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EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL BREVE HISTÓRICO Elaine Oliveira (2008) Muitos teriam chegado à sabedoria se não acreditassem que já eram suficientemente sábios. Juan Luiz Vives (1492-1540) De acordo com Olive (apud SOARES, 2002), a Educação Superior no Brasil começou a ser pensada em 1808, quando a Família Real Portuguesa migrava de Lisboa para o Brasil fugindo das tropas napoleônicas que invadiram Portugal. Antes da transferência do Rei de Portugal e sua corte, os candidatos ao Ensino Superior tinham que descolar-se para Portugal ou para outros países da Europa. Segundo Masetto (2008), o Rei de Portugal tinha interesse em manter o Brasil como colônia, por isso, conservava a preocupação quanto a formação intelectual e política da elite brasileira, pois seu intuito era evitar quaisquer possibilidade de desenvolvimento que, inevitavelmente, levaria à independência. Entretanto, com a transferência efetivada e as comunicações com a Europa interrompidas, surge a necessidade de formar profissionais para atenderem a realidade instaurada. Assim, 16 anos depois foi lançada a primeira1 Constituição do país. Na década de 1820, por força da Primeira Constituição (Imperial), datada de 1824, começam a ser implantados os colégios e os primeiros cursos superiores em território brasileiro. O primeiro o curso foi o de Direito tendo uma instituição em Olinda (nordeste) e outra em São Paulo (sudeste). (OLIVE apud SOARES, 2002). A partir de então, a trajetória universitária começa a vivenciar uma série de crises que irão retardar a solidez de sua estrutura. A influência do ideário positivista, no grupo de oficiais que proclamou a República, foi um fator que contribuiu, sobremaneira, para o atraso na criação de universidades no Brasil, como instituição medieval e adaptada às necessidades do Velho Continente, a universidade era considerada, pelos líderes políticos da Primeira República (1989-1930), uma instituição ultrapassada e anacrônica para as necessidades do Novo Mundo. Em função 1 O Brasil teve até agora oito Constituições, a saber: a de 1824, a de 1891, a de 1934, a de 1937, a de 1946, a de 1967, a de 1969 e a de 1988 (CARNEIRO, 2002, p.18). 2 disso, eram francamente favoráveis à criação de cursos laicos de orientação técnica profissionalizantes. (OLIVE apud SOARES, 2002, p. 33). Segundo Carneiro (2002), a iniciativa de implantação de colégios e universidades e a fixação da gratuidade do ensino primário foram incorporadas em virtude da Primeira Constituição. Porém a Coroa mantia o domínio na gerência do processo de ensino. Somente com a instauração das Câmaras Municipais (quatro anos depois) lhes foi concedido à tarefa de inspecionar as escolas primárias. Neste momento o curso superior assumia um formato de conteúdo generalizante e humanístico, o que repercutiu no ensino secundário em razão da dualidade de sistemas (poderes provinciais e central). Era de se esperar, pois havia-se estabelecido um direcionamento do currículo pré-universitário. Como se vê, “os avanços aparente dos dispositivos constitucionais eram contidos por uma mística organizacional cimentada no princípio da ação hegemônica da Igreja e da Família sobre a educação” (CARNEIRO, 2002, p.19). A Segunda Constituição (Republicana, 1891), trouxe significativas mudanças para a educação, especialmente para a educação superior que passa a ter o Congresso Nacional como seu legislador como privilégio legal e exclusivo. O Congresso Nacional também poderia implantar escolas secundárias e superiores no Estado. Porém, cabia aos Estados legislarem sobre o ensino primário, secundário e superiores. O governo podia atuar nos dois últimos da mesma forma. Novas crises comprometem um rumo ascendente das universidades no Brasil, neste momento mais acentuado no âmbito político. As motivações estavam desalinhadas com o objetivo primordial dos cursos que era a disseminação do conhecimento. O universo político da época almejava tirar proveito para atender interesses particulares. E assim, outra vez, o desenvolvimento do Ensino Superior sofre novas conseqüências. A primeira universidade brasileira foi criada em 1920, data próxima das comemorações do Centenário da Independência (1922). Resultado do Decreto nº 14.343, a Universidade do Rio de Janeiro reunia, administrativamente, Faculdades profissionais pré-existentes sem, contudo, oferecer uma alternativa diversa do sistema: ela era mais voltada ao ensino do que à pesquisa, elitista, conservando a orientação profissional dos seus cursos e a autonomia das faculdades. Comentava-se, à época, que uma das razões da criação dessa Universidade, localizada na capital do país, devia-se à visita que o Rei da Bélgica empreenderia ao país, por ocasião dos festejos do Centenário da Independência, havendo interesse político de outorgar-lhe o título de Doutor Honoris Causa. O Brasil no entanto, carecia de uma 3 instituição apropriada, ou seja, uma universidade. (OLIVE apud SOARES, 2002, p. 33). Com a criação da Associação Brasileira de Educação (ABE) em 1924, o Ensino Superior ganha novo ânimo e alcança algumas conquistas. Na Era Vargas (1930 - 1945), é criado o Ministério da Educação e Saúde. E em 1931, tendo como 1º titular Francisco Campos, é aprovado o Estatuto das Universidades Brasileiras, que permaneceu em vigor até 1961. Nesta época há uma divergência dos educadores da ABE em relação às políticas do novo Ministério, tendo como principais pontos de discórdia: “ - ao papel do governo federal como normatizador do Ensino Superior; e - à atuação da Igreja Católica como formadora do caráter humanista da elite brasileira” (OLIVE apud SOARES, 2002, p. 34). A Terceira Constituição (1934) concede a União Federal o dever de fixar Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Ela também cria o Conselho Nacional de Educação. E ainda concede autonomia, aos Estados e ao Distrito Federal, para uma organização individual do sistema de ensino, bem como a instalação de Conselhos Estaduais de Educação. Por esta Carta é elaborado pela União o Plano Nacional de Educação, traçado sobre dois eixos fundamentais: “- a organização do ensino em diferentes níveis e áreas especializadas; e - a realização de ação supletiva junto aos Estados, seja subsidiando com estudos e avaliações técnicas, seja aportando recursos financeiros complementares” (CARNEIRO, 2002, p. 19). Outras conquistas importantes destacam-se nesta Constituição, como: a gratuidade no ensino primário, distribuição de verba (da União e dos Municípios) para manutenção e desenvolvimento do ensino, e, pela primeira vez, obrigatoriedade de auxiliar com bolsa de estudos os alunos carentes. Em 1935, é criada por Anízio Teixeira a Universidade do Distrito Federal (através de um Decreto Municipal), “voltada à renovação e ampliação da cultura e aos estudos desinteressados” (OLIVE apud SOARES, 2002, p. 34). Porém, esta universidade foi extinta em 1939 por ingerência direta do governo federal. Em 1946, tem-se a Quarta Constituição, pós-guerra, e ela vem afirmando a democracia instaurada. Ela proclama a Educação como direito de todos e anuncia princípios que consideram interligados, a saber: - Compulsoriedade do ensino primário para todos e sua gratuidade nas escolas públicas. 4 - Gratuidade do ensino oficial nos níveis ulteriores, para alunos carentes. - Obrigatoriedade de oferta de ensino primário gratuito por parte de empresas com mais de cem empregados e, ainda, exigência às empresas industriais e comerciais de assegurarem aprendizagem aos trabalhadores menores. - Ingresso no magistério através de concurso de provas e títulos. - Fornecimento de concurso por parte do Estado para que o direito universal de acesso à escola primária fosse assegurado, buscando-se, desta forma, a equidade social. - Responsabilidadeeducativa compartilhada pela família e pela escola, podendo haver oferta pública e privada em todos os níveis de ensino. - Oferta obrigatória de ensino religioso, embora fosse de matrícula facultativa para os alunos. (CARNEIRO, 2002, p. 20-21). É criada a primeira Universidade Católica do Brasil, denominada Pontifícia (outorgado pela Santa Sé um ano após sua criação). Tornou-se referência para a criação de outras universidades católicas no país. Em São Paulo, Fernando de Azevedo liderou o movimento para a criação da Universidade de São Paulo e para isso recebeu apoio do jornal, O Estado de São Paulo e, também, do governo estadual. Criada em 1934 prometendo alto padrão acadêmico-científico, diferenciava-se da Universidade do Distrito Federal que almejava ser modelo de único de Ensino Superior em todo o território nacional. Mais tarde, a USP tornou-se maior centro de pesquisa do Brasil. Na década de 40, a sociedade reclama por novos cursos em razão do advento da inserção da mulher no mercado de trabalho e com a expansão da rede de ensino de nível médio. Na Quinta Constituição (1946), o Ministério da Educação e Cultura passa a exercer, em termos de educação, as atribuições do Poder Público Federal (CARNEIRO, 2002). Em 1961, foi promulgada a Lei nº 4.024, a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Ela flexibiliza a estrutura do ensino dando aos alunos o acesso ao ensino superior independente do curso que tivesse feito anteriormente. O aluno também poderia migrar de um curso para o outro com o sistema de aproveitamento de estudos realizados em outros cursos. Nesta época, a educação viveu um momento de grande euforia. Vislumbrava-se novas perspectivas para a educação no Brasil. A inércia do sistema universitário, sob o controle de catedráticos vitalícios, não favoreceu a concretização de novas experiências de caráter mais formal e duradouro. No início dos anos 60, paradoxalmente a essa inércia formal, a universidade brasileira viveu um momento de grande vitalidade, quando a 5 ação da comunidade acadêmica extravasou aos muros da universidade. Nessa ocasião, foram criados os Centros Populares de Cultura e desenvolvidas campanhas de Alfabetização de Adultos, às quais envolviam jovens professores e alunos universitários, procurando contrapor, ao projeto elitista herdado do passado, um novo ensino superior, mais nacional e democrático. (OLIVE apud SOARES, 2002, p. 38). Neste mesmo ano é criada a Universidade de Brasília, “[...] cujos principais objetivos eram o desenvolvimento de uma cultura e de uma tecnologia nacionais ligadas ao projeto desenvolvimentista” (OLIVE apud SOARES, 2002, p. 38). Foi a primeira universidade brasileira criada com uma estrutura integrada (modelo norte-americano) e não a partir da aglutinação de faculdades pré-existentes. A Sexta Constituição (1967) abre espaço ao ensino particular por sua inspiração pautada na ideologia da segurança nacional. Nesta Carta retira-se “a obrigatoriedade de percentuais do orçamento destinados à manutenção e desenvolvimento do ensino” (CARNEIRO, 2002, p. 21). Em 1968, após nova discussão, o Congresso Nacional aprova a Lei de Reforma Universitária, Lei nº 5.540/68, “que criava os departamentos, o sistema de créditos, o vestibular classificatória, os cursos de curta duração, o ciclo básico dentre outras inovações” (OLIVE apud SOARES, 2002, p. 39). A partir da reforma o Ensino Superior ganha novo impulso e consequentemente abarca novas conquistas. A Sétima Constituição (1969) preserva todos os ângulos restritivos a Carta anterior. Mas, estabelece aos Municípios a obrigatoriedade de aplicar pelo menos 20% da receita tributária no ensino primário. Esta Carta teve um texto obscuro relacionado à ação docente. Foram editados diversos Atos Institucionais que, com freqüência, acionavam contra a liberdade docente. Agentes políticos do Estado faziam permanentes vigilâncias às escolas em razão do exposto. A segunda Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a Lei nº 5.692/71, conhecida como Lei da Reforma do Ensino de 1º e 2º graus, teve, igualmente a anterior, uma lenta gestação. De acordo com Gama (2007), esta Lei veio proporcionar aos estudantes sua formação necessária, abarcando três instâncias que compreende o desenvolvimento de suas potencialidades: auto-realização, qualificação profissional e, a educação para o exercício da cidadania de forma consciente. 6 Na realidade, a intenção desta Lei foi proporcionar uma espécie de atualização da Lei anterior através da elaboração de oito séries para o 1º Grau, três ou quatro séries para o 2º Grau e, ainda, a proposta de possibilidade de acesso ao mercado de trabalho no mesmo tempo em que ocorreria a continuidade dos estudos. Segundo Assunção (2007), a Lei 5.692/71 traz a obrigatoriedade do Ensino Médio acatar o formato de profissionalizante. Nesta década, o Ensino Superior sofre uma queda, pois muitos estudantes desviaram sua formação para cursos profissionalizantes em função desta disposição. Assunção acrescenta ainda que a baixa sofrida no Ensino Superior nesta época, não se deu apenas por influência desta Lei, o contexto daquele momento necessitava de grande mão- de-obra técnica e por isso prevaleceu a formação técnica. E, na realidade, foi um grande equívoco, pois a qualidade na formação foi altamente comprometida. Assim, surgiu a Lei 7.044/82 que deu fim na obrigatoriedade do Ensino Profissionalizante. Em 1988, com a promulgação da Constituição Federal, o Ensino Superior recebe novo olhar (tanto no setor privado quanto no público) e, em função dele, novas conquistas, como por exemplo: - repasse de um mínimo de 18% da receita anual, gerado pelos impostos da União, para a manutenção e o desenvolvimento do ensino; - gratuidade do ensino público nos estabelecimentos oficiais em todos os níveis; - regime jurídico único; - igualdade de pagamento para as mesmas funções e aposentadorias integrais para funcionários federais; e - reafirmou a indissociabilidade das atividades de ensino, pesquisa e extensão em nível universitário, e autonomia das universidades. (OLIVE apud SOARES, 2002). Em 1996, a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9.394/96, conhecida como a Lei Darcy Ribeiro, apresenta maior detalhamento e sistematização da Educação Nacional. (ver quadro comparativo anexo). Segundo Carneiro (2002), a LDB 9.394/96 teve uma gestação penosa (8 anos) e sua redação final sofreu algumas incompreensões. Esta Lei oferece aos estabelecimentos de ensino grande flexibilidade para atuarem de forma criativa em seus ordenamentos. Em seu capítulo 4 (quatro), 14 artigos (43 ao 57) são dirigidos ao Ensino Superior. 7 REFERÊNCIAS ASSUNÇÃO, Marcelo de Oliveira. Da Idade Média aos dias atuais. (Políticas Educacionais – Módulo V), Cursos de Pós-Graduação Latu Sensu. Rio de Janeiro: UCAM - Instituto a Vez do Mestre, 2007. CARNEIRO, Moaci Alves. LDB fácil: leitura crítico-compreensiva artigo a artigo. 8 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002. GAMA, Marcelo Saldanha da. Educação e transição social. (Políticas Educacionais – Módulo II), Cursos de Pós-Graduação Latu Sensu. Rio de Janeiro: UCAM - Instituto a Vez do Mestre, 2007. MASETTO, Marcos T. (Org.). Docência na universidade. 9 ed. Campinas, SP: Papirus, 2008. SOARES, Maria Susana Arrosa. et. al. A Educação Superior no Brasil. Brasília: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, 2002. 304 p. 8 ANEXO QUADRO COMPARATIVO DA ESTRUTURA BÁSICA DAS LEIS 5.692/71 E 9.394/96 (CARNEIRO, 2002). Lei 5.692/71 Capítulo I – Do Ensino de 1º e 2º Graus Capítulo II – Do Ensino de 1º Grau Capítulo III – Do Ensino de 2º Grau Capítulo IV – Do Ensino Supletivo Capítulo V – Dos Professores e EspecialistasCapítulo VI – Do Financiamento Capítulo VII – Das Disposições Gerais Capítulo VIII – Das Disposições Transitórias Lei 9.394/96 Título I – Da Educação Título II – Dos Princípios e Fins da Educação Nacional Título III – Do Direito à Educação e do Dever de Educar Título IV – Da organização da Educação Nacional Título V – Dos Níveis e das Modalidades de Educação e Ensino Capítulo I – Da composição dos Níveis Escolares Capítulo II – Da Educação Básica Seção I – Das Disposições Gerais Seção II – Da Educação Infantil Seção III – Do Ensino Fundamental Seção IV – Do Ensino Médio Seção V – Da Educação de Jovens e Adultos Capítulo III – Da Educação Profissional Capítulo IV – Da Educação Superior Capítulo V – Da Educação Especial Título VI – Dos Profissionais da Educação Título VII – Dos Recursos Financeiros Título VIII – Das Disposições Gerais Título IX – Das Disposições Transitórias
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