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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO REGIONAL DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA AGUITHA CRISTINE SULINA DE JESUS VASCONCELOS MERLIM BEATRIZ SOUSA FERNANDES LETÍCIA BRUCZENITSKI SILVA LETÍCIA RIBEIRO DOS SANTOS GUIMARÃES MILENE APARECIDA ROSA DE ARAUJO MYLENNA CRYSTIANNE DAS NEVES DA PONTE SULAMITA DA SILVA THATYANA DE ARAUJO VIANNA A ESCOLA E OS DIREITOS SOCIAIS DA CRIANÇA Campos dos Goytacazes Agosto/2021 RESUMO Este trabalho tem como objetivo avaliar a importância do ambiente escolar na garantia dos direitos e manutenção de políticas públicas na infância. Para tal, foram realizados questionários com crianças de 6 a 12 anos e seus respectivos responsáveis, para avaliar como estes percebem a garantia dos direitos, a implementação das políticas públicas nas escolas, o modo como as crianças percebem e se relacionam com o âmbito escolar e qual a implicação da sua ausência em tempos de pandemia. Além disso, foram entrevistadas duas pedagogas, sendo uma atuante no sistema particular de ensino e outra que atua no sistema público, para tentar compreender mais a fundo as discrepâncias entre os dois sistemas de ensino no Brasil. Palavras-chave: Direitos sociais, Políticas Públicas, Infância, Escola. 1 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 03 2 Referencial teórico ............................................................................................. 05 2.1 ECA ............................................................................................. 05 2.2 Do direito à Educação ............................................................................................. 06 2.3 Do direito à proteção ............................................................................................. 06 2.4 Do direito à alimentação ............................................................................................. 07 2.5 Do direito à recreação ............................................................................................. 07 2.6 Da violação de direitos ............................................................................................ 08 3 Materiais e Métodos ............................................................................................ 09 4 Resultados ............................................................................................. 11 5 Discussão dos resultados ............................................................................................. 21 6 Considerações finais ............................................................................................. 22 Referências ............................................................................................. 24 2 1. INTRODUÇÃO O caminho até o reconhecimento da infância como um período único e específico da vida não foi breve. Até o século XVII, os primeiros anos da vida não faziam parte dos relatos históricos e a importância deles para a vida adulta era completamente ignorada. A realidade “infância” não era concebida e as crianças viviam como adultos, trabalhavam e vestiam-se como tal, a única diferença percebida era seu tamanho. “A criança era, no máximo, uma figura marginal em um mundo adulto’’ ( HEYWOOD, 2004, p.10). A partir do século XVII, por meio da escolarização, se inicia o processo de separação entre a infância e a fase adulta. É só por meio das primeiras iniciativas educacionais que surge uma preocupação com uma formação específica para os primeiros anos da vida, já que anteriormente, as crianças aprendiam entre os adultos os seus ofícios e a isso se resumia a educação. Superando essa realidade, tem-se a preocupação com a formação moral e exalta-se a fragilidade e as peculiaridades desse momento da vida humana. No entanto, até o século XX a infância se manteve “adultizada”, e os ambientes hostis como as fábricas, os campos de guerra e outros postos de trabalho foram ocupados por crianças. Como consequência das Grandes Guerras, principalmente da Segunda Guerra Mundial, ocorre a Convenção dos Direitos Humanos (1948), que consagra princípios fundamentais para a sociedade contemporânea. Agora, todo ser humano é detentor de direitos fundamentais, iguais em hierarquia e inalienáveis. Sendo assim, as crianças também detém todos esses direitos, e para além deles, o reconhecimento de que a infância deve ser protegida. Em 1959, a Assembleia Geral das Nações Unidas adotou a Declaração dos Direitos da Criança, um documento voltado especificamente para a garantia dos direitos dessa parcela da sociedade em todo o mundo. Em novembro de 1989, a Assembleia Geral da ONU adotou a Convenção sobre os Direitos da Criança e dentre os principais direitos assegurados por ela estão: a determinação da infância como o período compreendido entre 0 e 18 anos; a garantia de que as políticas voltadas às crianças devem considerar o interesse das mesmas; a proteção da identidade e da individualidade da criança; os Estados-parte se comprometem a garantir auxílio aos tutores das crianças em sua educação, o que inclui a criação de instituições para assegurar o acesso à educação, como escolas e creches. Hoje, 196 países ratificaram a convenção, transformando-a no instrumento de Direitos Humanos mais aceito da história universal. A partir da Convenção dos Direitos da Criança, o Brasil passou a pensar políticas internas que convergem com a referida Declaração, ao qual é signatária. A partir da 3 Constituição Federal de 1988, e depois, com a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, as crianças passaram a ser reconhecidas como sujeitos de direitos, tal qual cidadãos adultos. No tocante à educação, foram instituídas leis que garantem a integridade, dignidade e equidade entre todas as crianças e adolescentes, e que como sujeitos de direito precisam ser cuidadas e educadas no seio das famílias e instituições escolares (MOREIRA, ROSA E OLIVEIRA, 2017. P.172). Graças a essa preocupação com a educação e o desenvolvimento infantil, as escolas passam a representar um local de importância na sociedade. É nela que muitos dos direitos, antes apenas teorizados, passam a ser assegurados. Ainda que a escola seja uma peça fundamental na garantia dos direitos das crianças, muitas lacunas ainda permanecem não preenchidas. Diante disso, surgem algumas problemáticas: Qual é, efetivamente, o papel da escola na garantia dos direitos? Será que essa instituição está preparada para atender as demandas da população? No tocante a opinião das crianças, a escola está preparada para ouví-las e considerá-las? Ela se apresenta como um ambiente que sempre propicia o desenvolvimento e a aprendizagem, ou por vezes pode atrapalhá-los? Considerando todos esses pontos, surge a pergunta norteadora do presente trabalho: Como transformar a escola em um ambiente de desenvolvimento agradável, seguro e acolhedor para as crianças, garantindo-lhes, de fato, seu direito à recreação, à alimentação, à saúde e de crescer em segurança na comunidade? Portanto, o objetivo deste trabalho é avaliar a importância desse ambiente escolar na garantia dos direitos e na implementação de políticas públicas acerca da infância brasileira, principalmente no que se refere ao direito à recreação, a alimentação e a oportunidade de crescer e se desenvolver em um ambiente seguro, sem violência. Para o cumprimento de tal finalidade, o grupo procurou, em primeiro lugar, fazer uma breve revisão bibliográfica da primeira parte do livro “Seis estudos de psicologia”, de Jean Piaget e dos capítulos 1, 6 e 7 do livro “A construção social da mente”, de Lev Vygotsky, leituras obrigatórias do semestre letivo, a fim de encontrar as bases teóricas para a construção das hipóteses. Em seguida, buscou-se analisar os textos da Convenção dos Direitos da Criança (1989) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), além deles, foramanalisados os itens do Programa Nacional de Educação, já que nele estão dispostas as previsões das políticas públicas que devem ser adotadas pelas escolas brasileiras e outros textos e artigos relacionados. Após a formação das bases teóricas, foram realizadas pesquisas com crianças de 6 a 12 anos e seus respectivos responsáveis, a fim de investigar suas opiniões acerca da escola, suas críticas, positivas ou negativas, suas propostas de mudança e suas 4 experiências pessoais com o ambiente escolar. Ademais, foram entrevistadas duas pedagogas responsáveis pela direção de duas escolas na cidade de Rio das Ostras - RJ, uma pública e outra privada. Por último, foram analisados os resultados dessas pesquisas para a estruturação da apresentação oral e deste trabalho escrito. 2. REFERENCIAL TEÓRICO A importância da instituição escolar tem sido discutida por muitos teóricos ao longo dos anos. É significativa a importância do convívio social para o ser humano, e a escola é um dos primeiros contatos que crianças e adolescentes possuem em um processo de socialização e alteridade. Grandes pensadores como Vygotsky e Piaget pensaram a importância da interação no desenvolvimento criança, bem como com o ambiente, demonstrando como essas conexões ajudam no processo de aprendizagem. Vygotsky (1991) já abordava, em sua teoria, a importância da interação para o desenvolvimento da criança, pois acreditava que a relação sócio-histórica possuía grande influência na aprendizagem. A escola acaba por exercer essa função que Vygotsky prezava, visto que é a primeira instituição não-familiar que a criança terá contato e é também responsável pela formação intelectual da criança. No entanto, é preciso pensar que desenvolvimento é este que estamos falando, e que formação intelectual é essa que os pensadores da escola preconizam. É sabido que os pensadores teóricos do desenvolvimento prezam por uma infância que vai construir um adulto ideal, e são estes postulados os empregados nas instituições educacionais, a fim de garantir que as fases primárias sejam superadas, dando lugar a maturidade. .[...] embora a educação, para aquele que a ela se submete, represente uma forma de inserção no mundo da cultura e mesmo um bem individual, para a sociedade que a concretiza, ela se caracteriza como um bem comum, já que representa a busca pela continuidade de um modo de vida que, deliberadamente, se escolhe preservar. (DUARTE, 2007, p. 697). 2.1 ECA A partir da criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, as crianças passam a ser vistas como responsabilidade de toda a comunidade e por estarem em desenvolvimento, possuidoras de direitos que garantam seu crescimento de forma segura e saudável. Dando ênfase no âmbito escolar, direitos como a liberdade e ao respeito, prescrito no artigo 15 (ECA, 1990, p. 21); a proteção diante de qualquer tipo de violência, como dito no artigo 56 5 (ECA, 1990, pg. 45); a educação e o poder de opinar sobre a mesma, assim como esta não infringir os valores culturais da criança, contidos nos artigos 53, 58 e 59 (ECA, 1990, pg. 43-44; 45); e a saúde, como consta no artigo 14 (ECA, 1990, pg. 20), são garantidos pelo ECA e postos em prática na escola a partir das políticas públicas relacionadas. 2.2 Do direito à Educação O principal direito que a escola tem o dever de garantir é o direito à educação e, segundo o artigo 53 do ECA, inclui o direito de igualdade de condições de acesso e permanência na escola, de ser respeitado pelos seus educadores, de contestar os critérios avaliativos, de organizar e participar de entidades estudantis e de ter acesso à uma escola pública próxima de sua residência. Também no ECA, no artigo 54, está dito que é um dever do Estado assegurar o acesso à educação para a criança e o adolescente desde a creche até o ensino superior. E no artigo 55, consta que é obrigação dos pais e responsáveis matricularem os filhos na rede regular de ensino. Essa previsão, na realidade, não tem sido plenamente respeitada, como pode-se observar com dados a seguir: segundo o IBGE (2020) 1,5 milhão de crianças e adolescentes de 4 a 17 anos não estavam matriculados na escola. E em 2020 das crianças que estavam matriculadas na escola, 3,7 milhões não tiveram acesso a nenhuma atividade escolar por conta da pandemia. Esses dados mostram que, um dos principais direitos das crianças não está sendo garantido, pois ainda que elas estejam matriculadas na escola, não estão participando ativa e efetivamente das atividades escolares.. Também há uma questão racial, regional e social dificultando a garantia desse direito, pois, ainda segundo o IBGE, das crianças que não tiveram acesso a nenhuma atividade escolar em 2020, 70% são pretos, pardos e indígenas e a maioria está na área rural das regiões Norte e Nordeste. 2.3 Do direito a proteção Consoante ao Art 227 da Constituição Federal, é dever da Familia, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente o direito a proteção de toda forma de negligencia, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Vale ressaltar que, durante a pandemia, as denúncias de violência contra crianças e adolescentes caíram no Brasil. Segundo dados do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, foram registradas 26.416 denúncias pelo canal “Disque 100” entre março e junho de 2020, contra 29.965 no mesmo período em 2019 (PORTAL G1, 2020). Isso mostra a importância da escola na proteção e defesa da criança contra a violência doméstica, já que a maioria dos casos são descobertos por meio das escolas e a queda no número de denúncias acaba sendo uma 6 consequência da suspensão das aulas para conter as contaminações por Covid-19. Os educadores geralmente fazem as denúncias anonimamente no 'Disque 100' ou nos Conselhos Tutelares.. 2.4 Do direito à alimentação De acordo com o artigo 227, capítulo VII da Constituição Federal e do artigo 4, título I do Estatuto da Criança e do Adolescente, é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar o direito à alimentação de crianças e adolescentes em idade escolar. Sendo assim, o Programa Nacional de Alimentação Escolar, o PNAE, visa oferecer alimentação e ações de educação alimentar e nutricional durante o período escolar para alunos da educação básica de escolas públicas, escolas filantrópicas e escolas comunitárias que possuem convênio com o Estado. Nesse programa, o Governo Federal repassa verbas equivalentes a 200 dias letivos para estados e municípios, de acordo com a quantidade de alunos, a etapa e modalidade de ensino. De acordo com informações no site do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) sobre o PNAE, para creche o valor é R$1,07 por criança; para a pré-escola é R$0,53; para escolas indígenas e quilombolas é R$0,64; para o ensino fundamental e o ensino médio é de R$0,36; para educação de jovens e adultos, R$0,32; para ensino integral, R$1,07; para o Programa de Fomento às escolas de ensino médio em tempo integral é R$2,00; e para alunos que frequentam o Atendimento Educacional Especializado no contraturno o valor é de R$0,53. A alimentação que o PNAE oferece é uma alimentação adequada e saudável, com a oferta de alimentos como frutas, hortaliças, alimentos ricos em ferro e a limitação ao máximo de alimentos com baixo valor nutricional, ricos em açúcar, gordura, sal, embutidos e enlatados. O objetivo do PNAE é atender necessidades nutricionais, ajudar no crescimento saudável, desenvolvimento cognitivo e assim garantir um bom rendimento escolar dos estudantes. Por conta da pandemia e o fechamento das escolas foi aprovada a lei 13.987/2020, que permite a distribuição de alimentos, com a verba destinada ao PNAE, para os responsáveis das crianças matriculadas na educação pública básica, durante o período de suspensão das aulas, a fim de garantir que, além da Covid-19, a fome não seja um problema enfrentado pelas crianças brasileiras. 2.5 Do direito à recreação 7 Segundo Winnicott (1975, p.70) “éa brincadeira que é universal e que é própria da saúde: o brincar facilita o crescimento e, portanto, a saúde; o brincar conduz aos relacionamentos grupais; o brincar pode ser uma forma de comunicação na psicoterapia.” tendo em vista a importância do brincar para a criança, tornou-se um direito por lei. No Artigo 16, parágrafo IV do Estatuto Da Criança e do Adolescente consta: brincar, praticar esportes e divertir-se. Sabendo disto, a escola atua como asseguradora deste direito para todas as crianças que estiverem sob seus cuidados. 2.6 Da violação de direitos Espera-se que a escola seja um ambiente de promoção dos direitos, e de fato ela é. No entanto, também constitui um cenário em que pode ocorrer a violação dos direitos que visa assegurar, cuja manifestação ocorre principalmente através de episódios de violência escolar, especialmente por meio das práticas de bullying. A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica a violência como um problema de saúde pública, tendo em vista seu enorme alcance e a gravidade das consequências deste fenômeno para a saúde física e mental dos envolvidos. Entre elas estão, segundo Souza (2002): faltas frequentes, queda do rendimento escolar e evasão escolar, além de, segundo Neto (2005), os envolvidos em situações de violência revelarem-se mais propensos a desenvolver quadros de transtornos mentais. Charlot (2002) estabelece três tipos de violência escolar: a violência na escola (interpessoal), a violência contra a escola (depredação do patrimônio escolar) e a violência da escola (praticada pela instituição contra o aluno). Neste trabalho, será abordada a primeira, que apresenta maior disponibilidade de materiais e foi relatada na entrevista com as crianças. A violência escolar entre os alunos configura um desafio para a escola, que muitas vezes não sabe como intervir, já que, em se tratando de menores, práticas de bullying não são passíveis de punição e por isso muitas vezes não são realizadas medidas efetivas, no sentido de combater esse problema ou então são efetuadas medidas cuja eficácia é apenas de curto prazo, que acabam por perpetuar o ciclo da violência. Apesar disso, estudos são categóricos em afirmar que a responsabilidade pela mediação desse tipo de conflito cabe a instituição escolar, que deve promover ações preventivas, tais como: capacitação dos funcionários para reconhecer e intervir nos episódios de violência entre os alunos; investimento em segurança no ambiente escolar; inclusão de suporte psicossocial conduzido por profissionais capacitados; projetos de conscientização que incluam pautas como respeito às diferenças, regras de convivência e treinamento de 8 habilidades sociais; ações educativas e socioculturais que envolvam atividades recreativas, abertura da escola aos finais de semana; e oferta de cursos em tempo integral. 3. MATERIAIS E MÉTODOS O trabalho de campo foi realizado com crianças de 6 a 12 anos, cujo integrante tinha acesso devido ao cenário pandêmico de distanciamento social. As entrevistas ocorreram com crianças das cidades de Ribeirão Preto (SP), Rio das Ostras (RJ), São Paulo (SP), Campos dos Goytacazes (RJ), Cardoso Moreira (RJ), Joana Peres (PA), Baião (PA) e Itamonte (MG) . Na modalidade presencial, foram agendados horários e datas para aqueles que não tinham acesso às crianças dentro de casa, aqueles que as tinham, realizaram a pesquisa inserida no cotidiano da casa, da mesma forma, a pesquisa foi realizada com os responsáveis. Na modalidade online, a entrevista foi realizada por aplicativo de mensagem. As crianças responderam o total de 11 perguntas elaboradas pelo grupo e transcritas no Google Forms, ao final das questões, foi pedido a elas que elaborassem um desenho do que a escola representava para elas. Os responsáveis responderam um total de 10 perguntas, e dentro desse grupo, estavam inseridas mães e irmãos. Técnicas e procedimentos foram utilizados para abordar as crianças e seus responsáveis, tais como: para crianças que não aceitaram fazer a entrevista presencial, foram aplicados os formulários de forma online de modo assistido por seus responsáveis. As crianças de 11 e 12 anos não foram muito adeptas ao método de desenho pedido na pesquisa, com isso, ficou a critério delas fazer ou não, respeitando a individualidade de cada uma. Por outro lado, as crianças de idade abaixo dessa faixa, aderiram com entusiasmo ao método proposto. Durante a entrevista surgiram dúvidas sobre algumas perguntas, que após esclarecimentos por parte do entrevistador foram sanadas. De forma geral, as crianças se interessaram bastante pela entrevista e foram participativas. Com os responsáveis, foram utilizados meios viáveis de acordo com a disponibilidade de cada um, ou seja, para alguns foi enviado o formulário da entrevista pela internet sem a presença do entrevistador e para os que tinham disponibilidade, foram feitas entrevistas de forma presencial. Nas duas formas não houve dúvidas, nem questionamentos. Além disso, foram realizadas entrevistas com duas diretoras de instituições pedagógicas, uma de escola pública e outra de escola particular. Ambas residem em Rio das Ostras (RJ) e pediram para que suas identidades fossem preservadas. Durante a entrevista, as duas foram indagadas com perguntas como: “Como a escola lida com a questão do 9 bullying?”, “Como ficou a situação da alimentação escolar durante a pandemia?” , “Como a escola aborda sobre os direitos da criança com ela?” “Como é vista a brincadeira nessa escola?”, etc.. Sendo que, com a diretora da escola particular, o procedimento se deu por entrevista pelo Google Meet, já com a diretora da escola pública, se deu pelo WhatsApp e as respostas foram enviadas por áudio. Pode-se afirmar que ambas entrevistas trouxeram informações pertinentes para o trabalho. A primeira etapa do trabalho compreendeu as leituras dos textos obrigatórios da disciplina, para buscar as bases teóricas e realizar uma revisão bibliográfica, principalmente dos textos de Piaget e Vygotsky. Além disso, o grupo se baseou na Convenção dos Direitos da Criança, no Estatuto da Criança e do Adolescente e na leitura de novos artigos acerca do tema para a construção de uma visão ampla sobre o assunto. Após esse período de pesquisa, surgiram dúvidas de como prosseguir e por isso foi realizada uma reunião com as monitoras para saná-las e finalmente conseguir delimitar o tema do trabalho. A escolha do tema se deu, após essa reunião, quando o grupo se reuniu e decidiu pesquisar sobre o papel da escola na garantia dos direitos das crianças e dos adolescentes. Com a delimitação do tema, o grupo elaborou as entrevistas que seriam realizadas às crianças e aos responsáveis no Google Forms. O prosseguimento da pesquisa se deu pela realização das entrevistas como pontuado nos parágrafos acima. Após essa etapa, ocorreu uma reunião para a análise dos dados e elaboração da apresentação oral, quando surgiu a necessidade de mais informações acerca da visão da escola enquanto instituição de tudo aquilo que foi pontuado durante as entrevistas, para isso, realizou-se as entrevistas com as pedagogas. Com as respostas, o grupo pode consolidar ainda mais as informações coletadas que serão expostas nos parágrafos seguintes. Após a elaboração e apresentação oral, foi realizado o presente trabalho escrito. 4. RESULTADOS 4.1 Relação dos alunos com a escola Quando questionados sobre gostar ou não de ir para escola, obteve-se as seguintes respostas: “Sim” “Gosto” “Mais ou menos” “Gosto muito” 10 “Gosto, nunca faltei. Só quando fiquei doente” “Sim, porque a gente tem muitas coisas para fazer, eu escrevo muito.” “Muito” “Sim.” “Sim, porque lá tem gente para eu brincar e também aprendo coisas como matemática, português, ciência e outras coisas” “Gosto” “Sim. (Mas ficou na dúvida de responder)” Também foi perguntado sobre o que mais gostavam na escola e teve-se estas respostas: “De brincar.” “Do recreio.” “Comer.” “Brincar.” “Nada.”“Recreio/comer” “Brincar no parquinho” “Ler, aula de educação física, gosta da física porque é uma hora de se divertir, de brincar com os amigos.” “Dos brinquedos de montar e Cantar” “Estudar, porque é divertido, escrevo muito e faço prova do ano maior” “As disciplinas” “O Recreio” “A forma de ensino.” “Aula de artes” “Brincar, merendar e estudar” “Brincar e de comer” “De aprender” 11 “Aula de educação física e recreio (por causa da comida)” “Brincar e estudar.” “Intervalo” “Quando passar o vírus, o parquinho” Ao serem perguntados sobre o que menos gostam na escola, as crianças responderam: “De fazer apresentações.” “De ir para o parquinho, porque nunca tem espaço para eu brincar, porque todo mundo ocupa “O espaço antes de mim.” “Ficar sem comer.” “Não brincar.” “De quando beliscam e puxam os cabelos.” “Os colegas que brigam comigo” “De estudar/ assistir vídeo demorado” “A merenda, porque não se acostumou a ir merendar” “De ficarem me enjoando.” “De comer” “O bullying” “De matemática” “A quantidade de dever de casa e de trabalho.” “Não tem nada que não goste” “Pessoas falando que sou chata, feia. Ficar zombando da minha cara.” “Eu não sei. Não tem nada que eu não goste.” “A maçaneta estava quebrada” “Aula de português (é muito chato e só fica escrevendo)” “Quando fica muito barulho, porque desconcentra.” “Aula de Matemática” “Acho que nada.” Também questionou-se o que elas mudariam na escola: 12 “Ao invés de comida, eu colocaria doces.” “O parquinho e a comida (colocaria brigadeiro, vitamina de abacate e de banana e suco de maracujá)” “Queria ter dormitórios na escola.” “Os brinquedos.” “Colocar parquinho e novos amigos.” “Escola só para meninas” “Mudaria as salas por espaço de brincar” “As salas que são calorentas, as cadeiras que quebram e os quadros porque são pequenos para uma turma grande.” “Pintar a escola de preto” “Mudar a escola, colocar piscina para eu mergulhar, fazer um "campão" e colocar computador.” “O ensino/ a forma dos professores explicar o assunto” “Nada” “Ensinar coisas que são necessárias, como primeiros socorros e como cozinhar.” “Não mudaria nada” “Pararem de me caçoar.” “Trocaria a porta e tiraria a sujeira” “Blusa do homem aranha/ não usar uniforme” “A hora que acaba o recreio, tem pouco tempo de recreio” “Que tivesse mais brinquedos” “Que pudesse ter cursos de coisas que gostamos” “Que tenha mais alunos.” 4.2 Ensino escolar Quanto aos estudos, foi perguntado o que deixa o mesmo mais interessante e elas responderam: “Nada.” Usar canetinhas e tintas.” 13 “Sim, minha professora e meu professor de artes e música.” “Desenhar.” “Massinha e biblioteca de fantasias” “Comer na sala de aula” “Atividade de pintar” “Ler histórias” “Ficar escrevendo.” “Disputar com os colegas que acertam mais atividades.” “Quando o professor conversa mais comigo” “Educação física” “Atividades práticas.” “Quando a professora passa filme” “Trabalhos legais, as perguntas que a professora faz...” “Trabalhos comemorativos.” “Contação de história” “Continha de cálculo (ela gosta de todas as continhas)” “Sim, uma vez a professora fez brincadeiras educativas dentro da sala para gente.” “Sim.Quando estudo em dupla.” “O parquinho.” Foram feitas algumas perguntas para os pais destas crianças para a pesquisa: 14 Fonte: printscreen do gráfico gerado pelo Google Forms Houve atraso na aprendizagem do seu filho na pandemia? O que você notou de diferente? “Houve um atraso. Ele está menos interessado nos estudos agora.” “Houve,ela podia estar interagindo, aprendendo.” “Sim” “Houve diminuição no rendimento da criança. Notou desmotivação.” “Sim, teve muito atraso.” “Sim, houve muito atraso, pois há uma diferença entre a aula presencial que o professor ensina e a aula em casa.” “Sim. A ausência dos profissionais da educação no que diz respeito ao ensino-aprendizagem dos nossos filhos, fez com que eu pudesse notar o quão importante os professores são em nossas vidas para formação pessoal e profissional das pessoas, e que a falta deles desestrutura qualquer família.” “Sim, eles não prestam atenção nas aulas em casa e com isso não aprendem.” “Sim, notei que ele tem dificuldade em tirar dúvidas com a professora e isso acaba interferindo na aprendizagem.” “Não. Ela estuda sozinha agora.” 15 “Sim, notei que antes ele cantava e interagia mais em casa quando chegava. Fazia cópia e lia historinhas para contar para a professora.” “Sim, porque não tem como substituir o professor em casa, infelizmente.” “Difícil adaptação online, achar que não precisa prestar atenção e nem se concentrar.” “Sim, ele pega pouco no material escolar agora.” “Sim. Notei que eles não estão aprendendo nada.” “Não houve atraso, mas porque a Maria tem mais facilidade em absorver as coisas e eu contei com ajuda externa.” “Houve.” “Achei um aprendizado muito diferente, a qual não estava acostumada. Tive que ser a professora da minha própria filha, mesmo não possuindo uma formação na área, e, também, precisei me adaptar como podia.” “Houve” “Sim, com o acesso a jogos e outras distrações em casa ficou mais difícil de manter o foco nas tarefas escolares.” “Sim. Notei que eles não estão aprendendo nada.” Identifica alguma falha da escola na promoção da educação de seu filho? “Não.” “Não.” “Não identificou falhas.” “Sim, a didática de alguns professores.” “Didática do professor em promover a acessibilidade do ensino, pois há muitos pais que não conseguem ensinar os seus filhos.” “Sim, em querer optar pela educação que vem de casa ex: questões de gênero.” “Não.” “Sim, poderia ter um contato pelo WhatsApp pelo menos uma vez na semana do professor com o aluno para tirar dúvidas ou explicar algo.” 16 “Sim, poderia ter atividades para realizar de forma remota. Minha Filha se sente triste por falta dos coleguinhas e da professora.” “Acho que poderia ser melhor, mas não sei dizer uma falha.” “Não entendi.” “Não.” Você possui disponibilidade de tempo para acompanhar seu filho nos estudos? “Não.” “Não muito.” “Sim, sempre à tarde tiro um tempo para ensinar ele.” “Sim, geralmente eu tiro uma horinha depois do almoço para ensinar ele.” “Sim, eu gosto de ensinar eles no período da manhã.” “Sim. Sempre acho um tempo para ensinar.” “Não, trabalho e chego cansada com isso não consigo acompanhado-los” “Não.” “Sim, mas ela não precisa.” “Sim, sempre que posso ajudo ele.” “Sim.” “Sim, as atividades de casa e estudos para a prova sempre são avaliadas pela mãe e pelo pai.” “Sim, geralmente chamo ele para estudar.” “Às vezes.” “Sim.” 4.3 Alimentação escolar Quando foi perguntado aos pais de crianças que estudam em escola pública se a alimentação escolar faz falta para o filho, de 11 respostas, 3 pessoas responderam que não, 1 pessoa respondeu que a alimentação escolar complementa a alimentação que é dada em casa e a maior parte dos pais, 7 pessoas, respondeu que a alimentação faz falta. Já quando perguntou-se às crianças o que elas mais gostam de comer na escola, as respostas foram as seguintes: 17 "Arroz com strogonoff " "Arroz e frango" "Comer" "Macarrão" "Pepino, salada e salada de frutas" "Frango desfiado e feijão" "Gosto de pipoca com suco" "Arroz com almôndega, quando tem" "Carne com feijão e arroz" "Mingau de arroz e mingau de milho" "Não gosto da comida da escola" "Arroz, feijão ou sucrilhos" "Nada em específico" "Cheetos" "Mingau de arroz, minha própria merenda que levo para a escola" "Nescau, toddynho, Danone e bolacha recheada" "Lanche" "Donetsk e cookies" "Era Nescau e as vezes bolacha que eles davam. Mas eu levava o meu lanche de casa" "Salgado com refrigerante" "Yakult e pão com patê" Em entrevista com a diretora da escola pública, ela relatou que em sua unidade escolar foi criado um kit alimentício (feito com alimentos não perecíveis) a partir da verba da merenda escolar e ajuda das nutricionistas da rede. Os kits são montados tendo como base a criança, não a família,e são montados com base em quantas porções de alimento a criança comeria em um período corresponde a quarenta dias. Até o momento, essa ação foi realizada num total de seis vezes. A diretora também informou que já recebeu relatos sobre a defasagem e a dificuldade alimentar das crianças através dos grupos de conversas no WhatsApp que possui com os pais. Um ponto ressaltado foi que na última entrega dos kits alimentícios, foram entregues 1.056 18 kits, tendo a escola um total de 1.085 crianças, ou seja, parte expressiva das crianças matriculadas receberam kit alimentício. Demonstrando a importância da merenda escolar na complementação da alimentação das mesmas. 4.4 A escola e a defesa das crianças Ao questionar a diretora a respeito de identificação de violência, se alguma vez foi possível identificar se alguma criança sofria algum tipo de violência domiciliar. Se sim, qual o meio utilizado para fazer a denúncia? Em sua reposta a mesma informou que já havia ocorrido, em reposta a mesma relatou que “Infelizmente sim, a gente vê vários casos de violência contra a criança, sempre, e toda vez que vimos casos de violência contra a criança a gente toma varias providencias a primeira delas é, conversar com a criança, geralmente a criança se abre com o professor, professor de sala de aula, ele vai se achegando e no máximo no terceiro dia que a criança está sofrendo ou já sofreu a violência ela se abre com o professor, a criança fala da violência e o professor reporta a direção os casos”. Medidas tomadas: “Primeira providência é chamar a família, quando ver que o caso é uma coisa muito pior a gente denuncia ao conselho tutelar, ou quando a criança se abre e fala coisas duras, dificeis, como violência sexual, a gente imediatamente leva a criança para delegacia e faz exame de copo de delito e com certeza aciona o conselho tutelar. toma todas as medidas legais.” Ela ainda identificou outros tipos de violência como física e emocional e pontuou a respeito do grau de dificuldade de identificar cada uma delas. Ela explica que, “Dos casos identificados, a violência física é mais fácil de identificar, pois está lá o machucado; a violência sexual infelizmente tivemos um caso e a emocional é mais difícil de identificar.” Foram realizadas também algumas perguntas, para os pais das crianças, referente ao bullying e a respostas obtidas foram: 19 Fonte: printscreen do gráfico gerado pelo Google Forms Caso tenha sofrido. Como a escola buscou resolver isso? “Nunca sofreu.” “Não sofre/ não sei se sofre/ não houve queixa.” “Depois do que aconteceu com o meu filho, teve palestra sobre isso na escola.” “Nem a escola, nem a minha filha relataram algo a respeito.” “A escola não buscou solução.” “Chamaram os pais das crianças para conversar e buscar solucionar o problema.” “Depois que meu filho falou em casa eu fui na escola resolver. Chamaram os pais da outra criança para saber o porquê dela está agindo assim e buscar uma forma de parar.” “A escola sempre faz reuniões com os pais dos envolvidos e aulas de conscientização para as crianças.” “A escola não resolveu nada.” 4.5 Direitos Foi perguntado para as crianças se elas sabiam o que são direitos e obteve-se as seguintes respostas: “Não.” “Não (Expliquei para ele o que é).” “Sei, mas não consigo explicar.” “Agora eu sei, porque minha madrinha Milene falou para mim.” “Quando minha mãe me pede pra fazer algo.” 20 “Não, não sei.” “Faço ideia, mas não sei explicar.” “Não sei.” “Sei sim, mas não sei dizer.” “Não soube responder/apenas entendeu após explicação.” “Não.” “Sabe o que significa e conhece alguns, mas não dá uma definição.” “Sabe e sabe que as crianças têm direitos, mas não sabe dizer quais são.” “Não, não sei o que é isso.” “Não sabe.” “Não. (ela disse que sabe e que estudou há muito tempo depois de explicar o que é)” “Não, não sei o que é.” “Sim.” “Não.” 5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A princípio, as hipóteses eram que os direitos das crianças e adolescentes não eram abordados em momento algum com as crianças, o que propicia uma alienação fazendo com que estes assegurados por tais direitos fiquem em posição de submissão perante aqueles que se mostram superiores a eles. Ao final da pesquisa percebeu-se que realmente direito não era um assunto frequentemente abordado com estes indivíduos, já que mais de 90% das respostas para a pergunta sobre o que seria direito foram negativas. Esta falta de conhecimento sobre seus direitos limitam seu aprendizado escolar para somente aquilo que prescreveram, anulando as sugestões das crianças quanto às diversas formas de ensino. Os resultados da pesquisa vieram conforme o esperado, com as crianças trazendo alternativas que deixam os estudos mais interessantes, o que dará um melhor aproveitamento dos assuntos estudados. Quanto a violência, foi observado o quanto a escola se faz importante na denúncia destas, assim como também é um ambiente no qual tipos de violência, como o bullying, acontecem. Como uma instituição que faz parte da comunidade, a escola tem o dever de informar o conselho tutelar no caso de identificar indícios de violência na criança. A 21 pandemia dificultou a detecção de tais indícios o que leva à diminuição das denúncias. Qualquer tipo de violência deve ser relatada e denunciada, não somente pela escola, mas também por toda a comunidade, já que a criança e o adolescente são responsabilidades de todos da comunidade. O bullying, por ser um tipo de violência geralmente verbal, são as menos delatadas e quanto são, ou ignoram ou não se tomam medidas que realmente vão mudar a situação. Na pesquisa se pode notar que são poucas as instituições que levam o bullying como um assunto de grande importância. Quanto à alimentação, para parte dos estudantes, a merenda escolar é a única refeição do dia. A alimentação escolar tem uma grande importância e isso pode ser observado nas entrevistas feitas com os pais, as crianças e a diretora de escola pública. A entrevista com os pais e com a diretora mostra que a alimentação escolar faz falta para os alunos e como a distribuição de alimentos na pandemia com a verba da merenda escolar é necessária para continuar a assegurar esse direito. Quanto às crianças, quando perguntadas o que mais gostam de comer na escola, diante de tantas opções de respostas e gostos, foi observado que a alimentação que é dada pela escola está presente, o que ressalta sua importância. Sendo assim, as respostas obtidas revelam a importância da escola na garantia do direito à alimentação das crianças. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao buscar compreender a importância da escola na manutenção dos direitos sociais da criança e do adolescente foi possível concluir que a instituição escolar, de fato, atua como peça fundamental para a manutenção desses direitos, bem como a sociedade, quando esta se torna participante ativo na fiscalização, planejamento, gestão e manutenção da entidade escolar. Apesar das muitas falhas que a instituição possui, ao avaliar seu papel e importância na infância, fica evidente, que pelo menos em parte, a comunidade escolar trabalha para assegurar que dentro daquele ambiente os direitos regidos pela Constituição e pelo ECA se façam valer. A partir do cumprimento das leis de Diretrizes e Bases, a escola passa a ser um espaço de proteção social e umas das principais fontes de garantia de alimentação, ambiente seguro e receptivo a possíveis denúncias por parte das crianças a respeito de seus lares, além de um ambiente amplamente diverso, onde a criança pode se relacionar com outras crianças e adultos fora de seu ciclo familiar, contribuindo para uma formação plural no que tange o aspecto sócio-cultural, bem como a formação intelectual adequada fornecida por profissionais 22 qualificados, como rege o artigo 205 da Constituição Federal, a saber: “a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimentoda pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. É importante frisar que, para que uma escola seja eficiente, ela precisa agir de forma integrada com a comunidade, pois a instituição escolar é parte do ambiente onde essa criança vai crescer e se desenvolver, e uma escola e comunidade que promovem uma gestão conjunta conseguem melhor mapear a realidade de cada aluno, conseguindo prestar uma assistência mais singular a realidade de cada um, quando em caso de ausência de alguma direito que a criança ou família possa estar vivendo, isso porque a comunidade consegue mapear melhor o histórico de vida dessas crianças e suas famílias, através dos CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) e também pelas associações de moradores. Assim, a integração das entidades desde o processo de fiscalização mútua, até o planejamento político pedagógico que a escola vai adotar no ano letivo, conseguem melhor atender as demandas encontradas na entidade escolar, além de promover um ambiente que atenda as reais necessidades das crianças, tornando esse ambiente mais participativo e menos hierarquizado. fazem valer o direito da criança a ter organismo integrado a suas necessidades. Por último, e o fator de maior importância, a criança precisa ser membro participativo nos processos de planejamento e construção de projetos na escola. Isso é importante tanto para a escola, que passa a ter um processo amplamente dinâmico, gerando na criança sentimento de participação e cidadania, bem como para a criança, que começa a ser autônoma e responsável, além da valorização de si, já que entende que sua participação é importante e pode transformar o ambiente. É preciso deixar a ideia de criar uma escola para e começar a construir com os principais afetados pelas políticas que serão desenvolvidas dentro do ambiente escolar. A exemplo dessa prática, existem agremiações escolares, que são garantidas pelo ECA, no artigo 53º inciso IV a saber: “o direito dos estudantes de se organizar e participar de entidades estudantis”, que hoje estão praticamente instintos das escolas, mas que são práticas que promovem essa integração entre alunos e entidade escolar, construindo um ambiente onde os alunos possam de fato ter suas opiniões e sugestões manifestadas, ter voz ativa na construção do plano pedagógico e de exercer sua cidadania. Fazendo do ambiente escolar um lugar onde se deseja estar e onde é possível construir uma sociedade mais justa, pois é na escola que as pessoas aprendem o que é ser cidadão, e a cidadania não deve ser apenas obedecer, mas promover uma sociedade digna e inclusiva para todos. 23 REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição (1998). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 06 ago.2021. _______. Lei Federal n° 13.987 de 2020. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/lei/l13987.htm>. Acesso em 09 ago. 2021. _______. Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 16 jul. 1990. Disponível em: <https://www.gov.br/mdh/pt-br/centrais-de-conteudo/crianca-e-adolescente/estatuto-da-crianc a-e-do-adolescente-versao-2019.pdf>. Acesso em: 28 de Julho de 2021. _______. Lei 9.394 de dezembro de 1996. Dispõe sobre Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm> BARBIERI, Bianca da Cruz; SANTOS, Naiara Ester dos; AVELINO, Wagner Feitosa. Violência escolar: uma percepção social. 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