelmente é mediada pelo sistema imune, por deposição de imunocomplexos no rim. A GNPII mostra um hipocomplementemia, mostrando que há ativação da via alternativa do complemento, mas ocorre apenas consumo de C3. Quadro Clínico e diagnóstico: O diagnóstico é pela clínica + biópsia. A maioria dos casos caracteriza-se por síndrome nefrótica e a minoria como síndrome nefrítica. - Em média, 40% apresentam IVAS nos antecedentes. - Pode ter hematúria, HA e redução da filtração glomerular. Indicam mau prognóstico: insuficiência renal, HÁ, síndrome nefrótica, presença de crescentes e de lesão túbulo- intersticial. Exames laboratoriais: Proteinúria Hematúria microscópica. Anemia normocítica e normocrômica (Coombs -) Consumo do complemento, por mais de 8 semanas. No tipo I: via clássica. No tipo II: via alternativa/fator nefrítico C3. No tipo III: infreqüente. Biópsia: GNMP tipo I: Microscopia óptica: proliferação endocapilar (duplo contorno ou ‚trilho de trem‛) e crescentes. Imunofluorescência: IgG e C3 em alças e mesângio. Microscopia eletrônica: duplicação da membrana basal glomerular e depósitos subendoteliais. GNMP tipo II: Microscopia óptica: espessamento da membrana basal glomerular, expansão variável do mesângio, podendo haver crescentes. Imunofluorescência: C3 em parede capilar e mesângio, geralmente negativa para IgM. Microscopia eletrônica: espessamento irregular da membrana basal glomerular, depósito de material eletrodenso (glicoproteínas) na lâmina densa. GNMP tipo III: Microscopia óptica: celularidade mesangial, duplicação aumentada de alças capilares. Imunofluorescência: C3 e imunoglobulinas variadas. Microscopia eletrônica: depósitos subendoteliais e subepiteliais; espículas da membrana basal. Tratamento: Tratar causa base: Hepatite C, Hepatite B, LES, esquistossomose. Tratamento de suporte: Controle da diurese, da dislipidemia (dieta + estatina). Controle pressórico: com inibidor da ECA ou BRA. O aumento do volume é intravascular, logo não ocorre risco de proteinúria. Tratamento específico: - TFG normal e proteinúria não nefrótica: Controle da PA em crianças e adultos com IECA ou BRA. - TFG normal e proteinúria nefrótica: Crianças: prednisolona em dias alternados, por período prolongado. Adultos: imunossupressão é questionável, não costuma ser feita. - TFG diminuída e proteinúria nefrótica: Crianças: prednisona. Adultos: aspirina e dipiridamol; imunossupressão ainda em estudo. - GNRP (glomerulonefrite rapidamente progressiva ou glomerulonefrite crescêntica): Considerar pulsoterapia com metilprednisolona e agentes citotóxicos → avaliação individualizada. Transplante: A perda do enxerto devido à recidiva varia de 10-40% na GNMP tipo 1 e de 10-20% na GNMP tipo 2, ocorrendo principalmente nos pacientes com síndrome nefrótica. Prognóstico: - A remissão espontânea é rara. É uma das glomeuropatias que mais evoluem para LRA. - Prognóstico desfavorável (melhor que a GESF, mas pior que a GNM). - Fatores de pior prognóstico: Proteinúria. Creatinina elevada. HAS. Presença de crescentes. Fibrose intersticial. GNPE: Pós estreptocócica Epidemiologia: É a síndrome nefrítica mais prevalente nas crianças. Costuma surgir em crianças entre 3 e 15 anos, predominando no sexo masculino. Está relacionado com infecção prévia por Estreptococos. Manifesta-se 1-3 semanas após infecção de orofaringe e 2-4 semanas após infecção cutânea (piodermite/impetigo). Causas: Reação imune contra Estreptococo beta-hemolítico do grupo A nefrogênico. Fisiopatologia: Deposição de imunocomplexos na membrana basal glomerular, com ativação do sistema complemento. - Mecanismos: Deposição de imunocomplexos na MBG: anticorpos e antígenos estreptocócicos. Ocorre alteração do endotélio e ativação do complemento (via alternativa), Mecanismo autoimune: reação cruzada de anticorpos antiestreptococos produzidos pelo paciente com estruturas normais do glomérulo. Alterações moleculares em antígenos do glomérulo, tornando-os imunogênicos. Formação de imunocomplexos in situ, isto é, antígenos estreptococos são aprisionados pela membrana basal, onde ocorre ligação com anticorpos dos pacientes → essa é a teoria mais aceita. Quadro clínico e diagnóstico: O diagnóstico é clínico. Paciente com infecção prévia cutânea ou de orofaringe, com período de incubação compatível. Manifesta-se como uma síndrome nefrítica pura, apresentando proteinúria não nefrótica, hematúria, azotemia discreta, oligúria, HAS e edema por over flow, dor lombar por intumescência da cápsula renal. Exames: ASLO positivo Anti- DNAse B positivo. Consumo de sistema complemento (C3 e CH50) por 8 semanas. Hiperpotassemia. Aumento da creatinina. Deve fazer DD com nefropatia por IgA: Aumento transitório de proteinúria e hematúria no curso de uma infecção, sem que haja período de incubação compatível. Não consome complemento. Biópsia: Indicações: Proteinúria nefrótica. Sistema complemento normal ou com redução por < 8 semanas. Ausência de evidência de EBHGA. Azotemia acentuada. Microscopia óptica: hipercelularidade de células mesangiais e endoteliais, infiltrado de linfócitos, eosinófilos e monócitos. Imunofluorescência: depósito granular de IgG ou C3 (padrão em ‚céu estrelado‛). Microscopia eletrônica: depósitos eletrodensos volumosos de forma arredondada (‚humps ou corcova‛ na região subepitelial). Complicação: A complicação mais comum é o edema agudo de pulmão, justamente pela congestão provocada pelo edema por overflow encontrado na síndrome nefrítica. Tratamento: Tratamento de suporte: Dieta hipoproteica, hipercalórica e hipossódica. Controle da dislipidemia: Dieta + estatina. Controle pressórico: Diuréticos. Se a PA continuar alta, opta- se pelo BCC. Tratamento específico: - Erradicação da infecção: Penicilina benzatina via IM; se alergia, usar eritromicina. O antibiótico não previne e nem influencia no prognóstico da GNPE, mas é importante para eliminar as cepas nefrogênicas do EBHGA. - Quando há piora da função renal: má evolução, deterioração renal rapidamente progressiva e glomerulonefrite crescêntica (GNRP): Ciclofosfamida 0,5 g/m2 ou 20 mg/kg via EV. Verificar vacinas e prescrever anti-helmínticos antes de fazer metilprednisolona em pulsoterapia (1 g/kg) por 3 dias. Prednisona 0,5 mg/kg/dia após a pulsoterapia com metilprednisolona. Manter pulsos mensais com ciclofosfamida até a reversão do quadro. - Diálise. Prognóstico: É autolimitada. Pode se apresentar como GNRP (glomerulopatia rapidamente progressiva). Reversão de cada achado clínico: Oligúria: 7 dias. Hipocomplementenemia: até 8 semanas. Hematúria microscópica: até 1-2 semanas. Proteinúria não nefrótica: até 2-5 anos. - Secundárias: Nefrite lúpica: Epidemiologia: Ocorre mais em mulheres, principalmente negras ou hispânicas. A nefrite lúpica ocorre em 25-50% dos casos durante os primeiros anos. Fisiopatologia: Lupus eritematoso sistêmico → Perda da tolerância imune e produção de autoanticorpos. Diversas citocinas estão envolvidas com a patogênese do LES: TNF, IL-6, IL-17, IL-10 e BAFF. Na nefrite lúpica há: Presença de imunocomplexos no tecido renal e proteínas do sistema complemento → a forma como a qual esses imunocomplexos se distribuem induz o tipoe a gravidade do processo de lesão renal. Presença de anti-DNAds → considerado a marca fisiopatogênica da nefrite lúpica. Outros anticorpos envolvidos: anti-nucleossoma, anti-Ro, anti- Sm, anti-C1q e anti-alfa actina. - Mecanismos possíveis: Deposição de imunocomplexos pré-formados que se depositam nas estruturas glomerulares; Reação cruzada com componentes do tecido renal; Possibilidade da reação de autoanticorpos contra antígenos plantados na superfície glomerular. O resultado é a ativação e proliferação das células endoteliais e mesangiais, com um aumento da atividade inflamatória. - Associação genética: > 50 genes; deficiência genética do inibidor do C1q. Quadro clínico e diagóstico: Diagnóstico é pelo diagnóstico prévio de LES e lesão renal, proteinúria e/ou cilindrúria. Sintomas: Cutâneos: rash malar; rash discoide; fotossensibilidade; úlceras orais. Articular: artrite não erosiva. Serosite: pleura e/ou pericárdio. Renal: proteinúria > 0,5 g/dia ou cilindros celulares. Neurológico: convulsões ou psicose. Hematológico: anemia hemolítica, leucopenia, linfopenia e trombocitopenia. Imunológico: anti-DNA, anti-Sm e/ou anti- fosfolípide; FAN. Indicações de biópsia: Aumento da creatinina e proteinúria > 1 g são indicações gerais; - Critério full-house: deposição de 3 imunoglobulinas (IgA, IgM e IgG) e 2 complementos (C1q e C3). Biópsia: - Classe I – biopsia normal: sem alterações na microscopia óptica, microscopia eletrônica e imunofluorescência. - Classe 2 – alterações mesangiais puras: Microscopia óptica normal; presença de depósitos mesangiais (classe 2A) e hipercelularidade mesangial (classe 2B) na microscopia eletrônica e imunofluorescência. - Classe 3 – glomerulonefrite focal e segmentar: Proliferação endocapilar à custa de células mesangiais e endoteliais, além de neutrófilos e monócitos que podem infiltrar o glomérulo. Lesões ativas com necrose fibrinoide e picnose nuclear e ruptura da membrana basal glomerular com infiltração de neutrófilos. Crescentes epiteliais podem acompanhar as lesões mais ativas.Imunofluorescência com depósitos de Ig e frações do complemento no mesângio e nas alças capilares. - Classe 4 – glomerulonefrite proliferativa difusa: classe histológica mais frequentemente encontrada no LES. Lesões ativas com necrose fibrinoide, infiltração de neutrófilos, depósitos subendoteliais em ‚alça de arame‛, corpos hematoxilínicos e crescentes epiteliais. Imunofluorescência e microscopia eletrônica mostram extensos imunodepósitos ao longo do espaço subendotelial do capilar glomerular e no mesângio. Imunofluorescência com IgG, IgA, IgM e frações do complemento (C1q, C3 e C4). - Classe 5 – glomerulonefrite membranosa: Depósitos imunes predominantes no espaço subepitelial do glomérulo, em geral associados a hipercelularidade mesangial, com depósitos de Ig e complemento nessa região. É possível visualizar espiculas quando se usa a coloração de prata. - Classe 6 – glomerulonefrite esclerosante avançada: Presença de lesões cicatriciais e esclerosantes avançadas, que correspondem à uma insuficiência renal crônica. Tratamento: - Classes 1 e 2: Controle da sintomatologia extrar-renal. - Classes 3 e 4: Terapia de indução: glicocorticoide + ciclofosfamida (alteração de função renal) OU micofenolato (pacientes jovens) por 3 a 6 meses. Terapia de manutenção: glicocorticoide em baixas doses + azatioprina OU micofenolato por 3 anos. - Classes 5 e 6: Tratamento de suporte, sem necessidade de tto imunossupressor. Prednisona em doses de 0,5 a 1 mg/kg/dia por 8 semanas, com retirada progressiva de 20 mg a cada 2 meses. Nos pacientes com resposta irregular ao glicocorticoide e manutenção do estado nefrótico muito sintomático, podemos associar pulsos EV mensais de ciclofosfamida na dose de 1 g/m2 , por 3 a 6 meses. Biópsia Glicocorticoides
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