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MANDADO DE SEGURANÇA Neste tópico será estudado tanto o mandado de segurança individual quanto o coletivo, já que ambas as ações estão disciplinadas na mesma lei, qual seja, a Lei n. 12.016/09. HISTÓRICO O mandado de segurança individual surgiu pela primeira vez na Constituição de 1934, foi retirado do texto constitucional de 1937 e restabelecido com a Constituição de 1946. Persistiu na Constituição de 1967, bem como na EC n. 1/69, até chegar à atual previsão na Constituição Federal de 1988. Para facilitar a fixação deste histórico, diz--se que o mandado de segurança nasceu em 1934, morreu em 1937, ressuscitou em 1946 e está vivo até hoje. LEGISLAÇÃO PERTINENTE A previsão constitucional do mandado de segurança pode ser identificada no art. 5, incisos LXIX e LXX da Magna Carta. Além disso, no âmbito infraconstitucional, a Lei n. 1.533/51 foi substituída com a promulgação da Lei n. 12.016/09. CABIMENTO Olhando para o dispositivo que consagra a ação no âmbito constitucional, tem-se que será cabível o mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for uma autoridade pública, ou um agente de pessoa jurídica de direito privado no exercício de atribuições do poder público. Para uma melhor compreensão desse cabimento, necessário se faz analisá-lo em partes. Em verdade, «direito líquido e certo» é uma expressão que não é precisamente técnica. Isso porque, se o direito tivesse, de fato, que ser líquido e certo, isso significa que ele precisaria ser incontroverso. Nesse sentido, eventual controvérsia sobre direito teria a possibilidade de impedir o manejo do mandado de segurança. Observação: Ocorre que, segundo o enunciado da Súmula 625 do STF, controvérsia sobre direito não impede a concessão de mandado de segurança. Logo, fazendo um raciocínio inverso, já que o direito pode ser controverso, em tese ele pode ser ilíquido e incerto. Como solucionar, então, esse conflito? Separando a técnica da expressão literal. Principalmente porque são inúmeras as questões de concursos públicos que ainda ficam adstritas à literalidade da norma. Nesse sentido, caso apareça um questionamento objetivo indagando se «direito líquido e certo» é um dos requisitos constitucionais para a impetração de mandado de segurança, certamente essa afirmativa estará correta, embora se saiba que não atende a melhor técnica. Ao revés, se numa eventual dissertativa aparecer uma pergunta questionando o significado da expressão «direito líquido e certo», neste caso, com tranquilidade, você poderá registrar que nada mais é do que o fato que pode ser comprovado de plano, mediante prova documental inequívoca e pré- constituída. Ou seja, é aquele fato que, logo quando do ajuizamento da ação, pode ser atestado com base nas provas documentais que já vão apensadas à petição inicial. Lembrando que se a prova documental estiver de posse da autoridade coatora ou de terceiro, este fato não impedirá o recebimento da ação, consoante se extrai da leitura do art. 6, § 1, da Lei n. 12.016/09. Como exemplo de entes despersonalizados é possível citar os órgãos públicos e as universalidades reconhecidas pelo direito. Quanto aos entes despersonalizados, é preciso pontuar que não é pelo fato de não possuírem personalidade jurídica que eles não podem ser partes de um processo. Fosse assim, um nascituro, que não tem personalidade jurídica, não poderia pleitear alimentos como autor da ação. Atenção: Entes despersonalizados, embora não tenham personalidade jurídica, podem ir a juízo. Normalmente vão como sujeito ativo, e na defesa de suas prerrogativas, atribuições ou competências. Para compreender essa situação, é preciso revisitar a teoria do Direito e estabelecer a distinção entre a capacidade de direito ou gozo, e a capacidade de fato ou exercício. A primeira é aquilo que os processualistas simplesmente chamam de «capacidade de ser parte». É a aptidão para ser parte de um processo. A segunda é aquilo que os processualistas chamam de «capacidade processual». Para o Direito Civil, seria a aptidão para, sozinho, se praticar os atos da vida civil. Já para o Direito Processual, essa capacidade pode ser entendida como a aptidão para, também sozinho, poder praticar os atos processuais, ou seja, atuar no processo sem a necessidade de representante ou assistente. Diante dessas colocações, o raciocínio é: para um sujeito poder praticar atos sozinho, ou seja, para ter capacidade de fato ou exercício, ele precisa ter capacidade civil, vale dizer, precisa ser plenamente capaz. Do outro lado, para o indivíduo poder ser parte de um processo, ou seja, para ter capacidade de direito ou gozo, ele precisa ter personalidade judiciária. Destarte, a conclusão a que se chega é: a capacidade processual está para a plena capacidade civil, do mesmo modo que a capacidade de ser parte de um processo está para a personalidade judiciária. Assim, órgãos públicos, por exemplo, podem impetrar mandado de segurança porque, muito embora não possuam personalidade jurídica, ostentam a chamada personalidade judiciária organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento a pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados. Atenção: É importante advertir que este requisito de constituição ânua só se aplica às associações, não tocando os demais legitimados. Essa informação é muito cobrada em provas e concursos e, sem dúvida, pode voltar a aparecer. Além disso, caso a questão traga que partido político tem legitimidade para a impetração do mandado coletivo, sem fazer referência à representação no Congresso Nacional, ela estará equivocada. Essa é outra «pegadinha» que volta e meia aparece. O correto, portanto, é partido político com representação no Congresso Nacional. Ter representação no Congresso Nacional não significa, necessariamente, ter membros na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. O entendimento assente é que basta pelo menos um membro em qualquer das casas legislativas para já se ter como atendido este requisito. Por último, conforme sinalizado no capítulo que tratou dos direitos individuais e coletivos, ao contrário da previsão do art. 5, XXI da CF, a impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de classe em favor dos seus associados independe de autorização destes. Observação: Esse entendimento está cristalizado na Súmula 629 do STF e traduz a ideia de que o mandado de segurança coletivo não é caso de representação processual, mas sim de substituição processual, ou seja, o legitimado ativo age em nome próprio na defesa de direito ou interesse alheio. PASSIVA Assim como na ação de habeas corpus, compondo o polo passivo do mandado de segurança, é possível encontrar tanto pessoas públicas quanto privadas. Isso porque, o próprio inciso LXIX do art. 5 consagra o cabimento do mandamus quando o responsável pela ilegalidade ou pelo abuso de poder é uma autoridade pública, ou agente de pessoa jurídica de direito privado no exercício de atribuições do Poder Público Com o art. 1, § 1 da Lei n. 12.016/09, equiparam- se às autoridades, para os efeitos da Lei, os representantes ou órgãos de partidos políticos e os administradores de entidades autárquicas, bem como os dirigentes de pessoas jurídicas ou as pessoas naturais no exercício de atribuições do Poder Público, somente no que disser respeito a essas atribuições. Ainda em legitimidade passiva, não devemos confundir a figura da autoridade coatora com a do réu da ação. Ilustrando, se o ato ilegal ou abusivo de poder foi praticado, por exemplo, pelo Secretário Estadual de Educação, este é consideradoa autoridade coatora. Todavia, compondo o polo passivo dessa relação jurídica processual, o réu, por sua vez, será o Estado- membro da Federação. Atenção: Vale registrar que agora, conforme previsão do art. 6, caput da nova lei, é obrigatória a inclusão, na petição inicial, da pessoa jurídica à qual se acha vinculada a autoridade coatora. Segundo a jurisprudência mansa e pacífica do Superior Tribunal de Justiça, não se trata de litisconsórcio, afinal, a autoridade responsável pelo ato impugnado não é um ente distinto da pessoa jurídica; ao contrário, é um órgão, uma parte integrante dela. Atenção: Ainda com a nova lei, ao contrário da anterior, o art. 14, § 2, estende também à autoridade coatora o direito de recorrer de uma eventual sentença que seja contrária à posição adotada no ato questionado em juízo. Observação: Ventilando, mais uma vez, a jurisprudência do STJ, se a indicação errônea da autoridade coatora implicar alteração da parte ré, o juiz deverá conferir à parte oportunidade de emendar a inicial, extinguindo o feito sem o exame de mérito se o impetrante não o fizer. Todavia, no caso dessa indicação errônea não implicar alteração do polo passivo da impetração, cabe ao magistrado, ex officio , a correção da irregularidade, em nome do princípio da celeridade e economia dos atos processuais. Novamente com a jurisprudência do STJ, pela teoria da encampação, uma vez indicada como coatora autoridade hierarquicamente superior àquela efetivamente responsável pela prática do ato atacado, desnecessária a correção se o agente trazido ao processo assume a defesa do ato praticado por seu subordinado. Ainda a respeito da legitimidade passiva, o art. 1, § 2 da Lei n. 12.016/09 determina que não cabe mandado de segurança contra os atos de gestão comercial praticados pelos administradores de empresas públicas, de sociedade de economia mista e de concessionárias de serviço público. É que essas empresas estatais, pelo texto da Constituição Federal, embora sejam pessoas jurídicas de direito privado possuidoras de um regime jurídico híbrido, podem tanto atuar na prestação de serviços públicos, quanto na exploração de atividades econômicas. CABIMENTO DE TUTELA PREVENTIVA Com base no art. 7, III, da Lei n. 12.016 , é cabível a medida liminar desde que preenchidos os requisitos do fumus boni iuris e do periculum in mora. Necessário pontuar aqui mais uma diferença envolvendo o mandado de segurança individual e o coletivo. Embora ambas as ações admitam a concessão de medida liminar, apenas o mandado de segurança individual enseja a concessão dessa medida sem a oitiva da outra parte. Essa possibilidade, portanto, não existe para o mandado de segurança coletivo. PREVENTIVO Será preventivo o mandado de segurança quando o for intentado em face de uma ameaça de ilegalidade ou abuso de poder que coloque em risco direito líquido e certo do impetrante. REPRESSIVO Por outro lado, será repressivo o mandado de segurança quando se estiver diante de uma ilegalidade ou abuso de poder já praticado, que tenha violado direito líquido e certo do indivíduo. Nesse caso, confirmando previsão da lei anterior, a Lei n. 12.016/09 prevê, em seu art. 23, que o direito de requerer mandado de segurança será extinto quando decorridos cento e vinte dias contados da ciência do ato impugnado pelo interessado. Registre- se que esse prazo tem natureza decadencial. Referência Bibliográfica: BATISTA, Tatiana dos Santos e NÁPOLI, Edem Direito Constitucional; 2ª edição; Brasilia; CP Iuris; 2021.
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