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SAÚDE MENTAL Saúde Mental O que é saúde? A saúde é silenciosa, geralmente não a percebemos em sua plenitude; na maior parte das vezes apenas a identificamos quando adoecemos. É uma experiência de vida, vivenciada no intimo do corpo individual. Ouvir o próprio corpo é uma boa estratégia para assegurar a saúde com qualidade, pois não existe um limite preciso entre a saúde e a doença, mas uma relação de reciprocidade entre ambas; entre a normalidade e a patologia, na qual os mesmos fatores que permitem ao homem viver (alimento, água, ar, clima, habitação, trabalho, tecnologia, relações familiares e sociais) podem causar doenças. Essa relação é demarcada pela forma de vida dos seres humanos, pelos determinantes biológicos, psicológicos e sociais. Tal constatação nos remete à reflexão de que o processo saúde-doença-adoecimento ocorre de maneira desigual entre os indivíduos, as classes e os povos, recebendo influência direta do local que os seres ocupam na sociedade. O considerado normal em um indivíduo pode não ser em outro; não há rigidez no processo. Dessa maneira, podemos deduzir que o ser humano precisa conhecer-se, necessita saber avaliar as transformações sofridas por seu corpo e identificar os sinais expressos por ele. Segundo a Organização Mundial da Saúde: saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doenças. Quais fatores influenciam a Saúde? A OMS hoje reconhece que os seguintes fatores podem ter efeito até maior em nosso estado do que o acesso e uso do serviço de assistência médica: - Renda, status social e educação; quanto mais altos, mais saudável - Ambiente físico: água potável, ar puro, ambiente de trabalho sadio, casa segura e comunidade bem planejada - Rede de apoio social, incluindo família, amigos e comunidade - Genética, que influencia a expectativa de vida e o risco de desenvolvimento de determinadas doenças - Gênero: homens e mulheres enfrentam riscos de saúde diferentes em diferentes fases da vida - Comportamento pessoal e habilidade de enfrentar dificuldades, além de fumo, consomem de bebidas alcoólicas, hábitos alimentares, atividade física e forma de lidar com o estresse. O que é doença? A doença não pode ser compreendida apenas por meio das medições fisiopatológicas, pois quem estabelece o estado da doença é o sofrimento, a dor, o prazer, enfim os valores e sentimentos expressos pelo corpo subjetivo que adoece. Contexto Histórico Com o passar dos anos, as mudanças nas sociedades levaram à necessidade de uma ampliação do entendimento sobre saúde: é quando após a II Guerra Mundial, a Organização das Nações Unidas (ONU) cria a Organização Mundial de Saúde (OMS), composta por técnicos de vários países, com o objetivo de estudar e sugerir alternativas para melhorar a saúde mundial. Entre 6 e 12 de setembro de 1978, a OMS e a Fundação das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) promoveram em Alma-Ata, ex-União Soviética uma Conferência Internacional sobre cuidados primários de saúde. Nesta conferência a OMS desenvolveu o conceito de saúde, sendo assim divulgado na carta de princípios de 7 de abril de 1948 (desde então o Dia Mundial da Saúde), implicando o reconhecimento do direito à saúde e da obrigação do Estado na promoção e proteção da saúde, diz que: “Saúde – estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente à ausência de doença ou enfermidade – é um direito fundamental, e que a consecução do mais alto nível de saúde é a mais importante meta social mundial, cuja realização requer a ação de muitos outros setores sociais e econômicos, além do setor saúde” (OMS, 1976). Esta conferência ressaltou o íntimo inter-relacionamento e independência da saúde com o desenvolvimento econômico e social, sendo a primeira causa e consequência da progressiva melhoria das condições e da qualidade de vida. A chave do plano da Conferência de Alma-Ata está na prevenção, no desenvolvimento social e nos cuidados de saúde. Já no Brasil, em 1986, foi desenvolvida a VII Conferência Nacional de Saúde, na qual foram discutidos os temas: saúde como direito; reformulação do Sistema Nacional de Saúde (SUS) e financiamento setorial. Nesta conferência adotou-se o seguinte conceito sobre saúde: “... em seu sentido mais abrangente, a saúde é resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de Doença Dor Morte Sofrimento Incapacidades saúde. É assim, antes de tudo, o resultado das formas de organização social da produção, as quais podem gerar grandes desigualdades nos níveis de vida” (BRASIL, 1986). Processo Saúde- Doença O Processo Saúde-Doença está diretamente atrelado à forma como o ser humano, no decorrer de sua existência, foi se apropriando da natureza para transformá-la, buscando o atendimento às suas necessidades. Fica claro que tal processo representa o conjunto de relações e variáveis que produz e condiciona o estado de saúde e doença de uma população, que se modifica nos diversos momentos históricos e do desenvolvimento científico da humanidade. Portanto, não é um conceito abstrato. Em síntese, pode-se dizer, em termos de sua determinação causal, que o processo saúde-doença representa o conjunto de relações e variáveis que produzem e condicionam o estado de saúde e doença de uma população, que variam em diversos momentos históricos e do desenvolvimento científico da humanidade. O que é Saúde Mental? A Organização Mundial de Saúde afirma que não existe definição "oficial" de saúde mental. Diferenças culturais, julgamentos subjetivos, e teorias relacionadas concorrentes afetam o modo como a "saúde mental" é definida. Saúde mental é um termo usado para descrever o nível de qualidade de vida cognitiva ou emocional. A saúde Mental pode incluir a capacidade de um indivíduo de apreciar a vida e procurar um equilíbrio entre as atividades e os esforços para atingir a resiliência psicológica. Admite-se, entretanto, que o conceito de Saúde Mental é mais amplo que a ausência de transtornos mentais" Também podemos dizer que Saúde Mental é o equilíbrio emocional entre o patrimônio interno e as exigências ou vivências externas. É a capacidade de administrar a própria vida e as suas emoções dentro de um amplo espectro de variações sem, contudo, perder o valor do real e do precioso. É ser capaz de ser sujeito de suas próprias ações sem perder a noção de tempo e espaço. É buscar viver a vida na sua plenitude máxima, respeitando o legal e o outro. Os seguintes itens foram identificados como critérios de saúde mental: 1. Atitudes positivas em relação a si próprio 2. Crescimento, desenvolvimento e auto-realização 3. Integração e resposta emocional 4. Autonomia e autodeterminação 5. Percepção apurada da realidade 6. Domínio ambiental e competência social; O que é Doença Mental? Pode ser entendida como uma variação mórbida do normal, variação esta capaz de produzir prejuízo na performance global da pessoa (social, ocupacional, familiar e pessoal) e/ou das pessoas com quem convive. É difícil definir um conceito universal de doença mental, devido aos fatores culturais que influenciam esta definição. Um comportamento que é considerado “normal “ou “anormal” é definido pelas normas culturais ou sociais do indivíduo. A doença Mental é caracterizada como respostas desajustadas a fatores de estresse do ambiente interno ou externo, evidenciadas por pensamentos, sentimentos e comportamentos que não são congruentes com as normas locais e culturais e interferem no funcionamento social, ocupacional e/ou físico do indivíduo. Transtornos mentais são alterações do funcionamento da mente que prejudicam o desempenho da pessoa na vidafamiliar, na vida social, na vida pessoal, no trabalho, nos estudos, na compreensão de si e dos outros, na possibilidade de autocrítica, na tolerância aos problemas e na possibilidade de ter prazer na vida em geral. Resiliência: Capacidade que um indivíduo ou uma população apresenta, após momento de adversidade, conseguindo se adaptar ou evoluir positivamente frente à situação. O Dia Mundial da Saúde Mental é comemorado em 10 de Outubro. Foi instituído em 1992 pela Federação Mundial de Saúde Mental. https://pt.wikipedia.org/wiki/10_de_Outubro https://pt.wikipedia.org/wiki/10_de_Outubro https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Federa%C3%A7%C3%A3o_Mundial_de_Sa%C3%BAde_Mental&action=edit&redlink=1 https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Federa%C3%A7%C3%A3o_Mundial_de_Sa%C3%BAde_Mental&action=edit&redlink=1 Sofrimento Psíquico X Doença mental Há situações em que há sofrimento psicológico sem que este possa ser definido como uma doença ou transtorno mental no sentido clássico. Sofrimento psíquico e doença mental podem ser tomados como processos qualitativamente distintos. Para a classificação das doenças mentais leva-se em consideração “a presença de alterações, desintegração no funcionamento psíquico e a duração dessas alterações.” Todas as pessoas podem apresentar sinais de sofrimento psíquico em alguma fase da vida. Sofrimento psíquico diz respeito a um conjunto de mal- estares que se caracteriza pela “dificuldade do sujeito em operar planos e definir sentidos para a vida, aliada a sentimento de impotência e vazio”. Já a doença mental revela o fracasso das tentativas de entender, superar, evitar ou tornar suportáveis os sofrimentos psíquicos, radicalizando o processo de alienação e fazendo o sujeito viver tensões sem expectativa de solução ou abolir os pólos de tensão entre parte/todo, essência/aparência, indivíduo/sociedade, consciência. Os transtornos mentais são tratados, de uma maneira geral, como uma associação de meios psicoterápicos e medicamentos (psicofármacos). Algumas condições não requerem o uso de medicamentos e são tratados apenas por meios psicológicos. Os transtornos mentais, em geral resultam da soma de muitos fatores como: • Alterações no funcionamento do cérebro; • Fatores genéticos; • Fatores da própria personalidade do indivíduo; • Ação de um grande número de estresses; • Agressões de ordem física e psicológica; • Perdas, decepções, frustrações e sofrimentos físicos e psíquicos que perturbam o equilíbrio emocional; Historia da Loucura A loucura pode ser considerada uma experiência social, já que é encarada de diferentes formas, tanto por grupos sociais como foi no decorrer da história. Na Grécia Antiga, a loucura era considerada uma manifestação divina. Os loucos eram vistos como profetas, porque falavam coisas que o homem comum não entendia. Outros achavam que eles tinham excesso de paixão, sentimento. Circulavam, nessa época, livremente pela cidade. Já na Era Medieval, a Igreja tinha o saber e o poder, uma vez que era a intermediária entre Deus e o homem. Nos mosteiros era armazenado tudo o que se produzia de conhecimento. O louco era visto como uma associação demoníaca, um ser maligno. Se o louco fizesse a confissão de que era bruxo, poderia ser exorcizado ou punido. Ele era submetido à ordem religiosa. Caso o louco fosse rico, poderia comprar a Santa Inquisição e era considerado apenas „‟excêntrico‟‟. A loucura era encarada, nessa época, como uma heresia. Os loucos eram os heréticos. No Renascimento, o homem é o centro de tudo. Dentre tantas características desse período, destacam-se: a arte, retratando a anatomia humana, as grandes navegações e, com o surgimento de sistemas de trocas, comércio, dinheiro e burgos (burguesia). Sendo assim, os lugares deveriam estar limpos e para isso seria necessário excluir aqueles que não participam do mercado de trabalho, tais como: mendigos, velhos, prostitutas, leprosos, sifilíticos e loucos. Foi instalado um verdadeiro “projeto de limpeza‟‟ das cidades. A “Nau dos loucos‟‟ foi à embarcação que levavam essas pessoas rejeitadas pela sociedade para serem deportadas para fora das cidades. Com o início da sociedade industrial, as cidades, cada vez maiores, encheram-se de pessoas que não encontravam lugar nesta nova ordem social. Multiplicam-se nas ruas os desocupados, os mendigos e os vagabundos – os loucos dentre eles. Foram tomadas medidas repressivas para resolver esse problema - estas pessoas eram sumariamente internadas nas casas de A maioria das doenças mentais é influenciada por uma combinação de fatores biológicos, psicológicos e sócio culturais. correção e de trabalho e nos hospitais gerais. Tais instituições, não se propunham a ter função curativa – limitando-se à punição do pecado da ociosidade. Nesses locais, o louco não era percebido como doente, e sim como um dentre vários personagens que haviam abandonado o caminho da Razão e do Bem. Simbolizada na Europa pela Revolução Francesa, surgiu uma nova reestruturação do espaço social. Formalmente, não era mais permitido o encarceramento arbitrário de nenhum cidadão com a exceção dos loucos. Entendia-se que os loucos não podiam circular no espaço social como os outros cidadãos devido a sua alta periculosidade. Com o objetivo de curá-los, passaram a ser internados em instituições destinadas especificamente a eles: nasceu o manicômio. Philippe Pinel Influenciado pelas ideias do Iluminismo e da Revolução Francesa, Philippe Pinel (1745-1826) foi pioneiro no tratamento de doentes mentais e um dos precursores da psiquiatria moderna. Formado em medicina pela Universidade de Tolouse (França), dirigiu os hospitais de Bicêtre e Salpêtrière. Na sua Biografia consta que se interessou por essa área depois que um amigo tomado de loucura, fugiu para uma floresta, tendo sido devorado por lobos. Da observação dos seus próprios pacientes, em 1801, publicou seu Tratado Medico-Filosófico sobre a Alienação Mental, em que defende a doença mental como resultado de uma exposição excessiva a situações de estresse e, também, a danos hereditários capazes de provocar alterações patológicas no cérebro. Com base nisso, Pinel baniu tratamentos antigos, tais como sangrias, vômitos induzidos, purgações e ventosas, substituindo-as por tratamento digno e respeitoso, que inclui terapias ocupacionais. Dentro dessa linha, foi um dos primeiros a libertar os pacientes dos manicômios e das correntes, propiciando- lhes liberdade de momentos por si só terapêutica. Consideradas avançadas para a época, as teorias de Pinel nem sempre foram aceitas integralmente. Mesmo depois da publicação de seus estudos, era comum encontrar instituições que tratavam os loucos como criminosos ou endemoniados. E que não dispensavam os tratamentos físicos. Nestes Os primeiros Hospitais Psiquiátricos se tornaram depósitos de marginalizados – excluídos e enclausurados, não eram considerados cidadãos. tratamentos buscava-se dar um "choque" no paciente, fazer com que passasse por uma sensação intensa, que o tirasse de seu estado de alienação. Eram frequentes, além das práticas descritas, os isolamentos em quartos escuros, banhos de água fria, uso de aparelhos que faziam com que o paciente rodopiasse em macas ou durante horas até que perdesse a consciência. Pinel assim foi pioneiro em separar pacientes dos criminosos e colocá- los sob cuidados médicos Pinel estabeleceu os fundamentos da clínica psiquiátrica a partir do método clínico. Segundo Pinel, as alienações mentais seriam devidas a distúrbio funcional do sistema nervoso central, as lesões poderiam ou não existir, seria apenas contingente. O nascimento da psiquiatria surgiu com a reclusão dos loucos nos manicômios: inicia-se o trabalho de descrição e de agrupamentodos diferentes tipos dos sintomas e a denominação dos diversos tipos de transtorno psíquico que fundamentam a psiquiatria moderna. É importante ressaltar que não houve qualquer avanço em termos de terapêutica: os ditos doentes mentais passaram a permanecer toda a sua vida dentro dos hospitais psiquiátricos. No início do século XX, os manicômios cresceram enormemente em número e se tornaram cada vez mais repressivos. O isolamento, o abandono, os maus-tratos, as péssimas condições de alimentação e de hospedagem, agravaram-se progressivamente. Ao final da II Guerra Mundial, era sub- humana a situação dos hospitais psiquiátricos. Surgiram os primeiros movimentos de Reforma Psiquiátrica A Reforma Psiquiátrica no Brasil O processo de Reforma Psiquiátrica O início do processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil é contemporâneo da eclosão do “movimento sanitário”, nos anos 70, em favor da mudança dos modelos de atenção e gestão nas práticas de saúde, defesa da saúde coletiva, equidade na oferta dos serviços, e protagonismo dos trabalhadores e usuários dos serviços de saúde nos processos de gestão e produção de tecnologias de cuidado. O tratamento nos manicômios, defendido por Pinel, baseia- se principalmente na reeducação dos alienados, no respeito às normas e no desencorajamento das condutas inconvenientes. Para Pinel, a função disciplinadora do médico e do manicômio deve ser exercida com firmeza, porém com gentileza. Isso denota o caráter essencialmente moral com o qual a loucura passa a ser revestida. Embora contemporâneo da Reforma Sanitária, o processo de Reforma Psiquiátrica brasileira tem uma história própria, inscrita num contexto internacional de mudanças pela superação da violência asilar. Fundado, ao final dos anos 70, na crise do modelo de assistência centrado no hospital psiquiátrico, por um lado, e na eclosão, por outro, dos esforços dos movimentos sociais pelos direitos dos pacientes psiquiátricos, o processo da Reforma Psiquiátrica brasileira é maior do que a sanção de novas leis e normas e maior do que o conjunto de mudanças nas políticas governamentais e nos serviços de saúde. A Reforma Psiquiátrica é processo político e social complexo, composto de atores, instituições e forças de diferentes origens, e que incide em territórios diversos, nos governos federal, estadual e municipal, nas universidades, no mercado dos serviços de saúde, nos conselhos profissionais, nas associações de pessoas com transtornos mentais e de seus familiares, nos movimentos sociais, e nos territórios do imaginário social e da opinião pública. Compreendida como um conjunto de transformações de práticas, saberes, valores culturais e sociais, é no cotidiano da vida das instituições, dos serviços e das relações interpessoais que o processo da Reforma Psiquiátrica avança, marcado por impasses, tensões, conflitos e desafios. Crítica ao modelo Hospitalocêntrico O ano de 1978 costuma ser identificado como o de início efetivo do movimento social pelos direitos dos pacientes psiquiátricos em nosso país. O Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM), movimento plural formado por trabalhadores integrantes do movimento sanitário, associações de familiares, sindicalistas, membros de associações de profissionais e pessoas com longo histórico de internações psiquiátricas, surge neste ano. É sobretudo este Movimento, através de variados campos de luta, que passa a protagonizar e a construir a partir deste período a denúncia da violência dos manicômios, da mercantilização da loucura, da hegemonia de uma rede privada de assistência e a construir coletivamente uma crítica ao chamado saber psiquiátrico e ao modelo hospitalocêntrico na assistência às pessoas com transtornos mentais. A experiência italiana de desinstitucionalização em psiquiatria e sua crítica radical ao manicômio é inspiradora, e revela a possibilidade de ruptura com os antigos paradigmas, como, por exemplo, na Colônia Juliano Moreira, enorme asilo com mais de 2.000 internos no início dos anos 80, no Rio de Janeiro. Passam a surgir as primeiras propostas e ações para a reorientação da assistência. O II Congresso Nacional do MTSM (Bauru, SP), em 1987, adota o lema “Por uma sociedade sem manicômios”. Neste mesmo ano, é realizada a I Conferência Nacional de Saúde Mental (Rio de Janeiro). Neste período, são de especial importância o surgimento do primeiro CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) no Brasil, na cidade de São Paulo, em 1987, e o início de um processo de intervenção, em 1989 da Secretaria Municipal de Saúde de Santos (SP) em um hospital psiquiátrico, a Casa de Saúde Anchieta, local de maus-tratos e mortes de pacientes. É esta intervenção, com repercussão nacional, que demonstrou de forma inequívoca a possibilidade de construção de uma rede de cuidados efetivamente substitutiva ao hospital psiquiátrico. Neste período, são implantados no município de Santos Núcleos de Atenção Psicossocial (NAPS) que funcionam 24 horas, são criadas cooperativas, residências para os egressos do hospital e associações. A experiência do município de Santos passa a ser um marco no processo de Reforma Psiquiátrica brasileira. Trata-se da primeira demonstração, com grande repercussão, de que a Reforma Psiquiátrica, não sendo apenas uma retórica, era possível e exequível Também no ano de 1989, dá entrada no Congresso Nacional o Projeto de Lei do deputado Paulo Delgado (PT/MG), que propõe a regulamentação dos direitos da pessoa com transtornos mentais e a extinção progressiva dos manicômios no país. É o início das lutas do movimento da Reforma Psiquiátrica nos campos legislativo e normativo. Com a Constituição de 1988, é criado o SUS – Sistema Único de Saúde, formado pela articulação entre as gestões federal, estadual e municipal, sob o poder de controle social, exercido através dos “Conselhos Comunitários de Saúde”. Inicio da implantação da rede extra-hospitalar A partir do ano de 1992, os movimentos sociais, inspirados pelo Projeto de Lei Paulo Delgado, conseguem aprovar em vários estados brasileiros as primeiras leis que determinam a substituição progressiva dos leitos psiquiátricos por uma rede integrada de atenção à saúde mental. É a partir deste período que a política do Ministério da Saúde para a saúde mental, acompanhando as diretrizes em construção da Reforma Psiquiátrica, começa a ganhar contornos mais definidos. É na década de 90, marcada pelo compromisso firmado pelo Brasil na assinatura da Declaração de Caracas e pela realização da II Conferência Nacional de Saúde Mental, que passam a entrar em vigor no país as primeiras normas federais regulamentando a implantação de serviços de atenção diária, fundadas nas experiências dos primeiros CAPS, NAPS e Hospitais-dia, e as primeiras normas para fiscalização e classificação dos hospitais psiquiátricos. Neste período, o processo de expansão dos CAPS e NAPS é descontínuo. As novas normatizações do Ministério da Saúde de 1992, embora regulamentassem os novos serviços de atenção diária, não instituíam uma linha específica de financiamento para os CAPS e NAPS. Do mesmo modo, as normas para fiscalização e classificação dos hospitais psiquiátricos não previam mecanismos sistemáticos para a redução de leitos. Ao final deste período, o país tem em funcionamento 208 CAPS, mas cerca de 93% dos recursos do Ministério da Saúde para a Saúde Mental ainda são destinados aos hospitais psiquiátricos. QUAIS AS METAS DA REFORMA PSIQUIÁTRICA? • Proibir a construção de novos hospitais psiquiátricos ou a ampliação dos existentes; • Desativar progressivamente os leitos existentes; • Implantar serviços extra- hospitalares com atenção multiprofissional • Inserir leitos e unidades psiquiátricas em Hospitais Gerais; • Resgatar a cidadania e promover a reabilitaçãosocial; • Integrar a saúde mental a outros programas de saúde PRINCÍPIOS DA REFORMA PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA : • Reorientação do modelo assistencial • Mudança na maneira de cuidar • Mudança na clínica (clínica de atenção psicossocial, clínica ampliada) • Mudança na gestão (gestão participativa, com o protagonismo dos usuários) • Mudança cultural (representações sociais sobre a loucura e sobre o cuidado) A Reforma Psiquiátrica depois da lei Nacional É somente no ano de 2001, após 12 anos de tramitação no Congresso Nacional, que a Lei Paulo Delgado é sancionada no país. A aprovação, no entanto, é de um substitutivo do Projeto de Lei original, que traz modificações importantes no texto normativo. Assim, a Lei Federal 10.216 redireciona a assistência em saúde mental, privilegiando o oferecimento de tratamento em serviços de base comunitária, dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais, mas não institui mecanismos claros para a progressiva extinção dos manicômios. Ainda assim, a promulgação da lei 10.216 impõe novo impulso e novo ritmo para o processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil. É no contexto da promulgação da lei 10.216 e da realização da III Conferência Nacional de Saúde Mental, que a política de saúde mental do governo federal, alinhada com as diretrizes da Reforma Psiquiátrica, passa a consolidar-se, ganhando maior sustentação e visibilidade. Linhas específicas de financiamento são criadas pelo Ministério da Saúde para os serviços abertos e substitutivos ao hospital psiquiátrico e novos mecanismos são criados para a fiscalização, gestão e redução programada de leitos psiquiátricos no país. A partir deste ponto, a rede de atenção diária à saúde mental experimenta uma importante expansão, passando a alcançar regiões de grande tradição hospitalar, onde a assistência comunitária em saúde mental era praticamente inexistente. A lei nº 10.216 elenca uma série de direitos da pessoa com transtorno mental,destacando-se: I - ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, conforme às suas necessidades. II - ser tratada com humanidade e respeito, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade. III - ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração. IV - ter garantia de sigilo nas informações prestada V - ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade ou não de sua hospitalização involuntária. VII - receber o maior número de informações a respeito de sua doença e de seu tratamento. VIII - ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis. IX - ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental. Esta lei em seu art.6º,considera os seguintes tipos de internação: I -internação voluntária: aquela que se dá com o consentimento do usuário II -internação involuntária: aquela que se dá sem o consentimento do usuário e a pedido de terceiro III -internação compulsória: aquela determinada pela Justiça Art. 8º § 1o A internação psiquiátrica involuntária deverá, no prazo de setenta e duas horas, ser comunicada ao Ministério Público Estadual pelo responsável técnico do estabelecimento no qual tenha ocorrido, devendo esse mesmo procedimento ser adotado quando da respectiva alta. § 2o O término da internação involuntária dar-se-á por solicitação escrita do familiar, ou responsável legal, ou quando estabelecido pelo especialista responsável pelo tratamento. § 2o O tratamento em regime de internação será estruturado de forma a oferecer assistência integral à pessoa portadora de transtornos mentais, incluindo serviços médicos, de assistência social, psicológicos, ocupacionais, de lazer, e outros. § 3o É vedada a internação de pacientes portadores de transtornos mentais em instituições com características asilares. Art. 10. Evasão, transferência, acidente, intercorrência clínica grave e falecimento serão comunicados pela direção do estabelecimento de saúde mental aos familiares, ou ao representante legal do paciente, bem como à autoridade sanitária responsável, no prazo máximo de vinte e quatro horas da data da ocorrência. QUAIS OS NOVOS SERVIÇOS EM SAÚDE MENTAL SUBSTITUTOS AOS HOSPITAIS PSIQUIÁTRICOS? • Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) • Serviços Residenciais terapêuticos • Leitos em hospitalares gerais • Programa de Volta para a Casa • Consultório na Rua • Centros de Convivência QUAIS OS OBJETIVOS NOS NOVOS SERVIÇOS EM SAÚDE MENTAL? Integração/articulação entre serviço e comunidade (a família é parte integrante da comunidade) Diminuir as dificuldades enfrentadas pela família na convivência com o transtorno mental Reduzir os riscos de recaída dos usuários Prestar informação clara e precisa sobre a doença Ensinar habilidades de manejo e amenização dos sintomas Ser um ponto de apoio dos familiares DESAFIOS DA REFORMA PSIQUIÁTRICA • Desenvolvimento desigual das ações propostas pela Reforma Psiquiátrica nas diferentes regiões brasileiras, mas já fica evidente um modelo de atenção centrado cada vez menos no hospital psiquiátrico. • Os serviços substitutivos cresceram na última década, apesar de ainda serem insuficientes para atenderem à demanda existente. CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) O que é um CAPS? É um lugar de referência e tratamento para pessoas que sofrem com transtornos mentais, psicoses, neuroses graves e demais quadros, cuja severidade e/ou persistência justifiquem sua permanência num dispositivo de cuidado intensivo, comunitário, personalizado e promotor de vida. O objetivo dos CAPS é oferecer atendimento à população de sua área de abrangência, realizando o acompanhamento clínico e a reinserção social dos usuários pelo acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários. É um serviço de atendimento de saúde mental criado para ser substitutivo às internações em hospitais psiquiátricos. Os CAPS visam: • prestar atendimento em regime de atenção diária; • gerenciar os projetos terapêuticos oferecendo cuidado clínico eficiente e personalizado; • promover a inserção social dos usuários através de ações intersetoriais que envolvam educação, trabalho, esporte, cultura e lazer, montando estratégias conjuntas de enfrentamento dos problemas. Os CAPS também têm a responsabilidade de organizar a rede de serviços de saúde mental de seu território; • dar suporte e supervisionar a atenção à saúde mental na rede básica • regular a porta de entrada da rede de assistência em saúde mental de sua área; • coordenar junto com o gestor local as atividades de supervisão de unidades hospitalares psiquiátricas que atuem no seu território; • manter atualizada a listagem dos pacientes de sua região que utilizam medicamentos para a saúde mental. Os CAPS devem contar com espaço próprio e adequadamente preparado para atender à sua demanda específica, sendo capazes de oferecer um ambiente estruturado. Deverão contar, no mínimo, com os seguintes recursos físicos: • consultórios para atividades individuais (consultas, entrevistas, terapias); • salas para atividades grupais; • espaço de convivência; • oficinas; • refeitório (o CAPS deve ter capacidade para oferecer refeições de acordo com o tempo de permanência de cada paciente na unidade); • sanitários; • área externa para oficinas, recreação e esportes. As práticas realizadas nos CAPS se caracterizam por ocorrerem em ambiente aberto, acolhedor e inserido na cidade, no bairro. Os projetos desses serviços, muitas vezes, ultrapassam a própria estrutura física, em busca da rede de suporte social, potencializadora de suas ações, preocupando-se com o sujeito e sua singularidade,sua história, sua cultura e sua vida cotidiana. Quem pode ser atendido no CAPS? As pessoas atendidas nos CAPS são aquelas que apresentam intenso sofrimento psíquico, que lhes impossibilita de viver e realizar seus projetos de vida. São, preferencialmente, pessoas com transtornos mentais severos e/ou persistentes, ou seja, pessoas com grave comprometimento psíquico, incluindo os transtornos relacionados às substâncias psicoativas (álcool e outras drogas) e também crianças e adolescentes com transtornos mentais. Os usuários dos CAPS podem ter tido uma longa história de internações psiquiátricas, podem nunca ter sido internados ou podem já ter sido atendidos em outros serviços de saúde (ambulatório, hospital-dia, consultórios etc.). O importante é que essas pessoas saibam que podem ser atendidas e saibam o que são e o que fazem os CAPS. Quais os tipos de CAPS? Os CAPS podem constituir-se em diversas modalidades: Capacidade de atendimento Complexidade do atendimento Tamanho da comunidade que deve atender Clientela atendida Existem diferentes tipos de CAPS: CAPS I CAPS II CAPS III CAPSi CAPSad. CAPSad III Cada usuário de CAPS deve ter um projeto terapêutico individual, isto é, um conjunto de atendimentos que respeite a sua particularidade, que personalize o atendimento de cada pessoa na unidade e fora dela e proponha atividades durante a permanência diária no serviço, segundo suas necessidades. A depender do projeto terapêutico do usuário do serviço, o CAPS poderá oferecer, conforme as determinações da Portaria GM 336/02: • Atendimento Intensivo: trata-se de atendimento diário, oferecido quando a pessoa se encontra com grave sofrimento psíquico, em situação de crise ou dificuldades intensas no convívio social e familiar, precisando de atenção contínua. Esse atendimento pode ser domiciliar, se necessário; • Atendimento Semi-Intensivo: nessa modalidade de atendimento, o usuário pode ser atendido até 12 dias no mês. Essa modalidade é oferecida quando o sofrimento e a desestruturação psíquica da pessoa diminuíram, melhorando as possibilidades de relacionamento, mas a pessoa ainda necessita de atenção direta da equipe para se estruturar e recuperar sua autonomia. Esse atendimento pode ser domiciliar, se necessário; • Atendimento Não-Intensivo: oferecido quando a pessoa não precisa de suporte contínuo da equipe para viver em seu território e realizar suas atividades na família e/ou no trabalho, podendo ser atendido até três dias no mês. Esse atendimento também pode ser domiciliar. CAPS I • São de menor porte • Têm equipe mínima de 9 profissionais (médio e superior) • Clientela: adultos com transtornos mentais severos e persistentes, porém estáveis. • Têm capacidade para o acompanhamento de cerca de 240 pessoas por mês. CAPS II • São serviços de médio porte • A clientela típica destes serviços é de adultos com transtornos mentais severos e persistentes. • Capacidade para o acompanhamento de cerca de 360 pessoas por mês. CAPS III • Serviços de maior porte da rede CAPS • Clientela: adultos com transtornos mentais severos e persistentes (instáveis) • De maior complexidade, funcionam durante 24 horas em todos os dias da semana e em feriados. • Capacidade para realizar o acompanhamento de cerca de 450 pessoas por mês. • No máximo cinco leitos, quando necessário, realiza acolhimento noturno (internações curtas, de algumas horas a no máximo 7 dias). CAPS i • Especializados no atendimento diário de crianças e adolescentes com transtornos mentais e os que fazem uso de álcool e outras drogas. • Têm capacidade para realizar o acompanhamento de cerca de 180 crianças e adolescentes por mês Em geral, as atividades desenvolvidas nos CAPSi são as mesmas oferecidas nos CAPS, como atendimento individual, atendimento grupal, atendimento familiar, visitas domiciliares, atividades de inserção social, oficinas terapêuticas, atividades socioculturais e esportivas, atividades externas. Elas devem ser dirigidas para a faixa etária a quem se destina atender. Assim, por exemplo, as atividades de inserção social devem privilegiar aquelas relacionadas à escola. CAPS ad • Atendimento diário de pacientes com transtornos decorrentes do uso e dependência de álcool e outras drogas. • Funcionam durante os cinco dias úteis da semana, e têm capacidade para cerca de 240 pessoas por mês. Atividades: • Atendimento individual (medicamentoso, psicoterápico, de orientação, entre outros) • Atendimentos em grupo ou oficinas terapêuticas • Visitas domiciliares • Tratamento para a desintoxicação ambulatorial de pacientes que necessitem desse tipo de cuidados e que não demandem por atenção clínica hospitalar. - Política de Redução de Danos CAPS AD III (PORTARIA Nº 130, DE 26 DE JANEIRO DE 2012) • Novo componente da Rede de Atenção Psicossocial • Serviço destinado ao cuidado de pessoas que fazem uso de álcool e outras drogas; • Funciona 24 horas, nos 7 dias da semana, inclusive finais de semana e feriados. • Poderá se destinar a atender adultos ou crianças e adolescentes • Indicar o Hospital Geral de referência para o CAPS III regional, aos usuários que apresentem quadros de abstinência, intoxicação aguda ou outros agravos clínicos relacionados ao consumo de álcool, crack e outras drogas. • Funcionar de forma articulada com a Rede de Atenção às Urgências e emergências, em especial junto ao SAMU. • Ofertar cuidados às família de usuários, • Regular o acesso aos leitos de acolhimento noturno, com base em critérios clínicos: em especial desintoxicação, e/ou em critérios psicossociais, necessidade de observação, repouso e proteção, manejo de conflito. • Produzir, em conjunto com o usuário e seus familiares, um Projeto Terapêutico Singular que acompanhe o usuário nos contextos cotidianos, promovendo e ampliando as possibilidades de vida e mediando suas relações sociais Quais atividades são realizadas no CAPS ad III? Atendimento individual, atendimento psicoterápico e de orientação, Oferta de medicação assistida e dispensada; Atendimento em grupos para psicoterapia, atividades de suporte social, Oficinas terapêuticas executadas por profissional; Visitas e atendimentos domiciliares Atendimento à família, individual e em grupo; Atividades de reabilitação psicossocial, tais como: construção da autonomia, alfabetização ou reinserção escolar, acesso à vida cultural, autocuidado, manejo de medicação, inclusão pelo trabalho Fornecimento de refeição diária aos pacientes assistidos A permanência de um mesmo paciente no acolhimento noturno do CAPS AD III fica limitada a 14 dias, no período de 30 (trinta) dias. Caso seja necessária permanência no acolhimento noturno por período superior a 14 (catorze) dias, o usuário será encaminhado a uma Unidade de Acolhimento. Quais pessoas trabalham no CAPS? Os profissionais que trabalham nos CAPS possuem diversas formações e integram uma equipe multiprofissional. É um grupo de diferentes técnicos de nível superior e de nível médio. Os profissionais de nível superior são: enfermeiros, médicos, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, pedagogos, professores de educação física ou outros necessários para as atividades oferecidas nos CAPS. Os profissionais de nível médio podem ser: técnicos e/ou auxiliares de enfermagem, técnicos administrativos, educadores e artesãos. Os CAPS contam ainda com equipes de limpeza e de cozinha. Todos os CAPS devem obedecer à exigência da diversidade profissional e cada tipo de CAPS (CAPS I, CAPS II, CAPS III, CAPSi e CAPSad) tem suas próprias características quantoaos tipos e à quantidade de profissionais. Tipos de profissionais que trabalham nos CAPS – Equipes mínimas CAPS I • 1 médico psiquiatra ou médico com formação em saúde mental • 1 enfermeiro • 3 profissionais de nível superior de outras categorias profissionais: psicólogo, assistente social, terapeuta ocupacional, pedagogo ou outro profissional necessário ao projeto terapêutico • 4 profissionais de nível médio: técnico e/ou auxiliar de enfermagem, técnico administrativo, técnico educacional e artesão CAPS II • 1 médico psiquiatra • 1 enfermeiro com formação em saúde mental • 4 profissionais de nível superior de outras categorias profissionais: psicólogo, assistente social, terapeuta ocupacional, pedagogo, professor de educação física ou outro profissional necessário ao projeto terapêutico • 6 profissionais de nível médio: técnico e/ou auxiliar de enfermagem, técnico administrativo, técnico educacional e artesão CAPS III • 2 médicos psiquiatras • 1 enfermeiro com formação em saúde mental • 5 profissionais de nível superior de outras categorias profissionais: psicólogo, assistente social, terapeuta ocupacional, pedagogo ou outro profissional necessário de nível superior • 8 profissionais de nível médio: técnico e/ou auxiliar de enfermagem, técnico administrativo, técnico educacional e artesão CAPSi • 1 médico psiquiatra, ou neurologista ou pediatra com formação em saúde mental • 1 enfermeiro • 4 profissionais de nível superior entre as seguintes categorias profissionais: psicólogo, assistente social, enfermeiro, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, pedagogo ou outro profissional necessário ao projeto terapêutico • 5 profissionais de nível médio: técnico e/ou auxiliar de enfermagem, técnico administrativo, técnico educacional e artesão CAPSad • 1 médico psiquiatra • 1 enfermeiro com formação em saúde mental • 1 médico clínico, responsável pela triagem, avaliação e acompanhamento das intercorrências clínicas • 4 profissionais de nível superior entre as seguintes categorias profissionais: psicólogo, assistente social, enfermeiro, terapeuta ocupacional, pedagogo ou outro profissional necessário ao projeto terapêutico • 6 profissionais de nível médio: técnico e/ou auxiliar de enfermagem, técnico administrativo, técnico educacional e artesão Serviço Residencial Terapêutico (SRT) O Serviço Residencial Terapêutico (SRT) – ou residência terapêutica ou simplesmente "moradia" – são casas localizadas no espaço urbano, constituídas para responder às necessidades de moradia de pessoas portadoras de transtornos mentais graves, institucionalizadas ou não. O número de usuários pode variar desde 1 indivíduo até um pequeno grupo de no máximo 8 pessoas, que deverão contar sempre com suporte profissional sensível às demandas e necessidades de cada um. O suporte de caráter interdisciplinar (seja o CAPS de referência, seja uma equipe da atenção básica, sejam outros profissionais) deverá considerar a singularidade de cada um dos moradores, e não apenas projetos e ações baseadas no coletivo de moradores. O acompanhamento a um morador deve prosseguir, mesmo que ele mude de endereço ou eventualmente seja hospitalizado. O processo de reabilitação psicossocial deve buscar de modo especial a inserção do usuário na rede de serviços, organizações e relações sociais da comunidade. Ou seja, a inserção em um SRT é o início de longo processo de reabilitação que deverá buscar a progressiva inclusão social do morador. Programa “De Volta para Casa” Este programa atende ao disposto na Lei n° 10.216, de 06.04.2001, que trata da proteção e dos direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais. Além disso, redireciona o modelo assistencial em saúde mental, conforme Artigo 5° da referida Lei, que determina que os pacientes há longo tempo hospitalizados, ou para os quais se caracterize situação de grave dependência institucional, sejam objeto de política específica de alta planejada e reabilitação psicossocial assistida. O objetivo é a INCLUSÃO SOCIAL de pacientes e a mudança do modelo assistencial em saúde mental, com ampliação do atendimento extra-hospitalar e comunitário. Qual a importância? O programa irá atender a um segmento da população brasileira praticamente desprovida de meios de amparo social e dos benefícios assegurados na legislação. O auxilio reabilitação psicossocial O pagamento mensal do auxílio é realizado diretamente ao próprio beneficiário, no valor de R$ 320,00, por um período de um ano, podendo ser renovado caso ainda o necessite para seu processo de reabilitação psicossocial, de acordo com avaliação de equipe de saúde local que o acompanha. Quem pode se beneficiar? Pessoas acometidas de transtornos mentais tiveram longo período de internação psiquiátrica (igual ou superior a dois anos) em hospitais cadastrados no SUS, quando a situação clínica não requer a permanência em ambiente hospitalar e pessoas inseridas em moradias como os serviços residenciais terapêuticos. Condições para inclusão do beneficiário no programa Será necessário que a pessoa esteja de alta hospitalar e morando em residência terapêutica, ou com suas famílias ou formas alternativas de moradia; Paciente esteja sendo acompanhado por um CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) ou outro serviço de saúde mental. Unidades Psiquiátricas em Hospitais Gerais A Política Nacional de Saúde Mental preconiza que a internação, quando se fizer necessária, nas situações de agravamento, ocorra preferencialmente nos Hospitais Gerais. O descredenciamento de Hospitais Psiquiátricos do SUS, vem ocorrendo gradativamente, em parceria com Estados e Municípios, para implantação da rede substitutiva. A internação deve ser de curta duração até a estabilidade clínica. Principais sintomas que levam a internação nas Unidades Psiquiátricas em Hospitais Gerais • Agitação ou agressividade • Transtornos ansiosos • Tentativa de suicídio • Alcoolismo • Transtornos do humor severos QUAIS AS VANTAGENS DAS UPHG? QUAIS AS DESVANTAGENS DAS UPHG? • Diminuição do estigma da doença mental • Mais recursos diagnósticos por ter contato com outras clínicas e recursos terapêuticos • Diminuição da exclusão social, evitando isolamento. • Menor tempo de internação • Reinserção social mais fácil • Arquitetura que impossibilita acesso livre • Falta de atividades sócio terapêuticas • Falta de estrutura e de equipe capacitada para recebimento de clientes em casos agudos • UPHG exclui paciente mais graves Consultório na Rua PORTARIA Nº 122 DE 25 DE JANEIRO 2011 As equipes dos Consultórios na rua (eCR) integram o componente de atenção básica da Rede de Atenção Psicossocial e desenvolvem ações de Atenção Básica, devendo seguir os fundamentos e as diretrizes definidos na Politica Nacional de Atenção Básica. As eCR são multiprofissionais e lidam com os diferentes problemas e necessidades de saúde da população em situação de rua. As atividades incluirão a busca ativa e o cuidado aos usuários de álcool, crack e outras drogas. As eCR desempenharão suas atividades in loco, de forma itinerante, desenvolvendo ações compartilhadas e integradas às Unidades Básicas de Saúde (UBS) e, quando necessário, também com as equipes dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), dos serviços de Urgência e Emergência e de outros pontos de atenção, de acordo com a necessidade do usuário. As eCR poderão ser compostas pelos seguintes profissionais de saúde: I - enfermeiro; II - psicólogo; III - assistente social; IV - terapeuta ocupacional; V - médico; VI - agente social; VII - técnico ou auxiliar de enfermagem; e VIII - técnico em saúde bucal. • Consultório de Rua - Equipe itinerante com foco no atendimento a Saúde Mental Saúde Mental • Proposta de Estratégia de Saúde da Família com equipes específicaspara atenção integral à Saúde da população em situação de rua. ESF sem domicilio • Consultório na Rua Equipe itinerante para Atenção Integral à Saúde da população em Situação de Rua Atenção Básica ; Centro de Convivência e Cultura Os Centros de Convivência e Cultura são dispositivos públicos componentes da rede de atenção substitutiva em saúde mental, onde são oferecidos às pessoas com transtornos mentais espaços de sociabilidade, produção e intervenção na cidade. Através da construção de espaços de convívio e sustentação das diferenças na comunidade e em variados espaços da cidade, facilitam a construção de laços sociais e inclusão da pessoa com transtornos mentais. A clientela dos Centros de Convivência e Cultura é composta, sobretudo, de pessoas com transtornos mentais severos e persistentes. As oficinas e atividades coletivas são o eixo dos Centros de Convivência e Cultura, facilitando o convívio, a troca e a construção de laços sociais. A exposição, troca ou venda dos produtos produzidos nas oficinas é eventual e poderá ser estimulada, ocupando espaços comerciais ou culturais relevantes na comunidade e na cidade. As equipes dos Centros de Convivência e Cultura são integradas por oficineiros, artistas plásticos, músicos, atores, artesãos, auxiliares administrativos e de limpeza. A gerência do serviço poderá estar a cargo de profissional de nível superior do campo da saúde. A equipe mínima do Centro de Convivência e Cultura deverá estar assim constituída: 1 gerente e 3 oficineiros (nível médio e superior). A articulação dos Centros de Convivência e Cultura com os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Centros de Saúde, Serviços Residenciais Terapêuticos, Programa de Saúde da Família e outros dispositivos de saúde, da rede de assistência social, e de outros campos como os do trabalho, cultura e educação, é fundamental para a reinserção social dos usuários e para o fortalecimento dos laços comunitários; Os Centros de Convivência e Cultura não poderão dispensar medicação ou prestar atendimento individual ou em grupo (psiquiátrico ou psicoterápico). Os Centros de Convivência não são equipamentos assistenciais, mas espaços de articulação com a vida cotidiana; Pessoas com transtornos mentais decorrentes do uso de álcool e outras drogas, em tratamento na rede substitutiva, também poderão ser acolhidas pelos Centros de Convivência e Cultura. Os Centros de Convivência e Cultura devem ser estimulados a realizar parcerias com associações, órgãos públicos, fundações, ONG, empresas ou outras entidades, para captação de recursos financeiros ou equipamentos, realização de oficinas, troca de informações ou saberes, entre outras ações; Os Centros de Convivência e Cultura são equipamentos estratégicos para a inclusão social das pessoas com transtornos mentais, sendo recomendados para os municípios com mais de 200.000 habitantes. Hospitais- Dia (HD) Serviços de internação parcial oferecem uma gama tão variada de possibilidades que se chegou a sugerir que o único ponto em comum seria o período de internação: sempre parcial. Desde que surgiram, os hospitais-dia (HD) têm despertado polêmicas quanto à possibilidade de vir a substituir os hospitais psiquiátricos quanto à eficiência para reabilitar pacientes crônicos, suas indicações, contraindicações etc Embora os HD existam no Brasil desde a década de 60, foi apenas desde 1992 que passaram a figurar oficialmente entre as possibilidades de atendimento em saúde mental, sendo então estabelecidas diretrizes para o credenciamento dos serviços e o ressarcimento das internações por meio de portaria do Ministério da Saúde. O estímulo proporcionado por tal fato pode ser verificado no expressivo aumento no número de leitos em HD: de 330 leitos, em 1995, para 2.013, em 1999, segundo dados do Ministério da Saúde. Não há, contudo, informações sobre a população atendida nesses “leitos-dia” ou mesmo sobre suas condições de funcionamento. Os poucos dados disponíveis são o resultado de levantamentos retrospectivos em prontuários, com todas as limitações que decorrem desse procedimento. O Hospital-Dia representa um recurso intermediário entre a internação e o ambulatório, que desenvolve programas de atenção de cuidados intensivos por equipe multiprofissional, visando substituir a internação integral. A proposta técnica deve abranger um conjunto diversificado de atividades desenvolvidas em até 5 dias da semana (de 2ª feira a 6ª feira), com uma carga horária de 8 horas diárias para cada paciente. O hospital-dia deve situar-se em área específica, independente da estrutura hospitalar, contando com salas para trabalho em grupo, sala de refeições, área externa para atividades ao ar livre e leitos para repouso eventual. Recomenda-se que o serviço de hospital-dia seja regionalizado, atendendo a uma população de uma área geográfica definida, facilitando o acesso do paciente à unidade assistencial. Deverá estar integrada a uma rede descentralizada e hierarquizada de cuidados de saúde mental. PSICOPATOLOGIAS A Psicopatologia é definida como um ramo da ciência que trata da natureza essencial do transtorno mental- suas causas as mudanças estruturais e funcionais associadas a ela e suas formas de manifestação. Em um conceito mais amplo pode ser definido com um conjunto de conhecimentos referentes ao adoecimento mental do ser humano. Ao se estudar e praticar a psicopatologia, não se julga moralmente aquilo e se estuda; busca-se apenas observar, identificar e compreender os diversos elementos do transtorno mental. Ou seja, a Psicopatologia como ciência dos transtornos mentais requer um debate cientifico e público constante de todos os seus postulados, noções e verdades encontradas. [...] diante de uma obra de arte, experimentamos uma verdade inacessível por qualquer outra via; é isso o que constitui o significado filosófico da arte. Da mesma forma que a experiência da filosofia, também a experiência da arte incita a consciência cientifica a reconhecer seus limites. Transtornos do Pensamento Esquizofrenia É uma doença mental que se caracteriza por uma desorganização ampla dos processos mentais. É um quadro complexo apresentando sinais e sintomas na área do pensamento, percepção e emoções, causando marcados prejuízos ocupacionais, na vida de relações interpessoais e familiares. Nesse quadro a pessoa perde o sentido de realidade ficando incapaz de distinguir a experiência real da imaginária. Essa doença se manifesta em crises agudas com sintomatologia intensa, intercaladas com períodos de remissão, quando há um abrandamento de sintomas, restando alguns deles em menor intensidade. É uma doença do cérebro com manifestações psíquicas, que começa no final da adolescência ou início da idade adulta antes dos 40 anos. O curso desta doença é sempre crônico com marcada tendência à deterioração da personalidade do indivíduo. “Sempre resta algo que transcende a psicopatologia e mesmo a ciência, permanecendo no domínio do mistério.” Até hoje não se conhece nenhum fator específico causador da Esquizofrenia. Há, no entanto, evidências de que seria decorrente de uma combinação de fatores biológicos, genéticos e ambientais que contribuiriam em diferentes graus para o aparecimento e desenvolvimento da doença. Sabe-se que filhos de indivíduos esquizofrênicos têm uma chance de aproximadamente 10% de desenvolver a doença, enquanto na população geral o risco de desenvolver a doença é de aproximadamente 1%. Os quadros de esquizofrenia podem variar de paciente para paciente, sendo uma combinação em diferentes graus dos sintomas abaixo: „ Delírios: o indivíduo crê em ideias falsas, irracionais ou sem lógica. Em geral são temas de perseguição, grandeza ou místicos. Alucinações: O paciente percebe estímulos que em realidade nãoexistem, como ouvir vozes ou pensamentos, enxergar pessoas ou vultos, podendo ser bastante assustador para o paciente. Discurso e pensamento desorganizado: O paciente esquizofrênico fala de maneira ilógica e desconexa, demonstrando uma incapacidade de organizar o pensamento em uma sequência lógica. Expressão das emoções: O paciente esquizofrênico tem um "afeto inadequado ou embotado", ou seja, uma dificuldade de demonstrar a emoção que está sentindo. Não consegue demonstrar se está alegre ou triste, por exemplo, tendo dificuldade de modular o afeto de acordo com o contexto, mostrando-se indiferente a diversas situações do cotidiano. Alterações de comportamento: Os pacientes podem ser impulsivos, agitados ou retraídos, muitas vezes apresentando risco de suicídio ou agressão, além de exposição moral como, por exemplo, falar sozinho em voz alta ou andar sem roupa em público. Tipos de Alucinações Alucinações auditivas Como as mais frequentes, podem aparecer sob forma de sons inespecíficos, tais como chiados, zumbidos, ruídos de sinos, roncos, assobios, ou vozes. Normalmente, a alucinação auditiva é recebida pelo paciente com muita ansiedade e contrariedade pois, na maioria das vezes, o conteúdo de tais vozes é desabonador, acusatório, infame e caluniador. Quando elas ditam antecipadamente as atitudes do paciente falamos em sonorização do pensamento, como se ele pensasse em voz alta ou como se alguma voz estivesse permanentemente comentando todos seus atos. São percepções visuais, como vimos, de objetos que não existem, tão claras e intensas que dificilmente são removíveis pela argumentação lógica. Mesmo o paciente referindo ter visto apenas vultos, tais vultos são muito fielmente Alucinações visuais percebidos, portanto são reais para a pessoa que os percebe. O objeto alucinado pode não ter uma forma específica: clarões, chamas, raios, vultos, sombras, etc, ou têm formas definidas, tais como pessoas, monstros, demônios, animais, santos, anjos, bruxas. Alucinações táteis O paciente sente-se picado por pequenos animais, insetos esquisitos, vermes que caminham sobre a pele, pancadas, alfinetadas, queimaduras, estranhos carrapatos que penetraram em algum orifício fisiológico, etc. Não são raros os casos de alucinação tátil que se caracteriza pela sensação de ter-se as pernas puxadas à noite ou estrangulamento, sufocação ou opressão antes de conciliar o sono. Alucinações olfativas e gustativas Normalmente, as Alucinações Olfativas e Gustativas estão associadas e são raras. Estados delirantes cujo tema diz respeito à putrefação, o gosto e os odores podem ser muito desagradáveis e são percebidos, como é típico de todas alucinações, sem que exista o objeto correspondente ao gosto e ao cheiro. Tipos de Delírios Existem cinco tipos principais de transtornos delirantes persistentes, muitos dos quais já têm termos consagrados até no uso leigo ou vulgar: Delírio erotomaníaco Neste caso o delírio habitualmente se refere ao amor romântico idealizado e a união espiritual, mais do que a atração sexual. Acreditam, frequentemente, ser amados por pessoa do sexo oposto que ocupa uma posição de superioridade (ídolos, artistas, autoridades, etc.) mas, pode também ser uma pessoa normal e estranha. Neste subtipo a pessoa é convencida, Delírio de grandeza pelo seu delírio, possuir algum grau de parentesco ou ligação com personalidades importantes ou, quando não, possuir algum grande e irreconhecível talento especial, alguma descoberta importante ou algum dom magistral. Outras vezes acha-se possuidor de grande fortuna. Delírio de ciúme Neste tipo a pessoa está convencida, sem motivo justo ou evidente, da infidelidade de sua esposa ou amante. Pequenos pedaços de "evidência", como roupas desarranjadas ou manchas nos lençóis podem ser coletados e utilizados para justificar o delírio. O paciente pode tomar medidas extremas para evitar que o companheiro(a) proporcione a infidelidade imaginada, como por exemplo, exigindo uma permanência no lar de forma tirana ou obrigando que nunca saia de casa desacompanhado(a). Delírio persecutório É o tipo mais comum entre os paranoicos ou delirantes crônicos. O delírio costuma envolver a crença de estar sendo vítima de conspiração, traição, espionagem, perseguição, envenenamento ou intoxicação com drogas ou estar sendo alvo de comentários maliciosos. Delírio somático Os mais comuns dizem respeito à convicção de que a pessoa emite odores fétidos de sua pele, boca, reto ou vagina, de que a pessoa está infestada por insetos na pele ou dentro dela, esdrúxulos parasitas internos, deformações de certas partes do corpo ou órgãos que não funcionam. Tratamento As medicações antipsicóticas ou neurolépticos são o tratamento de escolha para a esquizofrenia. Elas atuam diminuindo os sintomas (alucinações e delírios), procurando restabelecer o contato do paciente com a realidade; entretanto, não restabelecem completamente o paciente. As medicações antipsicóticas controlam as crises e ajudam a evitar uma evolução mais desfavorável da doença. Em geral, as drogas antipsicóticas apresentam efeitos colaterais que podem ser bem controlados. Em crises especialmente graves, ou em que não houve resposta às medicações, pode se fazer uso da eletroconvulsoterapia (ECT). Esse método é bastante seguro e eficaz para melhora dos sintomas, sendo realizado com anestesia. Uma outra possibilidade é usar antipsicóticos mais modernos chamados de atípicos ou de última geração. As abordagens psicosociais, como acompanhamento psicoterápico, terapia ocupacional e familiar são também muito importantes para diminuir as recaídas e promover o ajustamento social dos portadores da doença. Cuidados de Enfermagem - Estimular e se necessário, auxiliar o paciente na realização das atividades de autocuidado (banho, vestimentas e higiene intima). - Falar com o cliente em seu tom de voz habitual e não infantilizar a mensagem - Falar calmamente e fornecer maior tempo para que o outro responda. - Estimular a participação em atividades de grupo, respeitando as condições do paciente. - Valorizar os esforços para mudanças de comportamento, estimulando o fortalecimento da autoestima. - Incentivar a verbalização de dúvidas e sentimentos. - Monitorar a administração de medicamentos. -Observar indícios verbais e não verbais de delírios e alucinações. Transtornos do Humor Transtorno Bipolar O transtorno afetivo bipolar é um desarranjo do humor por um longo período de tempo, que ocorre de forma contínua, grave e pode progredir com características psicóticas. Tal doença está relacionada com grandes taxas de morbidade e danos fisiológicos, não possuindo cura e gerando grandes prejuízos na vida do paciente. Portanto diminuindo a qualidade e a funcionalidade da mesma. Os danos na inferência de estados mentais expostos por bipolares, demonstram comprometer de maneira significativa as suas capacidades de se relacionarem de uma forma saudável com a família, empregadores e outras pessoas de sua convivência, o que gera tensão e agravo da morbidade de sua condição decorrente do aumento de recaídas e recidivas de episódios de humor. Estudos demonstram que cerca de 1% da população mundial sofre com transtorno afetivo bipolar. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) presume-se que o transtorno afetivo bipolar está entre os maiores transtornos que incapacitam. Pesquisas feitas no Brasil indicam que cerca de 18% da população pode vir a ter algum transtorno afetivo em algum períododa vida. Estima-se que 5% da população brasileira apresenta quadro de depressão. Os estudos da epidemiologia do transtorno afetivo bipolar indicam que a dominância da doença é igual entre mulheres e homens. Os episódios são caracterizados por mania, hipomania, depressão. Pode haver oscilações de humor, bruscas ou não. Caracterizando os Episódios Episódios Depressivos Humor deprimido, tristeza profunda, apatia, desinteresse pelas atividades que antes davam prazer, isolamento social, alterações do sono e do apetite, redução significativa da libido, dificuldade de concentração, cansaço, sentimentos recorrentes de inutilidade, culpa excessiva, frustração e falta de sentido para a vida, esquecimentos, ideias suicidas. Estado de euforia exuberante, com TB tipo I: Ocorrência de episódios maníacos (sintomas de mania) e depressivos; TB tipo II: Ocorrência de episódios hipomaníacos e depressivos; Episódios Maníacos valorização da autoestima e da autoconfiança, pouca necessidade de sono, agitação psicomotora, descontrole ao coordenar as ideias, desvio da atenção, compulsão para falar, aumento da libido, irritabilidade e impaciência crescentes, comportamento agressivo, mania de grandeza. em casos mais graves, delírios e alucinações. Episódios Hipomaníacos Os sintomas são semelhantes aos da mania, porém bem mais leves e com menor repercussão sobre as atividades e relacionamentos do paciente, que se mostra mais eufórico, mais falante, sociável e ativo do que o habitual. Em geral, a crise é breve, dura apenas uns poucos dias. Tratamento: Fármacos estabilizadores do humor: lítio, anticonvulsivantes, antidepressivos. Terapias complementares: cognitivo-comportamental, psicossociais. Programa e acompanhamento dirigido a pessoa com TB, à sua família, amigos. Cuidados de Enfermagem - Estimular e se necessário, auxiliar o paciente na realização das atividades de autocuidado (banho, vestimentas e higiene intima). - Falar com o cliente em um tom de voz mais baixo, porém audível. - Falar calmamente em frases curtas e simples - Encorajar o reconhecimento de comportamentos manipuladores - Ser consistente na abordagem -Estabelecer regras de grupo que desencorajem o comportamento inadequado - Incentivar o autocontrole do cliente - Avaliar a ideação suicida quanto aos fatores e risco, planos e possibilidade de execução. - Instruir sobre a importância da adesão ao tratamento medicamentoso com suas finalidades ações terapêuticas e possíveis efeitos colaterais. Transtornos de Ansiedade Ansiedade normal versus Ansiedade patológica A ansiedade é uma sensação comum a qualquer ser humano. O sentimento presente é único, difuso, vago, desagradável e complexo pelas inúmeras alterações fisiológicas presentes e faz parte do cotidiano. A ansiedade, diferentemente do medo, é gerada por um evento novo e desconhecido do individuo. As respostas fisiológicas são moduladas no sistema nervoso autônomo, com dois tipos de respostas: as simpáticas e as parassimpáticas. A reação simpática prepara o corpo com uma reação de luta ou fuga. Ao perceber a ameaça, há uma liberação de epinefrina e a respiração torna-se mais profunda, o coração bate mais rapidamente e a pressão arterial sobe, o sangue é drenado do estomago e intestinos e direcionado ao coração ao sistema nervoso central e aos músculos. Altos níveis de ansiedade afetam a coordenação, os movimentos involuntários e a capacidade de resposta. As respostas parassimpáticas são de conservação. Para a ansiedade ser considerada patológica, deve-se avaliar a intensidade, a duração, a frequência e o prejuízo gerado na vida da pessoa. É patológico quando: A resposta e muito desproporcional em relação ao risco e a gravidade da ameaça. A resposta continua além da existência de um perigo ou ameaça potencial. O funcionamento intelectual, social ou ocupacional e alterado. O indivíduo apresenta um efeito psicossomático (ex. colite, dermatite) Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) A prevalência varia de 3 a 8%. Cerca de 50% dos portadores de transtornos de ansiedade generalizada possuem comorbidade psiquiátrica. A relação de mulheres para homens é de 2 para 1 e o Para cada 1000 indivíduos cerca de 1 a 3 são afetados pelo Transtorno de Pânico. inicio da sintomatologia se dá geralmente aos 20 anos. O portador apresenta intensa ansiedade, com interferência em diversos aspectos da vida, tremores, inquietação, falta de ar, palpitações, queixas abdominais, sudorese excessiva e humor irritadiço. O transtorno de ansiedade generalizada surge quando a preocupação excessiva com o cotidiano é a característica central. A preocupação invade diversos aspectos da vida do individuo, como saúde, filhos, futuro, finanças pessoais, trabalho, entre outros. A doença tem curso crônico e remissão espontânea em aproximadamente um terço dos portadores, com elevada comorbidade com outros transtornos mentais. Sintomas mais comuns: Instabilidade, medo, sudorese, boca seca, insônia, falta de atenção. Trata-se de um tipo de ansiedade persistente, que mantém-se ao longo de um mês, por exemplo. Preocupação crônica, irreal, excessiva em relação aos eventos e problemas do dia-a-dia. Transtorno de Pânico O Transtorno do Pânico (TP) é uma entidade clínica recente e era antigamente chamada de neurastenia cardiocirculatória, embora a primeira descrição sintomatológica tenha sido feita por Freud, que a classificou como neurose ansiosa. No distúrbio que de flagra a "crise de pânico" o agente externo frequentemente encontra-se ausente e a ameaça está dentro do próprio paciente (endógena). Ambas as desordens vêm acompanhadas de grande estímulo do sistema nervoso autônomo caracterizados por boca seca, aceleração dos batimentos cardíacos, palpitações, palidez, sudorese e falta de ar. Este conjunto de manifestações qualifica o que se denomina "reação de alarme" adaptando o organismo às situações de fuga, luta ou perigo iminente. Esses achados constituem os elementos básicos para que se cogite na possibilidade de estarmos diante de um paciente portador de TP. A grande maioria dos pacientes, devido a predominância dos sintomas ligados ao aparelho cardiovascular, são atendidos em prontos-socorros cardiológicos por clínicos e/ou cardiologistas e medicados com fármacos que não são capazes de bloquear as "crises ou ataques de pânico". A medida as crises se sucedem, sem que os pacientes observem melhora, os leva a insegurança e ao desespero. São realizados inúmeros exames sem se chegar a uma conclusão diagnóstica sendo os sintomas atribuídos a situações genéricas como estafa, nervosismo, fraqueza ou com frases do tipo: "o (a) Sr.(a) não tem nada". O diagnóstico baseia-se nos seguintes critérios segundo o Manual de Diagnóstico e Estatística de Doenças Mentais (DSM-IV) da Associação Psiquiátrica Americana: Ataques de pânico recorrentes e inesperados. Critérios para o Ataque de Pânico: Um curto período de intenso medo ou desconforto em que 4 ou mais dos seguintes sintomas aparecem abruptamente e alcançam o pico em cerca de 10 minutos. Sudorese Palpitações e taquicardia, tremores ou abalos Sensação de falta de ar ou de sufocamento Sensação de asfixia Náusea ou desconforto abdominal Sensação de instabilidade, vertigem, tontura ou desmaio Sensação de irrealidade (desrealização) ou despersonalização (estar distante de si mesmo) Medo de morrer Medo de perder o controle da situação ou enlouquecer Parestesias (sensação de anestesia ou formigamento) Calafrios ou ondas de calor Pelo menos um dos ataques ter sido seguido por 1 mês ou mais de uma ou mais das seguintes condições: Medo persistente de ter novo ataque Preocupação acerca das implicações do ataqueou suas consequências (isto é, perda de controle, ter um ataque cardíaco, ficar maluco) Uma significativa alteração do comportamento relacionada aos ataques Agorafobia A agorafobia é o comportamento de evitar lugares ou situações onde o escape seria difícil ou embaraçoso caso se tenha uma crise de pânico ou algum mal estar. Características: A relação entre a agorafobia e o pânico é muito próxima. Existe transtorno do pânico sem agorafobia, mas a agorafobia sem pânico é rara, havendo até mesmo quem afirme que não existe agora fobia isoladamente. De 1/3 a 1/2 dos pacientes com pânico apresentam agorafobia. As crises de pânico são bastante desagradáveis, mas não afetam o ritmo de vida como a agorafobia faz: torna os pacientes dependentes de outras pessoas para sair de casa e fazer as coisas mais elementares como comprar um pão na padaria. Toda essa dificuldade sempre é superada pela companhia de alguém: às vezes basta uma criança como companhia para o agorafóbico sentir-se tranquilo. Por causa da necessidade de companhia, a agorafobia interfere na dinâmica da família. Há pacientes que não toleram ficar sozinhos em casa, precisando ou exigindo a presença de alguém. Este tipo de problema provoca irritação nos parentes que quando não conhecem o problema passam a hostilizar ou ridicularizar o paciente que sofre com sua ansiedade e com a incompreensão. Quando o tratamento não é feito ou não é conhecido, o paciente realmente depende da presença de outras pessoas, e surge com isso um sentimento de culpa por estar interferindo na vida dos outros e ao mesmo vmtempo uma inconformidade com essa situação incontrolável é incompreensível para o próprio paciente. A impossibilidade de solucionar o problema leva o paciente a pensar em suicídio e a desenvolver um quadro depressivo. Transtorno Obsessivo-compulsivo O transtorno obsessivo- compulsivo (TOC) caracteriza-se pela presença de pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes (obsessões), acompanhados de comportamentos ou atos mentais repetitivos (compulsões), realizados com o intuito de diminuir o desconforto que acompanha as obsessões. É uma doença mental grave, que acomete principalmente indivíduos jovens ao final da adolescência, embora muitas vezes os primeiros sintomas se manifestem na infância. Seu curso geralmente é crônico e, se não tratado, mantém-se por toda a vida, raramente desaparecendo por completo. Uma das características do TOC é a diversidade dos seus sintomas. Os sintomas do TOC envolvem: -Alterações do comportamento (rituais ou compulsões, repetições, -evitações), -Dos pensamentos (preocupações excessivas, dúvidas, pensamentos de conteúdo impróprio ou “ruim”, obsessões) e -Das emoções (medo, desconforto, aflição, culpa, depressão). Transtorno do estresse pós-traumático O transtorno de estresse pós-traumático pode ser entendido como a perturbação psíquica decorrente e relacionada a um evento fortemente ameaçador ao próprio paciente ou sendo este apenas testemunha da tragédia. O Ciclo do TOC ANSIEDADE COMPULSÃO ALIVIO OBSESSÃO OBSESSÃO COMPULSÃO IDEIAS COMPORTAMENTO CONSCIENTE INTRUSIVA RECORRENTE REPETITIVA ATOS ESTEREOTIPADOS ANSIEDADE ALIVIO DOS PENSAMENTOS transtorno consiste num tipo de recordação que é melhor definido como revivescência pois é muito mais forte que uma simples recordação. Na revivescência além de recordar as imagens o paciente sente como se estivesse vivendo novamente a tragédia com todo o sofrimento que ela causou originalmente. O transtorno então é a recorrência do sofrimento original de um trauma, que além do próprio sofrimento é desencadeante também de alterações neurofisiológicas e mentais. Para o diagnóstico é essencial que a pessoa tenha experimentado ou testemunhado um evento traumatizante ou gravemente ameaçador. Quando esse evento ocorre é necessário também que a pessoa tenha apresentado uma resposta marcante de medo, desesperança ou horror imediatamente após o evento traumático. Depois isso o indivíduo deve passar a ter recordações vivas, intrusivas (involuntárias e abruptas) do evento, incluindo a recordação do que pensou, sentiu ou percebeu enquanto vivia o evento traumático. Podem ocorrer pesadelos baseados no tema. Sentir como se o evento fosse acontecer de novo, chegando a comportar-se como se estivesse de fato vivendo de novo o evento traumático. Nesses eventos é possível que o paciente tenha flashbacks ou alucinações com as imagens do evento traumático. As situações que lembram o evento causam intenso sofrimento e são evitadas. Ter de expor-se novamente ao local pode ser insuportável para o paciente. Por isso o paciente passa a evitar os assuntos que lembrem o evento, como também as conversas, pessoas, objetos e sensações, tudo que se relacione ao trauma. A recordação dos aspectos essenciais do trauma pode também ser apagada da memória. A pessoa pode afastar-se do convívio social e outras atividades mesmo que não relacionadas ao evento. Pode passar a sentir-se diferente das outras pessoas. Pode passar a ter dificuldade de sentir determinadas emoções, como se houvesse um embotamento geral dos afetos. Pode passar a encarar as coisas com uma perspectiva de futuro mais restrita, passando a viver como se fosse morrer dentro de poucos anos, sem que exista nenhum motivo para isso. Desenvolve-se semanas após o evento, mas pode vir a ocorrer anos depois (mais raro) tendo sintomatologia intensificada em períodos de estresse. Fobia Social A fobia social é um tipo de situações sociais seja normal, as pessoas com fobia social têm tanta ansiedade que chegam a evitar situações sociais ou as suportam com angústia. Aproximadamente 13% das pessoas apresentam fobia social em algum momento de suas vidas. Esse transtorno atinge aproximadamente 9% das mulheres e 7% dos homens anualmente. Algumas pessoas são tímidas por natureza e demonstram timidez precocemente em suas vidas, que pode evoluir para fobia social posteriormente. Outras pessoas apresentam ansiedade em situações sociais pela primeira vez na puberdade. Pessoas com fobia social se preocupam com o fato de que suas ações sejam vistas como inadequadas. Em geral, elas temem que sua ansiedade se torne óbvia, pois acreditam que podem transpirar em excesso, apresentar rubor facial, vomitar, tremer ou gaguejar. Elas também acreditam que podem perder sua sequência de pensamento ou não ser capazes de encontrar as palavras para se expressarem. Algumas fobias sociais estão ligadas a situações de desempenho específicas, de modo que a ansiedade ocorre apenas quando as pessoas devem realizar alguma atividade em público. A mesma atividade desenvolvida em âmbito privado não provoca ansiedade. As situações que normalmente desencadeiam ansiedade em pessoas com fobia social incluem as seguintes: Falar em público Atuar publicamente, como ler em uma igreja ou tocar um instrumento musical Comer na companhia de outras pessoas Conhecer novas pessoas Ter uma conversa Assinar um documento diante de testemunhas Usar um banheiro público Transtornos fóbicos específicos As fobias específicas são o tipo mais comum de transtornos de ansiedade. As pessoas que têm uma fobia específica evitam as situações ou os objetos específicos que desencadeiam sua ansiedade ou medo, ou os suportam sob intensa angústia, o que algumas vezes resulta em ataque de https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-de-sa%C3%BAde-mental/ansiedade-e-transtornos-relacionados-ao-estresse/considera%C3%A7%C3%B5es-gerais-sobre-os-transtornos-de-ansiedade
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