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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO 
DE 9 A 12 DE OUTUBRO 
 
 6047 
COMUNIDADES TRADICIONAIS E PERSPECTIVAS ATUAIS EM SÃO 
MATEUS DO SUL – PR: UMA ANÁLISE A PARTIR DAS 
FERRAMENTAS QUALITATIVAS 
 
WAGNER DA SILVA1 
ALCIMARA APARECIDA FÖETSCH2 
 
RESUMO: 
O presente trabalho objetiva discutir a organização das comunidades de faxinal na fase pós-
reconhecimento do sistema faxinal no estado do Paraná. A análise se baseia em duas comunidades 
faxinalenses, Emboque e Água Branca de Baixo, ambas localizadas no município de São Mateus do 
Sul. Os resultados combinados de pesquisas realizadas nas comunidades no período de 2011-2013 
embasam tal discussão. A análise parte das reflexões teóricas acerca das comunidades tradicionais 
que se estruturam no chamado Sistema Faxinal e se operacionaliza através de pesquisa de campo, 
fazendo uso de contribuições e ferramentas próprias da pesquisa qualitativa. O intuito é analisar de 
que forma o reconhecimento estadual, ou a ausência dele, interfere no modo de produção do espaço 
nessas comunidades. 
 
PALAVRAS-CHAVE: Pesquisa qualitativa, Comunidades tradicionais, Sistema faxinal, São Mateus 
do Sul/PR. 
 
 
ABSTRACT: 
The present work aims to discuss the organization of faxinal communities in the post-recognition stage 
of faxinal system in the state of Paraná. The analysis is based on two faxinal communities, Emboque 
and Água Branca de Baixo, both located in the city of São Mateus do Sul. Combined results from 
surveys conducted in the communities in the period of 2011-2013 based the discussion. The analysis 
comes from theoretical reflexions concerning the traditional communities structured in the Faxinal 
System and is made operational through field research, making using of contributions and proper tools 
of qualitative research. The purpose is analyse how the state recognition, or the absence of it, affects 
the space production in these communities. 
 
KEYWORDS: Qualitative research, Traditional communities, Faxinal system, São Mateus do Sul/PR. 
 
 
1 – Introdução 
O objeto de estudo do presente ensaio são as comunidades tradicionais e 
seus modos de produção do espaço. Tomam-se como pano de fundo para a 
discussão, duas comunidades estruturadas no sistema faxinal - Emboque e Água 
Branca de Baixo - no município de São Mateus do Sul, estado do Paraná. O objetivo 
principal é analisar a relação entre estas comunidades tradicionais e o espaço em 
que estão inseridas, observando a forma com que o reconhecimento legal ou a falta 
 
1
 Acadêmico do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual de Ponta 
Grossa. Nível: Mestrado. E-mail de contato: geo.wagner92@yahoo.com.br 
2
 Doutora em Geografia (UFPR, 2014). Docente do Curso de Geografia da Universidade Estadual do 
Paraná (UNESPAR), Campus de União da Vitória. E-mail de contato: alcimaraf@yahoo.com.br 
 
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO 
DE 9 A 12 DE OUTUBRO 
 
 6048 
dele interferiu e/ou interfere na construção e na preservação de seus modos de 
produção do espaço. 
Justifica-se esta reflexão a partir da relevância das comunidades tradicionais 
em função do Decreto Federal nº. 6.040 de 07 de fevereiro de 2007 que institui a 
Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades 
Tradicionais. Neste sentido, compreender a forma de manutenção dos modos 
característicos dentro de uma realidade cada vez mais individual e que objetiva o 
alcance de lucros sem precedentes torna-se um campo fértil de análise. A 
problemática assenta-se no afunilamento que houve nas comunidades tradicionais, 
que com a expansão do agronegócio passaram a sofrer desagregações em seus 
territórios e, consequentemente, foram perdendo grande parte de seu modo de vida 
e população. 
Os métodos qualitativos foram utilizados para coleta de informações nas 
pesquisas de campo no período de 2011-20133. Trata-se de uma proposta voltada 
ao espaço rural, que na sua configuração apresenta uma essência metodológica 
voltada para uma forma de pesquisa que não se limita apenas ao olhar quantitativo 
(não o desmerecendo!), mas que enfatiza a qualidade/essência dos dados e sua 
coleta trazendo para a evidência os indivíduos e seus particulares modos de vida. 
Para tanto, elaboram-se discussões conceituais, selecionaram-se ferramentas de 
utilidade e, por fim, partiu-se para a aplicabilidade prática e a análise dos resultados. 
 
2 – Aspectos conceituais do sistema faxinal 
A expressão “Faxinal” é originalmente descrita por Horácio Martins de 
Carvalho, em 1984, sendo o criadouro comunitário seu elemento de maior 
importância. O autor destaca que segundo o uso regional, Faxinal quer dizer criador 
grande, provavelmente se referindo às pastagens naturais existentes na região e 
que facilitavam, pelas condições da vegetação, “a criação extensiva de animais, em 
particular suínos e grandes animais” (p. 16) e era preservado para “práticas 
 
³ Projetos de pesquisa financiados pela Fundação Araucária, como bolsista de Iniciação Científica. 
Título dos projetos: Caracterização Sócioespacial do Faxinal do Emboque, São Mateus do Sul, 
Paraná (2011-12) e Comunidade Tradicional de Água Branca, São Mateus do Sul-PR: Identidade, 
Território e Espacialidade (2012-13). 
 
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 6049 
extrativistas da madeira e da erva, além de servir de espaço para a criação 
extensiva de animais” (p. 14). 
Mais tarde, em 1988, a economista Man Yu Chang em seu relatório técnico 
ressalta que popularmente o termo “Faxinal” significa mata densa, porém, ao buscar 
sua etimologia a palavra significa mata rala com vegetação variada e faixas de 
campo penetrando nas matas. Para a autora, nestas áreas de mata mais densa é 
que se formaram os criadouros comunitários para o aproveitamento desses espaços 
conjugados, cuja característica peculiar se assenta na criação extensiva e no 
extrativismo da erva-mate, se constituindo na forma histórica de organização social 
que mais preservou as condições ambientais locais. Portanto, de acordo com Chang 
(1988), o sistema faxinal possui as seguintes características: produção animal para 
tração e consumo, produção agrícola para comercialização e consumo e extração da 
erva-mate nos ervais nativos (renda complementar). 
Em termos de legislação, no estado do Paraná, em 1997, através do Decreto 
Estadual nº 3446/97 que cria as Áreas Especiais de Uso Regulamentado (ARESUR), 
o sistema faxinal passa a ser reconhecido formalmente. Dessa forma, os municípios 
que contavam com o sistema em seus territórios passaram a receber um maior 
percentual na distribuição do ICMS Ecológico (Lei Complementar nº 59/91). No § 1 
do Art. 1º consta: 
 
[...] entende-se por Sistema Faxinal: o Sistema de produção camponês 
tradicional, característico da região Centro-Sul do Paraná, que tem como 
traço marcante o uso coletivo da terra para produção animal e a 
conservação ambiental. Fundamenta-se na integração de três 
componentes: a) produção animal coletiva, à solta, através dos criadouros 
comunitários; b) produção agrícola – policultura alimentar de subsistência 
para consumo e comercialização; c) extrativismo florestal de baixo impacto 
– manejo de erva-mate, araucária e outras espécies nativas. 
 
Nota-se nesta definição uma aproximação quanto aos elementos identitários 
do sistema propostos por Chang (1988). Marques (2004) no Relatório Final de 
Consultoria Técnica, elaborado para o Instituto Ambiental do Paraná, destaca que 
“Considerou-se, para a execução das atividades, a definição apresentada no texto 
do Decreto Estadual nº 3.446/97, tendo em vista que o mesmo é a referência oficial 
que foi considerada para os objetivos desse levantamento”, portanto,o IAP 
 
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 6050 
compreende o sistema faxinal a partir dos elementos destacados no Decreto 
Estadual que os reconheceu no estado do Paraná. 
Pela Portaria nº 34, de 25 de fevereiro de 2011, o IAP complementa: 
 
I) FAXINAL: território tradicional onde é praticado o sistema de produção 
camponês tradicional, estratégico para reprodução social de grupos 
culturalmente distintos dotados de identidade própria e reconhecidos como 
comunidades tradicionais Faxinalenses. É um sistema típico da região da 
Floresta Ombrófila Mista (Floresta da Araucária), que tem como traço 
marcante o manejo coletivo da terra e de seus recursos naturais, de modo 
interdependente à conservação ambiental. (IAP, 2011, Art. 1º, fl. 02). 
 
Da mesma forma, Löwen Sahr e Cunha (2005) ao analisarem o significado 
social e ecológico dos faxinais na região da Mata com Araucária no Paraná definem 
esse sistema como sendo “um sistema de uso integrado da terra que abrange, além 
da atividade silvopastoril comunitária, a extração de madeira, a produção de erva-
mate e também a agricultura de subsistência” (p. 90). Segundo os autores, o sistema 
encontra-se dividido em dois espaços: “criadouro comum” e “terras de plantar”. 
Löwen Sahr (2005) destaca que se trata de comunidades “caboclas que 
praticam, sobretudo ao longo dos vales dos rios, um sistema de uso integrado da 
terra que abrange a atividade silvopastoril comunitária, a extração de madeira e 
erva-mate e também a agricultura de subsistência”. Essa organização também 
pertencia ao passado nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, mas que 
ainda são presentes no território paranaense. 
 Inseridos na Articulação Puxirão dos Povos Faxinalenses, o próprio grupo 
contribui oferecendo sua própria concepção do sistema. De acordo com o 
depoimento de Antônio Miguel Rodrigues de Lima, morador do Faxinal dos Seixas, 
município de São João do Triunfo/PR, tem-se que: 
 
No meu entender acho Faxinal é um lugar onde tem a criação solta, onde 
você pode trabalho em comunhão, tudo junto, tudo unido, faz o puxirão pra 
trabalhar na cerca, onde é tudo cercado, você tem cabrito, porco, gado, 
galinha ali é tudo solto, então acho que isso aí pra mim é um Faxinal onde 
tem união, você pode trabalhar unido, todo mundo tem sua criação, tem sua 
terra ali, chegar ser isso aí um Faxinal. (sic). (LIMA apud ARTICULAÇÃO 
PUXIRÃO, 2008, p. 02). 
 
 
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 6051 
 Dessa forma, dentre tantas possibilidades conceituais possíveis, convém 
destacar que, na presente pesquisa trabalha-se com o conceito de “sistema faxinal”, 
inicialmente proposto por Chang (1988). 
 
b) Faxinais e ferramentas qualitativas de pesquisa 
 Buscando compreender a espacialidade de duas comunidades faxinalenses 
no município de São Mateus do Sul/PR, delineou-se enquanto metodologia de 
análise as contribuições da pesquisa qualitativa. Compreende-se enquanto pesquisa 
qualitativa aquela que considera não a quantidade de sujeitos na análise e sim a que 
valoriza a particularidade de cada sujeito – a qualidade, abrangendo um extenso, 
complexo e importante histórico nas disciplinas humanas. Este método de pesquisa, 
segundo Pessôa (2012) sofreu modificações de acordo com os conflitos sociais, 
políticos, econômicos e ambientais. Sua relevância dentro das áreas sociais e 
humanas é expressa por Godoy (1995) quando afirma que tal abordagem possui 
uma considerável importância de âmbito investigativo quando se pretende estudar 
os processos que envolvem pessoas e suas relações sociais em qualquer forma de 
ambiente. 
Segundo Richardson (1985), num contexto geral, tal prática não emprega 
uma base estatística para reflexão de um problema, não tem a intenção de 
quantificar ou limitar em unidades tornando uma amostragem homogênea, pois: 
 
Os estudos que empregam uma Metodologia Qualitativa podem descrever a 
complexidade de determinado problema, analisar a interação de certas 
variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos 
sociais, contribuir no processo de mudança de determinado grupo e 
possibilitar, em maior nível de profundidade, o entendimento das 
particularidades do comportamento dos indivíduos. (RICHARDSON, 1985, 
p. 39). 
 
Nesta proposição, definiram-se alguns métodos para a análise das 
comunidades tradicionais estudadas partindo da pesquisa de campo, que, segundo 
Marconi e Lakatos (2002) é aquela utilizada com o objetivo de conseguir 
informações e/ou conhecimentos acerca de um problema para o qual se procura 
uma resposta. Sendo assim, foram definidas as técnicas utilizadas para a pesquisa 
de campo: 
 
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1. Estudo de caso: oferece uma contribuição de suma importância para 
compreensão de que temos casos sociais, individuais, políticos e organizacionais, 
conserva os elementos holísticos e significativos dos acontecimentos da vida (YIN, 
2001). 
2. Entrevistas: são fundamentais quando se precisa/deseja mapear práticas, 
crenças, valores e sistemas classificatórios de universos sociais específicos, mais ou 
menos bem delimitados, em que os conflitos e contradições não estejam claramente 
explicitados (DUARTE, 2004). 
A escolha destas duas ferramentas partiu de uma análise das comunidades 
eleitas. Definiu-se a metodologia dos “estudos de caso” pelo motivo de serem 
situações específicas, que mesmo sob a mesma política e município se 
desenrolaram de formas diferentes; e, a metodologia das “entrevistas” foi definida 
com objetivo do resgate de informações que possibilitaram as discussões, pois 
muitas questões estavam desconexas visto que não havia nenhuma outra referência 
própria destas comunidades. Estas entrevistas foram realizadas com as lideranças 
de cada comunidade, com pessoas que estiveram envolvidas diretamente no 
processo de reconhecimento de ambas, residem há bastante tempo nestes locais e, 
portanto, conhecem muito e podem falar com propriedade sobre a história, a 
evolução sócioespacial da comunidade e as questões de conflito que as envolve. 
Neste sentido, partindo do sistema faxinal e das contribuições da pesquisa 
qualitativa, apresentam-se a seguir, os resultados das análises das comunidades 
selecionadas. 
 
3 – Os faxinais e suas transformações recentes 
O espaço agrário paranaense e brasileiro de modo geral, neste caso mais 
especificamente o ator social do campo sofreram várias modificações e 
interferências com a modernização agrícola, que incentivou o giro de capitais 
baseado na monocultura e concentração de terras através de grandes propriedades. 
Neste cenário, as comunidades tradicionais e os pequenos produtores, 
marginalizados neste processo, precisaram buscar alternativas para se manter. 
Sendo assim, apresenta-se a seguir as transformações recentes em duas 
comunidades com destinos distintos. 
 
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a) O Faxinal do Emboque 
Dentre os 44 faxinais apontados por Marques (2004) reconhecidos 
oficialmente pelo estado do Paraná, encontra-se em São Mateus do Sul, segundo 
levantamentos obtidos através dos projetos de pesquisa mencionados em rodapé, o 
Faxinal do Emboque surge a partir da desagregação de uma grande fazenda 
existente na região, a qual depois de desmembrada deu lugar a lotes menores 
repassados para seus ex-funcionários, começando com os caboclos. Porém, 
inicialmente eram poucos os que viveram dentro desse sistema, tendo em vista que 
usufruíam apenas temporariamente dos espaços (chamados de passageiros). Mais 
tarde, com a chegada de imigrantes poloneses que vieram para a região centro-sul 
do Paraná motivadospor doações de lotes pelo governo, este sistema tradicional 
que separa as terras de criar das terras de plantar foi mantido e aperfeiçoado. 
Estima-se que o criadouro comunitário se aproxima dos 100 anos de 
existência, sendo construídas as cercas que caracterizam o sistema faxinal na 
década de 1930. As famílias pioneiras da comunidade do Emboque foram: 
Prizivitowski, Janoski, Javorski, Wenglarek, Pacheco, Grabowski, entre outras e, de 
início este espaço possuía uma extensão muito maior da que possui hoje, relata-se 
aproximadamente 2000 alqueires de mata densa e da criação de animais à solta, 
abrangendo as localidades de Emboque, Rosas, Costão, Fartura do Potinga, Turvo, 
Paiol Grande. A agricultura era praticada somente para o autoconsumo, já que os 
recursos econômicos principais eram oriundos do extrativismo vegetal, 
principalmente a erva-mate, e criação de porcos no sistema do criadouro coletivo 
(FÖETSCH, 2014). 
Segundo relato coletado por entrevistas com as lideranças da comunidade4, 
houve uma série de fatores que desencadearam a desagregação de parte do 
território do Faxinal do Emboque, dentre eles destacam-se: seu reconhecimento 
legal tardio (2007), a expansão do agronegócio, a construção da BR 476 (rodovia do 
xisto) que cortou os campos abertos e a chegada de fazendeiros e chacareiros do 
 
4
 Estas informações sobre o Faxinal do Emboque foram coletadas em campo durante a execução do 
Projeto de Iniciação Científica intitulado: “Caracterização sócioespacial do Faxinal do Emboque, São 
Mateus do Sul, Paraná”, desenvolvido pelo autor deste artigo e financiado pela Fundação Araucária. 
 
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extremo sul do Brasil, desabituados com tal sistema, cercando suas terras 
adquiridas dentro do criadouro, descaracterizando-o. 
Evidentemente o reconhecimento já citado no presente ensaio e 
sistematização dos faxinais como comunidade tradicional por parte do governo do 
estado foi tardio (1997), o que retardou também a elaboração de uma política 
municipal de legalização, realizada através da Lei Municipal 1.780 de 2008, 
reconhecendo a Comunidade do Emboque e seus acordos comunitários 
característicos de faxinal, além de proibir a construção de tapumes, cercas ou 
fechos dentro das áreas de uso comum de tal comunidade, o que lhe deu também o 
direito do repasse dos incentivos estaduais (ICMS Ecológico5), posteriormente, ainda 
resultado do reconhecimento municipal, houve a montagem de três mata-burros nas 
entradas principais, onde ainda existiam portões, fazendo com que ocorresse uma 
série de fugas dos animais soltos no criadouro; houve ainda a instalação de duas 
placas de identificação, contendo as informações legais de tal sistema e 
identificando sua localização. A demora para tais reconhecimentos básicos que 
incentivou a descaracterização de parte do sistema dentro dessa comunidade 
No tocante ao aspecto ambiental, o reconhecimento facilitou a preservação 
das espécies nativas dentro do criadouro, incentivando o uso racional dos recursos 
disponíveis: erva-mate, pinhão e outros. Facilitou também levantamentos de 
pesquisadores, interessados em plantas medicinais, análise da mata nativa, entre 
outros. 
No âmbito social e cultural, a integração entre comunidade e sociedade em 
geral aumentou consideravelmente, ocorrendo aulas de campo de escolas de 
educação básica, oficinas e aulas práticas de Instituições de Ensino Superior e 
Técnico, além de pessoas de outras cidades, geralmente maiores. Esses se dirigem 
por iniciativa própria buscando sanar a curiosidade pelo conhecimento de um 
modelo de produção que um dia já tomou conta do espaço agrário paranaense e 
hoje em dia sobrevive penosamente. A força política aumentou, a comissão montada 
depois do processo oficial, possibilitou melhores condições na luta por seus ideais, 
 
5
 Com a parcela correspondente aos recursos oriundos do ICMS ecológico são realizadas melhorias 
na estrutura do criadouro (cercas, estradas, conservação dos mata-burros, compra de sementes 
crioulas, etc.). 
 
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 6055 
evitando inclusive o abate sem recompensa dos suínos que apresentavam indícios 
de “aujezky” (doença que assola os suínos), expandindo a representatividade local 
frente aos poderes executivos e legislativos municipais. 
As tradições repassadas por gerações sofrem reinvenções depois do 
reconhecimento. Com a volta de alguns ex-moradores que tentavam a vida na área 
urbana, o faxinal torna-se o destino daqueles que estavam desacreditados no futuro 
dentro da comunidade. As formas de relações entre a própria comunidade ganham 
destaque: puxirões ganham uma força renovada, tradicionais novenas natalinas e de 
páscoa reaparecem. Tem-se ainda a atuação da Pastoral da Família que realiza o 
acompanhamento frequente da saúde das crianças da localidade. 
Porém, nem todos os pontos são positivos, algumas disputas territoriais, 
contestação de terras e não concordância da criação aberta por parte de alguns 
vizinhos da comunidade acabaram no sacrifício dos animais que fugiam do criadouro 
quando algum passageiro deixava a porteira das carroças ao lado do mata-burro 
aberta. A burocracia presente em todos os processos do poder público retarda os 
repasses dos incentivos ambientais, o que impossibilita ou atrasa parte das ações, 
além da fragilidade da legislação, principalmente na parte de fiscalização voltada 
para as comunidades tradicionais. 
 
b) O Faxinal de Água Branca de Baixo 
A comunidade de Água Branca de Baixo não possui um território faxinalense 
oficialmente reconhecido e uma série de acontecimentos culminaram na 
desagregação total de seu espaço de uso comum. Nesta localidade, além do 
reconhecimento ocorrer tardiamente, se deu de forma errônea, pois o poder público 
municipal estabeleceu uma lei onde reconheceu apenas os moradores como 
faxinalenses, deixando de lado seu espaço físico que hoje é tomado por 
propriedades cercadas pela iniciativa privada e com imensas monoculturas. 
A incógnita que baseou os levantamentos de campo foi aguçada pelo 
“quase” desfecho positivo, uma vez que placas de identificação foram 
confeccionadas, a comunidade ganharia dois mata-burros e o IAP e outros órgãos e 
instituições envolvidas já tinham dado seu aval. No entanto nenhum desses itens foi 
 
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viabilizado. As placas estão armazenadas no barracão da família Kovalski e o tempo 
para instalação dos mata-burros expirou, fazendo com que a comunidade perdesse 
tal direito. O fato é que a série de desencontros políticos, de organização estrutural e 
burocracia resultou na frustração das famílias, que buscavam o reconhecimento de 
seu território como sendo um faxinal. 
O levantamento histórico6 mostra que antes da chegada dos colonizadores, 
principalmente poloneses, a comunidade era conhecida como „Faxinal dos Ferreira‟ 
e habitada totalmente por caboclos, onde a criação de animais no potreiro (campo 
aberto) era comum à todas as famílias, separado por cercas das terras destinadas 
para agricultura. Após a colonização de cunho eslavo, a comunidade passou a 
adotar popularmente a nomenclatura de Água Branca. Não se sabe ao certo o 
motivo do nome atual da comunidade. Havia ritos como mutirões de trabalho, 
novenas e festas religiosas. A economia era baseada no extrativismo da erva-mate, 
beneficiamento do milho nos monjolos e policultura para autoconsumo, 
compartilhada entre as famílias. 
O desfecho de tal situação caracterizou a Água Branca de Baixo como uma 
comunidade rural como tantas outras existentes no espaço agrário,apesar de que, 
quando se lança um olhar mais atento, percebe-se que ainda existem alguns traços 
oriundos desse sistema tradicional, principalmente nos costumes: algumas famílias 
ainda realizam os mutirões conhecidos como “troca de dias” de trabalho, seja em 
colheitas, plantio ou algum outro trabalho que necessite de uma mão-de-obra 
grande, as novenas são realizadas nos períodos de festas religiosas, como natal e 
páscoa, além do reconhecimento de algumas pessoas da comunidade que ainda se 
intitulam como faxinalenses. 
 
4 – Considerações Finais 
Com o processo de reconhecimento, à medida que uma comunidade se 
encaixa dentro das políticas dos povos e comunidades tradicionais muitas mudanças 
 
6
 As informações sobre a comunidade de Água Branca foram coletadas em campo durante a 
execução do Projeto de Iniciação Científica intitulado: “Comunidade Tradicional de Água Branca, São 
Mateus do Sul/PR: identidade, território e espacialidade”, desenvolvido pelo autor deste artigo e 
financiado pela Fundação Araucária. 
 
 
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ocorrem em seu espaço. Da pouca ou total ausência de visibilidade, tornam-se foco 
de ações do poder público e de discussões científicas de vários cunhos. Muito se 
tem discutido sobre a importância das comunidades tradicionais nos âmbitos 
econômicos, sociais, culturais e ambientais. O aumento de visibilidade, se de um 
lado amplia a esperança desses povos e comunidades, intensificando suas lutas, 
por outro lado, acirram também seus processos de desintegração e desestruturação, 
pois aguçam os interesses daqueles que passam a ver suas terras como áreas 
potenciais de expansão de atividades econômicas diversas e acúmulo de capital. O 
reconhecimento oficial, portanto, não é a resolução de todos os problemas, é fato 
que auxilia na melhor administração destes espaços, porém as dificuldades 
permanecem mesmo depois da elaboração das políticas públicas voltadas para 
estes atores sociais. 
 
5 – Referências 
ARTICULAÇÃO PUXIRÃO DOS POVOS FAXINALENSES. Projeto Nova 
Cartografia Social dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil. Série: 
Faxinalenses do Sul do Brasil. Fascículo 3. Rebouças/PR, setembro 2008. 
BRASIL. Decreto Federal nº. 6.040 de 07 de fevereiro de 2007. Institui a Política 
Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais. 
CARVALHO, Horácio Martins de. Da aventura à esperança: a experiência auto-
gestionária no uso comum da terra. Curitiba: 1984. (mimeografado). 
CHANG, Man Yu. Sistema Faxinal: uma forma de organização camponesa em 
desagregação no Centro-Sul do Paraná. Londrina: IAPAR, 1988. 121 p. (Boletim 
Técnico, 22). 
DUARTE, Rosália. Entrevistas em Pesquisa Qualitativa. Revista Educar, n.24, p. 
213-225, Curitiba- PR, Editora da UFPR, 2004. 
FÖETSCH, Alcimara Aparecida. Faxinais e Caívas: Identidades Territoriais na 
região do Contestado (PR/SC). 2014. 237f. Tese (Doutorado em Geografia) – 
Universidade Federal do Paraná, UFPR, Curitiba, 2014. 
GODOY, Arilda S. Introdução à pesquisa Qualitativa e suas possibilidades. In 
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