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Autores: Profa. Maria José Teixeira Prof. Alexandre Saramelli Profa. Divane Alves da Silva Colaborador: Prof. Maurício Felippe Manzalli Contabilidade Societária Professores conteudistas: Maria José Teixeira / Alexandre Saramelli / Divane Alves da Silva © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. U507.09 – 20 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) T266c Teixeira, Maria José. Contabilidade societária. / Maria José Teixeira, Alexandre Saramelli, Divane Alves da Silva. – São Paulo: Editora Sol, 2020. 124 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Estratégia empresarial. 2. Avaliação de investimentos. 3. Percentual de participação. I. Saramelli, Alexandre. II. Silva, Divane Alves da. III. Título. CDU 657 Maria José Teixeira Mestre e graduada em Ciências Contábeis pela Universidade Católica de São Paulo e licenciada pela Faculdade de Educação Campos Salles. Curso de Controladoria, Controle de Custos e Orçamentos – Programa de Educação Continuada para Executivos pela Fundação Getúlio Vargas, bem como curso eLearning de Extensão em IFRS e NIAS pela Fipecafi (2014). Experiência nas áreas de Contabilidade Societária, Contabilidade Tributária, Custos e Controladoria exercendo diversas funções de coordenação, contadora e gerente de contabilidade em grandes grupos empresariais nacionais e multinacionais. Experiência na área acadêmica atuando nas disciplinas de Contabilidade e Custos e Análise de Balanços em diversas instituições de Ensino Superior. Atualmente, é Coordenadora Geral Técnica do curso de Ciências Contábeis e professora adjunta I da Universidade Paulista – UNIP, ministrando as disciplinas de Contabilidade, Contabilidade Societária, Contabilidade Financeira, Contabilidade Tributária e Planejamento Contábil Tributário. Alexandre Saramelli Nascido na cidade de São Paulo, é contador formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo e mestre profissional em Controladoria pela mesma universidade. Atuou em empresas nacionais e internacionais de médio e grande porte como contador em áreas de custos e orçamentos e foi consultor em sistemas de controladoria da desenvolvedora alemã SAP. Entusiasta de tecnologia da informação e ambientes altamente informatizados, é um incentivador de pesquisa, difusão e uso eficiente e intensivo das modernas ferramentas de gestão, “transferência de conhecimento”, ensino a distância e audiovisual. É autor de materiais para ensino a distância, redige livros didáticos e atividades de apoio educacional e instrucional, elabora avaliações e grava aulas em estúdio audiovisual, além de ser radialista e apresentador de televisão com DRT. Divane Alves da Silva Nascida na cidade de São Paulo, é mestre em Contabilidade pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (1998), especialista em Controladoria e Contabilidade Gerencial pela Faculdade Santana São Paulo (1992), especialista em Didática do Ensino Superior pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (1996), especialista em Ensino a Distância – EaD (2011), graduada em Ciências Contábeis pela Faculdade de Administração e Ciências Contábeis Tibiriçá (1990) e em Filosofia – Bacharelado e Licenciatura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2009). Tem as seguintes funções empresariais na área técnica: controller, contadora, auditora e consultora; na área acadêmica, é atualmente coordenadora de curso de Ciências Contábeis nas modalidades presencial e a distância na Universidade Paulista – UNIP e professora de pós-graduação em nível lato sensu nas Instituições de Ensino Superior – IES Universidade Presbiteriana Mackenzie, Universidade Paulista – UNIP e Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU e em diversos cursos e disciplinas correlatas à formação. Também atua ministrando curso in company. Além disso, é conteudista de materiais para o ensino a distância, incluindo gravações de aulas. Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcello Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Deise Alcantara Carreiro – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Vitor Andrade Lucas Ricardi Sumário Contabilidade Societária APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................ 10 Unidade I 1 CLASSIFICAÇÃO E AVALIAÇÃO DE INVESTIMENTOS NÃO CIRCULANTES .................................. 15 1.1 Classificação contábil dos investimentos não circulantes .................................................. 15 1.2 Classificação dos investimentos no balanço patrimonial .................................................... 16 1.3 Métodos de avaliação de investimentos .................................................................................... 17 2 AVALIAÇÃO DE PARTICIPAÇÕES EM OUTRAS SOCIEDADES ........................................................... 17 2.1 Avaliação de participações em outras sociedades pelo valor justo ................................. 19 2.2 Avaliação de participações em outras sociedades pelo valor de custo ......................... 21 2.2.1 Custo de aquisição ................................................................................................................................. 22 2.2.2 Perdas estimadas ..................................................................................................................................... 22 2.2.3 Dividendos nas participações societárias avaliadas pelo custo de aquisição ................ 24 3 PROPRIEDADE PARA INVESTIMENTO E OUTROS INVESTIMENTOS .............................................. 26 3.1 Propriedade para investimentos .................................................................................................... 26 3.2 Reconhecimento da propriedade para investimento ............................................................ 27 3.3 Métodos de avaliação da propriedade para investimento .................................................. 28 3.4 Outros investimentos .......................................................................................................................... 31 4 AVALIAÇÃO DE PARTICIPAÇÕES PELO MÉTODO DE EQUIVALÊNCIA PATRIMONIAL OU COM BASE NO VALOR DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO .......................................................................... 32 4.1 Aplicação do método da equivalência patrimonial de acordo com a Lei nº 6.404/76 .......................................................................................................................................... 32 4.2 Aplicação do método de equivalência patrimonial de acordo com o CPC 18 (R2) – Investimento em Coligada, em Controlada e em Empreendimento Controlado em Conjunto .......................................................................................................................... 34 4.3 Controle direto e indireto .................................................................................................................38 4.4 Distinção entre controle e propriedade ...................................................................................... 39 Unidade II 5 TÉCNICA DA EQUIVALÊNCIA PATRIMONIAL ......................................................................................... 45 5.1 Efeitos da movimentação do patrimônio líquido das coligadas e controladas nos investimentos da investidora ......................................................................................................... 45 5.1.1 Lucro ou prejuízo do exercício........................................................................................................... 48 5.1.2 Dividendos propostos ............................................................................................................................ 48 5.1.3 Integralização do capital ..................................................................................................................... 49 5.1.4 Ajustes de exercícios anteriores ........................................................................................................ 49 5.1.5 Outros resultados abrangentes ......................................................................................................... 50 5.2 Aplicação da técnica da equivalência patrimonial ................................................................. 50 5.3 Variação de percentual de participação em investimentos avaliados pelo método da equivalência patrimonial ................................................................................................. 55 5.4 Mais-valia, ágio por rentabilidade futura e ganho por compra vantajosa .................. 60 5.4.1 Conceitos de mais-valia por ativos líquidos, ágio por rentabilidade futura e ganho por compra vantajosa ........................................................................................................................ 60 5.4.2 Realização da mais-valia e do ágio por rentabilidade futura (goodwill) ......................... 61 6 RESULTADOS NÃO REALIZADOS EM OPERAÇÕES INTERSOCIEDADES ...................................... 65 6.1 Venda com lucro da investidora para uma coligada ou empreendimento controlado em conjunto – CPC 18 (R2), item 28; ICPC 09 (R2), itens 48 a 52 .................. 67 6.2 Venda com lucro da coligada (ou empreendimento controlado em conjunto) para a investidora – CPC 18 (R2), item 28; ICPC 09 (R2), itens 53 e 54 ............................... 68 6.3 Venda com lucro da controladora para a controlada – CPC 18 (R2), itens 28A a 28C; ICPC 09 (R2), itens 55 a 55C ................................................................................ 69 6.4 Venda com lucro da controlada para a controladora – CPC 18 (R2), itens 28A, 28B e 28C; ICPC 09 (R2), itens 56 a 56B ...................................................................... 70 Unidade III 7 ATIVO IMOBILIZADO ....................................................................................................................................... 75 7.1 Conceito de imobilizado .................................................................................................................... 75 7.2 Avaliação do imobilizado .................................................................................................................. 77 7.3 Bens que não precisam ser ativados ............................................................................................ 80 7.4 Gastos com reparos e conservação ou substituição de peças ........................................... 80 7.5 Depreciação ........................................................................................................................................... 82 7.6 Início da depreciação .......................................................................................................................... 84 7.7 Taxas de depreciação .......................................................................................................................... 84 7.8 Métodos de depreciação ................................................................................................................... 86 7.8.1 Método da linha reta ou método das quotas constantes ...................................................... 86 7.8.2 Método da soma dos dígitos dos anos .......................................................................................... 87 7.9 Valor residual ......................................................................................................................................... 88 7.10 Bens depreciáveis ............................................................................................................................... 89 7.11 Bens não depreciáveis ...................................................................................................................... 89 7.12 Bens adquiridos usados ................................................................................................................... 89 7.13 Depreciação acelerada contábil ................................................................................................... 90 7.14 Conjunto de instalações ou equipamentos ............................................................................ 91 7.15 Apuração do resultado na baixa de bens do imobilizado ................................................. 92 7.16 Amortização ......................................................................................................................................... 95 7.17 Exaustão ................................................................................................................................................ 97 7.18 Direitos sobre recursos minerais .................................................................................................. 98 7.19 Direitos sobre recursos florestais ................................................................................................. 99 7.20 Perdas estimadas para redução ao valor recuperável do ativo .....................................101 8 ATIVO INTANGÍVEL ........................................................................................................................................101 8.1 Conceito de intangível .....................................................................................................................101 8.2 Avaliação do intangível ...................................................................................................................104 8.3 Vida útil ..................................................................................................................................................105 8.4 Amortização do intangível .............................................................................................................106 8.4.1 Amortização de ativos intangíveis com vida útil definida ..................................................107 8.4.2 Valor residual de intangíveis com vida útil definida ..............................................................108 8.4.3 Amortização de ativos intangíveis com vida útil indefinida ...............................................109 8.5 Ativos classificados no intangível – conteúdo das contas ................................................110 8.5.1 Marcas e patentes ................................................................................................................................ 110 8.5.2 Licenças e franquias .............................................................................................................................111 8.5.3 Pesquisas e desenvolvimento...........................................................................................................112 8.5.4 Direitos autorais .................................................................................................................................... 115 9 APRESENTAÇÃO Esta disciplina concentra-seno estudo e na avaliação dos ativos classificados no ativo não circulante. Os principais grupos que compõem o ativo não circulante são o realizável a longo prazo, os investimentos, o imobilizado e o intangível. O ativo não circulante destaca-se por apresentar operações com ativos que, em geral, envolvem valores significativos e expressam maior grau de complexidade em sua análise. Neste livro-texto abordaremos, dentro dos objetivos do curso e em consonância às Normas Internacionais de Contabilidade, as seguintes operações: • investimentos; • imobilizado; • intangível. O foco desta disciplina é capacitar o aluno a adquirir conhecimento técnico para desenvolver algumas competências técnicas, como: enfatizar a consciência ética e a responsabilidade social da contabilidade; buscar o equilíbrio entre teoria e prática contábil de modo que gere informações relevantes para fins de tomada de decisões; apresentar uma síntese das principais operações relacionadas à contabilidade tendo em vista o registro contábil, culminando com a elaboração das demonstrações contábeis. Com esse conhecimento técnico o aluno poderá identificar, classificar e registrar as operações pertinentes ao ativo não circulante e mensurar o impacto que essas operações provocam no patrimônio e nos resultados das organizações, que é o ponto central desta disciplina. A elaboração deste texto é baseada numa estrutura formal e pautada em leis, regulamentos e, em especial, na convergência contábil internacional, que servirá como diretriz para a aplicação da teoria e da prática exigidas pelos conteúdos aqui elencados. É vital acentuar que o aluno não deve somente cumprir leis e regulamentos, deve compreender por que a lei exige tais procedimentos. O conteúdo a ser abordado aplica-se sem distinção a empresas de qualquer porte e/ou ramo de atividade; contudo, sabe-se que as grandes empresas têm maior ocorrência dessas operações. Entretanto, é possível que ocorra também nas pequenas e médias empresas, para as quais já existe uma Norma Brasileira de Contabilidade, a NBC TG 1000 (R1) – Contabilidade para Pequenas e Médias Empresas. Outro ponto a ser tratado é o de orientar o aluno em relação ao processo de convergência das Normas Brasileiras de Contabilidade às Normas Internacionais de Contabilidade. Todos os conteúdos a serem estudados estão suportados pelo respectivo pronunciamento contábil emitido pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) e transformados em Normas Brasileiras de Contabilidade pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC). Destaca-se, ainda, a necessidade de aproximar o aluno à cultura corporativa, ao conhecimento dos termos jurídicos e contábeis e à legislação societária com o intuito de facilitar a sua inserção no mercado de trabalho e contribuir para um melhor desempenho no início da profissão. 10 Este livro-texto é elaborado segundo as orientações do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), da Lei nº 6.404/76 com as atualizações produzidas pela Lei nº 11.638/2007 e da Lei nº 11.941/2009. Em nível internacional, observam-se os procedimentos ditados pela Internacional Accounting Standards Board (Iasb) e pela International Federation of Accountantes (Ifac). No desenvolvimento da explicação dos assuntos aqui tratados, pretende-se unir a teoria à prática como forma de gerar informações relevantes que possam ser úteis na formação acadêmica e profissional do aluno. INTRODUÇÃO Olá, aluno, Considerando-se os tópicos a serem estudados neste livro-texto, surge a seguinte indagação: Em qual ambiente contábil atua a disciplina Contabilidade Societária? Os conteúdos tratados neste livro-texto aplicam-se a qualquer tipo de empresa, independentemente do porte ou ramo de atividade. Iniciamos o nosso estudo analisando o grupo de investimentos. Normalmente, atribui-se que as operações relacionadas a investimentos são realizadas em empresas de grande porte constituídas sob a forma jurídica de sociedades anônimas, com ou sem ações em bolsa de valores. Contudo, isso não significa que as médias e pequenas empresas não se envolvam com tais operações, ao contrário, é cada vez mais comum. As empresas podem desejar fazer investimentos, em ações ou quotas de outras empresas, de caráter meramente especulativo, com o objetivo de obter rendimentos proporcionados pela sua valorização e negociação, ou seja, de natureza estratégica. É o caso de investimentos em ações ou quotas de outras sociedades, os quais serão avaliados pelo método do valor justo ou pelo método de custo. Essas entidades podem, entretanto, desejar fazer investimentos em participações em sociedades investidas como forma de extensão ou complementação de seus negócios: é o caso de investimentos em que a empresa deseja participar, de alguma forma, no processo decisório das políticas financeira ou operacional das controladas e coligadas. Nesse caso, os investimentos serão avaliados pelo método da equivalência patrimonial. De qualquer forma, independentemente do tipo de investimento, quer seja em ações, quer seja em participações, percebe-se a relação com outras sociedades empresárias ou conglomerados empresariais. Um conglomerado ou grupo empresarial pode ser formado por duas ou mais empresas, juridicamente independentes e que não necessariamente explorem o mesmo ramo de atividade, mas que tenham um objetivo comum. 11 Gelbcke et al. (2018, p. 714) referem-se a grupos empresariais da seguinte forma: Devemos sempre lembrar que as diversas empresas de um mesmo grupo econômico (constituído pela controladora e suas controladas) formam um conjunto de atividades econômicas, muitas vezes complementares. Assim, é dentro dessa visão e contexto que as demonstrações contábeis devem ser analisadas, ou seja, representam o reflexo de um conjunto de atividades econômicas de um grupo econômico [...]. É, em geral, nesse ambiente contábil que a maioria das operações com investimentos são realizadas, constituindo-se, sempre, na relação entre duas ou mais sociedades empresariais. O segundo item a ser estudado é o grupo do imobilizado. Sem dúvida, toda e qualquer empresa possui ativos registrados no imobilizado. Que entidade não tem computadores, mesas, cadeiras ou máquinas industriais? São itens obrigatórios para que possa desenvolver sua atividade operacional. Em geral, representam itens de grande valor econômico na composição dos ativos de uma empresa, seja em volume de investimentos financeiros, seja em quantidade de itens a serem controlados. Durante muito tempo, essa atividade foi vista apenas com o intuito de atender às exigências fiscais. Entretanto, esse conceito tende a modificar-se. Hoje as empresas reconhecem que o controle do imobilizado é essencial para ter conhecimento de seu patrimônio. Assim, é possível obter informações relevantes, e os gestores podem tomar decisões estratégicas em seus negócios. O imobilizado é formado por ativos corpóreos destinados à manutenção das atividades da empresa ou mantidos com essa finalidade. Os critérios de reconhecimento e mensuração dos ativos classificados no imobilizado requerem especial atenção para um perfeito entendimento da realidade patrimonial. A não observância desses critérios irá provocar sérias distorções nas demonstrações contábeis. Um dos pontos importantes na mensuração do valor dos ativos imobilizados é a depreciação, amortização e exaustão, conforme o caso, que reduz o valor dos bens ao longo de sua vida útil econômica. Nesse aspecto, deve-se considerar os efeitos tributários para que não ocorram erros na apuração dos impostos devidos. Outra exigência para os ativos imobilizados é que devem ser submetidos ao teste de recuperabilidade. Por último, estudaremos as operações com o intangível. A aplicação de operações com ativos intangíveis ocorre, assim como os elencados, em qualquer empresa. Os ativos intangíveis são formados por bens incorpóreos destinados à manutenção da companhia, ou seja,bens que não tenham consistência física. Você já imaginou quanto vale a marca de uma empresa? A marca é um dos ativos mais importantes e, muitas vezes, o de maior valor econômico, ainda que esta seja uma pequena prestadora de serviços. Já se perguntou qual é o ativo mais valioso nessas empresas? Com certeza será o capital humano, pois 12 o sucesso dessas entidades dependerá da qualidade dos serviços prestados, e a qualidade dos serviços prestados dependerá de quem os executa. Percebe-se uma mudança significativa na troca dos ativos nas organizações. Até há algum tempo, principalmente antes da existência da internet, a maior parte de seus ativos eram os tangíveis. O avanço da tecnologia incorporou mudanças significativas na economia mundial, o que proporcionou a geração de novos ativos intangíveis. Verifica-se que as empresas, cada vez mais, estão investindo em ativos intangíveis como forma de se manter no mercado e crescerem economicamente. Entretanto, o reconhecimento e a mensuração dos ativos intangíveis devem seguir certos critérios. Um ativo intangível deve ser reconhecido apenas se for provável a geração de benefícios futuros para a entidade e que possa ser mensurado com confiabilidade. Esses ativos estão sujeitos à amortização por conta de sua vida útil e de serem submetidos ao teste de recuperabilidade; no caso dos intangíveis, ainda é preciso considerar os efeitos tributários. Outra questão que deve nortear nossa análise é: os conteúdos estudados neste livro-texto atendem às Normas Internacionais de Contabilidade? Examinar os conteúdos de investimentos, imobilizado e intangível, não tem o menor sentido se não estiverem de acordo com os padrões internacionais. Para tanto, em 2005, foi criado o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), por meio da Resolução CFC nº 1.055/05, com o seguinte objetivo: o estudo, o preparo e a emissão de pronunciamentos técnicos sobre procedimentos de contabilidade e a divulgação de informações dessas natureza, para permitir a emissão de normas pela entidade reguladora brasileira, visando à centralização e uniformização do seu processo de produção, levando sempre em conta a convergência da Contabilidade Brasileira aos padrões internacionais (CFC, 2005). A função do CPC é produzir e divulgar os pronunciamentos contábeis, que são convergentes às Normas Internacionais de Contabilidade emitidas pelo International Accounting Standards Board (Iasb). Observação Os pronunciamentos emitidos pelo CPC não têm poder normativo. Só terão poder normativo quando aprovados por Resoluções do CFC e transformados em Normas Brasileiras de Contabilidade, identificadas por NBC TG, seguidas pelo número do CPC. As NBC TG são de aplicação compulsória por todos os profissionais de contabilidade. 13 Desse modo, para o completo atendimento às Normas Internacionais de Contabilidade, haverá a identificação do respectivo CPC transformado em Norma Brasileira de Contabilidade (NBC TG) em cada assunto tratado. Diante desse cenário, o aluno deverá conscientizar-se de que a atualização é fundamental. Aplicar a contabilidade sem uma visão internacional torna-se um trabalho pobre e sem qualidade. Bom (e entusiasmado) estudo! 15 CONTABILIDADE SOCIETÁRIA Unidade I 1 CLASSIFICAÇÃO E AVALIAÇÃO DE INVESTIMENTOS NÃO CIRCULANTES 1.1 Classificação contábil dos investimentos não circulantes Antes de iniciarmos a avaliação de investimentos, vamos verificar alguns pontos de forma geral. Para tal, acentua-se o conceito de investimentos no teor da Lei nº 6.404/76: Art. 179. As contas serão classificadas do seguinte modo: [...] III – em investimentos: as participações permanentes em outras sociedades e os direitos de qualquer natureza, não classificáveis no ativo circulante, e que não se destinem à manutenção da atividade da companhia ou da empresa (BRASIL, 1976). Os investimentos classificados no ativo não circulante, também chamados de investimentos permanentes, são formados por ativos que não se destinam à manutenção das atividades da empresa. Nesse ponto, cabe destacarmos uma omissão da lei ao conceituar investimentos. Nota-se que a lei só faz referência a participações não classificáveis no ativo circulante, quando deveriam ser incluídas as participações não classificáveis no realizável a longo prazo. O mais adequado seria adicionar ao texto da lei: “[…] os direitos de qualquer natureza não classificáveis no ativo circulante, nem no ativo realizável a longo prazo, e que não se destinem à manutenção da atividade da companhia ou da empresa”. Devemos, de fato, interpretar o texto legal com a inclusão desse grupo. O artigo nº 179 ilustra, ainda, que as participações devem ser permanentes. Os investimentos dividem-se assim: • Investimentos temporários: são adquiridos com a intenção de revenda, geralmente, têm caráter especulativo e devem ser classificados no ativo circulante ou no ativo realizável a longo prazo, conforme o prazo previsto para sua realização. • Investimentos permanentes: são adquiridos com a intenção de permanência, com o objetivo de gerar ganhos para a empresa. A intenção de permanência se manifesta no momento em que se adquire a participação mediante a sua inclusão no subgrupo de investimentos. O critério mais usual para a classificação das participações no capital de outras sociedades como temporário ou permanente tem sido o da análise da intenção de alienação. Se a empresa pretender alienar o investimento 16 Unidade I no exercício seguinte, deve classificá-lo no ativo circulante ou caso deseje realizá-lo após o término do exercício seguinte, deve classificá-lo no realizável a longo prazo. Se não houver a intenção de alienação da participação, o investimento deverá ser classificado no ativo não circulante, subgrupo de investimentos. Exemplo Em 01.08.X1, a Industrial Estrela S.A. adquire, por motivos especulativos, ações de outra empresa por R$ 500.000. Na data da aquisição, a diretoria definiu que algumas ações no valor de R$ 200.000 seriam vendidas em 31.07.X2. As demais ações foram adquiridas com a intenção de permanência. Como essa operação estará representada no balanço patrimonial encerrado em 31.12.X1? Tabela 1 – Balanço patrimonial em 31.12.X1 Ativo circulante Investimentos temporários Instrumentos patrimoniais de outras sociedades 200.000 Ativo não circulante Investimentos Participações em outras sociedades 300.000 Observação A Lei nº 6.404/76, das Sociedades por Ações, foi influenciada pelo exemplo do mercado de capitais norte-americano, em que houve um grande trauma por conta do crash da Bolsa de Nova York, em 1929. Por isso, nessa lei há uma enorme preocupação com o investidor. Essa preocupação foi ainda mais acentuada nas IFRS – Normas Internacionais de Contabilidade. 1.2 Classificação dos investimentos no balanço patrimonial No balanço patrimonial, os investimentos permanentes devem ter a seguinte estrutura: • Ativo não circulante. • Investimentos: • Participações: Participações permanentes em outras sociedades — avaliadas pelo valor justo; 17 CONTABILIDADE SOCIETÁRIA — avaliadas pelo valor de custo; — perdas estimadas (conta credora); Participações em sociedades coligadas e controladas — avaliadas por equivalência patrimonial. • Propriedades para investimento: — avaliadas pelo valor justo; — avaliadas pelo valor de custo. • Outros investimentos: — obras de arte; — bens não utilizados nos negócios; — perdas estimadas (conta credora). 1.3 Métodos de avaliação de investimentos A partir da convergência das Normas Brasileiras de Contabilidade às Normas Internacionais de Contabilidade, passaram a existir três métodos de avaliação de investimentos permanentes. Avalição de investimentos Valor justo Valor de custo Método por equivalência patrimonial (MEP) Figura 1– Métodos de avaliação de investimentos pelas Normas Internacionais de Contabilidade 2 AVALIAÇÃO DE PARTICIPAÇÕES EM OUTRAS SOCIEDADES A avaliação de investimentos em participaçõesem outras sociedades é definida pelo art. 183 da Lei nº 6.404/76, com as alterações produzidas pela Lei nº 11.638/2007 e pela Lei nº 11.941/2009: Art. 183 – No balanço, os elementos do ativo são avaliados segundo os seguintes critérios: 18 Unidade I [...] III – os investimentos em participação no capital social de outras sociedades, ressalvado o disposto nos arts. 248 e 250, pelo custo de aquisição, deduzidos de provisão para perdas prováveis na realização do seu valor, quando essa perda estiver comprovada como permanente, e que não será modificado em razão do recebimento, sem custo para a companhia, de ações ou quotas bonificadas (BRASIL, 2009). Tratam-se de investimentos sob a forma de ações ou quotas em sociedades que não sejam coligadas ou controladas, que não façam parte de um mesmo grupo ou que não estejam sob controle comum. Essas participações serão avaliadas pelo método de equivalência patrimonial, conforme disposto nos arts. 248 e 250. Saiba mais Para conhecer os critérios de avaliação do ativo, no balanço patrimonial, consulte a Lei nº 6.404/76: BRASIL. Presidência da República. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações. Brasília, 1976. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ leis/L6404compilada.htm>. Acesso em: 24 abr. 2019. Muito embora a Lei nº 6.404/76 determine que as participações em outras sociedades sejam avaliadas pelo método de custo, essa forma de avaliação não está de acordo com os pronunciamentos do CPC, portanto, não seguem as disposições contidas nas Normas Brasileiras de Contabilidade e nas Normas Internacionais de Contabilidade. Segundo o item 11 do CPC 39 – Instrumentos Financeiros: Apresentação – NBC TG 39 (R4), um instrumento patrimonial de outra entidade constitui-se num instrumento financeiro (CPC, 2013g). Na mesma linha, o CPC 48 – Instrumentos Financeiros (NBC TG 48) destaca, no capítulo 2, que o alcance desse pronunciamento deve ser aplicado por todas as entidades a todos os tipos de instrumentos financeiros, exceto às participações em controladas, coligadas ou empreendimentos controlados em conjunto, que serão avaliados pelo método de equivalência patrimonial. Esse pronunciamento estipula o seguinte: B5.2.3 Todos os investimentos em instrumentos patrimoniais e contratos relativos a esses instrumentos devem ser mensurados ao valor justo. Contudo, em circunstâncias limitadas, o custo pode ser uma estimativa apropriada do valor justo. Esse pode ser o caso se não houver informações suficientes mais 19 CONTABILIDADE SOCIETÁRIA recentes disponíveis para mensurar o valor justo, ou se houver ampla gama de mensurações ao valor justo possíveis e o custo representar a melhor estimativa do valor justo nessa gama (CPC, 2013h, p. 87). Voltando à Lei nº 6.404/76, o art. 183, item I, fixa que as aplicações em instrumentos financeiros, classificados no ativo circulante ou no realizável a longo prazo, devem ser avaliadas pelo seu valor justo quando destinadas à negociação ou disponíveis para venda (redação dada pela Lei nº 11.941/2009) e pelo valor de custo de aquisição ajustado ao valor provável de realização, quando este for menor, no caso das demais aplicações (incluída pela Lei nº 11.638/2007). Ora, se um instrumento patrimonial de outra entidade (assim como ações ou quotas de capital de uma sociedade, enquanto instrumentos patrimoniais) por sua natureza constitui-se em um ativo financeiro, a sua avaliação deve ser feita conforme o item I do art. 183 da Lei nº 6.404/76, portanto, a valor justo, e não de acordo com o item III, pelo custo de aquisição deduzido de provisão para perdas. Verifica-se uma divergência na avaliação de investimentos entre a Lei nº 6.404/76 e os CPCs, convergentes às Normas Internacionais de Contabilidade. Avaliação pela Lei nº 6.404/76 MEP Valor de custo Avaliação pelo CPC MEP Valor justo Valor de custo Figura 2 – Avaliação de investimentos pela Lei nº 6.404/76 e pelo CPC Observação A intenção do CPC é justamente evitar conflitos de legislação contábil e promover um meio para que a matéria contábil seja tratada de forma uniforme, em nível nacional e internacional. 2.1 Avaliação de participações em outras sociedades pelo valor justo Já vimos que o valor justo foi introduzido pelas Normas Internacionais de Contabilidade (IFRS), e referendadas pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPCs). Primeiro vamos saber o que é valor justo. 20 Unidade I A definição de valor justo consta no item 9 do CPC 46 Mensuração do Valor Justo – NBC TG 46 (R1): “Este pronunciamento define valor justo como o preço que seria recebido pela venda de um ativo ou que seria pago pela transferência de um passivo em uma transação não forçada entre participantes do mercado na data de mensuração (CPC, 2012). O valor justo é uma mensuração baseada em mercado, e não um parecer específico da entidade. Podem existir ativos e passivos nos quais as informações de mercado ou transações de mercado são disponíveis e facilmente observáveis, entretanto, para outros, podem não existir essas observações. “Contudo, o objetivo da mensuração do valor justo em ambos os casos é o mesmo – estimar o preço pelo qual uma transação não forçada para vender o ativo ou para transferir o passivo ocorreria entre participantes do mercado na data da mensuração sob condições correntes do mercado” (CPC, 2012, item 2, p. 2). Quando não houver dados observáveis para o preço de um ativo ou passivo, a entidade deverá calcular o valor justo utilizando outra técnica de avaliação, na qual deve prevalecer a maximização de dados observáveis relevantes sobre os dados não observáveis. A avaliação de investimentos pelo valor justo consiste em analisar o investimento segundo o valor de mercado. Conforme o determinado pelo CPC 46 – Mensuração do Valor Justo, o método de custo será utilizado somente quando o custo representar uma estimativa apropriada do valor justo, ou quando não for possível estimar o valor justo com confiabilidade. Nesses casos, o valor de custo expressa a melhor estimativa do valor justo (CPC, 2013h). Dessa forma, o valor de custo deverá ser usado apenas em raras situações, ou seja, quando o valor justo não puder ser mensurado com certo grau de confiabilidade. A própria Lei nº 6.404/76, em seu art. 177, § 5º, confere à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que as suas normas sejam elaboradas em consonância aos padrões internacionais de contabilidade. Confirma esse entendimento o Manual de Contabilidade Societária da Fipecafi, cujo texto reproduzimos a seguir: Assim, as companhias abertas ficam obrigadas a acompanhar as determinações da CVM, e como essa aprovou todos os pronunciamentos técnicos, interpretações e orientações do CPC, os quais estão em linha com as normas internacionais de contabilidade, tais companhias abertas deverão avaliar a valor justo seus investimentos permanentes em outras sociedades que não coligadas ou controladas, podendo avaliar a custo somente quando não existir preço de mercado cotado em um mercado ativo ou quando um valor justo confiável não puder ser obtido utilizando-se outras técnicas de avaliação. O mesmo acontece para as demais sociedades porque o CFC – Conselho Federal de Contabilidade também aprovou todos os pronunciamentos técnicos, interpretações e orientações do CPC (FIPECAFI, 2018, p. 169). 21 CONTABILIDADE SOCIETÁRIA Lembrete Os investimentos permanentes serão avaliados pelo método de custo somente quando não tiverem preço de cotação em mercado ativo ou se o seu valor justo não puder ser mensurado de forma confiável. Exemplo A Cia. Rodrigues Alves adquiriu, sem intenção de venda, 2 mil ações da Cia. Afonso Pena por R$ 20,00 cada. O patrimônio líquido da Cia. Afonso Pena na data da transação era de R$ 500.000. Ao fim do exercício, o valor de mercado do patrimônio líquido da investida foi confiavelmente mensurado em R$ 600.000. Contabilize a operação.1. Na data da aquisição da participação Ações adquiridas (2.000 x 20,00) 40.000 PL da investida 500.000 Participação 8% D = participações em outras sociedades – Cia. Afonso Pena 40.000 C = caixa e equivalentes de caixa 40.000 2. Na data do fechamento do balanço Aumento no PL da investida 100.000 Participação 8% Aumento das participações por avaliação de mercado 8.000 D = participações em outras sociedades – Cia. Afonso Pena 8.000 C = ajustes de avaliação patrimonial (PL) 8.000 Caso o valor de mercado do patrimônio líquido da investida tivesse diminuído para R$ 400.000, o lançamento seria o seguinte: D = ajustes de avaliação patrimonial (PL) 8.000 C = participações em outras sociedades – Cia. Afonso Pena 8.000 2.2 Avaliação de participações em outras sociedades pelo valor de custo São avaliados pelo método de custo os instrumentos patrimoniais de outras entidades, ou seja, as participações em ações ou quotas de capital em outras sociedades, classificados no ativo não circulante, que não sejam coligadas ou controladas, quando não tiverem preço cotado em mercado ativo ou se o 22 Unidade I seu valor não puder ser mensurado com confiabilidade. Nessas condições, de acordo com o art. 183, item III da Lei nº 6.404/76, devem ser avaliadas pelo custo de aquisição deduzidas de provisão para perdas. 2.2.1 Custo de aquisição É o valor efetivamente despendido na transação, podendo ocorrer mediante subscrição relativa a aumento de capital, ou o preço total pago pela compra de ações de terceiros. Representam todos os gastos realizados para a sua aquisição, inclusive os encargos de corretagem. Exemplo 1 A Cia. Maranhão participa do aumento de capital da Cia. São Luiz, subscrevendo 100 mil ações ao valor nominal de R$ 1,00 cada, integralizando em dinheiro. Sabendo-se que o investimento corresponde a 5% do capital da investida, contabilize a operação. D = participações em outras sociedades – Cia. São Luiz 100.000 C = caixa e equivalentes de caixa 100.000 Exemplo 2 A Cia. Pará, com boa situação financeira, resolveu aplicar uma parcela de seus recursos de forma permanente, adquirindo ações da Cia. Belém por meio de uma corretora de títulos e valores mobiliários, tendo pago por 2 mil ações a importância de R$ 12.000 e o valor R$ 500 referente a despesas com corretagem. Contabilize a operação. D = participações em outras sociedades – Cia. Belém 12.500 C = caixa e equivalentes de caixa 12.500 2.2.2 Perdas estimadas Conforme disposição da Lei nº 6.404/76, as participações permanentes devem ser registradas pelo custo de aquisição, deduzidos de provisão para perdas prováveis na realização dos investimentos, quando essa perda for comprovada como permanente. Perda permanente é aquela de impossível ou improvável recuperação. Cabem, aqui, duas observações. A primeira observação é que, embora a lei trate como provisão para perdas, a partir do alinhamento aos padrões internacionais contábeis, a conta provisão para perdas não é mais aceitável para as contas redutoras de ativo, pois não atendem ao conceito de provisões, já que provisão é um passivo de prazo ou de valor incerto, conforme determina o CPC 25 – Provisões, Passivos Contingentes e Ativos Contingentes – NBC TG 25 (R1). Essa conta foi substituída pela conta perdas estimadas. 23 CONTABILIDADE SOCIETÁRIA Saiba mais Estude também o CPC 25: COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS (CPC). Pronunciamento Técnico CPC 25 – Provisões, Passivos Contingentes e Ativos Contingentes. CPC, 2013d. Disponível em: <http://static.cpc.aatb.com.br/Documentos/304_ CPC_25_rev%2013.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2019. A segunda observação é que, pelos padrões internacionais contábeis, a condição de “comprovada como permanente” deixa de ser utilizada. O conceito válido é relativo quanto à redução ao valor recuperável de ativos sempre que o valor contábil exceder o valor recuperável. Essa redução é feita por meio das perdas estimadas. Para determinar se a empresa investidora tem perdas com seus investimentos em outras sociedades, é preciso acompanhar a situação dessas outras sociedades. Para tanto, deve-se obter as demonstrações contábeis e apurar o valor patrimonial das ações. Se a empresa investida estiver operando com prejuízo, provocará uma diminuição no patrimônio líquido e, consequentemente, o valor patrimonial das ações sofrerá redução. Se não houver perspectivas de recuperação desses prejuízos, pelo menos no próximo exercício, a comparação com o valor registrado nos investimentos da investidora indicará a necessidade da constituição da provisão para perdas. Outros exemplos de perdas estimadas são as decorrentes de participações em companhias que tiveram sua falência decretada e não possuem recursos para reembolsar seus acionistas ou em empresas cujos projetos não mais sejam viáveis ou estejam abandonados. Nesses casos, é improvável a recuperação do investimento feito e, portanto, deve-se estimar a perda. Resumindo, dentre as situações que evidenciam perdas em investimentos, podemos destacar: • investimentos em sociedades que operam com prejuízos; • investimentos em sociedades com falência decretada e em má situação financeira; • investimentos em sociedades que possuem projetos não viáveis ou abandonados. Cabe ressaltar que as perdas estimadas na realização de investimentos permanentes não são dedutíveis para fins do imposto de renda, por força do disposto no RIR/2018, art. 339, e para fins da contribuição social sobre o lucro líquido por força do disposto na Instrução Normativa RFB nº 1.700, art. 62 (BRASIL, 2017). Exemplo A Cia. Paraná é detentora de ações da Cia. Curitiba, adquiridas e registradas em seu patrimônio pelo valor de R$ 20.000. As ações da Cia. Curitiba estão desvalorizadas e trazem um reflexo para a investidora no valor de R$ 2.000. O lançamento contábil será o seguinte: 24 Unidade I D = perdas estimadas por valor não recuperável (resultado) 2.000 C = perdas estimadas por valor não recuperável (redutora) 2.000 No balanço patrimonial o registro será da seguinte forma: Ativo não circulante Investimentos Participações em outras sociedades – Cia. Curitiba 20.000 (-) Perdas estimadas por valor não recuperável (2.000) 2.2.3 Dividendos nas participações societárias avaliadas pelo custo de aquisição Na data do encerramento do balanço, as empresas estão obrigadas a contabilizar as destinações do lucro líquido, conforme proposta apresentada pelos órgãos da administração, o que inclui a distribuição de dividendos. Em se tratando de distribuição de lucros, a investida deverá contabilizar os dividendos propostos, reduzindo a conta lucros acumulados contra caixa e equivalentes de caixa ou dividendos a pagar. 2.2.3.1 Dividendos recebidos após seis meses contados da data de aquisição da participação A empresa investidora deverá obter, da empresa investida, informações sobre os dividendos propostos contabilizados em seu balanço e efetuar o lançamento dos dividendos proporcionais à sua participação, debitando caixa e equivalentes de caixa ou dividendos a receber, com contrapartida em receita de dividendos dentro do grupo de outras receitas operacionais, conforme estabelece o art. 415 do RIR/2018 (BRASIL, 2018): “Ressalvado o disposto no art. 416 e no § 1º do art. 425, os lucros e dividendos recebidos de outra pessoa jurídica integrarão o lucro operacional (Decreto-Lei nº 1.598, de 1977, art. 11, caput)”. 2.2.3.2 Dividendos recebidos até seis meses contados da data de aquisição da participação Por determinação da legislação do imposto de renda, [...] os lucros ou dividendos recebidos pela pessoa jurídica em decorrência de participação societária avaliada pelo método de custo de aquisição, adquirida até seis meses antes da data da respectiva percepção, serão registrados como diminuição do valor do custo e não influenciarão as contas de resultado (BRASIL, 2018, art. 416). A legislação do imposto de renda presume que quem alienou o investimento já sabiada existência desses dividendos, e, por essa razão, incluiu o valor no preço de venda. Presume-se, então, que o valor dos dividendos recebidos até seis meses a partir da data de aquisição do investimento esteja embutido no valor da participação. 25 CONTABILIDADE SOCIETÁRIA Observação O Decreto nº 3.000/99, conhecido como RIR/99, foi totalmente revogado pelo Decreto nº 9.580/2018, chamado agora de RIR/2018. Exemplo 1 Determinada empresa adquire participações avaliadas pelo custo de aquisição na Cia. Clara. O investimento foi adquirido em 01/02/X1 e corresponde a 5% do seu capital social, tendo sido pago o valor de R$ 100.000 em sua aquisição. Em 30/06/X1, a Cia. Clara distribuiu R$ 400.000 a título de dividendos. Os lançamentos contábeis na investidora serão os seguintes: Pela aquisição dos investimentos: D = participações societárias em outras sociedades – Cia. Clara 100.000 C = caixa e equivalentes de caixa 100.000 Pela contabilização dos dividendos: D = caixa ou equivalentes de caixa/dividendos a receber 20.000 C = participações societárias em outras sociedades – Cia. Clara 20.000 Os dividendos foram calculados proporcionalmente à participação no capital social da investida (5% de $ 400.000). Como a participação na Cia. Clara foi adquirida em 01/02/X1 e os dividendos foram distribuídos em 30/06/X1 com menos de seis meses, os valores são registrados como redução do valor do investimento, não transitando por conta de resultado. Exemplo 2 Determinada empresa adquire participações avaliadas pelo custo de aquisição na Cia. Escura. O investimento foi adquirido em 01/02/X1 e corresponde a 8% do seu capital social, tendo sido pago o valor de R$ 300.000 em sua aquisição. Em 31/12/X1, a Cia. Escura distribuiu $ 700.000 a título de dividendos. Os lançamentos contábeis na investidora serão os seguintes: Pela aquisição dos investimentos: D = participações societárias em outras sociedades – Cia. Escura 300.000 C = caixa e equivalentes de caixa 300.000 Pela contabilização dos dividendos: D = caixa/dividendos a receber 56.000 C = receita de dividendos 56.000 26 Unidade I Os dividendos foram calculados proporcionalmente à participação no capital social da investida (8% de $ 700.000). Como a participação na Cia. Escura foi adquirida em 01/02/X1 e os dividendos foram distribuídos em 31/12/X1 com mais de seis meses, os dividendos serão registrados como receita operacional. Para efeitos de imposto de renda e contribuição social sobre o lucro líquido, a receita de dividendos não será tributada. 3 PROPRIEDADE PARA INVESTIMENTO E OUTROS INVESTIMENTOS 3.1 Propriedade para investimentos O assunto em questão é tratado no CPC 28 – Propriedade para Investimento – NBC TG 28 (R3). Anteriormente a esse pronunciamento técnico, a legislação societária não indicava tratamento específico para esses ativos. Os terrenos e edifícios para futura utilização e imóveis para renda eram classificados em outros investimentos por não se destinarem à manutenção da atividade da empresa (CPC, 2013f). Por exigência das disposições contidas no pronunciamento técnico, a propriedade para investimento deve figurar separadamente em conta própria e ser avaliada segundo as orientações do respectivo CPC. O objetivo do CPC 28 é fixar o tratamento contábil de propriedades para investimento e respectivos requisitos de divulgação, no que se refere ao reconhecimento, à mensuração e à divulgação desses ativos. Iniciamos verificando qual o conceito dado pelo CPC 28 para propriedades para investimento. Propriedade para investimento é a propriedade (terreno ou edifício – ou parte de edifício – ou ambos) mantida (pelo proprietário ou pelo arrendatário como ativo de direito de uso) para auferir aluguel ou para valorização do capital ou para ambas, e não para: (Alterado pela Revisão CPC 13) a) uso na produção ou fornecimento de bens e serviços ou para finalidades administrativas; b) venda no curso ordinário do negócio (CPC, 2013f, p. 16). São propriedades mantidas com a finalidade de obter rendas ou adquiridas com fins de valorização do capital aplicado e devem ser classificadas no subgrupo de investimentos. Diferem-se das propriedades próprias ocupadas pelo proprietário e mantidas para a manutenção das atividades da empresa, que são tratadas no CPC 27 – Ativo Imobilizado – NBC TG 27 (R3) (CPC, 2013e). De acordo com o item 8 do CPC 28, são classificadas como propriedades para investimentos os seguintes ativos: (a) terrenos mantidos para valorização de capital a longo prazo, e não para venda a curto prazo no curso ordinário dos negócios; 27 CONTABILIDADE SOCIETÁRIA (b) terrenos mantidos para futuro uso correntemente indeterminado (se a entidade não tiver determinado que usará o terreno como propriedade ocupada pelo proprietário ou para venda a curto prazo no curso ordinário do negócio, o terreno é considerado como mantido para valorização do capital); (c) edifício que seja propriedade da entidade (ou ativo de direito de uso relativo a edifício mantido pela entidade) e que seja arrendado sob um ou mais arrendamentos operacionais; (Alterada pela Revisão CPC 13) (d) edifício que esteja desocupado, mas mantido para ser arrendado sob um ou mais arrendamentos operacionais; (e) propriedade que esteja sendo construída ou desenvolvida para futura utilização como propriedade para investimento (CPC, 2013f, p. 4). Lembrete Se terrenos ou edifícios forem adquiridos com uso futuro indefinido devem ser considerados propriedade para investimento. Caso em uma propriedade seja identificada uma parte mantida para obter renda ou para valorização futura e outra parte mantida para uso na manutenção da atividade da empresa, a entidade deverá contabilizar as partes separadamente. Se as partes não puderem ser separadas, somente deve ser considerada propriedade para investimentos se a parte mantida para uso nas atividades for insignificante. Em algumas situações, quando a identificação for de extrema dificuldade para a adequada classificação, a entidade pode desenvolver critérios para exercer um julgamento apropriado para definir se a propriedade se qualifica como propriedade para investimento. Nesse caso, o pronunciamento exige que os critérios usados sejam divulgados. 3.2 Reconhecimento da propriedade para investimento Segundo o item 16 do CPC 28, para reconhecer uma propriedade para investimentos como ativo, é necessário que “(a) seja provável que os benefícios econômicos futuros associados à propriedade para investimento fluirão para a entidade; (b) o custo da propriedade para investimento possa ser mensurado confiavelmente” (CPC, 2013f, p. 6). A entidade deve avaliar todos os custos associados à propriedade para investimentos no momento em que eles são incorridos. Esses valores devem incluir: custos inicias na aquisição; custos de substituição de partes da propriedade; custos para prestar manutenção à propriedade e custos de transação. Os custos de compra de uma propriedade para investimentos compreendem o preço da compra e qualquer custo diretamente atribuível, tais como as remunerações profissionais de serviços legais, impostos de transferência de propriedade e outros custos de transação. Se uma propriedade for adquirida a prazo, 28 Unidade I deve-se reconhecer o valor equivalente à vista, e a diferença entre o preço à vista e os pagamentos totais deve ser contabilizada como despesas financeiras. 3.3 Métodos de avaliação da propriedade para investimento Como vimos, uma propriedade para investimentos deve ser inicialmente mensurada pelo seu valor de custo. Após o seu reconhecimento, a entidade pode escolher o método de avaliação. Existem duas opções para avaliar essas propriedades a livre critério da entidade: método do valor justo e método de custo. O pronunciamento exige, porém, que a entidade deve aplicar o mesmo método para todas as propriedades para investimento. Entretanto, o pronunciamento determina que as empresas que optarempelo método de custo como política de avaliação no balanço deverão mensurar o valor justo e divulgá-lo em notas explicativas. Embora seja opcional a empresa escolher o método de avaliação, o pronunciamento incentiva a entidade, mas não exige, a mensurar pelo valor justo, com base em análises feitas por profissionais independentes, que tenham qualificação relevante e reconhecida e que tenham experiência no local e na categoria da propriedade para investimentos que esteja sendo avaliada. Lembrete As empresas podem optar pelo método do valor justo ou pelo método de custo como política de avaliação das propriedades para investimento. Todavia, se a opção for a última, elas deverão mensurar o valor justo para fins de divulgação em notas explicativas. Método do valor justo A definição de valor justo usada nesse pronunciamento é igual, e não poderia ser diferente, já vista no CPC 46 – Mensuração do Valor Justo (CPC, 2012). Valor justo é o preço que seria recebido pela venda de um ativo ou que seria pago pela transferência de um passivo em uma transação não forçada entre participantes do mercado na data de mensuração. Método de custo Esse pronunciamento define o valor de custo do seguinte modo: Custo é o montante de caixa ou equivalentes de caixa pago ou o valor justo de outra contraprestação dada para adquirir um ativo no momento 29 CONTABILIDADE SOCIETÁRIA da sua aquisição ou construção ou, quando aplicável, o montante atribuído àquele ativo quando inicialmente reconhecido em consonância com requerimentos específicos de outros Pronunciamentos, por exemplo, Pronunciamento Técnico CPC 10 – Pagamento Baseado em Ações (CPC, 2013f, p. 2). As empresas que optarem pelo método de custo também devem divulgar os métodos de depreciação usados, as vidas úteis ou as taxas de depreciação aplicadas, bem como o valor contábil bruto e a depreciação acumulada (CPF, 2013f). Perdas estimadas Outra exigência desse pronunciamento é a apuração da quantia das perdas por impairment reconhecida e a quantia de perdas por impairment revertida durante o período, de acordo com as determinações do CPC 01 – Redução ao Valor Recuperável de Ativos – NBC TG 01 (R3) (CPC, [s.d.]). Exemplo A Cia. Expansão adquiriu um imóvel em 01/01/X2 com objetivo de auferir aluguel nas seguintes condições: Preço da compra à vista 3.000.000 Gastos com impostos e taxas de registro 150.000 Durante o ano de X2 manteve o imóvel alugado a terceiros, auferindo receitas de aluguéis, no ano, de R$ 500.000. Observe, ainda, as seguintes informações: • Considerando que a Cia. Expansão optou pelo método de custo, adotou uma taxa de depreciação de 4% ao ano, sem valor residual. • Considerando que a Cia. Expansão optou pelo método do valor justo e o valor justo do imóvel avaliado por profissional especializado foi de R$ 3.400.000 em 31/12/X2. Pede-se: contabilize a operação pelos dois métodos e demonstre o efeito no ativo e na demonstração do resultado do exercício (DRE). Método de custo Valor do custo 3.150.000 Depreciação (4% ao ano) 126.000 Receitas de aluguel (no ano) 500.000 30 Unidade I Pela aquisição D = propriedade para investimentos 3.150.000 C = caixa e equivalentes de caixa 3.150.000 Pela depreciação D = despesas de depreciação 126.000 C = depreciação acumulada 126.000 Pela receita de aluguel D = caixa e equivalentes de caixa 500.000 C = receitas de aluguel 500.000 Balanço patrimonial Investimentos Propriedade para investimentos 3.150.000 Depreciação acumulada (126.000) Total de investimentos 3.024.000 DRE Receitas de aluguel 500.000 Despesas de depreciação (126.000) Resultado 374.000 Método do valor justo Valor do custo 3.150.000 Valor justo 3.400.000 Ajuste 250.000 Pela avaliação ao valor justo D = propriedade para investimentos 250.000 C = receita por ajuste ao valor justo (AVJ) 250.000 31 CONTABILIDADE SOCIETÁRIA Balanço patrimonial Investimentos Propriedade para investimentos 3.150.000 Acréscimo por avaliação ao valor justo 250.000 Total de investimentos 3.400.000 DRE Receitas de aluguel 500.000 Receita por ajuste ao valor justo (AVJ) 250.000 Resultado 750.000 3.4 Outros investimentos Em outros investimentos estão classificados os seguintes ativos: • obras de arte; • antiguidades; • marcas e patentes não utilizadas pela empresa; • joias, pedras preciosas e ouro. Retornamos, então, ao art. 183 da Lei nº 6.404/76, que trata dos critérios de avaliação dos ativos. No balanço, os elementos do ativo são avaliados segundo os seguintes critérios: [...] IV – os demais investimentos, pelo custo de aquisição, deduzido de provisão para atender às perdas prováveis na realização do seu valor, ou para redução do custo de aquisição ao valor de mercado, quando este for inferior (BRASIL, 1976). Novamente acentua-se que esses ativos devem ser avaliados pelo método de custo de aquisição e deduzidos de provisão para perdas, ou seja, por perdas estimadas de acordo com a nomenclatura adotada nos pronunciamentos técnicos do CPC. Para esses outros investimentos valem os estudos e argumentos vistos anteriormente. Estes devem ser analisados pelo método do valor justo ou pelo método de custo. Devem ser avaliados pelo método de custo somente quando o ativo não tiver preço de mercado cotado em mercado ativo ou cujo valor justo não possa ser confiavelmente mensurado. Devem seguir as explicações já estudas neste livro-texto. 32 Unidade I 4 AVALIAÇÃO DE PARTICIPAÇÕES PELO MÉTODO DE EQUIVALÊNCIA PATRIMONIAL OU COM BASE NO VALOR DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO Equivalência patrimonial corresponde ao valor do investimento fixado mediante a aplicação da porcentagem de participação no capital social sobre o patrimônio líquido de cada coligada e/ou controlada. De acordo com o método da equivalência patrimonial (MEP), o investimento é inicialmente registrado pelo custo, e esse valor é aumentado ou diminuído para reconhecer a parte do investidor nos lucros ou prejuízos da investida depois da data de aquisição. 4.1 Aplicação do método da equivalência patrimonial de acordo com a Lei nº 6.404/76 A aplicação do método da equivalência patrimonial ou com base no valor do patrimônio líquido é determinada pela Lei nº 6.404/76, com redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009, no artigo 248. “No balanço patrimonial da companhia, os investimentos em coligadas ou em controladas e em outras sociedades que façam parte de um mesmo grupo ou estejam sob controle comum serão avaliados pelo método da equivalência patrimonial, de acordo com as seguintes normas [...]” (BRASIL, 2009). O art. 243 da referida lei, ao conceituar sociedades coligadas e controladas, estabelece o seguinte: Sociedades coligadas: § 1º São coligadas as sociedades nas quais a investidora tenha influência significativa. § 4º Considera-se que há influência significativa quando a investidora detém ou exerce o poder de participar nas decisões das políticas financeira ou operacional da investida, sem controlá-la. § 5º É presumida influência significativa quando a investidora for titular de 20% (vinte por cento) ou mais do capital votante da investida, sem controlá-la. Sociedades controladas: § 2º Considera-se controlada a sociedade na qual a controladora, diretamente ou através de outras controladas, é titular de direitos de sócio que lhe assegurem, de modo permanente, preponderância nas deliberações sociais e o poder de eleger a maioria dos administradores (BRASIL, 2009). Para que a controladora (investidora) detenha esses poderes de modo permanente, é necessário que possua mais de 50% do capital votante de uma sociedade investida, ou seja, 50% mais uma ação ordinária. Ao analisarmos o conceito de controladas, verificamos que a instrução não cita a participação com mais de 50% do capital votante, entretanto, para que a sociedade tenha de modo permanente (independentemente da vontade de terceiros) esses direitos, somente sendotitular de mais de 50% do capital votante. Esses direitos são conferidos às ações ordinárias. 33 CONTABILIDADE SOCIETÁRIA Cabe lembrar que as ações, conforme a natureza de direitos ou vantagens que confiram a seus titulares, podem ser ordinárias ou preferenciais. • Ações ordinárias: são ações desprovidas de quaisquer restrições, porém não dotadas de nenhum privilégio, salvo o direito a voto. • Ações preferenciais: possuem vantagens ou preferências em relação às ações ordinárias, tais como prioridade na distribuição de dividendos e prioridade no reembolso do capital. De acordo com a Lei nº 10.303, de 31 de outubro de 2001, art. 15, § 2º, o número de ações preferenciais sem direito a voto não pode ultrapassar 50% (cinquenta por cento) do total das ações emitidas. Existem casos, entretanto, em que uma sociedade poderá controlar a investida sem que detenha mais de 50% do capital votante. É o caso de sociedades cujo capital social esteja bastante pulverizado, isto é, muitos acionistas com pequenas porcentagens de participação. Pode ocorrer que um acionista com 40% do capital votante de outra sociedade detenha a preponderância nas deliberações sociais, pois os demais 60% estão tão espalhados entre muitos pequenos acionistas que, individualmente, não conseguem o direito do controle. Embora existam poucos desses casos no Brasil, em outros países é relativamente comum haver grandes companhias abertas com esse tipo de situação. Dos conceitos apresentados, podemos concluir que o controle é sempre mais forte, ou seja, não existe coligação junto com controle se a sociedade é controlada. Sociedades que façam parte de um mesmo grupo ou estejam sob controle comum: O art. 248 da Lei nº 11.941/2009 também introduziu a necessidade de avaliar pelo método da equivalência patrimonial o investimento em outras sociedades que façam parte de um mesmo grupo ou estejam sob controle comum. Segundo a nota explicativa à Instrução CVM nº 469/2008, a figura do controle comum está diretamente relacionada à essência econômica da entidade contábil e, como tal, deve ser entendida. A dimensão econômica da entidade é delimitada como o conjunto de entes, ainda que, juridicamente distintos, estejam em um mesmo grupo ou que seu controle seja exercido por um mesmo ente ou conjunto de entes (CVM, [s.d.], p. 11). Exemplo A companhia XYZ controla as companhias A, B e C. A companhia A é aberta e participa com 10% do capital votante das companhias B e C. 34 Unidade I Assim, a companhia A avaliará os investimentos em B e C pelo método da equivalência patrimonial, já que todas estão sob o controle comum de XYZ. XYZ A B C 51% 10% 10% Figura 3 4.2 Aplicação do método de equivalência patrimonial de acordo com o CPC 18 (R2) – Investimento em Coligada, em Controlada e em Empreendimento Controlado em Conjunto Atualmente, o método da equivalência patrimonial é regulado pelo pronunciamento técnico do Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC 18 (R2) – Investimento em Coligada, em Controlada e em Empreendimento Controlado em Conjunto (NBC TG 18 (R2), e auxiliado pela Interpretação ICPC 09 (R2) – Demonstrações Contábeis Individuais, Demonstrações Separadas, Demonstrações Consolidadas e Aplicação do Método de Equivalência Patrimonial – CFC ITG 09 (R1). Muito embora a Lei nº 6.404/76 também faça referência ao método de equivalência patrimonial, como visto em seu art. 248, é recomendável que sejam seguidos os requisitos do CPC, pois a lei, apesar das alterações sofridas pelas Lei nº 11.638/2007 e Lei nº 11.941/2009, é ainda insuficiente para acompanhar os padrões internacionais. Como vimos, os pronunciamentos técnicos são aprovados pelo Conselho Federal de Contabilidade; passam, portanto, a serem obrigatórios para todas as entidades. Pelo CPC, o método da equivalência patrimonial é aplicado a: • investimentos em coligadas; • investimentos em controladas; • empreendimentos controlados em conjunto. O referido pronunciamento técnico utiliza os termos com os seguintes significados: Coligada: é a entidade sobre a qual o investidor tem influência significativa. Influência significativa: é o poder de participar das decisões sobre políticas financeiras e operacionais de uma investida, mas sem que haja o controle individual ou conjunto dessas políticas. Controladora: é uma entidade que controla uma ou mais controladas (CPC, 2013c, Apêndice A). 35 CONTABILIDADE SOCIETÁRIA Empreendedor controlado em conjunto (joint venture): é um acordo conjunto por meio do qual as partes, que detêm o controle em conjunto do acordo contratual, têm direitos sobre os ativos líquidos desse acordo (CPC, 2013c). Complementando o conceito de coligada, ilustra-se o seguinte: 5. Influência significativa. Se o investidor mantém direta ou indiretamente (por meio de controladas, por exemplo), vinte por cento [20%] ou mais do poder de voto da investida, presume-se que ele tenha influência significativa, a menos que possa ser claramente demonstrado o contrário. Por outro lado, se o investidor detém, direta ou indiretamente (por meio de controladas, por exemplo), menos de vinte por cento [20%] do poder de voto da investida, presume-se que ele não tenha influência significativa, a menos que essa influência possa ser claramente demonstrada. A propriedade substancial ou majoritária da investida por outro investidor não necessariamente impede que um investidor tenha influência significativa sobre ela (CPC, 2013c, p. 2-3). Nota-se que, pela interpretação do CPC, existindo influência significativa, a sociedade é coligada mesmo que a participação seja indireta, o que predomina é a essência sobre a forma. Já no item 6, o CPC descreve algumas evidências sobre a existência de influência significativa. 6. A existência de influência significativa por investidor geralmente é evidenciada por uma ou mais das seguintes formas: (a) representação no conselho de administração ou na diretoria da investida; (b) participação nos processos de elaboração de políticas, inclusive em decisões sobre dividendos e outras distribuições; (c) operações materiais entre o investidor e a investida; (d) intercâmbio de diretores ou gerentes; (e) fornecimento de informação técnica essencial (CPC, 2013c, p. 3). Observação Observa-se que uma sociedade é coligada quando a participação, direta ou indireta, for de 20% ou mais do capital votante da investida, e/ou quando se configurar a existência da influência significativa. 36 Unidade I Exemplo 1 A investidora Norte S.A. detém participações nas investidas destacadas na tabela a seguir. Classifique os investimentos. Tabela 2 A B C D E Capital social da investida Número de ações preferenciais 40.000 200.000 400.000 300.000 50.000 Ordinárias 80.000 400.000 800.000 600.000 100.000 Total 120.000 600.000 1.200.000 900.000 150.000 Participação da Cia. Norte Número de ações preferenciais 4.000 – 6.000 – – Ordinárias 20.000 400.000 160.000 312.000 7.000 Total 24.000 400.000 166.000 312.000 7.000 Participação da Cia. Norte: % Preferencial 10% – 1,5% – – Ordinária 25% 100% 20% 52% 7% Total 20% 66,67% 13,83% 34,67% 4,67% Classificação Coligada Controlada Coligada Controlada Valor justo ou custo Cia. A Não é controlada, pois possui apenas 25% de ações ordinárias. Para ser controlada, precisa ter mais de 50% das ações ordinárias. É coligada, pois possui 25% de ações ordinárias. Para ser coligada, deve ter 20% ou mais do capital votante. Cia. B É controlada, pois possui 100% das ações ordinárias. Para ser controlada, precisa ter mais de 50% das ações ordinárias. Cia. C Não é controlada, pois possui apenas 20% de ações ordinárias. Para ser controlada, precisa ter mais de 50% das ações ordinárias. É coligada, pois possui 20% das ações ordinárias. Para ser coligada, deve ter 20% ou mais do capital votante. Cia. D É controlada, pois possui 52% das ações ordinárias. Para ser controlada, precisa ter mais que 50% das ações ordinárias. 37 CONTABILIDADE SOCIETÁRIACia. E Não é controlada, pois possui apenas 7% de ações ordinárias. Para ser controlada, precisa ter mais de 50% das ações ordinárias. Não é coligada, pois possui apenas 7% do capital votante. Para ser coligada, deve ter 20% ou mais do capital votante. É uma participação em outras sociedades, avaliada pelo método do valor justo ou pelo método de custo. Exemplo 2 A investidora Sul S.A. detém participações nas investidas da tabela a seguir. Analise os dados e classifique os investimentos. Tabela 3 A B C D E Capital social da investida Número de ações preferenciais 10.000 15.000 20.000 25.000 20.000 Ordinárias 20.000 30.000 40.000 50.000 30.000 Total 30.000 45.000 60.000 75.000 50.000 Participação da Cia. Sul Número de ações preferenciais – 2.550 1.000 500 1.000 Ordinárias 12.000 9.600 8.800 36.500 2.000 Total 12.000 12.150 9.800 37.000 3.000 Participação da Cia. Sul: % Preferencial – 17% 5% 2% 5% Ordinária 60% 32% 22% 73% 6,67% Total 40% 27% 16,33% 49,33% 6% Classificação Controlada Coligada Coligada Controlada Valor justo ou custo Cia. A É controlada, pois possui 60% de ações ordinárias. Para ser controlada, precisa ter mais que 50% das ações ordinárias. Cia. B Não é controlada, pois possui apenas 32% de ações ordinárias. Para ser controlada, precisa ter mais que 50% das ações ordinárias. É coligada, pois possui 32% do capital votante. Para ser coligada, deve ter 20% ou mais do capital votante. 38 Unidade I Cia. C Não é controlada, pois possui apenas 22% de ações ordinárias. Para ser controlada, precisa ter mais que 50% das ações ordinárias. É coligada, pois possui 22% do capital votante. Para ser coligada, deve ter 20% ou mais do capital votante. Cia. D É controlada, pois possui 73% de ações ordinárias. Para ser controlada, precisa ter mais que 50% das ações ordinárias. Cia. E Não é controlada, pois possui apenas 6,67% de ações ordinárias. Para ser controlada, precisa ter mais que 50% das ações ordinárias. Não é coligada, pois possui apenas 6,67% do capital votante. Para ser coligada, deve ter 20% ou mais do capital total. É uma participação em outras empresas, avaliada pelo método do valor justo ou pelo método de custo. 4.3 Controle direto e indireto Conforme verificamos, nos conceitos de sociedades controladas e sociedades coligadas, admite-se participação direta e indireta. Portanto, o controle também pode ser direto e indireto. • controle direto: quando uma sociedade controla diretamente outra sociedade; • controle indireto: quando o controle é feito por outra sociedade controlada. Exemplo C A B 80% das ações ordinárias 90% das ações ordinárias Figura 4 Desse modo, temos: • B é controlada direta de A (80% de ações ordinárias). • C é controlada direta de B (90% de ações ordinárias). • A controla indiretamente C por meio de B, que é uma sociedade controlada de A. 39 CONTABILIDADE SOCIETÁRIA Quando a empresa emite apenas ações ordinárias, o percentual de participação no capital votante é igual ao percentual de participação no capital total. Exemplo Determinada empresa investida emite apenas ações ordinárias da qual a investidora participa com 70%. Tabela 4 Investida Investidora Ações preferenciais – – Ações ordinárias 120.000 70% 84.000 Total de ações emitidas 120.000 70% 84.000 Nota-se que a investidora participa com 70% do capital votante, que é igual à participação no capital total. 4.4 Distinção entre controle e propriedade Controle é a decisão pela soma de votos, e a propriedade representa o percentual de participação no capital. Nas assembleias, o que predomina é a decisão pela soma dos votos, ou seja, o importante é o conceito de controle, e não o de propriedade. Exemplo 1 C A B 51% das ações ordinárias 65% das ações ordinárias 33% (51% x 65%) Figura 5 • B é controlada direta de A (51% de ações ordinárias). • C é controlada direta de B (65% de ações ordinárias). • C é controlada indireta de A (com 65% dos votos), embora tenha participação indireta de 33% (51% x 65%). 40 Unidade I Observe que B aprovará o que A desejar (suportado nos 51%) com 65% dos votos, conseguindo, assim, a preponderância nas deliberações. Exemplo 2 A B 43% C 9% 53% Figura 6 Observação A empresa emite somente ações ordinárias. • B é controlada direta de A (53% de ações ordinárias). • C é coligada direta de B (43% do capital votante). • C é controlada indireta de A (43% + 9% = 52% dos votos), embora com 31,79% de participação. Participação indireta (53% x 43%) = 22,79% Participação direta = 9,00% Total = 31,79% Observe que B aprovará o que A desejar (suportado nos 53%): com 43% dos votos e mais 9% dos votos diretos somam 52%, com o que certamente conseguirá preponderância nas deliberações. Exemplo 3 A B E D 55% 40% C 60% 45% 60% Figura 7 41 CONTABILIDADE SOCIETÁRIA Assim como no exemplo anterior, a empresa emite somente ações ordinárias. • B é controlada direta de A (60% das ações ordinárias). • E é controlada direta de B (55% das ações ordinárias). • E é controlada indireta de A (55% dos votos), embora com 33% de participação indireta (60% x 55%). • C é coligada direta de A (45% do capital votante). • D é coligada direta de B (40% do capital votante). • D é controlada direta de C (60% do capital votante). • D é coligada indireta de A, possui apenas 40% dos votos por meio de B. Como A não controla C, não pode contar com seus votos nas assembleias de D e com 40% dos votos não controla D, embora tenha uma participação indireta 51% (60% x 40% por B = 24% e 45% x 60% por C = 27%). Resumo Nesta unidade, tivemos a preocupação de situar os investimentos não circulantes no ambiente contábil, principalmente com referência à sua classificação no balanço patrimonial. Destacamos as duas principais características no conceito de investimentos permanentes: a intenção de permanência e que sejam ativos que não se destinem à manutenção da atividade da empresa. As aplicações em investimentos permanentes tornam-se, muitas vezes, excelentes oportunidades de negócios para os empresários, que se sentem atraídos por aquisições de participações em outras sociedades, com o objetivo de gerar rendimentos ou de mantê-las para obter o controle societário por interesses econômicos. Vimos que uma empresa poderá, por exemplo, comprar ações que conferem direito ao voto de uma empresa fornecedora de matérias-primas necessárias para sua atividade, ou, ainda, em vez de investir recursos em um departamento de desenvolvimento de tecnologia, prefere investir em uma entidade já existente e que tenha o know-how de seu interesse. Há ainda os casos de joint ventures, ou seja, empresas que se ajudam em determinado objetivo. 42 Unidade I Acentuamos os métodos de avaliação desses investimentos classificados como permanentes no ativo não circulante. O uso do método de avaliação, exigido pela legislação societária para cada investimento específico, é vital, pois define-se como os investimentos devem ser reconhecidos e, consequentemente, o reflexo causado pela utilização de cada método na posição econômica e financeira das empresas investidoras. Destacamos, ainda, que a legislação societária determina três métodos de avaliação para os investimentos permanentes: método do valor justo, de custo e da equivalência patrimonial. Iniciamos com a avaliação de Participações em outras Sociedades, ou seja, aquelas que não representem investimentos em sociedades coligadas ou controladas. Abordou-se a polêmica criada em torno da adoção do método do valor justo ou do método do valor de custo, e as divergências entre a Lei nº 6.404/76 e o os pronunciamentos técnicos segundo o Comitê de Pronunciamentos Contábeis, convergidos às Normas Internacionais de Contabilidade, ao introduzir o conceito de valor justo. Embora o valor justo tenha sido introduzido como avaliação de um negócio a partir do século XX, a necessidade de se praticar a mensuração a valor justo tem se tornado mais presente
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