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A - Introdução: Economia Internacional e Relações Internacionais
As transformações ocorridas nas relações econômicas entre os paises, após a década de 80, mudaram profundamente o cenário político e econômico mundial. Os paises industrializados ganharam importante parcela do mercado mundial de manufaturados em detrimento dos paises desenvolvidos. O mercado de capitais internacional também se desenvolveu fortemente passando a oferecer novos produtos e tecnologias financeiras, possibilitando novas relações entre os centros financeiros e as economias dos paises. Estas relações nem sempre são estáveis, pois a mobilidade de capitais provoca, por vezes, grandes oscilações na taxa de câmbio e mudanças estruturais nos padrões de comércio, que por sua vez, podem resultar em fortes pressões políticas. Estes eventos aumentaram o interesse por assuntos estudados pelos economistas há mais de dois séculos, como a natureza do mecanismo de ajuste internacional e os méritos do livre comércio versus os impactos dos mercados protegidos. 
1. Consumo e Produção: A sobrevivência do ser humano depende da satisfação de suas necessidades básicas ou primárias (alimentação, vestuário e habitação). Essas necessidades não são as únicas, pois a evolução do homem trouxe consigo outras tais como: educação, saúde e lazer, sendo estas chamadas de progressivas. Para atendê-las, o homem precisa produzir bens e serviços, sendo que o consumo destes bens e serviços depende da produção em volume satisfatório. 
2. Divisão do trabalho: Dado que os recursos necessários à produção precisam ser transformados para atender a demanda cada vez mais crescente, o ser humano tem que produzir bens e serviços em larga escala. A fabricação em larga escala somente é possível se houver produtividade e esta, por sua vez, depende da divisão do trabalho. A divisão do trabalho é o componente que permite aumentar a produtividade, melhorar a qualidade e também o surgimento de excedentes para trocas. No livro "A Riqueza das Nações" de 1776, Adam Smith faz referência à divisão do trabalho quando escreve que em uma fábrica de alfinetes dez pessoas, por se especializarem em várias tarefas, conseguem produzir 48.000 alfinetes por dia, ao invés de uns poucos que cada um poderia produzir isoladamente. No mesmo livro, ele argumenta: "Essa divisão do trabalho, da qual derivam tantas vantagens, não é, em sua origem, o efeito de uma sabedoria humana qualquer... Ela é conseqüência necessária, embora muito lenta e gradual, de certa tendência ou propensão existente na natureza humana...a propensão a intercambiar, permutar ou trocar uma coisa pela outra." E dessa forma, a certeza de poder permutar toda a parte excedente da produção de seu próprio trabalho que ultrapasse seu consumo pessoal estimula cada pessoa a dedicar-se a uma ocupação específica, e a cultivar e aperfeiçoar todo e qualquer talento ou inclinação que possa ter por aquele tipo de ocupação ou negócio. A divisão do trabalho se equilibra pelo mesmo mecanismo da competição e da oferta e procura. As trocas entre pessoas foram sendo ampliadas, passando a envolver cidades e finalmente países. Chamamos comércio comercio internacional as trocas entre paises. Ele é feito por meio de importações e exportações e pago em diversas moedas que precisam ser convertidas por uma medida, a taxa de câmbio. O comércio internacional não se resume simplesmente às relações econômicas, ele é composto de um conjunto de atividades que constituem a Economia Internacional. 
3. Definição de Economia Internacional: Tipo de economia que estuda os fenômenos e comportamentos econômicos entre estados soberanos ou regiões geográficas. 
4. Importância: Os conhecimentos de economia internacional são necessários para a compreendermos o que se passa no mundo e para que sejamos consumidores, cidadãos e eleitores capazes de tomar decisões que afetam direta ou indiretamente nossas vidas. De um ponto de vista mais prático, o estudo da economia internacional é requisito necessário em numerosos empregos em empresas multinacionais, bancos, agências internacionais (como os departamentos de comércio dos paises) e organismos internacionais tais como a ONU, o banco Mundial e o FMI.
5. Objeto de estudo: A economia internacional trata da interdependência econômica entre os paises. De forma específica, a economia internacional trata da teoria do comércio entre os paises, da política de comercio internacional, do balanço de pagamentos, dos mercados de câmbio externos e da macroeconomia aberta. A teoria do comércio internacional analisa as bases e os ganhos decorrentes do comércio. A política de comércio internacional examina as razões e os efeitos das restrições comerciais e do novo protecionismo. O balanço de pagamentos mede as receitas e os gastos totais da nação em relação aos seus parceiros comerciais. Os mercados de câmbio externos constituem o referencial para a troca de uma moeda nacional por outra. A macroeconomia aberta trata dos mecanismos de ajuste dos desequilíbrios do balanço de pagamentos, bem como dos efeitos da interdependência macroeconômica entre as nações sob diferentes sistemas monetários internacionais, e seus efeitos sobre o bem estar de uma nação. 
B - Objetivo das teorias e políticas econômicas internacionais:
O objetivo geral da teoria econômica é prever e explicar fenômenos econômicos. Cabe à teoria econômica internacional, a partir de hipóteses simplificadoras (um universo de duas nações, duas mercadorias, dois fatores de produção, inexistência de restrições comerciais, perfeita mobilidade de fatores de produção, concorrência perfeita e ausência de custos de transações), examinar as bases e os ganhos decorrentes do comércio, as razões e os efeitos das restrições comerciais, as políticas dirigidas à regulamentação dos fluxos de pagamentos e os efeitos dessas políticas sobre o bem estar de uma nação. 
1. O Mercantilismo: Chama-se mercantilismo ao conjunto de ideias e práticas econômicas que floresceram, na Europa, entre 1450 e 1750. Uma tríplice transformação, de ordem intelectual, política e geográfica, assinala, na aurora desse período, o início dos tempos modernos. No século XVI assiste-se ao surgimento do Estado Moderno. A centralização monárquica vai tomando o lugar dos pequenos núcleos feudais. A Idade Média teve, sem dúvida, o seu sistema de Estado. Mas, pelo fato de não passarem de aglomerações feudais, não possuíam uma verdadeira política nacional. Foi a suplantação desta forma de Estado que fez surgir a ideia de economia nacional no sentido moderno da expressão, ou seja, a concepção de Estado que coordena todas as diferentes forças ativas da nação. O comércio, principalmente, transforma-se em negócio público. A noção de “balança comercial” suplanta a de “balança de contratos”. Os sistemas mercantilistas podem ser assim divididos: 
1.1 - A forma espanhola ou bulionista: A primeira – e também a mais rudimentar – forma de mercantilismo coincide com a descoberta e exploração das minas de ouro da América, e tem nascimento no país que recebe este metal precioso: a Espanha. Os principais representantes bulionistas são Ortiz, Botéro, entre outros. Para se conseguir acumular o máximo de ouro e prata, dois são os processos preconizados e empregues:
- impedir que o metal precioso saia do país, através de medidas intervencionistas em diversos campos. Atraem-se também as moedas estrangeiras para o interior do país, mediante a adoção de uma política de taxa de juros elevada; depois, a fim de impedir a saída do metal, falsificam-se as moedas;
- a balança de contratos.
Os mercantilistas compreendem a importância das trocas entre nações, mas, em contraposição, perceberam também que esse comércio acarreta um deslocamento dos estoques metálicos. Por isso, impõem medidas de controle: os navios espanhóis que vão vender mercadorias no exterior, devem, obrigatoriamente, trazer para a Espanha o valor da sua carga em ouro. Por outro lado, os navios estrangeiros, que desembarcam os produtos dos seus países de origem na Espanha, devem, necessariamente,levar, ao partir, o valor da sua carga em produtos espanhóis. Estes processos esbarravam na dificuldade de fiscalizar os contratos continuadamente, e a sua aplicação só seria possível por parte de um pequeno número de países. É assim que a balança de contratos vai dar lugar à balança de comércio e, com ela, o alargamento da concepção mercantilista: admite-se a entrada e saída de ouro, desde que se assegure uma balança de comércio favorável.
1.2 - A forma francesa ou Colbertismo: Com o mesmo objetivo de aumentar os estoques monetários, a França vai orientar a sua ação para o fomento da indústria, uma vez que não pode recorrer às fontes diretas de metais preciosos. A indústria é preferida, por um lado, em virtude de sua produção ser mais certa e regular, e, por outro, pelo fato dos produtos fabricados para a exportação terem um valor específico maior. O esforço em prol do desenvolvimento industrial é acompanhado de numerosas medidas intervencionistas: o Estado outorga monopólio de produção e regulamenta a indústria de modo estrito; há interdição do trabalho livre. A mão-de-obra representa, na produção, a parte mais importante do preço de custo dos produtos.
1.3 - A forma inglesa ou comercialista: O mercantilismo inglês vai sofrer a influência das grandes descobertas. Foi perante as potencialidades comerciais dos Descobrimentos que os comerciantes solicitaram a abolição da proibição da saída de metais precioso do país. O argumento é simples: as Índias Orientais fornecem aos compradores preciosas especiarias, as quais são revendidas ais estrangeiros a um preço muito elevado. Ora, os indígenas não querem vender contra pagamento em outros produtos, mas, sim, em metal precioso. A exportação desse metal permitiria, portanto, ao comerciante inglês, auferir lucros que se traduziriam, no fim de contas, em importação do metal precioso, com vantagem para o país. Na concepção mercantilista, é a nação – e não o indivíduo – o comerciante. Cabe-lhe, pois, envidar todos os esforços para conseguir uma balança de comércio exterior saldada mediante a entrada de metal. No entanto, como se exige que a balança seja favorável, todo um sistema de regulamentações é elaborado: o Estado regulamenta a produção, fiscaliza as exportações e controla as vendas no exterior. Essa regulamentação é tanto mais rigorosa quando, na verdade, à preocupação metalista se vai juntar a preocupação política: é assim que a fiscalização das exportações visará também impedir a saída de produtos e matérias-primas que possam ser úteis à defesa do país ou à condução da guerra.
2. Adam Smith (1776) - Teoria das vantagens absolutas: Os trabalhos de Adam Smith neste domínio correspondem ao culminar de um processo de argumentação contra o mercantilismo por razões de ordem...
(i) prática – o protecionismo limitaria o processo de desenvolvimento inglês; 
(ii) teórica – o saldo permanentemente positivo da balança comercial seria insustentável; 
(iii) ‘normativa’ – as exportações diminuiriam devido a ações de retaliação. 
Adam Smith demonstra as vantagens da livre troca, ao observar que a abertura ao exterior conduz a um ganho importante para os dois parceiros da troca (embora podendo não ser equitativo) e, portanto, também para a economia mundial (originando o aumento global da riqueza). Por conseguinte, ao invés da lógica mercantilista, Adam Smith considera que o comércio internacional tem ganhos positivos para os países intervenientes na troca.
Para tal, basta que os países se especializem de acordo com as suas vantagens absolutas: cada país deve especializar-se (completamente) no(s) produto(s) em que tem vantagem(ns) absoluta(s) em termos de custos (ou produtividade), ou seja, em que o número de horas de trabalho requerido para a sua produção é menor. Deste modo, propõe que os países não façam tudo: devem apenas produzir e, portanto, exportar os produtos em que têm maior produtividade e eficiência e comprar (importar) aqueles em que os outros são melhores. A teoria das vantagens absolutas pode ser facilmente compreendida com base num exemplo numérico. Tendo presentes os pressupostos já referidos, considere-se adicionalmente o quadro abaixo com os custos unitários de produção de dois bens X e Y, por parte de dois países A e B – e que facilmente pode ser reescrito em termos de produtividade: 
Note-se, em particular que, apesar de existirem custos de produção constantes para cada bem dentro de um país, os custos diferem nos dois países. A tecnologia é então o fator relevante na explicação das trocas. Constata-se que A é absolutamente mais eficiente a produzir X, enquanto B é absolutamente mais eficiente a produzir Y. Na verdade, A produz X com menor custo ou, dito de outro modo, a produtividade de A em X é maior. Por isso, diz-se que tem uma vantagem absoluta em X, pelo que deve especializar-se completamente na sua produção. Por sua vez B é absolutamente mais eficiente a produzir Y (dispõe de vantagem absoluta em Y) devendo, pois, especializar-se completamente na sua produção. Neste caso, com livre troca, A vai produzir duas unidades de X, uma para consumo interno e outra para exportação, e obtém de B uma unidade de Y (note-se que B produz agora duas unidades de Y). O comércio internacional origina um ganho materializado na poupança de uma hora de trabalho em cada país:
Em economia fechada Em regime de livre troca
3. David Ricardo (1820) - Teoria das vantagens comparativas ou relativas: David Ricardo tentou mostrar que mesmo quando um país fosse absolutamente menos eficiente a produzir todos os bens, continuaria a participar no comércio internacional ao produzir e exportar os bens que produzisse de forma relativamente mais eficiente. Assim, o modelo Ricardiano é referido como o modelo das vantagens comparativas ou relativas. Para uma melhor compreensão da teoria das vantagens comparativas, vejamos o exemplo proposto por David Ricardo, que tem como países Portugal e a Inglaterra e como produtos o Tecido e o Vinho, e que consagram à produção de uma unidade de cada produto as seguintes quantidades de horas de trabalho:
Tal como em Adam Smith, também em David Ricardo é a tecnologia dos países que determina os custos unitários ou as produtividades. Neste exemplo, paradoxalmente o país menos desenvolvido, Portugal, é absolutamente mais eficiente na produção de ambos os bens. Ricardo terá pretendido levar até ao limite das consequências a vantagem da troca (no caso concreto, do ponto de vista da Inglaterra). No contexto da teoria das vantagens absolutas, o comércio entre os dois países seria nulo, uma vez que Portugal detinha vantagens absolutas ou era absolutamente mais eficiente na produção de ambos os bens, não havendo da sua parte qualquer interesse na troca. Ou seja, o conceito de vantagem absoluta não é, num caso destes, suficiente para determinar a especialização. Pelo contrário, o conceito de vantagem comparativa ou relativa permite determinar padrões de especialização e troca. Formalmente, dado que em economia fechada se verifica uma troca de equivalentes; i.e., uma equivalência nos valores globais da produção em ambos os bens, pode determinar-se as Razões de Troca Autárquicas (RTA) em cada um dos países, e passamos a trabalhar com os custos relativos:
Assim, considerando o custo relativo de cada bem face ao outro para cada país, conclui-se que Portugal tem uma vantagem comparativa na produção de Vinho e a Inglaterra tem uma vantagem comparativa na produção de Tecido; i.e., o custo relativo do Vinho é inferior em Portugal, 0,88 < 1,2 e o custo relativo do Tecido é inferior na Inglaterra, 0,83(3) < 1,125. 
Dito de outro modo, Portugal é relativamente mais eficiente na produção de Vinho e a Inglaterra é relativamente mais eficiente na produção de Tecido. Devido aos diferentes custos relativos ambos os países têm incentivos à troca. Assim, Portugal deve especializar-se completamente na produção de Vinho e a Inglaterra na produção de Tecido. Em suma, a especialização não se deve fazer em termos de vantagens absolutas, mas segundo as vantagenscomparativas: neste caso, cada nação deve especializar-se na produção do bem para o qual possui relativamente maior vantagem ou menor desvantagem relativa. Determinado o padrão de especialização, a troca apenas se concretizará se, de fato, existirem incentivos para tal, em termos de uma Razão de Troca Internacional (RTI) que beneficie a especialização em ambos os países. Assim, a especialização portuguesa em Vinho. O ponto importante é que, após a troca, existirá um preço do Vinho em termos do Tecido que será comum aos dois países. Inglaterra importa Vinho e exporta Tecido pelo que o preço do Tecido relativamente ao Vinho deverá aumentar. Em Portugal o preço relativo do Vinho deverá aumentar. Com os novos preços determinados pelo comércio, os produtores aumentam a produção do bem em que têm vantagem comparativa.
O ganho à escala mundial traduziu-se na poupança de 30 horas de trabalho para as mesmas unidades dos bens. Portugal poupa 10 horas e a Inglaterra poupa 20 horas. Donde, também em David Ricardo o comércio internacional é um ‘jogo’ de soma positiva (contrariamente ao pensamento mercantilista). 
C - Temas econômicos internacionais relevantes na atualidade:
São os seguintes os temas econômicos atuais em que o estudo das teorias e políticas econômicas pode auxiliar a entender e resolver: 
a) Protecionismo comercial em paises desenvolvidos. Embora a teoria pura do comercio internacional defenda a ideia de que a melhor política para o mundo é o livre comercio, a maior parte das nações impõe algum tipo de barreira ao livre comercio. Estas barreiras são justificadas, em termos de bem estar social da nação, mas invariavelmente beneficiam uma minoria de produtores que delas tiram grande proveito econômico. Este problema tornou-se ainda mais complexo pela possibilidade de que o mundo se divida em três blocos econômicos: Um bloco norte americano (EUA, Canadá e México) um bloco europeu e um bloco asiático. 
b) Insegurança no emprego devido à reestruturação e diminuição dos postos de trabalho nos EUA. Rápidas mudanças tecnológicas, globalização e a crescente competição com as exportações de manufaturados das economias asiáticas (dynamic asian economies – DAEs), como Coréia e China, vêm causando um processo de enxugamento (downsizing) e insegurança no emprego nos EUA. 
c) Pobreza extrema em vários paises em desenvolvimento. Em contraste com o rápido crescimento de alguns paises, em especial a China e a Índia, que provavelmente reduzirá a pobreza de seus residentes, existem muitos outros paises em desenvolvimento, mais pobres, em particular os da África Subsaariana, que enfrentam graves problemas de pobreza extrema, endividamento externo incontornável, estagnação econômica e crescimento da desigualdade internacional de padrões de vida. Estas condições podem gerar instabilidade para a economia mundial por criar as bases para as guerras. 
d) A Crise dos Sub-Prime e a recessão econômica dos EUA. A crise surgiu com inadimplência das hipotecas de alto risco originadas de financiamentos a clientes que não têm boa avaliação de crédito, os Ninja: sigla para "no income, no job or assets“ = sem renda, sem emprego e sem ativos. Em geral, esses créditos imobiliários têm taxas mais altas que a média do mercado e surgem quando um banco concede empréstimo até para imigrantes ilegais. O passo seguinte foi diluir o risco dessas operações duvidosas juntando-as aos milhares - e transformando a massa resultante em derivativos negociáveis no mercado financeiro, em valor cinco vezes superior ao das dívidas originais. Essa etapa do processo chamada de securitização contou com a colaboração das agências de risco que deram a estes ativos a chancela máxima de triple AAA, transformando os títulos tão sólidos quanto os do Tesouro dos Estados Unidos e muito mais confiáveis do que os bônus do governo brasileiro. 
e) Fundos Soberanos. Os fundos soberanos são constituídos com parte das reservas de países altamente superavitários no seu comércio exterior, na sua grande maioria, exportadores de petróleo e gás. Mais de 20 países têm esse tipo de fundo, sendo que o maior deles, o de Abu Dhabi, acumula mais de US$ 600 bilhões. Os países asiáticos exportadores de manufaturados também entraram neste segmento, como o fundo da China, lançado este ano, com um patrimônio inicial de US$ 200 milhões. Outros fundos famosos são o russo Fundo de Estabilização do Petróleo, com US$ 127 bi, e o Fundo de Pensão do Governo da Noruega, com US$ 322 bi. Segundo o FMI, podem acumular US$ 10 trilhões até 2012. 
f) Guerra Cambial: Nos últimos meses, a possível emergência de uma guerra cambial –ou atual presença de uma, como apontado pelo Ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega- tem causado a inquietação de políticos, economistas e empresários em diversos países. Mais do que um fenômeno meramente econômico, uma guerra cambial é um acontecimento político que, além de envolver governos específicos, é capaz de afetar todo o sistema internacional de comércio. Partindo da definição mais simples, guerra cambial é uma situação em que países competem pela desvalorização de suas moedas como forma de proteger sua indústria. A desvalorização cambial atua como uma espécie de subsídio implícito às exportações. Tal prática representa uma ação unilateral em prol de vantagens comerciais, e é expressamente proibida por organizações como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização Mundial do Comércio (OMC). O cenário econômico conflituoso atualmente verificado é protagonizado por dois países: Estados Unidos e China. O primeiro é possuidor do maior déficit da economia mundial, enquanto o segundo ostenta o maior superávit. Esse imenso desequilíbrio comercial é causado, em grande parte, pela manutenção do câmbio artificialmente desvalorizado por parte da China. Tal manobra já há algum tempo tem sido fonte de tensão entre os dois países. As repercussões desencadeadas pela manipulação do câmbio praticada pela China são severamente agravadas por dois fatores presentes na economia norte-americana: os prejuízos que esta ainda amarga da crise de 2008; e o crescente déficit que há muito preocupa analistas de política econômica no país. Em decorrência desse cenário, o governo tem lançado mão de medidas de estímulo, como a redução da taxa de juros a níveis atípicos e a potencialização da emissão de moeda, chamada “enxurrada de dólares”. No intuito de recuperar o dinamismo econômico do país anterior à crise, as medidas de estímulo podem acabar por prejudicar demais países à medida que causam a valorização de suas moedas frente ao dólar.
g) Crise do Norte da África: as revoltas populares na Tunísia e no Egito estão tirando o sono de governantes dos países árabes, que começam a adotar medidas de abertura e prometer reformas políticas para evitar que o efeito dominó chegue a seus territórios, embora os analistas acreditem que, se a rebelião egípcia for derrotada, o impulso reformista deverá ser freado. "Em um mês, o mundo árabe mudou mais do que em anos", estimou Ziad Majed, especialista em Oriente Médio Contemporâneo, da Universidade Americana de Paris. "O temor mudou de campo: durante décadas, os regimes autoritários se mantinham graças à repressão (...). Hoje, os regimes têm medo e querem evitar a qualquer preço o que aconteceu no Egito e na Tunísia", acrescentou. Na Jordânia, o rei Abdallah destituiu o primeiro-ministro para amainar a pressão popular por sua saída, mas a poderosa oposição islamita criticou a opção do substituto e convocou novas manifestações na sexta-feira. Na Síria, onde as redes sociais foram usadas para organizar protestos na última sexta-feira e sábado, o presidente Bashar al-Assad - que sucedeu o pai em 2000 - declarou querer "continuar a mudança em nível do Estado e das instituições".
Exercícios de Fixação:
Com base no texto acima, assinale V (Verdadeiro) ou F (Falso) para cada uma das assertivas abaixo. Caso você assinale (F) – Falso, indique onde está o erro:
1 – ( ) O ser humano tem que produzir bens e serviços em larga escala pois os recursosnecessários à produção são abundantes, mas precisam ser transformados para atender a demanda cada vez mais crescente. 
2 – ( ) Chamamos comércio internacional as trocas entre paises, que são feitas por meio de importações e exportações, que são pagas em diversas moedas que precisam ser convertidas por uma medida, a taxa de câmbio.
3 – ( ) A divisão do trabalho se equilibra pelo mesmo mecanismo da competição e da oferta e procura.
4 – ( ) O comércio internacional se resume às relações econômicas entre os paises, sendo composto de um conjunto de atividades que independe de fatores políticos, culturais ou de produtividade.
5 – ( ) Segundo Adam Smith, a abertura de um país ao mercado externo conduz a um ganho importante para os dois parceiros da troca e, portanto, também para a economia mundial, originando o aumento global da riqueza).
6 – ( ) Segundo Adam Smith, obterá sucesso no mercado externo o país que tiver vantagem absoluta em todos os produtos.
7 – ( ) Segundo Adam Smith, a vantagem comparativa se dá através da medição dos custos e da produtividade.
8 – ( ) Segundo Adam Smith, a vantagem absoluta se dá no fator trabalho, isto é, as pessoas devem ser generalistas, em vez de se especializarem em algumas tarefas para aumento da destreza pessoal e aumento da produtividade.
9 – ( ) Segundo Ricardo, mesmo se um país for absolutamente menos eficiente para produzir todos os bens, pode participar no comércio internacional ao produzir e exportar os bens que produz de forma relativamente mais eficiente. 
10 – ( ) Segundo Ricardo, um país possui vantagem comparativa na produção de um bem se consegue se especializar e fabricar este bem a custos de oportunidade menores que os demais países.
D - Comércio Intra-Indústria e Comércio Inter-Indústria
1) Comércio Intra-Indústria:
2) Comércio Inter-Indústria:
3) Economias de Escala e Concorrência imperfeita
Exercícios de Fixação:
Com base no texto acima, assinale V (Verdadeiro) ou F (Falso) para cada uma das assertivas abaixo. Caso você assinale (F)–Falso, indique onde está o erro:
1 – ( ) Se o Brasil exporta motores de automóveis para outro país, e dele importa automóveis, estamos diante de um tipo de comércio chamado de inter-indústria.
2 – ( ) Na pauta de comércio exterior de Brasil e China consta que o Brasil exporta soja e farelo de soja, e importa computadores e periféricos. Sob este contexto, isto caracteriza o comércio intra-indústria.
3 – ( ) A partir dos conceitos detalhados neste texto, podemos inferir que o Haiti pode participar ativamente do comércio mundial, mas este comércio será predominantemente inter-indústria.
4 – ( ) O comércio intra-indústria possui algumas externalidades positivas, tais como os ganhos de aprendizado e o desenvolvimento tecnológico.
5 – ( ) O Brasil tem ostensivamente buscado ativar o comércio exterior com países em desenvolvimento. Considerando-se o grau de maturidade industrial do Brasil, certamente que esta decisão visa incrementar o comércio intra-indústria.
E – Panorama das exportações Brasileiras
A abertura mercadológica da década de 90 promoveu um crescimento econômico sem precedentes para o país. É inegável que a modificação na condução da política econômica internacional do país alterou significativamente a postura do empresariado brasileiro mudando a visão de negócios que havia até então. A competitividade internacional no Brasil era questionável uma vez que vários setores industriais brasileiros permaneciam confortáveis sob o manto protecionista dos governos passados. A política de comércio exterior e cambial da época dificultavam o investimento em tecnologia de ponta e marginalizavam alguns setores da economia, que poderiam ter uma participação mais significativa na corrente do comércio exterior brasileiro e cujo resultado foi o sucateamento de grande parcela do parque industrial do país. Foi com a abertura mercadológica, produzida pelo ex-governo Fernando Collor de Mello, que o cenário se alterou sensivelmente, com maior evidência nas exportações, criando inúmeras oportunidades de negócios e promovendo a inserção de novos exportadores neste mercado promissor.
Com base na nova realidade econômica internacional do país, faz-se necessário destacar os principais indicadores da balança comercial com o intuito de comentar o Panorama das Exportações Brasileiras. Segundo dados estatísticos divulgados no site do Ministério da Indústria Desenvolvimento e Comércio Exterior as exportações brasileiras, de 1999 a 2009, cresceram 218,65% apesar da redução de 22,7% em relação ao ano de 2008. O Brasil está em 22º lugar na lista dos maiores exportadores do mundo tendo atingido a cifra de US$ 153 bilhões no ano passado. O saldo comercial, que traduz a diferença entre o resultado das exportações e importações brasileiras, teve uma evolução da ordem de 1630,2% no período de 2001 a 2006, apesar de estar em declínio a partir de 2007. De 2006 a 2009 a queda no saldo comercial foi da ordem de 45,436%, fato este atribuído ao crescimento das importações brasileiras e mais recentemente a crise financeira mundial no 2º semestre de 2008. As exportações brasileiras, apesar da sua evolução contínua a partir de 2000, apresentam uma participação ínfima se comparadas as exportações mundiais com aproximadamente 1,28% em 2009.
A representatividade das exportações brasileiras, no produto interno bruto, tem se comportado de forma decrescente a partir de 2005 atingindo 9,72% em 2009. As exportações mensais do ano passado foram inferiores se comparadas a 2008 devido à crise financeira internacional chegando em dezembro passado ao mesmo patamar dos valores do final de 2008. O universo das empresas exportadoras brasileiras, que a partir de 2004 mantém uma média aproximada de 20.814 empresas, revela um dado interessante no que diz respeito aos seus respectivos portes, pois 48,3% das participantes são micros e pequenas empresas.
O restante está dividido entre pessoas físicas, médias e grandes empresas nas quais estas últimas representaram 94,2% do valor total exportado pelo país no ano de 2008. No que tange as micros, pequenas e médias empresas, estas participaram com 1,2% e 4,5% respectivamente do valor exportado no referido ano. Essa tendência tem prevalecido a anos no Brasil fazendo com que a concentração de exportações nas grandes empresas represente um dado preocupante já que se trataram de, aproximadamente, 5.508 empresas em 2008. Também evidencia uma política de comércio exterior claramente direcionada as indústrias de grande e médio portes em detrimento do número maior das micros e pequenas empresas e que não tem acesso aos incentivos do governo devido a razões de ordem burocrática dentre outras.
Com relação as exportações por valor agregado, no ano de 2009, o Brasil vendeu ao exterior uma pauta diversificada de produtos dos quais 44,% são manufaturados, 40,5% de básicos e 13,4% de semimanufaturados. Se a princípio essa informação é saudável para o país, precisa ser analisada com mais cuidado do ponto de vista qualitativo pois não se refere, necessariamente, a itens de alta intensidade tecnológica. Pelo contrário, a concentração de itens exportados está localizada em mercadorias de baixa e média-baixa intensidade tecnológica cuja participação percentual chegou 65,3% em 2009. Os cinco estados brasileiros com maior representatividade nas exportações de 2009 estão localizados nas regiões Sudeste e Sul. A participação acumulada deles chegou a 66,66% em 2009 com destaque para São Paulo com 27,76% desse total. Ao se verificar a participação dos demais estados da União percebe-se que as regiões Centro Oeste, Norte e Nordeste não tem expressão significativa nas exportações do país contudo, alguns dos estados que mais cresceram nas exportações em 2009, comparativamente a 2008, estão nas referidas regiões. Mais uma vez nos deparamos com uma realidade perigosa que denota a deficiência de uma Política de Comércio Exterior mais equilibrada no país pois acaba privilegiando as regiões mais ricas. China, Estados Unidose Argentina foram os destinos de quase um terço das exportações brasileiras em 2009.
O Brasil tem feito esforços para pulverizar as suas exportações e diminuir a dependência dos países denominados tradicionais, através do crescimento constante no destino das vendas internacionais direcionadas a países tais como Bahrein, Benin, Luxemburgo, Moldavia, Madagascar, Montenegro e outros. Do ponto de vista regional, a Asia foi o destino de 25,8% das exportações brasileiras. A América Latina e Caribe representaram 23,3% do destino das exportações brasileiras em 2009, dos quais o Mercosul obteve o percentual de 10,3%. Para a União Européia o Brasil destinou 22,2% do total exportado no ano passado, o que somado a América Latina e Caribe chega a 45,5% das exportações brasileiras para as duas regiões. Após apresentar os dados do Ministério da Indústria Desenvolvimento e Comércio Exterior, fica fácil entender o Panorama das Exportações Brasileiras e as deficiências nas políticas de comércio exterior conduzidas pelo governo. Não resta dúvida de que o governo muito contribuiu para uma mudança positiva das exportações brasileiras, porém há muito o que se fazer para obter-se uma performance mais satisfatória nas vendas internacionais. Uma delas se refere a promoção de políticas de comércio exterior direcionadas as micros e pequenas empresas uma vez que estas possuem uma realidade distinta das demais. Também é necessário repensar o desenvolvimento dos estados brasileiros do ponto de vista das exportações, a fim de potencializar seus resultados de acordo com suas regionalidades. Por fim o governo precisa continuar estimulando a participação de mais empresas no comércio exterior brasileiro, particularmente nas exportações, através de processos contínuos de desburocratização e investimentos em infraestrutura preparando o país para os novos desafios que virão mas que, com certeza, abrirão novas perspectivas de crescimento econômico.
* Sergio Dias Teixeira Junior é especialista em comércio exterior, docente de comércio exterior e logística internacional do UNIFIEO e da UMC - Universidade Mogi das Cruzes e membro do Grupo de Estudos de Comércio Exterior – GECEU (UNIFIEO).
F – Competitividade Internacional
1 - INTRODUÇÃO: O termo competitividade vem sendo muito utilizado nos meios acadêmico e empresarial, e está ligado diretamente à capacidade de enfrentar a concorrência. Mas, o que de fato é competitividade? Como pode ser mensurada? Existem várias abordagens sobre o tema. A mais simples e difundida é aquela que a relaciona ao desempenho das exportações com o livre comércio imposto pelo capitalismo, vence aquele que se tornar mais competitivo, aquele que apresentar um resultado mais satisfatório de que todos seus concorrentes.
2. CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE COMPETITIVIDADE: O tema competitividade assumiu uma presença crescente e marcante na análise econômica do desempenho de empresas, indústrias e países devido ao processo de globalização enfrentado pela economia mundial nos últimos anos. Para manter ou conservar condições competitivas, as empresas e os governos passaram a ter uma necessidade de reestruturação produtiva e organizacional, através de redefinição de estratégias, de desenvolvimento de novos mercados, entre outros recursos, os quais exigem um grande esforço de adaptação. Sendo assim, o conceito de competitividade está vinculado à eficiência produtiva.
Shumpeter (1950) contribuiu, de forma pioneira, no questionamento da abordagem neoclássica, ao associar a base científica à base tecnológica de uma atividade. O autor propõe o entendimento da tecnologia como um bem que, como outros, incorpora um sistema produtivo em sua criação, envolvendo custos e riscos. Assim, a passagem da invenção para inovação implica na existência de um agente, o qual se define no núcleo da competição – o empresário - e que utiliza a informação tecnológica como instrumento competitivo. Esta realidade propiciou o surgimento de muitos modelos e métodos na literatura tendo como objetivo estudar, avaliar e mensurar a competitividade de firmas e setores, bem como identificar os fatores que a afetam.
POSSAS (1996), considerou a competitividade como sendo atributo de concorrência e definiu concorrência como sendo o processo em que as empresas buscam o lucro por meio de constantes tentativas de diferenciação junto aos seus concorrentes. Dessa forma, quando competitividade expressa capacidade de inovação, é necessário, para desenvolver potencial competitivo, o investimento tanto em potencialidades das firmas (tecnológicos, produtivos, entre outras) quanto específicas do ambiente econômico (externalidades sociais, técnico/ científicas, condições institucionais, entre outras).
Outro conjunto de autores, em seus estudos sobre desafios competitivos, atribuiu à competitividade, características de desempenho e eficiência (FERRAZ et al., 1996). O desempenho teria relação direta com a participação de um determinado produto ou empresa no mercado.
Alguns autores também citam, como exemplo de competitividade internacional, a participação das exportações de um setor no comércio externo. Eficiência determina a competitividade potencial, e é resumida pelos autores como a capacidade das firmas converterem os insumos em produtos com o máximo rendimento. “A capacidade de a empresa formular e implementar estratégias concorrências que lhe permitam ampliar ou conservar de forma duradoura uma posição sustentável no mercado”, a competitividade, assim, foi definida por FERRAZ et al. (1996:3). No entanto, o termo competitividade não tem respaldo apenas nas abordagens econômicas. As interpretações de competitividade também podem ser fundamentadas a partir de teorias que têm sua origem na área de estratégia das organizações.
Com a crescente internacionalização das economias, o estudo da competitividade dos países tem preocupado nos últimos anos as autoridades econômicas mundiais e os estudiosos da teoria econômica. Após a Segunda Grande Guerra, os Estados Unidos e a URSS discutiam os problemas mundiais em termos bipolares, e suas rivalidades os levaram a uma crescente corrida armamentista. Porém, nas últimas décadas, o equilíbrio das forças alterou-se com incrível rapidez. A Europa recuperou-se dos prejuízos da guerra e primeiramente como CEE (Comunidade Econômica Europeia) e atualmente como UE (União Europeia), tornou-se uma das maiores unidades comerciais do mundo. A parcela do Terceiro Mundo na produção de manufaturados e no PIB mundial, que na década posterior a 1945, tinha declinado, vem-se expandindo. A República Popular da China está avançando em um ritmo bastante acelerado com taxas de crescimento próximas de 10% no último decênio. O resultado destes novos acontecimentos é uma nova ordem mundial de progressiva internacionalização da vida econômica, tendente a favorecer a concorrência, na qual é posta em prática a capacidade competitiva das empresas nacionais e das empresas. Diante destes novos desafios, o Brasil deve envidar esforços no sentido de revitalizar seus recursos de uma maneira geral, e principalmente os ligados à mineração, para competir em igualdade de condições no mercado internacional.
3. COMPETITIVIDADE NO BRASIL: A competitividade no Brasil está condicionada e associada à estrutura sócio-econômico-financeira da nação e tem por base, entre outros, os seguintes vetores: quadro institucional, padrão de especialização, infraestrutura e tecnologia de produção. Para melhorar a competitividade da indústria brasileira é imprescindível a liberalização do comércio externo com a eliminação do excesso de burocracia e das distorções nos sistema tributário e tarifário. A competitividade de um país leva em conta alguns itens: estabilidade financeira; sofisticação do mercado acionário; infraestrutura e carga tributária; taxa de câmbio; burocracia oficial e estabilidade política. Índices comprovam que o Brasil ainda não é uma economia internacionalmente competitiva e que quase todas as instituições econômicas nacionais, ainda são deficientes. Um forte indicativodo fraco desempenho econômico pode ser observado nas exportações. A economia brasileira apresenta hoje um padrão geral de comércio onde, pelo lado das exportações, ramos de manufaturados e semimanufaturados intensivos em recursos naturais e energia apresentam forte competitividade e expansão. Reduziu-se a dependência em relação a produtos básicos, mas há uma crescente especialização, no conjunto, de produtos industrializados com conteúdo tecnológico relativamente simplificado e pequeno valor agregado. A abertura comercial, por outro lado, provocou a adoção de programas de racionalização pelas empresas no Brasil, levando a um aumento de produtividade expresso em índices de valor agregado por trabalhador empregado. A especialização em linhas de produto ou em segmentos da produção resultou em uma estrutura produtiva mais enxuta e competitiva. Contudo, ampliou-se o coeficiente de importação de produtos, componentes ou insumos com maior conteúdo tecnológico, reforçando a tendência de especialização revelada nas exportações. 
4. OS ANOS COLLOR: ABERTURA COMERCIAL E O PLANO REAL: A ascensão de Fernando Collor ao poder, em 1990, inaugurou o mais contundente processo de transformação econômica dos últimos 40 anos. Após décadas em que as políticas econômicas eram desenhadas e implementadas para promover a industrialização por substituição de importação e sedimentar o parque industrial nacional através de reservas de mercado, empresas estatais e instrumentos regulatórios, cambiais, fiscais e creditícios, promoveram-se profundas mudanças nas políticas públicas.
Em poucos anos, removeu-se um enorme e complexo sistema de proteção não-tarifária e reduziram-se as tarifas nominais e efetivas modais para cerca de 1/4 daquela prevalecente na década de 1980. Os efeitos das reformas comerciais não tardaram a surgir. A penetração de importações na manufatura, setor mais afetado pela reforma comercial, duplicou em apenas cinco anos, saltando de 5,5%, em 1990, para 10,7%, em 1995. As exportações, por outro lado, tiveram modesto crescimento, o que levou, já em 1995, à reversão do saldo da balança comercial, que estivera positivo desde o início da década de 1980. As reformas, no entanto, não se limitaram ao comércio internacional. A privatização foi outra importante mudança introduzida na década. Embora a privatização tenha começado em 1991 de forma modesta, em 1995 os setores siderúrgico, fertilizantes, petroquímica, além de outros, já tinham sido passados à iniciativa privada e, nos anos que se seguiram, os setores de telecomunicações e outros serviços públicos foram também privatizados. A desregulamentação dos investimentos estrangeiros, o sistema financeiro e o mercado de trabalho, dentre outros, também provocaram importantes mudanças na economia. Além dessas reformas, a década de 1990 testemunhou o sucesso do Plano Real, ao estabilizar a inflação, após sucessivas tentativas de congelamento de preços e salários e mudanças de moeda.
5. COMPETITIVIDADE E TRABALHO: Arbache e De Negri (2001) utilizam uma inédita base de dados ao nível das firmas, e não da indústria, como é largamente utilizado em trabalhos similares, para investigar os determinantes do comércio exterior brasileiro. A base de dados utilizada contém informações de mais de 5 milhões de trabalhadores empregados em cerca de 31 mil firmas do setor industrial brasileiro. O período analisado foi 1996-1998. 
Uma síntese dos resultados de Arbache e De Negri (2001) mostra que, primeiro, as firmas exportadoras e não-exportadoras têm diferentes características de mão-de-obra, tamanho e nacionalidade do capital. Segundo, as firmas do setor exportador pagam um prêmio salarial, o qual deve estar associado a salários de eficiência, variáveis produtivas omitidas, maior eficiência ou ganhos derivados da tecnologia e/ou escala de produção. Terceiro, economias de escala e educação média da força de trabalho — que é proxy de tecnologia — são fatores fundamentais para explicar a probabilidade de a firma exportar, independentemente da indústria da qual ela faça parte. Quarto, não foram encontradas evidências de um padrão de exportação ao nível da indústria, com base na dotação de fatores e vantagens comparativas, como sugere o modelo de HO. Quinto, as firmas exportadoras valorizam mais as variáveis de capital humano que as firmas não exportadoras, sugerindo que aquelas dependem mais de qualidade e eficiência que estas. Sexto, a competitividade internacional da firma parece estar associada mais às suas características e menos às características da indústria da qual ela faz parte.
6. UMA TENTATIVA DE EXPLICAÇÃO: Parece que teria havido as seguintes mudanças na economia brasileira: 
a) as condições da concorrência do mercado internacional de bens semimanufaturados e manufaturados de baixo valor agregado, bem como de bens agrícolas, teriam se deteriorado na década de 1990 devido à simultaneidade da liberalização comercial de diversos países em desenvolvimento do mesmo porte do Brasil e às suas tentativas de aumento das exportações para financiar as importações e a modernização das suas respectivas economias; 
b) o impacto resultante das reformas e das políticas econômicas da década de 1990 teria causado exit-effect (efeito de abandono) entre as firmas brasileiras, fazendo com que as menos aptas e as tecnologicamente menos modernas tivessem desaparecido; e 
c) visando sobreviver no novo contexto econômico local e internacional e se aproveitando das facilidades de importação de bens intermediários, bens de capital, novas tecnologias, e a entrada em larga escala de investimentos diretos estrangeiros, teria havido ampla modernização das firmas brasileiras. 
Os itens (a) e (c) teriam elevado o patamar tecnológico médio das firmas remanescentes. Dessa forma, o aumento da competição internacional experimentada pela economia brasileira no início da década de 1990, e as demais reformas efetivadas no período teriam pressionado as firmas a implantar vigorosas mudanças em seus processos produtivos, levando-as à adoção de novas tecnologias como forma de sobreviver num mercado muito mais seletivo, exigente e competitivo. Como vimos, elas teriam se aproveitado das novas facilidades de importar máquinas, equipamentos e tecnologias para mudar seu paradigma de produção, de forma a produzir melhores produtos a preços mais baixos. Ademais, o ambiente mais competitivo teria provocado exit-effect, permanecendo no mercado essencialmente as firmas mais sofisticadas e preparadas para operar dentro das novas conformações da economia. De outro lado, o tamanho do mercado interno e regional e as proteções associadas ao Mercosul teriam contribuído para que a empreitada tivesse sucesso, permitindo ganhos de escala e produção mais eficiente. As reações das firmas às mudanças econômicas teriam sido bastante agudas, as quais, juntamente com o exit-effect, teriam nos levado rapidamente para um maior nível de aprimoramento e sofisticação, colocando-nos em posição para concorrer em certos mercados de bens de valor intermediário de agregação. Dessa forma, poder-se-ia explicar o significativo aumento dos salários relativos, a crescente demanda por trabalhadores mais qualificados, a competitividade das firmas baseada em escala de produção e tecnologia, e os maiores salários relativos dos trabalhadores das firmas exportadoras. Essa análise sugere que, tão logo a competição se acirrou devido à entrada de países como China, Indonésia e México nos mercados internacionais de bens pouco elaborados, teria ficado claro que a competitividade marginal do Brasil não era grande o suficiente para competir com esses países em mercados de bens semimanufaturados ou manufaturados de baixo valor, impelindo-nos a buscar mercados. 
7. CONCLUSÃO: As evidências e argumentos apresentados neste capítulo nos conduzem a duas conclusões gerais. A primeira é que, desde o início da década de 1990, o Brasil tem passado por um intenso processo de transformações que rompem com o quadro econômico e de políticas públicas que prevaleceram por váriasdécadas. Segunda, o Brasil introduziu tardiamente o processo de abertura comercial e integração à economia mundial como meio de promoção do crescimento, o que teria causado importantes mudanças no mercado de trabalho. Ademais, foram introduzidas simultaneamente à abertura outras reformas, como a privatização, desregulamentação, estabilização e ajustamento das contas públicas, as quais teriam também contribuído para os fortes impactos observados na economia e no mercado de trabalho no período.
Exercícios de Fixação: Com base no texto acima, assinale a alternativa que está em pleno acordo com as premissas do histórico recente do Comércio Exterior Brasileiro, em termos de competitividade:
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1 (a) Segundo Schumpeter, a tecnologia é um bem que não incorpora um sistema produtivo em sua criação.
(b) O conceito de competitividade está vinculado à eficiência produtiva e ao desempenho.
(c) Segundo Schumpeter, o empresário nem sempre utiliza a informação tecnológica como instrumento competitivo.
(d) Estratégia empresarial é a capacidade das firmas converterem os insumos em produtos com o máximo rendimento.
2 (a) Os acontecimentos da nova ordem mundial, com progressiva internacionalização da vida econômica, tende a impedir a livre concorrência. 
(b) O autor recomenda que o Brasil deve revitalizar seus recursos para aumentar a substituição de importações.
(c) Para competir no mercado internacional em igualdade de condições, é necessário privilegiar as empresas genuinamente brasileiras.
(d) A parcela do Terceiro Mundo na produção de manufaturados e no PIB mundial, está se expandindo.
3 – A competitividade no Brasil está condicionada e associada à estrutura sócio-econômico-financeira da nação e tem por base...
(a) O quadro institucional, padrão de especialização, infraestrutura e estrutura produtiva.
(b) O quadro institucional, padrão de especialização, valor agregado e tecnologia de produção
(c) O quadro institucional, especialização, infraestrutura e tecnologia de produção
(d) O quadro institucional, padrão de especialização, infraestrutura e tecnologia de produção
4 (a) O Brasil ainda não é uma economia internacionalmente competitiva.
(b) Distorções nos sistema tributário e tarifário prejudicam a competitividade brasileira.
(c) Um dos entraves ao comércio exterior é a burocracia.
(d) Todas as respostas estão corretas.
5 (a) A abertura comercial dos anos 90 impactou severamente as empresas brasileiras, que tiveram que mudar para sobreviver ou sair do mercado
(b) As afirmativas de (a) e (d) estão corretas.
(c) As afirmativas de (a) e (d) estão erradas.
(d) No comércio exterior recente o Brasil está forte em produtos industrializados de baixo teor tecnológico.
6 (a) Está correto associar a gestão de Fernando Collor de Mello à abertura comercial brasileira. 
(b) Está correto associar substituição de importações e reserva de mercado. 
(c) Está correto associar abertura comercial dos anos 90 ao ajustamento das empresas, em que só as eficientes continuaram a exportar.
(d) Todas as afirmativas estão corretas.
7 - Com a abertura comercial dos anos 90 
(a), as importações triplicaram e as exportações pouco cresceram.
(b) as importações ficaram estagnadas e as exportações pouco cresceram.
(c) as importações dobraram e as exportações pouco cresceram.
(d) as importações e as exportações geraram superávit na balança comercial.
8 – Os anos 90 foram tempos de grandes mudanças na economia brasileira, pois:
(a) as privatizações e o plano Real foram um sucesso.
(b) setores estratégicos foram entregues à iniciativa privada e grandes empresas começaram trazer grandes investimentos para o país;
(c) os seguidos congelamentos de preços e salários e mudanças de moeda foram fundamentais para alavancar as exportações.
(d) somente (a) e (b) estão corretas.
9 – A pesquisa de Arbache e De Negri, feita em 1998, mostrou que:
(a) Empresas exportadoras empregam 3 vezes mais que as empresas não-exportadoras;
(b) Empresas não-exportadoras pagam salários inferiores aos das empresas exportadoras;
(c) empresas exportadoras têem maior rotatividade de pessoal. 
(d) empregados de empresas exportadoras têem mais anos de escolaridade.
10 – Nas sentenças abaixo, marque (V) ou (F):
( ) Embora tenha aumentado a competição internacional, as firmas brasileiras não chegaram a implantar mudanças em seus processos produtivos.
( ) As empresas brasileiras se aproveitaram das novas facilidades de importar máquinas, equipamentos e tecnologias para mudar seu paradigma de produção.
( ) Com as mudanças, permaneceram no mercado somente as firmas mais bem preparadas para lidar com um mercado mais protegido pelas reservas de mercado.
( ) A criação do Mercosul não contribuiu para que a as empresas brasileiras se beneficiassem com ganhos de escala e produção mais eficiente.
( ) A abertura comercial passou a provocar o aumento dos salários e crescente demanda por trabalhadores mais qualificados.
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G – Protecionismo INTERNACIONAL
1 - Apresentação: No atual cenário do comércio internacional é de fundamental importância que esforços sejam desenvolvidos no sentido de aumentar significativamente a reduzida participação das exportações brasileiras no mercado mundial, cuja fatia situa-se atualmente em menos de 1%, cifra esta que não corresponde às dimensões da economia do país e muito menos às suas potencialidades. Para atingir esse objetivo faz-se necessário, inicialmente, a identificação das barreiras existentes às nossas exportações, de forma sistemática e atualizada, para posterior análise de seu impacto econômico, visando, simultaneamente, informar e melhorar a performance do setor exportador, bem como servir de subsídios às negociações internacionais que visem à eliminação dos obstáculos comerciais. Desta forma, para viabilizar esse Projeto, o MDIC está aberto a todo exportador que queira participar com suas idéias e contribuir com informações e divulgação das dificuldades em geral de acesso para seus produtos, em qualquer mercado. É importante que o setor privado dê sua contribuição, pois o êxito dessa iniciativa dependerá, sobretudo, do engajamento do setor exportador brasileiro, tendo em vista sua experiência e vivência diária na matéria. Na literatura e trabalhos internacionais, normalmente são consideradas barreiras não-tarifárias as medidas e os instrumentos de política econômica que afetam o comércio entre dois ou mais países e que dispensam o uso de mecanismos tarifários (tarifas ad-valorem ou específicas).
2 – Protecionismo: Protecionismo é a teoria que propõe um conjunto de medidas econômicas que favorecem as atividades internas em detrimento da concorrência estrangeira. O oposto desta doutrina é o livre-comércio.
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Vantagens:
Proteção da indústria e agricultura do país.
Garantia dos empregos internos.
Incentivo ao desenvolvimento de novas tecnologias
Fechamento das fronteiras para o comércio, estancando a sangria das contas externas
Desvantagens
Aumento de preços internos.
Falta de incentivo na indústria interna na busca de melhorias.
Atraso tecnológico ao país frente a inovações externas.
Perda de mercados externos.
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Esta doutrina visa proteger o mercado interno através da criação de mecanismos que dificultam a entrada no país de mercadorias importadas, reduzem a competição externa e assim permitem o livre desenvolvimento das atividades econômicas internas. A teoria contrária ao protecionismo é o livre-comércio. Através desta linha de atuação, garante-se a independência de um país, enquanto ao se optar pelo caminho inverso, atinge-se o estágio da interdependência entre Estados concorrentes. Todos os países, mais ou menos, adotam essas medidas econômicas em algum momento de sua trajetória político-econômica. Para tanto, estabelecem tarifas elevadas e impõem regras técnicas aos produtos externos, gerando assim uma série de obstáculos que tornam mais difícil sua entrada no mercado nacional, ao diminuir sua margem de lucros. Também é comum criar subsídios à indústria interna, propiciando um crescimentomais intenso; e instituir uma porcentagem fixa de mercadorias e de trabalhos estrangeiros no mercado interno.
Como conseqüência, os empregos no âmbito nacional ficam garantidos, a indústria e a agricultura internas são protegidas, estimula-se o incremento de novas técnicas nacionais e estimula-se a abertura das fronteiras para atividades comerciais. Por outro lado, porém, há uma elevação dos preços dos produtos nacionais; na falta de uma maior competitividade, as indústrias se acomodam e não desenvolvem o potencial integral de que dispõem; o país não acompanha o avanço tecnológico em curso no contexto externo e há uma privação dos mercados exteriores. A Organização Mundial do Comércio – a OMC – regula o comércio entre os vários países. Assim, é este órgão que vela pela instituição de regras nas transações comerciais externas e vigia as medidas protecionistas adotadas pelas diversas nações. Seu objetivo é favorecer um mercado mais liberal. O protecionismo, como visto acima, tem suas vantagens e desvantagens, mas talvez o seu maior prejuízo seja na esfera das políticas que incentivam a luta contra a fome e o desenvolvimento das nações pobres.
Hoje, o Brasil enfrenta uma séria ameaça do mercado chinês e de outros recém-chegados à economia mundial. A competição com estes países não é possível no campo dos preços, e sim na esfera do marketing, dos recursos tecnológicos, da concepção e do planejamento dos produtos, bem como no aproveitamento dos recursos naturais, área na qual o Brasil se destaca. Mas é justamente das diferenças produtivas entre os variados países, da competição entre suas várias possibilidades, que nasce o progresso. Se todo país radicalizasse em suas medidas protecionistas, cada nação seria uma autarquia isolada, não haveria contato entre os Estados. Sem a disputa e o intercâmbio necessários para o crescimento, cada economia tenderia a uma provável estagnação. O protecionismo, portanto, é importante para o desenvolvimento econômico de um país, mas em um grau moderado, pois sua versão radical poderia gerar um quadro drástico para a economia mundial.
Como enfrentar o protecionismo – Revista Exame/Economia
http://portalexame.abril.com.br/revista/exame/edicoes/0938/economia/como-enfrentar-protecionismo-425345.html
A onda de fechamento de mercados que toma conta do mundo é perigosa e merece ser confrontada pelo Brasil - e há um jeito certo de fazer esse combate. De tempos em tempos, quando a economia global adoece, como agora, uma infecção oportunista - o protecionismo - começa a se manifestar pelo mundo todo. Nesse quadro, é comum ver empresários reivindicando barreiras contra produtos importados e trabalhadores gritando contra o emprego de imigrantes estrangeiros. Governos, que dependem de votos tanto de trabalhadores quanto de empresários, tendem a ceder às reivindicações. O passo seguinte normalmente é a adoção de medidas que interrompem o fluxo normal do comércio, transformando-se em distorções econômicas com efeitos potencialmente destrutivos. 
"Na década de 30, o protecionismo levou ao nacionalismo e à Segunda Guerra", disse o vice-chanceler britânico, Mark Malloch Brown, a EXAME. De fato, enquanto eram castigados pela profunda recessão que sucedeu à queda da bolsa em 1929, os Estados Unidos aumentaram os impostos de importação de 20 000 produtos. O resultado foi uma reação em cadeia dos europeus, barrando a entrada de produtos americanos. Três anos depois, as exportações e importações americanas tinham caído mais de 60% e a crise virou a Grande Depressão. Passadas quase oito décadas, o mundo começa a flertar com os mesmos erros. Desde que a crise americana começou a afetar outras economias, o vírus protecionista voltou a atacar em escala planetária e tornou-se uma ameaça à globalização. Ele também é mais uma ameaça ao comércio mundial, já enfraquecido pela crise - a previsão é que, após 27 anos consecutivos de crescimento, as trocas entre os países declinem em 2009.
Infiltradas em pacotes de estímulo econômico ou infringindo descaradamente regras básicas do comércio internacional, investidas protecionistas se multiplicaram nos últimos meses. Nos Estados Unidos, maior parceiro comercial do Brasil, o governo Obama lançou um pacote de quase 800 bilhões de dólares, incluindo as controversas cláusulas buy american (algo como "compre produto americano"), com o intuito de gerar pelo menos 3 milhões de empregos. Na prática, foram inicialmente estabelecidos benefícios fiscais a empresas americanas que preferirem ferro, aço e outros itens produzidos no país. A iniciativa gerou protestos no mundo todo, e Obama decidiu retirar do pacote as restrições às empresas europeias e canadenses, que ameaçaram abrir processo contra os Estados Unidos na Organização Mundial do Comércio. No mesmo rumo, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, aprovou ajuda de 6,5 bilhões de euros para montadoras, recomendando que as beneficiadas investissem dentro da França para criar ou manter empregos no país. A crise ainda gerou uma nova variedade de vírus protecionista, o que a revista The Economist chama de "nacionalismo econômico". Trata-se da recusa, seja por incapacidade financeira, sejam por restrições deliberadas, de os bancos de países ricos emprestarem aos do mundo em desenvolvimento. Foi justamente esse corte repentino no crédito o principal canal de contágio da crise global no Brasil. O presidente do Fundo Monetário Internacional, Dominique Strauss-Kahn, se diz preocupado com o fato de, ao capitalizar bancos em dificuldades, os governos do Primeiro Mundo instruírem os banqueiros a manter o dinheiro em casa.
Para o Brasil, os efeitos comerciais mais diretos estão sendo provocados pelas medidas impostas pela Argentina, segunda maior importadora de produtos brasileiros. Lá, o protecionismo ressurgiu inicialmente sob o disfarce da burocracia: o governo da presidente Cristina Kirchner promoveu aumento de alíquotas de importação e ampliou o número de produtos que precisam de licença para entrar no país. O documento está dentro das regras da OMC, mas vem sendo emitido com prazo superior ao máximo de 60 dias fixado pelo órgão. O setor calçadista brasileiro tem sido um dos mais afetados. "Muitos clientes cancelaram pedidos por causa dos atrasos, pois os sapatos seguem as estações do ano e têm tempo certo para ser vendidos", diz Paulo Tigre, presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul. Para tentar resolver o impasse, argentinos e brasileiros travam intensas negociações. Depois de um primeiro encontro em Brasília, em fevereiro, mais duas reuniões de alto nível estão marcadas para São Paulo e Buenos Aires. De sua parte, os argentinos dizem não poder suportar a competitividade brasileira. Irritado com a resistência argentina em manter as barreiras aos produtos brasileiros, o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral, ameaça acionar a OMC. "Em 2008, as barreiras argentinas causaram prejuízo de 1,5 bilhão de dólares aos exportadores brasileiros", diz Barral.
Num ambiente em que governos de vários países, incluindo os mais desenvolvidos, agem de maneira protecionista, o que é melhor fazer? Aderir à onda ou lutar contra ela? Há, no leque de reações possíveis, formas mais ou menos inteligentes de lidar com o problema? Com a experiência de quem foi embaixador brasileiro em Londres e em Washington, o ex-diplomata Rubens Barbosa avalia que há, sim, alternativas boas e más entre as opções. "O protecionismo é ruim para todo mundo no longo prazo e o Brasil precisa afirmar sua posição contrária a ele", diz. "Mas também é necessário saber se defender." Nesta fase, em que o problema se dissemina com força no mundo, é recomendável que o governo monitore com frequência redobrada e com lente de aumento poderosa todo o movimento de importações e exportações. O Brasil conta com mais de uma centena de especialistas distribuídos pelos ministérios das Relações Exteriores e do Desenvolvimento, além da Apex, agência de promoção comercial brasileira. No âmbito do Itamaraty, além de umtime de 40 profissionais do departamento comercial, o governo mantém diplomatas espalhados pelo mundo, atentos ao surgimento de barreiras a produtos brasileiros. 
O país tem ainda uma série de entidades de classe na iniciativa privada que podem ajudar com informações. "Esse trabalho técnico é fundamental, pois é preciso saber o que ocorre com milhares de produtos vendidos em inúmeros países", diz Barral. "Além disso, muitas vezes o protecionismo é disfarçado, o que torna o trabalho de acompanhamento ainda mais difícil - e importante." Caso sejam identificadas práticas de concorrência desleal, a saída é reagir, mas sempre obedecendo às normas internacionais. O melhor caminho é usar a favor as regras e os foros de solução de conflitos de organismos como a própria OMC, como o Brasil já fez no passado, obtendo vitória contra os europeus no mercado de açúcar. Também não vale deflagrar uma guerra comercial por um problema localizado num único setor, já que isso só faz crescer o problema. 
"Não adianta partir para o simples olho por olho, dente por dente, pois a criação de barreiras às importações pode prejudicar ainda mais as empresas locais", diz Mário Marconini, presidente do Conselho de Relações Internacionais da Federação do Comércio do Estado de São Paulo. Essa visão, de que as relações internacionais são complexas e devem ser tratadas com cautela, foi o que moveu muitos empresários brasileiros em janeiro a reclamar quando o governo impôs licenças prévias de importação para produtos de 17 setores que representam mais de 60% das compras externas do país. 
Diante da medida rudimentar, os protestos foram imediatos, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva logo a revogou, praticamente se desculpando pela barbeiragem de sua equipe. Os empresários "insurgentes", que fizeram a pressão nesse episódio, são os que aprenderam que a globalização é uma via de duas mãos. No curto prazo, a restrição às importações pode trazer algum benefício, mas no médio e longo prazo as próprias empresas locais sofrem prejuízos, pois não conseguem obter por preço razoável insumos sem os quais perdem competitividade. Além disso, o comportamento atabalhoado deve ser evitado porque suja a imagem do país. Uma regra de ouro, portanto, é nunca fechar o mercado levantando barreiras acintosas com alíquotas ou cotas restritivas - a menos que sejam identificadas práticas claras de concorrência desleal, como o dumping, por parte de empresas de outros países. "Em vez de fechar as fronteiras, é melhor o governo tentar ajudar os setores produtivos a ser mais competitivos e estimular o consumo doméstico", afirma Ricardo Mendes, da Prospectiva, consultoria especializada em relações internacionais. É o que vem sendo feito, com pacotes de centenas de bilhões de dólares, na China e em países europeus, além dos Estados Unidos. No Brasil, parte disso está se concretizando via aportes do BNDES e cortes de impostos que tornam os produtos caros para os consumidores brasileiros ou reduzem sua competitividade no mercado externo. 
Bons projetos de infraestrutura são preciosos para facilitar o escoamento dos produtos - que poderão chegar a preços melhores nos mercados lá fora. Há mais a fazer nessa linha. "O Brasil pode usar a desoneração tributária e a melhoria de crédito aos exportadores para dar competitividade aos setores prejudicados", diz André Nassar, presidente do Icone, um centro de estudos do comércio internacional mantido por associações do agronegócio.
Não é de hoje que medidas de proteção seduzem cidadãos e políticos. Mas já há consenso, na literatura econômica, de que o estímulo provocado por medidas dessa natureza se limita ao curto prazo. No longo prazo, países mais fechados tendem a crescer menos e a ver sua indústria ficar para trás. Alguns economistas consideram positiva a proteção à chamada "indústria nascente" - quando os países elegem algum novo setor para apoiar, e mesmo assim por tempo limitado. "Na história recente, os exemplos de proteção adotados por Japão, Coreia do Sul e Suécia demonstram que esse é o caminho para desenvolver negócios inovadores em seu estágio inicial", diz o economista sul-coreano Ha-Joon Chang, da Universidade de Cambridge. Mas, embora um alto nível de competição possa ser fatal para negócios jovens, a ausência de competição - por meio do protecionismo continuado - também é letal para a inovação e a produtividade. Parte do agronegócio europeu é exemplo disso. O custo da carne produzida no Velho Continente é significativamente maior que o do Brasil. No entanto, a Europa impõe limites de volume às importações, impedindo a expansão das compras de países como o Brasil. Pior: a União Europeia só autoriza a compra de carne brasileira industrializada, alegando riscos sanitários para impedir a entrada do produto in natura. Muitos consideram que isso é, na verdade, um artifício para favorecer produtores locais. "Sob o disfarce de precauções sanitárias ou de querer proteger o meio ambiente e os direitos trabalhistas, muitas dessas barreiras visam neutralizar a competição que eles exercem sobre os mercados desenvolvidos", diz o economista Jagdish Bhagwati, da Universidade Columbia, uma autoridade mundial em comércio. Segundo ele, as barreiras não tarifárias são a forma mais perversa de protecionismo praticado por países ricos.
A saída, diz, é centrar esforços em novas rodadas de liberalização comercial - que hoje parecem cada vez mais distantes. Diante das dificuldades para concluir a Rodada de Doha, da OMC, a principal negociação global em curso, uma nova tendência são os acordos setoriais. "O futuro do comércio internacional passa necessariamente por esse tipo de acordo", diz o ex-ministro do Desenvolvimento e ex-embaixador Sérgio Amaral. "Por serem menos ambiciosos, eles são muito mais viáveis." Tais acordos consistem na reunião de setores produtivos afins de um ou mais países para negociar a liberalização do comércio, com redução gradual de tarifas. No Brasil, setores competitivos, como o de minérios, vidros planos e pedras como granitos, já demonstraram estar abertos a esse tipo de negociação com outros países. Para Otto Nogami, professor de mercado econômico global do Ibmec São Paulo, esta seria também a hora de o Brasil retomar uma agenda que ficou para trás: a dos acordos bilaterais de país para país. "Eles funcionam como uma via de mão dupla, com concessões em troca de concessões, o que pode ser útil contra o protecionismo e facilitar o comércio", diz.
É incontestável que a globalização amplifica a concorrência e as crises econômicas, como a atual. O trabalhador de uma fábrica brasileira pode perder o emprego se consumidores na Europa ou nos Estados Unidos deixarem de comprar o produto que ele fabrica. Ocorre que os benefícios proporcionados pela globalização são igualmente inegáveis. O aprofundamento da integração comercial e financeira na década de 90 promoveu uma aceleração no crescimento de países em desenvolvimento acima da média global. Como resultado disso, diminuiu a extrema pobreza e a classe média no mundo aumentou quase 70% em 15 anos, o maior avanço registrado desde a revolução industrial. 
O país que melhor aproveitou a intensificação do comércio internacional, a China, conseguiu reduzir de 28% para 9% o número de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza. É esse tipo de progresso que pode ser perdido caso os atuais governantes insistam em práticas protecionistas e decidam retroceder na globalização. No fundo, o protecionismo está para as relações internacionais como o egoísmo para as relações humanas. O egoísta quer ganhar sempre e só respeita as regras quando está ganhando. O problema é que nem sempre é possível que todos ganhem. E também não é possível haver jogo se os jogadores quiserem mudar as regras quando perdem.
H - O Brasil e as negociações multilaterais
http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI1104242-EI7095,00-O+Brasil+e+as+negociacoes+multilaterais.html
O colapso recente das negociações da Rodada Doha, da Organização Mundial do Comércio (OMC), põe em xeque o papel dosórgãos multilaterais pós-Bretton Woods diante da (des)ordem mundial. No caso da OMC, criada em 1995, como sucessora do GATT (sigla em inglês para o Acordo Geral de Tarifas e Comércio), isso fica ainda mais evidente. Ao contrário dos seus congêneres para outros temas, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), a OMC foi criada no auge da globalização. Ou seja, no caso, sequer se tem a desculpa dela ter sido criada anteriormente às profundas mudanças na economia no final do séc. XX, como no caso dos demais. O fato é que a estratégia de internacionalização das empresas, a formação de blocos econômicos e os acordos bi-laterais das últimas duas décadas fomentaram a intensificação do comércio exterior. O volume global de exportações quadruplicou nos últimos dez anos, passando de US$ 2 trilhões em 1995, para mais de US$ 8 trilhões em 2005. Ao mesmo tempo em que o comércio exterior mundial crescia, ampliavam-se as contradições, agravadas pela incapacidade de mediação e regulação por parte da OMC. Há, em contrapartida, a proliferação dos acordos bilaterais, diretamente entre países. Esses acordos, mais ligados a interesses comerciais específicos e imediatos, não substituem as questões de ordem multilateral, geralmente as mais complexas e de desdobramentos a médio e longo prazos. Há pelo menos duas contradições básicas no sistema multilateral de comércio. A primeira é que, apesar do discurso globalizante e liberal dos países ricos, prevalece um quadro de protecionismo, ou prote-cinismo, se criarmos um neologismo. Nesse cenário, o pregado comércio livre só vale para os outros, os demais países sempre cobrados por maior abertura dos seus mercados. Os países do G-7 continuam subsidiando direta e indiretamente seus produtos e impondo barreiras tarifárias e não tarifárias - estas, não raras vezes, travestidas de "medidas fitossanitárias" - entre outras praticadas. A OCDE estima que os países do G-7 concedam subsídios aos seus produtores de cerca de US$ 350 bilhões ao ano! A segunda contradição está no ingresso da China no mercado. Os chineses adotam práticas que seriam claramente classificadas de desleais e predatórias ao meio ambiente, aos diretos humanos, à propriedade intelectual e de patentes, entre outros.
Para agravar ainda mais a distorção, os chineses praticam o que poderíamos chamar de um "dumping" cambial, uma taxa de câmbio artificialmente hiper-desvalorizada. O que provoca distorções graves no comércio e na localização de investimentos. Ou seja, a emergência da China tem muito pouco a ver com as práticas de uma economia de mercado. Apesar disso, a mais ampla e democrática discussão dos temas de ordem multilateral das relações econômicas entre os países continua sendo mesmo o fórum da OMC. Doa a quem doer, só haverá avanços de fato quanto houver entendimento mínimo entre os atores do processo e o aprimoramento e fortalecimento do órgão supranacional. Isto necessariamente abrange o comprometimento das principais lideranças globais, incluídos aí, além do G-7, os novos "emergentes", com destaque para o BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China). Para o Brasil, especialmente, o imbróglio das negociações não é favorável, uma vez que o acesso aos mercados dos países ricos permanece dificultado. Vale destacar, no entanto, que a situação atual é melhor do que um desdobramento de eventual avanço das negociações que implicasse perda de mercados ou concessões exageradas nas áreas de indústria e serviços, por exemplo. Diante do complexo quadro das negociações multilaterais, a pior alternativa brasileira seria insistir em equívocos que só dependem de nós mesmos, como na valorização excessiva da taxa de câmbio e na ausência de estratégias de desenvolvimento. Enfrentar a concorrência predatória dos chineses e o protecionismo subsidiado dos países ricos com o câmbio valorizado não é certamente a melhor alternativa. Da mesma forma, para além da competitividade mundial em que prevalece a intervenção, é fundamental definir e implementar uma clara estratégia de desenvolvimento - um Projeto Nacional.
Antonio Corrêa de Lacerda é professor de economia da PUC-SP e doutor pela Unicamp.
I - O Brasil na Organização Mundial do Comércio
Trata-se da analise de como o Brasil negocia na OMC. A análise se inicia ainda antes da formação do GATT, passando por este até à criação da OMC. A participação do Brasil na II Guerra Mundial ao lado dos Aliados garantiu-lhe uma participação, ainda que periférica na reconstrução econômica mundial do pós-guerra. O Brasil participou das negociações da fracassada Carta de Havana (OIC) em 1947 e é também membro fundador do GATT (1948). Mesmo com poucos anos de existência, já na década de 50, a percepção dos países subdesenvolvidos era de que o GATT favorecia as nações mais ricas. Percepção esta que foi comprovada pelo fato de que as negociações de maior significância e importância se davam quase exclusivamente entre os países desenvolvidos, e as concessões praticadas entre estes marginalizavam ainda mais os países subdesenvolvidos. Nesse contexto, o Brasil, assim como os demais países subdesenvolvidos, desempenhavam o papel de free-riders. Por tal, a participação brasileira na Rodada Kennedy (1964/1967) e na Rodada Tókio (1973/1979) foi limitada, tendo, contudo obtido duas grandes vitórias (i) a inclusão de uma Parte IV (Comércio e Desenvolvimento) nas negociações da Rodada Kennedy, e ainda (ii) a introdução de um regime de concessões sem reciprocidade.
A Rodada Uruguai teve seu inicio em 1986 e culminou com a criação da Organização Mundial de Comércio[1]. Entretanto, nessa rodada também foram discutidos outros temas, como a inclusão da agricultura nas discussões quanto a tarifas e subsídios. De forma a pressionar os países desenvolvidos, a alterarem o posicionamento de que tal tema não deveria ser incluído, os países subdesenvolvidos criam o Cairns Group[2], composto por 14 países entre eles o Brasil, afirma que não irão firmar nenhum acordo caso o tema da agricultura não seja incluído na pauta de discussões. Uma vez que o tema foi incluído, os países acordaram na criação da OMC, no entanto a mesma percepção de injustiça que era sentida quanto à participação das negociações pelos países menos desenvolvidos em via de regra perdurou na OMC, todavia, no caso do Brasil houve alterações.
Principalmente devido ao sucesso do Brasil nas demandas apresentadas no órgão de controvérsias da OMC, que serão abordadas mais adiante, bem como pela sua participação no G-20, o Brasil ganha uma maior credibilidade e relevância internacional. Utilizando a classificação sugerida por Robert Keohane[6] o Brasil passaria de um país system-affectiong, para um país system-influencing. Seguindo a prática do GATT, os grandes acordos eram definidos pelas grandes potencias, sem ao menos a presença dos demais países que depois se sujeitavam a aprovação das medidas devido a fortes pressões políticas, tal era também o caso do Brasil, mesmo com as vitórias no plano da solução de controvérsias. Esse cenário se altera com a criação do G-20[3] para a V Conferencia Ministerial da OMC em Cancun, grupo de países liderados pelo Brasil.
O G-20 surge da demanda dos países em desenvolvimento de uma participação mais ativa nas negociações da OMC, particularmente na questão da agricultura, principal tema a ser discutido na reunião em Cancun. O Grupo obteve sucesso ao impedir um resultado predeterminado naquela negociação, e definiu que o seu objetivo seria o de defender resultados nas negociações agrícolas que refletissem o nível de ambição do mandato de Doha e os interesses dos países em desenvolvimento, posição esta defendida por meio do documento circulado antes e durante Cancun. Depois da falta de resultados concretos em Cancun, o Grupo se dedicou a realizar consultas técnicas e políticas de forma a tentar consolidar a participação desse grupo nas negociações. Advindo da necessidade de fundamentar a sua posição comum, previamente adotada o grupo passa a promover várias reuniões com os chefes de Estado de cada país, e

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