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PROTEÇÃO À VIDA Mônica Sillan de Oliveira 8 GRATUITA Esta publicação não pode ser comercializada III REALIZAÇÃOAPOIO Ilustração de Carlus Campos Todos os direitos desta edição reservados à: Fundação Demócrito Rocha Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora CEP: 60.055-402 - Fortaleza-Ceará Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148 fdr.org.br | fundacao@fdr.org.br Copyright©2021 Fundação Demócrito Rocha FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR) Presidência Luciana Dummar Direção Administrativo-Financeira André Avelino de Azevedo Gerência Geral Marcos Tardin Gerência Editorial e de Projetos Raymundo Netto Análise de Projetos Aurelino Freitas, Emanuela Fernandes e Fabrícia Góis SECRETARIA DE PROTEÇÃO SOCIAL, JUSTIÇA, CIDADANIA, MULHERES E DIREITOS HUMANOS (SPS) Secretária de Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos - SPS Socorro França Coordenação Técnica PROARES III SPS Maria de Fátima Lourenço Magalhães Gerência Técnica do PROARES III Anete Morel Gonzaga Gerência de Fortalecimento Institucional do PROARES III Selma Maria Salvino Lôbo UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE) Gerência Pedagógica Viviane Pereira Coordenação de Cursos Marisa Ferreira Design Educacional Joel Lima Front-End Isabela Marques CURSO PROTEÇÃO SOCIAL: PROGRAMA INTEGRADO DE EDUCOMUNICAÇÃO Concepção e Coordenação Geral Cliff Villar Coordenação de Conteúdo Ana Lourdes Leitão Revisão Daniela Nogueira Projeto Gráfico, Edição de Design e Coordenação de Marketing Andrea Araujo Design Mariana Araujo, Miqueias Mesquita e Kamilla Damasceno Arte-terapia Joana Barroso Ilustrações Ana Luiza Travassos de Oliveira Carvalho, Anny Rammyli Nascimento da Silva, Antônia Travassos de Oliveira Carvalho, Bárbara Vazzoler Villar, Beatriz Vazzoler Villar, Bernardo Saraiva Pinheiro, Davi Bogea Caldas, Fernanda Vitória de Almeida Matos, Francisco Mateus Braga da Silva, Guilherme Araújo Carvalho, João Vazzoler Villar, João Victor Batista Veloso, Júlia Nogueira de Holanda, Luanna Madureira Marques, Lucas Mesquita Mororó, Lucas Sobreira de Araújo, Maia Alease Lima Oliphant, Maria Clara Negreiros Lobo, Maria Júlia Sousa de Oliveira, Mariana Negreiros Lobo, Mariana Vazzoler Villar, Mateus Saldanha Félix, Maurício Rafael Cipriano Gomes, Rafaela Microni Santos, Thalita Sophia Moreira da Silva, Yasmin Microni Santos, Yasmin Monteiro Gomes Bezerra, com intervenção de Carlus Campos Análise de Marketing Digital Fábio Júnior Braga Este curso é parte integrante do Curso de Capacitação sob o tema PROTEÇÃO SOCIAL na modalidade de Educação a Distância (EaD), em decorrência do Contrato celebrado entre a Fundação Demócrito Rocha e a Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos - SPS , sob o nº 143/20. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD Elaborado por Vagner Rodolfo da Silva - CRB-8/9410 P967 Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação / vários autores; organizado por Ana Lourdes Maia Leitão; vários ilustradores. - Fortaleza : Fundação Demócrito Rocha, 2021. 192 p. : il.; 26cm x 30cm. – (Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação ; 12v.) Inclui bibliografia e apêndice/anexo. ISBN: 978-65-86094-76-3 (Coleção) ISBN: 978-65-86094-83-1 (Fascículo 8) 1. Direitos Humanos. 2. Políticas Públicas. 3. Assistência Social. 4. Drogas. 5. Igualdade Racial. 6. Segurança Alimentar e Nutricional. 7. Proteção à Vida. 8. Direito das Mulheres. 9. População LGBTQIA+. 10. Pessoas com deficiência. I. Leitão, Ana Lourdes Maia. II. Título. III. Série. 2021-1549 CDD 341.4 CDU 341.4 Índice para catálogo sistemático: Direitos Humanos 341.4 Direitos Humanos 341.4 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 2 REFLEXÕES SOBRE PAZ E PROGRAMAS DE PROTEÇÃO À VIDA 3 BREVE ESTUDO SOBRE A MOTIVAÇÃO PARA A AMEAÇA À VIDA NO BRASIL 4 OS PROGRAMAS DE PROTEÇÃO À VIDA NO BRASIL E NO CEARÁ REFERÊNCIAS 116 117 118 121 127 Ilustração de Carlus Campos 1 116 | Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste Ilustração de Carlus Campos A vida é o bem mais precioso. Ter vida digna é o que todos nós desejamos. Este fascículo nos permite refletir sobre as motivações para atos aten- tatórios à existência humana, sejam crianças e adolescentes, sejam defensores e testemu- nhas. Conheceremos ainda a política de en- frentamento à violência letal, por meio dos Programas de Proteção à Vida, em âmbito nacional e no estado do Ceará. Esperamos que o presente conteúdo con- tribua com a disseminação dos Programas de Proteção e possibilite que eles se tornem mais acessíveis à população cearense. Neste caso, conhecimento pode significar salvar uma vida. INTRODUÇÃO 2 Curso Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação | 117 Antes de adentrarmos no conteú-do pertinente aos programas de proteção à vida, apresenta-mos uma breve reflexão acerca dos motivos pelos quais eles existem no Brasil e no mundo. Para tanto, é oportu- no que comecemos essa reflexão a partir da leitura de parte do discurso proferido pelo atual Dalai Lama por ocasião do re- cebimento do prêmio Nobel da Paz em 1989, quando ele explicita sua concepção REFLEXÕES SOBRE PAZ E PROGRAMAS DE PROTEÇÃO À VIDA de paz, inspirando o mundo acerca da ne- cessidade de colaborarmos com nossas atitudes individuais para um mundo mais pacífico. Ele não está isolado nessa forma de pensar a construção de um mundo pacífico, outros juntam-se à ideia de que, para construir um mundo em que as pes- soas vivam pacificamente, há de existir dignidade, ou seja, prescinde um conjun- to de fatores estruturais e conjunturais para que essa paz se concretize. “A paz, por exemplo, começa dentro de cada um de nós. Quando temos a paz interior, podemos estar em paz com os que estão à nossa volta. Quando a nossa comunidade está num estado de paz, ela pode partilhar essa paz com as comunidades vizinhas, e assim por diante. Quando sentimos amor e benevolência para com os outros, isso não faz apenas com que eles se sintam amados e respeitados, mas nos ajuda a desenvolver felicidade e paz interiores.” (14º DALAI LAMA, Tenzin Gyatso, líder espiritual do budismo tibetano, Discurso do Prêmio Nobel da Paz, 1989) O fato é que o mundo ainda não é esse local pacífico, como desejam os pacifistas e como sonhamos e a que aspiramos. Ain- da estamos num planeta em que crianças e adolescentes que tiveram seus direitos ameaçados ou violados, inclusive em ra- zão de sua conduta (Estatuto da Criança e do Adolescente), pessoas que defendem direitos ou que testemunharam situações de violações de direitos passam a ser víti- mas de ameaça de morte. Você, neste momento, deve estar se perguntando: como é possível que crian- ças, testemunhas e defensores, para ter direito a viver, precisem mudar sua forma de vida, como abandonar convivência fa- miliar, deixar casa, escola, trabalho, ami- gos, familiares, seu município e até seu estado de origem para sobreviver? Acredito que você deve concordar que a vida é o bem mais precioso. Essa con- cepção é o fundamento para a existência dos programas de proteção à vida: em pri- meiro lugar, proteger e garantir a integri- dade física das pessoas. Trata-se de uma política pública de alta complexidade no seu modo de estrutura e de operacionali- zação. Portanto, podemos dizer que se tra- ta de programas radicais, porque exigem mudanças radicais nas vidas protegidas, para cumprir com seus objetivos. Trata-se de fenômeno complexo, que requer me- didas complexas. Popularmente falando, dizemos que é “um mal necessário.” 3 118 | Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste BREVE ESTUDO SOBRE A MOTIVAÇÃO PARA A AMEAÇA À VIDA NO BRASIL Em razão da cultura de violência em que vivemos, a vida,para alguns, pode ser banalizada. Temos acompanhado, notadamente pela mídia, episódios que alimentam a triste estatística da violência letal, no nosso estado, no país e no mundo. É importante conhecermos um pouco do con- texto geral em que se encontram os seres humanos destinatários dos programas de proteção à vida. 3.1 SOBRE VÍTIMAS E TESTEMUNHAS QUEBRAREM A “LEI DO SILÊNCIO” Você já deve ter tido a oportunidade de as- sistir a alguma série ou filme que retrata a temática das pessoas que precisam ser co- locadas em programa de proteção à vida, como forma de garantir a integridade do informante. Em algumas situações, os pro- tegidos chegam a mudar identidade e são colocados em locais longe da incidência do ameaçador, mudando totalmente sua rotina. Na ficção isso parece ser algo muito simples, não é mesmo? No Brasil, assim como em vários paí- ses, a colaboração de vítimas e teste- munhas com investigação criminal pode ser fator para que elas ou seus parentes sofram perseguição, ameaça, represália, assassinato. Por medo, as pessoas não falam o que sabem, prevalecendo a “lei do silêncio”. Por outro lado, a ausência de provas torna os crimes impunes. Não encontramos dados oficiais do nú- mero de pessoas ameaçadas de morte no país em decorrência de terem sido vítimas ou testemunhas de crimes. Os registros pertinentes a essa ameaça são os casos que estão nos programas de proteção. O Programa de Proteção a Testemunhas e Vítimas foi criado e implementado no ano de 1998, em Pernambuco, pelo Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Popu- lares (Gajop), organização da sociedade ci- vil, à luz dos programas já existentes na Eu- ropa. Somente depois, o programa passou a ser implementado por meio da criação de núcleos nos estados, pelo Governo Federal em 1999. Essa proteção está prevista no ar- tigo 245 da Constituição de Federal de 1988. Ilustração de Mateus Saldanha Felix com intervenção de Carlus Campos Curso Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação | 119 Preconceito, discriminação e perseguição a militantes, defensores e ativistas dos di- reitos humanos é algo presente no mundo todo. As pessoas denominadas defensores/ as de direitos humanos são aquelas que se propõem a resistir contra as injustiças e exigir políticas governamentais que ga- rantam direitos fundamentais individuais e coletivos, por meio da participação em mo- vimentos políticos, sociais e humanitários. Muitas pessoas não compreendem que defender direitos humanos significa defen- der que os seres humanos tenham seus di- reitos garantidos, independentemente de origem, idade, sexo, cultura, posição social, orientação sexual ou religiosa. De acordo com o relatório da organi- zação Frontline Defenders (2020), o Brasil se mantém na 4ª colocação no ranking mundial dos países que mais matam ati- vistas e defensores, com 24 assassinatos, ao lado de Colômbia (64) e Filipinas (43). Dentre as 24 vítimas letais, despontam 10 indígenas, confirmando que a maioria dos atentados ocorreu contra defensores das questões indígenas, de direito à ter- ra e meio ambiente, também constatado pelo Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos (2017). O que significa ser defensor/a de direi- tos humanos? De acordo com a Organiza- ção das Nações Unidas (ONU): “toda pessoa (física ou jurídica), grupo social, instituição/organização social ou movimento social que promove, protege e garante os Di- reitos Humanos e que em função dessas ativi- dades encontra-se em situação de risco e/ou vulnerabilidade” (1998). São as pessoas que aumentam o cír- culo de proteção para além dos seus afe- tos e familiares e passam a se dedicar à defesa de uma causa de relevância hu- manitária e por justiça social, a exemplo das/os que lutam pelos direitos econô- micos, sociais e culturais e combatem toda forma de iniquidade, toda forma de discriminação, militam pela garantia do direito à vida digna às crianças, pessoa idosa, povos tradicionais, quilombolas, mulheres, LGBTQI+, povos indígenas e in- cessante luta pela efetivação de um esta- do democrático de Direito. Marielle Francisco da Silva, conhe- cida como Marielle Franco, socióloga e vereadora do Rio de Janeiro pelo Partido Socialismo e Liberdade (Psol), foi morta no dia 14 de março de 2018 por autoria, até a atual data, desconhecida e sem pu- nição. A ativista lutava pelas pautas em defesa dos direitos da população LGBTI e das mulheres pretas e faveladas. O Caso Marielle junta-se ao de muitos outros ati- vistas, que tiveram igualmente suas vidas ceifadas em decorrência das suas lutas: Chico Mendes, Irmã Dorothy, Emyra Wa- jãpi, e mais cerca de 700 ativistas desde o início deste século. A quem a luta dos defensores de di- reitos humanos incomoda? Empresas transnacionais, grandes grupos econô- micos (mineradoras, construtoras etc.), agronegócio, grupos de milícias, adep- tos de grupos ultraconservadores e atu- almente, grupos extremistas políticos, dentre outros. 3.2 SOBRE A PERSEGUIÇÃO CONTRA DEFENSORES DE DIREITOS HUMANOS Ilustração de Mateus Saldanha Felix com intervenção de Carlus Campos 120 | Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste A partir da década de 1980 as causas ex- ternas (homicídio, acidente por transporte e suicídio) passaram progressivamente a ocupar as razões da mortalidade juvenil, responsáveis por mais da metade (52,9%) do total de mortes dos jovens do País. A partir de 2011, esse percentual só vem se elevando. Foram 18.436 crianças e jovens (de 11 a 19 anos de idade) mortos, ou seja, 51 assassinatos a cada dia, o que represen- ta oito chacinas da Candelária diariamente. Essa violência letal tem um público per- fil “alvo” prioritário: sexo masculino, raça negra, faixa etária entre 15 e 17 anos, com ensino fundamental incompleto, morador da capital, que tem a genitora como prin- cipal referência familiar, renda familiar de até um salário mínimo, e a ameaça se deve ao envolvimento com o tráfico e o desafio mais atual – as facções criminosas. A leta- lidade da população adolescente/jovem “apresenta taxa de óbitos por agressão por 100 mil habitantes de 30,0 para brancos, contra 82,0 para pretos ou pardos, uma taxa que chega a ser 2,7 vezes maior do que a para brancos em 2010.” (p. 219). O Relatório sobre Violência Letal con- tra as Crianças e Adolescentes do Brasil, elaborado pela Faculdade Latino-Ameri- cana de Ciências Sociais (Flacso), Brasil (2015), relata que: “(...) a cada 24 horas, 29 crianças e adoles- centes entre 1 e 19 anos de idade são assas- sinados no Brasil. A grande maioria das víti- mas é negra. Ao final de um ano, a contagem chega a 10.520 vítimas fatais. Se contarmos o período entre 1980 a 2013 este número cresceu 475%, e segue em tendência de alta”. (Fórum Social Mundial – 2018) De acordo como a última edição do Ín- dice de Homicídios na Adolescência (IHA), entre 1996 e 2017, 191 mil crianças e ado- lescentes de 10 a 19 anos foram vítimas de homicídio no Brasil. A Região Nordeste apresentou o índice mais elevado: 6,50. Dentre os estados, destaca-se o Ceará em primeiro (1º) lugar no ranking nacional. Esta letalidade é resultante da soma de inúmeros fatores de risco, como a fragili- dade nas políticas públicas para infância e juventude em todas as setoriais (educação, lazer, cultura, emprego e renda), discrimi- nações territoriais, desigualdade de ren- da, e crise na saúde mental jovem, com o avanço do crack/outras drogas e do tráfico de drogas na capital, corroborando com a ótica apresentada pelo documento Juven- tudes e infancias en el escenario latinoame- ricano y caribeño actual (CLACSO, 2018). Essas e outras informações, de maneira signi- ficativa, revelam que violência, em especial o homicídio por arma de fogo tem predominân- cia entre jovens, negros, pobres e moradores de zonas periféricas. Por essa razão, fica evi- dente ser o mesmo impeditivo que parcela significativa dos jovens brasileirosusufrua dos avanços sociais e econômicos alcançados na última década. Ao mesmo tempo, evidenciava o fracasso de toda sociedade em aproveitar o potencial de talentos desaparecido como a morte de jovens. (Feffermann et. al, 2018, p.71) 3.3 SOBRE A VIOLÊNCIA LETAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES Figura 2: Índice de Letalidade de adolescentes por estado -IHA 2014 1º Ceará 2º Alagoas 3º Espírito Santo 4º Bahia 5º Rio Grande do Norte 6º Paraíba 7º Piauí 8º Sergipe 9º Maranhão 10º Goiás 12º Rio de Janeiro 25º São Paulo 8,71 8,18 7,79 7,46 7,40 6,44 5,57 5,38 5,01 4,71 4,28 1,57 Estados com IHA mais alto 4 Curso Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação | 121 OS PROGRAMAS DE PROTEÇÃO À VIDA NO BRASIL E NO CEARÁ Os Programas de Proteção à Vida estão previstos tanto na Constituição Federal de 1988 como em decretos, leis fede- rais e estaduais, que se fundamentam no Decreto Federal n.º 7.037/2009, o qual institui o Programa Nacional de Direitos Humanos 3 (PNDH 3): “IV - Eixo Orientador IV: Segurança Pública, Acesso à Justiça e Combate à Violência: Diretriz 15: Garantia dos direitos das vítimas de crimes e de proteção das pessoas ameaçadas. Objetivo estratégico I: Instituição de um sistema federal que integre os programas de proteção. Objetivo estratégico II: Consolidação da po- lítica de assistência a vítimas e a testemu- nhas ameaçadas. Objetivo estratégico III: Garantia da proteção de crianças e adolescentes ameaçados de morte. Objetivo estratégico IV: Garantia de proteção dos defensores de Direitos Humanos e de suas atividades.” (p. 130 – 133) Por se tratar de um decreto, o PNDH 3 tem caráter norteador e não obrigatório. Não se trata, portanto, de política de Esta- do, podendo a qualquer tempo sofrer perda de efeito se assim desejarem o presidente da República e seus ministros ou ainda não ser cumprido na íntegra pelos governos es- taduais. No estado do Ceará, o Sistema Es- tadual de Proteção a Pessoas (Sepp) funda- menta-se no referido Programa assim como nas demais normativas que embasam a existência dos programas de proteção. Em nível federal, a organização dos programas de proteção também se dá dentro do Sistema Nacional de Proteção a Pessoas Ameaçadas, que se divide em três programas: • Programa Federal de Assistência a Vítimas e a Testemunhas Ame- açadas – Provita (Lei Federal n.º 9.807/1999, regulamentada pelo Decreto Federal n.º 3.518/2000); • Política Nacional de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos – PNPDDH (Decreto Federal n.º 6.044/2007) e Programa de Prote- ção aos Defensores de Direitos Hu- manos – PPDDH (Decreto Federal n.º 8.724/2016); • Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte – PPCAAM (Decreto Presi- dencial 6.231/2007; Decreto Fede- ral n.º 9.579/2018 -vigente) – Cria- do em 2003. Ilustração de Thalita Sophia Moreira da Silva com intervenção de Carlus Campos 122 | Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste ticas, atos normativos, projetos e programas destinados à prestação de proteção especiali- zada, diferenciada, complementar e subsidiária às vítimas e testemunhas, aos defensores de di- reitos humanos, às crianças e aos adolescentes ameaçados de morte, e aos seus familiares, aos servidores públicos civis e militares ameaçados ou vítimas de violência, e a suas famílias, e de- mais pessoas ameaçadas, tendo como objetivo a integração e o fortalecimento dos Programas de Proteção e do Centro de Referência e Apoio à Vítima de Violência e o fiel cumprimento dos fins a que se destinam. (Art. 1) O Sepp é composto pelos seguintes programas de proteção à vida: • Programa de Proteção a Vítimas e a Testemunhas Ameaçadas no Es- tado do Ceará – Provita/CE; • Programa Estadual de Proteção aos Defensores dos Direitos Huma- nos – PEPDDH/CE; • Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte – PPCAAM/CE; • Programa de Proteção Provisória (PPpro). Além dos quatro programas de pro- teção, o Sepp tem em sua composição o Programa Estadual de Apoio à Vítima de Violência e o Centro de Referência e Apoio à Vítima de Violência – Cravv (Lei Estadual n.º 14.215/2008). O Cravv tem por finali- dade dar apoio psicossocial e orientação jurídica às vítimas, além de “apoiar ações governamentais que busquem a redução dos efeitos traumáticos da violência sofrida, com o intuito de romper os ciclos de violência”. (Art. 15) O Sistema conta ainda com o Comitê Estadual de Proteção a Pessoas – Coepp, “órgão colegiado de caráter normativo, consultivo, articulador e orientador, responsável pelo fortalecimento do Sistema Estadual de Proteção a Pessoas” (Art. 7º). Esse Comitê é composto de for- ma mista por representações, integrando secretarias, conselhos gestores dos pro- gramas de proteção, entidades executo- ras, coordenações das equipes, além dos conselhos estaduais dos direitos humanos e da criança e do adolescente. Importante ressaltar que todos os pro- gramas de proteção no Ceará, com exce- ção do PPpro, são executados de forma tripartite, congregando a parceria entre governos Federal e Estadual e organização da sociedade civil. O Sistema Estadual de Proteção a Pes- soas do Estado do Ceará (Sepp), criado pela Lei n.º 16.962/19, além dos três programas, também existentes no sistema federal, tem um quarto programa de proteção em caráter provisório. O Sepp constitui-se como: “[...] conjunto articulado de órgãos e entidades da Administração Pública direta e indireta e da sociedade civil, ações, serviços, planos, polí- Ilustração de Bernardo Saraiva com intervenção de Carlus Campos Curso Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação | 123 O Provita foi o primeiro programa a ser criado e implementado em nível nacional e estadual. No Ceará foi implementado, mediante Lei Estadual n.º 13.193, de 10 de janeiro de 2002, regulamentada pelo De- creto Estadual n.º 26.721, de 20 de agosto de 2002, e suas alterações, tendo por fina- lidade aplicar medidas de proteção para “vítimas ou por testemunhas de crimes que estejam coagidas ou expostas a grave ame- aça em razão de colaborarem com a inves- tigação ou processo criminal.” (Art. 2º) Para inclusão, é procedida avaliação prévia, por equipe técnica qualificada (assis- tente social, psicólogo e advogado) para esse fim, considerando os seguintes aspectos: • a gravidade da coação ou da amea- ça à integridade física ou psicológi- ca da vítima ou testemunha; • a dificuldade de preveni-las ou repri- mi-las pelos meios convencionais e • a sua importância para a produção da prova no processo. A inclusão é voluntária, mas as normas estabelecidas precisam ser cumpridas, so- bretudo as de segurança. Do contrário, a pessoa não poderá permanecer no Progra- ma. A proteção, além de atender à pessoa diretamente ameaçada, pode ser esten- dida aos familiares e seus dependentes, desde que tenham convivência com a/o ameaçada/o. O Programa não se aplica a condenados em cumprimento de pena, in- diciados ou acusados sob prisão cautelar. O ingresso pode ser feito pelas seguin- tes vias: • Interessado; • Ministério Público; • Autoridade policial que conduz a investigação criminal; • Juiz competente para a instrução do processo criminal; • Órgãos públicos e entidades com atribuições de defesa dos Direitos Humanos. O Provita dispõe de nove medidas que podem ser aplicadas isolada ou cumulati- vamente, dependendo de cada caso e de sua gravidade, conforme medidas cons- tantes no Art. 8º, a seguir: I - segurança na residência, incluindo o con- trole de telecomunicações; II - escolta e segurança nos deslocamentos da residência, inclusive para fins de trabalho ou para prestação de depoimentos; III - transferência de residência ou acomo- dação provisória em local compatível com a proteção; IV - preservação da identidade da imagem e dados pessoais; V - ajuda financeira mensal para prover as des- pesas necessárias a subsistência individualou familiar no caso de a pessoa protegida estar impossibilitada de desenvolver trabalho regular ou de inexistência de qualquer fonte de renda; VI - suspensão temporária das atividades funcionais sem prejuízo dos respectivos ven- cimentos ou vantagens quando servidor pú- blico ou militar, do Estado do Ceará; VII - apoio e assistência social, médica e psicológica; VIII - sigilo em relação aos atos praticados em virtude da proteção concedida; IX - apoio da Secretaria da Justiça e Cidadania para o cumprimento das obrigações civis e administrativas que exijam o comparecimen- to pessoal; (CEARÁ, 2002) O atendimento é feito processualmen- te, seguindo o seguinte formato: (1) Pré- -Triagem; (2) Inclusão (mediante Parecer Técnico Interdisciplinar da equipe técnica e deliberação do Conselho Deliberativo do Provita-CE – Condel-CE); (3) Atendimento aos usuários; (4) Desligamento. A inclusão no Programa depende da anuência da pessoa, ocorrendo a desis- tência por causa das normas rígidas. De- pendendo do grau de ameaça, pode ser necessária mudança de identidade, inclu- sive com alteração do nome. Geralmente há mudança de endereço, e o protegido pode receber ajuda financeira mensal- mente, nas situações em que esteja im- possibilitado de trabalhar. Há ainda apoio social e assistências médica e psicológica. 4.1 PROGRAMA ESTADUAL DE PROTEÇÃO A VÍTIMAS E A TESTEMUNHAS AMEAÇADAS – PROVITA/CE Ilustração de Bernardo Saraiva com intervenção de Carlus Campos SAIBA MAIS Conheça as principais garantias previstas na Constituição Federal, essenciais para o exercício da cidadania. http://www.planalto.gov.br/ccivil_ 03/constituicao/constituicao.htm 124 | Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste 4.2 PROGRAMA ESTADUAL DE PROTEÇÃO AOS DEFENSORES E DEFENSORAS DOS DIREITOS HUMANOS – PEPDDH/CE Este Programa foi implementado no Cea- rá, mediante Decreto Estadual n.º 31.059, de 22 de novembro de 2012 e suas altera- ções, apresentando um diferencial e gran- de desafio, em relação aos demais progra- mas de proteção, porque visa: [...] garantir a continuidade do trabalho do defensor, que promove e protege os direitos humanos, e, em função de sua atuação e ati- vidade nessas circunstâncias, encontra-se em situação de risco ou vulnerabilidade ou sofre violação de seus direitos. (Art. 2) Garantir proteção para que a “voz” do/a defensor/a (pessoa física ou jurídica) continue a reverberar, quando ela/e é alvo de atos que atentam contra sua integrida- de física, psíquica, moral ou econômica e contra suas liberdades e das pessoas do seu convívio, com a intencionalidade de impedir sua militância. O PPDDH executa uma dupla missão: a de proteger a vida da Liderança Política Comuni- tária mais a proteção de seu trabalho e de sua atuação no próprio local de luta e defesa dos Direitos Humanos - que se estende também a comunidade onde atua e exerce a liderança. [...] (SEDH/MJC, 2016). Considera-se ser “caso” do PEPDDH/CE a situação em que se constata gravidade da coação ou da ameaça, sem condições de prevenção ou repressão por esforços pró- prios ou quando mecanismos convencio- nais de segurança pública não solucionam. Vejamos as medidas aplicadas pelo Programa: “O PEPDDH/CE compreende, entre outras, as seguintes medidas, aplicáveis isolada ou cumulativamente, em benefício do defensor dos direitos humanos, de acordo com as es- pecificidades de cada caso: I - articulação com os órgãos envolvidos na solução das ameaças; II - acompanhamento de investigações e de- núncias; III - adoção de medidas visando à superação das causas estruturais que levaram à inclusão no PEPDDH/CE; IV - preservação do sigilo da identidade, ima- gem e dados pessoais; V - viabilização de apoio e assistência social, médica, psicológica e jurídica; VI - ajuda de custo provisória, caso o defensor dos direitos humanos esteja impossibilitado de desenvolver trabalho regular em função das razões que motivaram sua inclusão no Programa, constatada a inexistência de qual- quer fonte de renda; VII - apoio para o cumprimento de obrigações civis e administrativas que exijam compareci- mento pessoal; VIII - suspensão temporária das atividades funcionais, sem prejuízo dos respectivos ven- cimentos ou vantagens, quando servidor pú- blico civil ou militar estadual; IX - transferência de residência ou acomoda- ção provisória em local sigiloso, compatível com a proteção; X - promoção de capacitação do defensor para sua autoproteção; XI - articulação de audiências públicas para solução de conflitos; XII - divulgação do trabalho do defensor dos direitos humanos e do Programa; XIII - fornecimento, instalação e manutenção de equipamentos para a segurança pessoal, da sede da pessoa jurídica ou do grupo a que pertença; XIV - viabilização de proteção policial, em casos excepcionais;” (CEARÁ, 2012, Art.15, grifo nosso) Essas medidas de proteção são exe- cutadas a partir da articulação entre um conjunto de órgãos e sistemas (setoriais, conselhos e órgãos públicos) que devem atuar na origem e nas causas estruturais das ameaças, visando cessá-las. Importante ressaltar que um dos me- canismos de fortalecimento do ativismo do defensor dos direitos humanos con- siste em dar visibilidade, mobilizando a opinião pública, conquistando adesão e empoderamento da causa, e trazendo repercussão social impactante na vida da/o ativista (defensor/a). Curso Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação | 125 4.3 PROGRAMA ESTADUAL DE PROTEÇÃO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES AMEAÇADOS DE MORTE – PPCAAM/CE O Programa Estadual de Proteção a Crian- ças e Adolescentes Ameaçados de Morte – PPCAAM/CE foi o último programa de pro- teção a ser implementado no Estado. Sua implementação foi fruto de esforços em- preendidos pelos órgãos que compõem o Sistema de Garantia dos Direitos da Crian- ça e do Adolescente (SGD), por meio de seminários e audiências públicas, dentre outros mecanismos. É o Programa que guarda mais espe- cificidades, por se tratar de mecanismo de proteção à vida de crianças e adoles- centes, considerando: (1) sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimen- to, (2) ser sujeito de direitos, (3) desti- natária de proteção integral, (4) com absoluta prioridade, conforme Lei Fe- deral nº 8.069/1990. Em âmbito federal, criado em 2003, como estratégia de enfrentamento à vio- lência letal infantojuvenil. No Ceará foi instituído a partir do Decreto Estadual n.º 31.190, de 15 de abril de 2013, e imple- mentado por meio da parceria tripartite entre Governo Federal, Secretaria de Jus- tiça e Cidadania (Sejus-CE), e organização da sociedade civil Frente de Assistência à Criança Carente (FACC), responsável pela gestão até o ano de 2020. O PPCAAM/CE tem por objetivo: [...] a proteção da integridade física e psico- lógica, acompanhamento psicossocial e jurí- dico, bem como a reinserção social em local seguro de crianças e adolescentes ameaçados de morte, ou em risco de serem vítimas de ho- micídio, e de seus familiares, podendo rece- ber casos de permuta de outros PPCAAM’s das Unidades Federativas. (CEARÁ, 2013, Art. 2º) A “porta de entrada” da criança ou adolescente no Programa pode ocorrer pelos seguintes órgãos de defesa: • Conselho Tutelar; • Defensoria Pública; • Ministério Público; • Poder Judiciário. Importante ressaltar que a atuação da Defensoria Pública, enquanto solicitante, é iniciativa do Programa no Ceará, sendo adotada posteriormente em nível federal. O Programa dispõe de uma equipe alta- mente qualificada, composta por assisten- te social, psicólogo, advogado e educador social, além de uma Coordenação Técnica, que acompanha as ações programáticas. O trabalho toma por referência os protoco- los internacionais pactuados pelo Brasil, além das normativas nacionais, estaduais e Guias de Procedimentos estabelecidos pela Coordenação Nacional de Proteção de Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte, hoje incorporado ao Ministério daMulher, da Família e dos Direitos Humanos. Sob a responsabilidade dessa equipe, está a de analisar e emitir parecer acerca da in- clusão ou não da criança ou do adolescen- te, observando os seguintes critérios: I - a urgência e a gravidade da ameaça; II - a situação de vulnerabilidade do ameaçado; III - o interesse do ameaçado; IV - outras formas de intervenção mais adequadas; V - a preservação e o fortalecimento do vínculo familiar. (CEARÁ, 2013, Art. 6º) Dentre as ações do Programa, a primor- dial diz respeito à retirada da criança e/ou adolescente (em situação de ameaça) do local de risco, colocando-o numa condição de proteção. Essa proteção precisa cumprir ao que preceitua o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei Federal nº 8.069/1990), ainda que, para que isso ocorra, faça-se ne- cessária a perda de alguns direitos, como a convivência familiar e comunitária. Ilustração de Carlus Campos 126 | Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste Embora a prioridade para inclusão no Programa seja a modalidade familiar (acompanhado de todos os membros da família), há casos em que a família apre- senta impedimento e/ou implicações para essa mudança brusca de território, traba- lho, vida escolar dos demais membros, fragilidade dos vínculos, dentre outras inúmeras situações que acarretam a colo- cação na modalidade de acolhimento ins- titucional, desde que não se obtenha êxito sequer na colocação em família extensa. A partir do momento em que é dado esse passo no fluxo de atendimento, considera- -se que a criança/adolescente sai da situ- ação de ameaça e passa a estar em prote- ção e, portanto, em “reinserção social”. Para essa reinserção social acontecer de fato, o PPCAAM encaminha os protegi- dos para equipamentos da rede de prote- ção local, quais sejam: escola, Centro de Referência da Assistência Social, posto de saúde, rede de acolhimento institucional, emprego (nos casos elegíveis) etc. Nes- se aspecto, configura-se grande desafio o atendimento qualificado, à luz do que apregoa o Estatuto, bem como a Resolução 113/2006 do Conselho Nacional dos Direi- tos da Criança e do Adolescente (Conanda), no que remete ao trabalho intersetorial que deve ocorrer entre os órgãos. Concebi- da a intersetorialidade do seguinte modo: A política de atendimento dos direitos da crian- ça e do adolescente far-se-á através de um con- junto articulado de ações governamentais e não-governamentais, da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. (Art. 86). O Sistema de Garantia dos Direitos da Crian- ça e do Adolescente constitui-se na articu- lação e integração das instâncias públicas governamentais e da sociedade civil, na aplicação de instrumentos normativos e no funcionamento dos mecanismos de promo- ção, defesa e controle para a efetivação dos direitos humanos da criança e do adolescen- te, nos níveis Federal, Estadual, Distrital e Municipal. (Art. 1º, grifos nossos) No tocante ao acolhimento institucio- nal de crianças e adolescentes incluídos no PPCAAM, por muitas vezes, dada a situação da ameaça, precisam ser atendidos em ter- ritório diferente da sua origem. Para isso, busca-se a Central de Vagas de acolhimento institucional (Política Estadual da Assistên- cia Social). Essa prática respalda-se na Re- solução Conjunta nº 2, de 16 de setembro de 2010, do Conselho Nacional da Assistência Social – CNAS/ Conselho Nacional dos Direi- tos da Criança e do Adolescente – Conanda: [...] podem ser firmados acordos formais en- tre municípios de diferentes regiões, a fim de viabilizar a transferência da criança ou ado- lescente ameaçado para outro município, de modo a possibilitar seu acolhimento em ser- viços distantes de sua comunidade de origem e, assim, facilitar a sua proteção. (Art. 1º.) Ainda assim, algumas unidades re- latam temor em receber os casos por questões de segurança na própria unida- de. Todavia, seguindo o mapa de risco, a equipe técnica do Programa somente faz a colocação de um protegido numa uni- dade de acolhimento quando aquele lo- cal não oferece risco. 4.4 PROGRAMA DE PROTEÇÃO PROVISÓRIA (PPpro) O PPpro foi criado no fim de 2020, após amplo processo de debate com órgãos da garantia dos direitos humanos e prin- cipalmente os envolvidos nos programas de proteção, que deparam com a proble- mática do tempo de espera para aplica- ção dos procedimentos avaliativos, que determinem ou não a inclusão nos pro- gramas de proteção. A questão girava em torno de encon- trar um mecanismo de proteção emer- gencial para casos que prescinde o afas- tamento urgente do local da ameaça, ao mesmo tempo em que, para ingressar em quaisquer dos três programas de prote- ção, faz-se necessário seguir todo o pro- tocolo dos guias e normativas. A solução foi a criação de um “progra- ma que garante atendimento provisório e emergencial a pessoas em situação de ameaça de morte, independentemente do perfil (defensores; crianças e adolescentes; e vítimas e testemunhas)”. Trata-se de uma experiência piloto, jamais implementada no país, contando com recurso exclusiva- mente do Governo do Estado do Ceará. O programa conta com uma equipe exclusiva, plantonista, que atenderá as demandas oriundas do Sistema de Jus- tiça, autoridades policiais, conselheiros tutelares e órgãos de defesa dos direitos humanos. As situações serão avaliadas e os casos elegíveis serão colocados em proteção provisória durante 30 dias, prorrogáveis mediante parecer da equi- pe. Durante esse intervalo, o caso será estudado pela equipe do Programa que a situação melhor se adapte. A previsão é de atendimento de 80 pessoas por ano. (https://www.ceara.gov.br/) Ilustração de Yasmin Monteiro Gomes Bezerra com intervenção de Carlus Campos Curso Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação | 127 INFORMAÇÕES IMPORTANTES Na SPS, o Núcleo de Apoio aos Programas de Proteção (Napp), vinculado à Coordenadoria de Cidadania, é o setor responsável pela gerência dos programas que são executados por organizações da sociedade civil selecionadas por edital de chamamento público. O Núcleo de Assessoria dos Programas de Proteção tem por objetivo assessorar e fornecer suporte técnico para os programas de proteção do âmbito do Estado, fortalecendo o diálogo entre os programas para integrá-los com o Sistema de Segurança Pública e o Sistema de Justiça e a rede socioassistencial. A inserção nesses programas ocorre a partir de indicação da Ouvidoria Estadual de Direitos Humanos, Ministério Público, Defensoria Pública, pelo Centro de Referência e Apoio à Vítima de Violência e pelo próprio Napp, estes dois últimos ligados à SPS. Informações: (85) 98895-5571 e napp.sps@sps.ce.gov.br BRASIL. Lei Federal Nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. 1990. Brasília. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em: 28 fevereiro 2021. BRASIL. Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República. B823 Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) / Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República - Brasília: SEDH/PR, 2009 224p.: il. 1. Direitos Humanos – Brasil I. Título CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (Brasil). Resolução nº 113, de 19 de abril de 2006. Dispõe sobre os parâmetros para a institucionalização e fortalecimento do Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente. Brasília, 2006. Disponível em: <http://www.mprs.mp.br/infancia/legislacao/ id2410.htm>. Acesso em: 20 maio 2014. CEARÁ. Lei n.º 16.962, de 27 de agosto de 2019. Dispõe sobre a criação do Sistema Estadual de Proteção a Pessoas do Estado do Ceará – SEPP. Fortaleza. 2019. Disponível em: < https://belt.al.ce.gov.br/index.php/legislacao- do-ceara/organizacao-tematica/defesa-social/ item/6740-lei-n-16-962-27-08-19-d-o-28-08-19>. Acesso em: 28 fevereiro 2021. Referências Ilustração de Yasmin Monteiro Gomes Bezerracom intervenção de Carlus Campos CEARÁ. Decreto Estadual n.º 26.721, de 20 de agosto de 2002. Regulamenta o Programa Estadual de Proteção a Vítimas e a Testemunhas Ameaçadas – Provita/CE, e suas alterações. Fortaleza. 2002. Disponível em: < https://www. jusbrasil.com.br/diarios/5375637/pg-1-caderno- unico-diario-oficial-do-estado-do-ceara-doece- de-23-08-2002>. Acesso em: 28 fevereiro 2021. CEARÁ. Decreto Estadual n.º 31.059, de 22 de novembro de 2012. Institui o Programa Estadual de Proteção aos Defensores e Defensoras dos Direitos Humanos – PEPDDH/CE. Fortaleza. 2012. Disponível em: <https://www.jusbrasil.com.br/ diarios/43615518/doece-caderno-unico-27-11- 2012-pg-4 >. Acesso em: 28 fevereiro 2021. CEARÁ. Decreto Estadual n.º 31.190, de 15 de abril de 2013, que institui o Programa Estadual de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte – PPCAAM/CE. Fortaleza. 2013. Disponível em: <https://www.jusbrasil.com. br/diarios/53304355/doece-caderno-1-18-04-2013- pg-1 >. Acesso em: 28 fevereiro 2021. ONU Brasil. Dez faces da luta pelos Direitos Humanos no Brasil. Brasília. 2012. Disponível em: <https://www.yumpu.com/pt/document/ read/14698417/dez-faces-da-luta-pelos- direitos-humanos-no-brasil-onu-brasil >. Acesso em: 28 fevereiro 2021. Fonte: https://www.sps.ce.gov.br/secretarias- -executivas/cidadania-e-dh/coordenadoria- -de-cidadania/programas-de-protecao-a- -pessoa-ameacada/ III REALIZAÇÃOAPOIO Autora Mônica Sillan de Oliveira É graduada em Serviço Social pela Universidade Estadual do Ceará (1998), Mestra em Planejamento e Políticas Públicas – Uece (2014) e Especialista em Infâncias e Juventudes pelo Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales (CLACSO Buenos Aires, 2019). É coordenadora geral da OSC – Frente de Assistência à Criança Carente – FACC, consultora em Políticas Públicas para Garantia dos Direitos Humanos e Sociais e professora conteudista das Escolas de Conselhos do Ceará (Idesco/Uece) e da Amazônia Legal (Instituto Federal de Rondônia (2015-2019). É atual presidenta (2019-2021) e ex- presidenta (2012-2014) do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente-CE. Presidiu o Conselho Municipal de Assistência Social de Fortaleza. É consultora do “Diagnóstico da situação de atenção às crianças na primeira infância no Sistema de Justiça brasileiro”, pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud/ ONU) e Conselho Nacional de Justiça (2020/2021), consultora do Sistema de Informação para Infância e Adolescência (Sipia CT Web) pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud/ ONU) para a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (2013/2014) e ex-membro e coordenadora pela Região Nordeste e cofundadora do Fórum Nacional das Entidades Gestoras do Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM). Membro do Comitê Estadual de Proteção a Pessoas (Coepp), e professora tutora do curso “O Conselho Tutelar no combate ao Trabalho Infantil”, pela Escola Superior do Ministério Público da União (2017 e 2018). É diretora de Projetos da Associação de Ex-Conselheiros e Conselheiros da Infância (AECCI) do Rio de Janeiro. Ilustradores (as) Desenhos originais das crianças Ana Luiza Travassos de Oliveira Carvalho, Anny Rammyli Nascimento da Silva, Antônia Travassos de Oliveira Carvalho, Bárbara Vazzoler Villar, Beatriz Vazzoler Villar, Bernardo Saraiva Pinheiro, Davi Bogea Caldas, Fernanda Vitória de Almeida Matos, Francisco Mateus Braga da Silva, Guilherme Araújo Carvalho, João Vazzoler Villar, João Victor Batista Veloso, Júlia Nogueira de Holanda, Luanna Madureira Marques, Lucas Mesquita Mororó, Lucas Sobreira de Araújo, Maia Alease Lima Oliphant, Maria Clara Negreiros Lobo, Maria Júlia Sousa de Oliveira, Mariana Negreiros Lobo, Mariana Vazzoler Villar, Mateus Saldanha Félix, Maurício Rafael Cipriano Gomes, Rafaela Microni Santos, Thalita Sophia Moreira da Silva, Yasmin Microni Santos, Yasmin Monteiro Gomes Bezerra, que participaram da Oficina de Ilustração com Joana Brasileiro Barroso, com intervenção artística de Carlus Campos. Ilustração de Thalita Sophia Moreira da Silva com intervenção de Carlus Campos
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