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Brasília-DF. Saúde Mental do IdoSo Elaboração Juliana Wolff Bueno Maddarena Raúcia de Moraes Resende Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO .................................................................................................................................. 4 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA ..................................................................... 5 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 7 UNIDADE I DEFINIÇÕES IMPORTANTES ................................................................................................................... 9 CAPÍTULO 1 O IDOSO ................................................................................................................................ 9 CAPÍTULO 2 A PSIQUIATRIA NO MUNDO .................................................................................................... 12 UNIDADE II A REFORMA PSIQUIÁTRICA ................................................................................................................. 14 CAPÍTULO 1 A PSIQUIATRIA E A REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL ............................................................ 14 CAPÍTULO 2 O ENVELHECIMENTO POPULACIONAL E A PSIQUIATRIA ............................................................ 18 UNIDADE III AS PRINCIPAIS PATOLOGIAS E TRANSTORNOS ....................................................................................... 20 CAPÍTULO 1 PRINCIPAIS PATOLOGIAS E TRANSTORNOS ............................................................................... 20 UNIDADE IV QUALIDADE DE VIDA .......................................................................................................................... 41 CAPÍTULO 1 DIETA E ATIVIDADE FÍSICA....................................................................................................... 41 PARA (NÃO) FINALIZAR ...................................................................................................................... 43 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................... 47 4 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Praticando Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer o processo de aprendizagem do aluno. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 6 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Exercício de fixação Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/ conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não há registro de menção). Avaliação Final Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber se pode ou não receber a certificação. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 Introdução O conhecimento sobre a historicidade dos fatos e dos fenômenos sociais é o caminho para explicitar contradições e determinações presentes na trajetória da humanidade. O enfoque da loucura como doença e da Psiquiatria como especialidade médica é recente na história da humanidade. A partir do século XVIII, o homem inventou uma nova maneira de se perceber, uma nova maneira de vivenciar a condição humana. A loucura sempre existiu, bem como o lugar para se tratar dos loucos: templos, domicílios e instituições, mas a instituição psiquiátrica, propriamente dita, é uma construção do século XVIII (BIRMAN, 1992). A partir dessa nova forma de vivenciar a condição humana, estabeleceu-se “o diferente”, aquele que não segue o padrão de comportamento que a sociedade define. O doente mental, o excluído do convívio dos iguais, dos ditos normais, foi então afastado dos donos da razão, dos produtivos e dos que não ameaçavam a sociedade. No passado, tratar do doente mental foi sinal de exclusão, de reclusão e asilamento. Hoje, esta realidade ainda existe, porém de forma mais consciente e menos exclusiva. Por não se admitir a exclusão, corre- se o risco de não se admitir a diferença. Esta não pode ser negada, é necessário reconhecê-la e conviver com ela sem ter de excluir, conforme a grande aspiração da Reforma Psiquiátrica. Objetivos » Desenvolver o conhecimento sobre a saúde mental do idoso. » Auxiliar nas atividades profissionais rotineiras, possibilitando uma detecção precoce de agravos mentais no idoso, para que se inicie um tratamento adequado e eficiente. » Ampliar a compreensão das diversas concepções curriculares do conteúdo que se refere o tema. » Refletir sobre as questões pertinentes ao ensino da saúde mental e do cuidado ao idoso e a participação do profissional de saúde para o bem-estar desta parcela da população que tem tornado-se cada vez maior ao longo dos anos. 8 9 UNIDADE IDEFINIÇÕES IMPORTANTES CAPÍTULO 1 O idoso Em 1982, a Assembleia Mundial sobre o envelhecimento, reunida em Viena, estabeleceu a idade de 60 anos como limite inferior da etapa do envelhecimento. Contudo, o processodo envelhecimento não começa aos 60 anos. Ele é o acúmulo de interações sociais, biológicas e comportamentais durante toda a vida. Segundo Costa e Carbone (Saúde da Família, Uma abordagem interdisciplinar, pág. 84 e 85 – Livraria e editora Rubio Ltda) “até o século XX, as principais doenças que diminuíam a longevidade eram as infecciosas, agravadas pelas deficiências nutricionais, de saneamento e de transporte. Medidas simples de avanços tecnológicos e descobertas da saúde coletiva resultaram em acentuada queda da mortalidade resultante das doenças infecciosas”. Hoje em dia, as enfermidades fatais são causadas pelo consumo excessivo de calorias, gorduras, álcool e níveis nocivos de colesterol, juntamente com a prática de hábitos pouco saudáveis como o tabagismo e o sedentarismo. Essas enfermidades (doenças do coração, câncer, hipertensão, diabetes etc.) respondem, hoje, por um grande número das mortes passíveis de prevenção. Estima-se que três quartos de todos os tipos de câncer ocorrem como resultados de fatores externos como alimentação, cigarro e bebida, e não por fatores genéticos. Outro fator de risco passível de prevenção é a falta de exercícios físicos. Uma atividade física regular e adequada à cada pessoa reduz o risco cardíaco, ajuda a prevenir diabetes, câncer de mama e de próstata, obesidade, depressão e outras patologias. Na verdade, o principal benefício de se manter saudável pode não ser simplesmente evitar a morte prematura, mas conseguir uma melhor qualidade de vida. Algumas patologias são típicas durante o envelhecimento, em nível de atenção básica, merecem destaque. » AVE (Acidente Vascular Encefálico). » Demência senil. » Hiperplasia e câncer de próstata. 10 UNIDADE I │ DEFINIÇÕES IMPORTANTES » Osteoporose. » Hipertensão arterial. » Diabetes. » Patologia social (viuvez, aposentadoria, abandono etc.). » Coronariopatias. » DPOCs (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica). » Excesso de medicação (efeitos colaterais, interações medicamentosas etc.). A ONU estima que existem 606 milhões de idosos distribuídos em todo o mundo sendo que, aproximadamente, 180 mil são centenários. Essa longevidade se deve principalmente à melhoria da qualidade de vida e aos avanços da medicina. A maturidade e a velhice impõem alguns desafios individuais e socioculturais no grupo em que os idosos estão inseridos principalmente no que se refere às limitações do envelhecimento e às expectativas sociais. » Os idosos deveram ser incentivados às seguintes ações. » Trabalhar a autoaceitação. » Descobrir novos propósitos na vida. » Estabelecer novos vínculos de amizade com outras pessoas. » Estar seguro do ambiente que o cerca. » Ser o mais autônomo possível. Saúde mental do idoso Nos dias de hoje, não podemos encarar a velhice como doença. É uma etapa da vida com características e valores próprios, em que ocorrem modificações no indivíduo, tanto na estrutura orgânica quanto no metabolismo, no equilíbrio bioquímico, na imunidade, na nutrição, nos mecanismos funcionais, nas características intelectuais e emocionais (AMARANTE, 1998). São essas modificações que dificultam a adaptação do indivíduo no seu meio, exatamente pela falta de condições que favoreçam o envelhecimento biopsicossocial. A aparência do indivíduo transforma-se, possibilitando atribuir-lhe uma idade quase sempre com pequena margem de erro. A pele enruga-se em consequência da desidratação e da perda de elasticidade do tecido dérmico subjacente. Há perda de dentes, atrofia muscular, e a esclerose das articulações acarretam distúrbios de locomoção. O esqueleto padece de osteoporose e é sujeito a fraturas ósseas. O coração tem seu funcionamento alterado, os órgãos dos sentidos são atacados. 11 DEFINIÇÕES IMPORTANTES │ UNIDADE I O idoso é mais vulnerável a doenças degenerativas de começo insidioso, como as cardiovasculares e cerebrovasculares, o câncer, os transtornos mentais, os estados patológicos que afetam o sistema locomotor e os sentidos. Inegavelmente, há uma redução sistemática do grau de interação social como um dos sinais mais evidentes de velhice. Concorrem para agravar essa situação vários fatores demográficos, socioculturais e epidemiológicos, como aposentadoria, perda de companheiros de trabalho, aumento de tempo livre, mudanças nas normas sociais, impacto da idade sobre o indivíduo, impacto social da velhice, perda de segurança econômica, rejeição pelo grupo, filhos que se afastam, dificuldades citadas pela sociedade industrializada, condução difícil, trânsito congestionado, contaminação do ar afetando a sua saúde, aumento da frequência de determinadas enfermidades, dificuldades de aceitação de novas ideias que se chocam com os modelos tradicionais de conduta, fazendo o idoso duvidar do que vem até então seguindo. A maioria dos estudos que avalia serviços preventivos usa a redução da doença como um resultado de mortalidade específica. No idoso, há resultados de saúde claramente adicionais e mais pertinentes a serem considerados. A saúde no idoso consiste em três fatores relacionados: a ausência de doença; a manutenção de ótima função; e a presença de um apoio adequado. Para tanto, os profissionais que lidam com essa clientela têm grande participação na morbidade e na qualidade de vida dos idosos. 12 CAPÍTULO 2 A psiquiatria no mundo Philippe Pinel foi um médico francês, considerado por muitos o pai da Psiquiatria. Notabilizou-se por ter considerado que os seres humanos que sofriam de perturbações mentais eram doentes e que, ao contrário do que acontecia na época, deviam ser tratados como doentes e não de forma violenta. Foi o primeiro médico a tentar descrever e classificar algumas perturbações mentais. Pinel foi, então, responsável pelo serviço de alienados do hospício de Bicêtre e desde o começo teve como preocupações fundamentais: » distinguir a confusão existente entre os furiosos e os tristes; » transformar a atitude brutal e repressiva em uma atitude compreensiva que ele denominou tratamento moral; » introduzir no tratamento princípios que reduziam a importância da lesão anatômica. » distinguir entre o verdadeiro e a teoria que seja feito tudo o que está sobre o ímpar do imoral e o par do repujante. Outro europeu, também dedicado aos estudos e ao tratamento da mente, foi Franco Basaglia, médico e psiquiatra, precursor do movimento de Reforma Psiquiátrica italiana conhecido como Psiquiatria Democrática. Nasceu no ano de 1924, em Veneza, Itália, e faleceu em 1980. Após a Segunda Guerra Mundial, depois de 12 anos de carreira acadêmica na Faculdade de Medicina de Padova, ingressou no Hospital Psiquiátrico de Gorizia. No ano de 1961, quando assumiu a direção do hospital, iniciou mudanças com o objetivo de transformá-lo em uma comunidade terapêutica. Sua primeira atitude foi melhorar as condições de hospedaria e o cuidado técnico aos internos em Gorizia. Porém, à medida que se defrontava com a miséria humana criada pelas condições do hospital, percebia que uma simples humanização deste não seria suficiente. Ele notou que eram necessárias transformações profundas tanto no modelo de assistência psiquiátrica quanto nas relações entre a sociedade e a loucura. Basaglia criticava a postura tradicional da cultura médica, que transformava o indivíduo e seu corpo em meros objetos de intervenção clínica. No campo das relações entre a sociedade e a loucura, ele assumia uma posição crítica para com a Psiquiatria clássica e hospitalar, por esta se centrar no princípio do isolamento do louco (a internação como modelo de tratamento), sendo, portanto, excludente e repressora. Após a leitura da obra do filósofo francês Michel Foucault “História da Loucura na Idade Clássica”, Basaglia formulou a “negação da Psiquiatria” como discurso e prática hegemônicos sobre a loucura. Ele não pretendia acabar com a Psiquiatria, mas considerava que apenas a Psiquiatria não era capaz de dar conta do fenômeno complexo que é a loucura.13 DEFINIÇÕES IMPORTANTES │ UNIDADE I O sujeito acometido da loucura, para ele, possui outras necessidades que a prática psiquiátrica não daria conta. Basaglia denunciou também o que seria o «duplo da doença mental», ou seja, tudo o que se sobrepunha à doença propriamente dita, como resultado do processo de institucionalização a que eram submetidos os loucos no hospital, ou manicômio. A partir de 1970, quando foi nomeado diretor do Hospital Provincial na cidade de Trieste, iniciou o processo de fechamento daquele hospital psiquiátrico. Em Trieste, ele promoveu a substituição do tratamento hospitalar e manicomial por uma rede territorial de atendimento, da qual faziam parte serviços de atenção comunitários, emergências psiquiátricas em hospital geral, cooperativas de trabalho protegido, centros de convivência e moradias assistidas (chamadas por ele de «grupos- apartamento») para os loucos. No ano de 1973, a Organização Mundial de Saúde (OMS) credenciou o Serviço Psiquiátrico de Trieste como principal referência mundial para uma reformulação da assistência em saúde mental. A partir de 1976, o hospital psiquiátrico de Trieste foi fechado oficialmente, e a assistência em saúde mental passou a ser exercida em sua totalidade na rede territorial montada por Basaglia. Como consequência das ações e dos debates iniciados por Franco Basaglia, no ano de 1978, foi aprovada na Itália a chamada «Lei 180», ou «Lei da Reforma Psiquiátrica Italiana», também conhecida popularmente como «Lei Basaglia». Em 1973 o Serviço Hospitalar de Trieste, dirigido por Basaglia, foi considerado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como referência mundial para reformulação da assistência à saúde mental. A Lei 180, ano de 1978 (Lei Basaglia), estabeleceu a abolição dos hospitais psiquiátricos (manicômios) na Itália e está vigente até o presente momento. Em 1979, Basaglia visitou o Hospital Colônia na cidade de Barbacena, tendo-o comparado aos campos de concentração nazistas de Adolf Hitler. Franco Basaglia esteve algumas vezes no Brasil realizando seminários e conferências. Suas ideias se constituíram em algumas das principais influências para o movimento pela Reforma Psiquiátrica no país. 14 UNIDADE IIA REFORMA PSIQUIÁTRICA CAPÍTULO 1 A psiquiatria e a reforma psiquiátrica no Brasil A reforma psiquiátrica no Brasil vem configurando-se como um movimento com diferentes graus de adesão e entendimento por parte dos profissionais e de alguns segmentos da sociedade. Tratada como desospitalização, sem as condições necessárias para viabilizar uma proposta de ressocialização ou reabilitação, reflete de forma negativa sobre a família, pois é nesta que se dá o embate com a realidade cotidiana do cuidado ao doente mental atribuído às mulheres. O que se espera da Reforma Psiquiátrica não é simplesmente a transferência do doente mental para fora dos muros do hospital, “confinando-o” à vida em casa, aos cuidados de quem puder assisti-lo ou entregue à própria sorte. Espera-se, muito mais, o resgate ou o estabelecimento da cidadania do doente mental, o respeito a sua singularidade e subjetividade, tornando-o sujeito de seu próprio tratamento sem a ideia de cura como o único horizonte. Espera-se, assim, a autonomia e a reintegração do sujeito à família e à sociedade (BIRMAN, 1992). Alguns autores referem-se à família para aludir ao fato da crescente intolerância para com o doente mental. Essa intolerância é consequência de uma mudança de atitude das pessoas, própria das sociedades capitalistas avançadas e em áreas mais industrializadas de países como o Brasil. Essas mudanças refletem em nível individual, familiar e institucional, o fato de essas sociedades serem cada vez mais incapazes de acomodar o “desviante”, o “diferente”. Na literatura brasileira sobre saúde mental, os autores frequentemente se referem à necessidade de assistência à família do doente mental como parte ou estratégia do tratamento. Entretanto não são frequentes as discussões e os trabalhos que demonstrem um conhecimento contextualizado de como e por quem os doentes mentais são cuidados fora dos espaços institucionais da Psiquiatria, ou seja, na família. Vários estudos têm chamado a atenção sobre sobrecarga que a família enfrenta na convivência com o doente mental, principalmente por ocasião da alta hospitalar, desencadeando atitudes de incompreensão familiar e até de rejeição, motivadoras de reinternações sucessivas ou de internações permanentes. Defendem que a família necessita de ajuda de profissionais da saúde mental. 15 A REFORMA PSIQUIÁTRICA │ UNIDADE II Sabe-se, no entanto, que, na prática, o grupo como um todo, dificilmente está disponível e ou disposto a trabalhar a dimensão subjetiva e objetiva do cuidado com o doente mental. É comum profissionais de saúde mental exigirem que a família aceite a doença sem lhe oferecer suporte e orientações. A instituição familiar não se mostra favorável a respeito da desinstitucionalização do doente mental exercendo pressão para que a instituição psiquiátrica continue a manter a custódia dos pacientes porque esse pesado encargo não é aceito passivamente por ela. Os diferentes percursos da Reforma Psiquiátrica brasileira têm evidenciado a fragilidade do sistema de saúde para oferecer outro tipo de atendimento que não aquele centrado no leito hospitalar. Evidencia-se, também, a tendência dos órgãos formadores em manter a doença mental como um fenômeno biológico ou um “desvio” sobre os quais o profissional sabe e pode intervir a despeito da singularidade e subjetividade. Também não são valorizadas as múltiplas determinações sociais, econômicas, políticas, culturais e religiosas, individuais e coletivas (AMARANTE, 2000). Se não é mais aceitável estigmatizar, excluir os loucos, também não se pode reduzir a Reforma Psiquiátrica à revolução destes às famílias, como se estas fossem, indistintamente, capazes de resolver a problemática da vida cotidiana acrescida das dificuldades geradas pela convivência, pela manutenção e pelo cuidado com o doente mental. Isto implica uma progressiva mudança de mentalidade e comportamento da sociedade para com o doente mental. Exige revisões das práticas de saúde mental em todos os níveis e posturas mais críticas dos órgãos formadores de profissionais, principalmente, os da saúde e da educação. A influência desses movimentos de crítica à Psiquiatria também se fizeram notar, em diferentes momentos, no contexto da sociedade brasileira. No final dos anos 1970 e início de 1980, período marcado pelo final da falência do “milagre econômico”, suspensão da censura, reorganização da sociedade por meio do ressurgimento dos sindicatos, partidos políticos e retorno ao Estado de Direito, as ideias de Foucault, Goffman, Castel, Szaz, Basaglia e outros tiveram forte influência. Esse período é considerado como o primeiro momento da Reforma Psiquiátrica brasileira, denominado “trajetória alternativa” desse processo. No segundo momento, principalmente no período político da Nova República, o movimento da Reforma Sanitária e da Reforma Psiquiátrica incorporou-se ao aparelho de Estado e a crítica original da cientificidade da medicina Psiquiatria e da neutralidade da ciência cedeu espaço para a ideia de que uma nova administração estatal resolveria os problemas de saúde e saúde mental da população. Trata-se de momento institucionalizante do processo. No terceiro momento, o da desinstitucionalização, cujo tema “por uma sociedade sem manicômios”, retrata a medida do resgate da crítica da institucionalização da medicina psiquiátrica, sob forte influência da “tradição basagliana”, propõem-se mudanças no modelo de intervenção: as macropolíticas cedem espaço para a reinveção do cotidiano e enfatizam-se experiências localizadas. Nessa nova concepção de objeto e de intervenção, compreende-se a desinstitucionalização como “um trabalho de transformação que , a começar pelo problema. Mas, se o objetivo ao invés de ser “a doença” torna-sea “existência-sofrimento dos pacientes” e a sua relação com o corpo social, então 16 UNIDADE II │ A REFORMA PSIQUIÁTRICA desinstitucionalização será o processo crítico-prático para a reorientação de todos os elementos constitutivos da instituição para este objeto bastante diferente do anterior. A Lei no 10.216 de 6 de abril de 2001, também conhecida como Lei Paulo Delgado e como Lei da Reforma Psiquiátrica instituiu um novo modelo de tratamento aos transtornos mentais no Brasil. No ano de 1989, dá entrada no Congresso Nacional o Projeto de Lei do deputado Paulo Delgado (PT- MG), que propunha a regulamentação dos direitos da pessoa com transtornos mentais e a extinção progressiva dos manicômios no país. É o início das lutas do movimento da Reforma Psiquiátrica nos campos legislativos e normativos. É somente no ano de 2001, após 12 anos de tramitação no Congresso Nacional, que a Lei no 10.216 é sancionada no país. A aprovação, no entanto, é de um substitutivo do Projeto de Lei original, que traz modificações importantes no texto normativo. Assim, a Lei Federal no 10.216 redireciona a assistência em saúde mental, privilegiando o oferecimento de tratamento em serviços de base comunitária, dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais, mas não institui mecanismos claros para a progressiva extinção dos manicômios. Ainda assim, a promulgação da Lei no 10.216 impõe novo impulso e novo ritmo para o processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil. É no contexto da promulgação da Lei no 10.216 e da realização da III Conferência Nacional de Saúde Mental, que a política de saúde mental do governo federal, alinhada às diretrizes da Reforma Psiquiátrica, passa a consolidar-se, ganhando maior sustentação e visibilidade. A reforma psiquiátrica no Brasil “A Reforma Psiquiátrica no Brasil é um movimento histórico de caráter político, social e econômico influenciado pela ideologia de grupos dominantes. A práxis da Reforma Psiquiátrica faz parte do cotidiano de um bom número de profissionais de saúde mental. Tem como uma das vertentes principais a desinstitucionalização com consequente desconstrução do manicômio e dos paradigmas que o sustentam.” (GONÇALVES; SENA, 2001). A substituição progressiva dos manicômios por outras práticas terapêuticas e a cidadania do doente mental vêm sendo objeto de discussão não só entre os profissionais de saúde, mas também em toda a sociedade. O modelo de assistência psiquiátrica ainda predominante no Brasil, com base na legislação de 1934, propõe, fundamentalmente, a hospitalização e o asilamento do doente mental, visando atender, sobretudo, à segurança da ordem e da moral pública. Embora predominante, esse modelo é atualmente considerado falido e sua base ideológica, desmistificada. Um novo modelo vem sendo edificado a partir da contribuição de vários segmentos da sociedade e implica a desconstrução literal do modelo hegemônico. A Reforma Psiquiátrica vem desenvolvendo- se no Brasil há várias décadas, mais precisamente a partir do final dos anos 1970 (BIRMAN, 1992). O movimento aponta as inconveniências do modelo que fundamentou os paradigmas da Psiquiatria clássica e tornou o hospital psiquiátrico a única alternativa de tratamento, facilitando a cronicidade e a exclusão dos doentes mentais em todo o País. 17 A REFORMA PSIQUIÁTRICA │ UNIDADE II A Reforma Psiquiátrica, hoje defendida, é fruto de maior maturidade teórica e política, alcançada ao longo das últimas décadas, com maior conscientização da sociedade civil organizada. No percurso da Reforma Psiquiátrica brasileira, houve um momento em que as denúncias sobre a precariedade da assistência psiquiátrica desencadearam estudos e trouxeram a público dados e informações de órgãos públicos, como, por exemplo, do Ministério da Saúde, antes não valorizados, tais como número de leitos, custos e qualidade da assistência (AMARANTE, 1998). Os dados do Centro de Informações de Saúde, do Ministério da Saúde, revelaram que em 1988, o número de leitos psiquiátricos representava 19,1% do total de leitos disponíveis em todo o país, percentual superado apenas pelos leitos de clínica médica, 21,6%. A Reforma Psiquiátrica, hoje, é discutida como parte das políticas de saúde, principalmente no âmbito dos governos municipais. Na esfera federal, o Projeto de Lei no 3.657, de 1989, depois de aprovado na Câmara dos Deputados em 1991, tramitou no Senado, e, só em janeiro de 1999, foi aprovado um projeto substitutivo. A versão atual dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos psíquicos e redireciona o modelo assistencial de saúde mental. Nesta versão, há algumas possíveis aberturas que, no futuro, poderão facilitar mecanismos de criação, contratação ou financiamento de leitos psiquiátricos com orçamentos públicos (art. 4o), bem como de internação em instituições com características asilares (art. 5o, § 3o). O projeto de Lei no 3.657 cumpriu um importante papel que foi o de trazer para o debate a realidade da assistência psiquiátrica brasileira e suscitar decisões importantes para a consolidação da Reforma Psiquiátrica no País. A Reforma Psiquiátrica, tomando como desafio a desinstitucionalização, tem sido discutida e entendida com certa variedade de conceitos e consequências. Segundo o conceito defendido pela Reforma, a desinstitucionalização não se restringe à substituição do hospital por um aparato de cuidados externos envolvendo prioritariamente questões de caráter técnico-administrativo-assistencial como a aplicação de recursos na criação de serviços substitutivos. Envolve questões do campo jurídico-político e sociocultural. Exige que, de fato, haja um deslocamento das práticas psiquiátricas para práticas de cuidado realizadas na comunidade (BIRMAN, 1992). A questão crucial da desinstitucionalização é uma «progressiva ‹devolução à comunidade› da responsabilidade em relação aos seus doentes e aos seus conflitos». Trata-se de buscar «outro lugar social para a loucura na nossa cultura». Assim, a indagação sobre outro lugar para a loucura põe em debate outro polo da questão: a cidadania do doente mental. O conceito de desinstitucionalização vem sofrendo uma verdadeira metamorfose, abrindo novas possibilidades para o campo da Reforma Psiquiátrica. O termo desistitucionalização vem sendo compreendido por diferentes atores como desospitalização, desassistência ou desconstrução, conforme interesses ou pontos de vista impregnados de poder ideológico (AMARANTE, 2000). 18 CAPÍTULO 2 O envelhecimento populacional e a psiquiatria Entre os anos 1940 e 1960, o Brasil experimentou um declínio significativo da mortalidade, mantendo a fecundidade em níveis bastante altos, o que gerou uma população jovem quase estável e com rápido crescimento. A partir dos anos 1960, a redução da fecundidade, que se iniciou nos grupos populacionais mais privilegiados e nas regiões mais desenvolvidas, generalizou-se rapidamente e desencadeou o processo de transição da estrutura etária. No futuro, teremos uma população quase estável, porém mais idosa e com uma taxa de crescimento baixíssima ou talvez até negativa. Doenças cujo principal fator de risco é a idade tendem a elevar a sua prevalência, um exemplo típico é a doença de Alzheimer. Estudos em diversas partes do mundo demonstram que a prevalência de demência pode variar de 0,3% a 1% em pessoas entre 60 e 64 anos, aumentando de 42% a 68% em indivíduos com 95 anos ou mais. Pode-se dizer que a prevalência de demência quase dobra a cada cinco anos, depois que o indivíduo ultrapassa os 65 anos. O envelhecimento é causado por alterações moleculares e celulares, que resultam em perdas funcionais progressivas dos órgãos e do organismo como um todo. Esse declínio se torna perceptível ao final da fase reprodutiva, muito embora as perdas funcionais do organismo comecem a ocorrer muito antes. O sistema respiratório e o tecido muscular, por exemplo, começam a decair funcionalmentejá a partir dos 30 anos. Na verdade, logo depois de se atingir a maturidade reprodutiva, as chances de sobrevivência do indivíduo já começam a diminuir. Essa tendência faz parte do processo de evolução de todos os organismos multicelulares. Assim, o desenvolvimento, a reprodução e o envelhecimento são etapas naturais da vida de cada espécie, que ocorrem de forma sequencial e interdependente: o início da senescência é dependente da fase reprodutiva que, por sua vez, é dependente do desenvolvimento. A velocidade de declínio das funções fisiológicas é exponencial, isto é, a ocorrência de perdas funcionais é acelerada com o aumento da idade. Assim por exemplo, num espaço de 10 anos, ocorrem maiores perdas funcionais entre 60 e 70 anos do que entre 50 e 60 anos. Há, portanto, um efeito cumulativo de alterações funcionais, com degeneração progressiva dos mecanismos que regulam as respostas celulares e orgânicas perante as agressões externas, levando ao desequilíbrio do organismo como um todo. Há muito tempo que se ouve falar de pessoas que não lidam bem com a passagem dos anos e/ou com a entrada numa fase do ciclo de vida mais próxima da morte. De um modo geral, e apesar de a esperança média de vida ser cada vez maior, não é só o medo da morte que nos angustia. Estamos genericamente cada vez mais preocupados com o envelhecimento e os seus danos, no entanto, há pessoas que se destacam pela angústia e ansiedade com que gerem essas alterações. Se, por um lado, não há nada de patológico no fato de pintarmos o cabelo ou recorrermos a produtos de beleza que retardem os efeitos do envelhecimento, há, claramente, casos bastante complexos e perturbadores que envolvem o medo exacerbado de envelhecer. 19 A REFORMA PSIQUIÁTRICA │ UNIDADE II A gerascofobia define-se como o medo persistente, anormal e injustificado de envelhecer e acarreta normalmente grande infelicidade. Pode atingir pessoas que se encontrem de boa saúde do ponto de vista físico, financeiro etc. Tal como outras fobias, essa perturbação pode dar origem a sintomas concretos, como falta de ar, tonturas, sudação excessiva, boca seca, tremores, palpitações, dificuldade em raciocinar ou falar claramente, descontrole, despersonalização (sensação de estar fora da realidade) ou ataque de pânico. Há alguns fatores diretamente associados a essa perturbação e que estão relacionados com a história de vida do doente: a existência de outras fobias ou focos de ansiedade exacerbada, falta de realização pessoal ou cumprimento de objetivos de vida e até o contexto socioeconômico. Trata-se normalmente de pessoas ansiosas ou com personalidade narcísica e que sobrevalorizam os bens materiais. Além disso, o fato (ou a possibilidade) de perderem os seus atributos físicos e o poder de sedução constitui uma fonte de angústia e sofrimento. Ao contrário do que superficialmente se possa considerar, esta não é uma perturbação que possa atingir qualquer pessoa, já que depende claramente da forma como cada um amadurece. Mas o medo de envelhecer está longe de circunscrever-se à estética – a angústia é generalizável à perda de competências intelectuais e capacidades físicas em geral. E se há pessoas capazes de gastar verdadeiras fortunas em produtos sem os quais “não podem viver”, a prática exagerada de exercício físico e a preocupação exacerbada com o corpo são outras respostas comuns ao problema. Outro padrão comum a estas pessoas é o relacionamento amoroso com pessoas mais jovens. De algum modo, a capacidade para conquistar alguém significativamente mais novo lhes confere a sensação de poder e de valorização. Para alguns, essa necessidade é exemplificada através de comportamentos típicos de um adolescente, como a aquisição de uma moto depois dos 50 anos. Mesmo que não possam parar o relógio, os gerascofóbicos adotam estes comportamentos de negação porque isso lhes permite “maquiar” a sua verdadeira idade e, assim, reduzir os níveis de angústia e ansiedade. A idade traz inevitavelmente algumas perdas – do ponto de vista da imagem, mas também ao nível social, relacional, intelectual e de poder. Prepararmo-nos para as diferentes fases do ciclo de vida implica encontrar atividades e objetivos a perseguir de modo a que nos sintamos preenchidos, em vez de tremendamente ansiosos. As pessoas que encaram a velhice como uma parte do processo não a evitam. Tendem a sobrepor os aspectos positivos desta etapa aos mais negativos. A espiritualidade, a transmissão de conhecimentos e de experiências às gerações mais novas ou a possibilidade de se gerir o tempo de forma mais tranquila são elementos positivos. Procurar atividades potencialmente geradoras de satisfação, manter o contato social (real e não apenas virtual ou telefônico) e a atividade intelectual são os melhores caminhos para um envelhecimento emocionalmente saudável. Para aqueles que de fato não buscam alternativas saudáveis para lidar com o envelhecimento, este certamente precisa de recursos mais “agressivos” para lidar com o tempo que já passou. 20 UNIDADE III AS PRINCIPAIS PATOLOGIAS E TRANSTORNOS CAPÍTULO 1 Principais patologias e transtornos Esquizofrenia e seus subtipos A esquizofrenia é um dos principais transtornos mentais e acomete 1% da população em idade jovem, entre os 15 e os 35 anos de idade. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é a terceira causa de perda da qualidade de vida entre os 15 e 44 anos, considerando-se todas as doenças. Apesar do impacto social, a esquizofrenia ainda é uma doença pouco conhecida pela sociedade, sempre cercada de muitos tabus e preconceitos. Crenças como “as pessoas com esquizofrenia são violentas e imprevisíveis”, “elas são culpadas pela doença”, “elas têm dupla personalidade”, “elas precisam permanecer internadas” são fruto do desconhecimento e do preconceito. A esquizofrenia caracteriza-se por uma grave desestruturação psíquica, em que a pessoa perde a capacidade de integrar suas emoções e sentimentos com seus pensamentos, podendo apresentar crenças irreais (delírios), percepções falsas do ambiente (alucinações) e comportamentos que revelam a perda do juízo crítico. A doença produz também dificuldades sociais, como as relacionadas ao trabalho e relacionamento, com a interrupção das atividades produtivas da pessoa. O tratamento envolve medicamentos, psicoterapia, terapias ocupacionais e conscientização da família, que absorve a maior parte das tensões geradas pela doença. A esquizofrenia não tem cura, mas, com o tratamento adequado, a pessoa pode se recuperar e voltar a viver uma vida normal. Apesar de a exata origem não estar concluída, as evidências indicam mais fortemente que a esquizofrenia é um severo transtorno do funcionamento cerebral. A esquizofrenia é provavelmente um grupo de doenças relacionadas, algumas causadas por um fator, outras, por outros fatores. A questão sobre a existência de várias esquizofrenias e não apenas uma única doença não é um assunto novo; primeiro, pela diversidade de manifestações como subtipos paranoide, hebefrênico e catatônico além das formas atípicas, que são conhecidas há décadas; segundo, por analogia com outras áreas médicas como o câncer. O câncer para o leigo é uma doença que pode atingir diferentes órgãos. Na verdade, trata-se de várias doenças com manifestação semelhante. Para cada tipo de câncer, há uma causa distinta, um 21 AS PRINCIPAIS PATOLOGIAS E TRANSTORNOS │ UNIDADE III tratamento específico em chances de cura distintas. São, portanto, várias doenças. Na esquizofrenia, talvez seja o mesmo e o simples fato de tratá-la como uma doença só que atrapalha sua compreensão. Poucos sabemos sobre essa doença. O máximo que conseguimos foi obter controle dos sintomas com os antipsicóticos. Nem sua classificação, um dos aspectos fundamentais da pesquisa, foi devidamente concluída. A esquizofrenia pode desenvolver-se de maneira gradual, tão lentamente que nem o paciente nem as pessoas próximas percebem que algo vai errado: só quandocomportamentos abertamente desviantes se manifestam. O período entre a normalidade e a doença deflagrada pode levar meses. Por outro lado, há pacientes que desenvolvem esquizofrenia rapidamente, em questão de poucas semanas ou mesmo de dias. A pessoa muda seu comportamento e entra no mundo esquizofrênico, o que geralmente alarma e assusta muito os parentes. Não há uma regra fixa quanto ao modo de início: tanto pode começar repentinamente e eclodir numa crise exuberante, quanto começar lentamente sem apresentar mudanças extraordinárias, e somente depois de anos surgir uma crise característica. Geralmente, a esquizofrenia começa durante a adolescência ou quando adulto jovem. Os sintomas aparecem gradualmente ao longo de meses e a família e os amigos que mantêm contato frequente podem não notar nada. É mais comum que uma pessoa com contato espaçado por meses, perceba melhor que a esquizofrenia está se desenvolvendo. Os primeiros sintomas são a dificuldade de concentração, prejudicando o rendimento nos estudos; estados de tensão de origem desconhecida mesmo pela própria pessoa e insônia e desinteresse pelas atividades sociais com consequente isolamento. A partir de certo momento, mesmo antes da esquizofrenia ter deflagrado, as pessoas próximas dão-se conta de que algo errado está acontecendo. Nos dias de hoje, os pais pensarão que se trata de drogas; os amigos podem achar que são dúvidas quanto à sexualidade; outros julgarão ser dúvidas existenciais próprias da idade. É comum nessas fases o desleixo com a aparência o descuido com a higiene pessoal e as mudanças no visual como a realização de tatuagens, piercing, cortes de cabelo, indumentárias estranhas. Enquanto o tempo passa, os sintomas aprofundam-se, o paciente apresenta uma conversa estranha, irreal, passa a ter experiências diferentes e não usuais que leva às pessoas próximas a julgarem ainda mais que o paciente está fazendo uso de drogas ilícitas. Infelizmente, o tratamento precoce não previne a esquizofrenia, doença inexorável. As medicações controlam parcialmente os sintomas: não normalizam o paciente. Quando isso acontece, é por remissão espontânea da doença e por nenhum outro motivo. Não há um exame que diagnostique precisamente a esquizofrenia, isto depende, exclusivamente, dos conhecimentos e da experiência do médico, portanto é comum ver conflitos de diagnóstico. O diagnóstico é feito pelo conjunto de sintomas que o paciente apresenta e a história como esses sintomas foram surgindo e se desenvolvendo. Existem critérios estabelecidos para que o médico tenha um ponto de partida, uma base em que se sustentar, mas a maneira como o médico encara os sintomas é pessoal. 22 UNIDADE III │ AS PRINCIPAIS PATOLOGIAS E TRANSTORNOS Que a esquizofrenia é doença grave ninguém duvida, pois afeta as emoções, o pensamento, as percepções e o comportamento. Mas o que dizer de uma gravidade que pode não deixar sequelas nem ameaçar a vida da pessoa, mas, pelo contrário, permite o restabelecimento da normalidade? A gravidade então não está tanto no diagnóstico: está mais no curso da doença. Classicamente a distinção que Kraepelin fez entre esquizofrenia (demência precoce) e o transtorno bipolar (psicose cíclica) foi a possibilidade de recuperação dos cicladores, enquanto os esquizofrênicos se deterioravam e não se recuperavam. Talvez, a partir daí, criou-se uma tendência a considerar-se a esquizofrenia irrecuperável. Não resta a menor dúvida de que muitos casos não se recuperam, mas há exceções e quando elas surgem toda a regra passa a ser duvidosa, pois se perdem os limites sobre os quais se operava com segurança. Faz apenas um pouco mais de 10 anos que se editou, pela Organização Mundial de Saúde, critérios objetivos e claros para a realização do diagnóstico da esquizofrenia. Na versão anterior, os critérios eram “frouxos” permitindo diferenças consideráveis nos parâmetros adotados entre os estudos; assim as disparidades de resultados entre eles eram inaceitáveis, terminando com a indefinição a respeito do curso da esquizofrenia. Algumas psicoses são naturalmente transitórias e únicas na vida de uma pessoa. Se por engano, estas são consideradas como esquizofrênicas, gera-se conflito ao se comparar com estudos cujos critérios exigiam um período mínimo de meses na duração da psicose. Mesmo que durem muitos anos, as psicoses não podem ser confundidas com a personalidade esquizoides. Apesar de o CID 10 (o novo) ter criado uma técnica comprovadamente mais confiável e precisa de se diagnosticar a esquizofrenia, o problema não está resolvido. Somente com o tempo e com mais pesquisas saberemos se os critérios, hoje, adotados estão corretos, se correspondem à realidade. A causa da esquizofrenia é complexa e multifatorial. O cérebro, por si, possui um funcionamento extremamente complexo e em grande parte desconhecido. Essa complexidade aumenta se considerarmos, e temos de considerar, que o funcionamento do cérebro depende do funcionamento de outras partes do corpo como os vasos sanguíneos, o metabolismo do fígado, a filtragem do rim, a absorção do intestino etc. Por fim, se considerando outras variáveis nada desprezíveis como o ambiente social e familiar, a complexidade torna-se inatingível para os recursos de que dispomos. Provavelmente a esquizofrenia é resultado disso tudo. A divisão dos sintomas psicóticos em positivos e negativos tem por finalidade dizer de maneira objetiva o estado do paciente. Tendo como ponto de referência a normalidade, os sintomas positivos são aqueles que não deveriam estar presentes como as alucinações, e os negativos aqueles que deveriam estar presentes, mas estão ausentes, como o estado de ânimo, a capacidade de planejamento e execução, por exemplo. Portanto, sintomas positivos não são bons sinais, nem os sintomas negativos são piores que os positivos. São estes os sintomas positivos » Alucinações – as mais comuns nos esquizofrênicos são as auditivas. O paciente geralmente ouve vozes depreciativas que o humilham, xingam, ordenam atos que os 23 AS PRINCIPAIS PATOLOGIAS E TRANSTORNOS │ UNIDADE III pacientes reprovam, ameaçam, conversam entre si falando mal do próprio paciente. Pode ser sempre a mesma voz, podem ser de várias pessoas, podem ser vozes de pessoas conhecidas ou desconhecidas, podem ser murmúrios incompreensíveis, ou claros e compreensíveis. Da mesma maneira que qualquer pessoa se aborrece em ouvir tais coisas, os pacientes também se afligem com o conteúdo do que ouvem, ainda mais por não conseguirem fugir das vozes. Alucinações visuais são raras na esquizofrenia, sempre que surgem devem pôr em dúvida o diagnóstico, favorecendo perturbações orgânicas do cérebro. » Delírios – Os delírios de longe mais comuns na esquizofrenia são os persecutórios. São as ideias falsas que os pacientes têm de que estão sendo perseguidos, que querem matá-lo ou fazer-lhe algum mal. Os delírios podem também ser bizarros como achar que está sendo controlado por extraterrestres que enviam ondas de rádio para o seu cérebro. O delírio de identidade (achar que é outra pessoa) é a marca típica do doente mental que se considera Napoleão. No Brasil, o mais comum é considerar-se Deus ou Jesus Cristo. » Perturbações do Pensamento – Estes sintomas são difíceis para o leigo identificar: mesmos os médicos não psiquiatras não conseguem percebê-los, não porque sejam discretos, mas porque a confusão é tamanha que nem se consegue denominar o que se vê. Há vários tipos de perturbações do pensamento, o diagnóstico tem de ser preciso porque a conduta é distinta entre o esquizofrênico que apresenta esse sintoma e um paciente com confusão mental, que pode ser uma emergência neurológica. » Alteração da sensação do eu – Assim como os delírios, esses sintomas são diferentes de qualquer coisa que possamos experimentar, exceto em estados mentais patológicos. Os pacientes com essas alterações dizem que não são elas mesmas, que outra entidade se apoderou de seu corpoe que já não é ela mesma, ou simplesmente que não existem, que seu corpo não existe. Estes são alguns sintomas negativos » Falta de motivação e apatia. » Embotamento afetivo: as emoções não são sentidas como antes. » Isolamento social. Os sintomas negativos não devem ser confundidos com depressão. A depressão é tratável e costuma responder às medicações, já os sintomas negativos da esquizofrenia não melhoram com nenhum tipo de antipsicótico. A grande esperança dos novos antipsicóticos de atuarem sobre os sintomas negativos não se concretizou, contudo esses sintomas podem melhorar espontaneamente. Qualquer pessoa está sujeita a vir a ter esquizofrenia; a maioria dos casos não apresenta nenhuma história de parentes com a doença na família. A seguir estão enumeradas algumas dicas, nenhuma delas são características, mas servem de parâmetro para observação. 24 UNIDADE III │ AS PRINCIPAIS PATOLOGIAS E TRANSTORNOS » Dificuldade para dormir, alternância do dia pela noite, ficar andando pela casa a noite, ou mais raramente dormir demais. » Isolamento social, indiferença em relação aos sentimentos dos outros. » Perda das relações sociais que mantinha. » Períodos de hiperatividade e períodos de inatividade. » Dificuldade de concentração chegando a impedir o prosseguimento nos estudos. » Dificuldade de tomar decisões e de resolver problemas comuns. » Preocupações não habituais com ocultismos, esoterismo e religião. » Hostilidade, desconfiança e medos injustificáveis. » Reações exageradas às reprovações dos parentes e amigos. » Deterioração da higiene pessoal. » Falta de expressões faciais (Rosto inexpressivo). » Diminuição marcante do piscar de olhos ou piscar incessantemente. » Sensibilidade excessiva a barulhos e a luzes. » Alteração da sensação do tato e do paladar. » Uso estranho das palavras e da construção das frases. » Afirmações irracionais. » Comportamento estranho como recusa em tocar as pessoas, penteados esquisitos, ameaça de automutilação e ferimentos provocados em si mesmo. » Mudanças na personalidade. » Abandono das atividades usuais. » Incapacidade de expressar prazer, de chorar ou chorar demais injustificadamente, risos imotivados. » Abuso de álcool ou drogas. » Posturas estranhas. Nenhum desses sinais por si sós comprovam doença mental, mas podem indicá-la. A personalidade patológica não apresenta mudanças no comportamento, é sempre desviante, desde as tenras idades. Na esquizofrenia incipiente, ainda que lentamente, ocorre uma mudança no curso do comportamento da pessoa, na personalidade patológica não. O paciente esquizofrênico sofre intensamente com sua condição e sua família também, não há como evitar isso. Infelizmente, os programas político-sociais de reinserção dos doentes mentais na 25 AS PRINCIPAIS PATOLOGIAS E TRANSTORNOS │ UNIDADE III sociedade simplesmente ignoram o sofrimento e as necessidades da família, que são enormes. Esta é vista como desestruturada, fria, indiferente ou mesmo hostil ao paciente. Da mesma forma que o paciente esquizofrênico sofre duas vezes, pela doença e pelo preconceito, a família também sofre duas vezes, com a doença do filho e com a discriminação e a incompreensão sociais. Os remédios são a única alternativa para tratar a esquizofrenia, outras formas de terapia complementam, mas não substituem as medicações. Há, contudo, uma natural resistência ao uso delas e isso é apenas uma consequência da forma como se entende a doença. Se encararmos a medicação como algo estranho ao corpo, a aversão dar-se-á inevitavelmente, mas se encararmos as medicação como substâncias reguladoras de atividades cerebrais desequilibradas, podemos vê-las como amigas. O paciente não tem nenhuma culpa por uma parte do cérebro estar desregulado, mas pode usar o lado saudável (o bom-senso) para tomar a decisão de se tratar. As medicações, portanto, só fazem ajustar o que estava desajustado. Infelizmente no caso da esquizofrenia, não conhecemos medicações que realizem essa tarefa completamente, restabelecendo a normalidade do paciente. Mas, por enquanto, temos uma ajuda parcial. Metade da dor é melhor que uma dor completa. Depressão e seus subtipos Um transtorno depressivo é uma doença que envolve o corpo, o humor e os pensamentos. Ele afeta a maneira de a pessoa se alimentar, de dormir, de se relacionar, de pensar. Um transtorno depressivo não é o mesmo que uma tristeza passageira. Pessoas com doenças depressivas não podem simplesmente se acalmar e melhorar. Os transtornos depressivos ocorrem de diferentes maneiras e podem durar semanas, meses ou anos. Os principais tipos de depressão são os apresentados a seguir. » Depressão maior: manifesta-se por uma combinação de sintomas que interferem na capacidade de trabalhar, de estudar, de dormir, de se alimentar e de apreciar atividades anteriormente prazerosas. Pode ocorrer como um fato isolado (uma única vez na vida do indivíduo) ou como episódios repetidos. Alguns dos principais sintomas são: humor persistentemente triste, sentimentos de desespero ou pessimismo, culpa, desvalia, impotência, energia diminuída, insônia, perda de apetite, pensamentos de morte ou suicídio, cefaleias, dores crônicas. » Distimia (depressão menor): envolve sintomas crônicos e de longa duração, mas não incapacitam. No entanto, impedem que o indivíduo funcione bem ou sinta-se bem. » Transtorno bipolar: caracteriza-se por alterações cíclicas do humor: graves altos (manias) e baixos (depressão). As oscilações do humor são dramáticas e rápidas, porém graduais. No ciclo depressivo, o indivíduo pode ter qualquer um ou todos os sintomas de um transtorno depressivo. No ciclo maníaco, o indivíduo fica muito ativo, falante e com a sensação de ter muita energia. A mania afeta o pensamento, o julgamento e o comportamento social. 26 UNIDADE III │ AS PRINCIPAIS PATOLOGIAS E TRANSTORNOS Alguns dos principais sintomas são: euforia anormal ou excessiva, irritabilidade fora do comum, menor necessidade de sono, ideias de grandeza, fala excessiva, pensamento acelerado, aumento do desejo sexual, juízo crítico deficiente, energia muito aumentada. O tratamento para os transtornos depressivos consiste no uso de antidepressivos que podem ou não estar associado à psicoterapia. Transtornos de ansiedade Ansiedade generalizada A ansiedade é um sentimento de apreensão desagradável, vago, acompanhado de sensações físicas. As reações de ansiedade normal não precisam ser tratadas por serem naturais e autolimitadas. Os estados de ansiedade anormais, que constituem síndromes de ansiedade, são patológicos e requerem tratamento específico. A ansiedade generalizada é basicamente uma preocupação ou ansiedade excessiva, ou com motivos injustificáveis ou desproporcionais ao nível da ansiedade observada. Uma série de sintomas físicos podem estar associados à ansiedade, como tensão muscular, inquietação, fadiga, falta de ar, taquicardia, sudorese, tontura, boca seca, micção frequente, diarreia, dificuldade de dormir, problemas de concentração, irritabilidade e cefaleias. A forma de diferenciar-se uma ansiedade normal de uma ansiedade generalizada é ao longo do tempo de duração dos sintomas. A ansiedade normal restringe-se a uma situação. A ansiedade patológica estende-se por longo períodos, mesmo que a situação inicial que gerou a ansiedade já tenha passado ou tenha sido resolvida. Na ansiedade patológica, a pessoa permanece tensa, apreensiva, nervosa, inquieta, irritada por um período superior a 6 meses. O tratamento para essa patologia pode ser realizado com terapia e medicamentos. O uso das medicações como benzodiazepínicos, buspirona e antidepressivos são eficazes. Fobia Existem vários tipos de fobias que podem acometer diversos tipos de pessoas. Serão descritas a seguir as fobias mais frequentes que encontramos na sociedade. » Fobia social: intensa ansiedade gerada quando o paciente é submetido à avaliação de outras pessoas. Na maioria dasvezes, concentra-se sob tarefas ou circunstância bem definidas. A intensidade desta reação é desproporcional ao nervosismo que a situação exigiria das pessoas em geral, e isso é reconhecido pelo paciente. 27 AS PRINCIPAIS PATOLOGIAS E TRANSTORNOS │ UNIDADE III » Fobia específica: medo acentuado e persistente de objetos ou situações claramente discerníveis e circunscritos. Normalmente o medo de animais ou medo de água são os mais comumente identificados. A exposição ao estímulo fóbico provoca resposta imediata de ansiedade, que pode assumir a forma de um ataque de pânico ligado à situação ou desencadeado por ela. » Agarofobia: representa o comportamento de evitação provocado por lugares ou situações em que o escape seria difícil ou embaraçoso, caso se tenha alguma crise ou um mal-estar. O paciente é dependente de outras pessoas para executar algumas tarefas como sair de casa, ir ao trabalho ou à escola. Para o tratamento das fobias, usa-se comumente o clonazepam ou os antidepressivos inibidores da rematação de serotonina. A terapia cognitvo-comportamental vem apresentando bons resultados depois de 1 ou 2 anos de tratamento. A única fobia que não é tratada com medicamentos e apenas terapia é a agarofobia. Transtorno obsessivo compulsivo O transtorno obsessivo compulsivo (TOC) é um estado em que se apresentam obsessões ou compulsões repetidamente, causando grande sofrimento à pessoa. Obsessões são pensamentos, ideias ou imagens que invadem a consciência da pessoa. Há vários exemplos como dúvidas que sempre retornam (se trancou a porta, se desligou o chuveiro, se fechou o gás) e fantasias de querer fazer algo que considera errado (xingar, bater). O TOC é caracterizado pela presença de pensamentos obsessivos e atos compulsivos suficientemente severos que consomem um tempo significativo do dia da pessoa ou que causam sofrimento ou ansiedade acentuados. Os tratamentos mais modernos para o TOC são feitos com medicamentos dos grupos antidepressivos e terapia cognitiva. A terapia de exposição, frequentemente, ajuda os indivíduos com a doença. Neste tipo de terapia, o paciente é exposto a situações ou a pessoas que desencadeiam obsessões, rituais ou desconforto. O desconforto ou a ansiedade diminuem gradualmente se o paciente evitar realizar o ritual durante exposições repetidas ao estímulo que o desencadeia. Ele aprende que o ritual não é necessário para reduzir o desconforto. Demência Demência é um comprometimento cognitivo geralmente progressivo e irreversível. As funções mentais anteriormente adquiridas são gradualmente perdidas. Com o aumento da idade, a demência torna-se mais frequente. Acomete 5% a 15% das pessoas com mais de 65 anos e aumenta para 20% nas pessoas com mais de 80 anos. Os fatores de risco conhecidos para a demência são: Idade avançada, histórico de demência na família e sexo feminino. 28 UNIDADE III │ AS PRINCIPAIS PATOLOGIAS E TRANSTORNOS Os sintomas incluem alterações na memória, na linguagem, na capacidade de orientar-se. Há perturbações comportamentais como agitação, inquietação, andar a esmo, raiva, violência, gritos, desinibição sexual e social, impulsividade, alterações do sono, pensamento ilógico e alucinações. As causas de demência incluem lesões e tumores cerebrais, síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), álcool, medicamentos, infecções, doenças pulmonares crônicas e doenças inflamatórias. Na maioria das vezes, as demências são causadas por doenças degenerativas primárias do sistema nervoso central (SNC) e por doença vascular. Cerca de 10% a 15% dos pacientes com sintomas de demência apresentam condições tratáveis como doenças sistêmicas (doenças cardíacas, renais, endócrinas), deficiências vitamínicas, uso de medicamentos e outras doenças psiquiátricas (depressão). As demências são classificadas em vários tipos de acordo com o quadro clínico, entretanto, as mais comuns são demência tipo Alzheimer e demência vascular. Demência tipo Alzheimer De todos os pacientes com demência, 50% a 60% têm demência tipo Alzheimer, o tipo mais comum de demência. É mais frequente em mulheres que em homens. É caracterizada por um início gradual e pelo declínio progressivo das funções cognitivas. A memória é a função cognitiva mais afetada, mas a linguagem e a noção de orientação do indivíduo também são afetadas. Inicialmente, a pessoa pode apresentar uma incapacidade para aprender e evocar novas informações. As alterações do comportamento envolvem depressão, obsessão (pensamento, sentimento, ideia ou sensação intrusiva e persistente) e desconfianças, surtos de raiva com risco de atos violentos. A desorientação leva a pessoa a andar sem rumo podendo ser encontrada longe de casa em uma condição de total confusão. Aparecem também alterações neurológicas como problemas na marcha, na fala, no desempenhar uma função motora e na compreensão do que lhe é falado. O diagnóstico é de exclusão, isto é, só pode ser feito quando não se encontra nenhuma outra causa. A rigor, tal diagnóstico só é realizado pós-morte, através de biópsia cerebral, na qual aparecem alguns sinais característicos e exclusivos da doença. A história do paciente e exame clínico, além das técnicas de imagem cerebral como tomografia computadorizada e ressonância magnética podem ser úteis no diagnóstico clínico. O tratamento é paliativo e as medicações podem auxiliam no manejo da agitação e das perturbações comportamentais. Não há prevenção ou cura conhecida. Demência vascular É o segundo tipo mais comum de demência. Apresenta as mesmas características da demência tipo Alzheimer, mas com um início abrupto e um curso gradualmente deteriorante. Pode ser prevenido por meio da redução de fatores de risco como hipertensão, diabetes, tabagismo e arritmias. O diagnóstico pode ser confirmado por técnicas de imagem cerebral e fluxo sanguíneo cerebral. 29 AS PRINCIPAIS PATOLOGIAS E TRANSTORNOS │ UNIDADE III Transtornos somatoformes É um grupo de transtornos que incluem sintomas físicos (por exemplo, dores, náuseas e tonturas), para os quais não pode ser encontrada uma explicação médica adequada, e que são suficientemente sérios para causarem um sofrimento emocional ou prejuízo significativo à capacidade do paciente para funcionar em papéis sociais e ocupacionais. Nesses transtornos, os fatores psicológicos são grandes contribuidores para o início, a severidade e a duração dos sintomas. Não é resultado de simulação consciente. A hipocondria é comum em pacientes com mais de 60 anos, embora o seja mais frequente entre 40 e 50 anos. Exames físicos repetidos são úteis para garantirem aos pacientes que eles não têm uma doença fatal. A queixa é real, a dor é verdadeira e percebida como tal pelo paciente. Ao tratamento, deve dar-se um enfoque psicológico ou farmacológico. Tabagismo A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera o fumo nocivo à saúde porque ele contém milhares de substâncias tóxicas. Já foram identificadas no fumo, além da nicotina, mais de 4.700 substâncias. Conforme a quantidade do tabaco e a maneira de tragar o cigarro, inala-se, em cada tragada, em média de 2.000 a 2.500 dessas substâncias. Em média, traga-se 10 vezes um cigarro. Quem fuma um maço de cigarros por dia sofre, portanto, 200 impactos cerebrais de nicotina, totalizando 73 mil impactos por ano. Nenhuma outra droga age com esse volume e intensidade, provocando os malefícios e lesando praticamente todos os órgãos do corpo. Matando três milhões de pessoas no mundo, anualmente, com uma projeção estimada de óbitos em torno de dez milhões até o ano 2020, das quais sete milhões ocorrerão nos países em desenvolvimento, o tabagismo é considerado um problema de saúde pública, fazendo-se necessárias campanhas preventivas globais que esclareçam os malefícios do fumo. A população precisa saber que o consumo de cigarros é a maior causa evitável de doenças e mortes em todo mundo. A relação entre a dependência de nicotina e os outros transtornos psiquiátricos vêm atraindointeresse crescente desde a última década. O estudo da extensão e das repercussões desta relação tem grande importância para a prática clínica, dada a alta prevalência do consumo do tabaco na população em geral e, ainda, a descrição da prevalência de tabagismo, sensivelmente maior, entre os pacientes psiquiátricos do que no restante da população (VAZQUES; BECOÑA, 1999). A discussão sobre dependência de tabaco e suas comorbidades tem grande importância no contexto atual de tratamento, pois, na medida em que se expande o conhecimento sobre os efeitos deletérios do tabagismo e as possibilidades terapêuticas se multiplicam, o consumo do tabaco tende a concentrar-se nas populações acometidas por transtornos psiquiátricos. O abuso de substâncias tem sido relacionado à ocorrência de episódios depressivos, no entanto, até recentemente, estes achados não diziam respeito à dependência da nicotina. Desde o fim da década 30 UNIDADE III │ AS PRINCIPAIS PATOLOGIAS E TRANSTORNOS de 1970, diversos autores passaram a relacionar o tabagismo e os aspectos negativos da afetividade, tais como tensão, ansiedade, irritabilidade, humor e sintomas depressivos em geral. Acredita-se que pacientes com sintomas depressivos proeminentes procurariam a nicotina para a obtenção de alívio dos sintomas, o que poderia ser reforçado pela alta prevalência do tabagismo entre estes pacientes e a elevada probabilidade de fracasso no tratamento. Sabe-se, ainda, que a dependência da nicotina e a depressão seriam doenças não relacionadas diretamente entre si, mas provocadas por um fator que as predispõem. A relação entre tabagismo e depressão tem importância expressiva no contexto do tratamento da dependência da nicotina. Por um lado, há a possibilidade de que a depressão predisponha a recaídas e ao consequente fracasso de uma tentativa de parar de fumar; por outro lado, parar de fumar pode facilitar o desenvolvimento de episódios depressivos com sintomas graves. O tipo de tratamento realizado tem influência sobre a ocorrência de episódios depressivos, sendo verificada maior incidência em pacientes realizando terapia de reposição de nicotina do que em pacientes fazendo uso de antidepressivos, a despeito dos relatos de melhora de curto prazo dos sintomas depressivos com a utilização da reposição de nicotina. O vício no tabaco pode ser tratado. Para tanto, o paciente deve ser o maior interessado neste tratamento, já que precisa aderir esquemas longos de tratamento medicamentoso e acompanhamento psicológico. Para os idosos, além do vício e seus malefícios, o uso prolongado de cigarro ou de afins pode garantir ainda em longo prazo um câncer de pulmão, boca ou laringe. Por isso, a conscientização, o aconselhamento e o acompanhamento do idoso tabagista são fundamentais. Alzheimer A Doença de Alzheimer é uma doença do cérebro, degenerativa, isto é, que produz atrofia progressiva, com início mais frequente após os 65 anos, que produz a perda das habilidades de pensar, de raciocinar, de memorizar, afetando as áreas da linguagem e produzindo alterações no comportamento. As causas da Doença de Alzheimer ainda não estão conhecidas, mas sabe-se que existem relações com certas mudanças nas terminações nervosas e nas células cerebrais que interferem nas funções cognitivas. Na fase inicial da doença, a pessoa afetada mostra-se um pouco confusa e esquecida e parece não encontrar palavras para se comunicar em determinados momentos; às vezes, apresenta descuido da aparência pessoal, perda da iniciativa e alguma perda da autonomia para as atividades da vida diária. Nessa fase pode ainda ser notada apatia, como um sintoma bastante comum. É também notada uma certa desorientação de tempo e espaço. A pessoa não sabe onde está nem em que ano está, em que mês ou que dia. Quanto mais cedo os sintomas forem percebidos, mais eficaz é o tratamento e melhor o prognóstico. 31 AS PRINCIPAIS PATOLOGIAS E TRANSTORNOS │ UNIDADE III Com o passar dos anos, conforme os neurônios morrem e a quantidade de neurotransmissores diminuem, aumenta a dificuldade em reconhecer e identificar objetos (agnosia) e na execução de movimentos (apraxia). Na fase intermediária necessita de maior ajuda para executar as tarefas de rotina, pode passar a não reconhecer seus familiares, pode apresentar incontinência urinária e fecal; torna-se incapaz para julgamento e pensamento abstrato, precisa de auxílio direto para vestir-se, comer, tomar banho, tomar suas medicações e todas as outras atividades de higiene. Pode apresentar comportamento inadequado, irritabilidade, desconfiança, impaciência e até agressividade; ou pode apresentar depressão, regressão e apatia. Nessa fase, o paciente ainda consegue comunicar ideias básicas. O paciente pode parecer desleixado ao efetuar certas tarefas motoras simples (escrever, vestir-se etc.), devido a dificuldades de coordenação. No período final da doença, existe perda de peso mesmo com dieta adequada; dependência completa, torna-se incapaz de qualquer atividade de rotina da vida diária e fica restrita ao leito, com perda total de julgamento e concentração. Durante a última fase do Mal de Alzheimer, o paciente está completamente dependente das pessoas que tomam conta dele. A linguagem está agora reduzida a simples frases ou até a palavras isoladas, acabando, eventualmente, em perda da fala. Pode apresentar reações a medicamentos, infecções bacterianas e problemas renais. Na maioria das vezes, a causa da morte não tem relação com a doença, e sim com fatores relacionados à idade avançada. Uma das dificuldades em realizar um diagnóstico de Doença de Alzheimer é a aceitação da demência como consequência normal do envelhecimento. Tratamento Não existe cura conhecida para a Doença de Alzheimer, por isso o tratamento destina-se a controlar os sintomas e proteger a pessoa doente dos efeitos produzidos pela deterioração trazida pela sua condição. Antipsicóticos podem ser recomendados para controlar comportamentos agressivos ou deprimidos, garantir a sua segurança e a dos que a rodeiam. O tratamento permite melhorar a saúde, retardar o declínio cognitivo, tratar os sintomas, controlar as alterações de comportamento e proporcionar conforto e qualidade de vida ao idoso e sua família. A doença de Alzheimer não afeta apenas o paciente, mas também as pessoas que lhe são próximas. A família deve preparar-se para uma sobrecarga muito grande em termos emocionais, físicos e financeiros. Também deve se organizar com um plano de atenção ao familiar doente, em que se incluam, além da supervisão sociofamiliar, os cuidados gerais, sem esquecer os cuidados médicos e as visitas regulares, que ajudará a monitorar as condições da pessoa doente, verificando se existem outros problemas de saúde que precisem ser tratados. Evolução A evolução da piora é em torno de 5% a 15% da cognição (consciência de si próprio e dos outros) por ano de doença, com um período em média de oito anos de seu início e seu último estágio. 32 UNIDADE III │ AS PRINCIPAIS PATOLOGIAS E TRANSTORNOS Com a progressão da doença passa a não reconhecer mais os familiares ou até mesmo a não realizar tarefas simples de higiene e vestir roupas. No estágio final, necessita de ajuda para tudo. Os sintomas depressivos são comuns, com instabilidade emocional e choros. Delírios e outros sintomas de psicose são frequentes, embora difíceis de avaliar nas fases finais da doença, devido à total perda de noção de lugar e de tempo e da deterioração geral. Em geral, a doença instala- se em pessoas com mais de 65 anos, mas existem pacientes com início aos 40 anos, e relatos raros de início na infância, de provável cunho genético. Podem aparecer vários casos numa mesma família, e também pode acontecer casos únicos, sem nenhum outro parente afetado, ditos esporádicos. Prevalência No mundo, o número de portadores de Alzheimer chega a cerca de 25 milhões, com aproximadamente 1 milhão de casos no Brasil. Existe uma relação inversamenteproporcional entre a prevalência de demência e a escolaridade. Nos indivíduos com 8 anos ou mais de escolaridade, a prevalência é de 3,5%, enquanto nos analfabetos é de 12,2%. Sintomas As áreas mais afetadas são as associadas à memória, à aprendizagem e à coordenação motora. Prevenção O Alzheimer é quatro vezes mais comum em analfabetos do que em pessoas com mais de 8 anos de estudo formal. Todos os estudos de medidas para prevenir ou atrasar os efeitos do Alzheimer são frequentemente infrutíferos. Hoje em dia, não parecem existir provas para acreditar que qualquer medida de prevenção é definitivamente bem-sucedida contra o Alzheimer. No entanto, estudos indicam relações entre fatores alteráveis como dietas, risco cardiovascular, uso de produtos farmacêuticos ou atividades intelectuais e a probabilidade de desenvolvimento de Alzheimer da população. Mas só mais pesquisa, incluídos testes clínicos, revelarão se, de fato, esses fatores podem ajudar a prevenir o Alzheimer. 33 AS PRINCIPAIS PATOLOGIAS E TRANSTORNOS │ UNIDADE III A inclusão de fruta e de vegetais, de pão, de trigo e de outros cereais, de azeite, de peixe e de vinho tinto, podem reduzir o risco de Alzheimer. Algumas vitaminas como a B12, a B3, a C ou a B9 foram relacionadas em estudos ao menor risco de Alzheimer, embora outros estudos indiquem que estas não têm nenhum efeito significativo no início ou no desenvolvimento da doença e podem ter efeitos secundários. Algumas especiarias como a curcumina e o açafrão mostraram sucesso na prevenção da degeneração cerebral em ratos de laboratório. Tratamento Os inibidores da acetilcolinesterase retardam o declínio cognitivo em 40%. O tratamento visa minimizar os sintomas, proteger o sistema nervoso e retardar o máximo possível a evolução da doença. Os inibidores da acetilcolinesterase, atuam inibindo a enzima responsável pela degradação da acetilcolina que é produzida e liberada por algumas áreas do cérebro (como os do núcleo basal de Meynert). A deficiência de acetilcolina é considerada um dos principais fatores da doença de Alzheimer, mas não é o único evento bioquímico/fisiopatológico que ocorre. Mais recentemente, um grupo de medicações conhecido por inibidores dos receptores do tipo NMDA (N-Metil-D-Aspartato) do glutamato entrou no mercado brasileiro, já existindo no europeu há mais de uma década. Medicamentos psiquiátricos Como a depressão e a ansiedade são um problema constante no Alzheimer é comum que os médicos prescrevam antidepressivos, principalmente inibidores seletivos da recaptação da serotonina como sertralina (Zoloft) e o citalopram (Cipramil). Porém os estudos demonstrando sua eficácia são bastante limitados, diminuindo a concentração, a atenção e o estado de vigília, sendo a eletroconvulsoterapia uma boa alternativa. Antidepressivos, além de melhorarem o humor, o apetite, o sono, o autocontrole e diminuirem a ansiedade, tendências suicidas e agressividade, têm demonstrado também significativamente retardar a degeneração do cérebro. Em 2008, um estudo conseguiu desenvolver um meio de reverter alguns sintomas do Mal de Alzheimer em questão de minutos. Uma injeção de etanercepte (nome comercial: Enbrel) na espinha, uma citocina usada no tratamento de problemas imunológicos atuou inibindo o fator de necrose tumoral alfa (TNF) resultando em melhoras cognitivas e comportamentais quase imediatas. Em 2011, outro estudo identificou que um defeito no fígado é responsável pelo excesso de produção de amiloide beta. Em testes com animais o uso de imatinib (nome comercial: Gleevec), uma droga usada no tratamento do câncer, resultou em diminuição de amiloides beta no sangue e no cérebro. Há o planejamento de realizar testes com humanos em breve. Cuidadores Os cuidadores são fundamentais para o tratamento do idoso com Alzheimer no ambiente domiciliar, mas nem todos os familiares estão preparados física e psicologicamente para conviver 34 UNIDADE III │ AS PRINCIPAIS PATOLOGIAS E TRANSTORNOS e cuidar de alguém que não os reconhece nem valoriza seus esforços. Por isso, é importante o acesso às informações sobre a patologia e apoio psicossocial aos cuidadores. E o cuidador de paciente com Alzheimer frequentemente tem de lidar com irritabilidade, agressividade, mudanças de humor e de comportamento. É recomendado a participação do cuidador em programas de cuidado ao idoso com Alzheimer para esclarecer dúvidas sobre a doença, acompanhar o tratamento, dar apoio psicológico e social para atenuar o esgotamento e o estresse gerados pela convivência com uma pessoa que a cada dia vai precisar de mais cuidado e atenção no ambiente domiciliar. Os cuidadores são responsáveis pela manutenção da segurança física, redução da ansiedade e agitação, melhoria da comunicação, promoção da independência nas atividades de autocuidado, atendimento das necessidades de socialização e privacidade, manutenção da nutrição adequada, controle dos distúrbios do padrão de sono e transporte para serviços de saúde, além das inúmeras atividades diárias de cuidado com o lar. Solidão Um dia você olha no espelho e percebe que o tempo passou. O corpo e a pele já não são os mesmos, a disposição vai dando espaço ao cansaço e a insegurança das primeiras experiências transformou-se em sabedoria. A solidão pode produzir estragos em uma pessoa que se encontra na chamada “plenitude da vida”, então, o que poderia acontecer com alguém que já está, provavelmente, ao final do caminho? A solidão entre pessoas idosas é frequentemente mais comum do que se pensa. Segundo cifras da Organização Pan-Americana de Saúde, o grupo humano que proporcionalmente atinge taxas mais altas de crescimento no mundo está entre os 60 e os 85 anos de idade. As causas estão relacionadas à melhoria da alimentação e ao crescimento da cobertura dos serviços de saúde pública, enfrentando importantes sistemas de controle da natalidade. Na Inglaterra, as entidades de estatística calculam que existirá, no ano 2031, mais de 35 mil cidadãos com, pelo menos, 100 anos de vida. Um estudo desenvolvido pela psicóloga argentina Marta Susana Tetamanti, intitulado “La vejez, el tema olvidado” (O envelhecimento, este tema esquecido), defende que existem múltiplas características para que essa porção da sociedade se encontre atualmente isolada. Segundo a professora de Psicologia da Universidad Nacional de Mar Del Plata, o conceito capitalista da sociedade, segundo o qual “o que não serve se joga fora” foi transformado em realidade para os mais idosos. São rechaçados de postos de trabalho, isolados das famílias e, em alguns casos, com matrimônios que terminam em viuvez. Segundo Tetamanti, o aspecto individualista das sociedades contemporâneas deixa os idosos solitários, o grupo humano com maiores índices de desemprego. Da mesma forma, agrega a especialistas, as mudanças físicas e em seu quadro familiar, os leva a sofrer de maiores depressões e a ser o grupo humano com maiores taxas de suicídios. 35 AS PRINCIPAIS PATOLOGIAS E TRANSTORNOS │ UNIDADE III Muitos idosos lidam bem com essa situação e até fazem da Terceira Idade, a melhor fase de suas vidas, saindo para dançar, participando de grupos de atividades e curtindo tudo o que a vida pode lhes oferecer sem dar espaço para a solidão, porém, boa parte deles não consegue superar a sensação de inutilidade e vazio decorrentes das mudanças no corpo e na rotina e acaba se isolando de seu ciclo social, seja por vergonha de estar parado, seja por se sentir descartado: “muita gente acha que os problemas de saúde dos idosos são decorrentes da saúde fragilizada”. De fato, nosso organismo fica mais vulnerável com o passar dos anos e, assim como toda máquina, vai perdendo suas reservas, mas manter a autoestima em alta e receber afeto ajuda a fortalecer o sistema imunológico nesta fase da vida. Um estudo da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos comprova o poder das emoções na saúde dos idosos. Depois de avaliar 229 pessoas, com idade
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