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Semiologia Obstétrica Acolhimento inicial da mulher grávida Os cuidados pré-natais focalizam a otimização das condições de saúde e a minimização do risco maternofetal. As metas da consulta pré-natal inicial são definir o estado de saúde da mãe e do feto, confirmar a gravidez e estimar a idade gestacional, elaborar um plano para assistência contínua e aconselhar a mãe sobre suas expectativas e preocupações. ● Durante as consultas subsequentes, você deve avaliar qualquer alteração possível no estado de saúde da mãe e do feto, revisar os achados do exame físico específico relacionado à gestação e fornecer aconselhamento e rastreamento preventivo oportuno. HISTÓRIA PRÉ-NATAL INICIAL O melhor momento para as consultas pré-natais iniciais é no começo da gravidez, mas pode ocorrer mais tarde na gestação; personalize a anamnese de acordo com o ciclo gestacional da mãe ➧ Confirmação da gravidez: Pergunte sobre confirmação de gravidez: a paciente fez um teste de gravidez com amostra de urina para confirmar a suspeita? Caso tenha feito, quando isso ocorreu? Qual foi a data da última menstruação (DUM)? Ela já fez uma ultrassonografia para confirmar a idade gestacional? Explique à paciente que raramente são necessários exames de sangue para confirmar a gravidez. ➧ Sinais/sintomas de gravidez: a paciente apresenta amenorréia, dor à compressão das mamas, náuseas e vômitos, fadiga ou polaciúria? ➧ Preocupações e atitudes relacionadas com a gravidez: Pergunte como a paciente se sente em relação à gravidez. ● Ela está animada, preocupada ou assustada? ● A gravidez foi planejada e desejada? Se a gravidez não foi planejada, a paciente tem a intenção de levá-la a termo, interromper ou dar a criança para adoção? ● A paciente tem um companheiro, conhece o pai biológico do feto ou conta com uma rede de suporte familiar? Na investigação dos pontos de vista da gestante, devem ser feitas perguntas abertas de modo flexível e imparcial: ● Respeite as diferentes estruturas familiares, como família estendida, mãe solteira ou gestação por doação de espermatozoide com ou sem um parceiro de ambos os sexos. ● Apoie as escolhas da paciente quando ela fornecer dados inesperados, tais como gestação resultante de estupro** ou desejo de interromper a gravidez. ANAMNESE OBSTÉTRICA ➤ IDENTIFICAÇÃO ➧ Idade: embora o início da fertilidade possa ocorrer já aos 10 anos de idade, do ponto de vista biológico, as melhores condições para a gravidez ocorrem a partir de 18 a 20 anos. O período do 1 mais perfeito desempenho dura cerca de uma década, até os 30 anos, quando os riscos para a mãe e para a criança começam a aumentar. Acima dos 35 anos, há aumento expressivo de anomalias fetais e distocias. ➧ Etnia: é necessário levar em consideração, pelo fato de o vício pélvico ser mais comum nas negras e nas mestiças. ➧ Profissão: as intoxicações decorrentes da prática profissional, de ação lenta, comprometem a evolução gravídica (p. ex., exposição a álcool, chumbo, fósforo, nicotina etc.). ○ É importante informar-se a respeito da profissão da gestante, principalmente quando ela é predisposta a abortamento, a fim de que seja possível orientá-la quanto à conveniência de abster-se de esforço físico. ➧ Estado civil: a influência dessa condição pode ser observada, visto que existem estatísticas que mostram maior morbidade e mortalidade materna e fetal entre as solteiras. ➧ Nacionalidade e domicílio: dado importante, mesmo se considerado apenas o território nacional. ○ Conforme a origem da paciente, haverá orientação no sentido de rastrear a possibilidade de enfermidades que poderão influenciar de maneira significativa na gestação (p. ex., doença de Chagas, esquistossomose, malária). ➤ANTECEDENTES PESSOAIS E PATOLÓGICOS Explore qualquer condição clínica pregressa ou atual. Preste atenção especial às condições que afetam a gestação, como cirurgias abdominais, hipertensão arterial, diabetes melito, distúrbios cardíacos, incluindo cirurgia na infância por causa de cardiopatia congênita, asma, estados de hipercoagulabilidade consequentes a anticorpos anticardiolipina ou anticoagulante lúpico, transtornos da saúde mental, como depressão pós parto, infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), infecções sexualmente transmissíveis (IST), exames de Papanicolau anormais e exposição a dietilestilbestrol in utero. ➤HISTÓRIA OBSTÉTRICA ○ Quantas gestações a paciente já teve? Quantos partos a termo, partos pré-termo, gestações espontâneas e interrompidas e quantas gestações resultaram em crianças vivas? ○ Ocorreram quaisquer complicações, tais como diabetes melito, hipertensão arterial, pré-eclâmpsia, restrição do crescimento intrauterino (RCIU) ou trabalho de parto pré-termo? ○ Já ocorreram complicações durante o trabalho de parto ou do parto, tais como macrossomia fetal (fetos grandes), angústia fetal ou intervenções de emergência? ○ Os trabalhos de parto anteriores foram por via vaginal, via vaginal assistida (vacuoextrator ou fórceps) ou por cesariana? ➤ FATORES DE RISCO PARA SAÚDE MATERNOFETAL ○ É tabagista, etilista ou usuária de substâncias psicoativas? ○ Faz uso de medicamento prescrito pelo médico, de medicação de venda livre ou fitoterápicos? ○ Ela é exposta de algum modo a substâncias tóxicas no trabalho, em casa ou em outro local? ○ Alimenta-se de modo adequado ou corre risco de problemas decorrentes da obesidade? ○ Ela tem uma rede de suporte social e fonte de renda adequadas? 2 ○ Existem fontes incomuns de estresse no trabalho ou em casa? ○ Há relato de abuso físico ou violência doméstica? ➤ANTECEDENTES FAMILIARES Pergunte sobre as histórias genética e familiar da paciente e sobre as de seu parceiro e/ou do pai biológico do feto: ○ Qual é a etnia da paciente e do pai biológico do feto? ○ Existe história familiar de doenças genéticas, como anemia falciforme, fibrose cística ou distrofia muscular e outras? ○ Alguma criança na família apresentou problemas congênitos? Termos importantes SUFIXOS GESTA/PARA: referem-se às gestações e partos ocorridos e não aos conceptos. ● Gesta = grávida, ou número total de gestações ● Para = desfechos da gravidez ● Paridade é subdividida em partos a termo, partos pré-termo, abortos (abortos espontâneos e gestações interrompidas) e filhos vivos Depois do Para, geralmente são feitas as notações: TP (termopleno), P (prematuro), A (aborto), V (criança viva). Exemplificando: ● Após a primeira parturição, gemelar, a paciente continua I gesta e I para; ● Houve dois abortamentos e está em curso a terceira gestação, trata-se de III gesta, 0 para. ● Já uma mulher com dois abortos espontâneos antes da 20ª semana de gestação, três crianças vivas a termo e uma gestação atual seria descrita como Gesta VI Para III Aborto II PRIMÍPARA: é a mulher que concebe pela primeira vez; a primípara pariu em uma oportunidade ou está na iminência de fazê-lo (p. ex., a parturiente do primeiro concepto). MULTÍPARA: aplica-se à mulher que gestou muitas vezes, independentemente da duração da gravidez. ● Secundi, terci ou quartigesta, para evitar a imprecisão, antepondo-se o algarismo romano correspondente ao sufixo gesta, em abreviação (II gesta, III gesta); ● Se o resultado da gravidez foi parto, prematuro ou a termo, usa-se a terminação para e os mesmos prefixos (II para, III para), sendo consideradas essas pacientes multíparas. ● Paucípara é a mulher que pariu poucas vezes (até três). NULÍPARA: é a que jamais deu à luz; NULIGESTA: a que nunca esteve grávida. AMENORREIA: é a falta de menstruação por um período de tempo maior do que três ciclos prévios. O atraso menstrual é o sintoma de probabilidade mais importante, uma vez que a gravidez é a causa mais frequente de amenorreia secundária. ● Além da gravidez, a amamentação também é uma causa fisiológica de amenorreia secundária ● Uma mulher sexualmente ativa, sem usar métodos anticoncepcionais, com atraso menstrual, está grávida até prova em contrário. 3 Termos importantes em relação ao parto ABORTO OU ABORTAMENTO:consiste na interrupção da gravidez ocorrida antes da 22ª semana de gestação. É precoce quando ocorre até a 13ª semana e tardio quando ocorre entre 13ª e 22ª semanas. É a mais importante situação hemorrágica da primeira metade da gestação. ● O abortamento é a expulsão de feto pesando < 500 g ou com < 20 semanas de gestação, podendo ser espontâneo ou provocado. ● Natimorto → define pelo peso >500g PARTO PREMATURO OU PRÉ-TERMO : é aquele que se inicia antes da 37ª semana de gestação (259 dias), OMS, excluindo os abortamentos (que ocorrem antes da 20ª semana de gestação). ● Considera-se recém-nascido (RN) de baixo peso aquele com peso inferior a 2.500g. ● O parto pré-termo é a causa principal de morbidade e de mortalidade perinatal e um dos principais responsáveis pela mortalidade infantil. Em face do risco aumentado de complicações no neurodesenvolvimento, respiratórias e gastrintestinais, como síndrome de angústia respiratória (SAR), doença pulmonar crônica, enterocolite necrosante, hemorragia intraventricular e paralisia cerebral. PARTO A TERMO: é aquele que ocorre entre a 37ª e 42ª semana de gestação. É o acontecimento fisiológico do parto. PARTO PÓS-TERMO: é o que ocorre após a 42ª semana de gestação. DUM, idade gestacional e data provável do parto (DPP) IDADE GESTACIONAL: pode ser determinada se houver o conhecimento da data da última menstruação, pela combinação da altura uterina/toque vaginal ou pela ultrassonografia obstétrica. ● Quando a data da última menstruação é conhecida, analisa-se o número de dias do intervalo entre a DUM e a data da consulta. Então, se divide esse número por 7, resultando no número de semanas da gestação. O resultado que obtiver será a quantidade de semanas e o que restar da divisão é referente aos dias da semana em que se encontram. ● Quando a data da última menstruação é desconhecida, mas se conhece o período do mês em que ela ocorreu: se o período foi no início, ou "nos meados" ou no final do mês, considerar como data da última menstruação os dias 5, 15 e 25, respectivamente; proceder, então, à utilização de um dos métodos acima descritos. (Assistência pré-natal do ministério da saúde – 3a edição). ➧ Aumento do volume uterino: a combinação altura uterina/toque vaginal determina uma aproximação da idade gestacional → o útero pode ser palpado no abdome, a partir de 12 semanas. À medida que a gestação avança, o fundo uterino mostra-se gradativamente mais alto, distanciando-se da sínfise púbica. ○ Na primeira metade da gestação, a mensuração do fundo de útero é bom indicador para o cálculo da idade da gravidez. Na segunda metade, embora ele cresça cerca de 4 cm/mês, as variações são maiores e os erros, mais comuns. 4 Nas primíparas, 2 semanas antes do parto, em decorrência da queda do ventre, pela insinuação da cabeça fetal, o fundo baixa cerca de 2 cm sendo um indício de que o parto deverá iniciar-se nos próximos 15 dias. Com isso, ocorrem melhores condições para a gestante, que respira mais facilmente, embora reapareçam as queixas urinárias do 1º trimestre. ➧ Ultrassonografia: A ultrassonografia determina a idade gestacional com precisão. A presença do saco gestacional caracteriza a gestação de 5 semanas. ○ A partir da identificação do embrião, a idade gestacional é feita pela medida do embrião por intermédio da medida do comprimento embrionário conhecido como comprimento cabeça-nádega e utilizado até a 12ª semana de gestação. ○ A partir da 12ª semana de gestação, a determinação da idade gestacional é feita utilizando-se vários parâmetros, sendo os mais empregados o de diâmetro biparietal, da circunferência abdominal, do comprimento do fêmur e o de comprimento do úmero. ○ A partir da 20ª semana, a idade gestacional em semanas é igual à altura uterina multiplicada por oito e o resultado dividido por sete. DATA PROVÁVEL DO PARTO → https://www.youtube.com/watch?v=_hMxRsxwY_E A data provável do parto (DPP) é 40 semanas a partir do primeiro dia da última menstruação. Usando a regra de Naegele, a DPP pode ser estimada usando a data da última menstruação, somando 7 dias e adicionando 9 meses ao mês em que ocorreu a DUM. ○ Na prática usa-se a regra de Nägele, que consiste em adicionar à data da última menstruação 7 dias e mais 9 meses (ou menos 3 meses, quando se faz o cálculo retrógrado). Por exemplo, se a última menstruação foi em 10 de novembro (mês 11), temos 10 + 7 = 17, e 11 – 3 = 8, portanto, 17 de agosto (mês 8) será a data provável do parto. ○ Aparentemente, a gravidez, assim avaliada, não teria os 280 dias de duração média que lhe foram atribuídos (9 × 30 = 270 + 7 = 277). No entanto, há correspondência perfeita: no decurso de 9 meses, como norma, 3 ou 4 têm 31 dias e essa diferença (de 1 dia) torna a regra de Nägele a mais aproximada dos referidos 280 dias 5 https://www.youtube.com/watch?v=_hMxRsxwY_E EXAME FÍSICO DA GRÁVIDA: avaliação geral Na semiótica geral, é necessário examinar o coração, os pulmões, as mamas, o abdome e as extremidades. O obstetra faz, minuciosamente, a inspeção obstétrica propriamente – palpação, ausculta e toque. INSPEÇÃO Avalie a saúde geral, o estado emocional, o estado nutricional e a coordenação neuromuscular da paciente, conforme ela entre no consultório e se move para a mesa de exame ▶ Altura, peso corporal e sinais vitais: ● Determine a altura e o peso. Calcule o índice de massa corporal (IMC) segundo tabelas padronizadas, considerando 19 a 25 como normal para o estado não grávido ○ Perda ponderal consequente a náuseas e vômitos superior a 5% do peso pré-gestacional é considerada excessiva, representando hiperêmese gravídica, e pode levar a desfechos adversos na gestação. ● A pressão arterial deve ser aferida em todas as consultas. Aferições pré-gestacionais do nível basal são importantes para determinar a faixa de normalidade da paciente. No segundo trimestre da gravidez, a pressão arterial cai, normalmente, abaixo dos níveis tensionais pré-gestacionais. ○ Hipertensão gestacional é pressão arterial sistólica (PAS)>140 mmHg ou pressão arterial diastólica (PAD)>90mmHg documentada pela primeira vez após a 20ª semana de gestação, sem proteinúria ou pré-eclâmpsia, que desaparece até a 12ª semana após o parto. ○ A hipertensão arterial pode ser tanto um diagnóstico independente como um marcador de síndrome de pré-eclâmpsia. Essa síndrome é específica da gestação e consegue impactar praticamente todos os sistemas de órgãos.” ■ A pré-eclâmpsia aumenta o risco de doença cardiovascular em 8 a 9 vezes em mulheres com pré-eclâmpsia cujo parto ocorreu antes da 34ª semana de gestação ▶ Cabeça: ● Junto aos limites do couro cabeludo, ocorre a formação de lanugem, bastante evidente, em consequência da intensificação da nutrição dos folículos pilosos, reflexos do metabolismo próprio da grávida e principalmente das influências hormonais, o que constitui o sinal de Halban. ● Em muitas gestantes, aparecem manchas difusas de tonalidade escura, mais nítidas nas zonas muito expostas à luz (fronte, nariz e região zigomática), denominada cloasma gravídico ou melasma (máscara gravídica). ○ Achado normal da gravidez ○ Essa alteração da deposição do pigmento será amenizada ao poupar a pele da insolação. ● Edema facial após a 20ª semana de gestação levanta a suspeita de pré-eclâmpsia e deve ser investigado. ▶ Pescoço: em virtude da hipertrofia da tireoide, sua circunferência aumenta, ficando mais evidente por volta do quinto ou sexto mês. ▶ Glândula mamária: ● A inspeção mostra as mamas com volume maior, em consequência da hipertrofia e das modificações que gradativamente vão ocorrendo para prepará-las para a amamentação. 6 ● A partir de 16 semanas, aparece secreção de colostro, que pode ser percebido pela expressão da base, na direção dos canais galactóforos ○ Cada mamilo deve ser comprimido entre o polegar e o dedo indicador do examinador; colostro pode ser ordenhado dos mamilos durante os últimos trimestres. Alterações normais incluem padrão venoso exacerbado, mamilos earéolas escurecidos e tubérculos de Montgomery (tubérculos areolares, segundo a Terminologia Anatômica). ● A aréola primitiva, com cor mais escura que fora da gestação, apresenta, ao redor, a aréola secundária, menos pigmentada, de limites imprecisos, chamada também aréola gravídica (sinal de Hunter). ● A melhor circulação que acompanha o desenvolvimento das mamas deixa perceber uma trama de vasos venosos na pele: é a rede de Haller. ● Na aréola primitiva, durante a gestação, aparecem os tubérculos de Montgomery, em número de 12 a 15, que costumam regredir no puerpério e são de duas naturezas: glândulas mamárias acessórias, ou sebáceas, hipertrofiadas. O exame das mamas, além de mostrar essas características que traduzem modificações gravídicas, e, portanto, orientam no diagnóstico, deve ser feito a fim de verificar malformações do mamilo (umbilicação ou inversão) que mostrem a dificuldade ou incapacidade para a amamentação. ▶ Abdome: globoso ou ovóide, o abdome exibe as resultantes da distensão de sua parede pelo útero gravídico em crescimento. ● A cicatriz umbilical, anteriormente apresentada como depressão, passa a ser plana e, por vezes, até saliente. ● Nas primigestas, a musculatura da parede, conservando sua capacidade de contenção, mantém o útero em boa posição; contudo, nas multíparas, fica comprometida a tonicidade da aponeurose e das fibras musculares, geralmente estabelecendo-se a diástase dos retos anteriores, o que condiciona o ventre pêndulo, sendo a causa comum de vícios de apresentação e de distocia pela falta de coincidência do eixo do útero com o do feto e o da bacia. ● Nas mulheres de pele mais escura, em especial, evidencia-se a hiperpigmentação da linha alba (linea nigra). ● Na gestante, a inspeção também mostra o aparecimento de estrias ou víbices, produzidas pela sobredistensão do retículo de fibras elásticas. ● Ao fim do ciclo gravídico-puerperal, esmaecem; no entanto, persistem na maioria das vezes. Há dois tipos de estrias: “recentes”, da gravidez atual, com cor violácea e fundo azulado; e “antigas”, brancas ou nacaradas, com aspecto perláceo. 7 ▶ Membros inferiores: costumam apresentar dilatação circunscrita de vasos sanguíneos, exagerados pela influência da gestação, ou até mesmo varizes aumentadas. No final da gravidez, em muitos casos, observa-se o edema. ▶ Aparelho genital externo: ● A pigmentação da pele mostra-se mais carregada, formando-se aréola escura em torno do ânus. ● A influência hormonal da gestação e, mais adiante, o fator mecânico modificam a mucosa, que se mostra hiperpigmentada, tumefeita e com coloração alterada. De rosada torna-se cianótica, violácea ou azulada. ○ Essas alterações são percebidas muito precocemente no vestíbulo e nas proximidades do meato urinário e se intensificam à medida que a gravidez progride, sendo conhecidas como sinal de Jacquemier, pelos europeus, e sinal de Chadwick entre os norte-americanos. PALPAÇÃO A palpação obstétrica é feita a partir do útero e de seu conteúdo. A circunferência abdominal é avaliada ao nível da cicatriz umbilical; na gestante a termo, tem em torno de 90 a 92 cm, em mulher não obesa: ▶ Consistência uterina: ● A palpação reconhece a consistência elástica-pastoso-cística (característica do amolecimento da parede uterina da gestante) e, devido à quantidade de líquido amniótico, sua maior ou menor tensão. Por meio dela, é possível determinar a existência de polidrâmnio. ● Durante a gestação, notam-se as contrações de Braxton-Hicks e, no decurso da dilatação e da expulsão, metrossístoles regulares, traduzindo a atividade uterina do trabalho de parto. ▶ Regularidade da superfície uterina: ● A palpação possibilita identificar a superfície lisa e regular da parede do útero gravídico normal ou a existência de nódulos e saliências, denunciando tumores miomatosos, de natureza variada. ○ É necessário ter atenção para não confundir o achado com o que se nota ao palpar das pequenas partes fetais (pés, mãos, cotovelos e joelhos), em contato íntimo com a parede do órgão gestatório, principalmente se ela estiver adelgaçada. ▶ Conteúdo uterino: ● Feito pela manobra de Leopold-Zweifel (trazida no objetivo 9). TOQUE 1. Recomenda-se fazer o toque vaginal após esvaziar a bexiga e o reto da paciente, com as mãos rigorosamente lavadas e revestidas de luvas esterilizadas, com a paciente em posição litotômica ou ginecológica, entreabrindo-se a vulva com os dedos de uma das mãos, e obedecidos os preceitos de assepsia e de antissepsia. 2. Durante a gestação, o toque combinado possibilita estatuir o volume uterino, quando ainda não se encontra o órgão acessível à palpação abdominal, útil, portanto, ao diagnóstico da gravidez. Nas proximidades do parto, avalia-se as condições do colo, as relações entre a apresentação e a bacia (insinuação, proporcionalidade), assim como as características do trajeto ósseo. 3. No decurso do trabalho, para diagnosticar o início, é indispensável acompanhar a dilatação cervical, a progressão fetal e determinar o tipo de apresentação, de posição e suas variedades. 8 Alterações fisiológicas da gravidez ➧ Halban: Junto aos limites do couro cabeludo, ocorre a formação de lanugem, bastante evidente, em consequência da intensificação da nutrição dos folículos pilosos, reflexos do metabolismo próprio da grávida e principalmente das influências hormonais, o que constitui o sinal de Halban. ➧ Cloasma: Em muitas gestantes, nota-se pigmentação difusa ou circunscrita, mais nítida nas zonas muito expostas à luz (fronte, nariz e região zigomática), de tonalidade escura, manchando a pele, denominada cloasma ou máscara gravídica. ➧ Rede de Haller: A melhor circulação que acompanha o desenvolvimento das mamas deixa perceber uma trama de vasos venosos na pele: é a rede de Haller. ➧ Liena nigra: nas mulheres de pele mais escura, em especial, evidencia-se a hiperpigmentação da linha alva (linea nigra). ➧ Sinal de Jacqueimer: a vulva e a vagina tumefazem-se, experimentam amolecimento e têm sua coloração alterada. A vulva pigmenta-se e o sítio lindeiro à extremidade inferior da vagina perde o róseo característico, tomando a cor vermelho-vinhosa, entreabertos ninfas e grandes lábios. Medição da altura uterina MENSURAÇÃO DA ALTURA UTERINA - Professora Ms. Neiva Alencar A mensuração da altura uterina deve ser feita utilizando- se uma fita métrica. A parte metálica da fita é posicionada na borda superior da sínfise púbica e a outra porção da fita entre os dedos médio e indicador da mão esquerda. ● Deve-se delimitar, sem comprimir, o fundo do útero, com a borda cubical da mão esquerda. ● A fita métrica mede o arco uterino, o que torna possível calcular a idade da gravidez, acompanhar o crescimento fetal, assim como suspeitar da gemelidade e do excesso de líquido amniótico (polidramnia). ● Para o exame a bexiga da mulher deve estar vazia. 9 https://www.youtube.com/watch?v=Lueijr3EzrA Após a 20ª semana, quando o fundo deve atingir o umbigo, a altura uterina corresponde às semanas de gestação. Variações de 2cm para mais ou para menos são consideradas normais. ● Se o fundo de útero estiver mais de 4 cm acima do esperado para a idade gestacional, deve se pensar em gestação múltipla,macrossomia fetal, poli-hidrâmnio (aumento do volume de líquido amniótico) ou mioma uterino. ● Se o fundo de útero estivermais de 4 cm abaixo do esperado para a idade gestacional, aventar a possibilidade de oligoidrâmnio (redução do volume de líquido amniótico), aborto retido ou retardo do crescimento intrauterino. Essas condições devem ser investigadas por ultrassonografia Manobra de Leopold Manobras de Leopold (PASSO A PASSO Para Memorizar) [Estática Fetal - Aula 3 de 3] As manobras de Leopold são realizadas para determinar a posição fetal no útero materno a partir do segundo trimestre. A acurácia é maior após a 36ª semana de gravidez. Os achados podem ajudar a verificar a adequação do crescimento fetal e a possibilidade de parto vaginal. ● Os polos fetais superior e inferior,a saber, as partes fetais distal e proximal ● O lado materno onde o dorso do feto está localizado ● A altura da apresentação fetal na pelve materna ● O grau de flexão da cabeça fetal ● O tamanho e o peso (estimativa) do feto (uma habilidade avançada que não será desenvolvida nesta obra). MANOBRAS DE LEOPOLD-ZWEIFEL ▶ Primeiro tempo: identificação do polo no fundo uterino 10 https://www.youtube.com/watch?v=n9yCYzAKcjk Posicione-se ao lado da maca e olhando para a cabeça da gestante. A seguir, palpe a parte superior do útero gravídico delicadamente com ambas as mãos comprimindo a parede abdominal com as bordas cubitais. ○ Isso é feito com o propósito de determinar qual parte do feto está localizada no fundo do útero → o polo fetal superior ○ Na maioria dos casos, sente-se aí o polo pélvico, com a característica de ser mais volumoso que a cabeça, de superfície irregular, resistente, mas redutível, deixando perceber, eventualmente, as cristas ilíacas como duas proeminências. ○ No caso de o polo cefálico estar nesse ponto, verifica-se corpo de superfície regular, formato redondo e lisa. É resistente e irredutível, com duas regiões características – o occipital e a fronte. ○ Às vezes, nem a cabeça nem as nádegas são palpáveis no fundo do útero porque o feto está em posição transversa ou oblíqua. Havendo quantidade suficiente de líquido, anota-se o “rechaço”. Uma das mãos imprime súbito impulso ao polo fetal que, deslocado, desaparece, denominando-se rechaço simples; quando ele volta à situação primitiva e é percebido pela palpação, trata-se de rechaço duplo. ○ Com as duas mãos, também é possível verificar esse rechaço, jogando o polo de uma contra a outra. ○ Em comparação com as nádegas, o rechaço é muito mais nítido com a cabeça, posto que seu formato, sua consistência e sua mobilidade, relativamente à coluna, conferem tal qualidade. ▶ Segundo tempo: palpação do dorso e das pequenas partes fetais (paredes laterais do abdome materno) 11 Coloque uma mão de cada lado do abdome de tal modo que o corpo fetal fique entre elas. Com uma das mãos estabilize o útero e com a outra palpe o feto, procurando discernir o dorso com uma mão e os membros com a outra. ● A região dorsal do feto apresenta-se como superfície resistente e contínua, plana (no sentido longitudinal) e convexa (no transversal). É mais facilmente percebida nas variedades anteriores. ● Os braços e pernas do feto (pequenas partes) são percebidas como nodulações irregulares e será possível sentir os movimentos do feto se ele estiver acordado e ativo. ● Caso as pequenas partes estejam à esquerda, o dorso ficará à direita e vice-versa. ▶ Terceiro tempo: avaliação da mobilidade da apresentação (polo fetal inferior e descida para a pelve) Conhecida como manobra de Leopold ou Pawlick, tem como objetivo a exploração da mobilidade do polo que se apresenta com relação ao estreito superior. Procura-se apreender o polo entre o polegar e o dedo médio da mão direita, imprimindo-lhe movimentos de lateralidade que indicam a apresentação na bacia e descida para pelve. Quando ela está alta e móvel, esse polo balança de um lado para outro. ● É verificada a altura da apresentação fetal, ou encaixe no estreito superior, na pelve materna. ▶ Quarto tempo: confirmação da apresentação fetal Deve-se explorar a escava em último lugar. Nesse ponto, o polo cefálico é frequentemente encontrado e, ao palpar, apresenta caracteres mais nítidos. O examinador volta suas costas para a cabeça da paciente, colocando as mãos sobre as fossas ilíacas, caminhando em direção ao hipogástrio. Com as extremidades dos dedos, procura penetrar na pelve. Ao abranger o polo que aí se apresenta, verifica pelas suas características: ● Se é cefálico (menor, liso, consistente, irredutível); ● Pélvico (maior, irregular, amolecido e deixando-se deprimir). Trata-se, respectivamente, de apresentação cefálica ou pélvica. ● Na córmica (situação transversa), a escava está vazia. A entrada dos dedos exploradores na bacia depende do grau de insinuação do polo apresentado. 12 Quando móvel, os dedos quase se tocam pelas extremidades e descem por igual. Cogitando-se de cabeça encaixada, e devido à flexão cefálica, os dedos, em correspondência com o occipital, mergulham mais profundamente que os postos em relação à fronte. Sente-se, então, com consistência dura, a saliência da fronte, que ascende. ● Na apresentação pélvica, mesmo insinuada, os dedos de um lado e de outro penetram igualmente. ● Nas situações transversas, a cabeça fetal estará localizada em uma fossa ilíaca, o polo pélvico na oposta e o dorso disposto em sentido transverso ou oblíquo. Ausculta fetal Pretende-se ouvir os batimentos cardiofetais (bcf), os quais informam, durante a gestação, se o concepto está vivo ou morto, não sendo possível inferir com exatidão suas condições de higidez, a não ser por meio do monitoramento dos batimentos. A ausculta clínica pode ser imediata ou direta, colocando-se o ouvido sobre a parede abdominal da paciente, e mediata ou indireta, utilizando-se o estetoscópio. ○ Antes da 12ª semana de gestação, somente pode ser feita por ultrassonografia; ○ Da 12ª semana até a 22ª semana, pela utilização do sonar Doppler; ○ A partir da 22ª semana, utilizando -se o estetoscópio de Pinard de alumínio ou de madeira, apresentando três partes: auricular, coletora e condutora do som. ○ Em geral, os bcf são percebidos em torno de 20 semanas de gravidez. Atualmente, o uso de estetoscópio está em segundo plano, substituído pela auscultação mediante o sonar-Doppler, possível a partir de 10ª a 12ª semanas de gestação, e que faculta, demais, a audiência e a identificação do pulso do cordão umbilical ou de qualquer outro grande vaso fetal. ○ É necessário ter atenção para a possibilidade de confusão com batimentos maternos, motivo pelo qual se preconiza, sempre, contar as pulsações da paciente, para ter a convicção de que o percebido são ruídos fetais genuínos, mediante a comparação das frequências. Os batimentos fetais nunca são isócronos com o pulso materno. Sua frequência oscila entre 110 e 160 bpm, em média 140. O número de bulhas cardíacas, no adulto, é duplo dos batimentos arteriais, ou seja, cada batimento esfígmico traduz uma revolução cardíaca, com duas bulhas (sistólica e diastólica). No feto, contudo, ouve-se uma só em cada revolução. ○ Os batimentos são mais facilmente audíveis no chamado foco máximo de auscultação, ponto que varia com a apresentação. 13 ○ Vale notar que a audibilidade é função da vizinhança do ponto de produção sonora – isto é, o coração fetal –, e corresponde, aproximadamente, à altura da quarta vértebra dorsal. ▶ Diagnóstico de apresentação pela ausculta: No termo da gravidez ou próximo dele, pelo fato de a área cardíaca estar mais perto do polo cefálico, o foco máximo de escuta terá locação diferente conforme a apresentação. ○ Na apresentação cefálica, esse foco fica nos quadrantes inferiores do abdome materno, à esquerda ou à direita, conforme a posição. ○ É necessária uma ressalva com relação à descida e à rotação da cabeça fetal, no evoluir do trabalho de parto: o foco de escuta se desloca gradativamente para baixo e em direção à linha mediana. ○ Na apresentação pélvica, o foco de escuta encontra-se nos quadrantes superiores do abdome, à esquerda ou à direita ○ Na apresentação córmica, está na linha média, junto à cicatriz umbilical. ▶ Escuta na gravidez gemelar: Notam-se dois focos, cada um pertencendo a um feto distinto. Não são sincrônicos, havendo diferença de características, principalmente com relação à frequência que diverge em 8 ou 10 bpm. ○ É preciso ter atenção para que o achado comum não seja confundido com o foco propagado. Aqui, ao fazer deslizar o estetoscópio de um ponto até o outro, em nenhum momento deixamos de ouvir; na gravidez gemelar, há zona de silêncio entre os dois focos. ○ Eventualmente, onde se deveria encontrar a zona de silêncio, identificamos batimentos com “ritmo de quatro tempos”, característicoda existência de dois fetos na cavidade uterina. ▶ Ausência de batimentos e morte fetal: É sempre conveniente aguardar, para comprovação, nova oportunidade no dia seguinte ou em outra ocasião. Nesse momento, não se dispensarão os achados do sonar-Doppler e da ultrassonografia (US), decisivos na determinação diagnóstica. 14
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