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PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Definir qualidade de vida no trabalho, estabelecendo suas relações com a saúde mental. • Relacionar os estressores no trabalho com suas conse- quências à saúde mental e desempenho do trabalhador. • Conhecer aspectos da síndrome de burnout ou estafa profissional. • Identificar aspectos relacionados à depressão no trabalho. • Reconhecer o alcoolismo como doença que exige inter- venção das organizações. • Descrever as estratégias a serem empregadas por indiví- duos e organizações para a promoção da saúde mental. • Refletir sobre o papel dos dirigentes das organizações na prevenção e no combate aos transtornos mentais no contexto do trabalho. Trabalho, saúde e qualidade de vida A síndrome de Burnout ou estafa profissional O alcoolismo e suas implicações Satisfação no trabalho e saúde mental do trabalhador Depressão: o mal do século Dra. Waldeciria Souza da Costa Saúde, Satisfação X Transtornos Mentais no Trabalho Trabalho, Saúde e Qualidade de Vida Não é difícil para você, que trabalha ou mesmo observa entre seus parentes, verificar a grande ocorrência de doenças decorrentes do trabalho que a pessoa realiza. Em geral, é mais fácil perce- ber os males físicos, sendo que, muitas vezes, os males psicológicos chamam menos atenção, pois, quando aparecem, há uma tendência em respon- sabilizar a própria pessoa pelas dificuldades, por vezes, considerada fraca, preguiçosa ou com falta de força de vontade. Contudo, você já se pergun- tou o quanto as condições de trabalho podem estar afetando o bem-estar das pessoas? Muitas empresas têm se preocupado em criar ambientes agradáveis, buscando o comprometi- mento de seus funcionários para a melhoria do desempenho e a manutenção de sucesso orga- nizacional. Ao mesmo tempo, ainda prevalecem cenários em que as doenças decorrentes do tra- balho se proliferam. 87UNIDADE 3 Nesta unidade, abordaremos alguns aspectos ligados à saúde mental, discutindo, inicialmente, questões de saúde e qualidade de vida no trabalho, em seguida, esclarecendo sobre os principais fato- res capazes de minar a saúde mental das pessoas e que contribuem para quadros de estresse, depres- são, síndrome de burnout e alcoolismo, dentre outros transtornos. Ao tratar desses transtornos, procuraremos esclarecer sobre as suas caracte- rísticas, causas e modo de enfrentamento pelos indivíduos e organizações. Por fim, apresentaremos o tema da satisfação e insatisfação no trabalho, por acreditarmos na sua importante ligação com a saúde mental. Existem outros fatores muito importantes que não serão aqui tratados e você poderá se infor- mar sobre eles orientando-se pelas indicações bibliográficas e material complementar, como é o caso do assédio moral e do sexual no trabalho, dos transtornos de personalidade e do fenômeno dos trabalhadores workaholics, pessoas “viciadas em trabalho” que perdem a noção dos prejuízos causados pelo excesso de trabalho em suas vidas. As pressões cada vez mais fortes por capaci- tação, desenvolvimento de competências, atuali- zação e risco de desemprego em tempos de crise trazem um nível de insegurança aos trabalhadores que coloca em risco a sua saúde física e mental. Assim como afirma Zanelli (2010, p. 26), “ [...] as intensas e céleres mudanças no mundo do trabalho têm agravado os níveis de estres- se e os danos à saúde dos trabalhadores, espe- cialmente a partir do final do século passado. Para o psicanalista Christophe Dejours (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994), um dos principais estudiosos da psicopatologia do trabalho, a organização do trabalho imposta ao trabalhador é a fonte de tensão responsável pelos transtornos e desequilíbrios psíquicos, o que ele chama de trabalho fatigante. Por outro lado, quando o trabalho é livremente escolhido ou organizado, ele é fonte de equilíbrio, chamado pelo autor de trabalho equilibrante. Zanelli (2010) aponta como causadora de pres- sões ao trabalhador a busca por oportunidades possibilitadas pela internet, a participação em hierarquias horizontalizadas (menos níveis de hierarquia) e o desenvolvimento de equipes, que exigem pessoas “multifunções”, cujos altos desem- penhos são esperados em menor tempo possível. A situação do trabalhador fica ainda mais complicada em épocas de crise, que trazem de- semprego e insegurança extra. Apesar dos estudos e dos manuais de administração sinalizarem para a necessidade de comprometimento do colabora- dor com a organização face ao ambiente compe- titivo, essa meta passa a ser um enorme desafio para os gestores. Como conseguir o comprometimento de fun- cionários em um contexto cada vez mais indivi- dualista, em que cada indivíduo procura manter- -se em seu posto de trabalho? É uma situação que evidencia relações interpessoais e intergrupais conflituosas e um campo propício para a dete- rioração da saúde do trabalhador. Jackson e Polanyi (2002 apud ZANELLI, 2010) destacam alguns aspectos, na perspectiva dos de- terminantes sociais da saúde, associados aos locais e às condições de trabalho que têm efeitos negativos sobre a saúde do trabalhador: altos ní- veis de estresse; insegurança; ritmo de trabalho; controle; turno, participação e relações; desequi- líbrio entre vida pessoal e trabalho. Você pode verificar, caro(a) aluno(a), que em nossa vida diária, muitas vezes, somos vítimas de um ritmo intenso de trabalho e de busca por atender a inúmeras expectativas na vida familiar, social e, mais ainda, no trabalho. Nossa qualida- de de vida fica comprometida e muitas doenças físicas e psicológicas podem surgir. 88 Saúde, Satisfação X Transtornos Mentais no Trabalho Fatores de Qualidade de Vida no Trabalho Neste ponto, cabe explicitarmos o que significa falar da qualidade de vida, um conceito já estabe- lecido há alguns anos pela Organização Mundial de Saúde e que pode ser definido como: “ [...] o desenvolvimento de hábitos saudá- veis, enfrentamento de tensões cotidianas, consciência dos impactos dos fatores do ambiente, desenvolvimento permanente do equilíbrio interior e na relação com os outros (ZANELLI, 2010, p. 28). Em se tratando do contexto de trabalho, a quali- dade de vida (conhecida pela sigla QVT) refere-se ao grau de bem-estar físico, psicológico e social que uma pessoa experimenta no seu ambiente de trabalho (GARCIA; SÁEZ, 1995 apud ZANELLI, 2010). Segundo Chiavenato (2008, p. 487), a QVT envolve fatores diversos, psicossociais e ambien- tais, dentre eles: 1. A satisfação com o trabalho executado. 2. As possibilidades de futuro na organização. 3. O reconhecimento pelos resultados alcan- çados. 4. O salário percebido. 5. Os benefícios auferidos. 6. O relacionamento humano dentro da equi- pe e da organização. 7. O ambiente psicológico e físico de trabalho. 8. A liberdade de atuar e responsabilidade de tomar decisões. 9. As possibilidades de estar engajado e de participar ativamente. É possível afirmar que, se esses fatores forem aten- didos satisfatoriamente, serão importantes para a prevenção de doenças de vários tipos. As Enfermidades Profissionais As enfermidades profissionais ou doenças laborais são aquelas contraídas pela exposição do traba- lhador a fatores de risco em seu local de trabalho. Segundo dados publicados em 2013, a OIT – Or- ganização Internacional do Trabalho (SARRES, 2013) lista as principais causas de doenças profis- sionais no Brasil: a) Pneumoconiose – doença do pulmão em trabalhadores expostos a partículas de pó de sílica (matéria-prima do vidro e do cimento). b) Doenças musculoesqueléticas – doenças ligadas à perda de movimentos devido a problemas nos nervos, tendões, músculos e estruturas de suporte do corpo, como a co- luna (as denominadas LER – Lesão por Es- forço Repetitivo, também chamadas DORT – Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho). c) Transtornos mentais ou comportamentais – depressão, ansiedade e transtorno do pâ- nico, dentre outras. Nogueirae Ferreira (2013) apresentam dados do Instituto Nacional de Previdência Social (INSS) re- ferentes a 2012, em que estão especificadas as por- centagens dos afastamentos por grupos de doenças, com pagamento de auxílio doença. Esses dados, apresentados no Quadro 1, podem ser interessantes para verificarmos a prevalência dos tipos de doença apresentados entre os brasileiros e que resultam em afastamento do trabalho. Chama a atenção a grande prevalência de trans- tornos mentais, estando em 4º lugar entre os mo- tivos de afastamento do trabalho. Para atender aos principais objetivos da nossa disciplina, traremos a você, futuro(a) gestor(a), algumas informações im- portantes a respeito dos transtornos mentais, cada vez mais presentes nos ambientes de trabalho. 89UNIDADE 3 Quadro 1 – Porcentagem dos afastamentos por grupo de doenças no ano de 2012, segundo a Previdência Social (INSS) - (BRASIL, 2013). GRUPOS DA CID 10* % Lesões, envenenamentos e algumas outras consequências de causas externas. 24,47 Doenças do tecido osteomuscular e conjuntivo. 18,68 Doenças do aparelho digestivo. 9,67 Transtornos Mentais. 9,39 Doenças do aparelho circulatório. 7,94 Doenças do aparelho geniturinário. 4,07 Neoplasias (Tumores). 3,19 Doenças da gravidez, parto e puerpério. 3,12 Doenças do sistema nervoso. 2,15 Doenças dos olhos e anexos. 1,98 *CID-10: Classificação Internacional de Doenças, publicada pela Organização Mundial de Saúde - OMS. Fonte: adaptado de Nogueira e Ferreira (2013). Transtornos Mentais no Trabalho O estresse (stress, em inglês) é entendido como “ [...] um conjunto de reações físicas, químicas e mentais de uma pessoa decorrente de estí- mulos ou estressores que existem no ambiente. É uma condição dinâmica que surge quando uma pessoa é confrontada com uma oportuni- dade, restrição ou demanda relacionada com o que ela deseja (CHIAVENATO, 2008, p. 473). Conjunto de reações que ocorrem em um orga- nismo quando está submetido a um esforço de adaptação (SELYE, 1936 apud FRANÇA; RODRI- GUES, 2011, p. 18). Podemos verificar nas duas definições que o termo em si não possui um teor positivo ou nega- tivo, embora seja utilizado de forma quase sempre negativa, ou seja, o estresse em si não é bom e nem ruim e é impossível e indesejável eliminá-lo (FRANÇA; RODRIGUES, 2011). Talvez, essa afir- mação surpreenda você, mas vamos à explicação. As condições de trabalho inadequadas e as pres- sões do mundo globalizado ocasionam doenças que trazem prejuízos para todos os tipos de or- ganizações, públicas ou privadas. Em termos dos transtornos mentais ou psicológicos, existem aque- les transtornos em decorrência do estresse, da de- pressão, transtornos de ansiedade, transtornos do estresse pós-traumático, transtornos não orgânicos do sono, alcoolismo e transtornos de personali- dade. Apresentaremos alguns desses transtornos, indicando suas características, causas e modos de enfrentamento por indivíduos e organizações. Você, provavelmente, ouve o termo estresse algumas vezes durante o dia. É um termo que se tornou muito comum, utilizado até pelas crian- ças quando se sentem irritadas ou ansiosas. Sem dúvida, ele é responsável por uma queda na nossa qualidade de vida, mas não pode ser usado por profissionais indiscriminadamente, como no senso comum. Vamos analisar duas definições de estresse. 90 Saúde, Satisfação X Transtornos Mentais no Trabalho O conjunto de reações do nosso corpo para responder a uma situação é necessário para que enfrentemos os desafios mais variados do cotidia- no, as mais variadas situações percebidas como difíceis e que exigem esforços. O estresse, ao nos impulsionar à ação, tem garantido a nossa sobre- vivência por nos fazer reagir a ameaças – con- cretas ou simbólicas. Você já deve ter notado que muitas pessoas conseguem bons desempenhos sob alguma pressão e cobrança de metas. Um ní- vel pequeno de estresse leva a maior criatividade quando a situação exige novas ideias e soluções (CHIAVENATO, 2008). Dito isso, vemos como é importante não confun- dirmos estresse com angústia, ansiedade, irritação ou “nervoso” e que ele não é explicação para todos os males. Na verdade, é preciso analisar que o mundo atual e suas exigências às pessoas fazem com que as situações de estresse realmente se repitam de forma exagerada, o que traz consequências negativas sobre a saúde, como as doenças coronarianas. O impor- tante é conhecermos cada vez mais esse fenômeno e agirmos para minimizar os seus efeitos. França e Rodrigues (2011) citam Hans Selye, que, em 1965, propôs que quando um organismo é submetido a estímulos que ameacem o seu equilí- brio orgânico (homeostase), é desencadeada uma síndrome nesse organismo, que ele denominou stress, ou síndrome geral de adaptação, confor- me demonstra o esquema na Figura 1. STRESS Síndrome Geral de Adaptação Mundo Interno (pensamentos, sentimentos, emoções, fantasias) Mundo Externo (meio socioeconômico-cultural, inclusive o trabalho) Estímulos Ser Humano Figura 1 – Representação esquemática do processo de estresse Fonte: adaptada de França e Rodrigues (2011). Fases do Estresse As situações que desencadeiam o estresse são os estímulos estressores ou estressor, e o modo de responder do indivíduo é a resposta ou proces- so de estresse. Quando o fenômeno é negativo, com um processo adaptativo (resposta do orga- nismo) inadequado e que pode causar, inclusi- ve, doenças, é denominado como distress. Se a pessoa tiver uma boa resposta, com equilíbrio e de forma positiva, denomina-se de eustress. Analise a Figura 2: TIPOS DE STRESS Distress Monotonia (-esforço) manifestações e sintomas da doença Distress Sobrecarga (+esforço) manifestações e sintomas da doença Eustress Área de melhor desempenho e conforto ES FO RÇ O TEMPO Figura 2 – Curva do Estresse Fonte: adaptada de França e Rodrigues (2011 apud RO- DRIGUES, 1988). Quando o estresse é negativo e transforma-se na síndrome geral de adaptação, ele pode ser definido como: “ [...] uma relação particular entre uma pes- soa, seu ambiente e as circunstâncias às quais está submetida, que é avaliada pela pessoa como uma ameaça ou algo que exige dela mais que suas próprias habilidades ou recursos e que põe em perigo seu bem-estar ou sobrevivência (FRANÇA;RODRIGUES, 2011, p. 19) . 91UNIDADE 3 A síndrome geral de adaptação é dividida em três fases: 1ª Reação de alarme: em que vários proces- sos físicos são desencadeados, como au- mento da frequência cardíaca e liberação de várias substâncias, preparando o orga- nismo para a luta ou fuga frente à ameaça. 2ª Fase de resistência: mantendo-se o agen- te ou agentes estressores, as alterações no organismo são mais acentuadas, com sin- tomas como irritabilidade, insônia, mu- danças de humor, depressão, diminuição do desejo sexual. 3ª Fase de exaustão: nessa fase, ocorre a fa- lha nos mecanismos de adaptação, ou seja, nas respostas do organismo aos desafios e ameaças do meio, havendo esgotamento por sobrecarga fisiológica (imagine uma pessoa com o coração acelerado constan- temente!), o que pode levar à morte. Se o estímulo agressor for muito intenso, constan- te e prolongado, os esforços de adaptação serão desgastantes ao indivíduo, havendo como conse- quência a predisposição ao desenvolvimento de diferentes males físicos e psicológicos. Cooper e Artrose (1988 apud FRANÇA; RO- DRIGUES, 2011) apresentam alguns indicadores de estresse que evidenciam a relação entre as rea- ções adaptativas inadequadas e os resultados para o indivíduo, evidenciando as doenças psicossomá- ticas. Esses indicadores encontram-se na Figura 3. INDICADORES DE STRESS (Copper e Artose) Instabilidade emocional. Ansiedade. Depressão. Agressividade. Irritabilidade. Alcoolismo. Disfunções coronarianas e circulatórias. Úlceras. Alergias. Asma. Enxaquecas. Queda no desempenho. Pro�ssional. Ausências. Acidentes. Con�itos domésticos. Apatia. PSICOLÓGICOS SOCIAIS DANOS FÍSICOS Figura 3 –Indicadores de Estresse Fonte: adaptada de França e Rodrigues (2011). 92 Saúde, Satisfação X Transtornos Mentais no Trabalho Fatores Desencadeantes do Estresse A Medicina do Trabalho tem afirmado que a grande maioria das doenças estudadas nesse cam- po estão associadas ao estresse. Zanelli (2010, p. 23) classifica os agentes estressantes no ambiente de trabalho: • Exigências acima das condições efetivas de produção ou prestação de serviços de qualidade. • Pouco ou nenhum reconhecimento pro- fissional. • Reduzida participação nas decisões. • Longas jornadas de trabalho. • Dificuldades de promoção. • Exposição constante aos riscos e pericu- losidade. • Pressão do tempo e atuações de urgência. • Problemas de comunicação. • Competição no ambiente laboral. • Excesso de burocracia. É possível analisar que os fatores estressantes de- correm principalmente de aspectos que não estão sob o controle do trabalhador, mas decorrem de decisões e condições estabelecidas pela empresa. Cabe-nos indicar a você, futuro(a) gestor(a), o que os estudiosos da área têm afirmado como possível de implementação por parte das empre- sas para a melhoria da qualidade de vida e saúde do trabalhador. 93UNIDADE 3 Formas de Combater e Evitar o Estress (Distress) É importante ao gestor refletir que não adianta procurar artigos em revistas ou internet, sem nenhuma base científica de investigação, que indicam regras ingênuas para minorar as causas de estresse no local de trabalho. Essas indicações ingênuas podem ser: quando se sentir estressado, dê uma voltinha, respire fundo, delegue uma tarefa, evite trabalhar à noite, chegue mais cedo ao trabalho (FIORELLI, 2006). Para muitos, essas atitudes podem até aumentar o estresse. No Quadro 2, estão indicadas me- didas para o trabalhador e para as organizações prevenirem e diminuírem os agentes estressores no contexto do trabalho. Quadro 2 – Medidas para reduzir o estresse negativo Medidas para reduzir o estresse por parte do trabalhador* Medidas para reduzir o estresse por parte das organizações** Desenvolver relações cooperativas, recompensa- doras e agradáveis com os colegas. Respeitar os limites do que cada um pode fazer. Desenvolver relações construtivas e eficazes com o gerente. Compreender os problemas do chefe e ajudá-lo a compreender os seus. Negociar metas realísticas para o trabalho. Planejar o futuro e se preparar para futuros de- safios. Gerenciar o tempo para poder desligar-se das preocupações. Permitir o relacionamento amigável entre os tra- balhadores. Procurar reduzir os conflitos pessoais no trabalho. Dar aos colaboradores o controle sobre como devem fazer o seu trabalho. Assegurar adequada assessoria e orçamentos de despesas, ouvindo opiniões. Desenvolver comunicação aberta com os cola- boradores. Apoiar os esforços. Proporcionar benefícios e manter os seus níveis. Reduzir burocracia e “papelório”. Reconhecer e recompensar os trabalhadores. *Albrecht (1979 apud CHIAVENATO, 2008). ** Northwestern National Life Insurance Co. (apud CHIAVENATO, 2008). Fonte: adaptado de Chiavenato (2008). A despeito do grande número de pesquisas realizadas sobre o fenômeno do estresse, Zanelli (2010) chama a atenção ao fato de que as intervenções nas organizações são pouco frequentes, em razão das resistências apresentadas pelos dirigentes. O autor conclui que as intervenções que têm sido realiza- das chegam a resultados de melhoria da produtividade, do desempenho, da saúde da coletividade e redução de custos. O trabalho torna-se perigoso para o aparelho psíquico quando ele se opõe à sua livre atividade. Fonte: adaptado de Dejours (1994). 94 Saúde, Satisfação X Transtornos Mentais no Trabalho A exposição da pessoa a prolongados níveis de estresse no trabalho tem como consequência a chamada síndrome de burnout, expressão criada por Freudenberger, nos anos de 1970, em seus trabalhos com profissionais de saúde. O termo vem do inglês: burn out – apagar-se, esgotar-se, ou seja, foi empregado com o sentido de algo que parou de funcionar por falta de energia (TRIGO; TENG; HALLAK, 2007). A síndrome de Burnout é considerada a res- posta emocional a situações de estresse no traba- lho. No campo de estudos sobre esse transtorno, existem quatro linhas teóricas principais quanto a suas causas: clínica, sociopsicológica, organiza- cional e sócio-histórica. A concepção sociopsicológica é a mais utiliza- da nos estudos atuais e defende que as caracterís- ticas psicológicas de cada indivíduo associadas a características do ambiente de trabalho propiciam o aparecimento dos aspectos básicos da síndro- me: exaustão emocional, despersonalização (ou distanciamento afetivo) e baixa realização pro- fissional e pessoal. Exaustão emocional: caracterizada por um sentimento de esgotamento e falta de energia para A Síndrome de Burnout ou Estafa Profissional 95UNIDADE 3 atender às demandas do trabalho. Abrange, ainda, sentimentos de desesperança, solidão, depressão, raiva, impaciência, irritabilidade, aumento da sus- cetibilidade para doenças, cefaleias, náuseas, ten- são muscular, dor lombar ou cervical e distúrbios do sono. O profissional torna-se pouco generoso com colegas e familiares, apresentando pessimismo exacerbado com o trabalho e a vida de forma geral (TRIGO; TENGI; HALLAK, 2007; FRANÇA; RO- DRIGUES, 2010). Despersonalização: caracteriza-se por um distanciamento afetivo, frieza, insensibilidade às necessidades das outras pessoas, com atitu- des que demonstram a desumanização em suas relações com os outros, perda de empatia e trata- mento do outro como “coisas” ou “objetos”. Todas as questões relacionadas ao trabalho passam a incomodar e perturbar. A presença de outras pessoas torna-se desagradável e indesejável (TRIGO; TENGI; HALLAK, 2007; FRANÇA; RODRIGUES, 2010). Baixa realização profissional e pessoal. Carac- teriza-se pela sensação de fracasso e de que seus esforços não estão sendo recompensados. Quanto mais expectativas as pessoas têm com relação ao seu trabalho, ao enfrentar as situações estressan- tes, mais fortes são os sentimentos de decepção e frustração. Surge uma tendência a se avaliar sempre de forma negativa, com forte sentimento de infelicidade e insatisfação com seu desenvolvi- mento profissional. A autoestima fica seriamente abalada e, em consequência, as relações interpes- soais deterioram-se (FRANÇA; RODRIGUES, 2010; MORENO et al., 2011). Analisando as principais alterações sofridas por pessoas com a síndrome, verifica-se que há desgaste em vários aspectos da atividade laboral: perda do comprometimento, falta de desenvolvi- mento profissional, absenteísmo, baixa produtivi- dade, abandono do emprego e perda de qualidade de produtos e serviços para a organização. Formas de Enfrentamento da Síndrome de Burnout Os estudos sobre o Burnout na população em geral ainda são escassos, especialmente no Bra- sil. Por todo o mundo, esses estudos se iniciaram com os profissionais de saúde, médicos e enfer- meiros, e os números apresentam-se preocupan- tes. Uma pesquisa com 1.840 médicos ameri- canos detectou que dos 55% que trabalham no setor privado, 39% do setor público e 37% do setor acadêmico apresentam o problema. Estu- dos da OMS (Organização Mundial de Saúde) de 2000 e 2004, consideraram o burnout como uma das principais doenças dos europeus e ame- ricanos, ao lado do diabetes e das doenças car- diovasculares. Na Alemanha, um estudo indicou que 4,2% da sua população de trabalhadores apresentavam esse transtorno em diferentes ní- veis (TRIGO; TENGI; HALLAK, 2007). No Brasil, as categorias mais abrangidas quan- to à prevalência de burnout foi a de profissionais de saúde e professores, que apresentaram níveis similares a de outras partes do mundo, citadas anteriormente. Dentre os professores de ensino fundamental e médio, um estudo de 1999 indi- cou que 26% da amostra estudada apresentavam exaustão emocional. Por esses números, você já deve ter percebi- do a amplitude doproblema e que, certamente, as organizações precisam estar atentas, porque o burnout vai se instalando e corroendo progressi- vamente as relações da pessoa com seu trabalho. É importante, também, perceber que não há uma solução fácil para o problema, sendo indicadas pelos estudiosos algumas estratégias principais: a) intervenções com o indivíduo; b) intervenções no contexto organizacional; e c) intervenções com- binadas entre o indivíduo e o contexto organi- zacional. No Quadro 3, organizamos os aspectos referentes a essas intervenções. 96 Saúde, Satisfação X Transtornos Mentais no Trabalho Quadro 3 – Estratégias para o enfrentamento do estresse no trabalho Estratégias organizacionais (modificação de ambiente e clima de trabalho). Rever processos de trabalho. Distribuir tempo adequado para descanso. Supervisão e apoio ao trabalho. Mudanças em estilo de liderança. Mudanças em estilo de gestão. Flexibilidade de horário. Participação na tomada de decisão. Planos de carreira. Atividades que favoreçam a integração interpessoal. Atender aspectos ergonômicos. Valorização e reconhecimento do trabalhador. Educação permanente. Estratégias individuais (refere-se a ações que dependem das características pessoais e dos tipos de resposta a estresse). Atenção à própria qualidade de vida e saúde mental. Buscar valores positivos em eventos negativos (reavaliação positiva). Procurar soluções alternativas para as dificuldades. Encarar as dificuldades como desafios. Avaliar possibilidades de ações e consequências. Resolução de problemas. Procurar suporte social. Hábitos saudáveis: alimentação, exercícios físicos, sono, lazer. Estratégias combinadas (incidem no ambiente, considerando as individualidades) Reconhecimento da interação indivíduo e fatores organizacionais para a ocorrência do problema. Reuniões de equipes para discussões e reflexões sobre os problemas. Palestras/programas sobre riscos a que estão expostos e a identificação da síndrome. Proporcionar espaço para relato de vivências subjetivas de medo, ansieda- de, insatisfação, fornecendo apoio pelo próprio grupo, com minimização do sofrimento. Fonte: adaptado de Moreno et al. (2011). O assédio moral e sexual refere-se à exposição de homens e mulheres a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas em sua jornada de trabalho. Essas práticas criminosas favorecem a discriminação no trabalho, a degradação das relações de trabalho e sérios riscos à saúde mental de trabalhadores e trabalhadoras. O Ministério Público Federal disponibiliza uma cartilha para informação e orientação a todos os atores sociais sobre Assédio Moral e Sexual no Trabalho. A cartilha está acessível on-line, no site do Ministério, em: <http://www.mpf.mp.br/para-o-cidadao/ouvidoria/publicacoes/assedio-moral- sexual-e-discriminacao-saiba-mais-sobre-essas-distorcoes-de-conduta-no-ambiente-de-trabalho>. 97UNIDADE 3 Pode-se perceber que as ações sob a responsabilida- de da empresa dependem de uma flexibilização no modo de organizar os processos de trabalho com reconhecimento sobre a realização de atividades que promovam o bem-estar e sejam preventivas para que não surjam doenças. O desenvolvimento da ideia de humanização no trabalho é essencial. Como você pode verificar, as estratégias in- dividuais dependem do trabalhador, o que não significa que sejam simples de serem executadas, pois dependem de uma conscientização sobre o seu próprio papel na busca de seu equilíbrio físico e mental. As estratégias combinadas contribuem para a integração da equipe, apoio mútuo e redução de tensão no ambiente de trabalho. Pressupõe a parti- cipação de cada indivíduo e da organização na bus- ca pelo bem-estar, em que todos sairão ganhando. 98 Saúde, Satisfação X Transtornos Mentais no Trabalho Considerada pela Organização Mundial de Saú- de como “o mal do século”, a depressão é um tipo de transtorno que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Se você tiver a curiosidade de perguntar às pessoas próximas se já tiveram al- gum episódio depressivo, talvez se surpreenda com o número de pessoas que já foram ou estão acometidas por esse transtorno e que, prova- velmente, utilizam algum medicamento para tratá-lo. Infelizmente, a depressão, por vezes, é mal diagnosticada, sendo confundida com mo- mentos de tristeza que são comuns a qualquer pessoa ao longo da vida, como na perda de entes queridos e decepções marcantes. Depressão: O Mal do Século 99UNIDADE 3 A depressão pode surgir como sintoma de vá- rias outras doenças, como estresse pós-traumá- tico, demência, esquizofrenia, alcoolismo, dentre outros quadros clínicos. A síndrome ou trans- torno depressivo inclui não apenas alterações do humor (tristeza, irritabilidade, falta da capacidade de sentir prazer, apatia), mas também uma gama de outros aspectos, incluindo alterações cogni- tivas, psicomotoras e vegetativas - sono, apetite (DEL PORTO, 1999). Segundo a OMS, 20% de mulheres e de 8 a 12% dos homens apresentarão durante a vida algum episódio de depressão. No ano 2000, foi a principal causa de incapacidade no mundo e a quarta causa de perda de dias de trabalho. Apesar de inúmeros tratamentos já disponíveis, como antidepressivos e psicoterapias, as taxas de inca- pacidade e de suicídio em pacientes depressivos são altas. O suicídio atinge 15% dessas pessoas, na maioria homens (JARDIM, 2011). É um número realmente expressivo de uma doença que requer tratamento médico e psicológico. No Brasil, segundo dados da Previdência So- cial referentes a auxílios doença, a depressão cor- responde a 80% dos transtornos mentais respon- sáveis por afastamento do trabalho. Esses dados confirmam dados levantados também em outros países (JARDIM, 2011). Principais Sintomas da Depressão A depressão compromete a atividade profissional e, por vezes, a pessoa nem consegue trabalhar. Estão relacionados à depressão, principalmente, três tipos de sintomas: psíquicos, fisiológicos e comportamentais, conforme especificaremos a seguir (DEL PORTO, 1999, p. 7-8): • Sintomas psíquicos: sentimentos de tris- teza; autodesvalorização; sentimentos de culpa; apatia; irritabilidade; redução da capacidade de sentir prazer na maior par- te das atividades antes consideradas como agradáveis; fadiga ou sensação de perda de energia; diminuição da capacidade de pensar, concentrar-se e tomar decisões. • Sintomas fisiológicos: alterações do sono (demorar a dormir, acordar duran- te a noite ou muito cedo e não conseguir conciliar o sono ou sonolência excessiva durante o dia); alterações do apetite (per- der o apetite ou comer demais); ganho ou perda anormal de peso; diminuição do interesse sexual. • Evidências comportamentais: retrai- mento social, crises de choro; compor- tamentos suicidas, retardo psicomotor e lentificação generalizada ou agitação motora. É importante a conscientização de dirigentes das empresas e de todos os colaboradores de que a depressão é uma doença que precisa ser tratada, não se trata de preguiça ou falta de força de vontade. O encaminhamento aos tratamentos disponíveis quando o problema já está instalado é responsabilidade da organização e do indi- víduo. Os dirigentes devem estar capacitados para reconhecer as necessidades e fazer o en- caminhamento do funcionário para os devidos atendimentos. Contudo, também é importante pensar em medidas preventivas, com a realiza- ção de ações importantes que promovam um ambiente de trabalho que traga mais satisfação para as pessoas, como as medidas comentadas anteriormente para a redução das situações es- tressantes no trabalho. 100 Saúde, Satisfação X Transtornos Mentais no Trabalho No meio social em que vivemos, é fácil perceber o grande consumo de álcool, que se inicia cada vez mais cedo entre crianças e adolescentes. O álcool e o tabaco são as drogas mais comumente consumidas nas sociedades atualmente, segui- dos pelos inalantes, os ansiolíticos (redutores de ansiedade)e as anfetaminas. Fiorelli (2006) cita pesquisas de 2005 que indicam que o uso abu- sivo de álcool, ou seja, a dependência na faixa etária de 12 a 17 anos em cidades com mais de 200 mil habitantes é alarmante – superior a 6% para meninos e 3% para meninas. O alcoolismo é considerado doença pela Organização Mundial de Saúde, sendo um dos maiores problemas de saúde pública em todo o mundo. O Alcoolismo e suas Implicações 101UNIDADE 3 Como acontece com o uso de outras dro- gas, o uso do álcool dissemina-se pela procura do ser humano por aliviar as suas dificuldades cotidianas ou para sentir prazer. Já houve um tempo, nos séculos XVII e XVIII, em que o uso do álcool era incentivado pelas empresas, pois, sob o seu efeito, o trabalhador se submetia às condições mais adversas de trabalho. A partir da revolução industrial e cada vez mais nos dias atuais, com o uso das máquinas, cumprimento de prazos e rotinas de trabalho, o seu consumo excessivo passou a ser visto como prejudicial ao desempenho no trabalho, com significati- vos prejuízos para as organizações (MORAES; PILATTI, 2004). Há inúmeros fatores psicossociais de risco para o abuso de álcool, como fatores genéticos e experiências ao longo da vida do indivíduo, aos quais não vamos nos direcionar neste mo- mento. No contexto do trabalho, é possível apontar como principais fatores as atividades social- mente menos privilegiadas e as atividades com grande tensão. O álcool, nesses casos, funciona como uma “válvula de escape” para fugir das angústias provocadas pelas pressões sofri- das. Como já comentamos, em vários setores, torna-se cada vez mais comum os ambientes altamente exigentes e estressantes, em que as organizações, procurando atender às deman- das do mercado, colocam em risco a saúde dos trabalhadores. Prejuízos do Uso Abusivo de Álcool para o Indivíduo e para as Organizações O alcoolismo potencializa o aparecimento de transtornos psiquiátricos, como distúrbios de conduta, depressão, transtornos ansiosos, alimen- tares, hábito patológico de jogar, personalidade antissocial e outros transtornos de personalidade, trazendo sérios prejuízos ao indivíduo em todos os aspectos da vida: social, familiar e profissional. Os prejuízos do uso abusivo de álcool não atingem apenas o indivíduo, mas trazem conse- quências negativas diretas para as organizações: “ • Absenteísmo. • Acidentes de trabalho. • Acidentes de trajeto. • Queixas diversas com relação à saúde. • Aumento de falhas na execução das tarefas. • Redução da produtividade. • Conflitos com colegas, superiores e clien- tes (FIORELLI, 2006, p. 299). Vários estudos são publicados todos os anos com informações e conclusões sobre os prejuízos cau- sados pelo álcool e outras drogas na vida das pes- soas, em seu contexto familiar, social e de trabalho. No entanto, segundo Fiorelli (2006), os gestores e as organizações ainda não estão suficientemente convencidos do seu papel na prevenção e inter- venção sobre o uso abusivo do álcool. 102 Saúde, Satisfação X Transtornos Mentais no Trabalho Recomendações para Programas de Atendimento nas Empresas sobre Uso Abusivo de Álcool e de Outras Drogas A Organização Internacional do Trabalho – OIT defende que o local de trabalho é o espaço mais adequado para se implantar pro- gramas e políticas para o tratamento do uso abusivo do álcool e de outras drogas, reafirmando a necessidade de participação de vários parceiros sociais nesses programas, com as empresas exercendo um papel fundamental. A OIT indica que os programas serão mais efetivos se forem fruto de consultas e acordos entre os trabalhadores e a administração das empresas. Em 2001, o Ministério da Saúde indicou políticas que as em- presas devem seguir no atendimento à dependência de álcool e de outras drogas no local de trabalho (BARROS, 2009, p. 54): • Práticas de supervisão e chefia direta em que a dignidade e a valorização do trabalhador sejam consideradas, com especial atenção nas situações de trabalho socialmente desprestigia- das. • Fornecimento de equipamentos adequados, disponibilidade de chuveiros e material para a higiene pessoal (inclusive trocas suficientes de roupa). • Desenvolvimento de estratégias de redução das situações de exposição às ameaças, como agressão armada e ira popular, com a participação dos próprios trabalhadores no desenvol- vimento de tais estratégias. • Disponibilidade de pausas em ambientes agradáveis e con- fortáveis, visando o alívio da tensão. • Disponibilidade de meios de comunicação e de interação com outras pessoas durante a jornada laboral, nas situações de trabalho em isolamento. • Redução e controle dos níveis de ruído e de vibração nos ambientes de trabalho. É importante ressaltar que as empresas devem comprometer-se com essas políticas, porém, com o cuidado de que elas sejam planejadas e conduzidas por profissionais altamente capacitados, preferencial- mente em equipe multidisciplinar. 103UNIDADE 3 Você já deve ter percebido a ênfase que estamos dando neste texto ao enfoque dado ao ser hu- mano no trabalho como crucial para o resultado alcançado por uma organização. Alguns dos temas que têm ocupado um espaço importante são os que tratam da satisfação no trabalho. Há pouco mais de cem anos, era um assunto absolutamente ausente nas organizações, hoje, pode-se conside- rar como uma das variáveis mais estudadas no campo da Psicologia Organizacional. Buscam-se respostas para a questão: afinal, o que faz as pes- soas gostarem ou não de seu trabalho? Como nos coloca Spector (2006), a satisfação no trabalho é indicativa de grandes realizações das pessoas nos contextos organizacionais, estan- do ligadas ao desempenho, saúde e longevidade. Vamos apresentar algumas conclusões sobre o tema: o que determina ou influencia essa satisfa- ção, como ela é medida e quais as suas possíveis consequências. Iniciemos com duas definições para o termo. Satisfação no Trabalho e Saúde Mental do Trabalhador 104 Saúde, Satisfação X Transtornos Mentais no Trabalho A satisfação no trabalho é uma variável de ati- tude que mostra como as pessoas se sentem em relação ao trabalho que têm, seja no todo, seja em relação a alguns de seus aspectos. De forma sim- ples, a satisfação no trabalho é o quanto as pessoas gostam do trabalho delas; insatisfação no trabalho é o quanto não gostam (SPECTOR, 2006, p. 321). Satisfação no trabalho é considerada um esta- do emocional agradável resultante da avaliação que o indivíduo faz de seu trabalho e resulta da percepção da pessoa sobre como este satisfaz ou permite satisfação de seus valores importantes no trabalho (LOCKE, 1976 apud MARTINEZ; PARAGUAY, 2003). A definição de Spector (2006) é centrada no componente afetivo da satisfação no trabalho. Já na definição de Locke (1976 apud MARTINEZ; PARA- GUAY, 2003) aparecem dois componentes distintos: a) O emocional: refere-se a quão bem a pes- soa se sente em relação ao seu trabalho. b) O cognitivo: referente à opinião e ao pen- samento da pessoa sobre o seu trabalho. Esses dois componentes sugerem que a satisfa- ção no trabalho baseia-se, por um lado, no que o indivíduo pensa e, por outro, no que o indivíduo sente, ou seja, há uma relação entre o que a pessoa espera do seu trabalho (ligado a aspectos que ela valoriza) e o que ela realmente está recebendo em troca. Se ela obtém valores importantes para ela, ficará satisfeita, e se perceber desvalorização, fica- rá insatisfeita (MARTINEZ; PARAGUAY, 2003). É importante ressaltar, e isso não é difícil que você perceba no cotidiano, que há inúmeras dife- renças individuais em relação ao que cada pessoa quer de seu trabalho, o que impede a indicação de padrões universais para a satisfação. Fatores como a personalidade individual, as condições de trabalho, as expectativas, as necessidades e as motivações influenciam diretamente na satisfa- ção ou insatisfação. Segundo Spector (2006), os estudos sobre sa- tisfação no trabalhoadotam principalmente três perspectivas para suas análises: o ambiente, a per- sonalidade e a interação pessoa/trabalho. No caso das perspectivas que focam no am- biente, são investigadas as características do tra- balho e das organizações; as perspectivas que enfocam a personalidade demonstram que, sob condições de trabalho bastante similares, algumas pessoas sentem-se satisfeitas e outras não; já na perspectiva da interação, são combinados os dois enfoques anteriores, pois há a busca por com- preender que tipos de pessoas ficam satisfeitas com quais condições de trabalho. De qualquer forma, também é possível verifi- car grandes semelhanças em termos do que causa satisfação ou insatisfação no trabalho. Vamos ten- tar esclarecer esses aspectos no tópico seguinte. Fatores Ligados à Satisfação no Trabalho Valle (2007) levantou os fatores ligados à satisfa- ção no trabalho em estudos nacionais e estran- geiros e, a partir desses, classificou seis fatores que considerou suficientemente abrangentes para a construção de instrumentos de medida, as chama- das escalas de satisfação. Para Valle (2007, p. 30), os seis fatores considerados como componentes básicos da satisfação no trabalho são: 1. Trabalho Desafiador: grau em que o tra- balho apresenta interesse, desafio, permi- te criatividade, diversidade e satisfação pessoal. 2. Oportunidade de crescimento: oportuni- dade de aperfeiçoar capacidades e, assim, ampliar as competências do indivíduo. Oportunidades para aprender a crescer, bem como para progredir dentro da or- ganização. 105UNIDADE 3 3. Reconhecimento por realizações: reconhe- cimento por parte de colegas e superiores. 4. Remuneração: recebimento de remu- neração direta e indireta, especialmente baseado em políticas organizacionais e decorrentes do desempenho e da produ- tividade do trabalhador. 5. Condições de Trabalho: ambiente físico de trabalho, condições de segurança, equi- pamentos, suporte material e tecnológico para a realização de trabalhos. 6. Relacionamento com colegas e chefia: in- teração social com colegas e chefia (apoio, confiança, identificação, comunicação, amizade, relacionamento interpessoal no trabalho). Existem várias escalas de medida de satisfação que podem ser aplicadas aos trabalhadores para que se tenha um retrato do quão satisfeitos ou não estão os funcionários. Cabe aos gestores conhecerem esses instrumentos, para que os resultados apon- tados por estes quanto à satisfação do trabalhador possam indicar caminhos para intervenções no contexto de trabalho, visando melhoria da qua- lidade de vida, da saúde mental e do bem-estar geral dos trabalhadores, aspectos diretamente relacionados com a satisfação no trabalho. A relação entre satisfação no trabalho e saúde física e mental do trabalhador tem sido estudada por muitos autores e esperamos que você tenha conseguido fazer essa relação ao longo dos tópi- cos abordados anteriormente. Para terminar essa unidade, conversemos, brevemente, sobre o papel dos responsáveis pela administração das empresas nessa temática. Papel dos Gestores na Promoção da Saúde Mental do Trabalhador Não há como negar o interesse da administração da empresa em promover a saúde mental de seus funcionários. O importante é tornar os profissio- nais gestores cada vez mais conscientes quanto ao seu papel. Como ressalta Fiorelli (2011, p. 273), não cabe aos gestores e administração da empresa realizar diagnósticos. Considera-se que esse papel envolve: • Compreender a importância de promo- ver a saúde mental, pois, além das questões humanas, estará promovendo aumento de produtividade e da qualidade de vida dos funcionários. • Adquirir conhecimentos mínimos sobre transtornos mentais, capacitando-se para planejar ações e atuar visando a promo- ção da saúde e avaliar os resultados dessas ações. • Ter a percepção sobre a importância de conhecimentos de diferentes campos do conhecimento e da existência de equipes multidisciplinares (com psicólogos e assis- tentes sociais, por exemplo) para a atuação da organização nesse campo. É necessário, ainda, a sensibilização das pessoas responsáveis pela empresa para prevenir as situa- ções do contexto que se apresentam como fatores de risco à saúde mental das pessoas e procurar conscientizar o seu pessoal para a diminuição do preconceito com pessoas que sofrem de transtor- nos mentais. 106 Saúde, Satisfação X Transtornos Mentais no Trabalho Caro(a) aluno(a), ao final desta unidade, espe- ramos ter conseguido atingir os objetivos a que nos propomos, lembrando a você que isso só terá sido possível a partir do seu esforço de leitura e reflexão sobre os temas abordados. Utilizamos o trabalho de vários pesquisadores para trazer conhecimentos sobre os transtornos psicológicos que se apresentam com maior ocor- rência em nosso país, conforme é possível verificar pelas estatísticas oficiais e pela convivência com as pessoas em nosso cotidiano. Primeiramente, tentamos esclarecer alguns aspectos sobre a saúde de forma geral e chamar a atenção sobre o grande impacto que o trabalho tem sobre a nossa vida e a nossa saúde mental. Esperamos que tenha conseguido refletir sobre como a organização do trabalho e as grandes exi- gências que incidem sobre cada trabalhador nos dias atuais podem nos levar a desequilíbrios. Falamos sobre o estresse no trabalho, a sín- drome de burnout, a depressão e o alcoolismo e Em sua tese de doutorado, Valle (2007) desenvolveu e validou um instrumento de avaliação da sa- tisfação no trabalho, definindo essa satisfação como a atitude do indivíduo em relação a aspectos gerais do seu trabalho. O trabalho de Valle resultou em um instrumento que avalia variados fatores sobre satisfação no trabalho e é apresentado em versão completa e em versão reduzida. Por ser um instrumento adap- tado ao contexto brasileiro, pode ser de grande valia para administradores interessados no tema. Para consultar o trabalho completo, em que a autora apresenta suas pesquisas e os instrumentos produzidos, acesse o link disponível em: <http://repositorio.unb.br/handle/10482/2585>. procuramos informar sobre suas causas, conse- quências e modos de enfrentamento, nem sempre muito claros tanto para os funcionários quanto para os dirigentes das empresas. É possível afirmar que a busca pelo lucro, como objetivo maior das empresas, seja um fator impor- tante na precarização das condições de trabalho no Brasil e no mundo, porém podemos verificar que, muitas vezes, a ignorância e a falta de preparo dos profissionais gestores os impedem de realiza- rem ações e intervenções que poderiam melhorar o desempenho dos funcionários e a qualidade de produtos e serviços, ao mesmo tempo em que promoveriam ambientes em que a satisfação no trabalho fosse alcançada, preservando a saúde e o bem-estar dos trabalhadores. Esperamos ter contribuído para a sua forma- ção e reflexão sobre esses aspectos, conscientizan- do-o sobre o seu importante papel como colabo- rador e, possivelmente, gestor das organizações em que venha a atuar! 107 1. Os determinantes sociais da saúde, apresentados por Jackson e Polanyi (2002 apud ZANELLI, 2000), indicam as relações entre ambiente de trabalho e saúde do trabalhador. Explique o que são esses determinantes e dê três exemplos deles. 2. Defina estresse e responda: ele é sempre negativo na vida das pessoas? 3. Para enfrentar a síndrome de burnout ou estafa profissional, são necessárias estratégias nem sempre de fácil implementação. A que se referem as estratégias organizacionais e as estratégias individuais para o enfrentamento do problema? Dê um exemplo de cada uma. 4. A depressão é um grave problema de saúde pública e, segundo Del Porto (1999), estão relacionados a ela três tipos de sintomas. Cite quais são esses sintomas e exemplifique. 5. Ao definir satisfação no trabalho, Locke (1976 apud MARTINEZ; PARAGUAY, 2003) indica dois componentes desse fenômeno: o emocional e o cognitivo. Expliquea que se refere cada um desses componentes. Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 108 Sob Pressão - Compreendendo e Administrando a Pressão e o Estresse no Trabalho Autor: Sartain Denis e Maria Katsarou Editora: Qualitymark Sinopse: a obra discute um dos temas mais difíceis de definir na sociedade atual, assim como maneiras de lidar com um assunto que, normalmente, só é reconhecido quando seus resultados são dramáticos e potencialmente preju- diciais. No atual mercado de trabalho, no qual a sobrecarga de informações é cada vez mais constante, o estresse tornou-se um dos maiores obstáculos às organizações e aos colaboradores. Indicado como o mal do século, tanto capaz de causar prejuízos de bilhões de dólares quanto de destruir milhares de vidas, ele ainda pode ser contornado de forma eficaz. LIVRO A precarização do trabalho no Brasil e na América, que deteriora a saúde mental dos trabalhadores, vem se generalizando cada vez mais nos dias atuais. Leia o interessante artigo no link indicado. Para acessar, use seu leitor de QR Code. WEB https://apigame.unicesumar.edu.br/getlinkidapp/3/243 109 A Fúria Ano: 2007 Sinopse: Bob Maconel (Christian Slater) é funcionário de um escritório cujo trabalho é insignificante. Ele senta em um cubículo e é ignorado pelos seus co- legas, vivendo em um mundo onde se sente completamente isolado. Seu maior desejo é matar seus companheiros de trabalho de diversas maneiras. Um dia, entretanto, acontece um tiroteio no escritório e Bob salva a vida da bela Vanessa (Elisha Cuthbert). Por seus atos heroicos, ele acaba ganhando a admiração de todos, inclusive do diretor da empresa Gene Shelby (William H. Macy), que lhe dá o cargo de vice-presidente de criação. Será que Bob está pronto para enfrentar todas essas mudanças? Comentário: filme interessante para analisar como o ambiente de trabalho pode fazer eclodir os transtornos mentais. É preciso “cuidar” do que está ocorrendo com o outro no local de trabalho. FILME 110 BARROS, D. R.; CARVALHO, E.; ALMEIDA, M.; RODRIGUES, C. Alcoolismo no contexto organizacional: uma revisão bibliográfica. Revista Psicologia &m Foco, Aracaju, n. 1, v. 2, p. 48-57, jan./jun. 2009. Disponível em: <http://linux.alfamaweb.com.br/sgw/downloads/161_120215_ARTIGO5-Alcoolismonocontextoorgani- zacionalumarevisaobibliografica.pdf>. Acesso em 28 fev. 2019. CHIAVENATO, I. Gestão de Pessoas. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. DEJOURS, C.; ABDOUCHELI, E.; JAYET, C. Psicodinâmica do trabalho. São Paulo: Atlas, 1994. DEL PORTO, J. A. Conceito e diagnóstico. Rev. Bras. Psiquiatr., São Paulo, v. 21, supl. 1, p. 06-11, maio 1999. Dispo- nível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516=44461999000500003-&lng=en&nrm- iso>. Acesso em: 28 fev. 2019. FIORELLI, J. O. Psicologia para administradores. Integrando teoria e prática. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2006. FRANÇA, A. C. L.; RODRIGUES, A. L. Stress e trabalho: uma abordagem psicossomática. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2011. JARDIM, S. Depressão e trabalho: ruptura de laço social. Rev. bras. saúde ocup., São Paulo , v. 36, n. 123, p. 84-92, jun. 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi- d=S0303-76572011000100008&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 28 fev. 2019. MARTINEZ, M. C.; PARAGUAY, A. I. B. B. Satisfação e saúde no trabalho: aspectos conceituais e metodológicos. Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, Brasil, v. 6, p. 59-78, dez. 2003. Disponível em: <http://www. revistas.usp.br/cpst/article/view/25851>. Acesso em: 28 fev. 2019. MORAES, M.; PILLATTI, L. A. Alcoolismo e as Organizações: porque investir em programas de prevenção e recuperação de dependentes químicos. In: XXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODU- ÇÃO. Anais Electrónicos... Bauru-SP, 2004. 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O estresse é um conjunto de reações que ocorre em um organismo quando está submetido a um esforço de adaptação, ou seja, são as reações quando se é confrontado com um desafio, ameaça ou situação a resolver. O estresse não é sempre negativo, pois prepara a pessoa para responder às situações da vida. 3. As estratégias organizacionais são utilizadas pela empresa e promovem modificação no ambiente e clima de trabalho, como exemplo, rever os processos de trabalho; supervisão e apoio ao trabalho, dentre outras. As estratégias individuais dependem de cada pessoa, dependendo das suas características pessoais e do modo como respondem às situações. Nesse caso, as estratégias podem ser: encarar as dificuldades como desafio, procurar apoio social, dentre outras. 4. Sintomas psíquicos, como os sentimentos de tristeza; os sintomas fisiológicos, como alterações do sono; e evidências comportamentais, como as crises de choro. 5. O componente emocional refere-se ao quanto a pessoa se sente bem em relação a seu trabalho, e o com- ponente cognitivo refere-se à opinião e pensamentos que a pessoa tem sobre o seu trabalho. 113 114 Botão 2: