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04 - O Namorado Bilionário Acidental - Kendra Little

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O Namorado Bilionário Acidental
Kendra Little
Traduzido por Joice Faustino 
“O Namorado Bilionário Acidental”
Escrito por Kendra Little
Copyright © 2019 Kendra Little
Todos os direitos reservados
Distribuído por Babelcube, Inc.
www.babelcube.com
Traduzido por Joice Faustino
“Babelcube Books” e “Babelcube” são marcas comerciais da Babelcube Inc.
Sumário
Página do Título
Página dos Direitos Autorais
O Namorado Bilionário | Acidental | Um Romance sobre a Familia Kavanagh
| Kendra Little | Traduzido por Joice Faustino
FIM
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Trecho de O DILEMA DO NAMORADO BILIONÁRIO | Direitos autorais
2015 Kendra Little | CAPÍTULO 1
Baixe O DILEMA DO NAMORADO BILIONÁRIO agora.
O Namorado Bilionário
Acidental
Um Romance sobre a Familia Kavanagh
Kendra Little
Traduzido por Joice Faustino 
“O NAMORADO BILIONÁRIO ACIDENTAL”
Escrito por Kendra Little
Copyright © 2019 Kendra Little
Todos os direitos reservados
Distribuído por Babelcube, Inc.
www.babelcube.com
Traduzido por Joice Faustino
“Babelcube Books” e “Babelcube” são marcas comerciais da Babelcube Inc.
CAPÍTULO 1
O cara delicioso e nu deitado ao meu lado me fez desejar lembrar-me da
noite passada.
Ele dormia sobre seu estômago e seu rosto estava virado para o outro
lado, contra o travesseiro. Eu só esperava que ele não tivesse um nariz de
tucano ou fosse coberto por espinhas...
Não, nada disso importava. Recusei-me a olhar para qualquer coisa ao
norte de sua clavícula. Eu prometi às minhas amigas — eu me prometi — que
afastaria minhas inibições e me divertiria nesse final de semana. Isso é o que
garotas solteiras faziam em Vegas. Aparentemente. Era minha primeira vez
na Cidade do Pecado e, até então, considerando as memórias faltantes e o
gostosão pelado, eu estava me saindo bem com a ideia de sem inibições, sem
consequências.
Um momento de pânico se encravou em meu peito e me arrastei para a
beira da cama. Nós não estávamos no meu quarto de hotel. O meu vinha com
2 outras mulheres, e não tinha espaço para alongamentos, nem para receber
visitas masculinas. Esse quarto era mais próximo a uma suíte. Ou seria uma
casa? Nós estávamos em um quarto maior que todo meu apartamento em
Roxburg. O cômodo era decorado em vermelho e preto com reis e rainhas de
copas inseridos em painéis de parede, atrás dos quais provavelmente se
encontravam guarda-roupas. Um sofá estava acomodado em uma plataforma
próxima à janela. Imaginei como seria a vista quando as cortinas estivessem
abertas. Puxei os lençóis e virol de seda para cobrir minha nudez. Não que o
desconhecido estivesse olhando. Considerando sua respiração uniforme, ele
dormia profundamente.
Respire fundo, Amy. Só porque eu estava em um quarto estranho com um
cara estranho não significava que eu tinha chegado ao meu limite. Só porque
esse tipo de coisa nunca aconteceu comigo, não significava que eu estava em
perigo. Mas, por precaução, talvez eu cairia fora antes que ele acordasse.
Contudo, seria uma pena não ver o rosto dele e talvez pegar seu número.
Katy e Jemma se irritariam se eu o fizesse, já que aquele não era o acordo.
Elas queriam que eu ficasse com alguém, me divertisse anonimamente e
depois fosse embora, sem compromisso. Eu não era muito boa com aquela
parte. Partir e dizer “não” sempre foram meus problemas em
relacionamentos. Na verdade, começar um relacionamento com caras legais
era meu verdadeiro problema, mas eu não lembrei minhas amigas desse fato.
Elas estavam tão animadas para me trazer para Vegas durante o final de
semana, e eu precisava de uma distração do trabalho.
Acho que o dono daqueles ombros deliciosos poderia se qualificar como
distração. A pele dele era bronzeada contra o lençol branco feito neve que
mal cobria sua bunda. Duas pequenas covinhas beijavam sua pele em ambos
lados da base de sua coluna. Tiras de músculo definiam o resto de suas
costas, mesmo relaxados, pareciam rígidos. Ele tinha ombros pelos quais
garotas derreteriam, ou nos quais elas se agarrariam. O desconhecido deveria
malhar, ou, talvez, no seu trabalho ele tivesse que carregar itens pesados.
Viciados em academia ou fisiculturistas não eram meu tipo, mas eu não
estava ali para encontrar meu tipo. Eu estava em Vegas para transar e me
divertir. Eu não tinha dúvidas que havia experienciado as duas coisas na noite
passada. Se ao menos eu conseguisse me lembrar.
A única coisa que eu lembrava era o motivo pelo qual eu normalmente
não bebia muito — drinks e Amy Grant não se misturavam. Lapsos de
memória não combinavam com uma promotora assistente que deseja subir
para o topo de sua carreira. Algumas festas durante meus anos de faculdade
me ensinaram isso. Depois que me formei, passei a beber um ou dois copos
de vinho. Essa era eu, sempre sensata.
A garota sensata estava caindo fora enquanto o gostosão continuava
dormindo. Eu levantei a coberta e balancei minhas pernas para fora da cama.
Os músculos trêmulos nas minhas coxas me informaram que definitivamente
eu havia transado na noite passada, e muito. Só esperava que nós tivéssemos
usado proteção. Talvez eu devesse checar na lixeira...
— Hmmm, — a voz abafada saiu do desconhecido. Sua mão apalpou o
espaço vazio na cama onde eu estava deitada segundos antes. Ele suspirou e
começou a se virar. — Não vá ainda, Amy.
Ofeguei. Merda! O cara piscando, sonolento, em minha direção era
estonteante. Cílios grossos e escuros emolduravam seus olhos azuis que
mesmo com as pálpebras um pouco baixas pareciam perfurar através de mim.
Suas bochechas eram definidas, mas não proeminentes, já seu maxilar era
forte e a barba por fazer matinal produzia uma aura um pouco rebelde. Os
lábios dele... Minha nossa. Os lábios dele eram perfeição, não eram delicados
e femininos demais, mas também não eram grosseiros. Eu queria contorná-
los com a ponta dos meus dedos, ou meus lábios. Seus lábios se estenderam
em um sorriso que era hesitante e doce, convidando-me a me juntar a ele na
cama de novo.
Mas não foi seu sorriso ou seu rosto bonito demais que me deu nós no
estômago. Foi ele. Eu o conhecia, mesmo que nunca nos encontramos antes.
Bem, não antes da noite passada. Ele era Zac Kavanagh, o quarto filho de
uma das família mais ricas de Roxburg, um playboy, e — se esses dois fatos
já não fossem ruins suficientes — ele era o irmão mais velho de Damon
Kavanagh, quem eu ajudei a colocar atrás das grades há dois anos.
Ele não devia se lembrar de me ver no tribunal, ou não estaria me
convidando a voltar para sua cama. Eu me lembrava do olhar brutalmente frio
com o qual sua mãe me cobriu no dia em que a condenação foi lida pelo
representante do júri. Se o olhar pudesse matar, meu time e eu estaríamos a
sete palmos. Admito que nenhum dos Kavanaghs prestou muita atenção no
nosso time, mas sem dúvidas eles haviam me visto.
Zac não mostrava qualquer sinal de reconhecimento. Eu havia mudado
desde então. Eu cortei meu cabelo mais curto e o pintei de loiro. E longe das
minhas roupas para o tribunal, terno e jaqueta, imagino que eu parecesse
diferente. Era possível que ele não tivesse me reconhecido.
Apenas outra razão para fugir antes que a luz do dia e sobriedade
possibilitassem que ele visse com quem havia passado a noite.
Zac se apoiou em seus cotovelos e me escaneou de cima a baixo. O
sorriso se alargou. Eu agarrei o travesseiro e o coloquei na minha frente,
escondendo todos os pontos importantes.
Ele ergueu seu olhar para o meu, deixando de sorrir, e se sentou. O lençol
se amontoou em seu colo, revelando um caminho da felicidade embaixo de
seu tanquinho. Quem poderia imaginar que o estonteante Zac Kavanagh tinha
um corpo de parar o trânsito?
— Acho que é tarde demais para ficar tímida. — Ele disse.
— Eu... Um... — Excelente, Amy. Muito impressionante. — Eu tenho que
ir. — Olhei ao redor, procurando pelas minhas roupas mas apenas encontrei
meus saltos altos, abandonados no chão como se eu os tivesse jogado ali. Eu
não joguei meus sapatos, especialmente sapatos caros. Normalmente eu os
colocava juntos, com cuidado,no guarda-roupa ou em um canto, talvez os
enfiasse embaixo da cama. Eu deveria estar verdadeiramente bêbada para
descartá-los daquela forma. Aqueles stilettos prata provavelmente eram os
responsáveis por me colocar naquela confusão para começo de conversa.
Definitivamente, eles eram um belo par de sapatos que me faziam parecer
mais alta e magra. Isso e o vestido preto justo. Onde estava meu vestido?
— Suas roupas estão na sala de estar, — Zac disse, acenando para a porta.
— Nós nos despimos lá. — Os olhos dele deslizaram para os saltos. — Só
mantivemos os poucos itens importantes que foram classificados como
necessários.
Classificados como necessários? Que diabos?
Eu não queria conversar com ele. Talvez ele soubesse meu nome, mas ele
não sabia quem eu era, e ficar para bater um papo só revelaria demais. Sem
contar que Zac Kavanagh era um playboy, com mais conquistas que estrelas
no céu. Todo mundo sabia disso. Ele estava nos jornais semana sim, semana
não, com uma garota diferente em seus braços, normalmente uma modelo ou
atriz, sempre de longas pernas e linda. Como diabos eu acabei caindo na
armadilha desse cara? Ele era o tipo de homem que eu evitava como mau
cheiro. Bonito demais para seu próprio bem, muito arrogante para ser sincero,
muito rico e bajulado para se importar com qualquer um além dele mesmo.
Eu era melhor que isso, mais inteligente. Eu não deveria ter acabado no
quarto dele.
Assim que eu voltasse para o meu quarto de hotel, eu teria uma conversa
séria com Katy e Jemma. Primeiramente, elas não deveriam me deixar beber
ao ponto que eu acabasse falando com alguém tipo o Zac, e em segundo
lugar, se eu o fizesse, elas não deveriam ter me deixado ir para o quarto dele
sozinha.
— Amy, volte para cama, — ele falou manhoso. Sim, manhoso. Ele tinha
uma voz suave e insistente perfeitamente aperfeiçoada. — Você não precisa
ir embora ainda.
— Minhas amigas estão esperando por mim.
— Elas falaram para ficarmos à vontade. — Ele franziu a testa. — Elas
falaram para dormirmos até mais tarde, relaxarmos e elas se encontrariam
com a gente depois. Você não lembra?
Eu abracei o travesseiro mais forte.
— Não exatamente...
Ele parecia estar... desapontado? Há! Sem dúvidas ele deveria se orgulhar
de ser capaz de oferecer um desempenho memorável na cama. Bufei, mas
tentei cobrir minha reação com uma tosse.
Zac afastou os lençóis e saiu da cama. Não olhe para baixo, Amy. Ok, eu
olhei. Eu sou humana. Bom. Muito, muito bom mesmo, ainda mais meio
ereto como estava. Eu forcei meu olhar de volta para seu rosto, mas não era
uma boa ideia. Ele estava sorrindo de canto dos lábios, como se ele soubesse
que eu estava admirando seu pacote.
— Me conte o que você lembra. — Ele pediu.
De forma alguma eu me enfiaria em um bate-papo com esse cara.
— Olha, isso foi um erro. Eu vou emb-
— Um erro? — Ele deu um passo para perto de mim e ergueu sua mão
como se fosse me segurar.
Eu me afastei e ele piscou rapidamente. Zac abaixou sua mão, encarando-
a, então cerrou seus punhos nas laterais de seu corpo.
— Sim. — Eu disse, me dirigindo para a porta. — Eu não te conheço. Eu
não costumo dormir com estranhos.
— Nós nós conhecemos bem antes de... — Ele sacudiu sua cabeça para a
cama. — Nós conversamos por horas.
Merda, eu contei onde e com o que eu trabalhava? Ele sabia que a
situação do irmão dele era parcialmente minha culpa? Okay, Damon
Kavanagh cometeu o crime e aquilo não era minha culpa, mas o motivo pelo
qual ele foi condenado à pena de cinco anos por agressão era. Eu sugeri a
ideia de reivindicar uma punição mais severa e transformá-lo em um
exemplo. Damon Kavanagh era famoso e quase matou um cara com suas
próprias mãos. Imaginei que justificava. Nós apresentamos seus antecedentes
para descartar as alegações de legítima defesa feitas por seus advogados e o
júri o condenou. Cinco anos não era muito tempo mas parece ter sido um
baque grande para a família naquela época. Todos eles saíram do tribunal em
choque.
Zac definitivamente não sabia quem eu era, se soubesse ele não teria nem
se aproximado de mim, e não gostaria que eu pulasse de novo na cama com
ele.
— Parece ótimo. — Falei, dando de ombros. — Mas eu não me lembro
de nada.
— Mas você não bebeu muito. Talvez alguns poucos drinks, e foi isso.
— Eu sou fraca para bebidas.
— Claramente. — Os cantos dos seus lábios se ergueram, como se
lembrasse de algo que eu fiz na noite passada que realçava tal afirmação. Eu
queria perguntar, mas não ousei. Aliás, eu não queria saber quais atos
humilhantes cometi. Já era ruim suficiente estar nua em frente a Zac
Kavanagh em carne e osso! Sem contar que ele estava nu também. Ele tinha
um corpo incrível. O meu era magro e pequeno em todos os lugares errados.
Já ele... Não tinha nada de pequeno sobre ele.
— Certo, eu vou embora agora. — Eu continuei me afastado na direção
que acreditei que fosse a da porta. Mas errei e trombei contra a parede.
Ele pressionou seus lábios um contra o outro, possivelmente tentando
esconder o sorriso em frente a minha conduta patética e desajeitada.
Bastardo. Segui meu caminho ao longo da parede até encontrar a porta.
Recuei até ela. Se eu a fechasse, poderia me virar e olhar para onde estava
indo.
— Espere. — Ele devia ter adivinhado o que eu pretendia fazer, já que
atravessou a soleira da porta a passos largos, direto para onde eu estava. Mais
uma vez ele ergueu sua mão, como se fosse me segurar, mas a abaixou antes
que nos tocássemos. — Agora que você está sóbria, você pode me conhecer
de novo. Eu vou pedir café da manhã.
— Não. Está tudo bem.
Uma pequena linha voltou a cortar a ponte do seu nariz.
— Você quer sair para comer café da manhã?
— Não! Eu só quero voltar para o meu quarto.
— Ah. — Aquela única, pesada exclamação caiu entre nós como uma
pedra. Acho que Zac não estava acostumado com mulheres dizendo “não”
para ele.
Foi minha vez de sorrir, de canto de boca, e a sensação era ótima.
— Licença, eu preciso me vestir. Sozinha.
Ele arrastou sua mão por seus cabelos, mas eles já estavam bagunçados
das horas de sono e por causa de tudo que fizéssemos antes disso. Minhas
coxas estremeceram e o interior da minhas partes íntimas pulsou. Parece que
meu corpo se lembrava dos bons tempos que dividimos, mas minha mente
não.
Ele vasculhou ao redor e encontrou o que estava procurando. Segui seu
olhar até meu vestido, meio escondido embaixo do sofá. Meu maravilhoso
vestido de seda, que eu guardava para ocasiões especiais estava fazendo
companhia para a poeira embaixo do sofá. Que diabos?
Eu o agarrei logo que Zac o ofereceu para mim. Infelizmente, isso fez
com que o travesseiro deslizasse para baixo, revelando meu seio direito. Seu
olhar instantaneamente voou para a área, claro. Cobri-me novamente, mas o
estrago já tinha sido feito. O olhar de Zac se aqueceu e seu pênis endureceu.
Esse cara não era sútil.
— Se importa? — Rosnei.
A maioria dos caras decentes pediria desculpa, talvez coraria por causa da
encarada inapropriada, mas Zac apenas sorriu.
— O que eu posso dizer? Você é a mulher mais sexy que eu já tive o
prazer de ver nua faz um bom tempo.
— Claro. Você usa essa cantada com todo mundo?
Aquela afirmação eliminou seu sorriso.
— Não.
— Aham, sei.
Ele me observou, com suas sobrancelhas ainda amarrotando sua testa.
— Acabei de notar algo. Você provavelmente nem lembra o meu nome.
Deve ser inquietante para você — Ele ofereceu sua mão. — Meu nome é Zac.
Eu encarei sua mão. Ele realmente acreditava que eu cairia naquela e
soltaria o travesseiro novamente?
Zac retraiu sua mão e limpou sua garganta.
— Zac Kavanagh.
— O nome deveria me impressionar? Talvez me convencer a voltar para a
sua cama?
— Vejo que você já desvendou quem eu sou. — Ele disse, rígido. — Pela
falta de surpresa.
— Eu sou de Roxburd. Todos conhecem os Kavanaghs lá. Todo mundo
no país inteiro sabe quem são os Kavanaghs. Vocês não são a família mais
sutil.
Ele inalou bruscamente. Suas narinas se dilataram.
— Amy, antes de você ir embora, nós temos que conversar.
— Eu tenho que me vestir. Onde é o banheiro?— Tem um por ali. — Ele apontou para uma porta fora da sala de estar.
— Tem uma suíte no quarto também, se você preferir. Use tudo que precisar.
Os funcionários do hotel mantém ambos bem abastecidos mesmo sabendo
que estou aqui sozinho.
— Talvez eles soubessem que você traria uma mulher.
Não pensei que ele escutaria as palavras que eu murmurei ao sair, mas ele
respondeu com um:
— Talvez.
Encontrei meu sutiã e calcinha e marchei para o banheiro com o máximo
de dignidade que pude, com Zac encarando minha bunda nua. Eu fechei a
porta e fiz uma careta para mim mesma no espelho. Meu cabelo estava
achatado em um lado, e minha máscara escorregou dos meus cílios para meu
rosto, de alguma forma ela tinha descido até minhas bochechas. Batom
manchava o lado esquerdo da minha boca. Bom trabalho, Amy, você acordou
ao lado de um cara gostoso parecendo uma palhaça. Bem sexy.
Afastei o constrangimento. Eu não me sentiria envergonhada em frente a
um cara que descartava namoradas mais frequentemente que seu lixo. Sexo
casual não era um problema. Mulheres faziam o tempo todo.
Só não essa mulher.
Eu me limpei da melhor forma que consegui e desejei ter trago minha
bolsa comigo para guardar alguns pequenos frascos de higiene. O aroma
deles era divino, e me ajudou a me sentir humana novamente.
Eu expirei. Era hora de enfrentar as consequências. Abri a porta,
esperando encontrar Zac ainda nu, parado no mesmo lugar, mas ele havia
vestido uma calça. A parte superior do seu corpo ainda estava exposta e meu
olhar a examinou. Até que ele virou e vi o que estava fazendo.
— Ei! Me dê isso. — Caminhei na direção de Zac e arranquei minha
bolsa de suas mãos. — O que diabos você pensa que está fazendo?
Os olhos dele se arregalaram.
— Desculpe, eu... Não é o que você está pensando?
— Não? Quer dizer que você não estava revirando minha bolsa sem
minha permissão?
— Hum... — Ele mordeu seu lábio. O gesto fazia com que ele parecesse
tão jovem, como um garoto levado que foi pego com as mãos no pote de
biscoitos.
— Eu deveria chamar a polícia para você.
A travessura desapareceu. E ele engoliu em seco.
— Amy, uau. Se acalme. Desse jeito nem parece você mesma.
— Como diabos você sabe como eu sou?
— Nós nos conhecemos muito bem-
— Você está falando sério? Você acha que me conhece depois de um par
de horas juntos?
— Foi mais que um par, mas sim, conheço.
Sua convicção absoluta me desconcertou. Ele realmente acreditava que
duas pessoas eram capazes de se conhecer bem em uma noite? Ele parecia
acreditar. Eu nem tinha certeza do que pensar sobre aquilo. Claro que não era
possível, mas quase parecia cruel furar a bolha dele.
— Eu entendo que você foi surpreendida por toda essa experiência. —
Ele disse antes que eu pudesse responder. — Eu entendo que você não se
lembra de mim ou sobre o que conversamos. Mas eu quero que você saiba
que eu me diverti muito na noite passada. O melhor período que já passei
com uma mulher... ou qualquer pessoa. E foi antes de virmos para meu hotel
e... ficar nus juntos.
Uau. Ok. Uau. Aquelas eram palavras poderosas, e elas fizeram meu
coração se agitar em meu peito. Se eu não conhecesse Zac como um playboy
charmoso, eu teria caído completamente em seu jogo. Ele era bom. Muito
bom. Ainda mais embrulhado naquele embalagem deliciosa.
Mas eu não era idiota nem ingênua. Eu tinha um cérebro, e meu radar
para papo furado estava sempre ligado no alto. Caí em cantadas como aquela
antes. Talvez não tão hábeis e elegantes, mas próximas. E eu acabei passando
vergonha ao descobrir a verdadeira face do cara. Eu sabia como fisgar aquele
tipo. Assim como minha mãe.
Bufei.
— Boa tentativa.
— Eu estou sendo sincero.
— Claro que está.
Seus olhos se estreitaram.
— Me dê uma chance para provar a você. Para te fazer lembrar.
Eu me dirigi ao quarto para pegar meus sapatos.
— Não, obrigada.
Zac me seguiu.
— Sabe, não estou acostumado a ser dispensado instantaneamente.
Normalmente me dão uma chance.
— Eu te dei uma chance.
— O que isso significa?
— Significa que a evidência prova que você não é um cara legal. — Eu
apanhei meus sapatos e me virei para ir embora, mas ele bloqueou a porta. Os
lábios dele estavam entreabertos e ele parecia... incerto. Sua expressão me
inquietava. Ele deveria parecer pretensioso e arrogante, ou talvez culpado.
— Eu não entendo. — Ele murmurou. — Que evidência? O que eu fiz?
— Você se aproveitou de uma garota que estava tão bêbada que não
conseguiria se lembrar de nada no dia seguinte.
Ele se balançou para trás em seus calcanhares, como se minhas palavras
tivessem acertado-o como um tapa.
— Eu não achei que você estivesse tão bêbada assim. Você não estava
falando embolado, nem subiu sobre mesas e dançou, ou arrancou seu vestido.
Você parecia normal.
— Eu joguei meu vestido no chão! Minha calcinha estava presa na
maçaneta! Isso não é um comportamento normal.
Ele me olhou como se aquilo fosse normal para ele. Como os encontros
normais de Zac Kavanagh acabavam?
— Eu sinto muito. De verdade. — Ele entrou no quarto e dessa vez me
tocou. Ele gentilmente me segurou pelos ombros, e abaixou sua cabeça para
encontrar meu olhar.
— Amy, eu sinto muito. Eu não sabia que estava me aproveitando de
você. Céus, se é isso que você pensa... — Ele inspirou, e expirou lentamente.
— Então eu só posso pedir desculpas, de novo e de novo. — Seus polegares
acariciaram meus braços nus. Ele engoliu e me estudou rapidamente, sem
cobiça. — Você está bem? Está machucada?
— Eu estou bem. Só... me solta.
Seus dedos saltaram para longe como se ele tivesse esquecido que estava
me segurando. Ele esfregou suas mãos por seu rosto, e quando ele as
removeu, o olhar de horror enojado me fez desejar retirar tudo que eu havia
dito.
Ao invés disso, eu escapuli por ele. Eu não parei para colocar meus
sapatos ou olhar para trás. Eu caminhei para fora e pressionei o botão do
elevador. Ele chegou imediatamente, graças a Deus, e o peguei para o térreo.
Minhas mãos tremiam ao eu cruzar o hall de entrada do hotel, e meu coração
martelava contra minhas costelas. Eu me sentia como uma covarde e estava
um pouco irritada comigo por tê-lo acusado de algo tão desprezível. Eu
deveria ter voltado e pedido desculpas, mas eu não podia encará-lo de novo.
Eu não poderia arriscar ouvi-lo dizer coisas agradáveis para mim. Eu gostava
de pensar que era forte quando o assunto era homens como Zac, mas eu não
era. Eu era fraca e idiota. Talvez tenha sido por isso que ataquei da única
forma que sabia: com palavras. Elas eram as melhores amigas de um
advogado.
— Licença, senhorita. — Chamou o porteiro de trás do balcão onde ele
estava segurando o telefone. — Sr. Kavanagh gostaria de lhe oferecer o carro
dele para te levar até seu hotel.
Eu espiei o telefone. Parece que Zac havia se recuperado o suficiente para
lembrar suas boas maneiras.
— Obrigada, mas eu não tenho um meio de devolver o carro.
— Ele vem com um motorista.
— Ah, certo. Claro que viria. — Eu balancei minha cabeça. — Eu não
preciso do carro. Você pode chamar um táxi para mim, por favor?
— Sempre tem um esperando do lado de fora. — Ele me deu um sorriso
compreensivo, como se ele pensasse que Zac havia me mandado embora.
Suspirei. Eu nem conseguia juntar um pouco de indignação.
Eu estava exausta. Minhas emoções estavam estiradas até o limite, e meu
coração ainda estava batendo a milhões de quilômetro por horas. Eu também
estava com sede, fome e queria tomar banho. Eu conseguia sentir o cheiro de
Zac em mim e era intoxicante, distrativo.
Subi no táxi, apertando minha bolsa e sapato. Eu não me importei com o
que o motorista pensaria ao dar o nome do meu hotel. Eu só queria me afastar
de Zac o máximo possível e deixar toda aquela experiência no passado. O
mais rápido que eu o esquecesse, melhor. Tudo estaria bem amanhã. Eu
estaria de volta no escritório, trabalhando em um caso grande, cercada por
pessoas que não tentavam me seduzir para conseguir tirar minhas calças. As
pessoas que me conheciam de verdade, não as que diziam que conheciam
para tentar dormir comigo.
Meu celulartocou e meu coração se aquietou. Eu dei meu número a Zac?
Eu não conseguia me lembrar. Eu não conseguia lembrar merda nenhuma, e
sentia que não lembrar voltaria para me assombrar.
CAPÍTULO 2
Não era Zac no telefone, e sim Katy. Informei que eu estaria de volta ao
hotel em breve, e eu precisava conversar com ela. Ela parecia levemente
satisfeita. Eu não tinha ideia do porquê.
— Vocês me deixaram ir embora com um Kavanagh! — Eu acusei assim
que abri a porta para nosso quarto de hotel compartilhado.
Os sorrisos de Katy e Jemma deslizaram de seus rostos ao mesmo tempo.
— E daí? — Jemma deu de ombros. — Era o Zac Kavanagh. O legal. Os
outros estão casados agora. Se não me engano.
— Com a exceção daquele que você mandou para a cadeia, — Katy
acrescentou.
Jemma fez um careta para ela.
— Você não está ajudando.
— Mas, bem, ela mandou.
— Ela sabe disso, todas nós sabemos.
— Eu não acho que Zac sabia. — Eu disse. — Ele não teria se interessado
tanto por mim se soubesse que eu trabalhei contra o irmão dele.
— Verdade. — Katy acenou, seu rosto suave e redondo se contorceu
enquanto ela ponderava. — Você mudou. Tipo, está muito, muito diferente.
Positivamente, quero dizer, não foi uma mudança ruim. De forma alguma.
Você está bem fofa agora.
— Foi pura sorte que ele não me reconheceu. — Informei.
— Não sei. — Os olhos hazel de Jemma brilharam com malícia. — Teria
sido divertido se ele tivesse decidido fazer você pagar. Talvez com algumas
palmadas...
— Jemma! — Eu balancei minha cabeça e postei meus sapatos lado a
lado no guarda-roupa perto das minhas sandálias confortáveis.
— Como foi? — Jemma colocou uma mecha do seu longo cabelo
marrom atrás de sua orelha e se sentou na cama.
Katy se sentou ao lado dela, seu rosto se iluminando em expectativa. Elas
pareciam duas crianças esperando, euforicamente, pela história para dormir
que seria lida para elas.
— Ele é tão bom na cama quanto dizem?
Pisquei olhando-as. Elas eram minhas amigas do trabalho, não velhas
amigas do tempo de faculdade ou de antes. Eu não mantinha contato com
ninguém do meu passado. Isso significava que elas não sabiam o que
acontecia comigo quando eu ficava bêbada. Não era justo ficar irritada com
elas.
— Eu não lembro.
Elas franziram o cenho em minha direção.
— Então... Não foi tão bom?
Jemma parecia desapontada. E eu dei de ombros.
— Pode ter sido. Eu acho que transamos mais de uma vez. — Talvez três
ou quatro vezes se eu poderia considerar minhas coxas como indício. — Mas
quando eu bebo, eu esqueço.
O queixo de Katy caiu. Jemma mordeu seus lábios.
— Ah, querida. Sinto muito. Nós não sabíamos. — Ela olhou para a Katy,
que balançou sua cabeça.
— Tudo bem, eu nunca comentei antes. Eu deveria tê-lo feito.
Katy se levantou e me abraçou. Ela era a mãe do nosso trio, a que sempre
garantia que nós estávamos bem, e que nossas roupas íntimas e sapatos eram
apropriados para a ocasião. Se ela soubesse sobre meu problema, ela nunca
teria me deixado fora do seu campo de visão.
— Isso deve ter te assustado quando acordou de manhã. — Ela disse.
— Um pouco. — Eu acolhi seu abraço. Eu precisava. Acordar ao lado de
um cara estranho me assustou, percebi, mas pelo menos eu tinha parado de
tremer. Também notei que não tinha experienciado um dos meus ataques de
pânico.
— Então o que aconteceu de manhã? — Jemma parecia glamourosa como
sempre, mesmo que ainda eram nove horas da manhã. O cabelo dela estava
despenteado de uma forma estilosa, como se ela tivesse acabado de sair da
praia, exceto que não tinha nenhuma praia à vista a quilômetros. As unhas
dela tinham formas perfeitas, sua maquiagem já estava aplicada e ela até
estava calçada.
Katy voltou a se sentar na cama, sobre seus pés descalços.
— Ele te falou o que aconteceu ontem?
— Não exatamente. Por quê? O que aconteceu? O que eu fiz?
— Nada. — Katy respondeu.
— Nada que a gente saiba. — Jemma piscou.
Katy rolou seus olhos.
— Nós estávamos no bar juntas no meio da tarde e ele veio até a gente.
— Ele veio até ela, Katy. Não precisamos enrolar.
— Nós sabíamos quem ele era. — Katy continuou. — E eu só presumi
que ele sabia quem você era no começo, mas ele não falou com você como se
te reconhecesse.
— Sério, por horas ele só tinha olhos para você. — Jemma cruzou suas
pernas e se inclinou para trás, se apoiando em suas mãos. — Ele não parava
de te encarar e era tão atencioso. Ele se agarrava a tudo que você dizia, como
um gatinho com leite.
— Você não deve dar leite a gatos, — Katy falou para ela, — faz mal
para eles. Só pode dar água.
Jemma girou seus olhos.
— O ponto é: vocês conversaram por horas. Nem parecia que estávamos
lá.
— Eu bebi muito?
— Talvez quatro drinks e isso durante várias horas. Você não parecia
bêbada. Não estava falando enrolado nem nada.
Suspirei. Exatamente como Zac havia dito. Eu não deveria ter chamado
ele de bastardo por ter se aproveitado de uma bêbada. Mas como pedir
desculpas agora? Eu não tinha o telefone dele.
— Depois de algumas horas, você disse que iria embora com ele. —
Jemma disse.
— E vocês me deixaram? E se ele fosse um assassino da machadinha?
Katy sugou seu lábio inferior e me olhou com grandes olhos de cachorro
abandonado.
— Eu sinto muito, Amy. De verdade.
Jemma prendeu seu olhar ao meu.
— Era Zac Kavanagh, pelo amor de Deus. Ele não é um desconhecido,
ele é... uma celebridade. Se ele arrancasse um fio de cabelo na sua cabeça, ele
estaria em sérios apuros, e ele sabe disso. Os Kavanaghs não são idiotas.
— Com exceção do mais novo. — Katy disse. — Quão idiota ele foi para
bater naquele cara?
— Talvez tenha sido legítima defesa. — Eu murmurei, distraída.
As duas me olharam como se eu tivesse ficado louca. Elas não tinham
trabalhado no mesmo caso que eu, mas o acompanharam junto com todos no
escritório da promotoria, e o resto da cidade.
— Se acreditássemos na defesa. — Eu acrescentei rapidamente. — Na
qual eu não acredito, a propósito. — Eu limpei minha garganta. — O Zac não
me machucou. Ele foi... agradável. Mais ou menos.
Jemma levantou suas mãos.
— O que isso significa? O que ele fez que não foi agradável?
— Eu o peguei mexendo na minha bolsa.
— Para que?
Eu dei de ombros.
— Atrás de dinheiro, imagino.
Katy e Jemma gargalharam.
— Ele não ia roubar de você, idiota. — Jemma disse. — Os cofres de
banco não são grandes o suficiente para guardar a riqueza dele.
Eu me sentia como uma idiota. Ela tinha razão. Ele não ia roubar de mim.
Mas então por que ele estava mexendo na minha bolsa?
— Ele trabalha na empresa da família?
— Ele tem seu próprio negócio no ramo do surf. Eles fazem roupas,
pranchas, e esse tipo de coisa. Você já ouviu falar da Wave Rider?
Acenei com a cabeça.
— É a marca da empresa dele.
— Como você sabe disso tudo? — Katy perguntou.
— Meu irmão é um advogado corporativo. Ele trabalhou com o Zac no
passado. Com aquisições e investimentos, não só no mundo surf, mas
também em outras indústrias. Ele é cheio da grana.
— E ele acabou de fazer trinta. — Katy esticou suas pernas e deitou na
cama com um suspiro. — Você é uma sortuda, Amy.
Eu andei para a porta do banheiro, com as mãos erguidas em rendição.
— Primeiro de tudo, vocês duas me assustam com o tanto de coisas que
sabem sobre ele. Segundo, eu não sou sortuda porque eu não vou mais me
envolver com ele.
— O quê? — Katy se sentou novamente. — Por que não?
— Resumindo a história, ele não é meu tipo. Eu não vou atrás de caras
mulherengos.
— Mulherengo?
— Você não achou isso ontem a noite. — Jemma murmurou.
— Talvez eu não tenha ouvido as cantadas decoradas dele, — eu disse. —
Ou talvez eu estivesse bêbada demais para notar. Mas, acredite, elas são
terríveis. Não sei como uma garota sensata cairia nelas. — Ok, talvez eu
soubesse. Talvez uma garota com a quantidade certa de ingenuidade e
desespero gostaria de ouvir que ele nunca se divertiu tanto com outra pessoa,
em toda a sua vida. Mas não eu.
Senti o olhar delas queimando nas minhas costas quando entrei no
banheiro. Depois de um longo banho, eu me acalmei suficiente para encará-
las de novo. Eu até me acalmeio suficiente para pensar claramente sobre a
situação na qual me enfiei. Tudo podia ter acontecido. Zac poderia mesmo ter
sido um assassino da machadinha, e eu poderia ter me enfiado em sérios
problemas. A única coisa com a qual eu tinha que me preocupar agora era se
nós usamos proteção. O meio das minhas pernas não estavam queimando ou
ardendo. E, pensando na outra complicação causada por sexo sem proteção,
uma ou duas semanas seriam suficientes para cortar aquela possibilidade.
Minha noite louca com Zac me confirmou uma coisa: eu nunca iria beber
novamente. E que surfar era muito bom para desenvolver os ombros e os
músculos das costas!
***
Meu grampeador estava sumido. O espaço reservado para ele na minha
escrivaninha se abria como uma boca enorme, me convidando a preenchê-lo.
Eu só tinha saído algumas horas mais cedo na sexta para pegar o vôo para
Vegas! Francamente, você não pode confiar em ninguém no escritório da
promotoria de Roxburg.
Eu me empurrei para longe da minha cadeira e coloquei minha cabeça
sobre a partição para falar como minha assistente pessoal. Beverley não era
só minha assistente. Ela trabalhava para três pessoas em nosso time, mas eu
sentia como se ela fosse minha. Sempre que precisava de algum explicação,
ou quando ela tinha alguma reclamação sobre os outros advogados, ela me
procurava. Ela era uma mulher na meia-idade, tinha mais ou menos a idade
da minha mãe, e era doce como torta de maçã.
— Beverley, você viu meu grampeador?
Ela piscou com seus olhos úmidos em minha direção, e fungou.
— Eu não estava te acusando! — Protestei. — Eu só estava questionando
onde ele foi parar.
Seu rosto desmoronou e ela pressionou um lenço contra seu nariz.
— Eu vou sentir sua falta, Amy.
— Huh?
— Eu fui demitida.
— O quê? — Eu contornei a repartição e me empoleirei na beira de sua
escrivaninha. — De jeito nenhum! Eles não podem te demitir. Você é incrível
no seu trabalho. — Ok, ela não era incrível. Ela era... adequada. Se ela se
esforçasse mais, ela iria de adequada para boa, mas ela não dava tudo de si e
raramente colocava o esforço necessário para ser considerada boa. Ainda
assim, ela não merecia ser demitida.
— Jack me ligou nesta manhã e me demitiu.
— Bastardo, — eu murmurei, olhando para a porta fechada do escritório
de Jack. Nosso chefe normalmente não era um bastardo. Ele era um ótimo
advogado, mas péssimo em confrontos. Então por que ele decidiu demitir
Beverley? — Quer que eu fale com ele?
— Você faria isso, Amy? Ah, muito obrigada. Eu preciso desse emprego.
Com minha mãe doente e tudo mais, eu não tenho tempo para procurar outro.
Eu dei um tapinha no ombro dela.
— Espere aqui. Eu vou resolver isso. — Marchei para o escritório do Jack
e bati na porta. Eu entrei sem ser convidada, mas Jack já estava acostumado
com isso.
Ele ergueu seus olhos da tela de seu notebook.
— Nem comece, Amy. — Ele se afundou em sua cadeira, se acomodando
ainda mais. Jack tinha uma postura péssima, e usar a tela do notebook não
ajudava. Ele recusava pegar uma maior como as do resto de nós. Ele também
recusava arrumar sua mesa. O que me deixava louca.
Eu peguei os textos jurídicos e os devolvi para a estante, então comecei a
alinhar os papéis em sua bandeja.
— Então, por que você fez isso?
— Eu não tenho que te responder
— Não, mas seria gentil se você o fizesse já que você claramente não
falou para Beverly porque você a demitiu.
Sua mão grande se fechou sobre a minha, prendendo-a contra a mesa,
com um lápis ainda em sua palma.
— Pare de arrumar meu escritório. Você sabe que eu odeio isso.
— Só estou tentando te manter organizado.
— Eu sou organizado.
Eu lutei contra a vontade de dizer que não parecia. Nós podíamos ter um
relacionamento tranquilo, mas ele ainda era meu chefe e hoje parecia mais
irritado que o normal.
Ele me soltou e eu sentei.
— E então?
— Ela tem tomado liberdades demais atualmente. Folgas aqui e ali. Às
vezes ela não volta depois do almoço.
— A mãe dela está doente. Você sabe disso. E ela sempre pede permissão
primeiro.
— Não para mim.
— Você nos deu permissão para dar folgas se ela precisasse quando você
não estivesse aqui.
Ele grunhiu e se concentrou na sua tela. Eu esperei, mas ele não disse
nada.
— Mais algum motivo? — Perguntei.
— Volte para seu trabalho, Amy. Eu não quero discutir isso com você.
Eu cruzei meus braços e esperei até que ele olhasse para cima.
Ele encostou suas costas na cadeira, balançando-a perigosamente. Jack
era um homem grande e, às vezes, eu me perguntava como os móveis de seu
escritório sobreviviam carregando seu peso diariamente.
— Beverley tem que ir embora, — foi tudo que ele disse. — Essa é a
única explicação que eu vou dar. Agora vá. Nós temos trabalho a fazer. Você
já leu os relatórios policiais?
— Não, meu grampeador sumiu.
Ele me encarou por alguns segundos, então abriu a gaveta da sua
escrivaninha e me entregou seu grampeador.
— Tem mais alguma coisa te impedindo de fazer seu trabalho?
— Só a falta de assistente pessoal.
— Isso já está resolvido. O substituto está esperando para começar.
Assim que a Beverley deixar o prédio, ele estará pronto para entrar em ação.
— Ele? Nós teremos um homem como assistente pessoal?
— Não seja machista.
Eu poderia jurar que as suaves dobras ao redor de seus olhos se ergueram
em um sorriso, mas era difícil dizer quando Jack estava rindo. Quem disse
que pessoas gordinhas eram alegres não conheceu Jack. Ele não era nenhum
Papai Noel.
— Desculpe, você tem razão. Não tem nenhum problema com um
assistente pessoal do sexo masculino. Mas como você conseguiu alguém
tão... Uau, Jack. Fala sério. Ele é um amigo seu? Ou um parente?
— Não. — Ele voltou a estudar a tela de seu notebook, mexendo seu
mouse.
— Então como você conseguiu alguém tão rápido?
— A nova agência de emprego é muito eficiente.
Eu bufei.
Ele ergueu sua sobrancelha em minha direção sobre a tela de seu
notebook.
— Volte para sua escrivaninha, Amy. Fale para Beverley... — Ele
suspirou. — Fale para ela que não podia ser evitado.
Seus dedos de salsicha clicaram no mouse, ele parecia concentrado. Eu
não conseguiria uma explicação melhor. Pobre Beverley. Eu saí para
informar-lhe de que eu não tinha sido bem-sucedida, e descobri que ela já não
estava lá e havia um cara em seu lugar. Ele provavelmente era alguns anos
mais novo que eu, no começo dos seus vinte, com cabelo marrom curto e um
sorriso leve. Ele se ergueu ao me ver, e ofereceu sua mão. Ele era alto, acima
dos um e oitenta, mas esguio, não tinha os ombros largos como- bem, não
tinha ombros largos. Ele vestia calças pretas, uma blusa formal e gravata que
pareciam ter um bom corte e serem caras. Seu paletó sob medida estava
pendurado nas costas de sua cadeira.
— Sou o Timothy, — ele disse, com a mão ainda esticada.
Eu devo ter aparentado estar tão atordoada quanto me sentia, porque seu
sorriso escorregou de seu rosto. Eu apertei sua mão e o sorriso voltou, mais
brilhante que nunca. Sua mão ficou contra a minha por mais tempo do que
era necessário para cumprimentos, e seus olhos prenderam-se aos meus
durante todo o tempo. Eles eram azuis, mas não azuis como o céu claro, eram
mais próximos de um azul-ardósia.
— Eu sou Amy. A Beverley já foi embora?
Ele olhou ao redor, como se esperasse que sua antecessora estivesse
espreitando atrás de uma escrivaninha.
— Parece que sim.
— Você a viu?
— Eu nunca vi o rosto dela.
— Ah, certo. Então a agência te ligou sobre esse emprego hoje de manhã?
— Cedo e no horário certo. — Ele acenou com a cabeça. — Eu estava
fazendo minha corrida matinal. Foi sorte que eu estava com meu celular.
— Eles são eficientes.
— Muito.
— Alguém já te mostrou o escritório?
— Não, você se incomodaria?
— De forma alguma. Só vai levar alguns minutos. Eu preciso voltar ao
trabalho, de qualquer forma. Estamos começando um grande caso nesta
manhã e teremos uma reunião em... — Eu chequei meu relógio. — Dez
minutos. Vamos.
Eu o apresentei ao resto da equipe, mostrei onde ficava a cozinha, o
arquivo, a copiadora e todos os outros itens essenciais, antes do horárioda
reunião.
Jack estava esperando por nós. Ele se apresentou a Timothy, mas não
deixou que seus olhares se encontrassem ao fazê-lo. Foi estranho. Jack era
bom fazendo contato visual. Tendo trabalhado para o escritório da promotoria
a maior parte da sua vida, ele entendia quanto poder estava contido no
contato visual. Ele poderia influenciar o júri, intimidar o réu, ou encorajar
uma testemunha nervosa.
Algo estava acontecendo ali, e eu queria saber o quê. Não só por causa de
Beverley, mas por minha causa também. Eu não conseguiria trabalhar em um
lugar cheio de segredos. Assim como um cabo de eletricidade exposto, às
vezes eles levavam as pessoas a cair e se machucar. Além do mais, eles só
traziam desordem.
— Espero não ter que lembrá-los da loucura da mídia que vai envolver
esse caso. — Jack disse. — Grande parte da atenção estará sobre nós, nós não
podemos cometer erros. Temos que colocar os paus nos is.
— Você quis dizer colocar os pingos nos is, — eu lhe falei.
Jack só me encarou. Provavelmente era um daqueles momentos que eu
deveria ter ficado calada, mas era difícil deixar passar uma expressão
idiomática incorreta.
— Vamos revisar o que sabemos. — Jack checou toda a evidência que a
polícia tinha apresentado sobre o caso Ky Kimble. Kimble era um jogador de
futebol famoso acusado de estupro um ano atrás, mas as acusações foram
retiradas por falta de evidência. A vítima, Bella, alegou que ela tinha
consentido em transar com o amigo dele, não Ky, e não sabia que o cara
errado tinha entrado em seu quarto no escuro. Só soube depois, quando ela
ligou a luz. Era um caso difícil, mas uma cabeleireira tinha se apresentado
afirmando que ela cortou o cabelo de Ky apressadamente, antes que ele fosse
para o quarto da vítima. Aparentemente, ele lhe disse: “Bella não vai notar a
diferença no escuro”.
Ainda seria difícil conseguir uma condenação, mas com uma testemunha
e o público no nosso lado, nós tínhamos uma chance. O júri supostamente
não deveria ser influenciado pela opinião pública, mas Ky Kimble não era um
homem que muitos gostavam. Ele era um sabe-tudo convencido, um
arrogante que falava demais e usava táticas de intimidação nos jogadores
rivais. Ele estava pisando na fina linha entre excêntrico, mas uma simpática
personalidade do sport e imbecil irritante. A única real diferença entre Ky
Kimble e outros como Mohammed Ali era habilidade. Mohammed Ali era
um campeão. Kimble era um quarterback aceitável.
— Amy, eu preciso falar com você. — Jack me convidou para o seu lado
da mesa de conferência com um curvar de dedo. Os outros se retiraram.
Eu estava esperando que ele perguntasse sobre a Beverley ou Timothy,
mas ao invés disso, ele disse:
— Você está encarregada da testemunha. Você precisa observá-la como
uma águia. Não deixe que ela fale com ninguém associado à equipe de
advogados do Kimble.
— Você acha que eles pagariam para ela ficar calada?
— É possível.
— Eu vou conversar com ela, deixá-la ciente do que poderia acontecer.
— Excelente. — Ele empilhou suas anotações e as colocou em uma pasta.
— Se ela parecer hesitante, você precisava me avisar no mesmo instante.
Entendeu?
— Claro. Eu não vou deixar ninguém chegar até ela.
— Não é isso que eu quiser dizer. Quis dizer se ela parecer... hesitante.
— Você acha que ela voltaria atrás mesmo sem Kimble entrando em
contato com ela?
— Tudo é possível. Estou contando com você, Amy. Esse caso vai pegar
fogo na mídia, então mantenha sua cabeça baixa e fique longe de confusões.
— Ele bufou. — Desculpe, eu esqueci com que eu estava falando por um
minuto. Uma mulher que não suporta perder seu grampeador não vai
esquecer de colocar os paus nos is.
— Os pingos.
— Tanto faz.
— Ah, Jack, sobre Timothy. Você tem certeza que ele não foi plantado
aqui pelo time do Kimble para nos espionar?
O bufar produzido foi seguido por uma risada. O som contínuo,
estrondoso, surpreendeu-me. Eu não conseguia me lembrar de tê-lo ouvido
antes.
— Você tem assistido muita televisão. Não há espiões nesse escritório.
— Mas você não acha que o aparecimento repen-
— Volte para o trabalho. Não temos mais nada a discutir.
Eu me exasperei silenciosamente por alguns segundos antes de deixá-lo
com sua rabugice. Voltei para minha escrivaninha, observando atentamente
Timothy enquanto eu passava. Ele olhou para cima e sorriu para mim. Parecia
falso, em minha opinião, mas talvez ele estivesse extrapolando em sua
compensação por ser seu primeiro dia. Ele queria se adaptar imediatamente.
Ele parecia ter compreendido sua função e já estava digitando, seus dedos
voando pelo teclado. Mas ser um datilógrafo eficiente não significava que ele
não era um espião, só significava que ele estava preparado para seu papel.
Ao chegar a minha escrivaninha, eu já tinha me acalmado um pouco. Jack
possivelmente tinha razão. Minha teoria de espião no campo inimigo era
muito surreal para a vida real. Só o tempo diria se Timothy era um bom
assistente pessoal. Tempo e alguns desafios lançados em sua direção por um
colega desconfiado.
Eu estava simultaneamente pensando em testes enquanto pesquisava
pelos documentos com o número da testemunha, sendo interrompida por
Katy e Jemma. Elas se empoleiraram nas laterais da minha escrivaninha e se
inclinaram para perto.
— E então? — Jemma sussurrou. — Ele já te ligou?
— Quem?
Aquele comentário me fez ganhar um rolar de olhos de ambas.
— Você sabe quem. — Katy cantarolou.
— Claro que não. — Eu respondi. — Por que ele entraria em contato
comigo?
— Porque ele quer te ver de novo. Duh.
— Primeiro de tudo, eu duvido. Você conhece a reputação dele. Ele já
deve estar perseguindo sua próxima conquista. Segundo, ele provavelmente
não tem meu número.
Jemma torceu sua boca vermelha brilhante para o lado. Enquanto, durante
os finais de semana, ela tinha aquela aura de garota da praia, em seu horário
de trabalho, de segunda a sexta, ela era tão elegante e sofisticada quanto
qualquer outro advogado.
— Tenho certeza que ele tem. Ele parece o tipo de cara que coleta
telefones. Você tem o dele?
Eu quase disse que não tinha, mas então me detive. Como eu poderia ter
certeza?
— Eu não chequei. — Eu procurei pelo meu celular dentro da minha
bolsa e chequei a tela. Uma chamada perdida de um número desconhecido.
— Não. — Eu disse, procurando pelos Zs e Ks, só por via das dúvidas. — Se
eu não tenho dele, ele provavelmente não tem o meu.
A chamada perdida. De um número desconhecido. Com certeza não era
ele.
— Agora se vocês não se importam, senhoritas, eu tenho que trabalhar.
— Eu fiz um gesto para que elas fossem embora e ambas desceram da minha
escrivaninha, mas não foram a qualquer lugar.
— Quem é a criança fofa? — Jemma perguntou, balançando sua cabeça
em direção ao Timothy.
— Novo assistente pessoal.
— O que aconteceu com a Bev?
— Dispensada hoje de manhã.
— Não brinca. O que ela fez?
Eu dei de ombros.
— Eu não tenho certeza. O Jack a demitiu sem aviso prévio e um minuto
depois Timothy apareceu como um filhote saltitante.
Katy franziu a testa, observando as costas de Timothy.
— Pobre Beverley. Ela está bem?
— Ela ficou bem chateada. Eu vou ligar para ela mais tarde para ver se
ela precisa de algo. — Dei de ombros. — Eu falei com o Jack em nome dela,
mas ele não escutou.
— Idiota. — Jemma murmurou, lançando um olhar irritado em direção ao
meu chefe enquanto ele voltava para seu escritório. Ele estava falando em seu
telefone e não percebeu.
— Você vai deixar por isso mesmo? — Kate perguntou.
Às vezes ela tinha o hábito de trocar de tópicos sem notar e eu tinha
dificuldade em acompanhar seu raciocínio. Acho que ela tinha diálogos em
sua cabeça que acreditava terem acontecido em voz alta e continuava do
momento em que eles pararam. Lancei-lhe um olhar sem expressão.
— Com o Zac? Você vai tentar ligar para ele?
— Não. Por que eu faria isso?
— Porque ele é gostoso. — Jemma respondeu por ela. — E estonteante. E
sexy. E super rico.
— Nenhum desses são bons motivos para ligar para um cara na manhã
seguinte.
— Então você está categorizando a situação como umde caso de Vegas.
— Katy concluiu.
— Sim. O que acontece em Vegas e todo o resto. — Eu apontei meu dedo
para cada uma delas. — Nenhuma de vocês vai mencionar isso para ninguém.
Entendido? Foi um grande erro confraternizar com um Kavanagh. Se a mídia
ficar sabendo, eu poderia perder meu emprego.
— Não seja tão dramática. — Jemma disse.
Mas Kate acenou.
— Acho que ela está certa, Jem. Causaria uma grande comoção, e não
positivamente. Se a Amy não está tão interessada assim no Zac, não valeria a
pena. — Ela arqueou ambas sobrancelhas na minha direção. — Você não
está, está?
— Não! Ele não é nem um pouco meu tipo.
Jemma girou os olhos novamente. Se ela continuasse naquele ritmo,
correria o risco de suas lentes de contato saltarem de seus olhos.
— Você sabe que os caras que você acredita serem seu tipo, não são seu
tipo, certo?
— Isso não faz sentido. — Eu as expulsei. — Vão. Eu tenho que
trabalhar. Se eu não começar a parecer ocupada, o Jack vai vir aqui e gritar
comigo.
Elas saíram, prometendo me levar para almoçar. Eu acho que elas
queriam fofocar mais sobre o Zac. Mas elas se desapontariam. Porque eu não
tinha nada mais a dizer.
Jemma olhou Timothy de cima a baixo ao passar e ele ligou um belo
sorriso que parecia mais genuíno do que aquele que ele havia me oferecido.
Eu o estudei atentamente, tentando entendê-lo. Pela forma que ele olhou
Jemma, eu tinha certeza que ele não era gay.
Ele percebeu que eu estava olhando e corou, logo em seguida voltou a
digitar furiosamente, martelando o teclado.
Encontrei o telefone da testemunha e liguei para ela. Yolanda Murphy
tinha uma voz feminina aguda com um sotaque de Nova York. Ela devia
estar no trabalho porque o som de um secador de cabelo zumbia no fundo. Eu
a fiz prometer que me procuraria se tivesse alguma dúvida, e reforcei a
importância de não falar com mais ninguém sobre o caso.
— Nem mesmo minha mãe?
— Não.
— Meu namorado?
— Nem ele. Só comigo. Se alguém parecer estar fazendo perguntas
demais, então eles podem ser suspeitos.
Ela pausou e eu fiz uma careta. Eu falei demais? E agora ela estava
entrando em pânico?
— Certo. — Foi tudo que ela disse. — Só você. Entendi.
Desliguei e voltei para o trabalho. Meia hora depois, Timothy me
entregou uma pilha de papéis.
— Aqui está o relatório que você pediu a Beverley para digitar.
— Que rápido. — Imagino que todo aquele ataque ao teclado tenha
compensado. Eu folheei as páginas enquanto ele voltava para sua
escrivaninha. O documento estava asseadamente preso e muito bem-
apresentado, mas os títulos não sobressaiam muito bem, e o sumário estava
no começo, não no fim.
Eu andei até a escrivaninha dele e coloquei o documento sobre ela.
— Tem algo errado com ele? — Ele parecia preocupado e me senti como
se fosse cruel.
Mas eu tinha que falar. Aquelas duas coisas estavam me incomodando de
verdade.
— Não é o mesmo jeito que Beverley fazia as coisas.
Ele pareceu relaxar um pouco, e até mesmo sorriu.
— É porque eu não sou a Beverley.
Eu abri no sumário.
— Ela coloca isso no final.
— Meu antigo chefe me falou para sempre colocar o sumário na frente.
Para que os superiores não tenham que ler todo o relatório, e possam ler o
sumário e pronto.
— O ponto é fazer que eles leiam todo o documento. Qual é o sentido de
escrever se eles não vão ler? Se for o caso, podemos só escrever sumários e
nada mais.
Ele me olhou como se achasse que aquilo economizaria muito tempo.
— Eu vou fazer a alteração.
— Obrigada. E os títulos deveriam ser tamanho 16 e em negrito. Eles não
estão sobressaindo o suficiente como estão atualmente.
— Eu mudei o estilo da fonte para deixá-los diferente do texto original, e
o tamanho deles é 14, enquanto o resto do texto é doze.
— Não é a mesma coisa.
— Não, não é. — A voz dele soava como “sim, e daí?” — Eu vou refazê-
los também, que tal?
— Isso seria ótimo, obrigada. — Eu quase comecei a sair, mas me senti
mal por forçá-lo a fazer trabalho extra. — Desculpe, eu gosto das coisas
sendo feitas de um jeito específico. Meu jeito é mais organizado e eu gosto
de ser organizada.
Seu olhar deslizou para minha mesa, onde tudo estava em seu devido
lugar.
— Percebi.
— Se te faz sentir melhor, a Beverley precisou de várias tentativas até
escrever um relatório do jeito que eu gosto. Você só cometeu dois erros. —
Eu lhe ofereci um jóia com o polegar. — Bom trabalho. — Céus, eu soava
como uma idiota. Um jóia? Que pateta.
Não era surpresa que Zac Kavanagh não tenha pedido meu número. Eu
não era digna de ser perseguida além daquela noite. Uma noite na qual eu
nem fui eu mesma, de qualquer forma. Eu não me lembrava de como havia
agido, mas eu não era o tipo despreocupado e selvagem, com o qual ele
provavelmente estava acostumado.
Eu me lembrei da chamada perdida no meu telefone e estava pronta para
checá-la quando Timothy segurou minha mão. Eu a encarei e ele rapidamente
a largou.
— Desculpe. — Ele murmurou. — Eu só queria perguntar se você
almoçaria comigo hoje. Pensei que seria agradável se eu conhecesse meus
colegas de trabalho fora do escritório.
No primeiro dia? E por que eu e não os outros da equipe?
— Eu não posso hoje. Eu vou ter que almoçar com minhas amigas se não
estiver comendo na minha mesa. — O que era uma possibilidade evidente
considerando o caminho que meu dia estava seguindo até então. Eu mal
produzi qualquer coisa.
A expressão de Timothy parecia desapontada e suas bochechas ficaram
rosadas.
— Meu convite passou dos limites?
— Não, claro que não. — Pobre criança. Eu não queria que ele se
sentisse mal. — Outra hora, ok?
Ele se alegrou.
— Claro. Seria ótimo. Eu acho que vou gostar de trabalhar com você,
Amy.
— Certo. Eu também. Quero dizer, vou gostar de trabalhar com você. —
Eu ri e ele também. Tenso e desconfortável. Ele estava flertando comigo? Eu
esperava que não, mas não tinha certeza. Normalmente eu era capaz de dizer,
mas Timothy era diferente. Eu recebia sinais confusos vindos dele. Havia
algo sobre ele que eu não conseguia identificar. Talvez eu descobrisse depois
de conhecê-lo melhor.
Eu apanhei meu telefone de novo quando cheguei na minha escrivaninha.
Uma mensagem havia sido deixada pelo mesmo número. Meu coração
tropeçou em si mesmo enquanto eu escutava, e se afundou quando percebi
que não era a voz profunda, suave de Zac na mensagem. Era um repórter. Ele
queria saber sobre o caso do Ky Kimble. Eu deletei a mensagem e coloquei
meu telefone ao lado do meu teclado. Alguém estúpido o suficiente para
acreditar que eu falaria sobre o caso não merecia uma resposta. Eu não estava
interessada em repórteres, ou em Ky Kimble, na verdade.
Eu estava mais interessada em minha reação a mensagem. Ela me
surpreendeu. Eu tinha pensando que era Zac — torcido que fosse ele — e
fiquei desapontada quando notei que não era. O que isso falava sobre mim?
Que eu era uma perdedora, desesperada por qualquer tipo de companhia, até
mesmo a dele?
Meu celular vibrou novamente, quase tremendo para fora da escrivaninha.
Eu o apanhei e atendi como um “oi, é a Amy.”
— Amy? Ei, fico feliz que você atendeu. É o Zac. Nós precisamos
conversar.
CAPÍTULO 3
— Hum...— Sensacional, Amy. — Oi. — Eu acrescentei. — Desculpe, eu
não posso falar agora. Estou trabalhando.
— Não desliga!
Eu não pretendia fazê-lo. Por que eu não estava prestes a desligar?
— Ok.
— Eu não quero falar pelo telefone. — Os traços melódicos em sua voz
atravessaram a linha e me fizeram pressionar meu telefone firmemente contra
minha orelha. Sua voz era hipnotizante. Não era uma surpresa que eu tenha
ficado ouvindo ele falar por horas no sábado à noite. — Podemos nos
encontrar para almoçar?
Era a primeira vez que eu tinha tantos convites para almoço em um dia,
dois deles de caras. Que sortuda.
— Não posso.
— Hoje à noite?
— Tenho que trabalhar até mais tarde. — Talvez.
Silêncio. Será que ele não sabia que eu estava o evitando?
— Eu podia te buscar e te levar para tomar alguma coisa. Onde você
trabalha?
— Vou ficar aqui até bem tarde. Desculpe.
Pensei ter ouvido-o inspirar profundamente, mas pode ter sido barulhode
fundo.
— Você tem que comer em algum momento. Eu posso levar o jantar para
você. Você trabalha para uma das principais firmas de advocacia?
— Como você sabe que eu sou uma advogada?
— Você me contou.
Ah sim, essa deve ser uma das conversas das quais eu não me lembrava.
— Eu vou comer na minha mesa hoje e depois vou direto para casa, para
dormir. Eu tenho muito trabalho para fazer.
Mais silêncio. Ele provavelmente estava decidindo se eu era digna de ser
perseguida ou não. Zac provavelmente pensou que eu era fácil, não sendo
uma modelo maravilhosa, e pularia na cama com ele de novo. Há! Um tolo.
— Você marca o dia então. — Ele disse, eventualmente.
— Eu estou trabalhando em um grande caso agora. Não é um bom
momento.
— Você não pode me evitar para sempre.
Isso era o que ele achava.
— Olha, Zac, eu pensei que tinha sido clara ontem de manhã. Eu não
quero te ver de novo.
Eu me encolhi diante de minha frieza. Eu teria voltado atrás
imediatamente se fosse um cara normal, mas eu tinha certeza que Zac
Kavanagh conseguia suportar um pouco de rejeição. Se não, ele precisava
aprender. Ele provavelmente já disse algo igualmente cruel para várias
mulheres.
— Eu não vou fingir que estou contente em te ouvir dizendo isso. — Ele
disse. — Mas ainda precisamos conversar sobre o que aconteceu no final de
semana. Tem algo que você precisa saber.
Ah, merda. Nós não usamos proteção. Eu fechei meus olhos,
amaldiçoando minha baixa tolerância para bebidas e a idiotice dele de não
pensar por nós dois. Como ele pôde não ter insistido em usar proteção?
Eu me inclinei para trás em minha cadeira e esfreguei minha testa.
Quando eu afastei minha mão, Jack estava pairando em frente a minha
escrivaninha. Para um cara tão grande, definitivamente, ele se esgueirava
sorrateiramente.
— Eu tenho que ir. — Eu falei para Zac rapidamente. — Eu vou te ligar
nesse número se... algo acontecer.
— O que você quer...?
Eu desliguei e coloquei meu celular no silencioso.
— Desculpe. — Eu disse a Jack. — Ligação pessoal.
— Não sendo a mídia... Um repórter já entrou em contato comigo.
— Eu ignorei um mais cedo também. Não se preocupe, eu não vou falar
com eles.
— Ótimo. Você falou com a testemunha?
Eu transmiti a minha conversa com Yolanda, depois voltei ao trabalho.
Passei o resto do dia na minha escrivaninha, pulando o almoço com as
meninas. Timothy me trouxe uma baguete da lanchonete do outro lado da rua
e se convidou a sentar comigo. Ele conversou enquanto eu comia. Foi
desconfortável no começo, mas depois de cinco minutos ouvindo sua história,
comecei a gostar dele. Ele era um cara legal, eu já não sentia que ele estava
me estudando para dar em cima de mim. Só parecia que ele queria se
encaixar no seu primeiro dia, e eu não poderia culpá-lo por causa disso.
Ele voltou para sua mesa, jogando o embrulho da minha baguete no lixo
ao passar e cerrou seu punho em comemoração quando acertou. É, apenas
uma criança. E uma criança simpática. Eu tentaria não ser muito dura com
ele.
No final das contas, Timothy era um fantástico assistente pessoal. Ele
trabalhou junto com nosso time durante a semana, organizando depoimentos,
revisando declarações, formulando nossos argumentos. Eu já não pensava
que ele era um espião para a defesa de Kimble, mas eu ainda não tinha
certeza se ele estava tentando me conquistar. Timothy era muito charmoso,
sempre reservando os sorrisos mais brilhantes para mim, fazendo pequenas
coisas tipo preparar meu café exatamente como eu gostava, na xícara correta,
e até a colocava no mesmo lugar todos os dias, onde eu lhe pedi para deixá-la
no primeiro dia.
Mesmo assim, eu tinha a sensação que ele estava interessado na Jemma,
não em mim. Ela recebia os sorrisos genuínos, enquanto eu os ofuscantes. E
ele encarava a bunda dela quando ela saía, não a minha. Eu vesti meu
terninho mais justo na sexta só para ter certeza, e olhei sobre meu ombro para
verificar se ele estava me olhando. Não, não estava, e eu me orgulhava da
minha bunda. Eu odiava mistérios, e ele definitivamente estava agindo de
uma forma um pouco estranha comigo. Mas eu não tinha mais ideias do
porquê.
Zac ligou novamente na terça. Eu reconheci o número e não respondi. Eu
não tinha adicionado ele à lista de contatos, mas seu número era distinto o
suficiente para que eu soubesse todas às vezes que ele ligava. E ele ligou duas
vezes na terça, quarta e quinta. Também deixou mensagens. A primeira
perguntava o que eu quis dizer com “se algo acontecer”. Na segunda, ele me
pediu para ligar para ele. Na terceira e quarta, ele disse que parecia ter havido
um mal-entendido entre a gente e estávamos falando de coisas diferentes.
Aquelas mensagens quase me fizeram retornar a ligação para descobrir do
que ele estava falando. Isso, e a voz dele. Eu me mantive firme e deletei as
mensagens.
A quinta mensagem estava suavemente marcada por frustração. Ele me
pediu para “por favor, me ligue volta. É realmente importante”. Na sexta e
última mensagem de voz, ele me disse que estava ciente que parecia um
stalkear, então ele não ligaria mais, contudo iria pedir uma última vez que eu
o encontrasse novamente antes que eu bloqueasse o número dele. Eu sorri
com o comentário. O cara sabia exatamente o que eu estava pensando.
Na sexta, cinco dias depois que eu o vi pela última vez no seu quarto de
hotel em Vegas. Ele mandou uma mensagem: Por favor me encontre hoje.
Sem compromisso, só para uma conversa. Me mande um texto falando ‘sim’
e eu te informarei onde.
Por capricho, enviei um ‘não’.
A mensagem que retornou imediatamente dizia: mesmo estando honrado
que você finalmente se dignou a responder, eu preferiria que você falasse
não na minha cara. Me encontre no The Hub hoje, às 8, para bebermos algo.
Por favor. Temos que discutir coisas MUITO importantes.
Eu não respondi. Estava ocupada na maioria das sextas à noite, de
qualquer forma. Minha mãe e eu normalmente nos encontrávamos para
lamentações e um jantar acompanhado por vinho. Eu deslizei o telefone de
volta para minha bolsa com um suspiro. Zac era insistente, eu admitia. Era
agradável ser perseguida por um cara gostoso, mas eu não deixaria que aquilo
me afetasse. Não significava nada além de que seu ego estava ferido pela
minha rejeição, e agora ele precisava provar a si mesmo que conseguiria
conquistar todas garotas, até mesmo as teimosas.
Eu me perguntei quantas rejeições ele enfrentou em sua vida.
Minha mãe já estava no meu apartamento quando cheguei em casa. Eu
lhe dei minha chave depois que mudei, e me arrependi desde então. Ela tinha
o hábito de chegar sem avisar. Seria aceitável se ela já tivesse começado a
cozinhar, mas ela não o tinha feito. Ela estava sentada em um banco da
bancada da cozinha, com um copo de vinho cheio ao seu lado. Seu cabelo
loiro estava curvado sobre algo em sua mão, suas unhas rosas batucavam na
bancada.
Eu beijei sua bochecha fria, absorvendo o aroma de seu perfume favorito.
Ela me beijou de volta, mas parecia distraída.
— Eu trouxe frango e torta de vegetais. — Informei. — Eu não tive
tempo de fazer compras e está ficando tarde. — Já eram quase seis e meia.
Ela balançou um envelope na minha direção.
— Por que você está recebendo um correio de Nevada?
Eu peguei o envelope dela. O remetente era um cartório.
— Eu não sei.
Coloquei o envelope junto com os outros e o alinhei na pilha, para que as
extremidades não estivessem separadas.
Ela colocou sua mão sobre a minha.
— Querida, você não me contou muito sobre seu final de semana lá.
— Não tem muito para contar. Foram duas noites.
— O que você fez?
Dei de ombros.
— O típico.
Seus olhos cercados por grossos cílios alongados por máscara se
estreitaram em minha direção.
— O típico é fazer apostas, se nós estamos falando de Vegas. E você não
aposta.
— Nós fizemos coisas de turista. — Eu liguei o forno e tirei uma bandeja.
— Bebemos em um bar, nadamos na piscina do hotel. Só nos divertimos
juntas.
Seu dedo clicou sobre a carta no topo da pilha.
— Você sabe o esse cartório faz?
— Faz registros? Talvez eu recebi uma multa. Eu achoque dirigi um
carro alugado um pouco rápido demais quando chegamos. Fiquei animada ao
chegarmos lá. Não deve ser caro demais.
— Amy. — Sua voz severa me assustou. Eu pisquei em sua direção e dei
de ombros. — Não minta para mim.
— Não estou mentindo, por que eu mentiria para você? Sobre o que eu
mentiria?
Ela pegou o envelope e usou sua garra para abri-lo. Ela puxou o papel, o
desdobrou e o balançou em frente ao meu rosto.
— Isso.
Eu conferi a página, escaneando as palavras. Arranquei o papel dela e li
novamente. Não. Não podia ser. Aquilo não estava acontecendo. Não era uma
multa, era um certificado de casamento. Meu nome estava lá, assim como o
do Zac.
Eu deixei o papel cair no chão, e imediatamente fiz a mesma trajetória.
Inclinei-me contra o armário da cozinha e inalei, mas eu parecia incapaz de
recuperar meu fôlego.
— Você não sabia?
Eu balancei minha cabeça.
— Eu bebi um pouco sábado à noite.
— Ah, é geralmente assim que essas coisas acontecem. — Ela pegou o
certificado, mas eu o tomei da sua mão antes que ela visse o nome de Zac. Se
ela o visse, ela começaria a ter todo tipo de ideia em sua cabeça, me
imaginando casada com um Kavanagh, tendo bebês bonitos e vivendo em
uma mansão em Serendipity Bend. Eu não conseguiria lidar com minha mãe
se ela acabasse eufórica diante daquela situação.
— Eu só queria ver o nome do seu marido. — Ela disse.
Gemi.
— Ele não é meu marido. Ele é um erro. Eu vou pedir anulação.
— Você precisa de advogados para isso.
Então foi por isso que Zac me ligou tantas vezes durante a semana. Ele se
lembrava de termos nos casado e queria me informar que nós estaríamos
anulando o casamento. Ele só não queria me falar sobre isso pelo telefone.
Não que eu soubesse o porquê. Não era nada demais.
Minha respiração estava rápida e curta. Meu coração acelerou, debatendo-
se contra minhas costelas. A mão da minha mãe descansou na minha nuca
novamente, me distraindo do sangue correndo por meu corpo.
Ela estava cantarolando, notei. You are my sunshine, a mesma música que
ela sempre cantarolava durante esses episódios. A voz dela era tão
tranquilizante quando sua mão. Fazia anos desde meu último ataque de
ansiedade, e eu esperava que tivesse superado eles. Aparentemente a ideia de
casar — de estar casada — era demais para mim. Todas minhas antigas
ansiedades voltaram se chocando em mim com a força de uma onda gigante,
ameaçando varrer tudo pelo qual eu trabalhei tanto para conquistar — minha
independência, minha carreira, minha vida.
Eu tinha que afastar os pensamentos antes que eles me consumissem
completamente e o pânico voltasse. O casamento não era permanente. Nós
nem precisávamos passar por um divórcio normal. Claro que Zac pensava o
mesmo já que ele passou a semana inteira me incomodando.
Eu chequei meu relógio. Eu tinha tempo. Levantei-me e peguei meu
telefone. Sim, eu enviei a mensagem para o número de Zac. Vou estar lá às
oito.
Minha mãe entrou no modo-mãe o que não acontecia com frequência,
então eu a deixei. Ela encheu um copo de vinho para mim e se apressou pela
cozinha para fazer uma salada para acompanhar nossa torta. Mas o modo-mãe
sempre vinha com um custo.
— Por que você não me conta o nome dele? — Ela perguntou.
— Não é importante. Nós vamos anular o casamento e eu nunca vou vê-
lo novamente.
— Por que você não quer vê-lo novamente? Qual é o problema com ele?
— Ele não é... meu tipo.
Aquele comentário produziu o som mais deselegante que eu já tinha
ouvido ser feito pelo nariz da minha mãe. Eu não conseguia decifrar o que
aquilo significava.
— Talvez você devesse dar uma chance a ele. Você pode acabar
descobrindo que gosta dele.
— Eu duvido, ele é um mulherengo.
— Como você pode saber se não lembra da noite de sábado?
— A reputação dele tem um grande alcance.
Ela engasgou e virou-se, com a faca em mãos.
— Ele é famoso?
— N-não.
Mas minha mãe não me ouviu, ou talvez tenha escutado a minha
hesitação e adivinhou que eu estava mentindo.
— Ah, meu deus! A minha garotinha está casada com alguém famoso. Eu
sempre soube que sua aparência faria que te notassem. Claro, sempre pensei
que seria para virar modelo ou trabalhar na televisão, mas você nunca
demonstrou qualquer inclinação para esse tipo de coisa depois do desastre
daquela apresentação de teatro na quarta série, mas eu nunca perdi as
esperanças.
— Mãe, pare.
— Ele é um ator?
— Mãe.
— Um atleta famoso? — Ela ofegou. — Tinha um torneio de golfe em
Vegas nessa semana. Ele é jogador de golfe?
— Não!
— Porque tudo bem se ele for. Jogadores de golfe não são os atletas mais
sexies, mas eles ganham muito dinheiro. Não tanto quanto jogadores de
basquete ou jogadores de futebol americano, mas uma quantidade decente.
— Não acredito nisso. Eu não vou responder a suas perguntas. — Cruzei
meu braço sobre meu peito, então percebi que não poderia beber vinho
daquela forma. Peguei meu copo e virei o resto.
Minha mãe voltou a cortar.
— Você precisa de um casamento adequado.
Eu gemi e descansei minha cabeça na bancada. O mais rápido que eu
conseguisse balançar o papel da anulação na frente dela, melhor. Se não, ela
começaria a trazer revistas de casamento. Eu não me surpreenderia se ela
tivesse uma escondida na bolsa dela. Ela esteve sonhando com meu
casamento desde que eu nasci. Quando eu fiz dezoito e comecei a namorar,
ela me pressionou sobre a seriedade de cada relacionamento. Segundo ela, eu
nunca me casaria se eu não os desse uma chance, ou se encontrasse
problemas em cada pequena coisa que eles faziam. Eu respondi que não tinha
problema. Casamento não era para mim. Era para mulheres como ela.
Mulheres sem carreira, que precisavam de um homem para fazê-las se
sentirem autossuficientes. Mulheres que se apaixonavam desesperadamente
com qualquer cara que lhes desse um pouco de atenção e depois ficavam com
o coração partido quando ele fosse embora. Era um milagre que minha mãe
só tivesse casado quatro vezes. Houve tantos “quase noiva” que perdi a conta.
— Eu vou trazer meu livro de recortes de casamento amanhã. — Ela
ergueu suas duas mãos antes que eu pudesse falar. — Caso você mude de
ideia.
— Livro de recorte de casamento?
— Eu estive coletando fotos por trinta e dois anos e colando nesse livro.
Está bem grosso atualmente.
— Mas eu só tenho vinte e nove.
— Originalmente não era destinado a você. — Seus longos cílios se
abaixaram, como cortinas sobre seus olhos, e ela voltou a cortar tomates.
Eu mordi meus lábios. Minha mãe estava coletando fotos de casamento
para ela. Trinta e dois anos atrás foi aproximadamente quando ela conheceu
meu pai. Ele era um jogador de baseball, e ela a Miss Roxburg. O romance
deles foi como um furacão e eles se casaram dentro de seis meses. Mas meu
pai não era simplesmente um jogador de baseball. Ele era também um viciado
em jogos de azar e um mulherengo que tinha uma garota diferente em cada
cidade, em alguns casos mais de uma. A reputação dele era bem conhecida, a
única que não sabia era minha mãe.
Até o dia que ela recebeu a carta de uma das amantes dele, irritada por
que o homem que ela amava se recusava a abandonar a esposa dele por ela.
Eles discutiram, minha mãe colocou meu pai na rua, mas ele pediu para
voltar para casa. Ela deixou. Então um dia, quando eu tinha cinco, ele só se
levantou e saiu para viver com outra mulher. Minha mãe ficou devastada.
Meu pai e eu éramos sua a vida inteira. Ser uma boa esposa era tudo para ela.
Ter como marido um famoso jogador de baseball era importante, fazia que
ela se sentisse importante. A partida dele deixou um grande buraco no mundo
dela. Ela chorou por dias e apenas se ergueu novamente quando um novo
vizinho começou a demonstrar interesse por ela. Minha mãe se casou com
ele, só para se divorciar um ano depois. Então ela se casou de novo, e de
novo. Cada marido era igual ao anterior. Bonito demais, charmoso demais,
pronto para levar toda e qualquer mulher bonita para cama. Ela finalmente
desistiu de consertá-los depois do marido número quatro. Foi pouco tempo
depois disso que meu pai voltou, implorando por perdãoe pedindo uma nova
chance. Minha mãe o aceitou de volta, dizendo que ela o amava apesar de
tudo. No final das contas, ele estava morrendo de câncer e precisava de uma
cama macia na qual se deitar e uma mulher para cuidar dele nos seus últimos
meses. Ele não tinha dinheiro, nem casa, só tinha a gente. Minha mãe deu a
ele tudo que ele precisava, eu não lhe dei nada. Nós não mantivemos contato
nos anos que ele esteve longe, eu não queria ter nada a ver com ele. Algumas
pessoas não mereciam filhos, ou companheiros como minha mãe.
Eu deixei ela tagarelar sobre seu livro de casamento. Era o mínimo que eu
poderia fazer já que ela tinha me dado tanto suporte durante os anos,
trabalhando duro para colocar comida na mesa e me fornecer um verdadeiro
lar. Dentre todo mundo, era ela quem me entendia melhor. Ela sabia porque
eu tinha ataques de pânico, e como terminá-los. Ela sabia porque eu queria
continuar solteira, mesmo que a mataria admitir. Ela sabia porque meu
trabalho era tão importante para mim.
Eu saí de casa às sete e meia, despedindo-me da minha mãe logo depois
que comemos. Eu usava uma saia cinza na altura dos joelhos, ao invés de
jeans ou calças, e um top prateado com um decote cascata. Meu cabelo curto
era fácil de arrumar, motivo pelo qual eu o amava tanto, e brincos longos
ficavam elegantes com ele. Então escolhi pequenas argolas. Eu também
coloquei pouca maquiagem e sapatos com saltos modestos. Nada de salto
agulha. Nada que o fizesse prestar muita atenção em mim.
Eu cheguei cedo ao The Hub, um bar no centro de Roxburg que atraía
uma variedade de pessoas, de funcionários de empresas bebendo depois de
um dia de trabalho, aos jovens aproveitando para colocar o papo em dia antes
de se dirigir para as boates próximas. Zac não estava lá quando eu cheguei,
então eu pesquisei sobre anulação de casamento no meu telefone enquanto
esperava. Não parecia muito difícil de conseguir. Se Zac não sabia meu
sobrenome, eu teria que lhe informar. Bem, não seria um problema já que eu
não o veria novamente. Sem contar que eu poderia mandar uma mensagem
com a informação. E meu sobrenome talvez não o ajudasse a se recordar de
qualquer coisa. Fazia dois anos desde o julgamento do seu irmão, e eu não fui
a principal assistente da promotoria.
— Ei.
Deixei meu telefone cair sobre a mesa ao ouvir sua voz.
— Ah, oi. — Eu deslizei meu telefone de volta para minha bolsa e o
olhei.
Céus. Ele era tão bonito vestido quanto era nu.
Usando calças pretas e uma blusa cinza-escura que se ajustava bem sobre
seus ombros, Zac era o homem dos sonhos de todas as mulheres. Seu cabelo
escuro estava mais organizado, abandonando o estilo acabei-de-transar, e sua
barba estava feita. Ele parecia muito mais alto que todos os outros caras, mas
talvez aquela sensação fosse acarretada pelo fato dele estar muito próximo de
mim. Seus olhos azul-claro se focaram em mim, absorvendo meu cabelo,
rosto, mãos. Ele inalou fundo e sorriu brevemente, como se estivesse
preocupado que eu não apareceria no final das contas, e estava contente que
eu estava ali. Ele era bom, eu admitia. Zac conseguiu me fazer sentir especial
sem fazer nada além de sorrir e me olhar.
Ele se inclinou para perto e beijou minha bochecha antes que eu notasse o
que estava acontecendo. Ele cheirava a uma loção-pós-barba sutil e cara.
— Você esperou por muito tempo? — Zac perguntou.
— Só alguns minutos.
— Tempo suficiente para pedir uma bebida, vejo. — Ele acenou em
direção ao meu vinho branco e ergueu um dedo. Uma garçonete estava ao seu
lado em um piscar. Ele pediu uma cerveja, focando toda sua atenção na
atendente enquanto o fazia. Ela sorriu melancolicamente quando ele voltou a
se virar para mim, e demorou mais que o necessário para ir embora.
Girei meus olhos, mas Zac percebeu. E franziu a testa.
— Desculpe por todas aquelas mensagens.
— Eu recebi uma correspondência do cartório hoje. — Eu lhe informei.
— Ah, sim, o certificado de casamento. Eu pensei que chegaria em breve.
— Por que você não me disse... — Eu olhei ao redor e me inclinei para
frente, — que nos casamos?
— No começo, eu pensei que você sabia. Então quando eu percebi que
você tinha se esquecido disso também, eu tentei te ligar para contar
— Sim. Vejo que eu te dei meu número.
— E eu te dei o meu. — Ele disse.
— Não, eu não tenho seu número no meu celular.
— Eu te dei meu cartão. Você colocou na sua bolsa junto com o... ah,
agora, eu entendi.
Naquela conversa, eu me sentia como se estivesse atrasada para uma
festa.
— Entendeu o quê?
— A capela que nos deu o certificado de casamento. Aquele não era o
verdadeiro, era uma lembrança. O da sua caixa de correio é o verdadeiro. O
outro deve ter caído da sua bolsa junto com o meu cartão durante a noite.
Provavelmente quando você estava dançando na fonte.
Eu o encarei. Não, eu não queria nem ouvir sobre dançar na fonte.
— Então quando você estava vasculhando minha bolsa, domingo de
manhã, você estava procurando pelo certificado. Ah!
Sua sobrancelha esquerda se ergueu.
— Você achou que eu estava roubando de você?
— Não! Claro que não. — Eu bufei depois me encolhi envergonhada. Eu
era mesmo uma perdedora. — Por que um Kavanagh precisaria roubar?
Ele riu baixo.
— Por que um Kavanagh faz qualquer coisa?
Eu não entendi o que ele quis dizer, logo permaneci em silêncio.
— Eu queria falar sobre isso naquela manhã, mas você saiu apressada.
Pensei que era melhor te deixar... descansar por um dia ou dois, mas na
segunda eu estava ansioso para falar com você de novo. — Ele deu de
ombros e foi o dar de ombros mais sexy que eu já tinha visto. Um pouco
juvenil e inocente, e completamente honesto. — Eu decidi que eu não queria
falar sobre nosso casamento pelo telefone. — Ele sorriu e algo dentro de mim
se ergueu em atenção. Seu sorriso foi um pouco torto, um pouco travesso,
mas completamente genuíno. — Eu sabia que te contar que nós estávamos
casados te assustaria, então achei melhor te contar pessoalmente, assim eu
poderia ficar de olho em você.
Eu balancei minha mão para afastar sua preocupação.
— Sim, claro, tudo está bem. Fiquei um pouco chocada, mas eu sabia que
nós poderíamos resolver isso facilmente.
Ele me olhou como se não acreditasse em mim. Eu era uma péssima atriz,
então não foi uma surpresa. Como ele sabia que eu não ficaria bem depois de
saber sobre nosso casamento? Com certeza eu não lhe contei sobre meus
ataques de pânico. Eu nunca contava para ninguém. Só minha mãe sabia.
— Então agora que você sabe, — ele disse. — Podemos falar sobre o que
acontece em seguida.
— É por isso que eu concordei em encontrar com você.
Ele limpou sua garganta e postou suas mãos sobre a mesa. Ele parecia
não saber o que fazer com elas. Seus dedos se moveram em direção aos
meus, que seguravam minha taça de vinho, mas os puxou de volta antes que
nos tocássemos. Zac batucou seus dedos e finalmente os entrelaçou a sua
frente. Era um pouco cativante ver alguém como ele nervoso.
— Não precisa se preocupar. — Eu lhe disse, usando minha voz de
advogada. Zac agia como uma testemunhar apreensiva, precisando de alguém
que suavizasse seus medos. Eu podia fazer aquilo. — Eu sei que nossa
situação é estranha, mas logo vamos resolver tudo. Anulações são fáceis de
conseguir. Eu tenho um contato da área de direito da família se você precisar,
mas eu tenho certeza que seu advogado consegue preparar os documentos. Só
precisamos apresentar os papéis na corte e tudo estará resolvido. Eu não vou
dificultar a situação. Eu não vou querer nada seu, se é com isso que você está
preocupado.
— Não é. — O batucar ficou mais rápido, até que ele parou de repente.
Seus olhos penetrantes me prenderam ao meu assento. — A questão é: eu não
quero uma anulação. Quero continuar casado.
— O qu-quê? — Meu peito e garganta se apertaram. Meu coração
acelerou e vertigens borraram minha visão. A escuridão rastejou das
extremidades e tudo que eu conseguia ver através do túnel era o rosto
preocupado de Zac. E então até ele desapareceu.
CAPÍTULO 4
— Está tudo bem, Amy. — A voz de Zac era a única coisa que

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