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IMUNOPATOLOGIA (Patologia Geral)

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1 Brenda Araújo (@brendaraujo____) – Odontologia, UFPE Processos Patológicos Gerais 
 
Imunopatologia é o estudo de lesões e 
doenças produzidas pela resposta imunitária e podem 
ser agrupadas nas seguintes categorias: 
1. Doenças por hipersensibilidade; 
2. Doenças autoimunes; 
3. Imunodeficiências; 
4. Rejeição de transplantes. 
Os mecanismos pelos quais a reação 
imunitária produz lesões são absolutamente os mesmos 
que ela utiliza para responder a um invasor e proteger 
o organismo. Assim, anticorpos exercem efeitos lesivos 
no hospedeiro porque podem: 
1. Inibir ou neutralizar a ação de moléculas importantes 
biologicamente (anticorpos, anti-insulina no diabetes); 
2. Reconhecer epítopos em receptores, levando à sua 
estimulação ou inibição (anticorpos antirreceptor de 
TSH que estimulam a tireoide no hipertireoidismo 
idiopático); 
3. Reconhecer epítopos em células ou no interstício, 
lesando-os por ativação do complemento (anticorpos 
antieritrócitos em anemias hemolíticas autoimunes); 
4. Localizar-se sobre mastócitos e basófilos (anticorpos 
citotrópicos) e induzir liberação de mediadores 
responsáveis por alterações funcionais e morfológicas 
(mecanismo básico das doenças alérgicas mediadas 
por IgE). Por outro lado, resposta celular causa lesões 
por ação de linfócitos T inflamatórios e T citotóxicos; os 
primeiros atraem e ativam macrófagos, e os últimos 
matam células por reconhecerem nas suas 
membranas epítopos associados a moléculas MHC I. 
As imunopatologias são controladas a partir da 
diminuição da resposta imune (imunossupressão) e 
controle de fatores externos, como o estresse (diminui a 
atividade do sistema imunológico). 
HIPERSENSIBILIDADE 
Hipersensibilidade (HSB) é um exagero na 
indução e na efetuação da resposta imunitária, 
provocando dano/doença. Esse processo reflete um 
desequilíbrio entre os mecanismos efetores de 
respostas imunes e os mecanismos de controle que 
servem normalmente para limitar tais respostas. 
Quase sempre, há participação também de 
um componente genético do indivíduo ou de uma 
particularidade nas propriedades do antígeno ou 
interferência de adjuvantes. 
Os mecanismos básicos de agressão imunitária 
aos tecidos se dão por hipersensibilidade e podem ser 
classificados nos seguintes grupos: 
1. HSB do tipo I, decorrente de anticorpos citotrópicos 
(IgE); 
2. HSB tipo II, mediada por anticorpos que ativam o 
complemento; 
3. HSB tipo III, possui envolvimento na deposição de 
imunocomplexos; 
4. HSB tipo IV, associada à imunidade celular. 
 
 
HIPERSENSIBILIDADE DO TIPO I 
Doenças por hiperprodução de IgE 
São hipersensibilidades por hiperprodução de 
IgE, comumente conhecidas como alergias ou 
doenças anafiláticas, podendo ser localizadas 
(anafilaxia localizada) ou sistêmicas (choque 
anafilático). Asma brônquica, rinite alérgica, dermatite 
atópica (urticária) e alergia alimentar são os exemplos 
mais comuns de anafilaxias localizadas. Todos os 
estados anafiláticos dependem de: 
1. Contato com um antígeno exógeno em dose e via 
adequadas para ativar linfócitos Th2, os quais 
produzem: IL-4, que induz diferenciação de linfócitos B 
para a produção de IgE; e IL-3 e IL-5, que promovem 
 
1 Brenda Araújo (@brendaraujo____) – Odontologia, UFPE Processos Patológicos Gerais 
proliferação e ativação de eosinófilos. Uma vez 
sintetizada, a IgE localiza-se em receptores de 
mastócitos e basófilos. Nessas circunstâncias, fala-se 
que o organismo está sensibilizado; 
2. Contato desencadeante com o antígeno 
sensibilizador, denominado alérgeno, que se difunde e 
encontra IgE na superfície de mastócitos; 
3. Ativação de mastócitos e/ ou basófilos por ligação 
do alérgeno a duas moléculas de IgE, cruzando-as, o 
que provoca liberação dos produtos dos grânulos e 
síntese de mediadores lipídicos. 
Produtos dos grânulos (geralmente histamina) 
dessas células induzem manifestações imediatas ou 
agudas da doença, como a vasodilatação, aumento 
da permeabilidade vascular e contração da 
musculatura lisa. Depois há um maior influxo de 
linfócitos e aumento da produção de quimiocinas, 
com atração de maior número de eosinófilos, 
macrófagos e polimorfonucleares, instalando-se uma 
reação inflamatória tardia, responsável pela 
manutenção das manifestações anafiláticas e pelo 
estado de hipersensibilidade aos mediadores nos 
receptores teciduais. 
REAÇÃO ANAFILÁTICA LOCALIZADA 
Surge em locais determinados do organismo 
(pele, mucosas, intestinos, brônquios etc.) e tem duas 
fases: 
• Fase imediata ou aguda: depende de produtos 
liberados por mastócitos e basófilos: (1) histamina, que 
atua nos receptores H1 dos vasos sanguíneos, levando 
à vasodilatação e ao aumento da permeabilidade 
vascular (induzem hiperemia e edema); H1 do m. liso 
não vascular, causando contração (broncoconstrição, 
peristalse) ou relaxamento (esfíncteres); e H2 de 
glândulas exócrinas, aumentando a secreção; (2) 
leucotrienos, sinergistas da histamina em vasos e 
musculatura lisa não vascular; (3) PAF (fator ativador 
de plaquetas), que aumenta a permeabilidade 
vascular e produz contração da musculatura lisa dos 
brônquios e do intestino. Além disso, nervos aferentes 
levam estímulos ao SNC, desencadeando reflexo 
parassimpático que libera acetilcolina nos brônquios, 
elevando a broncoconstrição e a secreção de muco. 
As lesões teciduais que ocorrem nessa fase são 
representadas por hiperemia, edema e aumento da 
secreção de muco, com escasso exsudato inflamatório 
(eosinófilos e neutrófilos). Após as primeiras horas, há 
uma instalação progressiva de reação inflamatória, 
com aumento do exsudato celular (eosinófilos, 
neutrófilos, linfócitos e macrófagos), mas com escassos 
fenômenos degenerativos e necróticos. 
• Fase tardia: depende de (1) IL-1, produzida por 
mastócitos e células do órgão afetado, que atua 
ativando o endotélio e induz a resposta Th2 (eosinófilos, 
neutrófilos e linfócitos T CD4+). A localização específica 
de células Th2 no local da reação alérgica está ligada 
à expressão de moléculas de adesão na superfície de 
linfócitos quando estes são estimulados pelo alérgeno 
no linfonodo e por receptores para quimiocinas 
liberadas na área da reação anafilática (ex.: dermatite 
atópica); (2) fator eosinotático da anafilaxia, liberado 
por mastócitos, que atrai os primeiros eosinófilos; (3) 
fator quimiotático de alto peso molecular, produzido 
por mastócitos, que atraem neutrófilos, os quais, 
juntamente com eosinófilos, formam o exsudato 
inflamatório inicial no processo; (4) mastócitos, 
basófilos e células residentes do órgão (ex.: 
ceratinócitos), que ativados liberam IL-4, IL-5, CSF e 
quimiocinas, atraindo muitos linfócitos T CD4+ (Th2), 
monócitos e novos eosinófilos, mastócitos e basófilos. 
Indivíduos que não produzem grande 
quantidade de IgE podem apresentar reação alérgica 
intensa devido: 
1. Mais receptores para os mediadores liberados; 
2. Ocorre inibição parcial de seus antagonistas; 
3. Há exaltação de receptores agonistas. 
REAÇÃO ANAFILÁTICA SISTÊMICA 
Ocorre quando o alérgeno induz sensibilização 
de mastócitos de forma sistêmica; o contato 
subsequente com dose desencadeante promove 
ativação e desgranulação sistêmica dessas células e 
liberação de grande quantidade de histamina, 
resultando em: 
1. Queda da pressão arterial (o coração tenta manter 
a pressão normal e, como mecanismo de defesa, o 
organismo faz vasoconstricção da circulação 
periférica para tentar manter a circulação nos órgãos 
centrais); 
2. Broncoconstrição (diminui a oxigenação); 
3. Relaxamento dos esfíncteres; 
4. Prurido generalizado; 
5. Edema de glote, orelhas e lábios. 
Para tentar reverter esse quadro, é 
administrada adrenalina ou epinefrina,que agem 
promovendo vasodilatação e controlam a circulação 
e a oxigenação. O uso de anti-histamínico é ineficaz, 
pois a histamina já se ligou com os receptores das 
células endoteliais. Faz-se também a utilização de soro 
para a hipotensão, associado, às vezes, a 
vasoconstrictores. Se não for tratado rapidamente, o 
paciente morre por insuficiência circulatória. 
HIPERSENSIBILIDADE DO TIPO II 
Doenças pela ação citopática de anticorpos 
Este tipo de hipersensibilidade é causado por 
anticorpos que reagem com antígenos presentes nas 
superfícies celulares ou na matriz extracelular. Os 
determinantes antigênicos podem ser intrínsecos à 
membrana celular ou à matriz ou podem assumir a 
forma de um antígeno exógeno, como um metabólito 
de droga, que é adsorvido a uma superfície celular ou 
matriz. Em qualquer caso, a reação resulta da ligação 
de anticorpos a antígenos da superfície celular normal 
ou alterada. 
 
1 Brenda Araújo (@brendaraujo____) – Odontologia, UFPE Processos Patológicos Gerais 
É válido ressaltar que nem sempre são 
doenças por hipersensibilidade, embora reatividade 
anormal possa estar presente em algumas delas. São 
mediadas por anticorpos IgG ou IgM. 
OPSONIZAÇÃO E FAGOCITOSE 
A fagocitose é amplamente responsável pela 
depleção de células revestidas por anticorpos. As 
células opsonizadas pelos anticorpos IgG são 
reconhecidas por receptores Fc dos fagócitos, que são 
específicos para as partes Fc de algumas subclasses de 
IgG. Além disso, quando anticorpos IgM ou IgG são 
depositados nas superfícies das células, podem ativar o 
sistema do complemento pela via clássica. A ativação 
do complemento gera subprodutos, principalmente 
C3b e C4b, que se depositam nas superfícies das 
células e são reconhecidos por fagócitos que 
expressam receptores para estas proteínas (em alguns 
casos, sua ativação também pode gerar o complexo 
de ataque à membrana). A resultante é a fagocitose 
das células opsonizadas e sua destruição. 
• Reações transfusionais: as células de um doador 
incompatível reagem com o anticorpo pré-formado 
do hospedeiro e são opsonizadas por ele. 
 Anemia hemolítica, trombocitopenia e 
agranulocitose: indivíduos produzem anticorpos contra 
suas próprias hemácias, que são então destruída. 
• Doença hemolítica do recém-nascida: diferença 
antigênica entre a mãe e o feto, e anticorpos (da 
classe IgG) da mãe atravessam a placenta e causam 
destruição das hemácias fetais. 
INFLAMAÇÃO 
Quando anticorpos se depositam em tecidos 
fixados, como as membranas basais e a matriz 
extracelular, a lesão resultante deve-se à inflamação. 
Os anticorpos depositados ativam o complemento, 
gerando subprodutos, inclusive agente quimiotáticos 
(principalmente C5a), que direcionam a migração de 
leucócitos polimorfonucleares e monócitos e de 
anafilatoxinas (C3a e C5a), que aumentam a 
permeabilidade vascular. Os leucócitos são ativados 
pelo envolvimento de seus receptores C3b e Fc. Isto 
resulta na liberação ou geração de várias substâncias 
pró-inflamatórias, incluindo as prostaglandinas, 
peptídeos vasodilatadores e substâncias quimiotáticas; 
e leva à produção de outras substâncias que lesam os 
tecidos, como enzimas lisossômicas, colágeno, elastina 
e cartilagem, além de espécies reativas de oxigênio. 
• Síndrome de Goodpasture: causada por anticorpos 
antimembrana basal glomerular (anti-GBM) circulantes 
e é caracterizada por glomerulonefrite e hemorragia 
alveolar. 
DISFUNÇÃO CELULAR 
Em alguns casos, anticorpos direcionados 
contra receptores da superfície celular comprometem 
ou desregulam a função sem causar lesão celular ou 
inflamação. Por exemplo, na miastenia graves, 
anticorpos reativos com receptores de acetilcolina nas 
placas motoras dos músculos esqueléticos bloqueiam a 
transmissão neuromuscular e, portanto, causam 
fraqueza muscular. O inverso (ou seja, estimulação da 
função celular mediada por anticorpos) é a base da 
doença de Graves. Neste distúrbio, anticorpos contra o 
receptor do hormônio tireostimulante, nas células 
epiteliais da tireoide, estimulam as células, resultando 
em hipertireoidismo. 
 Hipertireoidismo: na tireoide, os anticorpos se ligam 
aos receptores celulares e funcionam como se fossem 
o hormônio estimulante, gerando hipertireoidismo. 
• Miastenia: ocorre a liberação do anticorpo na fenda 
sináptica, que se liga com o receptor de acetilcolina, 
impedindo a ligação da acetilcolina (transmissão 
neuromuscular), o que causa fraqueza muscular. 
HIPERSENSIBILIDADE TIPO III 
Doenças produzidas por imunocomplexos 
Complexos antígeno-anticorpo produzem 
lesão tecidual principalmente por desencadearem 
inflamação nos locais de deposição. A reação 
patológica é iniciada quando o antígeno se combina 
com anticorpo dentro da circulação (imunocomplexos 
circulantes), e estes são depositados tipicamente nas 
paredes dos vasos. Algumas vezes, os complexos são 
formados em pontos extravasculares, onde o antígeno 
pode ter sido “plantado” previamente. 
Os antígenos que formam imunocomplexos 
podem ser exógenos, como uma proteína estranha 
injetada ou produzida por um micróbio infeccioso, ou 
endógenos, se o indivíduo produzir anticorpo contra 
autocomponentes (autoimunidade). 
O destino natural de complexos antígeno-
anticorpo (imunocomplexos) são a sua fagocitose e 
eliminação. Como em geral são grandes e 
precipitáveis, imunocomplexos que se formam na 
circulação são transportados margeando a corrente 
sanguínea, colocando-os em contato com a superfície 
de fagócitos do fígado e do baço, que os removem 
rapidamente (a remoção é facilitada por ativação de 
moléculas de C3 em IC ainda na circulação). IC 
formados com pouco excesso de antígeno são 
pequenos e solúveis e, por essa razão, circulam por 
algum tempo antes de serem fagocitados, podendo 
depositar-se em tecidos. 
As doenças mediadas por imunocomplexos 
podem ser sistêmicas ou localizadas em órgãos em 
particular, como o rim (glomerulonefrite), articulações 
(artrite) ou pequenos vasos da pele, sendo: 
1. Sistêmicos, pequenos e solúveis, quando deixam a 
circulação e depositam-se na parede de vasos e 
tecidos perivasculares; 
2. Localizados, formados e se precipitam no próprio 
tecido. 
LESÃO POR IMUNOCOMPLEXOS LOCALIZADOS 
Após a produção de anticorpos, como IgG ou 
IgM, há a formação de imunocomplexos que se 
depositam no interstício, ativam o sistema 
complemento e desencadeiam uma reação 
inflamatória local. A ativação do complemento libera 
peptídeos vasoativos responsáveis por hiperemia e 
 
1 Brenda Araújo (@brendaraujo____) – Odontologia, UFPE Processos Patológicos Gerais 
aumento da permeabilidade vascular (C2a, C3a e 
C5a induzem liberação de histamina e quimiocinas por 
mastócitos) e por quimiotatismo de PMN e macrófagos 
(C5a, C4a, quimiocinas). Ao fagocitarem os 
imunocomplexos, os fagócitos liberam enzimas que 
digerem os componentes do interstício e a fibrina, 
formando o material fibrinóide. 
• Vasculite: inflamação dos vasos sanguíneos. 
• Glomerulonefrite: inflamação dos glomérulos renais. 
• Artrite: inflamação das articulações. 
LESÃO POR IMUNOCOMPLEXOS CIRCULANTES 
Os imunocomplexos circulam, atravessam a 
parede de vasos, depositam-se nos espaços 
perivasculares e ativam o complemento, produzindo 
reação inflamatória. 
• Reação de Arthus: é uma área localizada de necrose 
tecidual, decorrente de uma vasculite aguda por 
imunocomplexos, geralmente desencadeada na pele. 
À medida que o antígeno se difunde na parede 
vascular, liga-se ao anticorpo pré-formado e são 
formados localmente grandes imunocomplexos. Estes 
complexos se precipitam nas paredes dos vasos e 
causam necrose fibrinóide, e a trombose superpostapiora a lesão isquêmica. 
HIPERSENSIBILIDADE TIPO IV 
Doenças produzidas pela resposta imunitária celular 
Inicia-se por linfócitos T ativados por antígeno 
(sensibilizados), incluindo linfócitos T CD4+ e CD8+. É 
conhecida por ser tardia/retardada e a resposta 
imunitária celular sempre se faz com exsudação de 
células, nos tecidos em que se localiza o antígeno 
indutor, e eritema. 
O indivíduo entra em contato com antígenos 
exógenos inócuos e monta uma resposta celular capaz 
de induzir lesões nos locais em que o antígeno penetra. 
Essas lesões decorrentes da imunidade celular são 
comuns em doenças causadas por vírus, bactérias, 
protozoários e alguns helmintos. Nesses casos, na 
maioria das vezes, não se pode falar em 
hipersensibilidade, já que a resposta imunitária celular 
é normal. 
O macrófago reconhece uma célula 
(antígeno próprio) no sítio que vai ocorrer a infecção, 
apresenta ao linfócito TCD4 no linfonodo, que 
apresenta uma resposta a essas células. O TCD4 se 
diferencia em TH1, que através do IFN γ induz o TCD8 a 
atacar a célula. 
• Dermatite de contato: o indivíduo sensibiliza-se com 
haptenos que se ligam a proteínas da pele e são 
capturados por células dendríticas (células de 
Langerhans), as quais se deslocam para os linfonodos 
regionais, onde apresentam o haptenopeptídeo a 
linfócitos T CD4+ e T CD8+. 
• Enteropatia por glúten: o consumo de glúten provoca 
um infiltrado de linfócitos e macrófagos na lâmina 
própria da mucosa do intestino delgado, aumento do 
número de linfócitos intraepiteliais e hipotrofia das 
vilosidades. 
REAÇÕES DOS LINFÓCITOS T CD4+: HIPERSENSIBILIDADE TARDIA 
E INFLAMAÇÃO IMUNE 
As reações inflamatórias causadas por 
linfócitos T CD4+ foram inicialmente caracterizadas 
com base em hipersensibilidade do tipo tardio (HTT) a 
antígenos administrados exogenamente. Os mesmos 
eventos imunológicos são responsáveis por reações 
inflamatórias crônicas contra tecidos próprios. Em 
razão do papel central do sistema imune adaptativo 
em tal inflamação, algumas vezes é denominada 
inflamação imune. 
REAÇÕES DE LINFÓCITOS T CD8+: CITOTOXICIDADE MEDIADA 
POR CÉLULAS 
Neste tipo de reação mediada por linfócitos T, 
os linfócitos T citotóxicos (LTCs) CD8 + matam células-
alvo portadoras de antígeno. A destruição tecidual por 
LTCs pode ser importante componente de muitas 
doenças mediadas pelos linfócitos T, como o diabetes 
tipo 1. Os LTCs dirigidos contra antígenos de 
histocompatibilidade da superfície celular 
desempenham importante papel na rejeição de 
enxertos. Eles também desempenham um papel nas 
reações contra vírus. 
DOENÇAS AUTOIMUNES 
Doenças autoimunes ou doenças por 
autoagressão surgem quando a resposta imunitária é 
efetuada contra alvos existentes no próprio indivíduo 
(falha na autotolerância), persistindo por tempo 
indeterminado. Como o sistema imunitário tem a 
capacidade de reagir a todos os possíveis epítopos, 
inclusive os existentes no próprio corpo, não é surpresa 
que possa responder também a constituintes do 
próprio organismo. 
Autoagressão imunitária pode originar-se da 
resposta imunitária inata ou adaptativa. Sendo estas 
intimamente relacionadas, há doenças autoimunes em 
que, além da participação de clones de linfócitos 
autorreatores, há também participação da resposta 
inata, favorecendo o efeito autoagressor desses 
clones. 
Quaisquer linfócitos autorreativos não 
controlados por esses mecanismos geralmente são 
restringidos pelos linfócitos T reguladores. Um defeito 
nos linfócitos T reguladores pode interferir em qualquer 
um desses mecanismos de defesa, resultando em 
autoimunidade. Exemplos famosos incluem a diabetes 
mellitus tipo 1, lúpus eritematoso sistêmico e artrite 
reumatoide. 
Pelo menos três requisitos devem ser cumpridos 
antes que um distúrbio seja categorizado como 
verdadeiramente causado por autoimunidade: 
1. A presença de uma reação imune específica para 
algum autoantígeno ou autotecido; 
 
1 Brenda Araújo (@brendaraujo____) – Odontologia, UFPE Processos Patológicos Gerais 
2. Evidência de que tal reação não seja secundária a 
um dano tecidual, mas seja de significância 
patogênica primária; 
3. Ausência de outra causa bem definida da doença. 
Também costuma ser usada a semelhança com 
modelos experimentais de autoimunidade 
comprovada para sustentar este mecanismo nas 
doenças humanas. 
ETIOPATOGÊNESE 
As doenças autoimunes têm etiopatogênese 
complexa e multifatorial. Teoricamente, admite-se que 
autoimunidade resulta da quebra da tolerância 
natural, por falha na deleção clonal, na inativação 
clonal, nos mecanismos de imunossupressão ou por 
alteração em autoantígenos que, modificados, 
passam a expor epítopos crípticos, antes ignorados por 
linfócitos. No entanto, falha primária desses 
mecanismos é pouco provável por causa da alta 
eficiência do sistema. O que se admite é que as 
doenças autoimunes, com autoagressão persistente, 
resultam de numerosos fatores que interferem desde a 
maturação dos linfócitos até os mecanismos 
imunorreguladores responsáveis pela tolerância. Entre 
os últimos, fatores genéticos e ambientais têm papel 
destacado. 
O desencadeamento de autoimunidade 
deve-se à quebra da tolerância natural, que pode ser 
iniciada pelo lado do estímulo antigênico (alterações 
de autoantígenos, endógenas ou exógenas) ou pelo 
lado da regulação da resposta (modificações nos 
mecanismos de apresentação, de produção de 
citocinas ou de regulação de linfócitos). 
DOENÇAS AUTOIMUNES HUMANAS 
ÓRGÃO-ESPECÍFICAS 
 São doenças nas quais a autoagressão é 
dirigida a um órgão. 
• Tireoidite de Hashimoto: causa mais comum de 
hipotireoidismo primário nas regiões em que os níveis 
de iodo na dieta são inadequados. Clinicamente, 
manifesta-se por falência gradual da função 
tireoidiana por destruição autoimunitária da glândula, 
acompanhada de infiltrado linfoide e atrofia do 
parênquima. 
SISTÊMICAS 
Doenças em que a autoagressão faz-se contra 
autoantígenos ubiquitários e as lesões tendem a 
comprometer vários órgãos. 
• Lúpus Eritematoso Sistêmico: é doença inflamatória 
crônica, de natureza autoimune, que compromete 
vários órgãos. Na doença, formam-se autoanticorpos 
contra vários antígenos, nucleares ou não, entre os 
quais anti-DNA, RNA, nucleoproteínas e fosfolipídeos. 
Algumas doenças podem ter características 
dos dois grupos. As doenças por autoagressão, 
sistêmicas ou órgão-específicas, têm algumas 
características em comum: são mais frequentes em 
mulheres, podem ter distribuição familial e geralmente 
estão vinculadas a um ou mais genes, parecendo 
haver um padrão genético, possivelmente multigênico, 
que favorece a autoagressão. Embora sem 
comprovação, na maioria das vezes suspeita-se da 
participação de agentes infecciosos no 
desencadeamento de muitas delas. Por outro lado, na 
maioria das doenças autoimunes, embora sejam 
detectados autoanticorpos e células T sensibilizadas a 
diversos antígenos, com frequência não se conhece o 
papel patogenético dessas respostas imunitárias, se 
são realmente primárias e desencadeantes da doença 
ou se, ao contrário, são consequência das lesões 
existentes. 
IMUNODEFICIÊNCIAS 
 Imunodeficiências são doenças caracterizadas por 
transtornos na montagem da resposta imunitária, 
resultando em síntese deficiente de anticorpos ou em 
imunidade celular inadequada. Indivíduos com 
imunodeficiência humoral têm infecções piogênicas 
repetidas (por hemófilos, estreptococos e, menos 
frequentemente, por estafilococos); na 
imunodeficiência celular, predominam infecções 
oportunistas por Pneumocystis, Candida, micobactérias 
etc. De acordo com suas causas, as imunodeficiências 
podem ser primárias (congênitas) ou secundárias 
(adquiridas). 
IMUNODEFICIÊNCIA CONGÊNITA/PRIMÁRIA 
A maioria das doençaspor imunodeficiência 
primária é determinada geneticamente e afeta os 
braços humoral e/ou celular da imunidade adaptativa 
(mediada por linfócitos B e T, respectivamente) ou os 
mecanismos de defesa da imunidade inata (células 
NK, fagócitos ou complemento). Essas alterações 
ocorrem no processo de diferenciação e maturação 
das células do sistema imunitário. As mais importantes 
são: 
• Hipogamaglobulinemia ligada ao cromossomo X 
• Síndrome da hipergamaglobulinemia M 
• Imunodeficiência comum variável 
• Imunodeficiência grave combinada 
• Imunodeficiência por defeito na expressão de MHC 
• Síndrome de Wiskott-Aldrich 
IMUNODEFICIENCIA ADQUIRIDA/SECUNDÁRIA 
Podem ser encontradas em indivíduos com 
câncer, diabetes e outras doenças metabólicas, 
desnutrição, infecção crônicas e doença renal. 
Também ocorrem em pessoas que recebem 
quimioterapia ou radioterapia para câncer, ou 
imunossupressores para impedir a rejeição de 
transplantes ou para tratar doenças autoimunes. 
Alguns destes estados de imunodeficiência secundária 
podem ser causados por maturação defeituosa dos 
linfócitos (quando a medula óssea é lesada por 
radiação ou quimioterapia ou envolvida por tumores, 
como as leucemias e cânceres metastáticos), perda 
 
1 Brenda Araújo (@brendaraujo____) – Odontologia, UFPE Processos Patológicos Gerais 
de imunoglobulinas (como nas doenças renais 
proteinúricas), síntese inadequada de Igs (como na 
desnutrição) ou depleção de linfócitos (por drogas ou 
infecções graves). 
Como grupo, as imunodeficiências secundárias 
são mais comuns do que os transtornos de origem 
genética primária. 
• Síndrome da imunodeficiência adquirida: causada 
por infecção com um retrovírus do grupo dos lentivírus, 
denominado vírus da imunodeficiência humana (HIV). 
A infecção faz-se pela penetração do vírus no 
organismo através de mucosas ou diretamente pela 
introdução de sangue ou de outros fluidos biológicos. 
Contato de material contaminado com a pele ou 
mucosas íntegras parece não causar infecção. Sangue 
e esperma são os produtos mais infectantes (nos quais 
existem vírus livres e células infectadas), mas é 
duvidosa a existência do vírus em secreções exócrinas, 
como saliva. Contato sexual, transfusões de sangue 
contaminado ou seus derivados e uso de drogas 
injetáveis são as formas mais comuns de transmissão do 
vírus. O elemento mais importante na doença é a 
redução do número e da capacidade funcional de 
linfócitos T CD4+. No decorrer da infecção, ocorre 
perda lenta e progressiva de linfócitos T CD4+, além do 
fato de os fagócitos e outras células apresentadoras 
de antígenos que expressam a molécula CD4 também 
poderem estar comprometidos. Desorganização e 
depleção do tecido linfoide induzidas pelo vírus 
também contribuem para a deficiência imunitária. 
REJEIÇÃO DE TRANSPLANTES 
A resposta imunitária a enxertos, que 
pode culminar em sua rejeição, constitui o 
principal obstáculo enfrentado no transplante de 
órgãos e tecidos. Dependendo do tipo de 
enxerto, o receptor monta uma resposta 
imunitária humoral e/ou celular contra antígenos 
do doador: 
 Em transfusões sanguíneas, o organismo produz 1.
uma resposta humoral contra antígenos da 
superfície de eritrócitos (e também de 
leucócitos); os anticorpos formados causam lise e 
fagocitose acelerada dessas células; 
 Em transplantes de tecidos com células 2.
nucleadas, a resposta celular é mais vigorosa e 
muito importante nos mecanismos de rejeição. 
Transplante de órgãos para receptores 
compatíveis com o doador de acordo com MHC 
é a melhor maneira encontrada para se 
contornar parcialmente a rejeição. Transplantes 
entre indivíduos geneticamente idênticos 
(transplantes isogênicos) pegam, pois doador e 
receptor possuem MHC idênticos; quando não 
existe semelhança de MHC, ou seja, quando o 
doador é geneticamente diferente do receptor 
(transplantes alogênicos), há rejeição, o mesmo 
ocorrendo com transplantes entre indivíduos de 
espécies diferentes (transplantes xenogênicos). 
Em humanos, o polimorfismo de MHC é 
muito grande, sendo difícil identificar com 
segurança a histocompatibilidade de cada 
indivíduo. Como as sequências MHC estão em 
locos muito próximos, com pouca possibilidade 
de recombinação, o indivíduo herda dos pais o 
conjunto ou haplótipo de genes, razão pela qual 
é mais fácil encontrar pessoas histocompatíveis 
entre irmãos (há 25% de chance de dois irmãos 
herdarem o mesmo haplótipo) do que entre 
indivíduos não aparentados. No entanto, dada a 
possibilidade de imprecisão na tipagem de 
histocompatibilidade, transplantes feitos entre 
indivíduos considerados histocompatíveis podem 
ser rejeitados, porque diferenças entre MHC nem 
sempre são identificadas. 
Enxerto com MHC idêntico ao do receptor 
pode ser rejeitado por causa de antígenos 
secundários de histocompatibilidade, que, 
embora menos potentes, podem levar a rejeição. 
Os antígenos secundários de 
histocompatibilidade (mHag, de minor 
histocompatibility antigens) são proteínas 
intracelulares polimórficas, processadas e 
apresentadas junto com MHC I das células do 
enxerto; são, portanto, reconhecidos por 
linfócitos T CD8+ (T citotóxicos), embora em 
menor frequência esses antígenos possam ser 
apresentados junto a MHC II, ativando linfócitos T 
CD4+. 
Em praticamente todos os transplantes é 
preciso o uso de fármacos imunossupressores ou 
utilizar recursos para induzir tolerância no sentido 
de evitar rejeição. 
REFERÊNCIAS 
BRASILEIRO FILHO, Geraldo. Bogliolo - Patologia 
Geral. 1998. 
KUMAR, V. Robbins & Cotran Patologia - Bases 
Patológicas das Doenças. 2010.

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