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CÁRIE Camyla Oliveira – Odontologia 2020.2 UFPE A cárie dentária é considerada a doença mais prevalente no mundo, afetando 80% a 90% da população mundial. É definida como uma doença infecciosa multifatorial e transmissível. Apresenta várias implicações para o indivíduo, não só em termos de dor e dificuldade em mastigar, mas também a nível psicossocial. A lesão da carie propriamente dita, ou cavidade, é o resultado de um processo de desequilíbrio entre os fatores de proteção do dente, que resulta na perda do mineral. Essa perda ocorre quando o pH na placa dental atinge um ponto crítico, em torno de 5,5, sendo a produção do ácido decorrente da fermentação bacteriana dos açucares ingeridos da dieta. A doença cárie é muito mais complexa e tem um caráter comportamental, podendo ser influenciada por fatores modificadores como, por exemplo, escolaridade e classe social. Hipótese da placa ecológica (1994) Segundo a teoria da placa ecológica, uma alteração em um fator ambiental chave (por exemplo consumo de açúcar) produz um desequilíbrio na comunidade microbiana da placa que favoreça a sucessão e dominância de microorganismos com potencial cariogênico, no caso da doença cárie. Em indivíduos com uma dieta de baixo teor de açúcar e consequentemente baixa produção de ácido, a microbiota permaneceria estável, mantendo em equilíbrio o processo de desmineralização-remineralização. A modificação inclui as manifestações clínicas das lesões de cárie, bem como o processo detalhado pelo qual o biofilme se adapta ao ácido e seleciona as espécies acidúricas. Hipótese do patógeno chave (2012) A hipótese patógeno chave (Keystone pathogen) propõe que certos microrganismos presentes em pequenas quantidades podem causar a doença inflamatória interferindo com o SI do hospedeiro e remodelando a microbiota. Fatores etiológicos da cárie dental 1. Fatores primários (determinantes): 1.1 fatores do hospedeiro - morfologia dentária, composição química dos tecidos dos dentes, saliva, hormônios; 1.2 dieta - carboidratos (CHO), tempo de permanência na cavidade oral, frequência de ingestão; 1.3 microbiota; 1.4 tempo; 2. Fatores secundários (modificadores) - embora não essenciais podem favorecer a progressão e severidade da cárie: 2.1 higiene oral; 2.2 flúor; 2.3 fator socio-econômico; 2.4 estado geral de saúde; 2.5 predisposição genética; Fatores protetores dos alimentos - Cálcio, fosfato, proteínas: queijo e derivados do leite – favorecem a remineralização. - O queijo é tido como um alimento anticariogênico, pois estimula a secreção salivar. - Alimentos gordurosos podem formar uma barreira de proteção do esmalte, funcionando assim, como uma medida de proteção contra a cárie dentária. - Polifenóis – tanino (cacau, café, chocolate) - Interferem com a atividade da glicosil transferase no S. mutans reduzindo a formação da placa. Fatores de virulência dos microrganismos cariogênicos Os fatores de virulência podem ser definidos como as características que tornam um microrganismo patogênico. Somente conhecendo estes mecanismos é que poderemos definir estratégias para controle efetivo da cárie dental. Acidogenicidade - Capacidade da bactéria produzir ácidos orgânicos a partir de carboidratos fermentáveis. Aciduricidade- A aciduricidade é definida como a capacidade de tolerar e proliferar em meios com pHs ácidos. A acidificação do biofilme, decorrente da fermentação de diversos carboidratos, inibe o crescimento de diversos microrganismos comensais competidores da placa dental, como por exemplo S. sanguinis, o que favorece o crescimento de S. mutans devido à sua aciduricidade. Função da agmatina deiminase Agmatina, que está presente no biofilme oral, é inibitória para o crescimento do S. mutans, e a AgDS elimina este composto do ambiente. BCAA – aminoácidos de cadeia ramificada O metabolismo de aminoácidos é parte da resposta adaptativa do S. mutans. Piruvato é um intermediário metabólico chave, que quando desviado para outras vias metabólicas como a biossíntese de aminoácidos, resulta na diminuição do estresse ácido por diminuir a quantidade de ácido ajudando a manter o pH intracelular. Síntese de Polissacarídeos extracelulares (PECs) Os glucanos insolúveis (ligações do tipo α-(1-3)) e são considerados os mais importantes na formação da placa. Já os glucanos solúveis parecem funcionar como um reservatório extracelular de açúcares, sendo hidrolisado por dextranases. O principal papel dos frutanos na virulência de S. mutans seja o fato de atuarem como reservatórios extracelulares de substratos, durante os períodos de escassez de nutrientes. Sendo hidrolisado por frutanases. Síntese de Polissacarídeos intracelulares (PIC) - Produzido pela maioria das bactérias da placa. - Havendo excesso de nutrientes: até 20% da sacarose é convertida em PIC. - Armazenamento como glicogênio-amilopectina. - Produção de energia e ácidos (sub-produto) quando os CHO dietários forem escassos. - Contribui para a acidogenicidade (produção prolongada de ácidos por exemplo após asrefeições a partir dos PICs armazenados). - Contribui para a aciduricidade. Dinâmica do desenvolvimento da cárie Estrutura do esmalte Principal mineral componente - cristais de fosfato de cálcio/ Hidroxiapatita (HA) Ca10(PO4)6(OH)2. Conceito atual - mineral nos dentes é HA carbonada. O carbonato (CO3)2- substitui (PO4)3- ou 2(OH)-. Os íons carbonato alteram o padrão regular de íons na estrutura do cristal tornando a HA carbonada mais solúvel em ácido do que a HA pura. Existem ainda outros elementos traço (impurezas): F, Na, Cl, Mg, K, Zn, Si, Sr. O processo carioso apresenta uma dinâmica de desmineralização e remineralização do tecido dental. Este equilíbrio depende do pH encontrado na superfície do dente, que em condições habituais fica em torno de 6,4 a 7,2. As reações de desmineralização e remineralização da hidroxiapatita (HA) são reversíveis e dependem das concentrações de íons na solução em torno do cristal. O equilíbrio de dissociação da hidroxiapatita é muito sensível ao pH do meio. pH crítico Condição normal: não ocorre dissolução do dente na saliva ou fluido da placa. pH crítico na formação de cárie de esmalte ~ 4.5 (FA)-5.5 (HA). A queda de pH da placa (ocorrendo a desmineralização) é obtida ao final de cada refeição e tem uma duração aproximadamente de 45 a 60 minutos. Enquanto permanecer o pH inferior a 5,5 o dente perderá cálcio e fosfato para o meio bucal. Dinamicamente, depois de decorrido um certo tempo, o pH retornará ao normal. São restabelecidas as condições físico-químicas supersaturantes, assim a tendência é o esmalte ganhar Ca e P do meio bucal tentando repor o perdido pelo processo de desmineralização. Este fenômeno se efetivo levará ao que chamamos de remineralização do esmalte. Assim, a cárie será conseqiência do desequilíbrio entre os fatores de DESMINERALIZAÇÃO e REMINERALIZAÇÃO, sendo função direta das condições que mantenham um pH crítico (< 5,5) na cavidade bucal. O que realmente implica na formação da cárie é a frequência com que o consumo de sacarose acontece. Erosão “corrosão ácida” Perda do esmalte por ação de ácidos de origem não bacteriana. Ingestão frequente e prolongada de frutas ácidas, sucos de frutas e bebidas ácidas. - Ácidos endógenos: ácido gástrico, fluido gengival crevicular doença do refluxo gastreesofágico, vômitos; - Ácidos exógenos: dieta, medicamentos, indústria. O dente dissolverá quando o pH da fase fluida for menor do que o pH crítico.
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