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RESPONSABILIDADE PENAL NOS TRANSTORNOS MENTAIS A INIMPUTABILIDADE E SEUS REFLEXOS (2)

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____________________________________________________________ 
¹ Acadêmica de Direito pela Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA 
² Acadêmica de Direito pela Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA 
³ Acadêmica de Direito pela Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA 
4 Acadêmica de Direito pela Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA 
5Acadêmica de Direito pela Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA 
 
RESPONSABILIDADE PENAL NOS TRANSTORNOS MENTAIS: A 
INIMPUTABILIDADE E SEUS REFLEXOS 
 
Ana Karolina Nogueira Portela¹ 
Elane Aguiar Costa² 
Lara Leite Fernandes³ 
Regina Carla Gonçalves de Azevedo4 
Thais Cristina Freitas5 
 
RESUMO 
 
A inimputabilidade é uma das questões mais discutidas no direito penal, tendo em 
vista que ela é capaz de responsabilizar ou não um indivíduo por um crime segundo 
a sua capacidade. O presente artigo tem o propósito de esclarecer as características 
que esse tipo de pessoa possui, bem como as dificuldades sofridas na execução 
penal desses tipos de caso. As metodologias utilizadas foram as pesquisas 
bibliográficas, o uso da letra da lei e de dados processuais, bem como a pesquisa 
em matérias jornalísticas e textos acadêmicos já publicados. Diante disso, foi 
possível obter dados e esclarecimentos de como evoluiu o sistema penal brasileiro 
no tratamento das pessoas com transtorno mental, bem como esclarecer a maneira 
que são impostas as medidas de segurança para os inimputáveis e as falhas que 
problematizam a situação. Portanto, foi possível expor as dificuldades e os desafios 
que os inimputáveis sofrem e de como o direito penal, em alguns casos,é falho na 
execução de seu papel e no tratamento adequado para com os inimputáveis. 
 
Palavras-chave:Direito Penal. Inimputabilidade. Psicopatologia.Tratamento 
adequado. 
 
ABSTRACT 
 
Unimputability it’s one of the most discussed issues in criminal law, given that it is 
able to charge or not an individual for a crime according to his ability. This article has 
2 
 
the purpose of clarifying the characteristics that this type of person has, as well as 
the difficulties suffered in the criminal execution of these types of case. The 
methodologies used were bibliographic research, the use of the letter of the law and 
procedural data, as well as the research in journalistic articles and academic texts 
already published. Therefore, it was possible to obtain data and clarifications on how 
the Brazilian penal system evolved in the treatment of people with mental disorders, 
as well as clarify the way in which security measures occur for the unimputable and 
the failures that problematize the situation. Therefore, it was possible to trace the 
difficulties and challenges that the unimputable suffer and how criminal law, in some 
cases, is flawed in the execution of it’s role and in the appropriate treatment of the 
unaccountable. 
 
Key words: Criminal Law. Unimputability. Psychopathology. Adequate treatment. 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
É de conhecimento geral que, no presente ordenamento brasileiro, a análise 
do caso concreto é fundamental para estabelecer se determinada conduta compõe 
um fato típico, antijurídico e culpável. No presente artigo, será feita uma análise de 
um dos elementos que excluem a culpabilidade: a inimputabilidade, bem com sua 
definição, seus desdobramentos, suas consequências e como esta é e deve ser 
tratada pelo sistema penal. 
No que tange à inimputabilidade e suas peculiaridades dentro do Direito 
Penal, a pesquisa objetiva analisar os elementos que assumem o papel 
imprescindível no exercício da aplicação legislativa, certificando a responsabilidade 
penal para com os indivíduos que apresentam transtornos mentais diagnosticados, 
bem como perturbações na saúde mental. De tal modo, cabe investigar o vínculo 
que se forma entre as ciências jurídicas e a psicopatologia, uma vez que para fins de 
aplicação penal justa nos casos concretos em que se observa a necessária exclusão 
de culpabilidade, faz-se presente, de maneira fundamental, a atuação de 
profissionais da psiquiatria e da psicologia. 
Desse modo, será possível analisar como atua o direito penal diante de atos 
cometidos por inimputáveis de maneira minuciosa, analisando como o sistema se 
comporta desde o reconhecimento desse tipo de réu, até a execução da sentença 
imposta. O estudo nesse artigo visa mostrar como os portadores de transtornos 
mentais são e devem ser tratados pelo direito penal quando cometem um ato 
reprovável, ressaltando alguns casos em que esse procedimento não é realizado da 
maneira mais adequada, fato que pode ocasionar, em alguns casos, na aplicação de 
medidas inadequadas para indivíduos sem domínio de suas faculdades mentais. 
Imperioso destacar que portadores de psicopatologias não devem cumprir 
sentenças de encarceramento comuns como ocorre com os penalmente imputáveis, 
3 
 
pois essa forma de punição está desacordo com as necessidades básicas desses 
indivíduos e com o próprio código penal, ocasionando uma violação aos seus 
direitos fundamentais. 
 
2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PSIQUIATRIA NO BRASIL E OS INIMPUTÁVEIS 
 
Desde a origem das civilizações, o comportamento da sociedade é objeto de 
observações e estudos e assim, é possível identificar os processos de mudança em 
geral em tal comportamento. A figura da pessoa que sofre com transtornos mentais 
já passou por diversos olhares com o passar do tempo, inclusive no Brasil, 
chegando a sofrer com as mais diversas formas de maus tratos e preconceito até 
que sua real condição começasse a ser estudada e compreendida. 
Entre meados do século XVI no Brasil, a loucura não causava incômodo e 
fazia parte do cotidiano social e assim continuou até a chegada do século XIX 
(BATISTA, 2014). Tendo início o século XIX e um grande processo de urbanização e 
mudanças sociais e políticas, surge então um processo de “higienização social” com 
o intuito de retirar essas pessoas que se tornaram indesejáveis à sociedade, sendo 
consideradas perturbadoras para a paz social. 
 
As elites letradas referiam-se às imundícies físicas e morais, estas 
relacionadas às várias personagens urbanas, como “leprosos, loucos, 
prostitutas, mendigos, vadios, crianças abandonadas, alcoólatras”. Foi 
nessa situação que surgiu, segundo Machado, Loureiro, Luz e Muricy 
(1978), a Medicina social, mais preocupada com a saúde do que com a 
doença, com a prevenção do que com a cura, pautando-se nos ideais de 
normalização e higienização social, com vistas à eliminação da desordem e 
dos desvios, sendo proposta, nesse sentido, a higienização de hospitais, 
cemitérios, quartéis, bordéis, prisões, fábricas e escolas (ANTUNES, 2012, 
p. 50). 
 
Sendo assim, os “loucos” foram retirados do contexto social e foram adotadas 
ideias e práticas excludentes e segregantes apoiadas pela maioria dos profissionais 
da área da saúde. Uma das primeiras personalidades brasileiras a questionar e 
posicionar-se contra esses métodos, dentre eles o castigo físico, foi o médico baiano 
Abílio Cesar Borges, conhecido como Barão de Macahubas (ANTUNES, 2012, p. 
52). Consequentemente, depois de reivindicações, aos poucos estas pessoas em 
sofrimento mental passaram a ser retiradas das prisões públicas e porões das 
Santas Casas de Misericórdia e passaram a receber um novo local de tratamento. 
Portanto, o Hospício de Pedro II foi fundado por decreto imperial em 1841 
(BATISTA, 2014, p. 396). 
Apesar da mudança de ambiente, o novo modelo não apresentou muitas 
mudanças de imediato, a forma de tratamento e desumanização persistiram, tendo 
em vista que os mesmos continuaram isolados e sendo submetidos à superlotação, 
falta de higiene e terapias tortuosas. A jornalista Daniela Arbex pesquisou e 
4 
 
documentou, em seu livro “Holocausto Brasileiro: vida, genocídio e 60 mil mortos no 
maior hospício do Brasil”, relatos sobre a realidade cruel de um hospício brasileiro, o 
Hospital Colônia de Barbacena, fundado em 1903. 
Destarte, essamodalidade dos hospícios se manteve por um prolongado 
período, mesmo que ao longo do tempo tenha sofrido alterações, de acordo com o 
crescimento e a disseminação dos saberes psicológicos no país e no mundo. Por 
conseguinte, o surgimento desses ideais foram construindo um cenário propício à 
inserção da reforma psiquiátrica, que traz uma possibilidade de pôr novas lentes sob 
o cuidado com o indivíduo em sofrimento psíquico além do isolamento manicomial, 
buscando uma visão mais humana para com essas pessoas, em um processo 
denominado desinstitucionalização. No Brasil, tal movimento só chegou a ganhar 
forças pela década de 80, apesar de já existirem debates de profissionais sobre o 
assunto anteriormente. 
 
No Brasil, em 1978, o Movimento de Trabalhadores em Saúde Mental, 
ligado ao movimento de Reforma Sanitária, provocaria a derrocada da 
denominada “indústria da loucura”, numa época em que os hospitais 
privados se multiplicavam pelo país e, com eles, a precariedade nos 
serviços prestados à população (Fonte, 2011). A discussão da 
desinstitucionalização entra no meio acadêmico-intelectual. Já no final 
da década de 1980, articulados e influenciados pelo pensamento de 
Basaglia, técnicos de saúde, acadêmicos, militantes sociais e 
organizações comunitárias conseguem provocar o fechamento de 
alguns manicômios e a abertura dos primeiros Centros de Atenção 
Psicossocial (CAPS). Vários desses atores dão origem ao Movimento 
da Luta Antimanicomial, uma ação coletiva em prol de “uma sociedade sem 
manicômios” (BATISTA, 2014, p. 400). 
 
Conforme o Movimento da Luta Antimanicomial crescia no Brasil e já se 
consolidava em outros países, como França e Itália, um marco histórico facilita a 
solidificação desse sistema no país, ocorrido na Conferência Regional para a 
Reestruturação da Assistência Psiquiátrica, realizada em Caracas, em 1990. 
Ficando conhecido como “Declaração de Caracas” o documento que oficializa o 
compromisso dos países latino-americanos de reestruturar e descentralizar o 
sistema de assistência psiquiátrica e “salvaguardar os direitos civis, a dignidade 
pessoal, os direitos humanos dos usuários e propiciar a sua permanência em seu 
meio comunitário” (HIRDES, 2009). Então a partir de tal oficialização o arquétipo de 
assistência que é conhecido em dias atuais foi sendo modelado, como por exemplo 
com a inserção de “ [...] redes de atenção à saúde mental, Centros de Atenção 
Psicossocial (CAPS), leitos psiquiátricos em hospitais gerais, oficinas terapêuticas, 
residências terapêuticas, respeitando-se as particularidades e necessidades de cada 
local.” (HIRDES, 2009). 
Logo, no dia 06 de abril de 2001 é sancionada a Lei n° 10.216, também 
conhecida como Lei Paulo Delgado, que redireciona juridicamente o modelo 
assistencial psiquiátrico e consolida direitos da pessoa portadora de transtorno 
mental. Assim, o Brasil, paulatinamente, passava a investir oficialmente em uma 
reforma no setor responsável pelo cuidado com a saúde mental. Pode-se observar 
que a prática mais adotada para efetuar a desinstitucionalização foi a de distribuição 
5 
 
de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) por todo país, mas é necessário que o 
cuidado com essa temática vá além disso. Apesar de ser inegável a evolução 
positiva quanto aos direitos e deveres como cidadão da pessoa em sofrimento 
psíquico, faz-se mister o aprimoramento constante desse sistema, é necessário 
compreender que “A reforma, portanto, não pode ser entendida apenas como a 
melhora e a humanização dos serviços, mas sobretudo como uma mudança no 
discurso científico, em especial na noção do que é a doença mental.” 
(BATISTA, 2014, p. 401). 
Assim como todos, os portadores de transtornos mentais também estão 
sujeitos ao nosso ordenamento jurídico, estando sujeitos também a respeitá-lo ou 
não. Logicamente, o ordenamento jurídico dispõe de mecanismos para evitar que 
seja desrespeitado ou punir quem o tenha feito. Mas para um processo justo, o 
Direito Penal conta com diversos conceitos a serem analisados, dentre eles a 
imputabilidade. 
Masson (2013, p. 468) conceitua imputabilidade como “[...] a capacidade 
mental, inerente ao ser humano de, ao tempo da ação ou da omissão, entender o 
caráter ilícito do fato e de determinar- se de acordo com esse entendimento.” Assim, 
dependendo de dois elementos, intelectivo e volitivo. Sendo aquele o perfeito estado 
de saúde mental e integridade biopsíquica que permita o entendimento, e este o 
domínio da vontade e a capacidade do agente de controlar suas ações. Sem a 
presença de algum desses elementos, o indivíduo deve ser tratado como 
inimputável. O Código Penal discorre sobre os casos de inimputabilidade penal nos 
art. 26, caput, art. 27 e art. 28, § 1°. Existe também a possibilidade de aplicação de 
medidas de segurança especiais para esses indivíduos regulamentadas pelo art. 
97/CP. 
No caso, os inimputáveis por doença mental, sendo esta permanente ou 
transitória e interpretada em sentido amplo (MASSON, 2013, p. 472), são definidos 
pelo art. 26/CP que define: “É isento de pena o agente que, por doença mental ou 
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da 
omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-
se de acordo com esse entendimento.” Conclui-se então que as pessoas em 
sofrimentos psíquicos são abrangidas e asseguradas por esse artigo. 
O Código Penal, no artigo citado acima, ao adotar um sistema biopsicológico 
faz com que seja necessária uma comprovação formal do transtorno mental, salvo 
nos casos de menoridade, utilizando-se da perícia médica para avaliação do critério 
biológico e do juiz para a análise psicológica, consequentemente a causa e o efeito 
do fato ilícito (MASSON, 2013, p. 476). Porém, é necessário olhar quais partes da lei 
realmente concretizam-se, o que acontece cotidianamente com essas pessoas 
dentro do sistema penal brasileiro e como esse cenário pode acabar por prejudicar 
mais ainda a condição mental dos portadores de doença mental. Em virtude disso, o 
referido artigo compromete-se a abordar e elucidar a realidade dessas pessoas e a 
responsabilidade do Direito Penal para com as mesmas. 
 
3 DIREITO PENAL E OS INIMPUTÁVEIS 
6 
 
 
No âmbito da legislação penal brasileira, a teoria do crime é responsável por 
trazer a compreensão de o que seria o crime, uma vez que não se tem uma 
definição específica para tal conceito. De tal maneira, tem-se o aspecto formal, o 
material, o social e o analítico para entender em que consiste o crime e poder 
distingui-lo das contravenções penais. Majoritariamente, a doutrina atual adota o 
aspecto analítico para analisar o ato infracional delituoso, de modo que a 
compreensão se dá através da separação de elementos constituintes para que um 
ato se configure como um crime. De acordo com esse aspecto, “[...] para que se 
possa falar em crime é preciso que o agente tenha praticado uma ação típica, ilícita 
e culpável.” (GRECO, 2013, p. 144). Uma ação típica, ou seja, um fato típico, é 
formado por quatro elementos, a saber: a conduta (dolosa ou culposa), o resultado, 
o nexo de causalidade e a tipicidade. A ilicitude do crime configura-se como a 
tendência antijurídica do comportamento do agente para com o ordenamento 
jurídico. Por fim, o último elemento necessário para a concretização de um crime é a 
culpabilidade, como sendo “[...] o juízo de reprovação pessoal que se faz sobre a 
conduta ilícita do agente.” (ibidem, p. 145) 
Um dos fatores determinantes da culpabilidade, a saber, a imputabilidade, 
traz consigo um critério que impossibilita a atribuição do fato típico e ilícito ao agente 
que o provocou, como uma exceção à regra: a inimputabilidade. De acordo com o 
artigo 26 do Código Penal, os inimputáveis são aqueles que ainda não atingiram a 
maioridade penal, aqueles que se encontram em estado de embriaguez completa e 
aqueles que apresentam algumadoença mental diagnosticada ou desenvolvimento 
mental retardado ou incompleto ao tempo em que foi cometido o ato ilícito. 
Os indivíduos inimputáveis por critérios biopsicológicos não podem responder 
pelo que fizeram porque no momento em que cometeram o ato não estavam em 
condições de entender a gravidade e as consequências que seriam acarretadas. 
Nessa lógica, a inimputabilidade, para ser reconhecida, exige a 
presença dos requisitos causal (doença mental ou desenvolvimento mental 
incompleto ou retardado), cronológico (ao tempo da ação ou da omissão) e 
consequencial (inteira incapacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de 
determinar-se de acordo com ele). (MALCHER, 2019) 
Assim sendo, tais indivíduos são excluídos da capacidade de culpa, ficando 
sujeitos às medidas de segurança que devem ser estabelecidas com aval jurídico 
para se alcançar o tratamento, a prevenção e a possível reintegração social. 
Afirmar que um indivíduo tem capacidade de ser responsabilizado pela 
infração típica cometida é assegurar que havia um discernimento sobre a natureza e 
as consequências do comportamento. No entanto, os indivíduos que apresentam 
transtorno mental não conseguem estar em condições mentais que configure uma 
consciência totalmente sã durante a prática um ato infracional voluntário, fazendo 
com que seja injusto que um indivíduo em tais condições vulneráveis seja julgado 
penalmente da mesma maneira que as pessoas de sanidade mental completa. A 
7 
 
psicopatologia é o ramo da ciência que trata da natureza essencial das doenças ou 
transtornos mentais, definindo quais são suas causas, quais as mudanças 
estruturais e funcionais associadas a elas, bem como as suas formas de 
manifestação (CAMPBELL, 1986 apud DALGALARRONDO, 2019). Acerca disso, 
percebe-se que o campo da natureza do critério da inimputabilidade por doença 
mental está intrinsecamente associada ao âmbito da psicologia e da psiquiatria, de 
tal modo que os indivíduos que são diagnosticados com algum transtorno ao tempo 
em que cometeram determinado ato delituoso devem ser tratados através de 
medidas específicas condizentes com seus estados de saúde mental. 
Dentro do campo da inimputabilidade há também determinadas restrições 
acerca da gravidade da situação de vulnerabilidade e do nível de sofrimento mental 
da pessoa. De acordo com o parágrafo único do art. 26 do Código Penal, 
A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em 
virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental 
incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter 
ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. 
(BRASIL, 1940) 
Assim, pode-se perceber a diferenciação que a legislação penal faz diante do 
grau de sofrimento psicológico em que um indivíduo se encontra. Quando se tem o 
diagnóstico de uma doença ou de um transtorno mental, há a absolvição completa, 
uma vez que o indivíduo era inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do 
fato típico ou de estabelecer-se de acordo com esse entendimento (GRECO, 2013, 
p. 389). Entretanto, o diagnóstico psicológico também pode apontar para 
perturbações na saúde mental, que não absolvem totalmente o indivíduo da 
penalização, pois tais condições não são capazes de retirar do agente a capacidade 
total de entender a gravidade da situação delituosa. Desse modo, o agente em 
situação de alguma perturbação mental no período em que cometeu infração pode 
ter a sua pena reduzida de um a dois terços, mas mantém uma capacidade de 
atribuir-se a culpa mesmo que de forma reduzida. Vale ressaltar a importância da 
atividade de profissionais especialistas na área de atuação da saúde mental, a fim 
de que não haja erro nos diagnósticos, por causa das linhas tênues de 
peculiaridades que permeiam a mente humana. 
A necessidade de vincular o campo do Direito Penal com as ciências 
psicopatológicas mostra-se notória ao fato de que muitos erros judiciais acontecem 
por falta de experiência e de conhecimento sobre a natureza da saúde mental dos 
infratores por parte dos operadores do Direito. A confusão entre os conceitos de 
doenças mentais, de transtornos mentais, de anomalias advindas de 
desenvolvimento mental retardado e de desvios de personalidade, os quais 
apresentam diferentes origens, tais como biológica, biopsicossocial, psicossocial etc, 
acarretam vários episódios de prejuízo para com o réu (MARCHEL, 2019). Cabe, de 
maneira imprescindível, que se tenha uma análise diagnóstica adequada a fim de 
não cometer injustiças no âmbito penal, uma vez que o Estado é responsável por 
assegurar a saúde e a vida de todos os indivíduos de maneira igualitária, de acordo 
com as necessidades especiais em que cada um se encontra. É fundamental a 
8 
 
aplicação do que se prevê no art. 41 do Código Penal, assegurando, assim, o 
recolhimento das pessoas em situação de doença mental em hospitais de custódia 
para tratamento psiquiátrico e psicológico. Até mesmo os semi-inimputáveis devem 
ser tratados de acordo com suas necessidades psicológicas dentro do ambiente em 
que se encontram reclusos de liberdade. 
 A atenção necessária dentro da legislação penal para os inimputáveis por 
doença mental faz-se presente desde o Código Criminal do Império do Brasil, 
trazendo no texto de seu artigo 10 e salientando no seu segundo parágrafo que não 
se julgarão como criminosos “os loucos de todo gênero, salvo se tiverem lúcidos 
intervalos e neles cometerem o crime” (BRASIL, 1830). No entanto, nesse período 
histórico os cuidados necessários com tais indivíduos eram precários, de modo que 
não tinham ainda atenção e assistência adequada para serem tratados. O primeiro 
Código Penal da República também trouxe a pauta da inimputabilidade por condição 
mental abalada, salientando em seus artigos 27 e 29 quais os traços para a 
adequação em tais condições e para onde os indivíduos isentos de culpabilidade 
deveriam ser encaminhados após a determinação jurídica e o diagnóstico 
psiquiátrico. Entretanto, até determinado momento, a legislação penal trazia como 
conceituação da inimputabilidade por doença mental uma atribuição muito ampla, de 
modo que muitos indivíduos com simples perturbações na saúde mental acabavam 
totalmente isentos de atribuição da culpa, por englobar qualquer abalo psíquico 
como uma doença mental. Ademais, com o passar dos anos e com vários projetos 
para modificar o Código e adequá-lo principalmente aos avanços dos entendimentos 
e conhecimentos acerca da natureza biopsicológica dos comportamentos e dos 
estados mentais. Acerca disso, o decreto-lei n° 2.848 de 1940 traz em seu art. 22 e 
em seu parágrafo único considerações pertinentes sobre o tratamento jurídico aos 
indivíduos que apresentam doenças mentais ou perturbações na saúde psicológica. 
Assim, para o Código de 1940, as “causas biológicas são as únicas capazes de 
suprimir a capacidade de entendimento e determinação, quando deixa de existir a 
responsabilidade” (HUNGRIA; FRAGOSO apud PERES; FILHO, 2002). 
 Dessa forma, com o desenvolvimento e aperfeiçoamento da legislação penal, 
a atenção e o estudo sobre a inimputabilidade que isenta de culpa as pessoas com 
transtornos mentais diagnosticados também se moldou de acordo com os avanços 
dos estudos psicopatológicos. É necessário que os operadores do Direito apliquem 
de maneira adequada, em conjunto com especialistas das áreas de saúde mental, o 
que está previsto na lei, bem como é de fundamental importância dar assistência e 
encaminhar às medidas de tratamento oferecidas pelo próprio Estado, órgão 
responsável por preservar tanto a segurança social, como também a segurança e a 
vida individual, independente das circunstâncias em que o indivíduo se encontre. 
4 O ENCARCERAMENTO DOS INIMPUTÁVEIS 
 
A Organização Mundial da Saúde (OMS), através da Classificação 
Internacional das Doenças (CID), que é o registro estatístico que reúne e organiza 
as mais diversas doenças e sintomas conhecidos pelo homem em gruposou 
9 
 
categorias, reúne quase uma centena de doenças e transtornos mentais. O Código 
Penal, por sua vez, trata dos casos de inimputabilidade penal por doença mental, 
nos termos do artigo 26, prevendo que o doente mental ou ainda o portador de 
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, que ao tempo da conduta 
delituosa não possuía condição alguma de compreender as consequências de seus 
atos ou caráter ilícito daquela conduta, seja isento de pena. 
Pena e Medida de Segurança são sanções penais, porém, muito distintas e 
com clientela muito mais diferenciada do que se possa perceber pelo senso comum. 
A pena tem caráter repressivo e seu fundamento é a culpabilidade do agente, isso 
pressupõe a capacidade para o direito penal do sujeito que praticou o injusto. A 
medida de segurança, apresenta em sua essência o caráter preventivo, visando o 
tratamento do agente acometido por doença mental. 
Os inimputáveis, em cumprimento de Medida de Segurança, são 
considerados como insanos perante a sociedade e ainda, cometeram um ilícito 
penal que por si só, já os colocaria à margem social. Mesmo com os avanços para a 
determinação das capacidades e incapacidades com critérios mais objetivos e 
taxativos, pouco se vê, na prática, respeito aos direitos daqueles que são 
marginalizados socialmente, sobretudo para os considerados inimputáveis no Direito 
Penal. 
A Lei nº 7.209, de 1984, alterou alguns dispositivos do Código Penal de 1940, 
entre eles o regime das medidas de segurança, estabelecendo como regra, a 
internação em hospital de custódia e tratamento, mas abriu a possibilidade de 
sujeição do agente apenas a tratamento ambulatorial para os fatos previstos como 
crimes sujeitos a detenção, e não a reclusão, explícitos nos artigos 96 e 97 (BRASIL, 
1984). A referida lei estabeleceu como direito do internado o seu recolhimento a 
estabelecimento dotado de características hospitalares e a sua submissão a 
tratamento. 
Quanto a isso, cabe a crítica feita por Cezar Roberto Bitencourt: 
 
Essa espécie também é chamada de medida detentiva [...] A nova 
terminologia adotada pela reforma não alterou em nada as condições dos 
deficientes manicômios judiciários, já que nenhum Estado brasileiro 
construiu os novos estabelecimentos. (Bitencourt, 2017, p.895) 
 
A construção dos Manicômios Judiciários, hoje chamados de Hospitais de 
Custódia e Tratamento Psiquiátrico, demarca o lugar conferido ao indivíduo portador 
de transtorno mental e infrator, que fica duplamente à margem da sociedade, tanto 
por sua violação ao Código Penal, quanto por sua violação à ordem moral. Isto 
porque homens e mulheres são mandados para tratamentos dos seus transtornos 
mentais até que acabe sua periculosidade, mas a maioria dos casos é de transtorno 
crônico, não há fim da doença. 
Percebe-se assim, que os pacientes acabam permanecendo nas instituições 
por longos anos, de fato internados, e nem sempre recebendo tratamento 
terapêutico adequado. Apesar de leis que explicitam as instituições em que essas 
pessoas devem ser encaminhadas para cumprimento de internação, a reclusão 
10 
 
desses indivíduos a lugares inadequados e de constante violência, ainda se mantém 
em costume. 
Há um senso comum que a pessoa com transtorno mental que cometeu 
algum crime (o chamado louco infrator) deve cumprir a sua condenação, de 
preferência longe da sociedade, passando toda a vida num manicômio judiciário. 
Este pensamento, no entanto, é equivocado. O louco infrator não é um condenado 
da justiça, como as pessoas que cumprem penas nas penitenciárias. Na realidade, a 
sentença proferida pelo juiz foi de absolvição. Ou seja, a pessoa que cometeu o 
crime é considerada inocente por causa da sua incapacidade de compreender a 
gravidade ou ilegalidade do ato que cometeu. 
A antropóloga Débora Diniz ao realizar o primeiro mapeamento dos doentes 
mentais em custódia, através do Censo 2011, concluiu que a periculosidade não é 
elemento intrínseco do doente mental, como menciona o trecho a seguir transcrito: 
 
Não há evidências científicas na literatura internacional que sustentem a 
periculosidade de um indivíduo como uma condição vinculada à 
classificação psiquiátrica para o sofrimento mental. Periculosidade é um 
dispositivo de poder e de controle dos indivíduos, um conceito em 
permanente disputa entre os saberes penais e psiquiátricos. É em torno 
desse dispositivo, no meu entender antes moral que orgânico ou penal, que 
o principal resultado do censo se anuncia. Diagnóstico psiquiátrico e tipo de 
infração penal não andam juntos: indivíduos com diferentes diagnósticos 
cometem as mesmas infrações. (Diniz, 2013) 
 
Sobre o reconhecimento do requisito da periculosidade pelo incidente de 
insanidade mental, Salo de Carvalho faz os seguintes apontamentos: 
 
O reconhecimento do estado de periculosidade produz significativos efeitos 
sancionatórios. Em razão de a periculosidade ser entendida como um 
estado ou atributo natural do sujeito – o indivíduo carrega consigo uma 
potência delitiva que a qualquer momento pode se concretizar em um ato 
lesivo contra si ou contra terceiros -, a resposta estatal não pode ser 
determinada ex ante. (Carvalho, 2015, p. 502) 
 
Com o exposto, podemos entender a periculosidade como uma espécie de 
juízo futuro e incerto sobre as condutas dessas pessoas tidas como criminosas e 
perigosas, e compreende-se a necessidade da individualização da pena para uma 
aplicação correta desta ou da medida de segurança, o que pode ser considerado um 
elemento que evitaria o encarceramento inadequado dos inimputáveis por doença 
mental, tornando-os únicos e distintos dos demais infratores. 
O problema que pode ser observado, é que a medida de segurança tem em 
seu núcleo a periculosidade do agente, e é essa periculosidade que sustenta a 
promoção de um controle social, que se utiliza do Direito Penal para punir os atos 
futuros do inimputável por doença mental e legitima sua segregação. No entanto, 
parece fundamental que as respostas jurídicas ao delito punível, encontrem 
11 
 
correspondências mais específicas ao utilizar-se do discurso de prevenção e de 
mecanismos disciplinadores. 
Obviamente, mesmo com toda sua tecnicidade na aplicação destes 
mecanismos, é necessário ainda, por coerência legal e humanidade, manter o 
inimputável separado do preso provisório, e, mais acertadamente do apenado. 
Segundo Diniz: 
 
Tão significativos quanto a desconstrução do estigma de que a loucura 
seria violenta por uma expressão essencial do indivíduo são os dados que 
mostram a estrutura inercial do modelo penal-psiquiátrico do asilamento. 
(Diniz, 2013, p 16) 
 
Assim, é inegável que haja a atenção necessária vinda dos órgãos 
competentes, que assegurem os direitos das pessoas com transtorno mental, 
principalmente as que cometeram algum crime. Proporcionar-lhes um tratamento 
apenas punitivo, submetendo-as a um encarceramento que lhes nega um tratamento 
de saúde adequado, é uma situação que precisa ser revista e trabalhada, pois essas 
pessoas são consideradas inimputáveis e, portanto, inocentes. 
5 ADRIANO AMARO GERALDO: UM ESTUDO DE CASO 
Conforme já foi explanado no presente artigo, as pessoas com diagnóstico de 
transtorno mental são tuteladas de forma especial pelo Direito Penal. Entretanto, 
esse procedimento, em alguns casos, não é cumprido da maneira mais adequada, 
prova-se isso através da análise do caso de Adriano Amaro Geraldo. 
Adriano Amaro Geraldo, de 44 anos, em novembro de 2001, foi acusado de 
atentado violento ao pudor, hoje chamado de crime de estupro, contra uma criança 
de 8 (oito) anos de idade, situação na qual a criança foi segurada pelo pescoço 
enquanto Adriano esfregava nela seu órgão genital, conforme consta nos autos do 
processo nº 9209212-64.2007.8.26.0000. 
O ato em questão ocorreu enquanto Adriano brincava de esconde-esconde 
no quintal de sua vizinha com a vítima, mas no momento em que percebeu que um 
vizinho observava a cena, soltou a criançae fugiu do local. Após apurações, 
constatou-se através de testemunhas, provas periciais e exames médicos (conforme 
consta em laudo pericial de fls. 43/46 do apenso em Apelação Criminal nº 9209212-
64.2007.8.26.0000) que Adriano é possuidor de retardo mental e “instintos 
libidinosos exacerbados e sem autocontrole (sic) eficiente” (fls. 46 do apenso). 
 Gilberto Geraldo, pai de Adriano, afirmou em entrevista para a “Ponte 
Jornalismo” e “Rede TVT” que o filho possui encefalopatia crônica, deficiência 
mental diagnosticada, que causa retardamento mental, possuindo idade mental de 
aproximadamente 6 anos, inclusive sempre foi visto pelos vizinhos brincando com as 
crianças da rua, e tratado como tal por sua família e amigos. 
12 
 
Devido aos fatos supracitados, não tardou para que fosse concedida sua 
absolvição imprópria, tendo em vista seu enquadramento na classificação de 
inimputável, presente no texto do art. 26 do Código Penal. Portanto, foi imposta a 
aplicação de uma medida de segurança de internação no Hospital de Custódia e 
Tratamento Psiquiátrico (HCTP) com tempo de tratamento de, no mínimo, 1 ano. 
 Entretanto, a execução da referida sentença acaba por não seguir as 
medidas impostas. Adriano Amaro foi levado no dia 6 de agosto de 2018 para o 1º 
Distrito Policial de São Bernardo do Campo, onde foi mantido durante uma semana, 
após isso, foi transferido para Ala Especial do Centro de Detenção Provisória de 
Pinheiros (CDP), permanecendo sem previsão de saída, onde dividia um pequeno 
espaço com outros detentos numa área sem estrutura para atender adequadamente 
suas demandas, tendo em vista seu transtorno mental. 
 A família, indignada com a situação em que Adriano se encontrava, buscou 
equipes de jornalismo para levar a público o que estava ocorrendo. Na matéria 
produzida pela Rede TVT, é possível observar a situação delicada em que Adriano 
se encontrava, visto que este necessita do auxílio de seu pai, Gilberto, para executar 
diversas ações cotidianas e necessidades básicas. Em alguns casos, além de contar 
com ajuda dos detentos para alimentar e acalmar Adriano, Gilberto chegou a dormir 
na delegacia do lado de fora da cela para poder auxiliar o filho a se alimentar, tomar 
banho e se vestir. 
O advogado de Adriano, Rafael Lacerda, entrou com o pedido de habeas 
corpus (processo nº 2207820-28.2018.8.26.0000) para concessão do alvará de 
soltura para tratamento ambulatorial em casa ou transferência para o Hospital de 
Custódia e Tratamento Psiquiátrico, entretanto, o juiz da 5ª Vara de Execuções 
Criminais da comarca de São Paulo não concedeu o pedido, afirmando que, apesar 
do recolhimento no CDP, Adriano se encontrava em ala especial e adequada, 
recebendo os devidos tratamentos com equipe multidisciplinar adequada, enquanto 
aguardava uma vaga no HCTP, sendo esta uma situação estritamente provisória, 
não caracterizando constrangimento ilegal, além disso, também alegou que o 
processo já havia transitado em julgado, não cabendo mais pedido de habeas 
corpus, em regra. 
 Entretanto, apesar da provável inexistência de ilegalidade no trâmite, 
percebe-se uma inobservância de sensibilidade da decisão judicial frente ao caso 
concreto, fato que estimulou a família de Adriano a dar visibilidade ao caso através 
da mídia. Jefferson Amaro Geraldo, irmão de Adriano, relatou em entrevista: “O 
Adriano emagreceu, só chora lá. São os presos que dão força para ele, a parte dos 
carcerários nunca foram lá vê-lo, mas falam que vai. E tem médico que assina, mas 
o preso que cuida disso falou que nunca chamaram meu irmão”. Além disso, 
também afirma que até o funcionário responsável pela ala especial lamenta a 
situação de Adriano, visto que este não recebe nenhuma assistência médica e 
psiquiátrica adequada. 
Por fim, o Ministério Público interveio com um pedido no TJSP que ocasionou 
na soltura condicional de Adriano no dia 28 de novembro de 2018, que após ser 
comprovada sua ausência de violência e periculosidade por meio de novas perícias, 
deverá ser tratado em casa através de acompanhamentos do CAPS e comprovar 
13 
 
exercício de ocupação lícita ou comprovar a impossibilidade para fazê-lo, atestando 
sempre a eficácia de seu tratamento. 
Com isso, percebe-se que a maneira de tratar o inimputável foi inadequada, 
visto que o encarceramento em presídios não é a medida adequada para o indivíduo 
que não possui capacidade de compreender a gravidade de seus atos. 
Na situação em que Adriano se encontrava, seria adequado que ele 
recebesse o devido suporte médico em local apropriado, tendo em vista sua 
condição. Na teoria, afirmou-se que o CDP estava suprindo as necessidades 
básicas de Adriano e que a medida de segurança estava sendo devidamente 
cumprida, entretanto, deve-se levar em consideração a análise da situação prática. 
No caso em questão, há relatos da família do réu e de alguns funcionários que 
afirmam as condições inadequadas que o sentenciado se encontrava, fato que 
ocasionou na intervenção do Ministério Público, ato que por si só já comprova que 
Adriano estava recebendo uma punição inadequada. 
Os inimputáveis devem ser tratados adequadamente em qualquer situação e 
a justiça deve ofertar de imediato a medida imposta para o réu, visto que sem esta 
não é possível a realização do tratamento adequado e o cumprimento da medida de 
segurança imposta para a sua reinclusão social. A situação em que o réu portador 
de transtorno mental se encontrava no momento em que foi colocado em um 
ambiente inadequado para o seu tratamento, é a realidade vivenciada por muitos 
brasileiros que cometem um ato socialmente reprovável e que, por mais que tenham 
sua inimputabilidade comprovada, ainda são submetidos à situações degradantes de 
um presídio comum e não têm a execução adequada da sentença proferida. 
O jornal O Globo, em 2012, realizou um levantamento junto às secretarias de 
administração penitenciária e ao sistema judiciário para apurar qual a situação em 
que se encontravam os detentos que possuíam transtornos psiquiátricos. Os dados 
revelados foram que no país, havia pelo menos 800 réus inimputáveis absolvidos 
que ainda cumpriam pena em presídios comuns, em muitos casos dividindo celas 
com detentos. 
Com isso, pode-se ressaltar que a situação vivida por Adriano, não é um caso 
pontual, mas uma falha presente na realidade do sistema penal que merece a 
devida atenção para que casos como esse não se tornem recorrentes na sociedade. 
 
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Em virtude dos fatos estudados, foi possível realizar uma análise temporal de 
como o tratamento para com as pessoas com transtornos psíquicos evoluiu no 
decorrer das mudanças nas técnicas de tratamento e com as alterações que 
ocorreram no ordenamento jurídico brasileiro, tendo hoje uma maneira muito mais 
adequada para lidar com tais situações. Ainda assim, percebe-se que o sistema 
penal brasileiro, apesar de suas muitas evoluções, é passível de falhas na execução 
14 
 
das medidas impostas aos inimputáveis, como foi exposto no estudo de caso 
apresentado no tópico 5. 
Nessa perspectiva, foi possível perceber que o direito penal e seus 
operadores precisam estar sempre vigilantes para que os portadores de transtornos 
psíquicos não sejam tratados de forma errônea, considerando a recorrência de tais 
práticas. Com isso, é possível destacar a importância do que foi pesquisado para a 
compreensão de quem são os inimputáveis e de como estes podem ter seus direitos 
desrespeitados, mostrando as falhas do sistema e ressaltando as necessidades que 
tais indivíduos possuem. Portanto, quando um ato reprovável é cometido por um 
indivíduo que não está dentro de suas faculdades mentais, uma série de fatores 
devem ser analisados para que seja imposta a medida mais adequada, desde a 
sentença até a sua aplicação, devendo sempre levar em consideração a análise do 
caso concreto e a real situação em que o sentenciado se encontra, a fim de 
resguardar seus direitos e aplicar de forma correta a medidade segurança imposta 
para o caso. 
 
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