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tratamento_da_dependencia_quimica_e_suas_comorbidades_psiquiatricas

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Brasília-DF. 
TraTamenTos da dependência Química 
e suas comorbidades psiQuiáTricas – 
dependência Química
Elaboração
Roberta Payá
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
Sumário
APrESEntAção .................................................................................................................................. 6
orgAnizAção do CAdErno 
dE EStudoS E PESquiSA ..................................................................................................................... 7
introdução ..................................................................................................................................... 9
unidAdE i
TraTamenTos medicamenTosos da dependência química ........................................................... 11
CAPÍtuLo 1 
direTrizes para o TraTamenTo farmacológico das subsTâncias psicoaTivas .............. 11
CAPÍtuLo 2
Álcool – TraTamenTos indicados .................................................................................... 14
CAPÍtuLo 3
nicoTina – TraTamenTos indicados .................................................................................. 16
CAPÍtuLo 4 
cocaína e crack – TraTamenTos indicados .................................................................. 19
CAPÍtuLo 5
opioides e o TraTamenTo farmacológico ..................................................................... 23
CAPÍtuLo 6
alucinógenos (lsd) – princípios gerais de TraTamenTo ................................................. 27
CAPÍtuLo 7
maconha e seu TraTamenTo farmacológico ............................................................... 28
CAPÍtuLo 8
princípios gerais de TraTamenTo das anfeTaminas ......................................................... 31
unidAdE ii
TransTornos psicoTerÁpicos pesquisados e aplicados em dependência química .................. 33
CAPÍtuLo 1
ponTos imporTanTes da psicoTerapia e das abordagens – uma breve reflexão .......... 33
CAPÍtuLo 2 
Terapia cogniTiva-comporTamenTal (Tcc) ...................................................................... 38
CAPÍtuLo 3
moTivação e enTrevisTa moTivacional (em) ..................................................................... 43
CAPÍtuLo 4
prevenção de recaída (pr) ............................................................................................... 61
CAPÍtuLo 5
TreinamenTo de habilidades sociais ................................................................................. 66
CAPÍtuLo 6
modelos psicodinâmicos ................................................................................................ 70
unidAdE iii
comorbidades psiquiÁTricas na dependência química .............................................................. 73
CAPÍtuLo 1
diagnósTico ..................................................................................................................... 73
CAPÍtuLo 2 
repercussões ..................................................................................................................... 76
CAPÍtuLo 3 
TraTamenTo ........................................................................................................................ 78
unidAdE iv
Terapia comuniTÁria na dependência química ............................................................................ 84
CAPÍtuLo 1
o grupo e a dependência química .................................................................................. 84
unidAdE v
espiriTualidade na dependência química ...................................................................................... 89
CAPÍtuLo 1
o papel da espiriTualidade na recuperação ................................................................... 89
unidAdE vi
grupos de múTua ajuda ................................................................................................................. 96
CAPÍtuLo 1
apresenTação dos grupos aa, na e amor-exigenTe ...................................................... 96
CAPÍtuLo 2
a relação dos profissionais da saúde com os grupos de múTua ajuda .................. 105
5
unidAdE vii
o modelo maTrix ......................................................................................................................... 107
CAPÍtuLo 1
modelo maTrix ............................................................................................................... 107
PArA (não) finALizAr .................................................................................................................... 109
rEfErênCiAS .................................................................................................................................. 110
6
APrESEntAção
Caro aluno
A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem 
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela 
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade 
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.
Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos 
a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma 
competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para 
vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.
Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar 
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a 
como instrumento para seu sucesso na carreira.
Conselho Editorial
7
orgAnizAção do CAdErno 
dE EStudoS E PESquiSA
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de 
forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões 
para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao 
final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e 
pesquisas complementares.
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos 
e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes 
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor 
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita 
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante 
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As 
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Sugestão de estudo complementar
Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, 
discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.
Praticando
Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer 
o processo de aprendizagem do aluno.
Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a 
síntese/conclusão do assunto abordado.
8
Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões 
sobre o assunto abordado.
Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o 
entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.
Exercício de fixação
Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não 
há registro de menção).
Avaliação Final
Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, 
que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única 
atividade do curso que vale nota, ou seja, éa atividade que o aluno fará para saber 
se pode ou não receber a certificação.
Para (não) finalizar
Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem 
ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.
9
introdução
Nas seguintes unidades vocês, alunos, irão percorrer a extensão do tratamento e as implicações 
da dependência química. Iniciaremos com os tratamentos farmacológicos das substâncias, em 
que serão conhecidas as opções de tratamento farmacológico do álcool; quais os medicamentos 
de primeira linha para o tratamento da nicotina; a relação com os tratamentos medicamentosos 
propostos para a cocaína (crack), além das indicações medicamentosas para maconha e seus 
resultados. Vocês irão entender os princípios do tratamento dos dependentes de opioides e as 
principais ações medicamentosas dos alucinógenos. 
Em relação às abordagens, o objetivo da Unidade II será de compreender os fundamentos da 
terapia cognitiva, entrevista motivacional, treinamento de habilidades, prevenção de recaída e 
modelo psicodinâmico. Os capítulos apresentam conceitos, aplicabilidade e evidências no campo de 
tratamento das substâncias. 
Quanto aos desafios apresentados nas comorbidades, o objetivo será de promover o conhecimento 
de comorbidades associadas ao diagnóstico da dependência química, bem como de analisar aspectos 
presentes em tais comorbidades, compreender a importância do diagnóstico e a probabilidade de 
pacientes apresentarem, junto ao quadro da dependência química, outros transtornos psiquiátricos. 
Exploraremos as características dos transtornos psiquiátricos mais recorrentes. 
Com relação ao grupo de autoajuda, entenderemos os princípios que norteiam a dinâmica do 
tratamento nos grupos de autoajuda com ênfase nos grupos existentes no Brasil. Iremos compreender 
a eficácia desses grupos em função do paciente a ser encaminhado; entendendo o espaço ocupado 
pelos grupos de autoajuda no contexto do tratamento da dependência de substâncias e seus 
princípios, que norteiam a dinâmica do tratamento sendo aplicado na importância das intervenções 
comunitárias. 
Também veremos a importância da religiosidade e, por fim, mas não menos importante, o Modelo 
Matrix será apresentado na finalização de todo este conteúdo. Muitas leituras são indicadas, e espero 
que vocês tenham um bom aproveitamento das aulas. Iremos partilhar, discutir e refletir juntos.
10
11
unidAdE i
trAtAmEntoS 
mEdiCAmEntoSoS 
dA dEPEndênCiA 
quÍmiCA
CAPÍtuLo 1 
diretrizes para o tratamento 
farmacológico das substâncias 
psicoativas
introdução
O Instituto Nacional de Abuso de Drogas realizou a Conferência Nacional de Tratamento de 
Dependência em Drogas e preparou um guia que postula diretrizes fundamentais no campo de 
tratamento.
Nesta unidade, vocês acompanharão dados das abordagens e de suas indicações, por isso, neste 
capítulo1, falaremos de tratamentos que sejam pautados na importância da medicação, ora como 
uma intervenção associada, ora sendo o acompanhamento medicamentoso a única intervenção.
A dependência química é uma doença complexa. É caracterizada pela busca 
compulsiva e algumas vezes incontrolável e pelo uso que persiste mesmo diante 
de consequências extremamente negativas. Para muitas pessoas, a dependência 
se torna crônica com possíveis recorrências mesmo após longos períodos de 
abstinência. O caminho para a dependência das drogas começa com o ato de 
experimentá-las. Ao longo do tempo, a capacidade de uma pessoa para escolher 
não experimentar drogas pode ser comprometida. A procura por drogas torna-
se compulsiva, em grande parte, como resultado dos efeitos de uso prolongado 
no cérebro, o que, consequentemente, reflete no comportamento. A compulsão 
para uso de drogas pode tomar conta da vida de uma pessoa. A dependência 
frequentemente envolve não apenas a ingestão compulsiva de droga, mas também 
uma grande escala de comportamentos disfuncionais que podem interferir no 
andamento normal da família, do trabalho e da comunidade. Pode também colocar 
as pessoas em risco crescente de contágio de muitas outras doenças, que podem 
1 Dados do site <www.drugabuse.gov/> foram utilizados no desenvolvimento do capítulo.
12
UNIDADE I │ TrATAmENTos mEDIcAmENTosos DA DEpENDêNcIA qUímIcA
ser causadas por comportamentos, tais como condições precárias de moradia 
e saúde que comumente acompanham a vida de um dependente ou devido aos 
efeitos tóxicos das drogas. Pelo fato de a dependência ter tantas dimensões e 
atrapalhar tantos aspectos da vida de um indivíduo, o tratamento para tal doença 
nunca é simples. Deve-se ajudar o indivíduo a parar de usar drogas e a manter um 
estilo de vida livre delas enquanto adquire um andamento produtivo em família, 
no trabalho e em sociedade. Um programa de tratamento eficaz geralmente tem 
vários componentes, cada um direcionado para aspecto particular da doença e suas 
consequências. Três décadas de pesquisas científicas e prática clínica produziram 
uma variedade de métodos eficazes para tratamento de uso de drogas. Dados 
documentam que o tratamento de drogas é tão eficaz quanto os tratamentos da 
maioria de outras condições médicas crônicas.
Princípios segundo o national institute on drug 
Abuse (nidA)
O NIDA traz diretrizes para o tratamento da dependência química.
Um único tratamento não é apropriado para todos os indivíduos. Combinar locais de tratamento, 
intervenção e serviços para os problemas e necessidades de cada indivíduo em particular é 
indispensável para o sucesso final, ao retornar para o funcionamento produtivo na família, no 
trabalho e na sociedade. 
O tratamento precisa estar prontamente disponível. Pelo fato de os indivíduos dependentes de drogas 
poderem estar duvidosos quanto a iniciar um tratamento, aproveitar as oportunidades quando eles 
estão prontos é fundamental. Candidatos potenciais podem ser perdidos se o tratamento não estiver 
imediatamente acessível. 
Um tratamento eficaz é aquele que atende às diversas necessidades dos indivíduos, e não apenas as 
relacionadas ao uso de drogas. Para ser eficaz, portanto, o tratamento deve abordar o uso de drogas 
do indivíduo e quaisquer outros problemas associados: médico, psicológico, social, vocacional e 
legal. 
O tratamento de um indivíduo e o plano de serviços devem ser continuamente avaliados e modificados 
quando necessário para garantir que o plano atenda às necessidades da pessoa. O paciente pode 
precisar de combinações variadas de serviços e componentes de tratamento durante o curso da 
terapia e recuperação. Além de aconselhamento ou psicoterapia, também pode, às vezes, requerer 
medicação, outros serviços médicos, terapia familiar, instruções aos pais, reabilitação vocacional, 
serviços legais e sociais. É fundamental que a abordagem do tratamento seja apropriada à idade, ao 
gênero, à etnia e à cultura do indivíduo. 
A permanência no tratamento por um período adequado de tempo é essencial para sua eficácia. 
A duração apropriada para um indivíduo depende de seus problemas e necessidades. Pesquisas 
indicam que, para a maioria dos pacientes, o limiar de melhoria significativa é alcançado com três 
13
TraTamenTos medicamenTosos da dependência química │ unidade i
meses de tratamento. Após alcançar esse limiar, um tratamento adicional pode produzir mais 
progresso rumo à recuperação. Devido ao fato de as pessoas, com frequência, deixarem o tratamento 
prematuramente, os programas devem incluir estratégias para envolver e manter os pacientes. 
Aconselhamento (individual e/ou em grupo) e outras terapias comportamentais são componentes 
cruciais para um tratamento eficaz. Em terapia, os pacientes mencionam temas como motivação, 
aquisição de habilidades para resistir ao uso de drogas, substituição de atividades que não impliquem 
uso de drogas e melhoria de habilidades para resolver problemas. A terapia comportamental também 
facilita relações interpessoais e a habilidade do indivíduo para atuarem família e na comunidade. 
Por fim, como objetivo desta Unidade, as diretrizes apontam que as medicações são um 
elemento importante no tratamento de vários pacientes, especialmente quando combinadas com 
aconselhamento e outras terapias comportamentais. Naltrexona é uma medicação eficaz para 
alguns pacientes com dependência de álcool. Para pessoas dependentes de nicotina, um produto de 
substituição da nicotina (como adesivos ou gomas) ou uma medicação oral (bupropion) pode ser 
um componente eficaz no tratamento. Para pacientes com distúrbios mentais, tanto os tratamentos 
comportamentais quanto os medicamentos podem ser de fundamental importância.
A medicação pode fazer parte desde a desintoxicação até a fase de manutenção do paciente. A 
desintoxicação médica é apenas o primeiro estágio do tratamento e por si mesma contribui pouco 
para mudança a longo prazo de uso de droga. Seguramente, administra os sintomas físicos agudos 
de abstinência associada à interrupção de uso de droga. Enquanto a desintoxicação sozinha é 
raramente suficiente para auxiliar atingir abstinência por longos períodos, para alguns indivíduos é 
um precursor fortemente indicado em tratamento eficaz das drogas.
Os melhores programas de tratamento proporcionam uma combinação de terapias 
e outros serviços para suprir as necessidades do paciente individualmente. 
Medicamentos, tais como antidepressivos, estabilizadores de humor ou neurolépticos, 
podem ser fundamentais para o sucesso do tratamento quando os pacientes têm 
desordens mentais recorrentes, como depressão, ansiedade, desordem bipolar ou 
psicose. O tratamento pode ocorrer em vários locais, de várias formas diferentes e 
por diversos períodos de tempo. Pelo fato de a dependência ser tipicamente uma 
desordem crônica caracterizada por recorrências ocasionais, um tratamento a curto 
prazo, de uma vez, geralmente não é suficiente. Para muitos, o tratamento é um 
processo a longo prazo que envolve várias intervenções e tentativas de abstinência.
 
14
CAPÍtuLo 2
álcool – tratamentos indicados
tratamento farmacológico do abuso e da 
dependência do álcool
Estamos em um período de grandes mudanças em relação ao tratamento farmacológico das 
dependências. Melhores modelos biológicos sobre a ação das drogas no cérebro e medicações mais 
específicas estão contribuindo de forma significativa para um tratamento mais efetivo.
O objetivo do tratamento farmacológico para o álcool é de, inicialmente, atenuar ou 
prevenir efeitos da abstinência. Posteriormente, diminuir o craving, reduzir efeitos 
reforçadores, tratar comorbidades e permitir normalização fisiológica.
A Food and Drug Administration (FDA), órgão que aprova liberação de drogas e alimentos para 
a comunidade americana, aprovou, até o momento, somente duas drogas para o tratamento de 
dependência do álcool: o dissulfiram e a naltrexona. Tudo leva a crer que o acamprosato também 
será aprovado.
dissulfiram
Foi a primeira droga antiálcool aprovada pela FDA, na década de 1940. Reduz o consumo alcoólico, 
mas não reduz o desejo pelo álcool. Atua inibindo a ação da enzima aldeído desidrogenase, 
provocando no indivíduo, após a ingestão de álcool, um aumento da concentração tóxica de aldeído 
(metabólico do álcool) no sangue e gerando os seguintes sintomas desagradáveis: enrubescimento 
facial (flushing), hipotensão, tonturas, fraqueza, sonolência, turvação da visão, náuseas, vômitos, 
palpitações, taquicardia, dores pulmonares e cefaleia. Reações mais graves incluem delirium, 
convulsões, arritmias cardíacas, insuficiência cardíaca, infarto do miocárdio e depressão respiratória. 
Em razão desses efeitos, é importante que o paciente seja informado sobre a necessidade de evitar 
qualquer ingestão alcoólica, incluindo vinagre e soluções de higiene oral. É contraindicado para 
grávidas, idosos e pacientes portadores de cardiopatias, insuficiência renal e hepática, doença 
vascular cerebral e doenças pulmonares graves.
O objetivo do uso do dissulfiram não é, obviamente, provocar desconforto no paciente, e sim agir 
como “freio psicológico”. Vários estudos têm demonstrado que o dissulfiram é útil para promover 
abstinência, em especial em pacientes bem motivados e socialmente estáveis.
15
TraTamenTos medicamenTosos da dependência química │ unidade i
naltrexona
O álcool parece aumentar os receptores opioides e o efeito desta estimulação está associado à 
sensação de euforia produzida pelo álcool. A naltrexona é um antagonista opioide que atua inibindo 
esses receptores e reduzindo o desejo por álcool. Tem perfil seguro: não foi constatado potencial de 
abuso ou dependência. Os efeitos colaterais mais comuns são náuseas e vômitos. Cefaleia, ansiedade 
e fadiga são menos comuns e resolvem-se em poucos dias. É contraindicada para pacientes com 
hepatite aguda, deficiência hepática, mulheres em controle de natalidade, pacientes com infecções 
agudas ou imunodeficiência, dependentes ou abstinentes de opioides.
Acamprosato
A forma como o acamprosato age na redução da ingestão alcoólica permanece incerta e muitos 
estudos foram e estão sendo conduzidos. É uma droga que parece atingir inibindo a atividade 
excitatória (glutamatérgica) e aumentando a atividade inibitória (GABAérgica) do cérebro. De alguma 
forma, o acamprosato parece restituir o equilíbrio excitação/inibição cerebral e, aparentemente, 
reduz a ingestão voluntária de álcool em animais e humanos. É uma medicação segura, com poucos 
efeitos colaterais, e não parece produzir dependência. O efeito colateral é renal. É contraindicado 
para mulheres grávidas ou em fase de amamentação, idosos e pacientes portadores de deficiência 
hepáticas e renais.
Leia os seguintes capítulos do livro: O tratamento do alcoolismo, de Edwards, 
Marshall e Cook. Porto Alegre: Artmed, 1999:
Capítulo 3 – “O álcool como droga”, pp. 41-54. 
Capítulo 10 – “Complicações físicas do beber excessivo”, pp. 135–154.
16
CAPÍtuLo 3
nicotina – tratamentos indicados
tratamentos farmacológicos com nicotina
Uma das justificativas da terapia de reposição de nicotina (TRN) para interromper o hábito de fumar 
está no fato de que é certo que a nicotina é o principal reforçador do hábito de fumar, no entanto, 
as inúmeras substâncias encontradas no cigarro são mais danosas que a própria nicotina. A outra 
justificativa é a tentativa de diminuir os sinais e sintomas da síndrome de abstinência de nicotina 
causada pela supressão de forma súbita da substância.
A prevalência de abuso e dependência com os produtos atuais para TRN é nenhuma (adesivo) ou 
muito baixa (menos que 10% para goma, spray nasal, inalador). Essa dependência provavelmente 
será maior com produtos que liberam nicotina rapidamente, mas menor do que cigarros. Mesmo 
que ocorra dependência, é provável que haja benefício global para a saúde se o sujeito não mais 
fumar.
A opção de uma modalidade de TRN depende basicamente da escolha do paciente, da rota de 
administração e do perfil de efeitos colaterais esperados. Não há necessidade de receita para 
comprar a medicação.
Existem modalidades de produtos para a reposição de nicotina: goma de mascar, adesivos 
transdérmicos, dispositivos de inalação de nicotina (spray e aerossol), drops ou pastilhas de nicotina, 
comprimidos sublinguais. Os mais comumente encontrados e utilizados são os dois primeiros.
Todas as modalidades de tratamento com TRN são efetivas a médio prazo e bem toleradas pelos 
pacientes, podendo até mesmo ser utilizadas em associação, como, por exemplo, o adesivo e a 
goma de mascar. Pacientes que utilizam TRN têm chances uma vez e meia a duas vezes maiores de 
melhorar a interrupção do tabaco.
Deve-se evitar o uso de refrigerantes ou bebidas ácidas, café, sucos ou soda imediatamente depois 
ou durante o uso do TRN, por haver chances de prejudicar a absorção da terapêutica.
Adesivo de nicotina
O mecanismo de ação do adesivo ocorre via S-nicotina, presente no adesivo. Esta, ao alcançar a 
circulação sistêmica, age nos receptores colinérgicosnicotínicos nos sistemas nervosos central 
e periférico. Desse modo, os sintomas de abstinência e a “fissura” pelo cigarro são reduzidos em 
curto prazo, evitando recaídas por meio da liberação lenta e contínua de nicotina na corrente 
sanguínea.
17
TraTamenTos medicamenTosos da dependência química │ unidade i
orientações clínicas
Os adesivos são utilizados de forma individualizada dependendo de cada caso e do grau de 
dependência de cada paciente. Em geral, inicia-se com um adesivo de dose maior, trocando-o 
diariamente e reduzindo a dose de maneira progressiva em 6 a 12 semanas.
Deve-se fixar o adesivo em região protegida do sol, com rodízio a cada 24h, e evitar áreas de fixação 
com pelos ou região mamária. Em geral, recomenda-se a parte externa do braço.
Precauções
Deve-se orientar o paciente que o uso de cigarro durante utilização de adesivo pode gerar uma 
intoxicação nicotínica, caracterizada por: náusea, cefaleia, salivação, palidez, vômito, dor abdominal, 
diarreia, sudorese, fraqueza, confusão mental e até insuficiência respiratória e convulsões.
Efeitos colaterais
No local da aplicação, podem ocorrer reações cutâneas irritativas, tais como prurido, rash 
(vermelhidão), bolhas e eritema infiltrativo, além de náuseas, vômitos, hipersalivação e diarreia, 
insônia e sonhos vívidos.
Contraindicações
Pacientes com cardiopatias, como: portadores de arritmias cardíacas, infarto agudo do miocárdio 
(IAM) recente. Também não é indicado para pacientes com acidentes vasculares cerebrais (AVC), 
crianças, na gravidez e para mulheres que estão amamentando.
gomas de nicotina
A goma mastigável de nicotina tem apresentações de 2 mg e 4 mg, comercializadas com o nome 
de Nicorette (natural, menta, freshmint). Uma das características desses chicletes é seu sabor, 
em geral, desagradável. As doses altas (acima de 4 mg) são mais efetivas em fumantes com maior 
dependência de nicotina que naqueles com baixa dependência. A dose média diária é de 8 g a 12 g. 
O consumo deve ser de até três meses, com posterior retirada gradual.
A absorção é pela mucosa oral, com ação rápida, não contínua e em picos. Orienta-se mascar por 
30min, utilizando-a nos picos da “fissura” e após insucesso das habilidades de enfrentamento.
Efeitos colaterais
Hipersalivação, náuseas, ulceração nas gengivas, amolecimento dentário.
18
UNIDADE I │ TrATAmENTos mEDIcAmENTosos DA DEpENDêNcIA qUímIcA
Contraindicações
Não são indicadas para adolescentes, grávidas, lactantes, nem nos casos de prótese mal ajustada, 
acidente cardiovascular recente, angina de peito, arritmias graves, insuficiência arterial periférica, 
feocromocitoma (tumor, em geral benigno, comumente encontrado em glândulas suprarrenais e 
gânglios para-aórticos que causam aumento da pressão arterial sistêmica), úlcera gastroduodenal, 
hipertensão.
Há pouca pesquisa sobre combinações de diferentes tipos de TRN. Existe evidência 
limitada de que acrescentar outra forma de TRN ao adesivo de nicotina aumenta as 
taxas de sucesso. Existem relatos de pacientes que podem evoluir para dependência 
da goma.
Diretrizes para cessação do tabagismo (Sociedade Brasileira de Pneumologia, 2008).
Disponível em:<http://www.sbpt.org.br/?op=paginas&tipo=secao&secao=18&pagi
na=101>.
19
CAPÍtuLo 4 
Cocaína e crack – tratamentos 
indicados 
A
 farmacoterapia não é para todos os usuários de cocaína e deve ser reservada para 
aqueles cujos sintomas responderiam às medicações. Várias medicações foram 
propostas, mas as evidências científicas dos benefícios ainda são discutíveis. Ao 
se decidir pelo tratamento farmacológico, deve-se levar em conta o eventual 
diagnóstico psiquiátrico concomitante (comorbidade) e a presença de sintomas 
de abstinência de cocaína. Os medicamentos adjuntos normalmente utilizados na 
dependência da cocaína são: agentes dopaminérgicos, agentes antidepressivos, 
agentes antipsicóticos e os agentes antiepiléticos, apesar de nenhuma eficácia ter 
sido comprovada.
Agentes dopaminérgicos
Os agentes dopaminérgicos, aparentemente, são mais úteis em melhorar os sintomas de abstinência 
imediatos após uso intenso de cocaína. O objetivo do uso desses medicamentos é reverter o estado de 
desequilíbrio provocado pelo consumo crônico da cocaína no sistema dopaminérgico. Como vimos, 
o neurônio extensivamente estimulado pela cocaína apresenta um esvaziamento dos estoques de 
dopamina, impedindo sua ativação pelos estímulos naturais. A vantagem desses medicamentos é o 
efeito de ação imediata, teoricamente. A droga mais utilizada é a bromocriptina. Outras medicações 
estudadas foram amantadina, L-dopa, metilfenidato, mazindol e pergolida, mas nenhuma delas 
teve o efeito terapêutico desejado demonstrado.
Agentes antidepressivos
A primeira indicação para o uso desses medicamentos é a presença de quadro depressivo. A 
indicação se torna ainda mais precisa na presença de transtornos persistentes de humor, quando 
os sintomas depressivos e ansiosos persistem após um prazo mínimo de duas semanas depois 
de ter sido promovida a abstinência. Um inconveniente desse grupo de medicamentos é que sua 
ação tem início lento (duas a três semanas após ter sido atingida a dose desejada). Porém, uma 
revisão sistemática conduzida por Lima et al. (2002), com 18 estudos incluídos e um total de 1.177 
participantes, avaliou os efeitos da desipramina (14 estudos), da fluoxetina (dois estudos), da 
impramina (um estudo) e da bupropiona (um estudo). Não houve resultados significativos com 
nenhum antidepressivo utilizado.
20
UNIDADE I │ TrATAmENTos mEDIcAmENTosos DA DEpENDêNcIA qUímIcA
Agentes antipsicóticos (antidopaminérgicos)
Esse grupo de agentes atua bloqueando a transmissão dopaminérgica em determinadas regiões 
cerebrais, as quais apresentam importantes desequilíbrios durante o consumo de cocaína. Os 
quadros paranoides representam uma consequência disso. Quando utilizados em dependentes, 
esses medicamentos atuariam na redução da euforia durante a intoxicação pela cocaína, no entanto, 
devido ao risco de toxicidade promovido por esses agentes (principalmente a discinesia tardia), eles 
se tornaram incompatíveis com a reabilitação do paciente dependente.
Além disso, uma revisão conduzida por Amato et al. (2005), que inclui sete pequenos estudos 
com 293 participantes, não encontrou evidências que suportem o uso dessas medicações para o 
tratamento da dependência de cocaína. Nessa revisão, foram incluídas a risperidona, a olanzapina 
e o haloperidol.
Agentes antiepilépticos 
Alguns anticonvulsivantes também são utilizados na psiquiatria como estabilizadores de humor. 
O que os tornou uma relativa opção terapêutica para o tratamento da dependência de cocaína é 
a hipótese de que o craving seria uma manifestação comportamental do kindling. Teoriza-se 
que o craving e a intensidade dos sintomas de abstinência sejam diretamente proporcionais à 
supersensibilidade induzida pela cocaína. Estudos com animais demonstram que a carbamazepina 
poderia reduzir essa supersensibilidade dos receptores dopaminérgicos, no entanto, resultados 
de outros estudos não foram encorajadores. Parece que a carbamazepina é capaz de bloquear o 
desenvolvimento, mas não a manifestação do kindling, ou seja, precisaria ser administrada logo no 
primeiro contato do usuário com a substância e tal ação profilática não tem nenhum embasamento 
ou indicações nesse momento.
Além disso, uma revisão sistemática conduzida por Minozzi et al. (2008), que incluiu 15 estudos 
e 1.066 participantes, não encontrou evidências que suportem o uso de anticonvulsivantes 
(carbamazepina, gabapentina, lemotrigina, fenitoína, tiagabina, topiramato e valproato). Apesar 
disso, alguma evidência foi encontrada para uso do topiramato na redução da intensidade do 
craving.
outras medicações
A modafinila é um estimulante utilizado para a sonolência excessiva produzida 
pela narcolepsia. Tal medicação está sendo investigada para o tratamento da 
dependência de cocaína e tem-se mostrado promissora, bem comoo beclofeno 
(agonista dopaminérgico utilizado como relaxante muscular), especialmente em 
usuários pesados. Revisão conduzida descreveu sete estudos com uso do dissulfiram 
em dependentes de cocaína e conclui que essa medicação esteve associada com 
significativa melhora na retenção ao tratamento, bem como com períodos maiores 
de abstinência do álcool e da cocaína.
21
TraTamenTos medicamenTosos da dependência química │ unidade i
Outra promessa é a vacina de cocaína (TA-CD), que age criando anticorpos de 
cocaína que retardam o seu alcance no cérebro. Em ratos, a vacina bloqueou 
a autoadministração da droga. Em humanos, mostrou-se bem tolerada e não 
apresentou efeitos adversos importantes, porém, seus efeitos declinam após quatro 
meses e uma nova série original de vacina seria necessária para adquirir a imunização 
clínica adequada.
Crack e a agitação aguda dessa substância
Sabe-se que, para o tratamento do usuário de crack em nível ambulatorial, o uso de antipsicóticos (a 
não ser que haja sintomas psicóticos) piora a anedonia e apatia dos usuários, por uma potencialização 
do déficit dopaminérgico durante as fases iniciais da abstinência de crack, o que pode piorar a 
adesão ao tratamento. 
A questão da agitação psicomotora é uma frequente causa de busca por atendimento emergencial 
em pacientes dependentes químicos.
O ideal é conseguir um mínimo do histórico para medicar de modo mais adequado. Quando isso 
não é possível e o paciente chega muito agitado e agressivo, usam-se medicações neurolépticas, 
associadas ou não a benzodiazepínicos.
Como você não conhece o paciente e sua resposta à medicação, é prudente conhecer os efeitos 
colaterais mais frequentes dos fármacos. No caso dos neurolépticos mais disponíveis no SUS, a dúvida 
geralmente fica entre um de alta potência (haloperidol) e um de baixa potência (clorpromazina).
Todos os antipsicóticos agem nas vias mesolímbica (onde auxiliam na redução de sintomas 
psicóticos), mesocorticais (responsáveis por alguns dos efeitos cognitivos), hipotálamo (aumento de 
prolactina) e na via nigroestriatal (efeitos colaterais parkinsonianos ou impregnação). No entanto, 
os de alta potência têm mais efeitos parkinsonianos e os de baixa potência podem alterar de modo 
mais brusco a pressão arterial, causando hipotensão.
Assim, como você não conhece o paciente, nem sabe se ele utilizou outras substâncias que podem 
interagir com o fármaco que será administrado, o risco de hipotensão é potencialmente mais letal 
que o risco de impregnação, que pode ser contornado com a administração de um anticolinérgico 
(como o biperideno).
O uso de benzodiazepínicos também deve ser cauteloso: a absorção do diazepam por via endovenosa 
deve ser feita com a presença de material para ventilação do paciente e por equipe experiente para 
entubar e instalar o ventilador, caso necessário, pois há risco de depressão do sistema nervoso 
central (SNC). Em administração intramuscular, a absorção é errática pela natureza lipofílica da 
molécula, sendo mais adequado o uso de midazolam.
22
UNIDADE I │ TrATAmENTos mEDIcAmENTosos DA DEpENDêNcIA qUímIcA
Os artigos abaixo foram utilizados como referências deste capítulo, por isso, 
sugerimos sua leitura integral para maior entendimento.
AMATO, Laura et al. An overview of systematic reviews of the effectiveness of opiate 
maintenance therapies: available evidence to inform clinical practice and research. 
Journal of Substance Abuse Treatment, v. 28, pp. 321-329, 2005.
Lima, M. S et al. Pharmacological treatment of cocaine dependence: a systematic 
review. Addiction, v. 97, n. 8, pp. 931-949, 2002.
Minozzi, S. et al. Anticonvulsants for cocaine dependence. Cochrane Database Syst 
Rev 2, 2008.
23
CAPÍtuLo 5
opioides e o tratamento farmacológico
introdução
Um dos materiais mais utilizados da literatura sobre opioides foi publicado em artigo de revisão por 
Baltieri et al. (2004), o qual serviu de base para o desenvolvimento do capítulo. Segundo os autores, 
Existe uma prevalência relativamente baixa do uso de ópioides no Brasil, em 
particular envolvendo o uso não médico da codeína e de xaropes que contêm 
opioides. No entanto, a síndrome de dependência apresenta um significativo 
impacto total na mortalidade e morbidade. Nos últimos 20 anos, o avanço 
científico tem modificado nosso entendimento sobre a natureza da adição aos 
opioides e os variados tratamentos possíveis. 
A adição é uma doença crônica tratável se o tratamento for realizado e adaptado tendo em vista 
as necessidades do paciente específico. Há um conjunto de tratamentos que podem efetivamente 
reduzir o uso da droga, ajudar a gerenciar a fissura pela droga, prevenir recaídas e recuperar as 
pessoas para o funcionamento social produtivo.
Para os referidos autores, 
o tratamento da dependência de drogas será parte de perspectivas de longo 
prazo do ponto de vista médico, psicológico e social.
Esta diretriz almeja fornecer um guia para os psiquiatras e outros profissionais 
de saúde que tratam de pacientes com síndrome de dependência de opioides.
Ela tece comentários sobre o tratamento somático e psicossocial que é utilizado nesses pacientes e 
revisa as evidências científicas e seu poder. Da mesma forma, os aspectos históricos, epidemiológicos 
e neurobiológicos da dependência de opioides são revisados.
definição de termos
Dependência física de opioides – é demonstrada pela presença de abstinência de opioide quando 
da cessação ou marcada redução do uso de opioides, ou durante administração aguda de um 
antagonista de opioide. Os sinais e sintomas dessa abstinência foram bem caracterizados e incluem 
aspectos como rinorreia, pele arrepiada e midríase. 
24
UNIDADE I │ TrATAmENTos mEDIcAmENTosos DA DEpENDêNcIA qUímIcA
Tabela 1 - sinal e sintomas de intoxicação e abstinência de opióides
Intoxicação Abstinência
Ativação ou “impeto” (com baixas dosagens) e sedação/apatia com altas 
dosgaens.
Euforia ou disforia
Sentimentos de calor, rubor facial, ou coceira
Juízo, atenção, ou memória prejudicados
Analgesia
Constipação
Constrição pupilar
Sonolência
Depressão respiratória, arreflexia, hipotensão, taquicardia
Apnéia, sedação, coma
Humor deprimido e ansiedade. Disforia
Fissura
Piloereção, lacrimejamento ou rinorréria
Frequentemente, “alta” atenção
Hiperalgesia, dores nas juntas e músculos
Diarréia, Câibras gastrointestinais, náusea, ou vômitos
Dilatação pupilar e fotofobia
Insônia
Hiperatividade autônomica (e.g. hiperreflexia, taquicardia, hipertensão, 
taquipnea, sudorose, hipertermia)
Bocejar
fonTe: Traduzido de martin e hubbard, 2000
Síndrome de dependência de opioides (adição) – caracterizada por um conjunto de sinais e 
sintomas associados ao uso patológico de opioides; um termo alternativo que pode ser utilizado 
para a dependência sindrômica de opioides é adição a opioides. Um aspecto dessa síndrome de 
dependência pode ser a dependência física, ainda que a presença desta não seja necessária para 
o diagnóstico de dependência sindrômica. Os critérios de dependência sindrômica, como os que 
se encontram no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM-IV – American 
Psychiatry Association –, são amplamente utilizados. 
Tolerância – desenvolve-se quando, após a repetida administração, uma determinada dose de 
uma droga produz um efeito menor ou, ao contrário, quando doses cada vez maiores precisam ser 
administradas para obter os efeitos observados com a dose original. 
Recaída – é a recorrência quando da suspensão de um tratamento médico eficaz da condição original 
que o paciente sofria. 
Abstinência – reações psicológicas e fisiológicas ante a interrupção ou redução abrupta da dose da 
droga.
tratamento farmacológico da síndrome de 
abstinência
A síndrome de abstinência de opioides tem baixa letalidade na ausência de problemas clínicos 
associados. As medidas medicamentosas e de suporte são instituídas com o objetivo de proporcionar 
bem-estar ao paciente e prevenir complicaçõesclínicas.
O tratamento deve ocorrer em ambiente tranquilo e iluminado, abrangendo as comorbidades 
detectadas e provendo aporte nutricional ao paciente. A clonidina é capaz de inibir atividades 
autônomas, como o lacrimejar, a rinorreia, a sudorese, a diarreia, os calafrios e a piloereção. A 
25
TraTamenTos medicamenTosos da dependência química │ unidade i
associação com algum benzodiazepínico melhora as dores musculares, a insônia, a inquietação 
e a fissura pelos efeitos euforizantes. A metadona pode ser introduzida para abortar a crise por 
completo.
tratamento farmacológico da dependência
A meta do tratamento farmacológico da dependência de opioides consiste em possibilitar ao 
indivíduo afastar-se da droga, de maneira gradual ou abrupta. Isso pode ser feito de várias formas, 
utilizando-se:
 » a própria droga, com redução progressiva das doses;
 » outras drogas que produzam tolerância cruzada com a droga empregada;
 » medicações que avaliem os sintomas de retirada da droga;
 » medicações que alterem os mecanismos responsáveis pelos sintomas de abstinência.
O tratamento da dependência de heroína será considerado bem-sucedido se o 
dependente parar de usar a droga, afastar-se de outros usuários, evitar atividades 
associadas ao uso, melhorar seu status profissional e for capaz de se engajar em 
relacionamentos sociais e familiares normais. Para muitos usuários, essas metas 
podem ser atingidas com a substituição da droga por um opioide cujos efeitos 
durem mais que o da heroína. A metadona tem sido utilizada com essa finalidade. 
É um opioide sintético com meia-vida entre 15h e 40h. Enquanto os sintomas de 
abstinência para a heroína se iniciam em 6h, para a metadona se iniciam entre 
24h e 48h, o que a torna conveniente por poder ser utilizada apenas uma vez ao 
dia. Além disso, apresenta outras vantagens, como reduzir o uso de opioides não 
prescritos, reduzir comportamentos antissociais, suprimir os efeitos de abstinência, 
não interferir nas atividades cotidianas dos pacientes e ter baixo custo.
A metadona tem potencial de abuso e por isso é administrada por via oral. Logo, 
o estabelecimento dos efeitos é muito lento para poder causar rush da heroína, 
minimizando, assim, o risco de abuso dessa substância. Outras medicações utilizadas 
com a mesma finalidade são L-alfa-acetilmetadol (LAAM) e a buprenorfina.
A metadona pode ser utilizada tanto para desintoxicação (uso por até 90 dias) como 
para manutenção (uso por mais de três meses). Essa segunda forma é utilizada em 
vários serviços da Europa e dos Estados Unidos e o tempo ideal para esse tipo de 
tratamento é de 6 a 24 meses, o que nem sempre acontece. O tratamento com a 
metadona constitui uma forma de atingir um estilo de vida mais saudável e normal 
e não a cura para a dependência de heroína, cuja abstinência não fica garantida. 
Para aumentar as chances de sucesso do tratamento, os pacientes devem receber 
sessões de aconselhamento.
26
UNIDADE I │ TrATAmENTos mEDIcAmENTosos DA DEpENDêNcIA qUímIcA
Recentemente incluída entre os medicamentos para tratamento da dependência 
de heroína foi a buprenorfina, que apresenta um tratamento particularmente 
atrativo. Comparada à metadona, causa menos efeitos e tem menos probabilidade 
de provocar overdose. Também gera menos dependência física e o paciente que 
descontinua o uso apresenta menos sintomas de abstinência do que aquele que 
descontinua a metadona. Por esse motivo, pode ser utilizada em tratamento 
ambulatorial com mais segurança.
BALTIERI, D. A. et al. Diretrizes para o tratamento de pacientes com síndrome de 
dependência de opioides no Brasil. Rev Bras Psiquiatr, v. 26, n. 4, pp. 259-269, 2004. 
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbp/v26n4/a11v26n4.pdf>. Acesso em: 
24 jan. 2011. 
DUARTE, D. F. Uma breve história do ópio e dos opioides. Rev. Bras. Anestesiol, 
v. 55, n. 1, pp. 135-146, 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rba/v55n1/
v55n1a15.pdf>. Acesso em: 30 jan. 2011. 
MARTIN, P. R.; HUBBARD J. R. Substance-related disorders. In: EBERT, M. H.; LOOSEN, 
P. T. Nurcombe B. Current diagnosis & treatment in psychiatry. New York: McGraw 
Hill, pp. 233-259, 2000.
27
CAPÍtuLo 6
Alucinógenos (LSd) – princípios gerais 
de tratamento
Princípios gerais de tratamento 
Rotineiramente, os testes utilizados para detectar drogas não são capazes de perceber o LSD devido 
ao seu metabolismo muito rápido, o que resulta em doses baixas nos fluidos corpóreos; porém, 
utilizar tais testes é inútil para excluir outras drogas como causadoras da intoxicação. Quadros 
ansiosos e de pânico com leve inquietação, derivados do uso de qualquer tipo de alucinógeno, 
são controlados com reasseguramento e orientação voltada para a realidade. É muito importante 
colocar o indivíduo num ambiente tranquilo para minimizar os estímulos sensoriais. Sintomas 
mais intensos são controlados com benzodiazepínicos ou neurolépticos. Comportamentos violentos 
e heteroagressivos requerem contensão, a fim de assegurar a integridade física do paciente e de 
terceiros.
A lavagem gástrica e o uso de carvão ativado são indicados para intoxicações por anticolinérgicos 
ocorridas via oral há menos de 6h. Convulsões são tratadas com aporte de oxigênio e diazepam 
endovenoso. Hipertensão, taquicardia e hipertermia têm prescrições específicas.
Quadros de alta ansiedade provocada por flashbacks podem ser tratados com doses diárias de 
benzodiazepínicos; para estes pacientes, o uso de haloperidol deve ser evitado por provocar um 
aumento dos flashbacks visuais.
28
CAPÍtuLo 7
maconha e seu tratamento 
farmacológico 
questões atuais – retomando o percurso da 
maconha, sua relação com a esquizofrenia e 
seu tratamento farmacológico
Ribeiro (2002) apresentou um levantamento histórico da cannabis em que podemos fazer uma 
profunda reflexão de seu percurso. Segue o texto abaixo.
Nos últimos anos, o consumo de maconha e suas complicações voltaram a chamar 
a atenção dos pesquisadores, sem haver, no entanto, preocupação em identificar 
transtornos psicóticos específicos como outrora. Além de indicadores sugestivos 
de aumento do consumo de maconha (principalmente entre os adolescentes), o 
surgimento de apresentações e espécies híbridas mais potentes (skunk, white widow, 
purple power, shiva shanti) adicionou novas questões acerca dos riscos de problemas 
mentais relacionados ao consumo deste vegetal . 
O primeiro estudo relevante e metodologicamente bem elaborado foi realizado na 
Suécia: todos os jovens que se alistaram no serviço militar (45.570 indivíduos) em 
1969 foram entrevistados para a obtenção do histórico do seu uso de maconha e para 
avaliação psiquiátrica individual. Quinze anos depois, os autores constataram que o 
índice de esquizofrenia foi 2,4 vezes maior entre aqueles que antes do alistamento 
militar haviam utilizado maconha alguma vez na vida. O risco foi seis vezes maior entre 
os que já haviam utilizado maconha mais de cinquenta vezes antes do alistamento. 
O risco de psicose exclusivamente atribuível ao consumo de maconha foi 1,3 vez 
maior (30%) quando outros fatores de risco (consumo de outras drogas e transtornos 
de personalidade) foram excluídos. O início dos sintomas de esquizofrenia entre os 
usuários de maconha foi mais precoce e intenso quando comparados aos recrutas 
que nunca consumiram maconha na vida. O estudo identificou, assim, uma relação 
de causalidade entre o uso de maconha e o aparecimento de psicose. Tal relação é 
influenciada pela dose e pela duração do consumo. 
Os mesmos autores realizaram um segundo estudo, desta vez levantando os 
prontuários de todos os indivíduos internados com diagnóstico duplo (comorbidade) 
para esquizofrenia e dependência de maconha em Estocolmo entre 1971-1983. 
Quase 70% dos esquizofrênicos referiram uso pesado de maconha no ano anterior 
ao início dos sintomas. A associação entre as patologias ficou clara em ambos os 
estudos, mas a relação de causalidade (causa,automedicação ou coincidência) não 
pôde ser estabelecida mais uma vez. 
29
TraTamenTos medicamenTosos da dependência química │ unidade i
Recentemente, foi publicado outro estudo populacional envolvendo mais de sete 
mil entrevistados (selecionados aleatoriamente) de noventa cidades holandesas. 
Os participantes foram entrevistados três vezes ao longo de dois anos. Escalas 
de avaliação para doenças mentais, predisposição à esquizofrenia, gravidade dos 
sintomas psicóticos e nível de consumo de maconha foram utilizadas. Ao final, 
fatores que poderiam interferir no resultado, tais como idade, gênero, escolaridade, 
estado civil, emprego, nível socioeconômico, uso de outras drogas e predisposição 
à esquizofrenia foram ajustados para que apenas a ação da maconha pudesse ser 
avaliada. Cerca de 1% dos indivíduos entrevistados apresentou sintomas psicóticos 
ao longo de dois anos. O estudo demonstrou que a incidência de psicose foi maior 
entre aqueles que consumiam maconha desde a primeira avaliação. Aqueles que 
possuíam predisposição à esquizofrenia mostram-se ainda mais vulneráveis: em cerca 
de 80% dos casos de psicose encontrados, havia a presença de consumo anterior de 
maconha e predisposição à doença. Os autores ressaltaram que a relação consumo 
de maconha e psicose não deve ser focalizada apenas para os casos graves, que 
necessitam de cuidados médicos mais intensivos. O presente estudo demonstrou 
que o consumo de maconha pode produzir quadros psicóticos em diversos níveis 
de gravidade. Tal gravidade, por sua vez, dependerá da quantidade de maconha, do 
tempo de consumo e da predisposição dos indivíduos para esquizofrenia. 
Outros estudos também corroboraram os achados acima, apontando que a presença 
de transtornos de personalidade (esquizotípica e antissocial), de padrões graves de 
consumo e o início precoce da primeira experiência aumentam significativamente 
o risco de psicose entre estes indivíduos. A relação entre consumo de maconha e 
psicose parece não variar entre diferentes etnias. 
Os estudos acima permitem algumas conclusões: 1) existe uma associação entre 
o uso de maconha e o risco de psicose, que aumenta de acordo com a gravidade 
do consumo; 2) a predisposição à psicose e o uso concomitante de outras drogas 
aumentam significativamente o mesmo risco; 3) o uso precoce de maconha 
(especialmente durante a adolescência) também é um fator de risco. 
Apesar de sugestivas e obtidas por meio de estudos metodologicamente bem 
desenhados e executados, tais achados não contam com consenso de outros 
estudos. Desse modo, alguns autores não encontraram relação entre o consumo de 
maconha (e sua intensidade) e a eclosão de sintomas psicóticos, bem como piora 
na evolução da doença, mesmo em indivíduos predispostos. Além disso, revisões 
da literatura acerca do tema
 
não apontam para uma única relação causal, mas sim 
para a presença dos modelos da causalidade, da automedicação e da coincidência 
em diferentes situações.
Como motivar um paciente que usa cannabis e não veio se tratar disso? Reflita e 
elabore uma resposta.
30
UNIDADE I │ TrATAmENTos mEDIcAmENTosos DA DEpENDêNcIA qUímIcA
Princípios gerais de tratamento farmacológico
A toxicidade aguda da maconha é extremamente baixa. Considerando as experiências feitas com 
animais, supõe-se que seria necessária uma quantidade de 8,45 kg de THC para matar um adulto 
com 65 kg. Não existe caso de morte por intoxicação confirmado na literatura médica e complicações 
agudas não são relatadas com frequência. Os sintomas desagradáveis que podem acompanhar o uso 
são: ansiedade, pânico, medo intenso, disforia e reações depressivas. Quadros psicóticos agudos têm 
sido descritos tanto em usuários crônicos como em principiantes, e os sinais e sintomas frequentes 
são inquietação motora, insônia, “fuga” de ideias e leves alterações de pensamento.
Normalmente, a intoxicação aguda pela Cannabis não leva a uma atenção profissional. O 
reasseguramento psicológico e a orientação para a realidade, feita por amigos e familiares, costumam 
ser suficientes. Os benzodiazepínicos podem ser úteis nos quadros ansiosos agudos, assim como nos 
psicóticos, se associados a algum neuroléptico.
A pesquisa clínica para farmacoterapia no tratamento da dependência de maconha ainda é muito 
pequena e recente. Parece haver algum potencial com antidepressivos e ansiolíticos, mas mais 
estudos ainda são necessários para recomendar seu uso.
Outra promessa é o rimonabanto, antagonista canabinoide que bloqueia os efeitos subjetivos da 
maconha e pode prevenir recaída.
Voluntary Exercise and Sucrose Consumption Enhance Cannabinoid CB1 Receptor 
Sensitivity in the Striatum, de Chiara et al. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.
gov/pubmed/19776732>. 
RIBEIRO, M. Maconha e psicose. Álcool e Drogas sem Distorção. Disponível em: 
<http://apps.einstein.br/alcooledrogas/novosite/atualizacoes/ac_123.htm>.
31
CAPÍtuLo 8
Princípios gerais de tratamento das 
anfetaminas
introdução
Na Inglaterra, entre as drogas ilícitas, o uso de anfetaminas é inferior apenas ao de maconha. O 
consumo de anfetaminas injetáveis também é algo comum. Programas estão tentando encontrar 
soluções para este problema e fazem combinações entre programas de redução de danos associados 
a entrevista motivacional, reconhecimento de possíveis “gatilhos” associados às recaídas, modos de 
evitá-los ou mesmo maneiras de interromper possíveis lapsos ou recaídas.
A grande maioria dos estudos com medicamentos para dependência de estimulantes do sistema 
nervoso central é feita com foco na cocaína, e um número reduzido é voltado para as anfetaminas. 
Os melhores resultados foram observados com os antagonistas dopaminérgicos, antidepressivos 
e dissulfiram. Estudo publicado em 2007 em Fonseca et al. (2011) mostrou que o metilfenidado, 
medicamento com potente ação inibitória da receptação da dopamina e da noradrenalina, foi 
estatisticamente mais eficiente que o placebo no tratamento dos usuários graves de anfetaminas 
injetáveis. Comercialmente no Brasil este medicamento é conhecido pelos nomes de ritalina, 
ritalina LA e conserta e é comumente utilizado no tratamento do transtorno de déficit de atenção e 
hiperatividade (TDAH).
As principais complicações ameaçadoras à vida na overdose por anfetaminas são hipertemina, 
hipertensão, convulsões, colapso cardiovascular e traumas. São possíveis os edemas pulmonares 
cardiogênicos. Esses quadros devem ser tratados por profissionais competentes e devidamente 
treinados.
Na ausência de complicações clínicas ameaçadoras à vida, não se justifica o atendimento de 
emergência para a síndrome de abstinência. O aporte nutricional e uma avaliação clínica do estado 
geral, associados a terapêuticas ansiolíticas e antidepressivas, podem ser instituídos.
Princípios gerais de tratamento
As intoxicações graves, com depressão respiratória, coma, arritmias cardíacas e convulsões, são 
emergências médicas e devem receber tratamento imediato. O usuário poderá ter passado vários 
dias sem aporte alimentar e chegar ao pronto-socorro necessitando mais de reposições (hidratação, 
reposição de glicose, eletrólitos etc.) do que de cuidados ligados à intoxicação.
32
UNIDADE I │ TrATAmENTos mEDIcAmENTosos DA DEpENDêNcIA qUímIcA
tratamento farmacológico da dependência
Há três abordagens utilizadas no tratamento da dependência, as quais visam à administração dos 
sintomas.
 » Redução gradual da dose: como guia, sugere-se redução da dose em 25%, com 
intervalos. Se houver algum desconforto importante, a dose deve ser mantida um 
pouco mais alta, buscando-se maiores reduções a partir daí:
 › em pacientes com menos de seis semanas de uso, recomenda-se reduzir a dose 
em três estágios, por períodos de sete a dez dias;
 › em pacientes com uso de seis semanas a seis meses, recomenda-se reduzir a dose 
progressivamente durante um período de 10 a 20 dias;
 › em pacientes com mais de seis meses de uso, recomenda-se reduzir a dosedurante um período de seis a oito semanas e só recorrer a períodos maiores se 
houver sintomas muito intensos.
 » Substituição por outro benzodiazepínico: para aqueles pacientes que 
experimentam sintomas de abstinência com a abordagem anterior de redução 
gradual da dose, pode-se tentar a substituição por outro benzodiazepínico de 
meia-vida longa, em dosagem equivalente, facilitando a retirada e prevenindo 
complicações. A partir daí, deve-se seguir o protocolo de redução gradual da dose.
 » Substituição por outra droga: terapias de substituição foram propostas com, pelo 
menos, quatro outras drogas: propranolol, clonidina, carbamazepina e fenobarbital. O 
propranolol diminui alguns dos sintomas físicos presentes na abstinência (tremores, 
aumento da frequência cardíaca e pressão arterial), mas não interfere nos sintomas 
psicológicos. Portanto, seu uso justifica-se somente naqueles pacientes que apresentam 
sintomas físicos importantes. A clonidina, embora tenha sido inicialmente prometida 
como substituta, não tem tido seu uso justificado por estudos mais recentes. A 
carbamazepina é uma das drogas mais promissoras, mas carece de maiores estudos. 
Um protocolo de substituição por fenobarbital também foi descrito. No entanto, deve-
se ter muito cuidado ao administrar antidepressivos e neurolépticos durante o período 
de abstinência para benzodiazepínicos, pois essas medicações diminuem o limiar 
convulsivo e podem, dessa forma, facilitar a ocorrência de convulsões.
Lemos, Tadeu; Fonseca, Vilma Aparecida da Silva. Anfetaminas e metanfetaminas. 
In: DIEHL, Alessandra; CORDEIRO, Daniel Cruz; LARANJEIRA, Ronaldo. Dependência 
química. Prevenção, tratamento e políticas públicas. Porto Alegre: Artmed, 2011.
Acute toxic effects of “Ecstasy” (MDMA) and related compounds: overview of 
pathophysiology and clinical management. 
Neurotoxicity of methylenedioxyamphetamines (MDMA; ecstasy) in humans: how 
strong is the evidence for persistent brain damage?
33
unidAdE ii
trAnStornoS 
PSiCotEráPiCoS 
PESquiSAdoS E 
APLiCAdoS Em 
dEPEndênCiA 
quÍmiCA
CAPÍtuLo 1
Pontos importantes da psicoterapia e 
das abordagens – uma breve reflexão
Psicoterapia
A prática da psicoterapia expressa o encontro de duas pessoas ou mais que criam juntas a 
possibilidade de uma conversa organizadora e de alcance significativo na vida de uma das partes. 
Entretanto, dado o conjunto de procedimentos que são considerados “psicoterapia”, chegar 
a uma definição completa da palavra é difícil, já que a ênfase em diferentes componentes 
determina as distinções entre as várias escolas de psicoterapia. Ainda assim, é provavelmente 
seguro defini-la como um processo pelo qual os problemas psicológicos são tratados por meio 
da comunicação e os fatores de relação entre um indivíduo (ou mais de um) e o terapeuta. A 
psicoterapia é uma relação “conversacional” profissional entre um terapeuta e um cliente que 
se baseia em princípios terapêuticos, estrutura e técnica – diferindo-se das outras relações em 
várias maneiras. 
Há um consenso de que a psicoterapia é um método de tratamento mediante o qual um profissional 
treinado, valendo-se de meios psicológicos, especialmente a comunicação verbal e a relação 
terapêutica, realiza, deliberadamente, uma variedade de intervenções, com o intuito de influenciar 
um cliente ou paciente, auxiliando-o a modificar problemas de natureza emocional, cognitiva e 
comportamental, já que ele o procurou com essa finalidade (STRUPP, 1978).
A psicoterapia envolve, portanto, uma interação face a face. Na verdade, a ela distingue-se de outras 
modalidades de tratamento por ser muito mais uma atividade colaborativa entre o paciente e o 
terapeuta do que uma ação predominantemente unilateral, exercida por alguém sobre outra pessoa, 
como ocorre com outros tratamentos médicos. 
34
UNIDADE II │ TrANsTorNos psIcoTErápIcos pEsqUIsADos E AplIcADos Em DEpENDêNcIA qUímIcA
Características da psicoterapia
 » É um método de tratamento realizado por um profissional treinado, com o objetivo de 
reduzir ou remover um problema, queixa ou transtorno definido de um paciente ou cliente 
que deliberadamente busca ajuda. 
 » O terapeuta utiliza meios psicológicos como forma de influenciar o cliente ou paciente.
 » É realizada em um contexto primariamente interpessoal (a relação terapêutica). 
 » Utiliza a comunicação verbal como principal recurso.
 » É uma atividade eminentemente colaborativa entre paciente e terapeuta. 
Critérios para que um modelo psicoterápico seja 
consolidado
 » Deve estar embasado em uma teoria abrangente, que ofereça uma explicação 
coerente (um racional) sobre a origem, a manutenção dos sintomas e a forma de 
eliminá-los. 
 » Os objetivos a que se propõe modificar devem ser claramente especificados. 
 » Devem existir evidências empíricas da efetividade da técnica proposta. 
 » Deve haver comprovação de que as mudanças observadas são decorrentes das 
técnicas utilizadas e não de outros fatores. 
 » Os resultados devem ser mantidos a longo prazo. 
 » Deve apresentar uma relação custo-efetividade favorável na comparação com outros 
modelos ou alternativas de tratamento.
A diversidade teórica – as últimas décadas foram marcadas por grandes mudanças 
sociais, com o advento de um mundo globalizado, um tanto quanto “provisório” 
e imediatista, em que tudo, ou quase tudo é virtual, descartável e midiático. Tais 
eventos trouxeram repercussões no psiquismo dos indivíduos e, muitas vezes, 
acabou os colocando em situações difíceis, conflituosas e até traumáticas.
Diante desse novo contexto, a psicoterapia teve a necessidade de ampliar seu campo de 
trabalho, atuando, por exemplo, em situações traumáticas geradas por conflitos sociais, 
de ordem econômica, grandes desastres ou catástrofes ambientais. Para conseguir 
trabalhar com as diversas demandas, a psicoterapia precisou adaptar o seu setting, 
deixando de atuar apenas em consultório. Saiu a campo e, juntamente com outros 
profissionais, criou novos formas de atuação, mantendo, entretanto, os conceitos e 
princípios que a embasam e validam. Da pluralidade de pensamentos e abordagens 
35
TransTornos psicoTerápicos pesquisados e aplicados em dependência química │ unidade ii
podemos encontrar algumas similaridades entre as muitas teorias existentes. De certo 
modo, cada uma delas sugere que qualquer um de nós, sendo criança ou adulto, 
está sob influências que nos levam a sentir ou agir de modo a aumentar ou diminuir 
as chances de sentirmo-nos felizes ou infelizes. Tais influências, que vão partir de 
pontos de origem distintos conforme o embasamento teórico, como sendo impulsos 
inconscientes, esquemas disfuncionais, influências do meio, modelos internos de 
vinculação e ou apego, expectativas ou pressões familiares nos apontam a ideia de que 
nossos sentimentos e comportamentos não são totalmente controlados por nós.
Os impulsos que reprimimos para nosso inconsciente, pensamentos irracionais 
que desenvolvemos por meio da interação com nossos pais, os padrões de 
comportamento moldados durante nossos primeiros anos, nosso modelo de 
relações e afeições interno, as regras e normas aprendidas com nossas famílias 
quando somos jovens, todos esses aspectos nos influenciam, nos moldam ao longo 
do tempo. Com o envolvimento de substâncias psicoativas, tais elementos presentes 
na construção de experiências e relações tornam-se ainda mais comprometidos.
Praticamente todas as teorias psicoterapêuticas mencionam o modo pelo 
qual sentimentos, pensamentos e eventos podem ter um efeito sobre nosso 
comportamento. Geralmente, nem sempre estamos cientes dos impulsos ou razões 
que nos levam a agir de um modo ou de outro, ou de como o meio ambiente, 
ou os primeiros vínculos e ainda nossa estrutura familiar tenham moldado nosso 
comportamento. Compreender essa premissa no campo das adições evidencia mais 
ainda a necessidade de respeitar as defesas e o funcionamento de cada paciente.
Opondo-se ao ditado “Oque você não conhece não pode te machucar”, tais teorias 
proferem que o que não sabemos pode sim ter uma influência significativa sobre nós 
e, em muitas das vezes, nos machucar. A negação de vivências ou comportamentos 
pode perpetuar-se tanto no histórico de pacientes como no funcionamento de suas 
famílias geradoras de problemas aditivos.
De certo modo, indiferentemente da relação terapêutica estabelecida por cada 
teoria/abordagem, outro ponto que parece estar presente para todas as escolas é 
o objetivo de criar estratégias que garantam o auxílio à liberdade. Levar as pessoas 
a caminhos libertadores. Assim, o objetivo central é de nos auxiliarem para que 
estejamos libertos de pensamentos disfuncionais, sentimentos ou experiências do 
meio que tenham paralisado nossos personagens impedindo a quebra do ciclo da 
infelicidade. Dessa forma, no campo das adições, as abordagens, independentemente 
de sua metodologia, terão como prioridade a promoção do alívio e da mudança.
Muitas se organizam de modo a levar a pessoa a contornar tais influências tornando-
as mais autoras de seus próprios scripts de vida, vivendo de modo mais autônomo 
e tendo maior controle sobre seus pensamentos, sentimentos e relacionamentos. 
Dessa forma, em torno da fundamentação teórica, o terapeuta dirige o processo 
terapêutico para o mesmo gol: de promover suporte e gerar contextos orientadores.
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UNIDADE II │ TrANsTorNos psIcoTErápIcos pEsqUIsADos E AplIcADos Em DEpENDêNcIA qUímIcA
As abordagens 
Inúmeras pesquisas esforçaram-se para determinar quais terapias seriam as mais eficazes em 
termos psicológicos. Dados de pesquisa também revelaram que alguns modelos teóricos são 
mais efetivos com determinado perfil de paciente/cliente ou com questões específicas, como, por 
exemplo, problema de comportamento na infância, o qual seria mais adequadamente assistido por 
um modelo de terapia cognitiva (TC) quando comparado com problemas de outras ordens, como 
depressão e transtorno de conduta. 
Sabe-se também que pode haver uma combinação de alguns modelos conforme a necessidade 
de cada caso, cada história, como, por exemplo, num atendimento a um adolescente que tenha 
apresentado abuso de álcool – sendo possível ainda focar a dinâmica familiar de modo a reatar os 
padrões de comportamento entre os membros que enfatizaram os sintomas do comportamento do 
adolescente. Dessa forma, uma combinação apropriada dos modelos oferece maiores chances de o 
paciente/cliente ser compreendido em sua complexidade e totalidade.
No tratamento das dependências, emerge a esta discussão pontos importantes 
como a questão do poder posicional por parte do profissional e de suas habilidades 
terapêuticas, mas também da possibilidade de negligenciar a parte motivacional 
do paciente/cliente, ou seja, algumas abordagens podem ter criado estratégias 
positivas para explorar a motivação do cliente, a fim de buscar vias alternativas para 
o que até então entendíamos apenas como defesa ou resistência, como é o caso 
da entrevista motivacional. No entanto, nenhuma escola terapêutica poderia dar-se 
como “certa” diante de uma pessoa completamente desmotivada. 
Independentemente de qual abordagem aplicada para o tratamento de substâncias, torna-se 
importante também ressaltar que há um consenso do que o tratamento em si deve oferecer. Todo 
e qualquer tratamento deve pautar-se no contexto social e familiar; deve levar em consideração 
o fator de disponibilidade, garantindo horários e facilidades para a porta de entrada ou para 
situações de emergências; fatores genéticos devem ser considerados ante a abordagem utilizada 
(por exemplo, se há a questão do quadro esquizofrênico, associado com o abuso de substâncias, 
são fortemente recomendadas intervenções mais direcionadas, mais focadas); a própria droga e a 
relação de dependência também determina o tipo de tratamento favorável, assim como o contexto 
biológico do membro. 
Diante desse cenário, é fidedigna a preocupação com o tratamento que não deve 
ser direcionado apenas para centros especializados, uma vez que cerca de 80% 
das pessoas com problemas de álcool não procuram nenhum tipo de tratamento 
especializado ou grupos de autoajuda. Vale ressaltar que usuários nocivos e 
dependentes de álcool, que não procuram tratamento, incorrem em custos de 
cuidados médicos gerais que são pelo menos 100% mais altos quando comparados 
com não dependentes, e essa disparidade se dá a partir de 10 anos antes do ingresso 
no tratamento. 
37
TransTornos psicoTerápicos pesquisados e aplicados em dependência química │ unidade ii
A maioria dos usuários de álcool procura algum serviço médico durante esse 
período e, não raro, antes de buscar ajuda via psicoterapia. Daí pensar no conceito 
de matching, ou seja, combinar o cliente com o tipo de tratamento necessário, 
onde esse cliente se encontrar, bem como em intervenções na área de prevenção e 
promoção de saúde.
Ramos (2011) recomenda, para bebedores nocivos e dependentes do álcool, como 
técnica psicoterápica, entrevistas motivacionais, intervenção breve, prevenção 
da recaída e terapia cognitivo-comportamental, destacando que 50% a 60% dos 
pacientes não se beneficiam desses procedimentos. 
Algumas questões para reflexão: a avaliação e o diagnóstico do cliente são apurados? 
Como os serviços estão organizados, se estão organizados? Como é realizada a 
desintoxicação? Os profissionais realizam de fato as terapias psicológicas como elas 
são preconizadas? 
A partir desses dados e perante a amplitude e aplicabilidade das abordagens destinadas ao campo 
das adições, serão apresentadas nos próximos capítulos as seguintes abordagens: terapia cognitiva-
comportamental (TCC); entrevista motivacional (EM), prevenção de recaída (PR), treinamento de 
habilidades (TH) e psicoeducação.
O seguinte livro foi utilizado no desenvolvimento do capítulo, por isso, sugerimos 
sua leitura integral para melhor entendimento do tema: 
STRUPP, H. H. Psychotherapy research and practice: an overview. In: BERGIN, A. E.; 
GARFIELD, S. L. (Ed.). Handbook of psychotherapy and behavior change. 2nd ed. 
New York: John Wiley, 1978.
38
CAPÍtuLo 2 
terapia cognitiva-comportamental 
(tCC)
As abordagens cognitivo-comportamentais pautam-se em princípios da teoria cognitivo-social de 
Bandura. Integram técnicas e conceitos derivados das teorias cognitivo e comportamental, mas se 
traduzem em algo mais do que a simples combinação dessas duas teorias.
Acredita-se que alterações na cognição tornam as mudanças comportamentais mais 
duradouras. Um dos principais objetivos das TCCs é identificar e corrigir distorções cognitivas 
que geram problemas para o indivíduo e auxiliar no desenvolvimento de estratégias de 
enfrentamento dessas situações que põem em risco o alcance dos objetivos estabelecidos 
durante o tratamento. 
Na dependência de substâncias psicoativas, esse referencial teórico tem sido apontado como um dos 
que apresentam maior eficácia dos resultados obtidos no tratamento. Quando aplicadas à clínica da 
dependência de álcool, apresentam dois pontos centrais:
 » a concepção de que habilidades cognitivas e comportamentais desempenham papel 
central no desenvolvimento e na manutenção da dependência;
 » todos os tratamentos fundamentados na combinação de abordagens cognitivo-
comportamentais empregam alguma forma de treinamento de habilidades 
de enfrentamento, para lidar com os déficits cognitivos e comportamentais 
apresentados pelo cliente.
teoria e terapia cognitiva
Foi desenvolvida por A. Beck na década de 1960 e desdobrou-se em algumas vertentes racionalistas 
e construtivistas, mas ainda é considerada a mais importante. De acordo com Beck (1996), o que 
conta não é a vivência em si, mas o significado que o indivíduo dá a essa vivência, ou seja, como ele 
interpreta aquilo que acontece. São ressaltadas três crenças ou estruturas cognitivas importantes 
para maior compreensão da TC:
 » Crenças centrais – são ideias mais centraisda pessoa a respeito dela mesma, do 
mundo e dos outros, e diferem dos chamados “esquemas”, que, segundo o autor, 
são considerados estruturas cognitivas que contêm as crenças centrais. São 
desenvolvidas na tenra idade e influenciam fortemente a forma como as experiências 
vividas são interpretadas. O acesso e o grau de dificuldade para modificá-las variam 
de paciente a paciente.
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TransTornos psicoTerápicos pesquisados e aplicados em dependência química │ unidade ii
 » Crenças intermediárias – são baseadas nas crenças centrais e se apresentam em 
forma de regras e ou suposições, introduzindo um componente comportamental. 
São o resultado de processos de aprendizagem, confirmadas como consequência de 
determinadas ações.
 » Pensamentos automáticos – coexistem com o fluxo normal de pensamentos. São 
comuns a todos nós, são rápidos e involuntários, eliciados a partir de situações 
corriqueiras. Aparecem em forma de imagens, sendo reconhecidas quando a 
atenção é voltada para eles.
Sendo assim, a percepção dos eventos pode ser interpretada de forma errônea, em razão dos 
chamados erros de pensamento ou distorções cognitivas, são elas:
 » adivinhação – previsão negativa do futuro;
 » pensamento dicotômico – tudo ou nada, visão de uma situação em apenas duas 
categorias em vez de um continuum;
 » desqualificação do positivo – experiências e elementos positivos não 
contam;
 » argumentação emocional – algo parece ser verdade por causa da sensação de 
que é;
 » rotulação – rótulo sobre si ou sobre o global;
 » maximização ou minimização – magnificação irracional do negativo e 
minimização do positivo;
 » filtro mental – foca-se a tenção em único aspecto sem considerar o contexto como 
um todo;
 » leitura mental – tem-se a impressão de saber o que o outro está pensando;
 » supergeneralização – conclusões radicais;
 » personalização – o comportamento ou a ação de outrem estão intimamente 
relacionados a quem o percebe;
 » tirania do “eu deveria” – expectativas preestabelecidas para o comportamento 
próprio ou de outrem;
 » visão de túnel – veem-se apenas os aspectos negativos;
 » atribuição de culpa – a responsabilidade pelos sentimentos negativos é colocada 
em outrem;
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UNIDADE II │ TrANsTorNos psIcoTErápIcos pEsqUIsADos E AplIcADos Em DEpENDêNcIA qUímIcA
 » comparações injustas – interpretações irrealistas e injustas com a própria 
pessoa;
 » e se? – situações e eventos sempre questionados, gerando respostas insatisfatórias;
 » foco no julgamento – avaliação de si próprio e dos outros sempre em termos de 
bom e mau, superior e inferior, em vez de apenas descrever e aceitar o evento.
Seguem abaixo as características básicas da TCC.
 » Estilo terapêutico – o terapeuta é ativo e trabalha com o paciente a fim de 
encontrar informações importantes que auxiliem na resolução do problema que 
este apresenta. 
 » Formulação psicológica do problema – é um quadro do porquê a pessoa está 
vivendo problemas daquela forma.
 » Relação colaborativa – paciente e terapeuta trabalham juntos para delinear a 
conceituação cognitiva.
 » Sessões estruturadas – paciente e terapeuta dividem a responsabilidade por seu 
uso, incluindo o fator tempo. Com a ênfase ao controle do planejamento, espera-se 
que, a partir da estrutura observada na sessão, o paciente possa colocar essa mesma 
experiência estruturada em seu dia a dia.
 » Orientação de metas – pacientes e terapeuta trabalham de forma colaborativa 
desenvolvendo metas que, quanto mais específicas forem, mais úteis serão.
 » Exame e questionamento do pensamento – ponto central da TCC, que, por 
meio de técnicas, o paciente é auxiliado a descobrir respostas mais adaptativas.
 » Disponibilidade de técnicas – o curso da terapia é dirigido pela formulação 
do problema, que vai sendo desenvolvido e mais bem compreendido ao longo do 
tempo. Quanto mais técnicas, maiores os resultados.
 » O paciente aprende a ser seu próprio terapeuta – ao final do processo, o 
paciente deve estar apto a caminhar sozinho.
 » Tarefas para casa – é importante que o paciente esteja disposto a trabalhar entre 
as sessões. A tarefa de casa faz com que o processo de mudanças e eficácia seja 
reconhecido pelo paciente.
 » Tempo limitado – há uma previsão de fim. A meta da terapia é que o paciente, 
sentindo-se autoeficaz para enfrentar situações de risco, não se torne dependente do 
terapeuta. Essa meta deve ser sempre retomada e lembrada ao longo do tratamento.
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TransTornos psicoTerápicos pesquisados e aplicados em dependência química │ unidade ii
Evidências no tratamento da dependência química 
e a terapia cognitiva-comportamental
Muitos estudos foram e seguem sendo dirigidos para a eficácia e a aplicabilidade da TCC no 
tratamento da dependência. Uma metanálise que examinou 53 ensaios clínicos controlados, com 
pacientes dependentes de álcool e drogas, concluiu que a TCC é mais eficaz com usuários de maconha 
quando comparada ao grupo controle que não recebe tratamento. Deve ter formato mais longo com 
mulheres do que com homens, e dados referem que as mulheres aproveitam mais.
Outro estudo com 2.340 pacientes concluiu que dependentes de maconha e de cocaína tendem a 
se beneficiar mais da TCC quando comparados com poliusuários ou com dependentes de opiáceos. 
Dados também revelam que a TCC, quando associada com medicação, é igualmente recomendada 
para dependentes de cocaína. 
Quando se trata da população adolescente, a TCC também se mostra eficaz, segundo análise de 17 
estudos, desde 1998, com uma amostra de 2.037 adolescentes, comparados em intervenções grupais 
e individuais, em que aqueles que receberam TCC ou terapia familiar foram os que apresentaram 
melhor resultado após tratamento.
As evidências indicam que intervenções que incorporam técnicas cognitivas e comportamentais 
apresentam mais eficácia no tratamento de transtornos por uso de substâncias, no entanto, a prática 
com TCC é complexa. A eficácia também depende de fatores-chave como qualidade de intervenção, 
adesão e aliança terapêutica, domínio da técnica pelo profissional. 
BECk; RUSH; SHAW; EMERY. Terapia cognitiva da depressão. Porto Alegre: Artes 
Medicas, 1996.
 ZANELATTO, Neide A.; LARANJEIRA, Ronaldo (Org.). O tratamento da dependência 
química e as terapias cognitivo-comportamentais. Porto Alegre: Artmed, 2012.
técnicas da terapia cognitiva-comportamental
Quanto maior o repertório de técnicas, prática essencial para a TCC, espera-se que melhor será o 
manejo terapêutico. 
Entre as técnicas utilizadas pela abordagem cognitivo-comportamental estão a identificação 
de situações específicas com as quais o indivíduo lida de maneira inadequada e a utilização de 
instruções, modelagem, dramatizações e ensaios comportamentais. Também pode ser utilizada a 
resolução de problemas em cinco componentes principais:
 » engajamento; 
 » definição do problema e análise dos sinalizadores;
 » solução do problema e modificação dos sinalizadores;
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UNIDADE II │ TrANsTorNos psIcoTErápIcos pEsqUIsADos E AplIcADos Em DEpENDêNcIA qUímIcA
 » identificação e desafio das suposições adjacentes;
 » redefinição de papéis mal-adaptativos.
São inúmeras as técnicas indicadas, como, por exemplo: cartões de enfrentamento; 
análise de vantagens e desvantagens do uso e do não uso; registro de pensamentos 
automáticos; experimento comportamental; relaxamento etc.
Comente sobre as técnicas acima e pesquise como aplicá-las, ou monte um quadro 
com técnicas ou dinâmicas que possam ser semelhantes.
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CAPÍtuLo 3
motivação e entrevista motivacional 
(Em)
A entrevista motivacional
Entre os enfoques descritos na literatura como os mais eficazes, destacam-se intervenções breves, 
treinamento de habilidades sociais, entrevista motivacional.
Partindo de uma escuta empática, a entrevista motivacional visa a auxiliar o cliente a enfrentar 
o processo de mudança implicado na aquisição da abstinência. Os conceitos de prontidão para 
a mudança, ambivalência e resistência norteiam as intervenções

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