Buscar

Resenha de Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. (SAID, 1990)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 4 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

SAID, Edward. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. Tradução de 
Tomas Rosa Bueno. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, p. 13-39. 
Resenhado por Maria Portilho Bagesteiro 
 Na História, enquanto acadêmicos, entendemos o quanto a configuração de poder 
de um certo contexto pode auxiliar/influenciar na execução de eventos em grande escala, 
na construção de doutrinas dos mais diversos aspectos, na construção e seleção de fontes 
com interesses próprios. Essa dominação reafirma que quem domina o campo do saber, 
domina a construção daquilo que vai ser passado adiante. Partindo desse pensamento e a 
partir à obra “Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente” de Edward Said 
(1978), podemos compreender e refletir o Orientalismo como uma construção que se 
estende debruçado em instituições, linguística, eruditos, doutrina e a estilos colonialistas 
de entender o outro, tendo como lente o Ocidente. 
 Publicada em 1978, a obra “Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente” 
de Edward Said, como apresentado em seu próprio título, traz à tona seu principal 
objetivo: apresentar o Oriente atual que nos deparamos nas mídias como uma construção 
que visa tratar uma vasta região geográfica, de multiplicidades culturais, religiosas e 
políticas como uma unidade, generalizando sua identidade e objetivando uma recepção à 
tais atributos errôneos em relação à região e seus povos. Estruturada em três seções: (1) 
O âmbito do orientalismo, (2) Estruturas e reestruturas orientalistas e (3) O orientalismo 
hoje, o livro expõe a proposição de Said a propósito da força e do poder do discurso 
hegemônico cultural do ocidental sobre os povos colonizados, e o risco a estes quanto à 
atribuição da ótica ocidental. 
 Ao decorrer da obra, Said, como um oriental que cresceu em duas colônias 
britânicas (Palestina e Egito) e entende (morando grande parte de sua vida nos Estados 
Unidos) como o pensamento colonialista influencia no estudo ocidental de enxergar o 
outro, propõe aos seus leitores novas formas de estudar o Oriente e suas características, 
sem ter como base a ótica ocidental de hegemonia cultural. 
 A partir dessa reflexão inicial e de levantamento de pontos cruciais para a 
compreensão da questão do “Orientalismo” iremos analisar quais intenções Edward Said 
possuía em relação à escrita da obra e quais assimilações podemos fazer tendo enfoque o 
Oriente e o Orientalismo. É dada atenção ao capitulo de introdução da obra de Said (1978) 
pelas qualidades de conter em sua estrutura atributos em relação às terminologias 
 
anteriormente citadas, como sua origem, sentidos e qualificações, assim como próprias 
informações a respeito do autor que nos apresenta sua visão “fora” dos padrões da ótica 
orientalista. 
 Edward Said estrutura seu texto apresentando algumas atribuições ao 
Orientalismo, dentre elas podemos encontrar a de cunho acadêmico, na qual é designado 
os estudos orientais constituídos de doutrinas e teorias. É compreensível que na 
perspectiva de Said (1990) este campo é o que detém um demasiado poder acerca da 
produção da ótica. É a partir das diversas produções acadêmicas em que se expandem 
essa relação de poder. “A questão é que, mesmo que não sobreviva como antigamente, o 
orientalismo continua a viver academicamente através de suas doutrinas e teses sobre o 
Oriente e o oriental” (SAID, 1990, p. 14). 
 Um outro sentido dado ao Orientalismo de Said (1990) é a de distinção ontológica 
e epistemológica, servindo de ponto de partida entre estudos do Oriente e Ocidente, tendo 
como resultado: teorias, épicos, romances, descrições sociais e relatos políticos a respeito 
do Oriente, dos seus povos, costumes, “mente”, destino e assim por diante. 
 A representação do próprio oriental reflete todo esse esforço em atribuir uma 
imagem boa ao Ocidente e ruim ao Oriente (de forma generalizada), estereotipando a 
região e ignorando sua multiplicidade cultural, linguística, religiosa e política. A ótica 
orientalista representada em obras, contos, teorias, épicos, romances, descrições sociais e 
relatos políticos auxiliam a perpetuação dessa imagem generalizadora e inferiorizada do 
oriental: 
(...) através de meios como a descoberta erudita, a reconstrução 
filológica, a análise psicológica e a descrição paisagística e sociológica, 
o orientalismo não apenas cria como mantém; ele é, em vez de 
expressar, urna certa vontade ou intenção de entender, e em alguns 
casos controlar, manipular e até incorporar, aquilo que é um mundo 
manifestamente diferente (ou alternativo e novo). (SAID, 1978, p. 24) 
 
 
 Gramsci identifica a hegemonia como uma forma de pensar nas relações de poder, 
o quanto a construção do discurso perpassa uma construção hegemônica que quer se 
estabelecer como uma verdade única. Essa noção de verdade única é o que o Ocidente 
 
tenta construir em relação ao Oriente. O Ocidente é o que importa, portanto, o Ocidente 
é a base e o Oriente é o restante. 
 Uma reflexão a partir das discussões presentes na obra, é de que a cultura pop 
também vem sendo por muito tempo um veículo em que esse perpetua esses estereótipos 
orientalistas em que influenciam o modo de ver os povos do Oriente e Ásia, dois exemplos 
em que se encontram algumas representações com esse viés são: 1) No filme Homem de 
Ferro, em que Tony Stark é capturado pelos terroristas do Os Dez Anéis (organização 
terrorista que atuava no Oriente Médio) e a versão original da música de abertura de 
Aladdin diz: “Oh eu venho de uma terra, de um lugar bem distante / onde circulam as 
caravanas de camelos / Onde cortam sua orelha / Se não gostam do seu rosto / É selvagem, 
mas ei, é o lar”. Representações de um povo e uma “cultura inferiorizada” por conta do 
seu arcadismo e barbárie comparado ao Ocidente, lugar exemplo de moralidade, 
racionalidade e civilidade. 
 De mulheres hiper sexualizadas, sem autonomia alguma, a homens extremamente 
violentos, radicais religiosos e terroristas, as características e estereótipos são dados a um 
vasto povo de uma enorme região e tomam como validação dessa representação 
generalizada qualquer acontecimento em que envolva qualquer povo do Oriente e que de 
alguma forma, possa ser comparada com a forma de civilidade do Ocidente. 
 No bojo dos acontecimentos geopolíticos em que se “enfrentam” Ocidente e 
Oriente, temos o ataque terrorista arquitetado pela Al Qaeda às torres gêmeas, o incidente 
em que proporções gigantescas sua transmissão perpassou continentes o embate da 
“guerra de civilizações” (assim como chamado e documentado pela CNN), limitando 
ainda mais o Oriente a um perigo para o mundo pelo seu uso sistemático de violência e 
terror, em que consistiu na necessidade de uma resposta como reunir forças aliadas ao 
Estados Unidos, esse que toma forma superior aos seus inimigos. 
 No texto de Helder Macedo, intitulado “Oriente, Ocidente e Ocidentalização: 
discutindo conceitos” e principalmente na obra de Said (1978), podemos notar um 
estímulo ao entender que o Orientalismo é uma construção de conhecimento referente a 
uma região através da manipulação das potências colonialistas que ali atuaram, que 
refletem seus interesses, sua cultura e política, e que toma forma de uma considerável 
dimensão da moderna cultura político-intelectual ao difundir saberes construídos por uma 
perspectiva diferente da que realmente se encontra no Oriente. “Talvez a tarefa mais 
 
importante de todas seria o estudo das alternativas contemporâneas para o orientalismo, 
que investigue como se podem estudar outras culturas e outros povos desde uma 
perspectiva libertária, ou não-repressiva e não-manipulativa” (SAID, 1978, p. 35). 
 A importância dessa obra no bojo dos acontecimentos do século XXI perpassa os 
conflitos culturais e geopolíticos, assim como é necessário darmos voz a autores como 
Said (1990), nos desvencilhando da ótica ocidental que produz e transmite representaçõescom objetivos e intenções baseadas em interesses próprios do Imperialismo. A forma de 
que eles nos apresentam os âmbitos nos quais os orientalistas perpetuam suas produções 
fomentam reflexões assim como anteriormente vista na mídia. Num contexto onde há 
essa falta informações fidedignas condizentes com a realidade, a necessidade de 
compreendermos e ignorarmos os pré-conceitos impostos e enraizados pelas potências 
mundiais onde se usa do saber (FOCAULT, 2004) é justificada pela “tarefa mais 
importante de todas seria o estudo das alternativas contemporâneas para o orientalismo, 
que investigue como se podem estudar outras culturas e outros povos desde uma 
perspectiva libertária, ou não-repressiva e não-manipulativa” (SAID, 1990, p. 35) 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 
1. MACEDO, Helder Alexandre Medeiros de. Oriente, Ocidente e Ocidentalização: 
Discutindo Conceitos. Revista da Faculdade do Seridó, v.1, n.0, jan./jun, p. 01-22, 2006. 
2. SAID, Edward. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. Tradução de 
Tomas Rosa Bueno. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, p. 13-39. 
3. VASCOUTO, Lara. Reconhecendo Racismo Anti-Oriental Através de Estereótipos 
Orientalistas na Cultura Pop. Nó de Oito. Disponível em: 
>http://nodeoito.com/estereotipos-orientalistas/< Acesso em: 16/6/2021

Continue navegando