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Brasília-DF. TraTamenTos da dependência Química e suas comorbidades psiQuiáTricas – dependência Química Elaboração Roberta Payá Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APrESEntAção .................................................................................................................................. 6 orgAnizAção do CAdErno dE EStudoS E PESquiSA ..................................................................................................................... 7 introdução ..................................................................................................................................... 9 unidAdE i TraTamenTos medicamenTosos da dependência química ........................................................... 11 CAPÍtuLo 1 direTrizes para o TraTamenTo farmacológico das subsTâncias psicoaTivas .............. 11 CAPÍtuLo 2 Álcool – TraTamenTos indicados .................................................................................... 14 CAPÍtuLo 3 nicoTina – TraTamenTos indicados .................................................................................. 16 CAPÍtuLo 4 cocaína e crack – TraTamenTos indicados .................................................................. 19 CAPÍtuLo 5 opioides e o TraTamenTo farmacológico ..................................................................... 23 CAPÍtuLo 6 alucinógenos (lsd) – princípios gerais de TraTamenTo ................................................. 27 CAPÍtuLo 7 maconha e seu TraTamenTo farmacológico ............................................................... 28 CAPÍtuLo 8 princípios gerais de TraTamenTo das anfeTaminas ......................................................... 31 unidAdE ii TransTornos psicoTerÁpicos pesquisados e aplicados em dependência química .................. 33 CAPÍtuLo 1 ponTos imporTanTes da psicoTerapia e das abordagens – uma breve reflexão .......... 33 CAPÍtuLo 2 Terapia cogniTiva-comporTamenTal (Tcc) ...................................................................... 38 CAPÍtuLo 3 moTivação e enTrevisTa moTivacional (em) ..................................................................... 43 CAPÍtuLo 4 prevenção de recaída (pr) ............................................................................................... 61 CAPÍtuLo 5 TreinamenTo de habilidades sociais ................................................................................. 66 CAPÍtuLo 6 modelos psicodinâmicos ................................................................................................ 70 unidAdE iii comorbidades psiquiÁTricas na dependência química .............................................................. 73 CAPÍtuLo 1 diagnósTico ..................................................................................................................... 73 CAPÍtuLo 2 repercussões ..................................................................................................................... 76 CAPÍtuLo 3 TraTamenTo ........................................................................................................................ 78 unidAdE iv Terapia comuniTÁria na dependência química ............................................................................ 84 CAPÍtuLo 1 o grupo e a dependência química .................................................................................. 84 unidAdE v espiriTualidade na dependência química ...................................................................................... 89 CAPÍtuLo 1 o papel da espiriTualidade na recuperação ................................................................... 89 unidAdE vi grupos de múTua ajuda ................................................................................................................. 96 CAPÍtuLo 1 apresenTação dos grupos aa, na e amor-exigenTe ...................................................... 96 CAPÍtuLo 2 a relação dos profissionais da saúde com os grupos de múTua ajuda .................. 105 5 unidAdE vii o modelo maTrix ......................................................................................................................... 107 CAPÍtuLo 1 modelo maTrix ............................................................................................................... 107 PArA (não) finALizAr .................................................................................................................... 109 rEfErênCiAS .................................................................................................................................. 110 6 APrESEntAção Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 7 orgAnizAção do CAdErno dE EStudoS E PESquiSA Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Praticando Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer o processo de aprendizagem do aluno. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 8 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Exercício de fixação Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/ conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não há registro de menção). Avaliação Final Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única atividade do curso que vale nota, ou seja, éa atividade que o aluno fará para saber se pode ou não receber a certificação. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 9 introdução Nas seguintes unidades vocês, alunos, irão percorrer a extensão do tratamento e as implicações da dependência química. Iniciaremos com os tratamentos farmacológicos das substâncias, em que serão conhecidas as opções de tratamento farmacológico do álcool; quais os medicamentos de primeira linha para o tratamento da nicotina; a relação com os tratamentos medicamentosos propostos para a cocaína (crack), além das indicações medicamentosas para maconha e seus resultados. Vocês irão entender os princípios do tratamento dos dependentes de opioides e as principais ações medicamentosas dos alucinógenos. Em relação às abordagens, o objetivo da Unidade II será de compreender os fundamentos da terapia cognitiva, entrevista motivacional, treinamento de habilidades, prevenção de recaída e modelo psicodinâmico. Os capítulos apresentam conceitos, aplicabilidade e evidências no campo de tratamento das substâncias. Quanto aos desafios apresentados nas comorbidades, o objetivo será de promover o conhecimento de comorbidades associadas ao diagnóstico da dependência química, bem como de analisar aspectos presentes em tais comorbidades, compreender a importância do diagnóstico e a probabilidade de pacientes apresentarem, junto ao quadro da dependência química, outros transtornos psiquiátricos. Exploraremos as características dos transtornos psiquiátricos mais recorrentes. Com relação ao grupo de autoajuda, entenderemos os princípios que norteiam a dinâmica do tratamento nos grupos de autoajuda com ênfase nos grupos existentes no Brasil. Iremos compreender a eficácia desses grupos em função do paciente a ser encaminhado; entendendo o espaço ocupado pelos grupos de autoajuda no contexto do tratamento da dependência de substâncias e seus princípios, que norteiam a dinâmica do tratamento sendo aplicado na importância das intervenções comunitárias. Também veremos a importância da religiosidade e, por fim, mas não menos importante, o Modelo Matrix será apresentado na finalização de todo este conteúdo. Muitas leituras são indicadas, e espero que vocês tenham um bom aproveitamento das aulas. Iremos partilhar, discutir e refletir juntos. 10 11 unidAdE i trAtAmEntoS mEdiCAmEntoSoS dA dEPEndênCiA quÍmiCA CAPÍtuLo 1 diretrizes para o tratamento farmacológico das substâncias psicoativas introdução O Instituto Nacional de Abuso de Drogas realizou a Conferência Nacional de Tratamento de Dependência em Drogas e preparou um guia que postula diretrizes fundamentais no campo de tratamento. Nesta unidade, vocês acompanharão dados das abordagens e de suas indicações, por isso, neste capítulo1, falaremos de tratamentos que sejam pautados na importância da medicação, ora como uma intervenção associada, ora sendo o acompanhamento medicamentoso a única intervenção. A dependência química é uma doença complexa. É caracterizada pela busca compulsiva e algumas vezes incontrolável e pelo uso que persiste mesmo diante de consequências extremamente negativas. Para muitas pessoas, a dependência se torna crônica com possíveis recorrências mesmo após longos períodos de abstinência. O caminho para a dependência das drogas começa com o ato de experimentá-las. Ao longo do tempo, a capacidade de uma pessoa para escolher não experimentar drogas pode ser comprometida. A procura por drogas torna- se compulsiva, em grande parte, como resultado dos efeitos de uso prolongado no cérebro, o que, consequentemente, reflete no comportamento. A compulsão para uso de drogas pode tomar conta da vida de uma pessoa. A dependência frequentemente envolve não apenas a ingestão compulsiva de droga, mas também uma grande escala de comportamentos disfuncionais que podem interferir no andamento normal da família, do trabalho e da comunidade. Pode também colocar as pessoas em risco crescente de contágio de muitas outras doenças, que podem 1 Dados do site <www.drugabuse.gov/> foram utilizados no desenvolvimento do capítulo. 12 UNIDADE I │ TrATAmENTos mEDIcAmENTosos DA DEpENDêNcIA qUímIcA ser causadas por comportamentos, tais como condições precárias de moradia e saúde que comumente acompanham a vida de um dependente ou devido aos efeitos tóxicos das drogas. Pelo fato de a dependência ter tantas dimensões e atrapalhar tantos aspectos da vida de um indivíduo, o tratamento para tal doença nunca é simples. Deve-se ajudar o indivíduo a parar de usar drogas e a manter um estilo de vida livre delas enquanto adquire um andamento produtivo em família, no trabalho e em sociedade. Um programa de tratamento eficaz geralmente tem vários componentes, cada um direcionado para aspecto particular da doença e suas consequências. Três décadas de pesquisas científicas e prática clínica produziram uma variedade de métodos eficazes para tratamento de uso de drogas. Dados documentam que o tratamento de drogas é tão eficaz quanto os tratamentos da maioria de outras condições médicas crônicas. Princípios segundo o national institute on drug Abuse (nidA) O NIDA traz diretrizes para o tratamento da dependência química. Um único tratamento não é apropriado para todos os indivíduos. Combinar locais de tratamento, intervenção e serviços para os problemas e necessidades de cada indivíduo em particular é indispensável para o sucesso final, ao retornar para o funcionamento produtivo na família, no trabalho e na sociedade. O tratamento precisa estar prontamente disponível. Pelo fato de os indivíduos dependentes de drogas poderem estar duvidosos quanto a iniciar um tratamento, aproveitar as oportunidades quando eles estão prontos é fundamental. Candidatos potenciais podem ser perdidos se o tratamento não estiver imediatamente acessível. Um tratamento eficaz é aquele que atende às diversas necessidades dos indivíduos, e não apenas as relacionadas ao uso de drogas. Para ser eficaz, portanto, o tratamento deve abordar o uso de drogas do indivíduo e quaisquer outros problemas associados: médico, psicológico, social, vocacional e legal. O tratamento de um indivíduo e o plano de serviços devem ser continuamente avaliados e modificados quando necessário para garantir que o plano atenda às necessidades da pessoa. O paciente pode precisar de combinações variadas de serviços e componentes de tratamento durante o curso da terapia e recuperação. Além de aconselhamento ou psicoterapia, também pode, às vezes, requerer medicação, outros serviços médicos, terapia familiar, instruções aos pais, reabilitação vocacional, serviços legais e sociais. É fundamental que a abordagem do tratamento seja apropriada à idade, ao gênero, à etnia e à cultura do indivíduo. A permanência no tratamento por um período adequado de tempo é essencial para sua eficácia. A duração apropriada para um indivíduo depende de seus problemas e necessidades. Pesquisas indicam que, para a maioria dos pacientes, o limiar de melhoria significativa é alcançado com três 13 TraTamenTos medicamenTosos da dependência química │ unidade i meses de tratamento. Após alcançar esse limiar, um tratamento adicional pode produzir mais progresso rumo à recuperação. Devido ao fato de as pessoas, com frequência, deixarem o tratamento prematuramente, os programas devem incluir estratégias para envolver e manter os pacientes. Aconselhamento (individual e/ou em grupo) e outras terapias comportamentais são componentes cruciais para um tratamento eficaz. Em terapia, os pacientes mencionam temas como motivação, aquisição de habilidades para resistir ao uso de drogas, substituição de atividades que não impliquem uso de drogas e melhoria de habilidades para resolver problemas. A terapia comportamental também facilita relações interpessoais e a habilidade do indivíduo para atuarem família e na comunidade. Por fim, como objetivo desta Unidade, as diretrizes apontam que as medicações são um elemento importante no tratamento de vários pacientes, especialmente quando combinadas com aconselhamento e outras terapias comportamentais. Naltrexona é uma medicação eficaz para alguns pacientes com dependência de álcool. Para pessoas dependentes de nicotina, um produto de substituição da nicotina (como adesivos ou gomas) ou uma medicação oral (bupropion) pode ser um componente eficaz no tratamento. Para pacientes com distúrbios mentais, tanto os tratamentos comportamentais quanto os medicamentos podem ser de fundamental importância. A medicação pode fazer parte desde a desintoxicação até a fase de manutenção do paciente. A desintoxicação médica é apenas o primeiro estágio do tratamento e por si mesma contribui pouco para mudança a longo prazo de uso de droga. Seguramente, administra os sintomas físicos agudos de abstinência associada à interrupção de uso de droga. Enquanto a desintoxicação sozinha é raramente suficiente para auxiliar atingir abstinência por longos períodos, para alguns indivíduos é um precursor fortemente indicado em tratamento eficaz das drogas. Os melhores programas de tratamento proporcionam uma combinação de terapias e outros serviços para suprir as necessidades do paciente individualmente. Medicamentos, tais como antidepressivos, estabilizadores de humor ou neurolépticos, podem ser fundamentais para o sucesso do tratamento quando os pacientes têm desordens mentais recorrentes, como depressão, ansiedade, desordem bipolar ou psicose. O tratamento pode ocorrer em vários locais, de várias formas diferentes e por diversos períodos de tempo. Pelo fato de a dependência ser tipicamente uma desordem crônica caracterizada por recorrências ocasionais, um tratamento a curto prazo, de uma vez, geralmente não é suficiente. Para muitos, o tratamento é um processo a longo prazo que envolve várias intervenções e tentativas de abstinência. 14 CAPÍtuLo 2 álcool – tratamentos indicados tratamento farmacológico do abuso e da dependência do álcool Estamos em um período de grandes mudanças em relação ao tratamento farmacológico das dependências. Melhores modelos biológicos sobre a ação das drogas no cérebro e medicações mais específicas estão contribuindo de forma significativa para um tratamento mais efetivo. O objetivo do tratamento farmacológico para o álcool é de, inicialmente, atenuar ou prevenir efeitos da abstinência. Posteriormente, diminuir o craving, reduzir efeitos reforçadores, tratar comorbidades e permitir normalização fisiológica. A Food and Drug Administration (FDA), órgão que aprova liberação de drogas e alimentos para a comunidade americana, aprovou, até o momento, somente duas drogas para o tratamento de dependência do álcool: o dissulfiram e a naltrexona. Tudo leva a crer que o acamprosato também será aprovado. dissulfiram Foi a primeira droga antiálcool aprovada pela FDA, na década de 1940. Reduz o consumo alcoólico, mas não reduz o desejo pelo álcool. Atua inibindo a ação da enzima aldeído desidrogenase, provocando no indivíduo, após a ingestão de álcool, um aumento da concentração tóxica de aldeído (metabólico do álcool) no sangue e gerando os seguintes sintomas desagradáveis: enrubescimento facial (flushing), hipotensão, tonturas, fraqueza, sonolência, turvação da visão, náuseas, vômitos, palpitações, taquicardia, dores pulmonares e cefaleia. Reações mais graves incluem delirium, convulsões, arritmias cardíacas, insuficiência cardíaca, infarto do miocárdio e depressão respiratória. Em razão desses efeitos, é importante que o paciente seja informado sobre a necessidade de evitar qualquer ingestão alcoólica, incluindo vinagre e soluções de higiene oral. É contraindicado para grávidas, idosos e pacientes portadores de cardiopatias, insuficiência renal e hepática, doença vascular cerebral e doenças pulmonares graves. O objetivo do uso do dissulfiram não é, obviamente, provocar desconforto no paciente, e sim agir como “freio psicológico”. Vários estudos têm demonstrado que o dissulfiram é útil para promover abstinência, em especial em pacientes bem motivados e socialmente estáveis. 15 TraTamenTos medicamenTosos da dependência química │ unidade i naltrexona O álcool parece aumentar os receptores opioides e o efeito desta estimulação está associado à sensação de euforia produzida pelo álcool. A naltrexona é um antagonista opioide que atua inibindo esses receptores e reduzindo o desejo por álcool. Tem perfil seguro: não foi constatado potencial de abuso ou dependência. Os efeitos colaterais mais comuns são náuseas e vômitos. Cefaleia, ansiedade e fadiga são menos comuns e resolvem-se em poucos dias. É contraindicada para pacientes com hepatite aguda, deficiência hepática, mulheres em controle de natalidade, pacientes com infecções agudas ou imunodeficiência, dependentes ou abstinentes de opioides. Acamprosato A forma como o acamprosato age na redução da ingestão alcoólica permanece incerta e muitos estudos foram e estão sendo conduzidos. É uma droga que parece atingir inibindo a atividade excitatória (glutamatérgica) e aumentando a atividade inibitória (GABAérgica) do cérebro. De alguma forma, o acamprosato parece restituir o equilíbrio excitação/inibição cerebral e, aparentemente, reduz a ingestão voluntária de álcool em animais e humanos. É uma medicação segura, com poucos efeitos colaterais, e não parece produzir dependência. O efeito colateral é renal. É contraindicado para mulheres grávidas ou em fase de amamentação, idosos e pacientes portadores de deficiência hepáticas e renais. Leia os seguintes capítulos do livro: O tratamento do alcoolismo, de Edwards, Marshall e Cook. Porto Alegre: Artmed, 1999: Capítulo 3 – “O álcool como droga”, pp. 41-54. Capítulo 10 – “Complicações físicas do beber excessivo”, pp. 135–154. 16 CAPÍtuLo 3 nicotina – tratamentos indicados tratamentos farmacológicos com nicotina Uma das justificativas da terapia de reposição de nicotina (TRN) para interromper o hábito de fumar está no fato de que é certo que a nicotina é o principal reforçador do hábito de fumar, no entanto, as inúmeras substâncias encontradas no cigarro são mais danosas que a própria nicotina. A outra justificativa é a tentativa de diminuir os sinais e sintomas da síndrome de abstinência de nicotina causada pela supressão de forma súbita da substância. A prevalência de abuso e dependência com os produtos atuais para TRN é nenhuma (adesivo) ou muito baixa (menos que 10% para goma, spray nasal, inalador). Essa dependência provavelmente será maior com produtos que liberam nicotina rapidamente, mas menor do que cigarros. Mesmo que ocorra dependência, é provável que haja benefício global para a saúde se o sujeito não mais fumar. A opção de uma modalidade de TRN depende basicamente da escolha do paciente, da rota de administração e do perfil de efeitos colaterais esperados. Não há necessidade de receita para comprar a medicação. Existem modalidades de produtos para a reposição de nicotina: goma de mascar, adesivos transdérmicos, dispositivos de inalação de nicotina (spray e aerossol), drops ou pastilhas de nicotina, comprimidos sublinguais. Os mais comumente encontrados e utilizados são os dois primeiros. Todas as modalidades de tratamento com TRN são efetivas a médio prazo e bem toleradas pelos pacientes, podendo até mesmo ser utilizadas em associação, como, por exemplo, o adesivo e a goma de mascar. Pacientes que utilizam TRN têm chances uma vez e meia a duas vezes maiores de melhorar a interrupção do tabaco. Deve-se evitar o uso de refrigerantes ou bebidas ácidas, café, sucos ou soda imediatamente depois ou durante o uso do TRN, por haver chances de prejudicar a absorção da terapêutica. Adesivo de nicotina O mecanismo de ação do adesivo ocorre via S-nicotina, presente no adesivo. Esta, ao alcançar a circulação sistêmica, age nos receptores colinérgicosnicotínicos nos sistemas nervosos central e periférico. Desse modo, os sintomas de abstinência e a “fissura” pelo cigarro são reduzidos em curto prazo, evitando recaídas por meio da liberação lenta e contínua de nicotina na corrente sanguínea. 17 TraTamenTos medicamenTosos da dependência química │ unidade i orientações clínicas Os adesivos são utilizados de forma individualizada dependendo de cada caso e do grau de dependência de cada paciente. Em geral, inicia-se com um adesivo de dose maior, trocando-o diariamente e reduzindo a dose de maneira progressiva em 6 a 12 semanas. Deve-se fixar o adesivo em região protegida do sol, com rodízio a cada 24h, e evitar áreas de fixação com pelos ou região mamária. Em geral, recomenda-se a parte externa do braço. Precauções Deve-se orientar o paciente que o uso de cigarro durante utilização de adesivo pode gerar uma intoxicação nicotínica, caracterizada por: náusea, cefaleia, salivação, palidez, vômito, dor abdominal, diarreia, sudorese, fraqueza, confusão mental e até insuficiência respiratória e convulsões. Efeitos colaterais No local da aplicação, podem ocorrer reações cutâneas irritativas, tais como prurido, rash (vermelhidão), bolhas e eritema infiltrativo, além de náuseas, vômitos, hipersalivação e diarreia, insônia e sonhos vívidos. Contraindicações Pacientes com cardiopatias, como: portadores de arritmias cardíacas, infarto agudo do miocárdio (IAM) recente. Também não é indicado para pacientes com acidentes vasculares cerebrais (AVC), crianças, na gravidez e para mulheres que estão amamentando. gomas de nicotina A goma mastigável de nicotina tem apresentações de 2 mg e 4 mg, comercializadas com o nome de Nicorette (natural, menta, freshmint). Uma das características desses chicletes é seu sabor, em geral, desagradável. As doses altas (acima de 4 mg) são mais efetivas em fumantes com maior dependência de nicotina que naqueles com baixa dependência. A dose média diária é de 8 g a 12 g. O consumo deve ser de até três meses, com posterior retirada gradual. A absorção é pela mucosa oral, com ação rápida, não contínua e em picos. Orienta-se mascar por 30min, utilizando-a nos picos da “fissura” e após insucesso das habilidades de enfrentamento. Efeitos colaterais Hipersalivação, náuseas, ulceração nas gengivas, amolecimento dentário. 18 UNIDADE I │ TrATAmENTos mEDIcAmENTosos DA DEpENDêNcIA qUímIcA Contraindicações Não são indicadas para adolescentes, grávidas, lactantes, nem nos casos de prótese mal ajustada, acidente cardiovascular recente, angina de peito, arritmias graves, insuficiência arterial periférica, feocromocitoma (tumor, em geral benigno, comumente encontrado em glândulas suprarrenais e gânglios para-aórticos que causam aumento da pressão arterial sistêmica), úlcera gastroduodenal, hipertensão. Há pouca pesquisa sobre combinações de diferentes tipos de TRN. Existe evidência limitada de que acrescentar outra forma de TRN ao adesivo de nicotina aumenta as taxas de sucesso. Existem relatos de pacientes que podem evoluir para dependência da goma. Diretrizes para cessação do tabagismo (Sociedade Brasileira de Pneumologia, 2008). Disponível em:<http://www.sbpt.org.br/?op=paginas&tipo=secao&secao=18&pagi na=101>. 19 CAPÍtuLo 4 Cocaína e crack – tratamentos indicados A farmacoterapia não é para todos os usuários de cocaína e deve ser reservada para aqueles cujos sintomas responderiam às medicações. Várias medicações foram propostas, mas as evidências científicas dos benefícios ainda são discutíveis. Ao se decidir pelo tratamento farmacológico, deve-se levar em conta o eventual diagnóstico psiquiátrico concomitante (comorbidade) e a presença de sintomas de abstinência de cocaína. Os medicamentos adjuntos normalmente utilizados na dependência da cocaína são: agentes dopaminérgicos, agentes antidepressivos, agentes antipsicóticos e os agentes antiepiléticos, apesar de nenhuma eficácia ter sido comprovada. Agentes dopaminérgicos Os agentes dopaminérgicos, aparentemente, são mais úteis em melhorar os sintomas de abstinência imediatos após uso intenso de cocaína. O objetivo do uso desses medicamentos é reverter o estado de desequilíbrio provocado pelo consumo crônico da cocaína no sistema dopaminérgico. Como vimos, o neurônio extensivamente estimulado pela cocaína apresenta um esvaziamento dos estoques de dopamina, impedindo sua ativação pelos estímulos naturais. A vantagem desses medicamentos é o efeito de ação imediata, teoricamente. A droga mais utilizada é a bromocriptina. Outras medicações estudadas foram amantadina, L-dopa, metilfenidato, mazindol e pergolida, mas nenhuma delas teve o efeito terapêutico desejado demonstrado. Agentes antidepressivos A primeira indicação para o uso desses medicamentos é a presença de quadro depressivo. A indicação se torna ainda mais precisa na presença de transtornos persistentes de humor, quando os sintomas depressivos e ansiosos persistem após um prazo mínimo de duas semanas depois de ter sido promovida a abstinência. Um inconveniente desse grupo de medicamentos é que sua ação tem início lento (duas a três semanas após ter sido atingida a dose desejada). Porém, uma revisão sistemática conduzida por Lima et al. (2002), com 18 estudos incluídos e um total de 1.177 participantes, avaliou os efeitos da desipramina (14 estudos), da fluoxetina (dois estudos), da impramina (um estudo) e da bupropiona (um estudo). Não houve resultados significativos com nenhum antidepressivo utilizado. 20 UNIDADE I │ TrATAmENTos mEDIcAmENTosos DA DEpENDêNcIA qUímIcA Agentes antipsicóticos (antidopaminérgicos) Esse grupo de agentes atua bloqueando a transmissão dopaminérgica em determinadas regiões cerebrais, as quais apresentam importantes desequilíbrios durante o consumo de cocaína. Os quadros paranoides representam uma consequência disso. Quando utilizados em dependentes, esses medicamentos atuariam na redução da euforia durante a intoxicação pela cocaína, no entanto, devido ao risco de toxicidade promovido por esses agentes (principalmente a discinesia tardia), eles se tornaram incompatíveis com a reabilitação do paciente dependente. Além disso, uma revisão conduzida por Amato et al. (2005), que inclui sete pequenos estudos com 293 participantes, não encontrou evidências que suportem o uso dessas medicações para o tratamento da dependência de cocaína. Nessa revisão, foram incluídas a risperidona, a olanzapina e o haloperidol. Agentes antiepilépticos Alguns anticonvulsivantes também são utilizados na psiquiatria como estabilizadores de humor. O que os tornou uma relativa opção terapêutica para o tratamento da dependência de cocaína é a hipótese de que o craving seria uma manifestação comportamental do kindling. Teoriza-se que o craving e a intensidade dos sintomas de abstinência sejam diretamente proporcionais à supersensibilidade induzida pela cocaína. Estudos com animais demonstram que a carbamazepina poderia reduzir essa supersensibilidade dos receptores dopaminérgicos, no entanto, resultados de outros estudos não foram encorajadores. Parece que a carbamazepina é capaz de bloquear o desenvolvimento, mas não a manifestação do kindling, ou seja, precisaria ser administrada logo no primeiro contato do usuário com a substância e tal ação profilática não tem nenhum embasamento ou indicações nesse momento. Além disso, uma revisão sistemática conduzida por Minozzi et al. (2008), que incluiu 15 estudos e 1.066 participantes, não encontrou evidências que suportem o uso de anticonvulsivantes (carbamazepina, gabapentina, lemotrigina, fenitoína, tiagabina, topiramato e valproato). Apesar disso, alguma evidência foi encontrada para uso do topiramato na redução da intensidade do craving. outras medicações A modafinila é um estimulante utilizado para a sonolência excessiva produzida pela narcolepsia. Tal medicação está sendo investigada para o tratamento da dependência de cocaína e tem-se mostrado promissora, bem comoo beclofeno (agonista dopaminérgico utilizado como relaxante muscular), especialmente em usuários pesados. Revisão conduzida descreveu sete estudos com uso do dissulfiram em dependentes de cocaína e conclui que essa medicação esteve associada com significativa melhora na retenção ao tratamento, bem como com períodos maiores de abstinência do álcool e da cocaína. 21 TraTamenTos medicamenTosos da dependência química │ unidade i Outra promessa é a vacina de cocaína (TA-CD), que age criando anticorpos de cocaína que retardam o seu alcance no cérebro. Em ratos, a vacina bloqueou a autoadministração da droga. Em humanos, mostrou-se bem tolerada e não apresentou efeitos adversos importantes, porém, seus efeitos declinam após quatro meses e uma nova série original de vacina seria necessária para adquirir a imunização clínica adequada. Crack e a agitação aguda dessa substância Sabe-se que, para o tratamento do usuário de crack em nível ambulatorial, o uso de antipsicóticos (a não ser que haja sintomas psicóticos) piora a anedonia e apatia dos usuários, por uma potencialização do déficit dopaminérgico durante as fases iniciais da abstinência de crack, o que pode piorar a adesão ao tratamento. A questão da agitação psicomotora é uma frequente causa de busca por atendimento emergencial em pacientes dependentes químicos. O ideal é conseguir um mínimo do histórico para medicar de modo mais adequado. Quando isso não é possível e o paciente chega muito agitado e agressivo, usam-se medicações neurolépticas, associadas ou não a benzodiazepínicos. Como você não conhece o paciente e sua resposta à medicação, é prudente conhecer os efeitos colaterais mais frequentes dos fármacos. No caso dos neurolépticos mais disponíveis no SUS, a dúvida geralmente fica entre um de alta potência (haloperidol) e um de baixa potência (clorpromazina). Todos os antipsicóticos agem nas vias mesolímbica (onde auxiliam na redução de sintomas psicóticos), mesocorticais (responsáveis por alguns dos efeitos cognitivos), hipotálamo (aumento de prolactina) e na via nigroestriatal (efeitos colaterais parkinsonianos ou impregnação). No entanto, os de alta potência têm mais efeitos parkinsonianos e os de baixa potência podem alterar de modo mais brusco a pressão arterial, causando hipotensão. Assim, como você não conhece o paciente, nem sabe se ele utilizou outras substâncias que podem interagir com o fármaco que será administrado, o risco de hipotensão é potencialmente mais letal que o risco de impregnação, que pode ser contornado com a administração de um anticolinérgico (como o biperideno). O uso de benzodiazepínicos também deve ser cauteloso: a absorção do diazepam por via endovenosa deve ser feita com a presença de material para ventilação do paciente e por equipe experiente para entubar e instalar o ventilador, caso necessário, pois há risco de depressão do sistema nervoso central (SNC). Em administração intramuscular, a absorção é errática pela natureza lipofílica da molécula, sendo mais adequado o uso de midazolam. 22 UNIDADE I │ TrATAmENTos mEDIcAmENTosos DA DEpENDêNcIA qUímIcA Os artigos abaixo foram utilizados como referências deste capítulo, por isso, sugerimos sua leitura integral para maior entendimento. AMATO, Laura et al. An overview of systematic reviews of the effectiveness of opiate maintenance therapies: available evidence to inform clinical practice and research. Journal of Substance Abuse Treatment, v. 28, pp. 321-329, 2005. Lima, M. S et al. Pharmacological treatment of cocaine dependence: a systematic review. Addiction, v. 97, n. 8, pp. 931-949, 2002. Minozzi, S. et al. Anticonvulsants for cocaine dependence. Cochrane Database Syst Rev 2, 2008. 23 CAPÍtuLo 5 opioides e o tratamento farmacológico introdução Um dos materiais mais utilizados da literatura sobre opioides foi publicado em artigo de revisão por Baltieri et al. (2004), o qual serviu de base para o desenvolvimento do capítulo. Segundo os autores, Existe uma prevalência relativamente baixa do uso de ópioides no Brasil, em particular envolvendo o uso não médico da codeína e de xaropes que contêm opioides. No entanto, a síndrome de dependência apresenta um significativo impacto total na mortalidade e morbidade. Nos últimos 20 anos, o avanço científico tem modificado nosso entendimento sobre a natureza da adição aos opioides e os variados tratamentos possíveis. A adição é uma doença crônica tratável se o tratamento for realizado e adaptado tendo em vista as necessidades do paciente específico. Há um conjunto de tratamentos que podem efetivamente reduzir o uso da droga, ajudar a gerenciar a fissura pela droga, prevenir recaídas e recuperar as pessoas para o funcionamento social produtivo. Para os referidos autores, o tratamento da dependência de drogas será parte de perspectivas de longo prazo do ponto de vista médico, psicológico e social. Esta diretriz almeja fornecer um guia para os psiquiatras e outros profissionais de saúde que tratam de pacientes com síndrome de dependência de opioides. Ela tece comentários sobre o tratamento somático e psicossocial que é utilizado nesses pacientes e revisa as evidências científicas e seu poder. Da mesma forma, os aspectos históricos, epidemiológicos e neurobiológicos da dependência de opioides são revisados. definição de termos Dependência física de opioides – é demonstrada pela presença de abstinência de opioide quando da cessação ou marcada redução do uso de opioides, ou durante administração aguda de um antagonista de opioide. Os sinais e sintomas dessa abstinência foram bem caracterizados e incluem aspectos como rinorreia, pele arrepiada e midríase. 24 UNIDADE I │ TrATAmENTos mEDIcAmENTosos DA DEpENDêNcIA qUímIcA Tabela 1 - sinal e sintomas de intoxicação e abstinência de opióides Intoxicação Abstinência Ativação ou “impeto” (com baixas dosagens) e sedação/apatia com altas dosgaens. Euforia ou disforia Sentimentos de calor, rubor facial, ou coceira Juízo, atenção, ou memória prejudicados Analgesia Constipação Constrição pupilar Sonolência Depressão respiratória, arreflexia, hipotensão, taquicardia Apnéia, sedação, coma Humor deprimido e ansiedade. Disforia Fissura Piloereção, lacrimejamento ou rinorréria Frequentemente, “alta” atenção Hiperalgesia, dores nas juntas e músculos Diarréia, Câibras gastrointestinais, náusea, ou vômitos Dilatação pupilar e fotofobia Insônia Hiperatividade autônomica (e.g. hiperreflexia, taquicardia, hipertensão, taquipnea, sudorose, hipertermia) Bocejar fonTe: Traduzido de martin e hubbard, 2000 Síndrome de dependência de opioides (adição) – caracterizada por um conjunto de sinais e sintomas associados ao uso patológico de opioides; um termo alternativo que pode ser utilizado para a dependência sindrômica de opioides é adição a opioides. Um aspecto dessa síndrome de dependência pode ser a dependência física, ainda que a presença desta não seja necessária para o diagnóstico de dependência sindrômica. Os critérios de dependência sindrômica, como os que se encontram no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM-IV – American Psychiatry Association –, são amplamente utilizados. Tolerância – desenvolve-se quando, após a repetida administração, uma determinada dose de uma droga produz um efeito menor ou, ao contrário, quando doses cada vez maiores precisam ser administradas para obter os efeitos observados com a dose original. Recaída – é a recorrência quando da suspensão de um tratamento médico eficaz da condição original que o paciente sofria. Abstinência – reações psicológicas e fisiológicas ante a interrupção ou redução abrupta da dose da droga. tratamento farmacológico da síndrome de abstinência A síndrome de abstinência de opioides tem baixa letalidade na ausência de problemas clínicos associados. As medidas medicamentosas e de suporte são instituídas com o objetivo de proporcionar bem-estar ao paciente e prevenir complicaçõesclínicas. O tratamento deve ocorrer em ambiente tranquilo e iluminado, abrangendo as comorbidades detectadas e provendo aporte nutricional ao paciente. A clonidina é capaz de inibir atividades autônomas, como o lacrimejar, a rinorreia, a sudorese, a diarreia, os calafrios e a piloereção. A 25 TraTamenTos medicamenTosos da dependência química │ unidade i associação com algum benzodiazepínico melhora as dores musculares, a insônia, a inquietação e a fissura pelos efeitos euforizantes. A metadona pode ser introduzida para abortar a crise por completo. tratamento farmacológico da dependência A meta do tratamento farmacológico da dependência de opioides consiste em possibilitar ao indivíduo afastar-se da droga, de maneira gradual ou abrupta. Isso pode ser feito de várias formas, utilizando-se: » a própria droga, com redução progressiva das doses; » outras drogas que produzam tolerância cruzada com a droga empregada; » medicações que avaliem os sintomas de retirada da droga; » medicações que alterem os mecanismos responsáveis pelos sintomas de abstinência. O tratamento da dependência de heroína será considerado bem-sucedido se o dependente parar de usar a droga, afastar-se de outros usuários, evitar atividades associadas ao uso, melhorar seu status profissional e for capaz de se engajar em relacionamentos sociais e familiares normais. Para muitos usuários, essas metas podem ser atingidas com a substituição da droga por um opioide cujos efeitos durem mais que o da heroína. A metadona tem sido utilizada com essa finalidade. É um opioide sintético com meia-vida entre 15h e 40h. Enquanto os sintomas de abstinência para a heroína se iniciam em 6h, para a metadona se iniciam entre 24h e 48h, o que a torna conveniente por poder ser utilizada apenas uma vez ao dia. Além disso, apresenta outras vantagens, como reduzir o uso de opioides não prescritos, reduzir comportamentos antissociais, suprimir os efeitos de abstinência, não interferir nas atividades cotidianas dos pacientes e ter baixo custo. A metadona tem potencial de abuso e por isso é administrada por via oral. Logo, o estabelecimento dos efeitos é muito lento para poder causar rush da heroína, minimizando, assim, o risco de abuso dessa substância. Outras medicações utilizadas com a mesma finalidade são L-alfa-acetilmetadol (LAAM) e a buprenorfina. A metadona pode ser utilizada tanto para desintoxicação (uso por até 90 dias) como para manutenção (uso por mais de três meses). Essa segunda forma é utilizada em vários serviços da Europa e dos Estados Unidos e o tempo ideal para esse tipo de tratamento é de 6 a 24 meses, o que nem sempre acontece. O tratamento com a metadona constitui uma forma de atingir um estilo de vida mais saudável e normal e não a cura para a dependência de heroína, cuja abstinência não fica garantida. Para aumentar as chances de sucesso do tratamento, os pacientes devem receber sessões de aconselhamento. 26 UNIDADE I │ TrATAmENTos mEDIcAmENTosos DA DEpENDêNcIA qUímIcA Recentemente incluída entre os medicamentos para tratamento da dependência de heroína foi a buprenorfina, que apresenta um tratamento particularmente atrativo. Comparada à metadona, causa menos efeitos e tem menos probabilidade de provocar overdose. Também gera menos dependência física e o paciente que descontinua o uso apresenta menos sintomas de abstinência do que aquele que descontinua a metadona. Por esse motivo, pode ser utilizada em tratamento ambulatorial com mais segurança. BALTIERI, D. A. et al. Diretrizes para o tratamento de pacientes com síndrome de dependência de opioides no Brasil. Rev Bras Psiquiatr, v. 26, n. 4, pp. 259-269, 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbp/v26n4/a11v26n4.pdf>. Acesso em: 24 jan. 2011. DUARTE, D. F. Uma breve história do ópio e dos opioides. Rev. Bras. Anestesiol, v. 55, n. 1, pp. 135-146, 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rba/v55n1/ v55n1a15.pdf>. Acesso em: 30 jan. 2011. MARTIN, P. R.; HUBBARD J. R. Substance-related disorders. In: EBERT, M. H.; LOOSEN, P. T. Nurcombe B. Current diagnosis & treatment in psychiatry. New York: McGraw Hill, pp. 233-259, 2000. 27 CAPÍtuLo 6 Alucinógenos (LSd) – princípios gerais de tratamento Princípios gerais de tratamento Rotineiramente, os testes utilizados para detectar drogas não são capazes de perceber o LSD devido ao seu metabolismo muito rápido, o que resulta em doses baixas nos fluidos corpóreos; porém, utilizar tais testes é inútil para excluir outras drogas como causadoras da intoxicação. Quadros ansiosos e de pânico com leve inquietação, derivados do uso de qualquer tipo de alucinógeno, são controlados com reasseguramento e orientação voltada para a realidade. É muito importante colocar o indivíduo num ambiente tranquilo para minimizar os estímulos sensoriais. Sintomas mais intensos são controlados com benzodiazepínicos ou neurolépticos. Comportamentos violentos e heteroagressivos requerem contensão, a fim de assegurar a integridade física do paciente e de terceiros. A lavagem gástrica e o uso de carvão ativado são indicados para intoxicações por anticolinérgicos ocorridas via oral há menos de 6h. Convulsões são tratadas com aporte de oxigênio e diazepam endovenoso. Hipertensão, taquicardia e hipertermia têm prescrições específicas. Quadros de alta ansiedade provocada por flashbacks podem ser tratados com doses diárias de benzodiazepínicos; para estes pacientes, o uso de haloperidol deve ser evitado por provocar um aumento dos flashbacks visuais. 28 CAPÍtuLo 7 maconha e seu tratamento farmacológico questões atuais – retomando o percurso da maconha, sua relação com a esquizofrenia e seu tratamento farmacológico Ribeiro (2002) apresentou um levantamento histórico da cannabis em que podemos fazer uma profunda reflexão de seu percurso. Segue o texto abaixo. Nos últimos anos, o consumo de maconha e suas complicações voltaram a chamar a atenção dos pesquisadores, sem haver, no entanto, preocupação em identificar transtornos psicóticos específicos como outrora. Além de indicadores sugestivos de aumento do consumo de maconha (principalmente entre os adolescentes), o surgimento de apresentações e espécies híbridas mais potentes (skunk, white widow, purple power, shiva shanti) adicionou novas questões acerca dos riscos de problemas mentais relacionados ao consumo deste vegetal . O primeiro estudo relevante e metodologicamente bem elaborado foi realizado na Suécia: todos os jovens que se alistaram no serviço militar (45.570 indivíduos) em 1969 foram entrevistados para a obtenção do histórico do seu uso de maconha e para avaliação psiquiátrica individual. Quinze anos depois, os autores constataram que o índice de esquizofrenia foi 2,4 vezes maior entre aqueles que antes do alistamento militar haviam utilizado maconha alguma vez na vida. O risco foi seis vezes maior entre os que já haviam utilizado maconha mais de cinquenta vezes antes do alistamento. O risco de psicose exclusivamente atribuível ao consumo de maconha foi 1,3 vez maior (30%) quando outros fatores de risco (consumo de outras drogas e transtornos de personalidade) foram excluídos. O início dos sintomas de esquizofrenia entre os usuários de maconha foi mais precoce e intenso quando comparados aos recrutas que nunca consumiram maconha na vida. O estudo identificou, assim, uma relação de causalidade entre o uso de maconha e o aparecimento de psicose. Tal relação é influenciada pela dose e pela duração do consumo. Os mesmos autores realizaram um segundo estudo, desta vez levantando os prontuários de todos os indivíduos internados com diagnóstico duplo (comorbidade) para esquizofrenia e dependência de maconha em Estocolmo entre 1971-1983. Quase 70% dos esquizofrênicos referiram uso pesado de maconha no ano anterior ao início dos sintomas. A associação entre as patologias ficou clara em ambos os estudos, mas a relação de causalidade (causa,automedicação ou coincidência) não pôde ser estabelecida mais uma vez. 29 TraTamenTos medicamenTosos da dependência química │ unidade i Recentemente, foi publicado outro estudo populacional envolvendo mais de sete mil entrevistados (selecionados aleatoriamente) de noventa cidades holandesas. Os participantes foram entrevistados três vezes ao longo de dois anos. Escalas de avaliação para doenças mentais, predisposição à esquizofrenia, gravidade dos sintomas psicóticos e nível de consumo de maconha foram utilizadas. Ao final, fatores que poderiam interferir no resultado, tais como idade, gênero, escolaridade, estado civil, emprego, nível socioeconômico, uso de outras drogas e predisposição à esquizofrenia foram ajustados para que apenas a ação da maconha pudesse ser avaliada. Cerca de 1% dos indivíduos entrevistados apresentou sintomas psicóticos ao longo de dois anos. O estudo demonstrou que a incidência de psicose foi maior entre aqueles que consumiam maconha desde a primeira avaliação. Aqueles que possuíam predisposição à esquizofrenia mostram-se ainda mais vulneráveis: em cerca de 80% dos casos de psicose encontrados, havia a presença de consumo anterior de maconha e predisposição à doença. Os autores ressaltaram que a relação consumo de maconha e psicose não deve ser focalizada apenas para os casos graves, que necessitam de cuidados médicos mais intensivos. O presente estudo demonstrou que o consumo de maconha pode produzir quadros psicóticos em diversos níveis de gravidade. Tal gravidade, por sua vez, dependerá da quantidade de maconha, do tempo de consumo e da predisposição dos indivíduos para esquizofrenia. Outros estudos também corroboraram os achados acima, apontando que a presença de transtornos de personalidade (esquizotípica e antissocial), de padrões graves de consumo e o início precoce da primeira experiência aumentam significativamente o risco de psicose entre estes indivíduos. A relação entre consumo de maconha e psicose parece não variar entre diferentes etnias. Os estudos acima permitem algumas conclusões: 1) existe uma associação entre o uso de maconha e o risco de psicose, que aumenta de acordo com a gravidade do consumo; 2) a predisposição à psicose e o uso concomitante de outras drogas aumentam significativamente o mesmo risco; 3) o uso precoce de maconha (especialmente durante a adolescência) também é um fator de risco. Apesar de sugestivas e obtidas por meio de estudos metodologicamente bem desenhados e executados, tais achados não contam com consenso de outros estudos. Desse modo, alguns autores não encontraram relação entre o consumo de maconha (e sua intensidade) e a eclosão de sintomas psicóticos, bem como piora na evolução da doença, mesmo em indivíduos predispostos. Além disso, revisões da literatura acerca do tema não apontam para uma única relação causal, mas sim para a presença dos modelos da causalidade, da automedicação e da coincidência em diferentes situações. Como motivar um paciente que usa cannabis e não veio se tratar disso? Reflita e elabore uma resposta. 30 UNIDADE I │ TrATAmENTos mEDIcAmENTosos DA DEpENDêNcIA qUímIcA Princípios gerais de tratamento farmacológico A toxicidade aguda da maconha é extremamente baixa. Considerando as experiências feitas com animais, supõe-se que seria necessária uma quantidade de 8,45 kg de THC para matar um adulto com 65 kg. Não existe caso de morte por intoxicação confirmado na literatura médica e complicações agudas não são relatadas com frequência. Os sintomas desagradáveis que podem acompanhar o uso são: ansiedade, pânico, medo intenso, disforia e reações depressivas. Quadros psicóticos agudos têm sido descritos tanto em usuários crônicos como em principiantes, e os sinais e sintomas frequentes são inquietação motora, insônia, “fuga” de ideias e leves alterações de pensamento. Normalmente, a intoxicação aguda pela Cannabis não leva a uma atenção profissional. O reasseguramento psicológico e a orientação para a realidade, feita por amigos e familiares, costumam ser suficientes. Os benzodiazepínicos podem ser úteis nos quadros ansiosos agudos, assim como nos psicóticos, se associados a algum neuroléptico. A pesquisa clínica para farmacoterapia no tratamento da dependência de maconha ainda é muito pequena e recente. Parece haver algum potencial com antidepressivos e ansiolíticos, mas mais estudos ainda são necessários para recomendar seu uso. Outra promessa é o rimonabanto, antagonista canabinoide que bloqueia os efeitos subjetivos da maconha e pode prevenir recaída. Voluntary Exercise and Sucrose Consumption Enhance Cannabinoid CB1 Receptor Sensitivity in the Striatum, de Chiara et al. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih. gov/pubmed/19776732>. RIBEIRO, M. Maconha e psicose. Álcool e Drogas sem Distorção. Disponível em: <http://apps.einstein.br/alcooledrogas/novosite/atualizacoes/ac_123.htm>. 31 CAPÍtuLo 8 Princípios gerais de tratamento das anfetaminas introdução Na Inglaterra, entre as drogas ilícitas, o uso de anfetaminas é inferior apenas ao de maconha. O consumo de anfetaminas injetáveis também é algo comum. Programas estão tentando encontrar soluções para este problema e fazem combinações entre programas de redução de danos associados a entrevista motivacional, reconhecimento de possíveis “gatilhos” associados às recaídas, modos de evitá-los ou mesmo maneiras de interromper possíveis lapsos ou recaídas. A grande maioria dos estudos com medicamentos para dependência de estimulantes do sistema nervoso central é feita com foco na cocaína, e um número reduzido é voltado para as anfetaminas. Os melhores resultados foram observados com os antagonistas dopaminérgicos, antidepressivos e dissulfiram. Estudo publicado em 2007 em Fonseca et al. (2011) mostrou que o metilfenidado, medicamento com potente ação inibitória da receptação da dopamina e da noradrenalina, foi estatisticamente mais eficiente que o placebo no tratamento dos usuários graves de anfetaminas injetáveis. Comercialmente no Brasil este medicamento é conhecido pelos nomes de ritalina, ritalina LA e conserta e é comumente utilizado no tratamento do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). As principais complicações ameaçadoras à vida na overdose por anfetaminas são hipertemina, hipertensão, convulsões, colapso cardiovascular e traumas. São possíveis os edemas pulmonares cardiogênicos. Esses quadros devem ser tratados por profissionais competentes e devidamente treinados. Na ausência de complicações clínicas ameaçadoras à vida, não se justifica o atendimento de emergência para a síndrome de abstinência. O aporte nutricional e uma avaliação clínica do estado geral, associados a terapêuticas ansiolíticas e antidepressivas, podem ser instituídos. Princípios gerais de tratamento As intoxicações graves, com depressão respiratória, coma, arritmias cardíacas e convulsões, são emergências médicas e devem receber tratamento imediato. O usuário poderá ter passado vários dias sem aporte alimentar e chegar ao pronto-socorro necessitando mais de reposições (hidratação, reposição de glicose, eletrólitos etc.) do que de cuidados ligados à intoxicação. 32 UNIDADE I │ TrATAmENTos mEDIcAmENTosos DA DEpENDêNcIA qUímIcA tratamento farmacológico da dependência Há três abordagens utilizadas no tratamento da dependência, as quais visam à administração dos sintomas. » Redução gradual da dose: como guia, sugere-se redução da dose em 25%, com intervalos. Se houver algum desconforto importante, a dose deve ser mantida um pouco mais alta, buscando-se maiores reduções a partir daí: › em pacientes com menos de seis semanas de uso, recomenda-se reduzir a dose em três estágios, por períodos de sete a dez dias; › em pacientes com uso de seis semanas a seis meses, recomenda-se reduzir a dose progressivamente durante um período de 10 a 20 dias; › em pacientes com mais de seis meses de uso, recomenda-se reduzir a dosedurante um período de seis a oito semanas e só recorrer a períodos maiores se houver sintomas muito intensos. » Substituição por outro benzodiazepínico: para aqueles pacientes que experimentam sintomas de abstinência com a abordagem anterior de redução gradual da dose, pode-se tentar a substituição por outro benzodiazepínico de meia-vida longa, em dosagem equivalente, facilitando a retirada e prevenindo complicações. A partir daí, deve-se seguir o protocolo de redução gradual da dose. » Substituição por outra droga: terapias de substituição foram propostas com, pelo menos, quatro outras drogas: propranolol, clonidina, carbamazepina e fenobarbital. O propranolol diminui alguns dos sintomas físicos presentes na abstinência (tremores, aumento da frequência cardíaca e pressão arterial), mas não interfere nos sintomas psicológicos. Portanto, seu uso justifica-se somente naqueles pacientes que apresentam sintomas físicos importantes. A clonidina, embora tenha sido inicialmente prometida como substituta, não tem tido seu uso justificado por estudos mais recentes. A carbamazepina é uma das drogas mais promissoras, mas carece de maiores estudos. Um protocolo de substituição por fenobarbital também foi descrito. No entanto, deve- se ter muito cuidado ao administrar antidepressivos e neurolépticos durante o período de abstinência para benzodiazepínicos, pois essas medicações diminuem o limiar convulsivo e podem, dessa forma, facilitar a ocorrência de convulsões. Lemos, Tadeu; Fonseca, Vilma Aparecida da Silva. Anfetaminas e metanfetaminas. In: DIEHL, Alessandra; CORDEIRO, Daniel Cruz; LARANJEIRA, Ronaldo. Dependência química. Prevenção, tratamento e políticas públicas. Porto Alegre: Artmed, 2011. Acute toxic effects of “Ecstasy” (MDMA) and related compounds: overview of pathophysiology and clinical management. Neurotoxicity of methylenedioxyamphetamines (MDMA; ecstasy) in humans: how strong is the evidence for persistent brain damage? 33 unidAdE ii trAnStornoS PSiCotEráPiCoS PESquiSAdoS E APLiCAdoS Em dEPEndênCiA quÍmiCA CAPÍtuLo 1 Pontos importantes da psicoterapia e das abordagens – uma breve reflexão Psicoterapia A prática da psicoterapia expressa o encontro de duas pessoas ou mais que criam juntas a possibilidade de uma conversa organizadora e de alcance significativo na vida de uma das partes. Entretanto, dado o conjunto de procedimentos que são considerados “psicoterapia”, chegar a uma definição completa da palavra é difícil, já que a ênfase em diferentes componentes determina as distinções entre as várias escolas de psicoterapia. Ainda assim, é provavelmente seguro defini-la como um processo pelo qual os problemas psicológicos são tratados por meio da comunicação e os fatores de relação entre um indivíduo (ou mais de um) e o terapeuta. A psicoterapia é uma relação “conversacional” profissional entre um terapeuta e um cliente que se baseia em princípios terapêuticos, estrutura e técnica – diferindo-se das outras relações em várias maneiras. Há um consenso de que a psicoterapia é um método de tratamento mediante o qual um profissional treinado, valendo-se de meios psicológicos, especialmente a comunicação verbal e a relação terapêutica, realiza, deliberadamente, uma variedade de intervenções, com o intuito de influenciar um cliente ou paciente, auxiliando-o a modificar problemas de natureza emocional, cognitiva e comportamental, já que ele o procurou com essa finalidade (STRUPP, 1978). A psicoterapia envolve, portanto, uma interação face a face. Na verdade, a ela distingue-se de outras modalidades de tratamento por ser muito mais uma atividade colaborativa entre o paciente e o terapeuta do que uma ação predominantemente unilateral, exercida por alguém sobre outra pessoa, como ocorre com outros tratamentos médicos. 34 UNIDADE II │ TrANsTorNos psIcoTErápIcos pEsqUIsADos E AplIcADos Em DEpENDêNcIA qUímIcA Características da psicoterapia » É um método de tratamento realizado por um profissional treinado, com o objetivo de reduzir ou remover um problema, queixa ou transtorno definido de um paciente ou cliente que deliberadamente busca ajuda. » O terapeuta utiliza meios psicológicos como forma de influenciar o cliente ou paciente. » É realizada em um contexto primariamente interpessoal (a relação terapêutica). » Utiliza a comunicação verbal como principal recurso. » É uma atividade eminentemente colaborativa entre paciente e terapeuta. Critérios para que um modelo psicoterápico seja consolidado » Deve estar embasado em uma teoria abrangente, que ofereça uma explicação coerente (um racional) sobre a origem, a manutenção dos sintomas e a forma de eliminá-los. » Os objetivos a que se propõe modificar devem ser claramente especificados. » Devem existir evidências empíricas da efetividade da técnica proposta. » Deve haver comprovação de que as mudanças observadas são decorrentes das técnicas utilizadas e não de outros fatores. » Os resultados devem ser mantidos a longo prazo. » Deve apresentar uma relação custo-efetividade favorável na comparação com outros modelos ou alternativas de tratamento. A diversidade teórica – as últimas décadas foram marcadas por grandes mudanças sociais, com o advento de um mundo globalizado, um tanto quanto “provisório” e imediatista, em que tudo, ou quase tudo é virtual, descartável e midiático. Tais eventos trouxeram repercussões no psiquismo dos indivíduos e, muitas vezes, acabou os colocando em situações difíceis, conflituosas e até traumáticas. Diante desse novo contexto, a psicoterapia teve a necessidade de ampliar seu campo de trabalho, atuando, por exemplo, em situações traumáticas geradas por conflitos sociais, de ordem econômica, grandes desastres ou catástrofes ambientais. Para conseguir trabalhar com as diversas demandas, a psicoterapia precisou adaptar o seu setting, deixando de atuar apenas em consultório. Saiu a campo e, juntamente com outros profissionais, criou novos formas de atuação, mantendo, entretanto, os conceitos e princípios que a embasam e validam. Da pluralidade de pensamentos e abordagens 35 TransTornos psicoTerápicos pesquisados e aplicados em dependência química │ unidade ii podemos encontrar algumas similaridades entre as muitas teorias existentes. De certo modo, cada uma delas sugere que qualquer um de nós, sendo criança ou adulto, está sob influências que nos levam a sentir ou agir de modo a aumentar ou diminuir as chances de sentirmo-nos felizes ou infelizes. Tais influências, que vão partir de pontos de origem distintos conforme o embasamento teórico, como sendo impulsos inconscientes, esquemas disfuncionais, influências do meio, modelos internos de vinculação e ou apego, expectativas ou pressões familiares nos apontam a ideia de que nossos sentimentos e comportamentos não são totalmente controlados por nós. Os impulsos que reprimimos para nosso inconsciente, pensamentos irracionais que desenvolvemos por meio da interação com nossos pais, os padrões de comportamento moldados durante nossos primeiros anos, nosso modelo de relações e afeições interno, as regras e normas aprendidas com nossas famílias quando somos jovens, todos esses aspectos nos influenciam, nos moldam ao longo do tempo. Com o envolvimento de substâncias psicoativas, tais elementos presentes na construção de experiências e relações tornam-se ainda mais comprometidos. Praticamente todas as teorias psicoterapêuticas mencionam o modo pelo qual sentimentos, pensamentos e eventos podem ter um efeito sobre nosso comportamento. Geralmente, nem sempre estamos cientes dos impulsos ou razões que nos levam a agir de um modo ou de outro, ou de como o meio ambiente, ou os primeiros vínculos e ainda nossa estrutura familiar tenham moldado nosso comportamento. Compreender essa premissa no campo das adições evidencia mais ainda a necessidade de respeitar as defesas e o funcionamento de cada paciente. Opondo-se ao ditado “Oque você não conhece não pode te machucar”, tais teorias proferem que o que não sabemos pode sim ter uma influência significativa sobre nós e, em muitas das vezes, nos machucar. A negação de vivências ou comportamentos pode perpetuar-se tanto no histórico de pacientes como no funcionamento de suas famílias geradoras de problemas aditivos. De certo modo, indiferentemente da relação terapêutica estabelecida por cada teoria/abordagem, outro ponto que parece estar presente para todas as escolas é o objetivo de criar estratégias que garantam o auxílio à liberdade. Levar as pessoas a caminhos libertadores. Assim, o objetivo central é de nos auxiliarem para que estejamos libertos de pensamentos disfuncionais, sentimentos ou experiências do meio que tenham paralisado nossos personagens impedindo a quebra do ciclo da infelicidade. Dessa forma, no campo das adições, as abordagens, independentemente de sua metodologia, terão como prioridade a promoção do alívio e da mudança. Muitas se organizam de modo a levar a pessoa a contornar tais influências tornando- as mais autoras de seus próprios scripts de vida, vivendo de modo mais autônomo e tendo maior controle sobre seus pensamentos, sentimentos e relacionamentos. Dessa forma, em torno da fundamentação teórica, o terapeuta dirige o processo terapêutico para o mesmo gol: de promover suporte e gerar contextos orientadores. 36 UNIDADE II │ TrANsTorNos psIcoTErápIcos pEsqUIsADos E AplIcADos Em DEpENDêNcIA qUímIcA As abordagens Inúmeras pesquisas esforçaram-se para determinar quais terapias seriam as mais eficazes em termos psicológicos. Dados de pesquisa também revelaram que alguns modelos teóricos são mais efetivos com determinado perfil de paciente/cliente ou com questões específicas, como, por exemplo, problema de comportamento na infância, o qual seria mais adequadamente assistido por um modelo de terapia cognitiva (TC) quando comparado com problemas de outras ordens, como depressão e transtorno de conduta. Sabe-se também que pode haver uma combinação de alguns modelos conforme a necessidade de cada caso, cada história, como, por exemplo, num atendimento a um adolescente que tenha apresentado abuso de álcool – sendo possível ainda focar a dinâmica familiar de modo a reatar os padrões de comportamento entre os membros que enfatizaram os sintomas do comportamento do adolescente. Dessa forma, uma combinação apropriada dos modelos oferece maiores chances de o paciente/cliente ser compreendido em sua complexidade e totalidade. No tratamento das dependências, emerge a esta discussão pontos importantes como a questão do poder posicional por parte do profissional e de suas habilidades terapêuticas, mas também da possibilidade de negligenciar a parte motivacional do paciente/cliente, ou seja, algumas abordagens podem ter criado estratégias positivas para explorar a motivação do cliente, a fim de buscar vias alternativas para o que até então entendíamos apenas como defesa ou resistência, como é o caso da entrevista motivacional. No entanto, nenhuma escola terapêutica poderia dar-se como “certa” diante de uma pessoa completamente desmotivada. Independentemente de qual abordagem aplicada para o tratamento de substâncias, torna-se importante também ressaltar que há um consenso do que o tratamento em si deve oferecer. Todo e qualquer tratamento deve pautar-se no contexto social e familiar; deve levar em consideração o fator de disponibilidade, garantindo horários e facilidades para a porta de entrada ou para situações de emergências; fatores genéticos devem ser considerados ante a abordagem utilizada (por exemplo, se há a questão do quadro esquizofrênico, associado com o abuso de substâncias, são fortemente recomendadas intervenções mais direcionadas, mais focadas); a própria droga e a relação de dependência também determina o tipo de tratamento favorável, assim como o contexto biológico do membro. Diante desse cenário, é fidedigna a preocupação com o tratamento que não deve ser direcionado apenas para centros especializados, uma vez que cerca de 80% das pessoas com problemas de álcool não procuram nenhum tipo de tratamento especializado ou grupos de autoajuda. Vale ressaltar que usuários nocivos e dependentes de álcool, que não procuram tratamento, incorrem em custos de cuidados médicos gerais que são pelo menos 100% mais altos quando comparados com não dependentes, e essa disparidade se dá a partir de 10 anos antes do ingresso no tratamento. 37 TransTornos psicoTerápicos pesquisados e aplicados em dependência química │ unidade ii A maioria dos usuários de álcool procura algum serviço médico durante esse período e, não raro, antes de buscar ajuda via psicoterapia. Daí pensar no conceito de matching, ou seja, combinar o cliente com o tipo de tratamento necessário, onde esse cliente se encontrar, bem como em intervenções na área de prevenção e promoção de saúde. Ramos (2011) recomenda, para bebedores nocivos e dependentes do álcool, como técnica psicoterápica, entrevistas motivacionais, intervenção breve, prevenção da recaída e terapia cognitivo-comportamental, destacando que 50% a 60% dos pacientes não se beneficiam desses procedimentos. Algumas questões para reflexão: a avaliação e o diagnóstico do cliente são apurados? Como os serviços estão organizados, se estão organizados? Como é realizada a desintoxicação? Os profissionais realizam de fato as terapias psicológicas como elas são preconizadas? A partir desses dados e perante a amplitude e aplicabilidade das abordagens destinadas ao campo das adições, serão apresentadas nos próximos capítulos as seguintes abordagens: terapia cognitiva- comportamental (TCC); entrevista motivacional (EM), prevenção de recaída (PR), treinamento de habilidades (TH) e psicoeducação. O seguinte livro foi utilizado no desenvolvimento do capítulo, por isso, sugerimos sua leitura integral para melhor entendimento do tema: STRUPP, H. H. Psychotherapy research and practice: an overview. In: BERGIN, A. E.; GARFIELD, S. L. (Ed.). Handbook of psychotherapy and behavior change. 2nd ed. New York: John Wiley, 1978. 38 CAPÍtuLo 2 terapia cognitiva-comportamental (tCC) As abordagens cognitivo-comportamentais pautam-se em princípios da teoria cognitivo-social de Bandura. Integram técnicas e conceitos derivados das teorias cognitivo e comportamental, mas se traduzem em algo mais do que a simples combinação dessas duas teorias. Acredita-se que alterações na cognição tornam as mudanças comportamentais mais duradouras. Um dos principais objetivos das TCCs é identificar e corrigir distorções cognitivas que geram problemas para o indivíduo e auxiliar no desenvolvimento de estratégias de enfrentamento dessas situações que põem em risco o alcance dos objetivos estabelecidos durante o tratamento. Na dependência de substâncias psicoativas, esse referencial teórico tem sido apontado como um dos que apresentam maior eficácia dos resultados obtidos no tratamento. Quando aplicadas à clínica da dependência de álcool, apresentam dois pontos centrais: » a concepção de que habilidades cognitivas e comportamentais desempenham papel central no desenvolvimento e na manutenção da dependência; » todos os tratamentos fundamentados na combinação de abordagens cognitivo- comportamentais empregam alguma forma de treinamento de habilidades de enfrentamento, para lidar com os déficits cognitivos e comportamentais apresentados pelo cliente. teoria e terapia cognitiva Foi desenvolvida por A. Beck na década de 1960 e desdobrou-se em algumas vertentes racionalistas e construtivistas, mas ainda é considerada a mais importante. De acordo com Beck (1996), o que conta não é a vivência em si, mas o significado que o indivíduo dá a essa vivência, ou seja, como ele interpreta aquilo que acontece. São ressaltadas três crenças ou estruturas cognitivas importantes para maior compreensão da TC: » Crenças centrais – são ideias mais centraisda pessoa a respeito dela mesma, do mundo e dos outros, e diferem dos chamados “esquemas”, que, segundo o autor, são considerados estruturas cognitivas que contêm as crenças centrais. São desenvolvidas na tenra idade e influenciam fortemente a forma como as experiências vividas são interpretadas. O acesso e o grau de dificuldade para modificá-las variam de paciente a paciente. 39 TransTornos psicoTerápicos pesquisados e aplicados em dependência química │ unidade ii » Crenças intermediárias – são baseadas nas crenças centrais e se apresentam em forma de regras e ou suposições, introduzindo um componente comportamental. São o resultado de processos de aprendizagem, confirmadas como consequência de determinadas ações. » Pensamentos automáticos – coexistem com o fluxo normal de pensamentos. São comuns a todos nós, são rápidos e involuntários, eliciados a partir de situações corriqueiras. Aparecem em forma de imagens, sendo reconhecidas quando a atenção é voltada para eles. Sendo assim, a percepção dos eventos pode ser interpretada de forma errônea, em razão dos chamados erros de pensamento ou distorções cognitivas, são elas: » adivinhação – previsão negativa do futuro; » pensamento dicotômico – tudo ou nada, visão de uma situação em apenas duas categorias em vez de um continuum; » desqualificação do positivo – experiências e elementos positivos não contam; » argumentação emocional – algo parece ser verdade por causa da sensação de que é; » rotulação – rótulo sobre si ou sobre o global; » maximização ou minimização – magnificação irracional do negativo e minimização do positivo; » filtro mental – foca-se a tenção em único aspecto sem considerar o contexto como um todo; » leitura mental – tem-se a impressão de saber o que o outro está pensando; » supergeneralização – conclusões radicais; » personalização – o comportamento ou a ação de outrem estão intimamente relacionados a quem o percebe; » tirania do “eu deveria” – expectativas preestabelecidas para o comportamento próprio ou de outrem; » visão de túnel – veem-se apenas os aspectos negativos; » atribuição de culpa – a responsabilidade pelos sentimentos negativos é colocada em outrem; 40 UNIDADE II │ TrANsTorNos psIcoTErápIcos pEsqUIsADos E AplIcADos Em DEpENDêNcIA qUímIcA » comparações injustas – interpretações irrealistas e injustas com a própria pessoa; » e se? – situações e eventos sempre questionados, gerando respostas insatisfatórias; » foco no julgamento – avaliação de si próprio e dos outros sempre em termos de bom e mau, superior e inferior, em vez de apenas descrever e aceitar o evento. Seguem abaixo as características básicas da TCC. » Estilo terapêutico – o terapeuta é ativo e trabalha com o paciente a fim de encontrar informações importantes que auxiliem na resolução do problema que este apresenta. » Formulação psicológica do problema – é um quadro do porquê a pessoa está vivendo problemas daquela forma. » Relação colaborativa – paciente e terapeuta trabalham juntos para delinear a conceituação cognitiva. » Sessões estruturadas – paciente e terapeuta dividem a responsabilidade por seu uso, incluindo o fator tempo. Com a ênfase ao controle do planejamento, espera-se que, a partir da estrutura observada na sessão, o paciente possa colocar essa mesma experiência estruturada em seu dia a dia. » Orientação de metas – pacientes e terapeuta trabalham de forma colaborativa desenvolvendo metas que, quanto mais específicas forem, mais úteis serão. » Exame e questionamento do pensamento – ponto central da TCC, que, por meio de técnicas, o paciente é auxiliado a descobrir respostas mais adaptativas. » Disponibilidade de técnicas – o curso da terapia é dirigido pela formulação do problema, que vai sendo desenvolvido e mais bem compreendido ao longo do tempo. Quanto mais técnicas, maiores os resultados. » O paciente aprende a ser seu próprio terapeuta – ao final do processo, o paciente deve estar apto a caminhar sozinho. » Tarefas para casa – é importante que o paciente esteja disposto a trabalhar entre as sessões. A tarefa de casa faz com que o processo de mudanças e eficácia seja reconhecido pelo paciente. » Tempo limitado – há uma previsão de fim. A meta da terapia é que o paciente, sentindo-se autoeficaz para enfrentar situações de risco, não se torne dependente do terapeuta. Essa meta deve ser sempre retomada e lembrada ao longo do tratamento. 41 TransTornos psicoTerápicos pesquisados e aplicados em dependência química │ unidade ii Evidências no tratamento da dependência química e a terapia cognitiva-comportamental Muitos estudos foram e seguem sendo dirigidos para a eficácia e a aplicabilidade da TCC no tratamento da dependência. Uma metanálise que examinou 53 ensaios clínicos controlados, com pacientes dependentes de álcool e drogas, concluiu que a TCC é mais eficaz com usuários de maconha quando comparada ao grupo controle que não recebe tratamento. Deve ter formato mais longo com mulheres do que com homens, e dados referem que as mulheres aproveitam mais. Outro estudo com 2.340 pacientes concluiu que dependentes de maconha e de cocaína tendem a se beneficiar mais da TCC quando comparados com poliusuários ou com dependentes de opiáceos. Dados também revelam que a TCC, quando associada com medicação, é igualmente recomendada para dependentes de cocaína. Quando se trata da população adolescente, a TCC também se mostra eficaz, segundo análise de 17 estudos, desde 1998, com uma amostra de 2.037 adolescentes, comparados em intervenções grupais e individuais, em que aqueles que receberam TCC ou terapia familiar foram os que apresentaram melhor resultado após tratamento. As evidências indicam que intervenções que incorporam técnicas cognitivas e comportamentais apresentam mais eficácia no tratamento de transtornos por uso de substâncias, no entanto, a prática com TCC é complexa. A eficácia também depende de fatores-chave como qualidade de intervenção, adesão e aliança terapêutica, domínio da técnica pelo profissional. BECk; RUSH; SHAW; EMERY. Terapia cognitiva da depressão. Porto Alegre: Artes Medicas, 1996. ZANELATTO, Neide A.; LARANJEIRA, Ronaldo (Org.). O tratamento da dependência química e as terapias cognitivo-comportamentais. Porto Alegre: Artmed, 2012. técnicas da terapia cognitiva-comportamental Quanto maior o repertório de técnicas, prática essencial para a TCC, espera-se que melhor será o manejo terapêutico. Entre as técnicas utilizadas pela abordagem cognitivo-comportamental estão a identificação de situações específicas com as quais o indivíduo lida de maneira inadequada e a utilização de instruções, modelagem, dramatizações e ensaios comportamentais. Também pode ser utilizada a resolução de problemas em cinco componentes principais: » engajamento; » definição do problema e análise dos sinalizadores; » solução do problema e modificação dos sinalizadores; 42 UNIDADE II │ TrANsTorNos psIcoTErápIcos pEsqUIsADos E AplIcADos Em DEpENDêNcIA qUímIcA » identificação e desafio das suposições adjacentes; » redefinição de papéis mal-adaptativos. São inúmeras as técnicas indicadas, como, por exemplo: cartões de enfrentamento; análise de vantagens e desvantagens do uso e do não uso; registro de pensamentos automáticos; experimento comportamental; relaxamento etc. Comente sobre as técnicas acima e pesquise como aplicá-las, ou monte um quadro com técnicas ou dinâmicas que possam ser semelhantes. 43 CAPÍtuLo 3 motivação e entrevista motivacional (Em) A entrevista motivacional Entre os enfoques descritos na literatura como os mais eficazes, destacam-se intervenções breves, treinamento de habilidades sociais, entrevista motivacional. Partindo de uma escuta empática, a entrevista motivacional visa a auxiliar o cliente a enfrentar o processo de mudança implicado na aquisição da abstinência. Os conceitos de prontidão para a mudança, ambivalência e resistência norteiam as intervenções
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