Prévia do material em texto
CLÍNICAS V - ORTOPEDIA Karolina Cabral Machado - P5 2021.2 fonte: Cap. 6,7 e 9 (Barros Filho e Lech) Anamnese do membro superior: Ombros: A dor é a mais frequente queixa relatada pelos pacientes com doenças do ombro. Deve-se investigar seu início, se insidioso, lento e de evolução arrastada.Quanto ao tipo, a dor pode ser “surda”, contínua ou não, com exacerbação noturna, como na lesão crônica do manguito rotador, ou aguda/latejante ou em “agulhada”. Quanto à sede, a dor pode ser localizada ou difusa, por alteração de estruturas locais do próprio ombro, irradiada de lesão distante na coluna cervical. Quando o paciente refere que a dor se irradia até a mão, devemos considerar envolvimento da coluna cervical. Dores de origem muscular na cintura escapular (trapézio, levantador da escápula, romboides, serrátil anterior) causam desconforto no ombro, já que a função desses músculos é manter a escápula em posição funcional durante seu arco de movimento, permitindo o ato de elevação e uso dos membros superiores. Na história clínica, deve-se procurar se há relação da dor com os movimentos, com o sono, com a posição do membro superior nas atividades diárias habituais e se há relação com os microtraumatismos de repetição. As instabilidades (subluxações e luxações anteriores, posteriores, inferiores e multidirecionais) constituem o segundo grande grupo de queixas relacionadas com o ombro. A anamnese deve relatar em que idade ocorreu o primeiro episódio. Investigar se no 1º episódio o mecanismo causador foi violento, como na instabilidade traumática em articulação anatomicamente intacta, se houve microtraumas, nos excessos de uso, comuns nos esportistas ou em movimento banal por instabilidade não traumática. É importante avaliar a frequência, os movimentos e outros fatores causadores das recidivas, além de sua interferência na vida do paciente. A idade é um dado que já inicialmente pode ser orientador, pois existem doenças que são peculiares aos diferentes grupos etários. Nos adolescentes e nos adultos jovens, são comuns as lesões traumáticas agudas como luxações e fraturas ou por atividades físicas exaustivas e repetitivas. Em idosos, são causas mais frequentes os processos degenerativos relacionados com o envelhecimento biológico e os tumores. Entre os antecedentes mórbidos, são importantes as doenças reumáticas,as doenças hereditárias, como a hemofilia e a anemia falciforme, as doenças infecciosas, as doenças metabólicas e as doenças neurológicas, como a epilepsia, com as luxações nas crises convulsivas. Cotovelos: A queixa principal é, em geral, dor que deve ser avaliada em relação, duração, intensidade, frequência e eventual ocorrência noturna. O tipo e a quantidade de analgésicos utilizados também são importantes. Alterações no compartimento lateral causam dor na face lateral do cotovelo que pode irradiar para o braço e o antebraço. Dor difusa ou periarticular é frequentemente causada por doença articular, tal como artrite reumatoide. A neuropatia do ulnar causa, em geral, dor lancinante acompanhada de parestesia na borda ulnar da mão e dedos. CLÍNICAS V - ORTOPEDIA Karolina Cabral Machado - P5 2021.2 Exame físico do membro superior: Ombros: ● Inspeção: Estática: O paciente deve ser examinado desnudo da cintura para cima. Devem-se observar: - Vestígios de lesão traumática; - Deformidades das colunas cervical e torácica com repercussão no formato, posição, simetria e mobilidade da escápula; - Alterações do relevo muscular, como atrofias musculares, principalmente do supra e infraespinhal, do deltoide ou redondo menor; - Escápula alada que aparece nas lesões primárias do músculo serrátil anterior; - Miopatias com comprometimento de toda a cintura escapular; - Posição anormal do membro superior livre em relação à escápula; - Deformidade do ventre muscular do bíceps (sinal de “Popeye”: sugestivo de ruptura da sua cabeça longa - mais medial); Dinâmica: Os movimentos podem ser avaliados a partir da posição anatômica, com os braços ao lado do tórax. Em todos os movimentos, o lado afetado deve ser comparado com o lado oposto. Abdução – feita no plano coronal. Adução – oposta à abdução, em direção à linha mediana do corpo (braço passando anterior ao tórax). Elevação. Flexão realizada anteriormente e posteriormente ao plano coronal, paralela ao plano sagital que divide o corpo em metades direita e esquerda. CLÍNICAS V - ORTOPEDIA Karolina Cabral Machado - P5 2021.2 Extensão – feita no plano sagital, posteriormente ao plano coronal. Rotação externa – com o cotovelo em 90º de flexão e vai de 0º até 75-90º. Rotação interna – avaliada pela capacidade de levar o dorso da mão às costas. Avaliar a capacidade de tocar os vários níveis da coluna lombar e região sacral. Rotação interna com o cotovelo em 90º de flexão – rodando o antebraço para baixo. Rotação externa com o cotovelo em 90º de flexão – rodando o antebraço para cima. As provas funcionais complementam o exame dinâmico do ombro verificando a capacidade do paciente de posicionar a mão em relação ao próprio corpo e são: - Mão/nádega oposta: apor a mão à nádega contralateral. - Mão/costas: apor o dorso da mão às costas, procurando tocar com a ponta do polegar o ângulo inferior da escápula oposta. - Mão/ombro oposto: apor a palma da mão à região deltóidea do lado oposto. - Mão/nuca: apor a palma da mão à nuca. A avaliação, que é comparativa com o lado oposto, é classificada em 3 graus: a) consegue realizar sem dor; b) consegue realizar com dor e/ou dificuldade; c) não consegue realizar. CLÍNICAS V - ORTOPEDIA Karolina Cabral Machado - P5 2021.2 ● Palpação: A palpação deve ser metódica e cuidadosa do relevo osteoarticular, dos ventres musculares e dos tendões e suas inserções e, muitas vezes, feita apenas com a ponta de um só dedo para que se possam identificar estruturas que estão muito próximas. Deve abordar: - Articulação esternoclavicular: verifica-se se há dor, edema e mobilidade anormal. - Clavícula e escápula: verifica-se se há deformidade palpável, dor, edema e crepitação, sinais de traumatismo recente. - Região supraespinhal, infraespinhal e deltóidea: a massa muscular que deve ter consistência elástica própria do tecido muscular, sem espessamentos endurecidos. - Articulação acromioclavicular: verifica-se se há dor, edema, crepitação e mobilidade anormal, esta última pelo “sinal da tecla”, quando a extremidade lateral da clavícula, luxada, após ter sido reduzida por compressão digital, retorna à posição anterior de luxação, como se fosse tecla de piano. *O exame é sempre feito de forma comparativa com o lado oposto! Se à palpação associarmos a movimentação passiva e ativa do ombro, podemos sentir crepitação local, indicativa de processo reacional crônico da bolsa serosa e/ ou dos tendões. A crepitação pode ser também sentida e mesmo ouvida quando, na mobilização ativa da escápula. Luxação acromioclavicular: - Sinal da tecla positivo. - Sinal do cabide positivo. CLÍNICAS V - ORTOPEDIA Karolina Cabral Machado - P5 2021.2 Luxação glenoumeral: - Sinal da tecla negativo. - Sinal dragona positivo. ● Teste de força muscular: Os objetivos da aplicação dos testes de força para os ombros são o diagnóstico de lesões do manguito rotador (supra e infraespinal, redondo menor e subescapular), alterações neurológicas, retorno aos esportes após lesão, avaliar risco de lesão e reabilitação pós-operatória. Para avaliação da força de rotação lateral ou medial, uma das maneiras é com o paciente em decúbito dorsal, ombro abduzido em 45º no plano escapular, cotovelo em 90º e rotação neutra, se faz apoio na articulação radioulnar, na face volar ou dorsal, dependendo qual irá avaliar. Para avaliar a elevação, o paciente fica sentado, com o ombro também a 45º de abdução no plano escapular, fazendo o apoio na face dorsal do punho. A avaliação da força das três partes do deltoide (anterior, lateral e posterior) é importante no exame do ombro e pode ser feita de modo prático, ainda que pouco preciso, da seguinte forma: a) com o braçoposicionado ao lado do corpo e com o cotovelo fletido em 90º pede-se ao paciente que faça a flexão do braço, empurrando a mão do examinador que lhe opõe resistência, para testar o deltoide anterior; b) “abrir o braço” – abduzir o CLÍNICAS V - ORTOPEDIA Karolina Cabral Machado - P5 2021.2 braço, empurrando com o cotovelo a mão do examinador que lhe opõe resistência, para testar o deltoide lateral; c) “cotovelada” – estender o braço, forçando da mesma forma, para trás, com o cotovelo, para testar o deltoide posterior. CLÍNICAS V - ORTOPEDIA Karolina Cabral Machado - P5 2021.2 ● Testes especiais: Teste de Jobe (supraespinhal): Com os membros em abdução e rotação medial o paciente faz força superiormente contrária a força do examinador. A resposta poderá ser apenas dor na face anterolateral do ombro acompanhada ou não de diminuição da força ou mesmo da incapacidade de elevar ativamente (pseudoparalisia) o MS, que indica desde tendinites, até rupturas parciais ou completas do tendão. Teste de Patte (infraespinal): Teste subescapular 1 (lift off test ou Gerber): O paciente coloca o dorso da mão ao nível de L5, como na prova funcional “mão/costas”, e procura ativamente afastá-la das costas; a incapacidade de fazê-lo ou de manter o afastamento, se feito passivamente pelo examinador, indica grave lesão do subescapular. Pode indicar doença associada do cabo longo do bíceps, pois a ruptura do subescapular geralmente se associa com a luxação anterior do cabo longo do bíceps. Teste de Speed: É um teste para avaliação do cabo longo do bíceps. Deve-se realizar a flexão ativa do MS, em extensão e em rotação externa, contra a resistência oposta pelo examinador; o paciente acusa dor ao nível do sulco intertubercular com ou sem impotência funcional associada. CLÍNICAS V - ORTOPEDIA Karolina Cabral Machado - P5 2021.2 Cotovelos: ● Inspeção: Na área lateral o aumento de volume da articulação e atrofia muscular sugerem artrite séptica ou reumatoide. Na área anterior a determinação do ângulo de carregamento é realizada com o antebraço em supinação e o cotovelo em extensão. O ângulo formado entre o úmero e o antebraço é então determinado. O valor varia com a raça, o sexo e a idade (em média no homem de 10º e na mulher de 13º). A causa mais comum de alteração do ângulo de carregamento é a sequela de traumatismo ou a alteração da placa de crescimento. Na região posterior, a proeminência da ponta do olécrano sugere luxação do cotovelo, perda de massa óssea na articulação umeroulnar ou, ainda, artropatia de Charcot. Podemos também visualizar uma bursa olecraneana proeminente quando essa estiver inflamada e distendida. Na região medial, o nervo ulnar somente pode ser visto quando estiver muito espesso (hanseníase) ou quando se desloca para a frente (subluxação) durante a flexoextensão. ● Palpação: Na face lateral do cotovelo, palpam-se o epicôndilo lateral, a origem da musculatura extensora do punho, o complexo ligamentar lateral e a cabeça do rádio. Dor localizada no epicôndilo lateral e na origem da musculatura extensora do punho pode se relacionar com epicondilite lateral. Dor à palpação da cabeça do rádio pode significar sinovite ou osteoartrite. Na fossa cubital, limitada pelos músculos braquial e pronador redondo, existem quatro estruturas, que de lateral para medial são: nervo cutâneo lateral do antebraço (não palpável), tendão do bíceps, artéria braquial e nervo mediano. O tendão do bíceps é facilmente palpável a partir da flexão do cotovelo contra a resistência, com o antebraço em supinação. O pulso braquial é palpável medialmente ao tendão do bíceps. O nervo mediano localiza-se medialmente à artéria braquial. CLÍNICAS V - ORTOPEDIA Karolina Cabral Machado - P5 2021.2 Posteriormente, a bursa olecraneana encontra-se sobre a aponeurose do músculo tríceps e estará espessa e dolorosa à palpação quando houver processo inflamatório local. O nervo ulnar situa-se em um sulco formado entre o epicôndilo medial e o processo olecraneano. O nervo é suave, flexível e cilíndrico à palpação. Alteração da sensibilidade nos dedos mínimo e anular, seguida da hipotrofia dos músculos intrínsecos da mão sugere alteração do nervo ulnar, se espessado faz pensar na possibilidade de hanseníase. O grupo muscular medial, que se origina no epicôndilo medial, é constituído por 4 músculos. Devem ser palpados para a verificação de sua continuidade e presença de dor. O cotovelo apresenta quatro tipos de movimentos, que são: flexão, extensão, pronação e supinação. A flexão é medida colocando-se um goniômetro no plano sagital com seu centro sobre a articulação do cotovelo. Partindo-se da posição de máxima extensão, o paciente é instruído a realizar a flexão máxima (amplitude normal flexão ~ 140º). O paciente deverá ser orientado a realizar o máximo de extensão possível, partindo da flexão máxima possível. (amplitude normal extensão ~ 0º) Para pronação e supinação o cotovelo deverá ser colocado em 90º de flexão, junto ao tórax, com o antebraço em rotação neutra e o polegar apontado para cima. Na pronação deve realizar a rotação medial do polegar e o braço do goniômetro deverá acompanhar seu movimento (amplitude pronação ~ 75º). Na supinação realizar a rotação lateral do polegar e o braço do goniômetro deverá acompanhar seu movimento (amplitude supinação ~80º). A pronação é o principal movimento necessário para se alimentar, escrever e utilizar computador. Já a limitação da supinação poderá comprometer a realização da higiene pessoal e a abertura de portas. ● Exame de força e neurológico: CLÍNICAS V - ORTOPEDIA Karolina Cabral Machado - P5 2021.2 CLÍNICAS V - ORTOPEDIA Karolina Cabral Machado - P5 2021.2 ● Testes especiais: Teste de Cozen (epicondilite lateral): Com o cotovelo em 90º de flexão e o antebraço em pronação, pede-se ao paciente que faça extensão ativa do punho contra a resistência que será imposta pelo examinador. O teste será positivo quando o paciente referir dor no epicôndilo lateral. Teste de Mill (epicondilite lateral): O examinador então forçará o punho em flexão e o paciente é orientado para resistir ao movimento. Teste para epicondilite medial: O cotovelo é fletido, o antebraço mantido em supinação e o punho em extensão. Em seguida, o cotovelo será estendido vagarosamente e se o paciente apresentar dor no epicôndilo medial será sugestivo de epicondilite medial ou, ainda, ocorrer dor ao realizar a flexão do punho contra a resistência. CLÍNICAS V - ORTOPEDIA Karolina Cabral Machado - P5 2021.2 Mãos: ● Inspeção estática: A mão em repouso apresenta uma posição característica das articulações metacarpofalângicas e interfalângicas, com flexão progressivamente maior do indicador para o dedo mínimo. Um dedo que se mantém em extensão, na posição de repouso, pode-se pensar em lesão dos tendões flexores. À inspeção estática, já podemos notar pregas cutâneas anormais nas comissuras dos dedos. Essas pregas, denominadas sindactilias (limitam a movimentação). Na região do dorso da mão em repouso, observamos as saliências formadas pelas cabeças dos metacarpos, sendo a do terceiro dedo a mais saliente. ● Palpação: Durante a palpação da pele, devem-se observar alterações na temperatura da mão, pois seu aumento pode indicar processo infeccioso. A pele seca por anidrose será indício de lesão nervosa. A maioria dos tendões é palpável na região do punho e da mão. Na região dorsal do punho, temos seis compartimentos separados pelos quais passam os tendões. Na síndrome do túnel do carpo, a compressão do nervo mediano pode causar hipoestesia na região desse nervo, além de paresia com hipotrofia na eminência tenar. A síndrome do túnel do carpo pode ser consequência de sequela de traumatismos, que alteram a anatomia da região ou às doenças sistêmicas, que causam edema. Podemos palpar o processo estiloide do rádio na face mais lateral e distal desse osso. Na face dorsomedial e distal da ulna podemos palpar o processo estiloide. O carpo é classicamente composto por duas fileiras. Na fileira proximal, deradial para ulnar, temos o escafoide, semilunar, piramidal e pisiforme. A fileira distal é composta, também de radial para ulnar, dos ossos trapézio, trapezoide, capitato e hamato. Na movimentação passiva: CLÍNICAS V - ORTOPEDIA Karolina Cabral Machado - P5 2021.2 ● Exame neurológico: São pesquisadas as sequelas de lesões do SNC e a integridade de nervos periféricos por meio do estudo da força muscular no exame da movimentação ativa e da sensibilidade e dos reflexos. ● Exame de sensibilidade: A mão é suprida por 3 nervos: → Nervo radial: inerva pequena área correspondente à tabaqueira anatômica e à região dorsal da extremidade proximal do polegar. → Nervo mediano: inerva o restante do dorso do polegar, dedos indicador e médio, e a região volar e a metade radial do dedo anular. → Nervo ulnar: inerva a metade ulnar da superfície volar do dedo anular, todo o dedo mínimo, e a superfície dorsal do anular e o dedo mínimo. CLÍNICAS V - ORTOPEDIA Karolina Cabral Machado - P5 2021.2 ● Testes especiais: Teste de Tinel: A percussão na região volar do punho na topografia do nervo mediano com neuropatia compressiva (síndrome do túnel do carpo) causa hiperestesia (choque) na região inervada por esse nervo. Teste de Phalen: Flexão completa dos punhos durante 1 minuto. Flexão dos punhos causa diminuição do túnel do carpo e compressão do nervo mediano. Teste de Allen: O objetivo desse teste é avaliar a permeabilidade das artérias radial e ulnar. Deve-se pedir para o paciente abrir e fechar a mão várias vezes, com vigor e rapidez, enquanto o examinador comprime as artérias radial e ulnar na região do punho. Com os vasos comprimidos, pede-se para o paciente abrir a mão e, então, libera-se uma das artérias mantendo a outra pressionada. A seguir, procede-se o exame para a outra artéria. Teste de Finkelstein: Utilizado para as tenossinovites estenosantes do 1º compartimento dorsal (abdutor longo e extensor curto do polegar). Realiza-se desvio ulnar do punho passivo e forçado e, se o teste for positivo, o paciente refere dor intensa no primeiro compartimento dorsal.
Compartilhar