Buscar

RESUMO CODIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 23 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 23 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 23 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

93
	Introdução: A existência do CDC decorre da materialização do princípio constitucional da isonomia sob a perspectiva material. A CF prevê a defesa do consumidor no art. 5º e no ADCT. A relação jurídica consumeirista é marcada por traços que a distanciam da relação jurídica clássica do direito civil: (1) subjetivo: fornecedor e consumidor; (2) objetivo: produto ou serviço; (3) vínculo: marcado pela hipossuficiência/vulnerabilidade de uma parte o que atrai a atuação do Estado (art. 4º, I). Esta vulnerabilidade é o eixo do CDC. A vulnerabilidade pode ser técnica, econômica, jurídica ou informacional.
Quem é o fornecedor? Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados (massa falida; sociedade irregular e de fato), que desenvolvem atividade (sequência de atos; habitualidade; profissionalismo) de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.
· Entidade beneficente pode ser fornecedora? Sim, desde que haja habitualidade e remuneração. Intuito de lucro não é elemento imprescindível.
· Remuneração do fornecedor: é indispensável, mas não precisa ser direta. Basta vantagem. Ex.: serviço de milhagem.
· Fornecedor equiparado/aparente: não participou da relação jurídica originária, mas é fornecedor. Ex.: Cadastros de Dados de Consumidor/empresa da marca de renome. 
· Poder público pode ser fornecedor? Sim (está no CDC e na lei das concessões 8987). Prestação de serviços públicos custeados mediante tarifa ou preço público (uti singuli). Não se aplica a relações de taxa/imposto (reação de d. administrativo/tributário: ex. rodovia sem pedágio, SUS). Fala-se em serviço público “gratuito”, mas não é gratuito, é mantido mediante tributos.
· Taxa vs. Tarifa/Preço público: taxa é tributo, submetida aos princípios tributários (legalidade, anterioridade, nonagesimal); é uma relação poder. Tarifa é uma relação de consumo, com a concessionária e esta tem uma relação de direito administrativo com o poder público.
Quem é o consumidor? Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.
· Consumidor equiparado ou bystander: Três situações: (1) art. 1º, pu: a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. (2) art. 17: quaisquer vítimas de fato de produto/serviço. (3) art. 29: exposição às práticas comerciais.
· Ente despersonalizado: também (isonomia). Ex.: Condomínio é consumidor (relação externa) (em reação a condôminos não: é relação de propriedade). Ex.: espólio, massa falida.
· Consumidor estrangeiro: sim. 
· Poder Público como consumidor: 
· Destinação final x Reinserção na cadeia produtiva & PJ: a PJ pode adquirir produto para sua atividade ou como destinatária final. 
Não há consumo: advogado que contrata empresa de boleto/cartão para receber de seus clientes. Imobiliária adquire imóvel para vender. locadora de veículos que contrata seguro para os veículos - insumo
Há consumo: Advogado adquire imóvel para sua sede. empresa que contrata seguro para sua sede.
· Destinação final: (1) Teoria finalista ou subjetiva (majoritária): art. 2º do CDC fala em destinação final, que pode ser fática (consumo) ou econômica (não reintrodução). (2) Teoria maximalista ou objetiva (minoritária): art. 29 do CDC “regula-se pelo CDC quem está exposto às atividades comerciais” – dá amplitude máxima ao CDC sem diferenciação por destinatário final, sendo o CDC o grande regulador do mercado. Fundamento do consumidor equiparado ou bystander. Aplicação do CDC a todo contrato de adesão (isso não prevalece, não se aplica às franquias); (3) Teoria finalista ou aprofundada (doutrina + STJ + art. 4º sobre vulnerabilidade): puro finalismo conduz a injustiças. Excepcionalmente, aplica-se o CDC mesmo sem ser destinatário final. Critério: no caso concreto ficar demonstrada a vulnerabilidade. Casos: caminhoneiro; taxista; pequenos agricultores.
	Vulnerabilidade: 
a) Técnica: não tem conhecimento da produção, técnica.
b) Econômica: financeira
c) Jurídica: não dispõe de meios jurídicos para se defender.
d) Informacional: não tem conhecimentos suficientes para escolha de aquisição consciente.
O que é produto? Art. 3º § 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.
O que é serviço? Art. 3º § 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.
	* DIFERENÇA ENTRE DECADÊNCIA E PRESCRIÇÃO DO CDC
1) PRAZO DECADENCIAL DE 30/90 DIAS - pedir por exemplo a simples TROCA do produto - VÍCIO DO PRODUTO do art. 18
2) PRAZO PRESCRICIONAL DE 5 ANOS - para pedir INDENIZAÇÃO que ultrapassa, por exemplo, a simples troca do produto - ex. dano moral, lucros cessantes; etc. - FATO DO PRODUTO do art. 12
DECADÊNCIA: Vale registrar que, nos termos do CDC, OBSTA a DECADÊNCIA a instauração de inquérito civil, até seu encerramento.
O STJ, por outro lado, decidiu expressamente que a instauração de inquérito civil não interrompe a prescrição: 
“(...).  O  pedido de  providências ao  Ministério Público Federal, ou mesmo a instauração de inquérito civil, não ilidem a ocorrência da prescrição. Isso porque, ainda que a parte interessada tenha realizado diligências em busca da solução da lide, o curso do prazo prescricional somente é interrompido nas hipóteses legais e suspenso quando se verificar a pendência de um acontecimento que impossibilite o interessado de agir, o que não se verifica na hipótese dos autos. (...).” (STJ, AgRg no REsp 1384087/RS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 19/03/2015, DJe 25/03/2015)
Quanto ao efeito obstativo da decadência, cuida-se de uma exceção à regra segundo a qual o prazo decadencial não pode ser impedido, suspenso ou interrompido, como consta do art. 207 do CC/2002. 
OBS: Debate-se na doutrina se a expressão “obstar” implica na hipótese de suspensão ou interrupção do prazo decadencial. A questão é importante, pois, na suspensão, o prazo para e depois continua de onde parou. Já na interrupção, o prazo para e volta ao seu início. Para Zelmo Denari, Hugo Nigro Mazzilli, James Eduardo Oliveira e Nelson Nery Junior, obstar significa SUSPENDER o prazo decadencial. De outro lado, Claudia Lima Marques, Leonardo Roscoe Bessa, Luiz Antônio de Souza e Leonardo de Medeiros Garcia entendem que obstar significa INTERROMPER.
A doutrina alerta, no entanto, que a m PRAZOS CDC
DIAS
5 dias úteis: Consumidor exigir correção de seus dados cadastrais, devendo o arquivista, nesse prazo, comunicar a alteração aos eventuais destinatários das informações incorretas;
7 dias: direito de arrependimento
10 dias: validade do orçamento
30 dias: Vício ser sanado (pode ser convencionado entre 7 e 180 dias); Reclamar de vício aparente em produto não durável; Prazo para suspensão das ações individuais, a contar da ciência nos autos do ajuizamento da ação coletiva.
90 dias: Reclamar de vício aparente em produto durável.
ANOS
1 ano: habilitação de interessados em número compatível nas ações coletivas.
5 anos: pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço; cadastros de consumidores não podendo conter informações negativas por prazo superior a cinco anos
elhor posição para o consumidor é a segunda, que interpreta a causa obstativa como espécie de interrupção do prazo decadencial (ANDRADE; MASSON; ANDRADE, 2016).
*Súmula 477, STJ - A decadência do art. 26 do CDC não é aplicável à prestação de contas para obter esclarecimentos sobre cobrança de taxas, tarifas e encargos bancários
	
13.A O SISTEMA NACIONAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR (SNDC). PRINCÍPIOS E DIREITOS BÁSICOS DA LEI Nº 8.078/1990. O PAPEL DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA DEFESA DO CONSUMIDOR.
	JURISPRUDÊNCIA 2020
	O laboratório tem responsabilidade objetiva na ausência de prévia informação qualificadaquanto aos possíveis efeitos colaterais da medicação, ainda que se trate do chamado risco de desenvolvimento
	Concessionária de transporte ferroviário não tem que indenizar passageira que sofreu assédio sexual praticado por outro usuário no interior do trem
	Bancos envolvidos na portabilidade de crédito possuem o dever de apurar a regularidade do consentimento e da transferência da operação, respondendo solidariamente pelas falhas na prestação do serviço
	Contraria o ordenamento jurídico-constitucional a permissão dada por resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) às instituições financeiras para cobrarem tarifa bancária pela mera disponibilização de crédito ao cliente na modalidade “cheque especial”.
	Plano de saúde possui responsabilidade solidária por danos causados pelos médicos e hospitais próprios ou credenciados
	Erro grosseiro de sistema não obriga empresas a emitir passagens compradas a preço muito baixo
	É lícita a cobrança de uma “taxa de conveniência” (um valor a mais) pelo fato de o ingresso estar sendo adquirido pela internet
O Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC) é composto por órgãos federais, do Distrito Federal, estaduais e municipais e por entidades privadas de defesa do consumidor. Instituído pela Lei n° 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor – CDC), tal sistema tem “o objetivo de possibilitar a articulação dos órgãos públicos e privados que possuem a atribuição e o dever de tutelar o consumidor, obtendo-se a almejada eficácia social da lei”.
Dentre os órgãos e entidades que, direta ou indiretamente, defendem o consumidor, destacam-se:
(i) Ministério Público: atua por meio da Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor e conta com uma série de instrumentos legais, tais como inquérito civil, procedimento de investigação preliminar, termo de ajustamento de conduta, ação coletiva etc.;
(ii) Defensoria Pública: atende aos consumidores lesados que não possuem recursos suficientes para contratar advogado particular, tanto no plano individual como coletivo;
(iii) Delegacias dos Consumidores: órgãos da polícia civil que têm por atribuição principal apurar, por meio do inquérito policial ou termo circunstanciado, as infrações penais praticadas contra as relações de consumo;
(iv) PROCON: órgãos estaduais e municipais de defesa do consumidor, cuja principal atribuição é aplicar, diretamente, as sanções administrativas, elencadas no art. 56 do CDC, aos fornecedores. Também exerce importante trabalho de informação dos direitos do consumidor e de conciliação entre as partes;
(v) Associações civis: são “associações privadas, sem fins lucrativos, instituídas por iniciativa de um grupo de pessoas para a defesa individual ou coletiva dos direitos e interesses do consumidor, para educar o consumidor, realizar
atividades de difusão e pesquisa científica deste ramo do direito, enfim, promover, direta ou indiretamente, a maior
eficácia do direito do consumidor no País.”;
(vi) Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC): tem como objetivo promover a integração e harmonia entre os diversos órgãos integrantes do SNDC, atuando também na educação para o consumo, na organização e manutenção do Sistema Nacional de Informações de Defesa do Consumidor (SINDEC) e na aplicação das sanções previstas no art. 56;
(vii) Agências: órgãos estatais criados para fiscalizar determinadas atividades econômicas que, naturalmente, afetam os interesses dos consumidores.
Todos os órgãos públicos de defesa do consumidor possuem o dever de organizar e divulgar relação de fornecedores que não respeitam os direitos dos consumidores (art. 44), pelo menos uma vez ao ano, com o fito de permitir que o consumidor se informe e evite lesões a seus direitos.
PRINCÍPIOS E DIREITOS BÁSICOS PREVISTOS NO CDC:
Os princípios do CDC estão no art. 4º e os direitos básicos do consumidor estão listados no art. 6º. Mencionam-se abaixo os dispositivos legais, complementados com algumas explicações ou entendimentos jurisprudenciais:
Quanto aos PRINCÍPIOS (art. 4°), tem-se:
(i) reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo.
STJ: “O ponto de partida do CDC é a afirmação do Princípio da Vulnerabilidade do Consumidor, mecanismo que visa a garantir igualdade formal-material aos sujeitos da relação jurídica de consumo” – Resp 586316. 
Todo consumidor é vulnerável, mas nem todo consumidor é hipossuficiente, característica que depende de análise casuística.
(ii) ação governamental no sentido de proteger efetivamente o consumidor;
(iii) harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores.
Obs: sobre a boa-fé, é importante é conhecer o princípio duty to mitigate de loss, reconhecido pelo STJ no REsp 758518, que significa o dever anexo do credor de mitigar o próprio prejuízo; 
(iv) educação e informação de fornecedores e consumidores, quanto aos seus direitos e deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo; 
(v) incentivo à criação pelos fornecedores de meios eficientes de controle de qualidade e segurança de produtos e serviços, assim como de mecanismos alternativos de solução de conflitos de consumo; 
(vi) coibição e repressão eficientes de todos os abusos praticados no mercado de consumo, inclusive a concorrência desleal e utilização indevida de inventos e criações industriais das marcas e nomes comerciais e signos distintivos, que possam causar prejuízos aos consumidores; 
(vii) racionalização e melhoria dos serviços públicos; 
(viii) estudo constante das modificações do mercado de consumo.
São DIREITOS BÁSICOS do consumidor (art. 6°): 
(i) a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos; 
(ii) a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações; 
(iii) a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem; 
(iv) a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços; 
(v) a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;
Obs: adotada a teoria da quebra da base objetiva, que não se confunde com a teoria da imprevisão prevista no CC; 
(vi) a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos (reparação integral); 
(vii) o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados; (viii) a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências 
Obs: prevalece hoje que se trata de regra de procedimento, para evitar a surpresa, deve o juiz, de preferência no saneamento, declarar a inversão do ônus da prova;
 (x) a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral.
O PAPEL DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA DEFESA DO CONSUMIDOR:
Considerado um microssistema processual coletivo, o Título III do CDC deve ser aplicado, no que for compatível, à ação popular, à ação de improbidade administrativa, a ação civil pública e ao mandado de segurança coletivo, tendo ampla abrangência no ordenamento jurídico pátrio no que tange à defesados direitos transindividuais, dentre os quais se situam os direitos do consumidor. 
Pode-se afirmar, nesse contexto, que o CDC concretizou mandamentos constitucionais de proteção do consumidor, o qual é mencionado ao menos três vezes ao longo da Constituição de 1988. No art. 5º (direitos e garantias fundamentais), inciso XXXII: “o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor”. No art. 170 (princípios gerais da atividade econômica): “A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social”, dispondo a seguir, em seu inciso V, que seja observada a “defesa do consumidor”. E por fim, no art. 48 das Disposições Constitucionais Transitórias, determinando prazo ao Congresso Nacional para a elaboração do CDC. 
A partir de tais mandamentos constitucionais, selecionou o constituinte alguns legitimados à tutela do consumidor, dentre os quais se destaca o Ministério Público quanto à sua defesa coletiva. Para tanto, trouxe em seu corpo preceitos que legitimam o interesse de agir do Parquet.
A CR/88 explicita as balizas fundamentais para a atuação do Ministério Público no Ordenamento Jurídico em seu art. 127: “O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis”; minudenciando tal incumbência, prescreve o art. 129: “São funções institucionais do Ministério Público: (...) III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos”.
Ademais, nos termos do art. 82, I, do CDC, o Ministério Público compõe o rol dos legitimados à defesa do consumidor em juízo. Sua representatividade adequada é ope legis, ou seja, previamente fixada em lei. Diferencia-se do sistema adotado pelas class actions norte-americanas, no qual a representatividade adequada é aferida em cada caso pelo juiz competente para o ajuizamento da ação coletiva – ope judicis.
Assim, o MP somente terá representatividade adequada para propor a ACP se os direitos/interesses discutidos na ação estiverem relacionados com as suas atribuições constitucionais, que são previstas no art. 127 da CF.
Na esfera extrajudicial, o MP realiza a defesa do consumidor por meio do inquérito civil público, no bojo do qual podem ser expedidas recomendações ou celebrados termos de ajustamento de conduta para cumprimento das normas consumeristas.
Além disso, a defesa do consumidor em juízo pelo Ministério Público será realizada através da Ação Civil Pública (ACP), que é a proposta por ele ou pelos demais legitimados ativos do art. 5º da Lei 7.347/85, bem como pelos sindicatos, associações de classe e outras entidades legitimadas na esfera constitucional, desde que seu objeto seja a tutela de interesses difusos ou coletivos.
Explica Garcia (2014) que tal legitimidade, de acordo com a doutrina, é concorrente e disjuntiva. Concorrente porque todas as pessoas e órgãos contidos na norma possuem legitimidade para toda e qualquer ação coletiva, não havendo exclusividade ou preferência. E disjuntiva porque cada legitimado pode, isolada e independentemente da vontade dos demais colegitimados, ajuizar ação coletiva. E caso desejem ajuizar ação conjuntamente, haverá litisconsórcio facultativo. 
Conforme leciona Mazzilli , embora o conceito de ação civil pública (ou de ação coletiva) alcance mais do que apenas as ações de iniciativa ministerial em defesa de consumidores, ordinariamente, é o Ministério Público quem tem tomado a iniciativa da propositura de medidas judiciais em defesa dos consumidores, e é sobre essa instituição que incidem diretamente as consequências do chamado princípio da obrigatoriedade.
No que tange à defesa dos direitos difusos e coletivos stricto sensu pelo Ministério Público, não surgem maiores dúvidas, pois ambos consistem em direitos transindividuais, cujos interesses subjacentes ligam-se por circunstâncias fáticas ou jurídicas comuns que extrapolam a esfera individual dos lesados. 
A controvérsia existente na jurisprudência e na doutrina volta-se à legitimidade do parquet para a defesa, via ACP, de interesses individuais homogêneos relacionados a grupos de consumidores. Segue abaixo resumo do dizer o direito sobre a legitimidade do MP, em conformidade com o entendimento das Cortes Superiores:
RESUMO DO DIZER O DIREITO SOBRE A LEGITIMIDADE DO MP:
1) Se o direito for difuso ou coletivo (stricto sensu), o MP sempre terá legitimidade para propor ACP (há posições em sentido contrário, mas é o que prevalece);
2) Se o direito individual homogêneo for indisponível (ex: saúde de um menor carente), o MP sempre terá legitimidade para propor ACP;
3) Se o direito individual homogêneo for disponível, o MP pode agir desde que haja relevância social.
Ex1: defesa dos interesses de mutuários do Sistema Financeiro de Habitação.
Ex2: defesa de trabalhadores rurais na busca de seus direitos previdenciários.
4) O Ministério Público possui legitimidade para a defesa de direito individual indisponível mesmo quando a ação vise à tutela de pessoa individualmente considerada (tutela do direito indisponível relativo a uma única pessoa).
Ex: MP ajuíza ACP para que o Estado forneça uma prótese auditiva a um menor carente com deficiência.
Assim, o MP sempre terá legitimidade quando os direitos envolvidos:
• revestirem-se de interesse social; ou
• caracterizarem-se como individuais indisponíveis.
E quando se trata de defesa de direitos dos consumidores?
Prevalece o entendimento de que “a proteção coletiva dos consumidores constitui não apenas interesse individual do próprio lesado, mas interesse da sociedade como um todo. Realmente, é a própria Constituição que estabelece que a defesa dos consumidores é princípio fundamental da atividade econômica (CF, art. 170, V), razão pela qual deve ser promovida, inclusive pelo Estado, em forma obrigatória (CF, art. 5º, XXXII).
Não se trata, obviamente, da proteção individual, pessoal, particular, deste ou daquele consumidor lesado, mas da proteção coletiva, considerada em sua dimensão comunitária e impessoal.
Compreendida a cláusula constitucional dos interesses sociais (art. 127) nessa dimensão, não será difícil concluir que nela pode ser inserida a legitimação do Ministério Público para a defesa de ‘direitos individuais homogêneos’ dos consumidores, o que dá base de legitimidade ao art. 82, I da Lei nº 8.078/90 (...)” (voto do falecido Min. Teori Zavascki no REsp 417.804/PR, DJ 16/05/2005).
Min. Teori Zavascki: “o seguro DPVAT não é um seguro qualquer. É seguro obrigatório por força de lei e sua finalidade é proteger as vítimas de um recorrente e nefasto evento da nossa realidade moderna, os acidentes automobilísticos, que tantos males, sociais e econômicos, trazem às pessoas envolvidas, à sociedade e ao Estado, especialmente aos órgãos de seguridade social. Por isso mesmo, a própria lei impõe como obrigatório (...)”
Logo, pela natureza e finalidade desse seguro, o seu adequado funcionamento transcende os interesses individuais dos segurados. Há, portanto, manifesto interesse social nessa controvérsia coletiva.
Em outras palavras, trata-se de direitos individuais homogêneos, cuja tutela se reveste de interesse social qualificado, autorizando, por isso mesmo, a iniciativa do Ministério Público de, com base no art. 127 da Constituição, defendê-los em juízo mediante ação coletiva.
Agora, tanto o STF como o STJ entendem que o Ministério Público detém legitimidade para ajuizar ação coletiva em defesa dos direitos individuais homogêneos dos beneficiários do seguro DPVAT, dado o interesse social qualificado presente na tutela dos referidos direitos subjetivos” (STJ. 2ª Seção. REsp 858.056/GO, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 27/05/2015. e STF. Plenário. RE 631.111/GO, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em06 e 07/08/2014).
“A tutela efetiva de consumidores possui relevância social que emana da própria Constituição Federal (arts. 5º, XXXII, e 170, V).” (STJ. 3ª Turma. REsp 1254428/MG, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 02/06/2016).
 Assim, “o Ministério Público ostenta legitimidade ativa para a propositura de Ação Civil Pública objetivando resguardar direitos individuais homogêneos dos consumidores.” (STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1569566/MT, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 07/03/2017).
O Ministério Público tem legitimidade ativa para a propositura de ação civil pública destinada à defesa de direitos individuais homogêneos de consumidores, ainda que disponíveis, pois se está diante legitimação voltada à promoção de valores e objetivos definidos pelo próprio Estado (STJ. 3ª Turma. REsp 1254428/MG, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 02/06/2016).
“O Ministério Público possui legitimidade para promover ação civil pública para tutelar não apenas direitos difusos ou coletivos de consumidores, mas também direitos individuais homogêneos, inclusive quando decorrentes da prestação de serviços públicos” (STJ. 1ª Turma. REsp 929.792/SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 18/02/2016).
Ex: ação civil pública proposta pelo Ministério Público contra o Município e contra a empresa concessionária do serviço público de transporte de passageiros questionando o reajuste da tarifa de ônibus, que teria sido abusivo, violando os direitos individuais homogêneos dos consumidores.
Súmulas:
Súmula 601/STJ: “O Ministério Público tem legitimidade ativa para atuar na defesa de direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos dos consumidores, ainda que decorrentes da prestação de serviço público”.
Súmula 653/STF: “O Ministério Público tem legitimidade para promover ação civil pública cujo fundamento seja a ilegalidade de reajuste de mensalidades escolares”.
DEFESA DO CONSUMIDOR NO ÂMBITO DO MPF:
A defesa do consumidor, no âmbito do MPF, está abrangida pela 3ª Câmara de Coordenação e Revisão, que também é responsável pela defesa da concorrência e pela regulação da atividade econômica. Ressalte-se que as duas últimas atuações também têm como um de seus fins a tutela do consumidor. 
É importante memorizar as áreas de destaque de atuação do MPF, que se consubstanciam nos Grupos de Trabalho - GT - compostos por procuradores da República que se dedicam à discussão de questões importantes nos temas da 3ª Câmara. Esses Grupos de Trabalho concentram-se na análise de tópicos de interesse estratégico para o MPF e no acompanhamento das políticas públicas prioritárias, identificando problemas de repercussão nacional.
Merecem destaque os Enunciados da 3ª CCR que abordam o tema da defesa do consumidor pelo MPF:
Enunciado 27: Nos casos em que as circunstâncias dos autos extrajudiciais indicarem dúvida sobre o cunho individual, ou transindividual, dos interesses em discussão, cabe ofício ao órgão competente para saber o número de representações, queixas ou demandas de qualquer espécie contra a representada, no correr de um período razoável para esse fim. (Aprovado na 6ª Sessão Ordinária de 2016, realizada em 31/08/2016)
Enunciado 26: Refogem às atribuições da 3ª CCR as demandas relativas a mensalidades, renovação/trancamento de matrícula, lançamento de notas e taxas abusivas em geral; tais matérias encontram-se alheias ao feixe de atribuições do Parquet Federal, consoante jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça. (Aprovado na 5ª Sessão Ordinária de 2016, realizada em 08/06/2016);
Enunciado 25:Refogem às atribuições da 3ª CCR as demandas relativas a Instituições de Ensino Superior que funcionem sem autorização do MEC, assim como a ausência de expedição de diploma de curso superior. (Aprovado na 5ª Sessão Ordinária de 2016, realizada em 08/06/2016);
Enunciado 23: Refogem às atribuições da 3ª CCR e dos ofícios a ela vinculados as demandas relativas à propaganda enganosa praticada por meio da internet. A hipótese é de violação a direito do consumidor que deve ser apurada pelo Ministério Público Estadual. (Aprovado na 4ª Sessão Ordinária de 2016, realizada em 24/05/2016);
Enunciado 22: Refogem às atribuições da 3ª CCR demandas relativas à adulteração de combustíveis para revenda, porquanto a questão detém natureza criminal (a teor da Lei nº 8.176/91). (Aprovado na 2ª Sessão Ordinária de 2016, realizada em 20/04/2016);
Enunciado 19: Refogem às atribuições da 3ª CCR as demandas relativas à exposição indevida de dados pessoais por meio da rede mundial de computadores, porquanto não se identifica relação de consumo. (Aprovado na 1ª Sessão Ordinária de 2016, realizada em 10/03/2016);
Enunciado 16: Constitui múnus do Ministério Público Federal atuar em processos administrativos e judiciais na repressão às infrações contra a ordem econômica e zelar pela observância por parte dos agentes econômicos dos princípios constitucionais da livre concorrência e da defesa do consumidor e dos direitos e interesses tutelados pela Lei 12.529/11. (Aprovado na 1ª Sessão Ordinária de 2016, realizada em 10/03/2016);
Enunciado 13: Não configura relação de consumo contrato de Financiamento Estudantil (FIES) firmado entre instituição financeira e estudante. De tal modo, refoge às atribuições desta 3ª CCR a revisão de procedimentos que envolvam a referida matéria. (Aprovado na 6ª Sessão Ordinária de 2015, realizada em 26/08/2015);
Enunciado 08: O aparelho de telefone celular é produto essencial, para os fins previstos no art. 18, § 3º, da Lei nº 8.078/90 (CDC);
Enunciado 05: O regime do Código de Defesa do Consumidor não incide nos contratos de prestação de serviços de advocacia;
Enunciado 03: Quando, pelo exame da representação ou dos documentos presentes nos autos, restar inequívoco que a matéria objeto do feito é uma hipótese de lesão ou ameaça a direito individual disponível e não homogêneo, deve ser homologado o pedido de arquivamento, com fundamento na ilegitimidade da atuação do Ministério Público no caso sob análise.
13.B O DIREITO DO CONSUMIDOR NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS PÚBLICO. A PROTEÇÃO À SAÚDE E SEGURANÇA DO CONSUMIDOR.
I - O direito do consumidor na prestação de serviços públicos. 
	Maria Sylvia Zanella Di Pietro ensina que serviço público é a atividade material que a lei atribui ao Estado para que exerça diretamente ou por intermédio de seus delegados, com o objetivo de satisfazer concretamente as necessidades coletivas, sob um regime total ou parcialmente público. Atividade material é uma utilidade ou comodidade disponível para o usuário.
	Os serviços extraídos de uma relação contratual estão aptos a configurar a relação de consumo, como nos casos de serviços públicos de fornecimento de água, energia elétrica, gás, telefonia, transporte público, financiamento, etc. 
	A aplicação do Direito do Consumidor aos serviços públicos é uma decorrência fundamental do movimento de liberalização econômica ocorrido a partir da década de 1980. Inserida a concorrência na prestação dos serviços públicos, estes passaram a ser atividades total ou parcialmente regidas pelo mercado, sendo necessária, consequentemente, a aplicação, pelo menos em parte, do Direito do Consumidor, que constitui um dos pilares da disciplina jurídica do mercado.
	Apesar das peculiaridades inerentes ao regime jurídico dos serviços públicos (políticas tarifárias, jus variandi da Administração Pública, etc.), a aplicação do CDC aos serviços públicos não pode ser excluída, até porque há dispositivos legais expressos nesse sentido. Vale citar, neste ponto, que o CDC elenca a melhoria dos serviços públicos como princípio da Política Nacional das Relações de Consumo, a prestação adequada dos serviços públicos como direito dos consumidores e a obrigação do Estado e de seus delegatários pela prestação de serviços adequados. A Lei 8.987/95 (Lei de Concessões e Permissões de Serviços Públicos), por sua vez, faz remissão genérica à aplicação do CDC aos usuários de serviços públicos.
	Todavia, os serviços públicos uti universi (prestados a toda a coletividadee custeados por meio da arrecadação de tributos) não ensejam relação de consumo, pois caracterizam relação tributária e não consumerista. O CDC, portanto, aplica-se aos serviços públicos remunerados de forma específica, com utilização particular e mensurável por cada destinatário (uti singuli). Enquadram-se os serviços públicos remunerados por tarifa (água, eletricidade, transporte público, etc.), cujos prestadores têm responsabilidade OBJETIVA pelos vícios e danos ocasionados aos consumidores. De outro vértice, se o serviço for remunerado por taxa (licenciamento de veículo, etc.) ou por impostos (segurança pública, saúde, etc.), o CDC não é aplicável. Quanto à atividade notarial e registral, há muita polêmica, mas o STJ tem precedente no sentido de que se aplica o CDC, muito embora a Lei 13.286/2016 tenha previsto a responsabilidade subjetiva dos cartorários.
	O STJ vem expressamente identificando as relações das quais participam usuários de serviços públicos específicos e remunerados como uma relação de consumo, tendo havido decisões nesse sentido em relação aos usuários de pedágio pela manutenção de rodovias, aos usuários de serviços de distribuição domiciliar de água potável e dos correios, entre outros.
	A Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA têm competência legal para atuar na proteção e defesa dos consumidores, nos moldes das respectivas leis de regência (Lei 9427 e Lei 9.782).
	O CDC estabelece que “os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.” (artigo 22). Por outro lado, a lei de concessões e permissões dispõe que não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua interrupção em situação de emergência ou após prévio aviso, quando: motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações ou por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade. 
	Bem por isso, a jurisprudência do STJ entende pela necessidade de prévia notificação antes da realização de corte de serviço público essencial (energia elétrica e água, por exemplo). De acordo com a jurisprudência, é legal a suspensão do serviço essencial pelo inadimplemento do consumidor, após aviso prévio, exceto quanto aos débitos antigos, passíveis de cobrança pelas vias ordinárias. Todavia, há quem critique esse posicionamento, com fundamento na dignidade da pessoa humana, no princípio da continuidade do serviço público, no direito ao mínimo existencial e na própria literalidade no dispositivo do CDC, ao dispor que os serviços essenciais serão contínuos. 
	Existem situações reconhecidas pela jurisprudência do STJ, em que a concessionária não pode suspender o fornecimento de água ou energia, mesmo havendo atraso no pagamento: 1) quando os débitos em atraso foram contraídos pelo morador anterior; 2) quando os débitos forem antigos (consolidados no tempo), na medida em que o corte de serviços essenciais pressupõe o inadimplemento de conta regular, atinente ao mês de consumo, de modo que a interrupção não pode servir como meio de compelir o consumidor a pagar débitos pretéritos; 3) quando o débito for decorrente de fraude no medidor de consumo, apurada unilateralmente pela concessionária; 4) em casos especiais, como a miserabilidade do consumidor, em respeito ao postulado da dignidade da pessoa humana, não se tem permitido a interrupção. 
	No tocante às pessoas jurídicas de direito público, o STJ entende que pode ocorrer a interrupção, desde que sejam preservadas as unidades públicas provedoras de necessidades inadiáveis da comunidade. 
	Súmula 412, STJ: A ação de repetição de indébito de tarifas de água e esgoto sujeita-se ao prazo prescricional estabelecido no Código Civil. Súmula 407, STJ: É legítima a cobrança da tarifa de água, fixada de acordo com as categorias de usuários e as faixas de consumo. 
	Na falta de hidrômetro ou defeito de funcionamento, a cobrança pelo fornecimento de água deve ser pela tarifa mínima, vedada a cobrança por estimativa. A cobrança indevida na fatura de energia elétrica, por culpa da concessionária, enseja a devolução em dobro prevista no parágrafo único do artigo 42 do Código de Defesa do Consumidor (STJ).
	Súmula 595, STJ: as instituições de ensino superior respondem objetivamente pelos danos suportados pelo aluno/consumidor pela realização de curso não reconhecido pelo Ministério da Educação, sobre o qual não lhe tenha sido dada prévia e adequada informação.
	O fornecimento das faturas discriminadas será sem ônus para o assinante consumidor, bastando que seja requerida uma única vez, marcando para a concessionária o momento a partir do qual o consumidor pretende obter suas faturas com detalhamento (STJ).
	O extravio de correspondência registrada acarreta dano moral in re ipsa (sem necessidade de comprovação do prejuízo), devendo a ECT indenizar o consumidor. A ECT é responsável pelos danos sofridos por consumidor que foi assaltado no interior de agência dos Correios na qual é fornecido o serviço de banco postal (STJ).
	A concessionária de transporte ferroviário pode responder por dano moral sofrido por passageira, vítima de assédio sexual, praticado por outro usuário no interior do trem (STJ).
	Há quem defenda a aplicação do CDC aos serviços públicos somete em caso de omissão do Direito Administrativo e na medida em que não haja incompatibilidade com os princípios fundamentais norteadores do serviço público. 
	Marçal Justen Filho entende que, quando o Poder Concedente for Estado ou Município há também um problema federativo na aplicação sem ressalvas do CDC, uma lei da União que subordinaria as leis dos outros entes federativos sobre os seus próprios serviços públicos. De qualquer forma, há a lei nacional das concessões de serviço público (Lei 8.987) que deve ser observada inclusive pelos Estados e Municípios, que estabelece, como norte de sua aplicação a exigência de prévio procedimento licitatório, a prestação do serviço adequado, a modicidade das tarifas, entre outros.
	Por fim, vale ressaltar que a aplicação do Código de Defesa do Consumidor não ocorre de maneira indiscriminada a todos os usuários dos serviços públicos, porquanto nem todos se inserem no conceito de consumidor, vulnerável e destinatário final do produto, como exemplo, postos de venda de gás natural canalizado a veículos. A esses somente se aplicaria somente o direito subjetivo público à efetiva prestação do serviço adequado, previsto no art. 6º da Lei nº 8.987/1995.
	As pessoas jurídicas de direito público também podem ser consumidoras. Desde que vulneráveis na relação jurídica, pode-se considerar um determinado Município, Estado ou até a União como consumidora. O STJ já analisou a vulnerabilidade de um município para concluir pela aplicabilidade ou não do CDC (“para se enquadrar o Município no art. 2º do CDC, deve-se mitigar o conceito finalista de consumidor nos casos de vulnerabilidade, tal como ocorre com as pessoas jurídicas de direito privado” - REsp 913.711/SP).
	
	II – A proteção à saúde e à segurança do consumidor. 
	O art. 6º do Código de Defesa do Consumidor, elenca como direito básico do consumidor a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos”. O direito do consumidor de não ser exposto a perigos que atinjam sua integridade física ocasiona o dever do fornecedor de não colocar e/ou retirar do mercado produtos e serviços que possam representar riscos (DEVER GERAL DE SEGURANÇA), além do pagamento de indenização por danos efetivos que possam já ter ocorrido. Neste passo, surge outro direito básico do consumidor: a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem. Com efeito, o fornecedorde produtos e serviços potencialmente nocivos ou perigosos à saúde ou segurança deverá informar (nas embalagens, rótulos, publicidade), de maneira ostensiva e adequada, a respeito da sua nocividade ou periculosidade, sem prejuízo da adoção de outras medidas cabíveis em cada caso concreto (DEVER DE INFORMAÇÃO). Nos produtos refrigerados, serão gravadas de forma indelével. Em se tratando de produto industrial, as informações devem constar de impressos apropriados que acompanham o bem (manual). O fornecedor deverá higienizar os equipamentos e utensílios e informar, de maneira ostensiva e adequada, quando for o caso, sobre o risco de contaminação. Sempre que tiverem conhecimento de periculosidade de produtos ou serviços à saúde ou segurança dos consumidores, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão informá-los a respeito. 
	As informações devem ser: corretas (verdadeiras), claras (de fácil entendimento), precisas (necessárias, úteis, concisas), ostensivas (de fácil percepção) e em língua portuguesa. As informações devem incluir, inclusive, dados sobre forma de pagamento, juros, prazos de validade, etc.
	O dever geral de segurança e informação em favor dos consumidores e terceiros que possam ser atingidos por prática de consumo tem destaque para o foco preventivo, voltado para a proteção contra o risco. O simples risco, mesmo que hipotético, já representa dano, pois atenta contra a proteção da confiança do consumidor e retira das pessoas a tranquilidade advinda da segurança. Vige a noção geral da expectativa legítima, de que os produtos e serviços devem atender as expectativas de segurança de que deles legitimamente se espera. E tal expectativa não é aquela do consumidor-vítima, individualmente, mas sim a concepção coletiva da sociedade de consumo.
	Em termos de responsabilidade do fornecedor surge a teoria da qualidade, que comporta duas vertentes: a) a proteção do patrimônio do consumidor (com tratamento dos vícios de qualidade por inadequação); b) e a proteção da saúde do consumidor (com tratamento dos vícios de qualidade por insegurança). Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito. 
 	Em relação à segurança dos produtos e serviços, Herman Benjamin propõe a seguinte divisão: periculosidade inerente: os riscos presentes são normas e previsíveis, pois intrínsecos e relacionados à própria natureza ou fruição do produto ou serviço, não ensejando indenização, mas o consumidor tem direito à informação sobre a insegurança (ex. faca de cozinha, medicamentos, agrotóxicos); periculosidade adquirida: os produtos e serviços tornam-se perigosos em razão de um defeito adquirido. Caso sanado o defeito, não apresentariam riscos anormais aos consumidores. São defeitos de fabricação, de concepção (do design ou projeto), de comercialização e até mesmo de informação. Tais produtos constituem o objeto central do regime de responsabilidade do CDC. Caracterizam-se pela imprevisibilidade para o consumidor; e periculosidade exagerada: são os produtos e serviços considerados defeituosos por ficção, pois a informação aos consumidores não serve para mitigar os riscos (ex. brinquedo com grandes possibilidades de sufocar uma criança). Não podem ser colocados no mercado, pois os benefícios não compensam a insegurança gerada.
	O STJ entende que, para a responsabilização do fornecedor por acidente do produto não basta ficar evidenciado que os danos foram causados pelo medicamento. O defeito do produto deve apresentar-se, concretamente, como sendo o causador do dano experimentado pelo consumidor. Em se tratando de produto de periculosidade inerente (medicamento com contraindicações), cujos riscos são normais à sua natureza e previsíveis (na medida em que o consumidor é deles expressamente advertido), eventual dano por ele causado ao consumidor não enseja a responsabilização do fornecedor. Isso porque, neste caso, não se pode dizer que o produto é defeituoso.
	É um direito do consumidor ser informado, para que possa decidir conscientemente sobre o que adquire e utiliza. Se depois que o produto for colocado à venda e introduzido no mercado o fornecedor tiver conhecimento de seu perigo, deverá comunicar tal fato, imediatamente, às autoridades competentes e aos consumidores, por meio de anúncios publicitários em rádios, TV, jornais, etc. Trata-se do RECALL, que consubstancia dever contratual, disciplinado pelo CDC, que não exclui a responsabilidade do fornecedor e o dever de indenizar os danos causados. O STJ não considera culpa concorrente o fato de o consumidor não ter atendido ao recall, de modo que faltar ao recall não afasta a responsabilidade objetiva do fabricante. Ainda, o STJ entende que não se pode pleitear danos morais pelo simples fato de o fornecedor chamar o consumidor para sanar o vicio no produto. Os anúncios para o recall serão às expensas do fornecedor. 
	Se um produto ou serviço, na forma como foi concebido e/ou está sendo fornecido, é considerado defeituoso por não apresentar a segurança que dele se pode esperar, evidente que não deve existir no mercado. Todavia, a simples imposição legal estabelecida pela teoria da qualidade não é suficiente para garantir que todos os fornecimentos tenham segurança absoluta, principalmente em se tratando de sociedades ainda em desenvolvimento. Tecnicamente, como visto, existe a possibilidade de tolerância para riscos inerentes (quando normais e previsíveis), porém é dever do fornecedor tudo fazer para minimizá-los a ponto de serem mantidos dentro de limites plenamente justificados e toleráveis. O CDC dispõe que o fornecedor não poderá colocar no mercado produto ou serviço que sabe ou deveria saber, apresentar alto grau de nocividade ou periculosidade à saúde ou segurança. E tal dever não deve se restringer apenas para produtos ou serviços com extremado grau de nocividade ou periculosidade, mas sim a todo e qualquer desvio de segurança que extrapole os limites razoáveis/viáveis legalmente. 
	Por fim, importa ressaltar a Teoria do Risco de Desenvolvimento, que se refere ao risco que não pode ser identificado quando da colocação do produto no mercado, mas, em função de avanços científicos e técnicos, é descoberto posteriormente, depois de algum tempo de uso do produto. Prevalece que não exclui a responsabilidade, porque o fornecedor é sempre responsável pelos efeitos nefastos de seu produto, ainda que este apresente inteira conformidade com as exigências da tecnologia e da ciência da época da fabricação.
	Nos casos de encontro de corpo estranho em alimento industrializado, o STJ tem precedentes ora exigindo a ingestão do produto para configurar dano moral indenizável, ora admitindo o dano mesmo sem a ingestão, por exposição à risco concreto de lesão à saúde e segurança do consumidor.
	O STJ já decidiu que o fornecedor de alimentos deve complementar a informação-conteúdo "contém glúten" com a informação-advertência de que o glúten é prejudicial à saúde dos consumidores com doença celíaca. É dispensável o requisito temporal (pré-constituição há mais de um ano) para associação ajuizar ação civil pública quando o bem jurídico tutelado for a prestação de informações ao consumidor sobre a existência de glúten em alimentos (manifesto interesse social/relevância do bem jurídico).
	A comprovação de graves lesões decorrentes da abertura de air bag em acidente automobilístico em baixíssima velocidade, que extrapolam as expectativas que razoavelmente se espera do mecanismo de segurança, ainda que de periculosidade inerente, configura a responsabilidade objetiva da montadora de veículos pela reparação dos danos ao consumidor (STJ).
	Quando um hospital credenciado não prestar determinados serviços para os usuários do plano, este deverá informar ao consumidor, de forma clara, qual é a restrição existente equais as especialidades oferecidas pela entidade que não estão cobertas, sob pena de todas elas estarem incluídas no credenciamento (STJ).
13.C A RESPONSABILIDADE CIVIL PELO FATO E PELO VÍCIO DO PRODUTO. A DECADÊNCIA E A PRESCRIÇÃO APLICADAS ÀS RELAÇÕES DE CONSUMO.
O CDC adota a responsabilidade objetiva do fornecedor (fabricante, produtor, construtor e importador). A ocorrência da culpa, portanto, é irrelevante, pois não interfere na responsabilização. Basta ao consumidor demonstrar o evento danoso, o dano e o nexo causal (teoria do risco da atividade). 
Em relação ao profissional liberal, o CDC afirma que a responsabilidade será subjetiva (art. 14, § 4º), ou seja, mediante a verificação de culpa, independentemente de se tratar de obrigação meio ou de resultado. Contudo, na obrigação de resultado haverá a culpa presumida. Assim, nas obrigações de resultado de profissionais liberais, como a cirurgia plástica, a responsabilidade continua sendo subjetiva mas há a presunção de culpa, com inversão do ônus da prova (STJ, REsp 1395254/SC). Obs.: gestor de fundo é profissional liberal, logo, responsabilidade é subjetiva (CDC, art. 14, §4º). A obrigação é de meio, logo, não há culpa presumida.
Responsabilidade pelo vício: o vício do produto ou do serviço refere-se a anomalias que afetam a sua funcionalidade, sem produzir risco à saúde ou à segurança do consumidor. Concerne aos produtos e serviços que se revelam inadequados às suas finalidades, porque contêm vícios de quantidade ou qualidade, tornando-os impróprios ou inadequados para o consumo ou diminuindo-lhes o valor. Procura-se resguardar o patrimônio do consumidor dos prejuízos relacionados com a falta de conformidade ou qualidade dos produtos ou serviços. A inadequação, no vício de qualidade, pode ocorrer por impropriedade do produto (deterioração, adulteração, falsificação), diminuição do seu valor ou por disparidade informativa. O produto é inadequado quando é incapaz de satisfazer a legítima expectativa do consumidor. Já os vícios de quantidade são aqueles em que o conteúdo líquido do produto é inferior às indicações constantes do recipiente, embalagem ou mensagem publicitária. Os serviços são impróprios quando se mostram inadequados para os fins que deles se esperam e também quando há disparidade qualitativa entre o serviço executado e a oferta. 
Em regra geral, todos os fornecedores são solidariamente responsáveis pela ocorrência dos vícios, sem benefício de ordem. Somente em duas situações ocorre a responsabilização direta e imediata do comerciante (fornecedor direto): a) No caso de fornecimento de produtos in natura, salvo se houver identificação clara de seu produtor (art. 18 § 5º); b) Quando a pesagem ou a medição são feitas pelo vendedor e o instrumento utilizado não estiver aferido segundo os padrões oficiais (art. 19 § 2º). Não sendo sanado o vício em trinta dias, o consumidor terá direito às escolhas enumeradas no art. 19. Sendo impossível a substituição do produto, o consumidor poderá exigir a substituição por outro de espécie, marca ou modelo diversos, complementando o pagamento ou obtendo restituição da diferença. Se o vício referir-se à quantidade o consumidor poderá ainda exigir a complementação do peso ou medida (art. 19, II).
Responsabilidade pelo fato: aqui, há a exteriorização da inadequação do produto ou serviço, afetando a saúde ou a segurança do consumidor (acidente de consumo). A doutrina (Benjamin) entende que, em todos os casos há responsabilidade solidária do comerciante, pois sua inclusão visa favorecer o consumidor. Exclusão da responsabilidade: consta no art. 12 § 3°. A culpa concorrente não exclui a responsabilidade do fornecedor, mas reduz o quantum indenizatório. O caso fortuito ou a força maior excluem a responsabilidade por quebrarem a relação de causalidade entre o defeito e o dano. O CDC não trouxe esta hipótese, mas também não a negou, de modo que Benjamin entende não ter sido afastado, neste ponto, o sistema tradicional de responsabilização civil. Quanto ao denominado risco de desenvolvimento (defeitos que, em face do estado de da ciência e da técnica à época de sua colocação no mercado, eram desconhecidos e imprevisíveis), a doutrina não o considera como excludente de responsabilidade. O CDC proibiu as cláusulas de irresponsabilidade ou de não indenizar (art. 25). 
O CDC adotou o regime da garantia legal, que independe de qualquer convenção entre as partes, determinando que o fornecedor coloque no mercado de consumo produtos ou serviços de boa qualidade, sem vícios ou defeitos. Para o CDC não importa a distinção entre responsabilidade contratual e responsabilidade extracontratual (teoria unitária da responsabilidade).
Jurisprudência: 1) "A vedação à denunciação da lide prevista no art. 88 do CDC não se restringe à responsabilidade de comerciante por fato do produto (art. 13 do CDC), sendo aplicável também nas demais hipóteses de responsabilidade civil por acidentes de consumo (arts. 12 e 14 do CDC)" (REsp n. 1.165.279/SP, Relator Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, DJe de 28/5/2012).” (AgRg no AgRg no AREsp 546629 / SP, 2015, STJ); 2) O aparecimento de grave vício em revestimento (pisos e azulejos), quando já se encontrava devidamente instalado na residência do consumidor, configura FATO DO PRODUTO, sendo, portanto, de 5 anos o prazo prescricional da pretensão reparatória (art. 27 do CDC). O art. 12, § 1º do CDC afirma que defeito diz respeito a circunstâncias que gerem a insegurança do produto ou serviço. Está relacionado, portanto, com o acidente de consumo. No entanto, a doutrina e o STJ entendem que o conceito de “fato do produto” deve ser lido de forma mais ampla, abrangendo todo e qualquer vício que seja grave a ponto de ocasionar dano indenizável ao patrimônio material ou moral do consumidor. Desse modo, mesmo o produto/serviço não sendo “inseguro”, isso poderá configurar “fato do produto/serviço” se o vício for muito grave a ponto de ocasionar dano material ou moral ao consumidor. Foi nesse sentido que o STJ enquadrou o caso acima (do piso de cerâmica). STJ. 3ª Turma. REsp 1.176.323-SP, Rel. Min. Villas Bôas Cueva, julgado em 3/3/2015 (Info 557).
Obs. Vitaminada: PERICULOSIDADE VS. DEFECTIBILIDADE. No fornecimento de produto ou serviço, tanto o perigo quanto o defeito podem ser causa de responsabilidade do empresário, no entanto, pelas suas peculiaridades, não se confundem. “No fornecimento perigoso, a razão dos prejuízos sofridos pelo consumidor é a utilização indevida (mal orientada pelo fornecedor) do produto ou serviço, enquanto no defeituoso aqueles prejuízos decorrem de algum impropriedade no objeto de consumo.” (Fabio Ulhoa Coelho) a) Fornecimento perigoso. Fornecimento perigoso é aquele que, não sendo defeituoso, é desacompanhado de informações adequadas acerca dos riscos envolvidos com o seu consumo. A responsabilidade do fornecedor em virtude do perigo causado é decorrência do dever de informar consubstanciado no art. 9º, CDC. b) Fornecimento defeituoso. O fornecimento será defeituoso, quando o produto ou serviço apresenta com impropriedade na concepção, execução ou comercialização, de que resulta dano à saúde, integridade física ou interesse econômico do consumidor.
Súmulas relevantes para o tema: 130 e 479, STJ.
Questões: (CEI Reta Final MPF) 14. Analise os itens abaixo e assinale a altrnativa incorreta: a) O CDC adota, como regra, a responsabilidade objetiva, mas admite causas de exclusão da responsabilidade do fornecedor, demonstrando que não encampa a responsbailidade objetiva com risco integral, mas a teoria do risco da atividade desenvolvida (...). VERDADEIRO. Com a teoria do risco da atividade ou do empreendimento o enfoque da responsabilidade é deslocado da ideia de culpa para a questão do risco que a atividade desempenhada é capaz de causar. O fato de auferir os cômodos de um lado e arcar com os incômodos de outro (risco-proveito), somadoao princípio da confiança legítima, faz com que o fornecedor, pela teoria do risco ora citada, responda de forma objetiva. Porém, o CDC admite causas excludentes da responsabilidade do fornecedor,k o que afasta a teoria do risco integral, que não admite tais excludentes. 
No CDC, a decadência refere-se ao direito de reclamar por vícios aparentes ou ocultos do produto ou serviço (art. 26), enquanto a prescrição diz respeito à pretensão pela reparação de danos por fato do produto ou do serviço (art. 27). Os prazos de decadência são de 30 dias, tratando-se de produtos ou serviços não duráveis, ou 90 dias, para os duráveis (art. 26, I e II). O termo inicial do prazo muda conforme o vício seja aparente ou oculto: na primeira hipótese, conta-se da entrega do produto ou do término da execução dos serviços (art. 26, § 1); na segunda, do momento em que ficar evidenciado o defeito (art. 26, § 3º).
Para Zelmo Denari, a responsabilidade do fornecedor por vícios ocultos não pode ser eterna. Assim, surgido o vício oculto enquanto vigente o prazo de garantia (fase de preservação), pode o consumidor exigir a substituição das partes viciadas até a data-limite da garantia, ou, sucessivamente, valer-se das faculdades previstas no art. 18, § 1º do CDC no prazo decadencial de 30 ou 90 dias, conforme a natureza não-durável ou durável do produto ou serviço. Porém, se o vício oculto se manifestar depois de esgotado o prazo de garantia (fase de conservação ou degradação), há uma presunção relativa de escoamento da vida útil do produto, e assim o consumidor não poderá acionar o fornecedor. A presunção é relativa porque o Judiciário poderá avaliar a valia e extensão do termo de garantia previsto no art. 50 do CDC, tendo em vista o binômio desgaste/ação do tempo relativo ao produto em questão. O STJ entende que o termo a quo do prazo de decadência para as reclamações de vícios no produto dá-se após a garantia contratual (Resp 547.794). 
Para alguns autores, como Leonardo Medeiros e Herman Benjamin, o critério da vida útil do produto ou serviço deve ser analisado pelo juiz no caso concreto, mantendo-se o termo a quo do prazo a descoberta do vício. Nesses casos, o limite temporal da garantia legal é aberto. Portanto, embora os prazos do CC sejam maiores (art. 445 e § 1), conclui-se que a disciplina do CDC é mais favorável, pois o prazo só começa a correr da manifestação do vício e ainda pode ser obstado (art. 26, § 2).
O art. 26, § 2 do CDC prevê causas que obstam a decadência: a reclamação formulada pelo consumidor ao fornecedor até a resposta negativa, e a instauração de inquérito civil até seu encerramento. A reclamação pode ser feita por qualquer meio (v.g. verbalmente, telefone, internet etc.), desde que o consumidor consiga prová-la. Já quanto ao inquérito civil, basta que o vício esteja sob investigação direta ou indireta do MP para obstar a decadência, ainda que não haja a instauração formal de inquérito civil, por exemplo, se o fato estiver sendo investigado por peças de informação, procedimentos preliminares etc.
Discute a doutrina se tais causas seriam interruptivas ou suspensivas do prazo. Cláudia Lima Marques e Leonardo Roscoe Bessa entendem que seriam causas interruptivas, tendo em vista a exigüidade dos prazos e interpretação mais favorável aos consumidores. Para Nelson Nery e Zelmo Denari seriam causas suspensivas, pois o próprio Código prevê o lapso temporal com seus termos inicial e final (da reclamação até a resposta, ou da instauração do inquérito até seu encerramento), o que demonstra sua natureza suspensiva, pois, do contrário, não seria necessário prever o termo final, mas apenas o inicial, que seria interruptivo. A jurisprudência segue esta última posição.
Já o prazo de prescrição da pretensão à reparação por danos causados por fato do produto ou do serviço é de cinco anos, contados a partir do conhecimento do dano e de sua autoria (CDC, art. 27), e não da simples violação ao direito (CC, art. 189). Não importa que a lesão se prolongue no tempo, como no caso de danos provocados pelo cigarro: o prazo corre a partir do conhecimento do dano e da autoria. Trata-se de responsabilidade por acidente de consumo em razão de defeito de segurança (CDC, arts. 12, 14 e 17). Por isto, em caso de inadimplemento que não caracterize acidente de consumo, não se aplica o prazo de cinco anos do CDC. Importante: muito embora o cigarro seja perigoso, trata-se de uma periculosidade normal e previsível. O STJ entendeu que não é de se admitir ações de indenização movidas pelos fumantes contra as indústrias de cigarro. O mesmo entendimento se aplica de maneira analógica aos danos causados por bebidas alcoólicas.
Convenção de Varsóvia x CDC: Recentemente, o STF decidiu pela incidência da Convenção de Varsóvia nas hipóteses de responsabilidade civil no transporte aéreo internacional. Assim, a prescrição passa a ser de 2 anos, a contar da chegada da aeronave. Na oportundiade, o STF “assentou a prevalência da Convenção de Varsóvia e dos demais acordos internacionais subscritos pelo Brasil em detrimento do CDC, não apenas na hipótese de extravio de bagagem. Em consequência, deu provimento ao recurso extraordinário para limitar o valor da condenação por danos materiais ao patamar estabelecido na Convenção de Varsóvia, com as modificações efetuadas pelos acordos internacionais posteriores” (Info 866, repercussão geral). Para a PGR, o CDC deveria prevalecer sobre as convenções internacionais, pois escolher a norma que oferece menor proteção ao consumidor não reflete os preceitos da Constituição.
Jurisprudência: 1) É de cinco anos o prazo prescricional aplicável para o ajuizamento de ação de indenização contra concessionária de serviço público de energia elétrica por dano pessoal consistente no desenvolvimento de doença grave em razão de contaminação do solo e da água ocasionada por aquela empresa ao proceder ao tratamento químico de postes de luz. Isso porque aplicável à hipótese o prazo inserto no artigo 27 da Lei 8.078/1990, CDC, por se estar diante de acidente de consumo relativo a fato do produto, em face das substâncias químicas utilizadas, e a fato do serviço, já que o tratamento dos postes se liga à atividade-fim da empresa. (Voto vista do Min. Paulo de Tarso Sanseverino no REsp 1346489/RS, DJe 26/08/2013); 2) Aplica-se o prazo prescricional do art. 205 do CC/02 às ações indenizatórias por danos materiais decorrentes de vícios de qualidade e de quantidade do imóvel adquirido pelo consumidor, e não o prazo decadencial estabelecido pelo art. 26 do CDC (9 REsp 1.534.831-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, STJ).
Questões: CEI/MPF 1) O prazo prescricional de 5 anos establecido no CDC diz respeito a acidente de consumo em raszão da existência de produto ou de serviço defeituoso. Destarte, nas demais situações em que não se trate de formulação de pedido de reparação de danos causados por fato do produto ou do serviço prevalecerá o prazo prescricional disposto no CC/02. Com arrimo em tal entendimento, o STJ entende que a pretensão de indébito de tarifa de água, esgoto e energia elétrica, bem como a pretensão de cobranã de valor complementar de indenização securitária sujejitam-se ao prazo prescricional previsto no CC, e não ao prazo de 5 anos do CDC. VERDADEIRO. Súmula 412, STJ, que também se aplica às tarifas de energia elétrica (STJ, AgRg no AREsp 262.212/RS, REPETITIVO, 2013). TOPJURIS/4ª rodada. 2) Em relação aos prazos decadenciais e prescricionais aplicados às relações consumeristas, é CORRETO afirmar que: b) Obsta a decadência a reclamação comprovadamente formulada perante os órgãos ou entidades de defesa do consumidor. FALSO. Leonardo Medeiros aduz que “não obsta a decadência a reclamação formalizada perante os órgãos ou entidades de defesa do consumidor. Essa hipótese constava no inciso II do § 2º do art. 26 e foi vetado pelo Presidente da República (...)”.
7.B O CONCEITO DE FORNECEDOR.
O conceito de fornecedor está previsto no artigo 3º do CDC, que dispõe no seu caput que fornecedoré toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.
O conceito de fornecedor, como se vê, é tremendamente abrangente. Para se reconhecer alguém como fornecedor a chave é a expressão “desenvolvem atividade”, ou seja, somente será fornecedor quem pratica determinada atividade com habitualidade. Este é o elemento que, se ausente, elimina a condição de fornecedor. Se a prestação do serviço ou a venda do produto não for atividade profissional do prestador ou vendedor, não há relação de consumo. Por exemplo, o vendedor de carros profissional é claramente fornecedor, regulado pelo CDC (mesmo se informal, empresário irregular); a agência de viagens que vende seu próprio carro, contudo, não é fornecedor, sendo por isso a relação regida pelas regras da compra e venda do CC (STJ, AGA 150829/DF).
O vocábulo fornecedor é gênero do qual são espécies: o produtor, montador, criador, fabricante, construtor, transformador, importador, exportador, distribuidor, comerciante e prestador de serviços. A chave para identificar o fornecedor está na expressão “desenvolvem atividade”.
Classificação:
Fornecedor real – Envolve fabricante, produtor e o construtor;
Fornecedor Aparente – Compreende o detentor do nome, marca ou signo aposto no produto final;
Fornecedor presumido – Abrange o importador de produto industrializado ou in natura e ocomerciante de produto anônimo.
Obs: o STJ já entendeu que agência de viagem, quando vende veículos próprios, não atua como fornecedor. Também entendeu que o STJD não se enquadra no conceito de fornecedor, nem mesmo levando em conta as disposições do artigo 3º do Estatuto do Torcedor.
Fornecedor de produtos x Fornecedor de Serviços: Cláudia Lima Marques diferencia o conceito de fornecedor de produtos e de serviços: 
Fornecedor de produtos: exige-se profissionalização. 
Fornecedor de serviços: habitual ou reiterada + remunerada (dispensável a profissionalização).
Observe-se que não há previsão da necessidade de remuneração no fornecimento de produtos, pelo o que os produtos gratuitos podem estar sujeitos ao CDC (ex.: brindes, amostras grátis, prêmios, milhagem). A remuneração dos serviços pode ser direta ou indireta, abrangendo as situações em que há sinalagma escondido (STJ, REsp 566468/RJ).
Até mesmo o poder público (por si próprio ou por suas empresas públicas, ou ainda as concessionárias de serviços públicos), poderá se amoldar à figura de fornecedor no fornecimento de produtos ou serviços. As Cortes Superiores têm feito uma distinção com base na forma de remuneração do serviço público: se é remunerado por taxa, a relação é tributária, e contribuinte não é consumidor – pelo que o Estado não é fornecedor, nesse caso. Se o serviço público for concedido, passando a ser remunerado por preço público, tarifa, os Tribunais Superiores entendem que o Estado, lato sensu, é, então, fornecedor, aplicando-se o CDC. (STF, AgR no RE 248191/SP e STJ, REsp 200801215413).
Esse critério comporta críticas, porque o CDC, em todos os dispositivos que trata do Poder Público, não fez essa diferenciação, não havendo motivo para a jurisprudência fazê-lo. Todavia, tem prevalecido, e o CDC só pode ser invocado por prestadores de serviços concedidos ou delegados – inclusive a atividade notarial (REsp 1163652 / PE). Sobre a responsabilidade do tabelião, porém, a questão ainda é um pouco controvertida, havendo precedente que a afasta, sem aplicar o CDC, reputando-a subjetiva (STJ, REsp 1044841 / RJ).
O conceito abrange, ainda, os entes despersonalizados (ex.: Itaipu Binacional, que é um consórcio entre os governos de Brasil e Paraguai, com regime jurídico sui generis). Segundo José Geraldo Brito Filomeno (CDC comentado pelos autores do anteprojeto), associações desportivas e condomínios, despersonalizados ou não, não podem ser considerados fornecedores na relação com seus membros, uma vez que o seu objetivo social é deliberado pelos próprios interessados.
Fornecedor equiparado: ampliação do campo de aplicação do CDC, por meio de visão alargada do art. 3º do CDC. Segundo Leonardo Bessa, o terceiro intermediário na relação de consumo principal, que atua frente a um consumidor como se um fornecedor fosse, deve assim ser considerado. Ex.: bancos de dados. OBS: Estatuto do Torcedor, Lei 10.671/2003, no art. 3º, equipara a fornecedor a entidade responsável pela organização da competição e a entidade de prática desportiva detentora do mando de jogo.
9. B. A RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DOS CAUSADORES DO DANO.
1. Regra geral
O CDC adota o princípio da restitutio in integrum (art. 6º, VI) de modo que o consumidor lesado deve ser ressarcido integralmente pelos danos sofridos, exceto caracterização de alguma excludente. 
O artigo 7º, parágrafo único, do CDC, estabelece que tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo. O dispositivo consagra essa ampla solidariedade na cadeia de fornecimento porque o norte geral não é buscar apenas a exata configuração do nexo adequado de causalidade dos prejuízos sofridos pelo consumidor, mas sim promover a maior possibilidade de que este seja efetivamente reparado. A regra geral, portanto, é a existência de solidariedade passiva (legal) entre todos os envolvidos com o fornecimento ou prestação do produto ou serviço. 
Há ainda previsão de responsabilidade solidária no art. 18 (especificamente quanto a fornecedores no caso de vício do produto) e no art. 25, §1º, que reitera que “havendo mais de um responsável pela causação do dano, todos responderão solidariamente pela reparação” e estende a previsão a todas as seções anteriores do capítulo em questão (Capítulo IV: Da qualidade de produtos e serviços, da prevenção e da reparação dos danos). O caput do art. 25 veda a estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exonere ou atenue a obrigação de indenizar. 
2. A responsabilidade do comerciante em caso de fato do produto
O CDC distingue a responsabilidade pelo fato da responsabilidade e pelo vício do produto ou serviço. 
O art. 12 do CDC traz os responsáveis pelo fato do produto, e ali se vê que foi suprimida a figura do comerciante, cuja responsabilidade está disciplinada no art. 13. No art. 12, estão contemplados os responsáveis diretos que respondem objetivamente, ao passo que o art. 13 estabelece a responsabilidade “subsidiária” dos comerciantes pelo fato do produto (“O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior, quando: I. O fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados; II. O produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador; III. Não conservar adequadamente os produtos perecíveis.”). 
Apesar de consagrada, a classificação da responsabilidade do comerciante como subsidiária é perigosa, porque, segundo Gustavo Tepedino, dentre outros, poder-se-ia entender que o comerciante será responsabilizado em caso de insuficiência de patrimônio dos responsáveis diretos do artigo 12, o que não é verdade: apenas quando existir uma das hipóteses do artigo 13 é que se fala em responsabilidade do comerciante. 
Herman Benjamin entende que se trata de uma hipótese de responsabilidade “subsidiária solidária”, ou seja, quando o comerciante for imputável, o que ocorre somente nos casos elencados no art.13, se-lo-á solidariamente com os demais da cadeia que puderem ser identificados. Por outro lado, há quem diga que não é possível tal desenho de responsabilidade, porque nos casos dos incisos I e II do art. 13, trata-se de produtos anônimos, e no inciso III, a responsabilidade é exclusiva do comerciante, que é quem deu causa ao defeito. Todavia, prevalece a leitura de Herman Benjamin, partindo de uma análise processual:se, no curso de um processo em que se imputa o comerciante por um defeito de produto que não se pôde identificar o fabricante, for identificado tal fabricante, o comerciante permanecerá no polo passivo, ou seja, será supervenientemente solidariamente responsável. 
3. Responsabilidade pelo vício do produto e do serviço 
No que tange ao vício, quando se identifica um feixe de relações jurídicas voltadas ao consumidor final, se aplica a regra insculpida no art. 18 do CDC que prevê a solidariedade entre todos os participantes da cadeia de consumo. Todos os fornecedores são coobrigados e solidariamente responsáveis pelos vícios de qualidade, pois, conforme afirma Zelmo Denari, "por um critério de comodidade e conveniência o consumidor poderá́ voltar-se contra o fornecedor imediato, quer se trate de industrial, produtor, comerciante ou simples prestador de serviços" (CDC comentado pelos autores do anteprojeto). 
Especificamente quanto aos vícios de quantidade do produto, vislumbra-se exceção à regra da solidariedade no art. 19. §2º. Neste caso, apenas o fornecedor imediato será responsável quando fizer a pesagem ou a medição e o instrumento utilizado não estiver aferido segundo os padrões oficiais.
 
3. Efeitos e intervenção de terceiros
Como efeito da previsão legal da solidariedade dos causadores do dano, cabe ao consumidor eleger contra quem buscará a reparação de seu dano: se contra um, alguns, ou todos (art. 46, CPC). 
Havendo o custeio do prejuízo por um dos devedores solidarizados pela lei, mas que não foi o efetivo causador do prejuízo, haverá possibilidade de regresso em face de quem o causou. 
Contudo, esta demanda regressiva não pode ser inserida na lide consumerista, pois o Código de Defesa do Consumidor veda a denunciação da lide (art. 88). Embora a literalidade do dispositivo refira-se expressamente à responsabilidade por fato do produto (art. 13), o STJ estende a vedação também à responsabilidade por fato do serviço (REsp 1165279-SP) (AgRg no AREsp 472875/RJ) (AgRg no AREsp 694980/MS).
Ainda a respeito da denunciação da lide, entende o STJ que a vedação do CDC é regra prevista em benefício do consumidor, atuando em prol da brevidade do processo de ressarcimento de seus prejuízos, concluindo que não pode o denunciado à lide invocar em seu benefício a regra de afastamento da denunciação para eximir-se de suas responsabilidades perante o denunciante (STJ, Info 592).
A regra é que também não se admite o chamamento ao processo, com a exceção da previsão do artigo 101, II, que admite o chamamento ao processo do segurador pelo réu que houver contratado seguro de responsabilidade.
4. Jurisprudência 
1) Cooperativa: tem legitimidade passiva em ação indenizatória movida por associado em face de erro medido de medico cooperativado. (REsp 309.760). Atenção! Na responsabilidade das operadoras de plano de saúde, deve-se observar uma diferença importante: se a escolha do profissional ou hospital é do consumidor (com reembolso das despesas), não há responsabilidade da operadora. Se é credenciado do plano (e a escolha do consumidor se dá dentre os credenciados), há responsabilidade da operadora. 
2) pacote turístico: a agencia de turismo responde pela má prestação do serviço de transporte aéreo, incluso do “pacote turístico”. (REsp 783.016). 
3) corretora e seguradora: respondem solidariamente à ação indenizatória proposta por benefícios de seguro de vida que não receberam o valor acordado sob alegação de doença preexistente. (REsp 254.427). 
4) Concessionária e montadora: respondem solidariamente em relação a defeito em veículo zero quilometro. (REsp 611.872). 
5) Seguradora denunciada pode ser condenada direta e solidariamente com o causador do dano, nos limites contratados na apólice (julgamento em sede de recurso repetitivo REsp 925.130/SP) 
6) Súmula 479/STJ: As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias. 
7) A ação proposta com o objetivo de cobrar indenização do seguro adjeto ao mútuo hipotecário, em princípio, diz respeito ao mutuário e a seguradora, unicamente. Todavia, se essa pretensão estiver fundada em vício de construção, ter-se-á hipótese de responsabilidade solidária do agente financeiro.” (AgRg no AREsp 166.379/PE, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 23/10/2012, DJe 08/11/2012).
8) “Na esteira de precedentes desta Corte, a oferta de seguro de vida por companhia seguradora vinculada a instituição financeira, dentro de agência bancária, implica responsabilidade solidária da empresa de seguros e do Banco perante o consumidor. (...).” (REsp 1300116/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 23/10/2012, DJe 13/11/2012). 
9) “Demanda indenizatória proposta pelo marido de paciente morta em clínica médica, alegando defeito na prestação dos serviços médicos. A regra geral do art. 14, "caput", do CDC, é a responsabilidade objetiva dos fornecedores pelos danos causados aos consumidores. A exceção prevista no parágrafo 4º do art. 14 do CDC, imputando-lhes responsabilidade subjetiva, é restrita aos profissionais liberais. Impossibilidade de interpretação extensiva de regra de exceção. O ônus da prova da inexistência de defeito na prestação dos serviços médicos é da clínica recorrida por imposição legal (inversão 'ope legis'). Inteligência do art. 14, § 3o, I, do CDC.6. Precedentes jurisprudenciais desta Corte.” (REsp 986.648/PR, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 10/05/2011, DJe 02/03/2012). 
10) “A seguradora de seguro de responsabilidade civil, na condição de fornecedora, responde solidariamente perante o consumidor pelos danos materiais decorrentes de defeitos na prestação dos serviços por parte da oficina que credenciou ou indicou, pois, ao fazer tal indicação ao segurado, estende sua responsabilidade também aos consertos realizados pela credenciada, nos termos dos arts. 7º, parágrafo único, 14, 25, § 1º, e 34 do Código de Defesa do Consumidor.” (REsp 827.833/MG, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 24/04/2012, DJe 16/05/2012). 
11) A sociedade empresária gestora de portal de notícias que disponibilize campo destinado a comentários de internautas terá responsabilidade solidária por comentários, postados nesse campo, que, mesmo relacionados à matéria jornalística veiculada, sejam ofensivos a terceiro e que tenham ocorrido antes da entrada em vigor do marco civil da internet (Lei 12.965/2014).
12) Se o produto que o consumidor comprou apresenta um vício, ele tem o direito de ter esse vício sanado no prazo de 30 dias (art. 18, § 1º do CDC). Para tanto, o consumidor pode escolher para quem levará o produto a fim de ser consertado: a) para o comerciante; b) para a assistência técnica ou c) para o fabricante. Em outras palavras, cabe ao consumidor a escolha para exercer seu direito de ter sanado o vício do produto em 30 dias: levar o produto ao comerciante, à assistência técnica ou diretamente ao fabricante. STJ. 3ª Turma.REsp 1634851-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/09/2017 (Info 619).
13. Na hipótese de rescisão de contrato de compra e venda de automóvel firmado entre consumidor e concessionária em razão de vício de qualidade do produto, deverá ser também rescindido o contrato de arrendamento mercantil do veículo defeituoso firmado com instituição financeira pertencente ao mesmo grupo econômico da montadora do veículo (banco de montadora), a regra do art. 18 do CDC, ao regular a responsabilidade por vício do produto, deixa expressa a responsabilidade solidária entre todos os fornecedores integrantes da cadeia de consumo. Como o banco da montadora faz parte da mesma cadeia de consumo, sendo também responsável pelos vícios ou defeitos do veículo objeto da negociação. REsp 1.379.839- SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. para Acórdão Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 11/11/2014, DJe 15/12/2014 (Informativo 554).
14. A CEF possui legitimidade

Continue navegando