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GESTÃO FINANCEIRA Eduardo Olbera 2 SUMÁRIO 1 OS FUNDAMENTOS DA ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA ........................... 3 2 AS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E A SUA ANÁLISE .......................... 10 3 O VALOR DO DINHEIRO NO TEMPO ....................................................... 29 4 FLUXO DE CAIXA .................................................................................... 53 5 ORÇAMENTO DE CAPITAL ...................................................................... 67 6 SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL E MERCADO DE CAPITAIS ................. 82 3 1 OS FUNDAMENTOS DA ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA 1.1 A administração financeira e a globalização Nunca na história da humanidade houve tantas transformações na forma dos seres humanos pensarem, agirem, se comunicarem. O avanço da tecnologia diminuiu as distâncias, possibilitando às pessoas terem acesso a informações, culturas e valores de todas as partes do globo. Os mercados passaram a não mais serem vistos localmente, mas internacionalmente. Hoje, é possível para qualquer um com acesso a computador importar o que quiser e de onde quiser, por exemplo. Da mesma maneira, o capital agora busca possibilidades de investimentos que proporcionem retornos cada vez melhores a um nível de risco previamente analisado. Além dessa vantagem, esse cenário permite também uma diversificação cada vez maior em seus portfólios, trazendo mais segurança. 4 É com esse meio ambiente que as empresas precisam interagir para sobreviver. Não há mais espaço para ineficiência nos meios de produção, pois isso impactará negativamente na rentabilidade gerada e, consequentemente, aumentará o risco de desinvestimento. As empresas que não conseguirem se encaixar nesse novo cenário fatalmente serão fechadas ou simplesmente vendidas. Fonte: CORREIO BRAZILIENSE, 2018. A bem da verdade, todas as áreas das empresas precisam agregar valor para a organização. Os recursos humanos precisam contratar profissionais cada vez mais qualificados e desenvolver meios para alinhar estrategicamente as suas competências às necessidades da empresa; os profissionais de marketing precisam identificar mercados cada vez mais promissores e desenvolver estratégias de crescimento; por sua vez, a administração financeira também tem seus desafios: administrar da maneira mais eficiente possível os recursos financeiros da empresa. No início de 2018, a rede de churrascarias Fogo de Chão foi vendida para o fundo de investimentos norte-americano Rhône Capital em uma transação de US$ 560 milhões. É um bom exemplo da internacionalização de capital, que busca retornos cada vez maiores em seus portfólios de investimento. 5 Conforme Assaf Neto e Lima (2014), a administração financeira deve assegurar um melhor e mais eficiente processo de captação (financiamento) e alocação (investimento) de recursos. Ainda segundo os autores, a administração financeira se envolveria tanto com a questão da escassez de recursos quanto com a realidade operacional e prática da gestão financeira das empresas. 1.2 A dinâmica das decisões financeiras Assaf Neto e Lima (2014) estabelecem as seguintes funções para a administração financeira no ambiente das empresas: Quadro 1.1 – Funções da administração financeira. É importante observar que a redução dos custos financeiros é o meio pelo qual a administração financeira pode agregar valor para a organização. Planejamento e controle financeiro: planejar é se antecipar a possíveis problemas e também identificar oportunidades no futuro. Por meio de relatórios como os balanços patrimoniais e os fluxos de caixa, é possível avaliar tendências (como crescimento do endividamento) e identificar possíveis situações de problemas de caixa, permitindo ao administrador tomar ações de caráter preventivo. Administração de ativos: o administrador deve perseguir os melhores investimentos em negócios em termo de risco e retorno, sempre buscando equalizar essa variável no sentido de maximizar o retorno dos investidores. Administração de passivos: para aplicar os recursos, faz-se necessário a aquisição de fundos (financiamentos) e é preciso obter a melhor combinação de capital próprio e de terceiros, buscando a estrutura mais adequada em termos de liquidez e custos. 6 1.3 Administração financeira e Contabilidade A Contabilidade é a ciência que busca, por meio de normas de escrituração e registro, fornecer informações financeiras sobre as empresas, posicionando quanto a situação estática em um determinado período. Entre as principais informações fornecidas pela Contabilidade, destacam-se o balanço patrimonial, que informa a posição patrimonial da empresa, e a demonstração de resultado do exercício, que mostra como foi a performance comercial em determinado exercício. É importante observar que esses documentos são escriturados conforme uma legislação específica estabelecida pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). Os relatórios contábeis são, assim, escriturados com base no chamado regime de competência em função de questões fiscais. No entanto, fornecem informações relevantes para o administrador financeiro quando os exercícios fiscais são analisados comparativamente, pois permitem avaliar a evolução da liquidez e do endividamento financeiro, por exemplo. Para esse fim, são feitas análises vertical/horizontal e análises de índices financeiros. “Criado pela Resolução CFC nº 1.055/05, o CPC tem como objetivo ‘o estudo, o preparo e a emissão de Pronunciamentos Técnicos sobre procedimentos de Contabilidade e a divulgação de informações dessa natureza, para permitir a emissão de normas pela entidade reguladora brasileira, visando à centralização e uniformização do seu processo de produção, levando sempre em conta a convergência da Contabilidade Brasileira aos padrões internacionais’.” (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS) O regime de competência é aquele no qual são registradas todas as movimentações financeiras da empresa, independentemente de entradas ou saídas efetivas de caixa. 7 1.4 Administração financeira e Economia Os administradores financeiros precisam estar atentos às questões de caráter macro e microeconômico, uma vez que podem impactar negativamente nos negócios. As variáveis macroambientais fogem ao controle do administrador e se constituem em questões de caráter econômico, político-social ou mesmo cultural. O crescimento do PIB pode influenciar no nível do emprego e, consequentemente, na capacidade de compra das pessoas; instabilidades políticas e sociais podem influenciar a legislação o que, por sua vez, poderá impactar negativamente para as famílias. Um bom exemplo é o que ocorreu na Venezuela que, antes do período chavista, era um dos melhores países da América Latina, se não o melhor, para os investidores. Hoje, sofre com uma das crises econômicas mais graves de sua história, passando a se tornar o pior país para investimento. Além de aspectos de caráter macroeconômico como os já citados, há também questões de caráter microeconômicos. Como nos mostram Assaf Neto e Lima (2014), o princípio microeconômico a nortear as análises financeiras é a análise marginal, ou seja, as decisões financeiras devem ser tomadas somente quando os benefícios adicionais forem maiores do que os custos adicionais. 8 Por exemplo, vamos supor que uma empresa esteja estudando avaliar a substituição de uma máquina. A máquina nova trará uma receita de R$ 80.000,00, enquanto a antiga gerava uma receita de R$ 30.000,00. O custo da máquina nova é de R$ 40.000,00, mas a venda da máquina antiga gerará uma receita de R$ 20.000,00. Seria vantajosa a substituiçãonessas condições? Consideremos aqui a operação feita à vista: 1.5 Administrador financeiro O administrador financeiro precisa estar atento ao meio ambiente o qual interage, pois cada vez mais a competição pelo mercado aumenta. É preciso ter raciocínio lógico, analítico e conhecimento do todo que envolve as operações empresariais para que se possa tomar as melhores decisões para que possam atingir o seu principal desafio: criar valor para o acionista. As receitas marginais são obtidas analisando o aumento na receita total decorrente do aumento da venda de mais uma unidade em relação ao montante vendido. Os custos marginais são obtidos analisando o incremento no custo total decorrente do aumento de produção de uma unidade em relação ao montante vendido. Receita com a máquina nova: R$ 80.000,00 (–) Receita com a máquina antiga: R$ 30.000,00 (=) Benefícios marginais: R$ 50.000,00 Custo de aquisição da máquina nova: R$ 40.000,00 (–) Receita de venda da máquina antiga: R$ 20.000,00 (=) Custos marginais: R$ 20.000,00 Benefício líquido = R$ 50.000,00 – R$ 20.000,00 9 Para tal fim, o administrador financeiro deve realizar então as funções de planejamento financeiro, tomar decisões de investimento e tomar decisões de financiamento tanto no que tange ao curto como o longo prazo. O curto prazo consiste em administrar o capital de giro; o longo prazo consiste em tomar decisões de investimento notadamente em ativos industriais. É comum observar que 99% das atividades do administrador financeiro se dá no curto prazo, pois envolve sobretudo o dia a dia da empresa, realizando atividade de conciliação bancária, de recebimento e de pagamento. No entanto, o longo prazo envolve estudos bem elaborados e as decisões precisam ser bem fundamentadas, pois um viés estratégico pode falir uma empresa! No que tange a sua profissão, o administrador financeiro pode ocupar cargos que vão do assistente ou analista financeiro júnior até o cargo de diretor financeiro, apoiando as atividades de tesouraria, como contas a pagar e a receber, analisando a capacidade de pagamento de clientes para determinação de linhas de crédito, negociação de créditos em litígio (cobrança de inadimplentes), além de operações de hedge e câmbio. Os salários podem variar muito, mas dificilmente são inferiores a US$ 500,00 conforme cotação de 30 de maio de 2018. REFERÊNCIAS ASSAF NETO, A.; LIMA, F. G. Curso de administração financeira. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2014. CONHEÇA O CPC. Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Disponível em: <https://goo.gl/aGweyC>. Acesso em: 11 mai. 2021. FOGO de Chão é vendida para fundo americano por US$ 560 milhões. Correio Braziliense, São Paulo, 21 fev. 2018. Disponível em: <https://goo.gl/UC8w4G>. Acesso em: 8 jun. 2018. 10 2 AS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E A SUA ANÁLISE 2.1 A análise das demonstrações financeiras Conforme Assaf Neto e Lima (2014, p. 231), a análise das demonstrações financeiras é um dos estudos mais importantes das Finanças Corporativas sendo que, para o administrador financeiro, a análise serve como uma forma de avaliar o desempenho da organização assim como fornecer tendências considerando o ritmo do crescimento dos resultados. Para o analista externo, a análise serve para avaliar a capacidade de pagamento da empresa, a evolução do seu endividamento e sua capacidade de geração de caixa, o que é muito importante para uma eventual avaliação de concessão de crédito. 2.2 A análise horizontal e a análise vertical As análises horizontal e vertical são uma metodologia da análise de balanços que tem como principal finalidade avaliar a evolução das contas da empresa sobre diversos aspectos, como a estocagem, o endividamento de curto e longo prazos, o faturamento e as despesas operacionais. 11 A análise começa com o planilhamento do balanço patrimonial, no qual são consolidadas as contas de maior relevância. Normalmente, o exercício de análise é feito para três períodos. Depois é feita a análise horizontal e a análise vertical. Exemplo: Tabela 2.1 – Planilhamento do balanço patrimonial da empresa Natura S.A. entre os exercícios de 2014 a 2016. Ativo 2014 2015 2016 Caixa, bancos e investimentos 1.695,9 2.783,6 2.298,8 Contas a receber de clientes 847,4 909,0 1.051,9 Estoques 890,0 963,6 835,9 Impostos a recuperar 240,3 320,3 329,4 Outros direitos 565,4 1.041,8 286,7 Total dos ativos circulantes 4.239,0 6.018,3 4.802,7 Impostos e depósitos judiciais 593,6 789,7 1.076,5 Outros ativos não circulantes 85,6 17,6 23,0 Permanente e intangível 2.281,3 2.568,7 2.518,8 Total dos ativos não circulantes 2.960,5 3.376,0 3.618,3 Total dos ativos 7.199,5 9.394,3 8.421,0 12 Tabela 2.2 – Planilhamento do balanço patrimonial da empresa Natura S.A. entre os exercícios de 2014 a 2016. Passivo 2014 2015 2016 Empréstimos e financiamentos 1.466,5 2.161,3 1.764,4 Fornecedores 599,6 802,8 814,9 Salários a pagar 210,5 201,2 208,1 Impostos a pagar 715,4 1.047,9 1.075,4 Outras obrigações de curto prazo 126,7 359,4 314,8 Total dos passivos circulantes 3.118,7 4.572,6 4.177,6 Empréstimos e financiamentos 2.514,6 3.374,4 2.625,6 Impostos a pagar 98,9 87,7 237,5 Outras dívidas de longo prazo 318,6 281,9 384,0 Total dos passivos não circulantes 2.932,1 3.744,0 3.247,1 Capital social 427,0 427,0 427,0 Reservas de lucros 326,4 544,1 809,5 Outros 395,2 106,6 –240,2 Total do patrimônio líquido 1.148,6 1.077,7 996,3 Total dos passivos 7.199,4 9.394,3 8.421,0 13 Tabela 2.3 – Planilhamento do balanço patrimonial da empresa Natura S.A. entre os exercícios de 2014 a 2016. DRE 2014 2015 2016 Receita líquida de vendas 7.408,4 7.899,0 7.912,6 CPV –2.250,1 –2.415,9 –2.446,9 Lucro Bruto 5.158,3 5.483,1 5.465,7 Despesas com vendas –2.680,0 –3.020,5 –3.110,1 Despesas administrativas –1.133,3 –1.271,5 –1.327,0 Outras receitas/(despesas) operacionais 19,8 65,7 54,4 Lucro operacional 1.364,8 1.256,8 1.083,0 Receitas/(despesas) financeiras –268,2 –381,4 –656,0 LAIR 1.096,6 875,4 427,0 Impostos –355,1 –352,6 –118,6 Lucro líquido do exercício 741,5 522,8 308,4 A análise horizontal é uma metodologia de análise de balanços que objetiva analisar as variações de uma mesma conta ou subgrupo de contas do balanço patrimonial em termos absolutos. A ideia é a de se detectar grandes variações para depois comparar com a análise vertical (em termos relativos) e, a partir de então, se avaliar a evolução patrimonial da empresa. Para se realizar a análise, primeiro se toma o período mais antigo como base 100 (%). Depois, avalia-se se houve aumento ou redução em termos percentuais em relação a esse período. O cálculo para se analisar a variação entre os períodos analisados segue a seguinte fórmula: AH = [(saldo ano posterior/saldo ano base ou anterior) -1] x 100 14 Tabela 2.4 – Análise horizontal: ativos. Análise de Balanços da Natura S.A. Ativo 2014 AH 2015 AH 2016 AH Caixa, bancos e investimentos 1.695,90 100 2.783,60 64,1 2.298,80 –17,4 Contas a receber de clientes 847,4 100 909 7,3 1.051,90 15,7 Estoques 890 100 963,6 8,3 835,9 –13,3 Impostos a recuperar 240,3 100 320,3 33,3 329,4 2,8 Outros direitos 565,4 100 1.041,80 84,3 286,7 –72,5 Total dos ativos circulantes 4.239,00 100 6.018,30 42 4.802,70 –20,2 Impostos e depósitos judiciais 593,6 100 789,7 33 1.076,50 36,3 Outros ativos não circulantes 85,6 100 17,6 –79,4 23 30,7 Permanente e intangível 2.281,30 100 2.568,70 12,6 2.518,80 –1,9 Total dos ativos não circulantes 2.960,50 100 3.376,00 14 3.618,30 7,2 Total dos ativos 7.199,50 100 9.394,30 30,5 8.421,00 –10,4Pela análise, é possível perceber grandes variações na conta caixa da empresa, que aumentou 64,1% entre 2014 e 2015, e reduziu 17,4% no ano de 2016. Houve um ligeiro crescimento da conta de clientes, e a empresa perceptivelmente está otimizando os seus estoques. 15 Tabela 2.5 – Análise horizontal: passivos Passivos 2014 AH 2015 AH 2016 AH Empréstimos e financiamentos 1.466,50 100 2.161,30 47,4 1.764,40 –18,4 Fornecedores 599,6 100 802,8 33,9 814,9 1,5 Salários a pagar 210,5 100 201,2 -4,4 208,1 3,4 Impostos a pagar 715,4 100 1.047,90 46,5 1.075,40 2,6 Outras obrigações de curto prazo 126,7 100 359,4 183,7 235,1 –34,6 Total dos passivos circulantes 3.118,70 100 4.572,60 46,6 4.097,90 –10,4 Empréstimos e financiamentos 2.514,60 100 3.374,40 34,2 2.625,60 –22,2 Impostos a pagar 98,9 100 87,7 –11,3 237,5 170,8 Outras dívidas de longo prazo 318,6 100 281,9 –11,5 384 36,2 Total dos passivos não circulantes 2.932,10 100 3.744,00 27,7 3.247,10 –13,3 Capital social 427 100 427 0 427 0 Reservas de lucros 326,4 100 544,1 66,7 809,5 48,8 Outros 395,2 100 106,6 –73 –240,2 –25,3 Total do patrimônio líquido 1.148,60 100 1.077,70 –6,2 996,3 –7,6 Total dos passivos 7.199,40 100 9.394,30 30,5 8.341,30 –11,2 16 É possível perceber uma oscilação muito grande no endividamento de curto e longo prazo nos anos de 2014 e 2015, com redução também grande no ano de 2016, fazendo com que os números voltassem praticamente aos mesmos patamares de 2014. A redução também chama a atenção, embora pequena, mas constante do patrimônio líquido nos períodos analisados. Houve aumento na conta de impostos a pagar entre 2014 e 2015, e esse número ficou constante em 2016. Tabela 2.6 – Análise Horizontal: Demonstração de Resultado DRE 2014 AH 2015 AH 2016 AH Receita líquida de vendas 7.408,4 100 7.899,0 6,6 7.912,6 0,2 CPV –2.250,1 100 –2.415,9 7,4 –2.446,9 1,3 Lucro Bruto 5.158,3 100 5.483,1 6,3 5.465,7 –0,3 Despesas com vendas –2.680,0 100 –3.020,5 12,7 –3.110,1 3 Despesas administrativas –1.133,3 100 –1.271,5 12,2 –1.327,0 4,4 Outras receitas/(despesas) operacionais 19,8 100 65,7 231,8 54,4 –17,2 Lucro operacional 1.364,8 100 1.256,8 –7,9 1.083,0 –13,8 Receitas/(despesas) financeiras –268,2 100 –381,4 42,2 –656,0 72 LAIR 1.096,6 100 875,4 –20,2 427,0 –51,2 Impostos –355,1 100 –352,6 –0,7 –118,6 –66,4 Lucro líquido do exercício 741,5 100 522,8 –29,5 308,4 –41 Aqui, verifica-se que as vendas estão praticamente no mesmo patamar nos períodos analisados. Houve, contudo, crescimento gradual e constante das despesas com vendas e administrativas e, destacadamente, das despesas financeiras – 42% entre 2014 e 2015 e 72% entre 2015 e 2016 – o que reflete o elevado perfil de alavancagem da empresa, comprometendo inclusive o resultado que vem demonstrando piora nos períodos analisados. 17 Depois de feita a análise horizontal, é feita complementarmente a análise vertical. A proposta é cruzar as informações das oscilações destacadas na análise horizontal para checar se o crescimento não foi apenas proporcional ao crescimento dos demais números da empresa. Por definição, a análise vertical é uma metodologia de análise de balanços que busca avaliar a evolução das contas do balanço patrimonial de maneira proporcional. A proposta é a de se avaliar a participação de uma conta ou subgrupo de contas do balanço sobre um todo, e, a partir daí, analisar a sua evolução comparativamente entre os períodos analisados. Para os ativos e passivos, a metodologia de cálculo é a mesma, mudando apenas na DRE: AV = (saldo da conta/total dos ativos/passivos) x 100 (ativos e passivos) AV = (saldo da conta/vendas líquidas) x 100 (demonstração de resultado) Tabela 2.7 – Análise vertical: ativos. Ativo 2014 AV 2015 AV 2016 AV Caixa, bancos e investimentos 1.695,9 23,6 2.783,6 29,6 2.298,8 27,3 Contas a receber de clientes 847,4 11,8 909,0 9,7 1.051,9 12,5 Estoques 890,0 12,4 963,6 10,3 835,9 9,9 Impostos a recuperar 240,3 3,3 320,3 3,4 329,4 3,9 Outros direitos 565,4 7,9 1.041,8 11,1 286,7 3,4 Total dos ativos circulantes 4.239,0 58,9 6.018,3 64,1 4.802,7 57 Impostos e depósitos judiciais 593,6 8,2 789,7 8,4 1.076,5 12,8 Outros ativos não circulantes 85,6 1,2 17,6 0,2 23,0 0,3 Permanente e intangível 2.281,3 31,7 2.568,7 27,3 2.518,8 29,9 Total dos ativos não circulantes 2.960,5 41,1 3.376,0 35,9 3.618,3 43 Total dos ativos 7.199,5 100 9.394,3 100 8.421,0 100 18 Aqui, é possível verificar na conta caixa, destacada na análise horizontal, que houve oscilação de fato em termos relativos, mas não tão expressiva (menos de 5%). Há uma redução gradual e proporcional da conta estoques, mostrando que de fato a empresa está buscando trabalhar em níveis menores, o que contribui positivamente para a geração de caixa da empresa. Tabela 2.8 – Análise vertical: passivos. Passivos 2014 AV 2015 AV 2016 AV Empréstimos e financiamentos 1.466,50 20,4 2.161,30 23 1.764,40 21,2 Fornecedores 599,6 8,3 802,8 8,5 814,9 9,8 Salários a pagar 210,5 2,9 201,2 2,1 208,1 2,5 Impostos a pagar 715,4 9,9 1.047,90 11,2 1.075,40 12,9 Outras obrigações de curto prazo 126,7 1,8 359,4 3,8 235,1 2,8 Total dos passivos circulantes 3.118,70 43,3 281,9 48,7 384,0 49,1 Empréstimos e financiamentos 2.514,60 34,9 3.374,40 35,9 3.247,1 31,5 Impostos a pagar 98,9 1,4 87,7 0,9 427,0 2,8 Outras dívidas de longo prazo 318,6 4,4 281,9 3 809,5 4,6 Total dos passivos não circulantes 2.932,10 40,7 3.744,0 39,9 3.247,10 38,9 Capital social 427 5,9 427 4,5 427 5,1 Reservas de lucros 326,4 4,5 544,1 5,8 809,5 9,7 Outros 395,2 5,5 106,6 1,1 –240,2 –2,9 Total do patrimônio líquido 1.148,60 16 1.077,70 11,5 996,3 11,9 Total dos passivos 7.199,40 100 9.394,30 100 8.341,30 100 19 O endividamento de curto e longo prazo mostra um pequeno crescimento entre 2014 e 2015 em termos proporcionais, voltando quase aos mesmos níveis em 2016, no qual se verifica que de fato a empresa vem operando da mesma maneira quanto à gestão do passivo financeiro nos períodos analisados. O patrimônio líquido mostrou redução entre 2014 e 2015 e ficou no mesmo patamar em 2016. Tabela 2.9 – Análise vertical da Demonstração de Resultado (DRE) DRE 2014 AV 2015 AV 2016 AV Receita líquida de vendas 7.408,4 100 7.899,0 100 7.912,6 100 CPV –2.250,1 –30,4 –2.415,9 –30,6 –2.446,9 –30,9 Lucro Bruto 5.158,3 69,6 5.483,1 69,4 5.465,7 69,1 Despesas com vendas –2.680,0 –36,2 –3.020,5 –38,2 –3.110,1 –39,3 Despesas administrativas –1.133,3 –15,3 –1.271,5 –16,1 –1.327,0 –16,8 Outras receitas/(despesas) operacionais 19,8 0,3 65,7 0,8 54,4 0,7 Lucro operacional 1.364,8 18,4 1.256,8 15,9 1.083,0 13,7 Receitas/(despesas) financeiras –268,2 –3,6 –381,4 –4,8 –656,0 –8,3 LAIR 1.096,6 14,8 875,4 11,1 427,0 5,4 Impostos –355,1 –4,8 –352,6 –4,5 –118,6 –1,5 Lucro líquido do exercício 741,5 10 522,8 6,6 308,4 3,9 É possível observar que a empresa teve pequeno crescimento, mas gradual e constante, tanto nas despesas de vendas como administrativas. As despesas financeiras mais que dobraram nos períodos analisados, prejudicando, dessa maneira, o resultado da empresa. 20 Após essas análises se faz necessário buscar uma explicação para as oscilações apontadas. Muitas dessas explicações constam nas próprias notas explicativas dos balanços, mas, complementarmente, é necessário buscar informações na mídia especializada. E, na época, a empresa de fato acusou o impacto do crescimento de grandes concorrentes do mesmo setor, além de terem reconhecido trabalhar com uma estrutura administrativainchada. 2.3 Análise de índices financeiros Conforme Brigham e Weston (2004), a análise de índices econômico-financeiros é o primeiro passo de uma análise, sendo que sua finalidade é mostrar as relações entre as contas da administração financeira. Segundo Assaf Neto e Lima (2014), os índices estão classificados em quatro grupos: Índices financeiros Liquidez Atividade Rentabilidade Endividamento 2.3.1 Índices de liquidez Os índices de liquidez indicam a capacidade de a empresa honrar os seus compromissos. Os mais comuns são: Índices de liquidez Liquidez corrente Liquidez seca Liquidez geral Cada um desses índices indica quantos reais a empresa possui para cada R$ 1,00 de dívida. Dessa forma, quanto maior do que 1 for cada índice, melhor. Para o cálculo, são utilizadas as seguintes fórmulas: 21 𝐿𝑖𝑞𝑢𝑖𝑑𝑒𝑧 𝑐𝑜𝑟𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒 = 𝑎𝑡𝑖𝑣𝑜 𝑐𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎𝑛𝑡𝑒 𝑝𝑎𝑠𝑠𝑖𝑣𝑜 𝑐𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎𝑛𝑡𝑒 𝐿𝑖𝑞𝑢𝑖𝑑𝑒𝑧 𝑠𝑒𝑐𝑎 = 𝑎𝑡𝑖𝑣𝑜 𝑐𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎𝑛𝑡𝑒 − 𝑒𝑠𝑡𝑜𝑞𝑢𝑒𝑠 𝑝𝑎𝑠𝑠𝑖𝑣𝑜 𝑐𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎𝑛𝑡𝑒 𝐿𝑖𝑞𝑢𝑖𝑑𝑒𝑧 𝑔𝑒𝑟𝑎𝑙 = 𝑎𝑡𝑖𝑣𝑜 𝑐𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎𝑛𝑡𝑒 + 𝑟𝑒𝑎𝑙𝑖𝑧á𝑣𝑒𝑙 𝑎 𝑙𝑜𝑛𝑔𝑜 𝑝𝑟𝑎𝑧𝑜 𝑝𝑎𝑠𝑠𝑖𝑣𝑜 𝑐𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎𝑛𝑡𝑒 + 𝑒𝑥𝑖𝑔í𝑣𝑒𝑙 𝑎 𝑙𝑜𝑛𝑔𝑜 𝑝𝑟𝑎𝑧𝑜 A título de exemplo, observe o cálculo dos índices de liquidez da Natura S.A. para o ano de 2014: 𝐿𝑖𝑞𝑢𝑖𝑑𝑒𝑧 𝑐𝑜𝑟𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒 = 4.239,0 = 1,4 3.118,7 𝐿𝑖𝑞𝑢𝑖𝑑𝑒𝑧 𝑠𝑒𝑐𝑎 = 4.239,0 − 890,0 = 1,1 3.118,7 𝐿𝑖𝑞𝑢𝑖𝑑𝑒𝑧 𝑔𝑒𝑟𝑎𝑙 = 4.239,0 + 593,6 + 85,6 = 0,8 3.118,7 + 2.932,1 Para os três exercícios, seriam os seguintes resultados: Cálculos dos índices 2014 2015 2016 Liquidez corrente 1,4 1,3 1,1 Liquidez seca 1,1 1,1 0,9 Liquidez geral 0,8 0,8 1,1 Percebe-se que a empresa possui boa capacidade para honrar seus compromissos tanto de curto como de longo prazo, observado o resultado próximo de 1. 22 2.3.2 Índices de atividade Os índices de atividade, conforme mostram Assaf Neto e Lima (2014), objetivam medir as diversas durações de um “ciclo operacional”, o que envolve as atividades de uma empresa que vão desde a aquisição de itens para a produção até o recebimento das vendas realizadas. Para reduzir esse prazo, que deve ser o menor possível, as empresas buscam prazos com seus fornecedores. Ao subtrair o prazo médio de pagamentos do ciclo operacional, chega-se ao resultado do Ciclo Financeiro, que é o período que a empresa fica com o caixa a descoberto e vai precisar financiá-lo com operações de desconto de duplicatas. Quanto maior o ciclo financeiro, pior para a empresa, pois maior vai ser a demanda por crédito o que vai prejudicar a sua rentabilidade. Entre os pontos a serem analisados, destaca-se aqui o prazo médio dos estoques, pois indica se a empresa está administrando o nível de sua produção de maneira adequada. Em momentos de crise, pode sair mais barato para a empresa negociar férias coletivas, por exemplo, para reduzir os custos de estocagem e de produção. Existem basicamente cinco índices de atividade: Índices de atividades Prazo Médio de Estoques (PME) Prazo Médio de Recebimentos (PMR) Ciclo Operacional (CO) Prazo Médio de Pagamentos (PMP) Ciclo Financeiro (CF) Cujas fórmulas são, respectivamente: 𝑃𝑟𝑎𝑧𝑜 𝑀é𝑑𝑖𝑜 𝑑𝑜𝑠 𝐸𝑠𝑡𝑜𝑞𝑢𝑒𝑠 = 𝑒𝑠𝑡𝑜𝑞𝑢𝑒𝑠 × 360 𝑐𝑚𝑣 𝑃𝑟𝑎𝑧𝑜 𝑀é𝑑𝑖𝑜 𝑑𝑜𝑠 𝑅𝑒𝑐𝑒𝑏𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜𝑠 = 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑎𝑠 𝑎 𝑟𝑒𝑐𝑒𝑏𝑒𝑟 𝑑𝑒 𝑐𝑙𝑖𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠 × 360 𝑣𝑒𝑛𝑑𝑎𝑠 23 𝐶𝑖𝑐𝑙𝑜 𝑂𝑝𝑒𝑟𝑎𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑙 = 𝑃𝑀𝐸 + 𝑃𝑀𝑅 𝑃𝑟𝑎𝑧𝑜 𝑀é𝑑𝑖𝑜 𝑑𝑒 𝑃𝑎𝑔𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜𝑠 = 𝑓𝑜𝑟𝑛𝑒𝑐𝑒𝑑𝑜𝑟𝑒𝑠 × 360 𝑐𝑚𝑣 𝐶𝑖𝑐𝑙𝑜 𝐹𝑖𝑛𝑎𝑛𝑐𝑒𝑖𝑟𝑜 = 𝐶𝑂 − 𝑃𝑀𝑃 A título de exemplo, observe o cálculo dos índices de atividade da Natura S.A. para o ano de 2014: 𝑃𝑀𝐸 = 890,0 × 360 = 142,4 𝑑𝑖𝑎𝑠; 2.250,1 𝑃𝑀𝑅 = 847,4 × 360 = 41,2 𝑑𝑖𝑎𝑠; 7.408,4 CO = 183,6 dias; 𝑃𝑀𝑃 = 599,6 × 360 = 95,9; 2.250,1 𝑪𝑭 = 𝟏𝟖𝟑, 𝟔 − 𝟗𝟓, 𝟗 = 𝟖𝟕, 𝟔 𝒅𝒊𝒂𝒔 Para os três exercícios, seriam os seguintes resultados: 2014 2015 2016 Prazo Médio de Estoques 142,4 143,6 123,0 Prazo Médio de Recebimentos 41,2 41,4 47,9 Ciclo Operacional 183,6 185,0 170,8 Prazo Médio de Pagamentos 95,9 119,6 119,9 Ciclo Financeiro 87,6 65,4 50,9 De onde se percebe que a empresa vem reduzindo os seus estoques, desenvolvendo uma política mais rígida junto aos seus fornecedores, uma vez que se verifica o aumento nos prazos médios de pagamento, o que contribuiu para melhora de seu ciclo financeiro. 24 𝑃𝐿 𝐴𝑇 𝑃𝐿 𝐴𝑇 2.3.3 Índices de endividamento Conforme Assaf Neto e Lima (2014), esses índices são usados com a finalidade de medir a composição das fontes de recursos de terceiros de uma empresa. Eles mostram o quanto recursos próprios e de terceiros são usados para o financiamento de uma empresa. Aqui serão destacadas duas medidas: Participação do capital de terceiros sobre o capital próprio (P/PL); Exigível total sobre o ativo total (P/AT). 𝑃/ = 𝑒𝑥𝑖𝑔í𝑣𝑒𝑙 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑝𝑎𝑡𝑟𝑖𝑚ô𝑛𝑖𝑜 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 𝑃/ = 𝑒𝑥𝑖𝑔í𝑣𝑒𝑙 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑎𝑡𝑖𝑣𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 Em P/PL, quanto maior do que 1 pior, pois indica haver mais capital de terceiros aplicados na empresa do que recursos dos sócios; já em P/AT indica a participação do capital de terceiros na composição de ativos da empresa sendo que quanto mais próximo de 1, pior. A título de exemplo, observe o cálculo dos índices de endividamento da Natura S.A. para o ano de 2014: 𝑃/ = (3.118,7 + 2.932,1) = 5,3 1.148,6 𝑃/ = (3.118,7 + 2.932,1) = 0,84 7.199,4 Para os três exercícios, seriam os seguintes resultados: 2014 2015 2016 P/PL 5,3 7,7 7,5 25 P/AT 0,84 0,89 0,88 Aqui se percebe que a empresa está com elevada alavancagem, considerando que para cada R$ 1,00 de capital próprio há R$ 7,00 de capital de terceiros. Verifica-se também que a participação de capital de terceiros no ativo total é de quase 90%. 2.3.4 Índices de rentabilidade Conforme Assaf Neto e Lima (2014), os indicadores de rentabilidade buscam avaliar o retorno auferido pela empresa, considerando determinados parâmetros. As bases de comparação adotadas para o estudo dos resultados empresariais são: Retorno sobre o ativo (ROA); Retorno sobre o patrimônio líquido (ROE). Cálculo do ROA: 𝑅𝑂𝐴 = 𝑙𝑢𝑐𝑟𝑜 𝑜𝑝𝑒𝑟𝑎𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑙 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 𝑎𝑡𝑖𝑣𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 Conforme Assaf Neto e Lima (2014), o ROA pode ser analisado como sendo o custo financeiro máximo que a empresa pode incorrer em suas operações de financiamento. O lucro operacional líquido é calculado deduzindo-se os impostos do resultado operacional. Cálculo do ROE: 𝑅𝑂𝐸 = 𝑙𝑢𝑐𝑟𝑜 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 𝑝𝑎𝑡𝑟𝑖𝑚ô𝑛𝑖𝑜 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 O ROE mostra o retorno dos recursos aplicados na empresa por seus proprietários, ou seja, para cada R$ 1,00 investido de recursos próprios, mostra o quanto os sócios têm de retorno. 26 A título de exemplo, observe o cálculo dos índices de rentabilidade da Natura S.A. para o ano de 2014: 𝑅𝑂𝐴 = 1.364,8 − 355,1 × 100 = 14,0% 7.199,5 𝑅𝑂𝐸 = 741,5 × 100 = 64,6% 7.199,5 Para os três exercícios, seriam os seguintes resultados: 2014 2015 2016 ROE % 64,6 48,5 31,0 ROA % 14,0 9,6 11,5 É possível perceber que todos os índices da empresa vêm tendo queda de rentabilidade tanto sobre o ativo como sobre o patrimônio líquido. Em 2016 por exemplo, para cada R$ 100,00 investidos na empresa, os sócios tiveram um retorno de R$ 31,00. 2.4 A criação de valor: o EVA® e o MVA® O capital é uma “commoditie” internacional e dessa maneira a sua aquisição é cada vez mais disputada pelas empresas. Como recompensa para esses investidores as empresasprecisam gerar retornos cada vez maiores, ou seja, precisam criar valor econômico ou valor econômico agregado. Conforme Assaf Neto e Lima (2014), as empresas precisam criar valor que pelo menos seja maior do que o seu custo de capital, pois, caso contrário, estarão destruindo valor. As medidas de mensuração de valor que serão aqui expostas são o EVA® e o MVA®. Segundo Assaf Neto e Lima (2014), o EVA® seria o resultado de uma empresa após a dedução do custo do capital próprio. Caso o resultado seja positivo, existe criação de valor para o acionista; caso contrário, destruição de valor. Entretanto, em seu cômputo, 27 é considerado também os custos de capital de terceiros, pois é necessário analisar a criação de valor como sendo resultante da subtração dos custos totais de capital. A combinação de capital próprio e de terceiros que existe para financiar uma empresa evidencia a sua estrutura de capital. Ao calcular o custo de capital de uma empresa, é preciso considerar que as fontes de capital próprio e de terceiros possuem diferentes custos. Assim sendo, é necessário o cálculo do custo médio ponderado de capital (CMPC ou WACC em sua sigla em inglês – Weighted Average Cost Capital). O EVA® seria dado por: EVA = Resultado Operacional Líquido – (WACC x Investimento) WACC = (Ke x PL) x (Ki x Wp) Sendo que: Ke = custo de capital próprio Wpl = participação do capital próprio Ki = custo do capital de terceiros Wp = participação do capital de terceiros O MVA® é uma avaliação calculada tendo como base as expectativas do mercado com relação ao investimento criar valor. Ainda segundo os autores, esse resultado seria o valor intangível do negócio, chamado de goodwill que foi gerado em função de sua gestão. Conforme Assaf Neto e Lima (2014), o MVA® seria o valor presente do EVA®: 𝐸𝑉𝐴® 𝑊𝐴𝐶𝐶 MVA® = 28 REFERÊNCIAS ASSAF NETO, A.; LIMA, F. G. Curso de administração financeira. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2014. BRIGHAM, E. F.; WESTON, J. Fred. Fundamentos da administração financeira. São Paulo: Makron Books, 2004. 29 3 O VALOR DO DINHEIRO NO TEMPO Em finanças há um jargão famoso que ilustra bem a questão do valor do dinheiro no tempo: “um dólar hoje vale mais do que um dólar amanhã”. Isso se dá diante da expectativa de se investir esse capital hoje e receber uma remuneração maior do que receber esse capital somente no futuro. É perceptível então que a problemática do valor do dinheiro no tempo é uma questão da remuneração do capital e do custo de oportunidade que se assume ao não contar com o recurso em mãos hoje. Conforme Assaf Neto: Receber uma quantia hoje ou no futuro não são evidentemente a mesma coisa. Em princípio, uma unidade monetária hoje é preferível à mesma unidade monetária disponível amanhã. Postergar uma entrada de caixa (recebimento) por certo tempo envolve um sacrifício, o qual deve ser pago mediante uma recompensa, definida pelos juros. Dessa forma, são os juros que efetivamente induzem o adiamento do consumo, permitindo a formação de poupanças e de novos investimentos na economia. (2017, p. 1). 3.1 Juros Conforme Assaf Neto e Lima (2014, p. 66), “o juro pode ser entendido como o custo do dinheiro. É o preço que se cobra para emprestar dinheiro, ou o retorno que se espera ganhar em operações de investimento”, ou seja, o preço a ser recebido ou pago por emprestar ou tomar emprestado recursos de terceiros. 30 Os juros e o tempo são duas variáveis diretamente associadas: quanto maior for o tempo que o capital ficar tomado, maiores os juros a serem pagos. Dessa forma, o administrador financeiro precisa gerenciar essa questão por impactar diretamente sobre os custos de capital: quanto maior for o uso de capital de terceiros, maiores serão os custos financeiros e isso impactará negativamente na rentabilidade dos negócios. Os juros normalmente são expressos sobre a forma de taxa (%). A relação entre a remuneração do capital e o capital usado é denominada taxa de juros. Considere por exemplo os juros de R$ 100,00 gerados sobre um capital de R$ 1.000,00. A taxa é obtida da seguinte maneira: 𝑇𝑎𝑥𝑎 𝑑𝑒 𝑗𝑢𝑟𝑜𝑠 = 𝑅$ 100,00 × 100 = 0,1 (× 100) = 10% 𝑅$ 1.000,00 A remuneração de juros sobre o capital e sua posterior reaplicação é denominada capitalização. Conforme Assaf Neto e Lima (2014), há dois critérios de capitalização de taxas de juros: A capitalização pode se dar linearmente sobre o principal, ou seja, os cálculos dos juros são feitos somente sobre o principal. Esse critério é denominado juros simples; A capitalização pode se dar exponencialmente sobre o principal, ou seja, os juros não são calculados sobre o principal, mas sobre o saldo devedor acumulado ocorrendo juros sobre juros periodicamente. Esse critério é denominado juros compostos. Nas duas metodologias, os juros gerados sobre um principal aumentam em função do tempo, mas no caso da capitalização composta, os juros gerados são maiores. Percebam que o valor calculado foi multiplicado por 100 para que o resultado se dê em termos porcentuais. 31 Nas operações de curto prazo, normalmente são usados juros simples, já nas operações de longo prazo, são usados juros compostos. Fonte: ASSAF NETO, 2017, p. 7. Figura 3.1 – Comportamento dos juros simples e composto. Antes de se iniciar a demonstração da resolução de problemas envolvendo juros simples e compostos, é importante estabelecer o conceito de algumas variáveis: Tabela 3.1 – Definição das variáveis de juros. Variável Definição Principal ou valor presente É o valor negociado nas operações financeiras, sendo expresso nas calculadoras financeiras pela sigla PV (Present Value em inglês). Taxa de juros Relação entre os juros e o principal, sendo indicada nas calculadoras pela letra i de interest rates em inglês. Montante ou valor futuro É a soma do principal mais os juros. É expresso nas calculadoras pela sigla FV (Future Value em inglês). Parcelas Servem para indicar as situações nas quais o retorno do capital não se dá de uma única vez. Nesse caso, é indicada nas calculadoras financeiras pela sigla PMT (payments em inglês). Juros Remuneração do capital. Nas fórmulas será indicada pela letra J. Período Período da operação. Nas fórmulas e nas calculadoras é expresso pela letra n (number of periods em inglês) 32 As resoluções dos problemas serão realizadas usando fórmulas matemáticas, a calculadora financeira HP 12C e o software Excel®. 3.2 Taxas equivalentes Por definição, conforme Assaf Neto e Lima (2014), taxas equivalentes são taxas de juros que geram os mesmos montantes quando aplicadas sobre um mesmo capital e prazo. Sendo que: ie = taxa de juros equivalente a uma parte de determinado intervalo do tempo i = taxa de juros efetiva do período Prazo que eu tenho: grandeza temporal da taxa de juros informada Prazo que eu quero: grandeza temporal da taxa de juros que se quer a equivalência Parte 1 – Quando se tem a taxa de juros em unidade de tempo menor e quer calcular unidade maior. Exemplo: ao mês (a.m.) para taxa ao ano (a.a.) 2,8% a.m para a.a. = ? 𝒊𝒆 = (𝟏 + 𝒊)𝒏/𝟏 – 1 ou 𝒊𝒆 = (𝟏 + 𝒊)𝒏 𝒒𝒖𝒆𝒓𝒐/𝒏 𝒕𝒆𝒏𝒉𝒐 – 1 𝒊𝒆 = (𝟏 + 𝟎, 𝟎𝟐𝟖)𝟏𝟐/𝟏 – 1 𝒊𝒆 = (𝟏, 𝟎𝟐𝟖)𝟏𝟐/𝟏 – 1 𝒊𝒆 = 1,39289 – 1 = 𝒊𝒆 = 0,39289 x 100 = 𝒊𝒆 = 39,29% a.a. Outros Exemplos: Calcular taxa equivalente 2,8% a.m. para os seguintes períodos: 33 a) 1 mês e meio ou 45 dias: expoente n = 45/30 ou 1,5/1 𝒊𝒆 = (𝟏 + 𝒊)𝒏/𝟏 – 1 ou 𝒊𝒆 = (𝟏 + 𝒊)𝒏 𝒒𝒖𝒆𝒓𝒐/𝒏 𝒕𝒆𝒏𝒉𝒐 – 1 𝒊𝒆 = (𝟏 + 𝟎, 𝟎𝟐𝟖)𝟒𝟓/𝟑𝟎 – 1 = 𝒊𝒆 = (𝟏, 𝟎𝟐𝟖)𝟒𝟓/𝟑𝟎 – 1 𝒊𝒆 = 1,04229 – 1= 𝒊𝒆 = 0,04229 x 100 = 𝒊𝒆 = 4,23% em 1 mês e meio ou por 45 dias. b) Bimestre: expoente n = 60/30ou 2/1 𝒊𝒆 = (𝟏 + 𝒊)𝒏/𝟏 – 1 ou 𝒊𝒆 = (𝟏 + 𝒊)𝒏 𝒒𝒖𝒆𝒓𝒐/𝒏 𝒕𝒆𝒏𝒉𝒐 – 1 𝒊𝒆 = (𝟏 + 𝟎, 𝟎𝟐𝟖)𝟔𝟎/𝟑𝟎 – 1 = 𝒊𝒆 = (𝟏, 𝟎𝟐𝟖)𝟔𝟎/𝟑𝟎 – 1 = 𝒊𝒆 = 1,05678 – 1 = 𝒊𝒆 = 0,05678 x 100 = 𝒊𝒆 = 5,68% a. b. c) Trimestre: expoente n = 90/30 ou 3/1 𝒊𝒆 = (𝟏 + 𝒊)𝒏/𝟏 – 1 ou 𝒊𝒆 = (𝟏 + 𝒊)𝒏 𝒒𝒖𝒆𝒓𝒐/𝒏 𝒕𝒆𝒏𝒉𝒐 – 1 𝒊𝒆 = (𝟏 + 𝟎, 𝟎𝟐𝟖)𝟗𝟎/𝟑𝟎 – 1 = 𝒊𝒆 = (𝟏, 𝟎𝟐𝟖)𝟗𝟎/𝟑𝟎 – 1 = 𝒊𝒆 = 1,08637 – 1 = 𝒊𝒆 = 0,08637 x 100 = 𝒊𝒆 = 8,64% a. t. Parte 2 – Quando se tem a taxa de juros em unidade de tempo maior e quer calcular unidade menor. Exemplo: taxa ao ano (a.a.) para taxa ao mês (a.m.) 36% a.a. para a.m. = ? 𝒊𝒆 = (𝟏 + 𝒊)𝟏/𝒏 – 1 ou 𝒊𝒆 = (𝟏 + 𝒊) 𝒏 𝒒𝒖𝒆𝒓𝒐/𝒏 𝒕𝒆𝒏𝒉𝒐 – 1 𝒊𝒆 = (𝟏 + 𝟎, 𝟑𝟔)𝟏/𝟏𝟐 – 1 = 𝒊𝒆 = (𝟏, 𝟑𝟔)𝟎,𝟎𝟖𝟑𝟑𝟑𝟑 − 𝟏 = 𝒊𝒆 = 1,02595 – 1 = 𝒊𝒆 = 0,02595 x 100 = 𝒊𝒆 = 2,60% a.m. Calcular taxa equivalente 36% a.a. para os seguintes períodos: 34 d) Ao dia: expoente n = 1/360 𝒊𝒆 = (𝟏 + 𝒊)𝟏/𝒏 – 1 ou 𝒊𝒆 = (𝟏 + 𝒊)𝒏 𝒒𝒖𝒆𝒓𝒐/𝒏 𝒕𝒆𝒏𝒉𝒐 - 1 𝒊𝒆 = (𝟏 + 𝟎, 𝟑𝟔)𝟏/𝟑𝟔𝟎 – 1 = 𝒊𝒆 = (𝟏, 𝟑𝟔)𝟏/𝟑𝟔𝟎 – 1 𝒊𝒆 = 1,00085 – 1= 𝒊𝒆 = 0,00085 x 100= 𝒊𝒆 = 0,09% a.d. e) Bimestre: expoente n = 60/360 ou 1/6 𝒊𝒆 = (𝟏 + 𝒊)𝟏/𝒏 – 1 ou 𝒊𝒆 = (𝟏 + 𝒊)𝒏 𝒒𝒖𝒆𝒓𝒐/𝒏 𝒕𝒆𝒏𝒉𝒐 – 1 𝒊𝒆 = (𝟏 + 𝟎, 𝟑𝟔)𝟏/𝟔 – 1 = 𝒊𝒆 = (𝟏, 𝟑𝟔)𝟔𝟎/𝟑𝟔𝟎 – 1 = 𝒊𝒆 = 1,05258 – 1 = 𝒊𝒆 = 0,05258 x 100 = 𝒊𝒆 = 5,26% a. b. f) Trimestre: expoente n = 90/360 ou 1/4 𝒊𝒆 = (𝟏 + 𝒊)𝟏/𝒏 – 1 ou 𝒊𝒆 = (𝟏 + 𝒊)𝒏 𝒒𝒖𝒆𝒓𝒐/𝒏 𝒕𝒆𝒏𝒉𝒐 – 1 𝒊𝒆 = (𝟏 + 𝟎, 𝟑𝟔)𝟗𝟎/𝟑𝟔𝟎 – 1 = 𝒊𝒆 = (𝟏, 𝟑𝟔)𝟗𝟎/𝟑𝟔𝟎 – 1 = 𝒊𝒆 = 1,0799 – 1 = 𝒊𝒆 = 0,0799 x 100 = 𝒊𝒆 = 7,99% a. t. Resolução: calculadora HP 12C Comando Significado F REG Limpa memória 0.21 enter Taxa de juros já dividida por 100 1 + Soma-se 1 12 1/x yx Calcula-se o inverso de 12 e depois (1,12)1/12 1 – 100 x (multiplica) Taxa equivalente mensal Por esse caminho se chega a taxa de 1,6% ao mês. 35 Comando Significado F REG Limpa memória 0.21 enter Taxa de juros já dividida por 100 1 + Soma-se 1 12 1/x yx Calcula-se o inverso de 4 e depois (1,12)1/4 1 – 100 x (multiplica) Taxa equivalente mensal Por esse caminho se chega a taxa de 4,88% ao trimestre. Resolução: software Excel® No caso do Excel®, a resolução se dá pelo uso do comando POTÊNCIA e aplicação da fórmula conforme indicado: Soma-se 1 mais a taxa de juros, coloca-se ponto e vírgula; a conversão do prazo como se pede (1 ano para 12 meses e 1 ano para quatro trimestres), tudo entre parênteses e ao final subtrai-se 1. 3.3 Juros simples e juros compostos Conforme foi dito no início deste capítulo, os sistemas de capitalização podem ser lineares (juros simples) ou exponenciais (juros compostos). A seguir, será analisada essa temática. Aqui, cabe observar que nas operações analisadas o retorno do capital somente se dará no final do período considerado nos problemas. 36 3.3.1 Juros simples Conforme Assaf Neto e Lima (2014, p. 66), Os juros são ditos simples quando não ocorre a capitalização dos mesmos, ou seja, não é cobrado juro dos juros. Calcula-se o juro de um período e sobre ele não é mais calculado juro, mesmo que o valor não seja pago. (...) No critério linear, os juros incidem unicamente sobre o principal (capital inicialmente aplicado) e geram, em consequência, remunerações (ou custos) diretamente proporcionais ao capital e prazo envolvidos na operação. Considerando os significados das siglas expostas, as fórmulas usadas para os cálculos em juros simples são as seguintes: 𝐹𝑉 = 𝑃𝑉 + 𝐽 𝐽 = 𝑃𝑉 × 𝑖 × 𝑛 𝑃𝑉 = 𝐽 1 × 𝑛 𝑛 = 𝐽 𝑃𝑉 × 𝑖 𝑖 = 𝐽 𝑃𝑉 × 𝑛 𝐹𝑉 = 𝑃𝑉 × (1 + 𝑖 × 𝑛) 37 𝑃𝑉 = 𝐹𝑉 (1 + 𝑖 × 𝑛) Exemplos: Calcule o valor futuro e os juros de uma aplicação de R$ 100.000,00 efetuada pelo prazo de 8 meses a uma taxa de juros simples de 18% ao ano. Resolução: Primeiro se calcula os juros proporcionais. Como se tratam de juros simples, a taxa proporcional é calculada simplesmente dividindo-se os juros ao ano por 12 meses. Dessa forma: i = 18%/12 = 1,5% Depois se aplica a fórmula: FV = $ 100.000 x (1 + 0,015 x 8) = R$ 112.000,00 Os juros são calculados pela diferença entre o valor futuro e o principal: J = R$ 112.000,00 – R$ 100.000,00 = R$ 12.000,00. Que capital gerou rendimento de R$ 350,00 durante 10 meses a uma taxa de 1,0% ao mês? Resolução: PV = R$ 350,00 / 0,01 x 10 = R$ 3.500,00 Pedro pagou ao Banco JuroAlto R$ 10,00 por um dia de atraso sobre uma prestação de R$ 150,00. Qual foi a taxa mensal de juros aplicada pelo banco? Resolução: I = R$ 10,00 / R$ 150,00 x 1 = 0,0667 x 100 = 6,67% ao dia; i (mensal) = 6,67% x 30 (dias) = 200% ao mês Determine o valor da aplicação cujo valor de resgate bruto foi de R$ 90.000,00 por um período de 1 mês sabendo que a taxa de juros foi de 2,0% ao mês. 38 Resolução: PV = R$ 90.000,00 / (1 + 0,02 x 1) = R$ 88.235,29 Durante quanto tempo foi aplicado um capital de R$ 1.000,00 que gerou rendimentos de R$ 300,00 a uma taxa de juros de 1,5% ao mês? Resolução: N = R$ 300,00 / R$ 1.000,00 x 0,015 = 20 meses 3.3.2 Juros compostos Segundo Assaf Neto e Lima (2014, p. 68), Os juros são chamados de compostos quando incidem sempre sobre o saldo acumulado (montante) ocorrendo, dessa forma, juros sobre juros periodicamente. No regime de juros compostos, o juro gerado em determinada data é adicionado (incorporado) ao principal e serve de base para o cálculo de juros do período posterior. As fórmulas de juros compostos são as seguintes: 39 4 Fonte: acervo pessoal. As funções de períodos, taxas, parcelas, valor presente e futuro já foram expostas. Cabe informar que nas operações com a financeira é relevante teclar “fclx” para limpar a memória. A tecla “f” também serve para ativar as funções em laranja na calculadora; a tecla “g” faz o mesmo. Exemplos: Se uma pessoa desejar obter $ 200.000,00 dentro de um ano, quanto deverá aplicar hoje num fundo que rende 3,0% a.t.? Em outras palavras, qual é o valor presente dessa aplicação? Pela fórmula: 𝑃𝑉 = 200.000 𝑅$ 177.697,41 (1 + 0,03) Pela HP 12C: 200000 CHS FV 3 i 4 n PV = R$ 177.697,41 Pelo software Excel®: uso da função VP Aqui também serão desenvolvidos os cálculos envolvendo o uso da calculadora financeira HP 12C e do software Excel® além das fórmulas acima. 40 Calcule o valor futuro de um capital investido de R$ 10.000,00 aplicado a taxa de 1,5% ao mês durante 10 meses. Fórmula: 𝐹𝑉 = 10.000(1 + 0,015)10 = 𝑅$ 11.605,41 Pela HP 12C: 10000 CHS PV 1.5 i 10 n = R$ 11.605,41 Pelo software Excel®: uso da função VF Qual o tempo que um investimento de R$ 10.000,00 precisa ficar aplicado para gerar um valor futuro de R$ 15.000,00 a uma taxa de 1,5% ao mês? Obs.: no cálculo de prazo pela fórmula, arredonda-se sempre para mais. Pela HP 12C 15000 CHS FV 10000 PV 1.5 i N? = 28 meses Pelo software Excel®: uso da função NPER O zero foi inserido porque o software precisa entender que está se trazendo a valor presente um resgate único e não uma série. M a i s u m a v e z o z e r o f o i a q u i c o l Mais uma vez, o zero foi aqui colocado para explicar que se trata de um único aporte. 41 A que taxa mensal uma quantia de R$ 8.000,00 gerou um valor futuro de R$ 9.500,00 no prazo de 6 meses? 𝑖 = Pela HP 12C: 9500 CHS FV 8000 PV 6n i = 2,91% Pelo software Excel®: uso da função TAXA 3.4 Séries uniformes de pagamentos As operações mais comuns do mercado financeiro de financiamentos de longo prazo envolvem parcelamentos. Esse temaé abordado na literatura financeira quando se explicam resoluções de problemas em séries uniformes de pagamentos. A série uniforme de pagamentos é aquela que prevê o pagamento de um determinado valor futuro parceladamente, ou seja, em uma série de pagamentos do mesmo valor em prazos iguais, normalmente de 30 dias. É o tipo de financiamento realizado para Aqui, o zero indica que não se trata de uma série de pagamentos. Mais uma vez, o zero é colocado aqui para indicar que se trata de uma única aplicação. Vejam que aqui também precisa se arredondar para mais. 42 aquisição de bens de maior valor agregado, como carros, imóveis e alguns eletrodomésticos de alto valor. O primeiro pagamento pode se dar a vista (antecipada) ou após 30 dias (póstecipada). As fórmulas de cálculo variam dependendo da forma de pagamento. Fórmulas: Na primeira fórmula, você tem o valor das parcelas, o prazo e a taxa de juros, e quer saber o valor à vista do bem: Na segunda fórmula, você tem o valor à vista do bem, o prazo e as taxas, e quer calcular as parcelas: Na terceira fórmula, você tem o valor de uma série de depósitos, o prazo e a taxa de juros, e quer calcular o valor futuro acumulado: 43 Na quarta fórmula, você quer saber o quanto vai ter de depositar mensalmente para acumular determinado valor, sabendo prazo e taxa: Exemplos de cálculos: séries uniformes de pagamentos póstecipados Um cidadão financiou a compra de um carro com parcelas de R$ 850,00 a uma taxa de juros de 1,5% ao mês pelo prazo de 24 meses. Qual foi o valor do saldo financiado? Como se trata de uma série de pagamentos póstecipada, não foi preciso especificar o tipo (0 usado nas séries antecipadas, default do sistema ou 1 para séries antecipadas). 44 Um carro teve um saldo devedor de R$ 10.000,00 financiado a uma taxa de juros de 1,5% ao mês pelo prazo de 24 meses. De quanto foi o valor da parcela? (Desconsidere IOF e demais taxas.) Você vai começar a depositar R$ 100,00 mensalmente em uma aplicação que paga rendimentos de 0,8% ao mês pensando nos estudos de seu filho que acabou de nascer. O resgate será feito quando ele tiver 18 anos de idade. Qual será o valor do resgate? Obs.: Nesse caso, é mais fácil passar o prazo de anos para meses: 18 x 12 = 216 meses. 45 Você quer comprar um celular Apple mais recente para dar de presente de natal a alguém especial e observou que ele está sendo anunciado por R$ 4.500,00. É mês de abril ainda, faltando exatamente 8 meses para o natal. Considerando que a taxa de juros que é possível obter é de 0,4% ao mês, quanto seria necessário economizar mensalmente para acumular esse valor? (Considerando que o celular não vai aumentar de preço.) Exemplos de cálculos: séries uniformes de pagamentos postecipados Observação importante: os cálculos na HP devem ser feitos com a função begin acionada. Para tal, você deve teclar G e depois o número 7. 46 Um eletrodoméstico está sendo oferecido nas seguintes condições: pagamento à vista da primeira parcela de R$ 350,00 mais 24 pagamentos mensais a uma taxa de juros de 0,5% ao mês. Qual seria o valor à vista desse aparelho? No Excel®: uso da função VP Aqui você está financiando a aquisição de um carro, sendo que o saldo devedor é de R$ 10.000,00 e a taxa de juros é de 2,5% ao mês. O prazo dos pagamentos é de 24 meses, e a primeira parcela é paga no ato. Qual seria o valor das parcelas? Esse zero serve para indicar que não se trata de cálculo de valor futuro. O 1 no final indica que se trata de pagamento antecipado. 47 Excel®: uso da função PGTO Você decidiu viajar! Para tal, foi até o banco e fez uma aplicação programada, sendo que a primeira será feita no ato da contratação. A proposta é aplicar R$ 250,00 mensais para que depois de 12 meses se tenha um valor para as férias. A taxa contratada foi de 0,8% ao mês. No final desse período, quanto se espera juntar? No Excel®: função VF Nunca esquecer de colocar o 1 no final da fórmula, pois indica que o pagamento é antecipado 48 Você é gerente de um banco e recebe um cliente que precisa acumular a quantia de R$ 50.000,00 em 2 anos para realizar a festa de casamento e ter a lua de mel dos sonhos. A taxa de juros praticada pelo banco é de 0,7% ao mês para aplicações mensais. Quanto esse cliente vai ter de economizar mês a mês, considerando que ele trouxe recursos para fazer o primeiro depósito para aplicar no ato? Na HP 12C: 50.000 chs FV 0.7 i 24 n PMT = R$ 1.907,15 No Excel®: função VF 49 3.5 Sistemas de amortização Assaf Neto (2017, p. 233) ensina que os “sistemas de amortização são desenvolvidos basicamente para operações de empréstimos e financiamentos de longo prazo, envolvendo desembolsos periódicos do principal e encargos financeiros”. Para compreender os sistemas de amortização, é necessário entender alguns conceitos: Tabela 3.2 – Conceitos e significados de sistemas de amortização. Conceito Significado Amortização A amortização refere-se exclusivamente ao pagamento do principal (capital emprestado), o qual é efetuado, geralmente, mediante parcelas periódicas (mensais, trimestrais etc.) Saldo devedor Representa o valor do principal da dívida, em determinado momento, após a dedução do valor já pago ao credor a título de amortização Prestação É composto do valor da amortização mais os encargos financeiros devidos em determinado período de tempo. Assim: Prestação = Amortização + Encargos Financeiros Fonte: ASSAF NETO, 2017, p. 234. Os sistemas de amortização são classificados como: Classificação dos sistemas de amortização Sistema de amortização constante Sistema de amortização francês Sistema de amortização americano Para explicar os três casos, será usado o seguinte exemplo: Um empréstimo de R$ 30.000,00 está sendo amortizado em 10 pagamentos mensais a uma taxa de juros de 1,5% ao mês. Pede-se calcular as parcelas, as amortizações e o saldo devedor para cada pagamento conforme sistemas SAC, SAF e SAA. 50 3.5.1 Sistema de amortização constante Nesse sistema, as amortizações são constantes. Primeiro, divide-se o valor do empréstimo pelo número de parcelas para calcular a amortização. O saldo devedor é calculado subtraindo a amortização do período do saldo devedor do período anterior e os juros são calculados linearmente, sempre sobre o saldo devedor. Para isso, multiplica-se o saldo devedor do período anterior pela taxa de juros em decimal. As parcelas são calculadas somando as amortizações com os juros. Dada sua metodologia de cálculo, os juros e as parcelas são decrescentes! É usado no financiamento habitacional. 51 3.5.2 Sistema de amortização francês Nesse sistema, as parcelas são constantes. Primeiro, o cálculo das parcelas é feito utilizando como metodologia a série uniforme de pagamentos por juros compostos póstecipados. Depois, os juros são calculados tendo como base o saldo devedor do período anterior. As amortizações são calculadas deduzindo-se as parcelas dos juros. O novo saldo devedor é calculado subtraindo-se o saldo devedor do período anterior da amortização do período. Esse sistema é usado na maioria dos empréstimos para se adquirir bens de maior valor agregado. Pela sua metodologia, as amortizações são crescentes e os juros, decrescentes. 52 3.5.3 Sistema de amortização americano Nesse sistema, na realidade, há apenas uma única amortização: no final do período do empréstimo. Durante toda a vigência do empréstimo são pagos apenas os juros calculados, considerando o valor principal. No último período, há o pagamento dos juros do período mais o principal. Período Saldo devedor Amortizações Juros Parcelas 0 30.000,001 30.000,00 0,00 450,00 450,00 2 30.000,00 0,00 450,00 450,00 3 30.000,00 0,00 450,00 450,00 4 30.000,00 0,00 450,00 450,00 5 30.000,00 0,00 450,00 450,00 6 30.000,00 0,00 450,00 450,00 7 30.000,00 0,00 450,00 450,00 8 30.000,00 0,00 450,00 450,00 9 30.000,00 0,00 450,00 450,00 10 0,00 30.000,00 450,00 30.450,00 Totais 30.000,00 4.500,00 34.500,00 REFERÊNCIAS ASSAF NETO, A.; LIMA, F. G. Curso de administração financeira. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2014. ASSAF NETO, A. Matemática financeira: edição universitária. São Paulo: Atlas, 2017. Os juros são calculados sobre o principal: R$ 30.000,00 x 0,015 = R$ 450,00 No final, soma-se o principal mais juros: R$ 30.000,00 + R$ 450,00 = R$ 30.450,00 53 4 FLUXO DE CAIXA 4.1 Projeção financeira O orçamento é a principal ferramenta de trabalho do administrador financeiro. É com base nas informações fornecidas por esse relatório que as decisões de gestão financeiras são tomadas, sempre no sentido de buscar todos os meios para reduzir os custos de capital. As projeções financeiras derivadas dessa ferramenta servem como meio de acompanhamento e controle e são realizadas considerando as condições econômicas, políticas e sociais que impactam os diferentes setores de atuação assim como a economia como um todo. Existem dois tipos de projeção financeira: •Possui caráter mais operacional e envolve o dia a dia da empresa. Projeção financeira de curto prazo •Estratégica, envolvendo decisões de investimento. Projeção financeira de longo prazo 54 4.2 Fluxos de Caixa Conforme Assaf Neto e Lima (2014, p. 670), “fluxos de caixa são os recursos que transitam (entram e saem) pelo caixa em determinado intervalo de tempo”. Os fluxos de caixa são instrumentos que são utilizados pelas empresas para realizar o controle e a gestão (curto prazo) e para avaliação de investimentos (longo prazo). Segundo Hoji (2017), os fluxos de caixa devem refletir as transações oriundas das atividades operacionais, de investimentos e de financiamentos. Do conceito de fluxo de caixa deriva-se o de fluxo de caixa líquido que, conforme Assaf Neto e Lima (2014, p. 670), “mede o resultado de caixa da empresa, sendo apurado pela soma do resultado líquido com as despesas não desembolsáveis, como depreciação, amortização e exaustão”. Considere os seguintes dados para o cálculo do fluxo de caixa líquido: Vendas: R$ 200.000,00 Despesas Operacionais Desembolsáveis: R$ 90.000,00 Despesas com Depreciação: R$ 40.000,000 Despesas Financeiras: R$ 35.000,00 Imposto de renda: 35% 55 Tabela 4.1 – Dados para o cálculo do fluxo de caixa líquido. 4.2.1 Demonstrativo do Fluxo de Caixa (DFC) Conforme Assaf Neto e Lima (2014, p. 213), a elaboração e publicação da DFC se tornou obrigatória através da Lei n. 11.638/2007 em substituição à DOAR. Ainda segundo os autores, os DFCs podem ser classificados em três categorias: Fluxo de caixa das operações: é relacionado à entrega de bens e serviços. As entradas de caixa incluem os recebimentos à vista por bens e serviços. As saídas de caixa indicam pagamentos a fornecedores, impostos, taxas, salários, entre outros passivos. Fluxo de caixa das atividades de financiamento: são atividades referentes a empréstimos e financiamentos. As entradas de recursos seriam as derivadas da obtenção de empréstimos e financiamentos. As saídas seriam os pagamentos de dividendos e amortizações de empréstimos e financiamentos. Fluxo de caixa das atividades de investimento: conforme Assaf Neto e Lima (2014, p. 213), “são as atividades referentes a investimentos relacionados ao aumento ou diminuição dos ativos de longo prazo utilizados na produção de bens e serviços”. 56 4.2.2 Métodos do fluxo de caixa Conforme Hoji (2017), os Demonstrativos de Fluxo de Caixa podem ser elaborados tanto pelo método direto como pelo método indireto. Ainda segundo o autor, A DFC elaborada pelo método direto evidencia os principais itens de recebimento e pagamento pelos seus efetivos valores, o que facilita a visualização e a compreensão dos fluxos financeiros. (...) [Já] A DFC elaborada pelo método indireto parte do lucro ou prejuízo líquido do exercício, ajustando os valores que não impactaram o caixa, complementando com aumento ou redução dos saldos das contas de ativos e passivos operacionais (HOJI, 2017, p. 265-6). Hoji (2017) mostra dois exemplos de DFC: Tabela 4.2 – Método Direto. Fonte: HOJI, 2017, p. 265. 57 Tabela 4.3 – Método Indireto. Fonte: HOJI, 2017, p. 266. 58 Assaf Neto e Lima (2014) nos mostram uma estrutura resumida que elucida bem as diferenças entre esses dois métodos: Quadro 4.1 – Diferenças entre método direto e indireto. Fonte: ASSAF NETO; LIMA, 2014, p. 214. 4.3 Tipos de orçamento Os orçamentos podem ser categorizados considerando o tipo de informação que fornecem: o orçamento de caixa é realizado para o curto prazo sendo utilizado para gestão do dia a dia da empresa; o orçamento de capital, por outro lado, merece especial atenção porque é usado para analisar a viabilidade econômica e financeira de investimentos. 4.3.1 Orçamento de caixa Segundo Assaf Neto e Lima (2014, p. 682), A projeção das necessidades de caixa será desenvolvida pelo levantamento de todas as entradas e saídas de recursos previstas em determinado período de tempo. A técnica do orçamento de caixa permite que se obtenha maior eficiência no controle de seu saldo, obtida mediante divisões de um período de planejamento maior em intervalos de tempo menores (em bases mensais, por exemplo). Isso permite acompanhar o nível de caixa da empresa e efetuar os ajustes devidos tão logo ocorram os eventuais desvios entre os valores previstos (orçados) e os valores reais. 59 A importante ferramenta de gestão indica momentos em que eventualmente o caixa possa ficar em uma situação deficitária, indicando necessidades de financiamento; por outro lado, pode apontar situações superavitárias, o que pode ser útil para programação de investimentos. É uma ferramenta simples de se utilizar, conforme pode ser observado no exemplo a seguir: Saldo de caixa existente no início do semestre: $ 2.000; Vendas previstas: $ 20.000 sendo que 60% desses valores sejam recebidos no semestre; As compras de estoque previstas para o período atingirão $ 10.000 e serão totalmente pagas no período de planejamento; O total das despesas operacionais desembolsáveis atingirá $ 2.000 no semestre; Ao final de maio, a empresa deverá pagar $ 1.000 a título de despesas financeiras; No início de março, está previsto um aumento de capital mediante subscrição e integralização de novas ações no valor de $ 2.000; No período (início de abril), ainda, a empresa espera receber $ 1.000 provenientes do realizável a curto prazo. Resolução: Lançamentos Valor A – Saldo inicial de caixa R$ 2.000,00 B – Entradas previstas de caixa Recebimentos de vendas R$ 12.000,00 Aumento de capital por integralização R$ 2.000,00 Recebimento de realizável a curto prazo R$ 1.000,00 C – Total das entradas R$ 15.000,00 D – Saídas de caixa Compras de estoques R$ 10.000,00 Pagamento de despesas operacionais R$ 2.000,00 Pagamento de despesas financeiras R$ 1.000,00 E – Total das saídas R$ 13.000,00 F – Saldo líquido de caixa (saldo inicial + entradas – saídas) R$ 4.000,00 Fonte: adaptado de ASSAF NETO; LIMA, 2014, p. 683. 60 4.3.2 Orçamento de capital Conforme Hoji (2017, p. 171), “o orçamento de capital é um programa de aplicação de capital de longo prazo vinculado ao plano estratégico e trata de investimentos permanentes”. Segundo o autor, podem ser considerados investimentos em ativos permanentes: Participações em empresas controladas ou coligadas; Terrenos e edificações; Gastos com pesquisase desenvolvimento de novos produtos e processos; Marcas e patentes; Máquinas e equipamentos. O orçamento de capital é feito com base no chamado “fluxo de caixa incremental” e envolve a análise do valor do investimento e os incrementos nas receitas e despesas derivados daquele investimento. A sua proposta é a de se analisar a viabilidade econômica e financeira em projetos de investimento. Também é usado para analisar a viabilidade em empresas start up. Convencionemos para fins didáticos que o investimento será de R$ 500 mil e será realizado da seguinte forma: R$ 200 mil serão recursos próprios e R$ 300 mil serão recursos de terceiros (BNDES). Considerando 100% de sua capacidade operacional, você poderá produzir e vender 38 unidades por dia útil (22 dias no mês) ao preço de R$ 100,00. Dessa forma, o lucro bruto anual será de R$ 957.600,00 (R$ 3.800,00 x 252). Portanto: 61 Custo de produção: 60% das receitas brutas; Matéria-prima, salários, água, luz, aluguel etc.; Impostos estaduais: 4% das receitas brutas; Impostos federais: 30%; Taxa de juros do BNDES: 8% ao ano; Horizonte de planejamento: 5 anos. Para começar a resolver o problema, é necessário calcular o valor das parcelas do financiamento de R$ 300.000,00. Vamos considerar pagamentos anuais a uma taxa de 8% ao ano em 5 anos. A projeção deve ser feita levando em conta um horizonte de planejamento de cinco anos, considerando que a empresa operou com 100% de sua capacidade instalada no primeiro ano, 90% no segundo, 70% no terceiro, 80% no quarto e 90% no quinto ano. Em R$ 1.000 Discriminação Ano 0 Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Vendas brutas 957,6 861,8 670,3 766,1 861,8 Impostos estaduais 38,3 34,5 26,8 30,6 34,5 Receita líquida 919,3 827,4 643,5 735,4 827,4 Custos de produção 574,6 517,1 402,2 459,6 517,1 Margem bruta 344,7 310,3 241,3 275,8 310,3 Pagamento/Financiamentos 75,1 75,1 75,1 75,1 75,1 Lucro antes do imposto de renda 269,6 235,2 166,2 200,7 235,2 Imposto de renda 80,9 70,5 49,9 60,2 70,5 Saldo final 188,7 164,6 116,4 140,5 164,6 Investimentos Recursos próprios 200,0 Recursos de terceiros 300,0 Total dos investimentos 500,0 De onde se chega ao fluxo de caixa livre, que é efetivamente o utilizado para aplicarmos as técnicas de orçamento de capital e avaliarmos se é viável ou não o investimento. 62 4.4 Gestão de caixa Função típica do administrador financeiro, a gestão otimizada do caixa vai ao encontro da principal finalidade dos administradores financeiros: reduzir os custos de capital. Denominado de Tesouraria ou Departamento Financeiro, é o setor responsável pelas tomadas de decisão financeira. Conforme Hoji, A Tesouraria é uma das áreas mais importantes em uma empresa, pois, praticamente, todos os recursos financeiros que giram na empresa transitam por ela. A Tesouraria de empresa não financeira, por ser uma área de apoio a unidades de negócios, não tem como finalidade a geração de lucro, mas pode ser estruturada de forma a agregar valores e contribuir substancialmente para geração de lucro, com a viabilização econômica de projetos, obtenção de recursos a custos adequados, maximização da rentabilidade das aplicações financeiras etc. De modo geral, pode-se dizer que a finalidade básica da Tesouraria é: assegurar os recursos e instrumentos financeiros necessários para a manutenção e viabilização dos negócios da empresa. (2017, p. 139). Dentre as atividades da tesouraria, destacam-se: Planejamento financeiro; Administração do fluxo de caixa; Negociação e controle de: o Aplicações financeiras; o Empréstimos e financiamentos; o Garantias e seguros. Administração dos riscos de flutuação de preços e taxas; Operações de câmbio; Crédito e cobrança; Contas a pagar. O sistema de Tesouraria é assim demonstrado por Hoji (2017): 63 Fonte: HOJI, 2017, p. 141. 4.4.1 Ciclo operacional e financeiro Com o objetivo de alcançar uma visão clara da administração de caixa e das medidas que podem ser acionadas para um controle eficiente, é interessante estudar, com mais detalhes, o ciclo de caixa de uma empresa. (ASSAF NETO; LIMA, 2014, p. 672). O cálculo do ciclo de caixa (operacional) e do ciclo financeiro (chamado pelo autor de “ciclo de caixa – necessidades”) já teve seu método visto anteriormente no estudo das metodologias de análise de balanços. Para recordar, o ciclo operacional é o período que existe desde o desembolso inicial das despesas para fabricar ou vender algo até o seu recebimento. O ciclo financeiro é calculado deduzindo o prazo médio obtido do ciclo operacional junto a fornecedores, sendo dessa forma o período em que a empresa necessitará financiar seu capital de giro com capital de terceiros. Considere o PME de 4 meses, de recebimentos de 2 meses e de pagamentos de 2 meses. O ciclo financeiro é dado conforme a seguir: 64 Quadro 4.2 – Ciclo operacional e financeiro completo. Fonte: ASSAF NETO; LIMA, 2014, p. 673. 4.4.2 Estratégias de controle de caixa Quanto maior for o ciclo financeiro de uma empresa, maior vai ser a sua dependência de capital de terceiros. Dessa forma, estratégias no sentido de reduzir o ciclo financeiro consistem em: Diminuir o prazo médio dos recebimentos; Aumentar o prazo médio dos pagamentos; Reduzir o prazo médio dos estoques (aumentar o giro dos estoques). Diminuir os prazos médios dos recebimentos pode significar em conflitos com os clientes. Entretanto, a redução de atrasos ou mesmo da inadimplência pode ser amenizada com critérios mais rigorosos de seleção de crédito. Os meios usados para análise de crédito são: Análise dos demonstrativos financeiros; Consulta a fontes de referência cadastral (outros fornecedores de seus clientes, instituições financeiras, sistemas de proteção ao crédito como o Serasa); 65 Eventuais visitas às instalações dos clientes e entrevistas com seus executivos para avaliar suas expertises administrativas. Para aumentar o prazo médio de pagamentos, é necessário esforço adicional do setor de compras para buscar melhorar os prazos com fornecedores. Entretanto, isso vai depender de dois fatores: Do poder de barganha existente entre cliente e fornecedor; Dependência de matéria-prima. Para esse fim, devem ser usadas técnicas de negociação com a proposta de buscar os menores prazos entre os fornecedores, tomando o cuidado para não fazer o conhecido “leilão”, pois essa forma de conduzir negociações pode colocar em cheque a credibilidade da empresa no mercado. O modelo de lote econômico É possível melhorar o giro dos estoques adotando um modelo que otimize a quantidade de determinado item de estoque a ser solicitado em um pedido. Para tal fim, utiliza-se o modelo de lote econômico (LEC). Esse modelo considera, segundo Hoji (2017), a existência de dois tipos de custos, além do efetivo da mercadoria: (a) custo de pedidos e (b) custos de manutenção de estoques. A fórmula do LEC é dada por: Onde 𝐶𝑝 é o custo do pedido; D é a demanda; e 𝐶𝑚 seriam os custos de manutenção. Exemplo: 66 Considere um item que possui uma demanda de 50.000 unidades anuais, o custo é de R$ 900,00 o pedido e os custos de manutenção são de R$ 100,00 por unidade. Quantos itens devem constar em cada pedido para o gerenciamento ótimo do estoque? Resolução: REFERÊNCIAS ASSAF NETO, A.; LIMA, F. G. Curso de administração financeira. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2014. HOJI, M. Administração financeira e orçamentária: matemática financeira aplicada, estratégias financeiras e orçamento empresarial. 12 ed. São Paulo: Atlas, 2017. 67 5 ORÇAMENTO DE CAPITAL 5.1 Orçamento Conforme Assaf Neto e Lima (2014), as atividades do administrador financeiro podem ser divididas em: Atividades de planejamento financeiro; Atividades de investimento; Atividades de financiamento. No curto prazo, essas atividades objetivam a gestão do dia a dia das empresas; no longo prazo, compreendem a análise estratégica do negócio, objetivando realizar investimentos de capital, devendo ser então objeto de análise e estudo. A análise de investimentos em longo prazo consiste no estudo/análise de se aplicar recursos financeiros em múltiplas alternativas/possiblidades com a expectativa do retorno do capital investido com lucro. Segundo Ferreira (2005, p. 117), os investimentos de longo prazo representam grandes desembolsos de recursos, os quais, via de regra, são obtidos com terceiros (financiamentos, por exemplo). Por essa razão, as empresas elaboram seus orçamentos de capital. Orçamento de capital é o processo que consiste em avaliar e selecionar investimentos de longo prazo que estejam consistentes com o planejamento estratégico da empresa, visando maximizar a riqueza dos acionistas. Conforme Assaf Neto e Lima (2014, p. 366), “as propostas de investimentos de capital de uma empresa podem ser enquadradas segundo suas diversas origens, isto é, de acordo com os motivos internos que determinaram seus estudos”. Ainda segundo os autores, as propostas de investimento podem ser classificadas em três modalidades: Ampliação do volume de atividades; Reposição/modernização de ativos fixos; Arrendamento ou aquisição. 68 5.1.2 Tipos de investimentos Segundo Assaf Neto e Lima (2014, p. 367), Os aspectos que envolvem os tipos de investimento dizem respeito às diferentes situações com que se pode defrontar uma empresa no momento de tomar suas decisões. Em outras palavras, o que se objetiva conhecer por meio deste estudo é como um projeto de investimento de capital afeta (ou é afetado por) outras eventuais propostas. Ainda de acordo com os autores, os investimentos podem ser classificados da seguinte forma: Investimentos economicamente independentes: quando a possibilidade física de implementação de um projeto não anula uma possível aceitação de outros; os benefícios produzidos por um projeto não influenciam (e também não são influenciados) as decisões de aceitar ou rejeitar as demais propostas de investimentos (ASSAF NETO; LIMA, 2014, p. 367). Exemplo: modernizar um prédio e adquirir uma nova máquina ou adquirir duas máquinas para funções diferentes. Investimentos com restrição orçamentária: isso ocorre quando “duas ou mais propostas de investimento independentes não podem ser simultaneamente implementadas por causa de condições de restrição orçamentária impostas pela empresa” (ASSAF NETO; LIMA, 2014, p. 368). Exemplo: quando não há recursos suficientes para modernizar todas as áreas da empresa que têm essa necessidade. Investimentos economicamente dependentes: situação na qual a aceitação de um investimento exerce influências negativas sobre os resultados líquidos dos demais, seja diminuindo as receitas ou elevando mais que proporcionalmente os custos e despesas; a aceitação de um investimento exerce, ao contrário da situação anterior, influências economicamente positivas sobre os demais, seja pelo incremento das receitas ou decréscimo dos custos e despesas; a aceitação de um investimento depende rigorosamente da implementação de outro, seja essa dependência definida em termos tecnológicos ou econômicos (ASSAF NETO; LIMA, 2014, p. 368). Por exemplo, faz-se necessário reformar as instalações elétricas da empresa para que ela possa receber uma máquina. 69 Investimentos mutuamente excludentes: ocorrem quando a aceitação de uma proposta elimina totalmente a possibilidade de implementar outra. Essa exclusão mútua ocorre basicamente em razão de as propostas em estudo desenvolverem a mesma função, sendo suficiente, para os objetivos da empresa, a aceitação de somente uma delas (ASSAF NETO; LIMA, 2014, p. 368). Por exemplo, quando a empresa recebe a proposta de aquisição de duas máquinas que fazem uma mesma função. Investimentos com dependência estatística: são os que se caracterizam por apresentarem variações conjuntas em seus resultados ao longo do tempo. Eventuais aumentos (ou reduções) nos benefícios de caixa de um investimento são acompanhados por variações nos benefícios dos outros (ASSAF NETO; LIMA, 2014, p. 368). Por exemplo, a viabilidade da produção de iates e carros de luxo. 5.1.3 Análise de investimentos Para analisar a viabilidade econômico-financeira de um investimento, são utilizados fluxos de caixa incrementais projetados. Conforme Assaf Neto e Lima (2014, p. 374), “os valores relevantes para a avaliação são aqueles que se originam em consequência da decisão de investimento tomada; estão diretamente associados ao projeto”. São analisadas as receitas e despesas de um investimento até que se chegue a um fluxo de caixa líquido, sendo esse utilizado como instrumento no processo de tomada de decisão. Ainda segundo os autores, os fluxos de caixa podem ser convencionais ou não convencionais. Fonte: ASSAF NETO; LIMA, 2014, p. 375. Figura 5.1 – Fluxo de caixa convencional. 70 Fonte: ASSAF NETO; LIMA, 2014, p. 375. Figura 5.2 – Fluxo de caixa não convencional Todo investimento demanda a alocação de capital que pode ser próprio, de terceiros ou uma combinação de ambos. Segundo Assaf Neto e Lima (2014, p. 376), O valor do desembolso inicial refere-se ao volume gasto de capital (saída efetiva de caixa) e direcionado à geração de resultados operacionais futuros. São incluídos todos os dispêndios de capital destinados a produzir benefícios econômicos futuros de caixa, tais como aumentos de receitas ou reduções de custos e despesas. Como observado anteriormente, investimentos podem ser classificados como: Aquisição de ativos fixos, como terrenos, prédios, equipamentos; Reformas de instalações; Troca/modernização de máquinas e equipamentos; Aquisição de veículos para finalidades diversas. A análise de viabilidade é realizada através das técnicas de orçamento de capital, tema a ser estudado a seguir. 5.2 Técnicas de orçamento de capital: o payback, o VPL e a TIR 5.2.1 Análise de viabilidade Conforme Ferreira (2005), os tipos mais comuns de projetos são os independentes ou os mutuamente excludentes. A proposta será o de se determinar aquele que maximize o retorno do investidor. Primeiro, deve-se estimar o fluxo de caixa líquido do projeto, considerando o valor do investimento e as receitas líquidas estimadas (após todos os custos/despesas e impostos pagos). Sobre esse fluxo de caixa se aplicam as ferramentas de orçamento de capital. 71 5.2.2 O período de payback O payback é uma técnica de orçamento de capital que leva em consideração o tempo de retorno de um investimento. É apenas um indicador que mostra o tempo que um investimento leva para gerar retorno. Idealmente, o investimento deve “se pagar” antes do término do horizonte de planejamento ou da vida útil estimadas. Considere o seguinte fluxo de caixa líquido: Ano 0 Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 ano 5 Fluxo de caixa livre -500,0 188,7 164,6 116,4 140,5 164,6 Para se calcular o payback simples, deve-se somar os resultados dos fluxos de caixa ao valor do investimento (negativo) até que se chegue a um resultado positivo: Ano 1: (500) + 188,7 = (311,3) Ano 2: (311,3) + 164,6 = (146,7) Ano 3: (146,7) + 116,4 = (30,3) Ano 4: (30,3) + 140,5 = 110,2 Para calcular o tempo exato: 30,3/140,5 = 0,215 x 12 (meses) = 2,58 ou 3 anos, dois meses e 15 dias aproximadamente. No caso do payback descontado, é necessário antes trazer os fluxos projetados a valor presente a uma dada taxa mínima de atratividade para depois calcular o payback. A TMA deve refletir o custo de oportunidade do investidor, o custo de capital ou uma média ponderada de ambos. Esse tema será abordado detalhadamente no próximo item. No momento será considerada a taxa
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