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O Namorado Bilionário Acidental Kendra Little Traduzido por Joice Faustino “O Namorado Bilionário Acidental” Escrito por Kendra Little Copyright © 2019 Kendra Little Todos os direitos reservados Distribuído por Babelcube, Inc. www.babelcube.com Traduzido por Joice Faustino “Babelcube Books” e “Babelcube” são marcas comerciais da Babelcube Inc. Sumário Página do Título Página dos Direitos Autorais O Namorado Bilionário | Acidental | Um Romance sobre a Familia Kavanagh | Kendra Little | Traduzido por Joice Faustino FIM Se inscreva na Newsletter de Kendra — ganhe histórias GRATUITAMENTE Trecho de O DILEMA DO NAMORADO BILIONÁRIO | Direitos autorais 2015 Kendra Little | CAPÍTULO 1 Baixe O DILEMA DO NAMORADO BILIONÁRIO agora. O Namorado Bilionário Acidental Um Romance sobre a Familia Kavanagh Kendra Little Traduzido por Joice Faustino “O NAMORADO BILIONÁRIO ACIDENTAL” Escrito por Kendra Little Copyright © 2019 Kendra Little Todos os direitos reservados Distribuído por Babelcube, Inc. www.babelcube.com Traduzido por Joice Faustino “Babelcube Books” e “Babelcube” são marcas comerciais da Babelcube Inc. CAPÍTULO 1 O cara delicioso e nu deitado ao meu lado me fez desejar lembrar-me da noite passada. Ele dormia sobre seu estômago e seu rosto estava virado para o outro lado, contra o travesseiro. Eu só esperava que ele não tivesse um nariz de tucano ou fosse coberto por espinhas... Não, nada disso importava. Recusei-me a olhar para qualquer coisa ao norte de sua clavícula. Eu prometi às minhas amigas — eu me prometi — que afastaria minhas inibições e me divertiria nesse final de semana. Isso é o que garotas solteiras faziam em Vegas. Aparentemente. Era minha primeira vez na Cidade do Pecado e, até então, considerando as memórias faltantes e o gostosão pelado, eu estava me saindo bem com a ideia de sem inibições, sem consequências. Um momento de pânico se encravou em meu peito e me arrastei para a beira da cama. Nós não estávamos no meu quarto de hotel. O meu vinha com 2 outras mulheres, e não tinha espaço para alongamentos, nem para receber visitas masculinas. Esse quarto era mais próximo a uma suíte. Ou seria uma casa? Nós estávamos em um quarto maior que todo meu apartamento em Roxburg. O cômodo era decorado em vermelho e preto com reis e rainhas de copas inseridos em painéis de parede, atrás dos quais provavelmente se encontravam guarda-roupas. Um sofá estava acomodado em uma plataforma próxima à janela. Imaginei como seria a vista quando as cortinas estivessem abertas. Puxei os lençóis e virol de seda para cobrir minha nudez. Não que o desconhecido estivesse olhando. Considerando sua respiração uniforme, ele dormia profundamente. Respire fundo, Amy. Só porque eu estava em um quarto estranho com um cara estranho não significava que eu tinha chegado ao meu limite. Só porque esse tipo de coisa nunca aconteceu comigo, não significava que eu estava em perigo. Mas, por precaução, talvez eu cairia fora antes que ele acordasse. Contudo, seria uma pena não ver o rosto dele e talvez pegar seu número. Katy e Jemma se irritariam se eu o fizesse, já que aquele não era o acordo. Elas queriam que eu ficasse com alguém, me divertisse anonimamente e depois fosse embora, sem compromisso. Eu não era muito boa com aquela parte. Partir e dizer “não” sempre foram meus problemas em relacionamentos. Na verdade, começar um relacionamento com caras legais era meu verdadeiro problema, mas eu não lembrei minhas amigas desse fato. Elas estavam tão animadas para me trazer para Vegas durante o final de semana, e eu precisava de uma distração do trabalho. Acho que o dono daqueles ombros deliciosos poderia se qualificar como distração. A pele dele era bronzeada contra o lençol branco feito neve que mal cobria sua bunda. Duas pequenas covinhas beijavam sua pele em ambos lados da base de sua coluna. Tiras de músculo definiam o resto de suas costas, mesmo relaxados, pareciam rígidos. Ele tinha ombros pelos quais garotas derreteriam, ou nos quais elas se agarrariam. O desconhecido deveria malhar, ou, talvez, no seu trabalho ele tivesse que carregar itens pesados. Viciados em academia ou fisiculturistas não eram meu tipo, mas eu não estava ali para encontrar meu tipo. Eu estava em Vegas para transar e me divertir. Eu não tinha dúvidas que havia experienciado as duas coisas na noite passada. Se ao menos eu conseguisse me lembrar. A única coisa que eu lembrava era o motivo pelo qual eu normalmente não bebia muito — drinks e Amy Grant não se misturavam. Lapsos de memória não combinavam com uma promotora assistente que deseja subir para o topo de sua carreira. Algumas festas durante meus anos de faculdade me ensinaram isso. Depois que me formei, passei a beber um ou dois copos de vinho. Essa era eu, sempre sensata. A garota sensata estava caindo fora enquanto o gostosão continuava dormindo. Eu levantei a coberta e balancei minhas pernas para fora da cama. Os músculos trêmulos nas minhas coxas me informaram que definitivamente eu havia transado na noite passada, e muito. Só esperava que nós tivéssemos usado proteção. Talvez eu devesse checar na lixeira... — Hmmm, — a voz abafada saiu do desconhecido. Sua mão apalpou o espaço vazio na cama onde eu estava deitada segundos antes. Ele suspirou e começou a se virar. — Não vá ainda, Amy. Ofeguei. Merda! O cara piscando, sonolento, em minha direção era estonteante. Cílios grossos e escuros emolduravam seus olhos azuis que mesmo com as pálpebras um pouco baixas pareciam perfurar através de mim. Suas bochechas eram definidas, mas não proeminentes, já seu maxilar era forte e a barba por fazer matinal produzia uma aura um pouco rebelde. Os lábios dele... Minha nossa. Os lábios dele eram perfeição, não eram delicados e femininos demais, mas também não eram grosseiros. Eu queria contorná- los com a ponta dos meus dedos, ou meus lábios. Seus lábios se estenderam em um sorriso que era hesitante e doce, convidando-me a me juntar a ele na cama de novo. Mas não foi seu sorriso ou seu rosto bonito demais que me deu nós no estômago. Foi ele. Eu o conhecia, mesmo que nunca nos encontramos antes. Bem, não antes da noite passada. Ele era Zac Kavanagh, o quarto filho de uma das família mais ricas de Roxburg, um playboy, e — se esses dois fatos já não fossem ruins suficientes — ele era o irmão mais velho de Damon Kavanagh, quem eu ajudei a colocar atrás das grades há dois anos. Ele não devia se lembrar de me ver no tribunal, ou não estaria me convidando a voltar para sua cama. Eu me lembrava do olhar brutalmente frio com o qual sua mãe me cobriu no dia em que a condenação foi lida pelo representante do júri. Se o olhar pudesse matar, meu time e eu estaríamos a sete palmos. Admito que nenhum dos Kavanaghs prestou muita atenção no nosso time, mas sem dúvidas eles haviam me visto. Zac não mostrava qualquer sinal de reconhecimento. Eu havia mudado desde então. Eu cortei meu cabelo mais curto e o pintei de loiro. E longe das minhas roupas para o tribunal, terno e jaqueta, imagino que eu parecesse diferente. Era possível que ele não tivesse me reconhecido. Apenas outra razão para fugir antes que a luz do dia e sobriedade possibilitassem que ele visse com quem havia passado a noite. Zac se apoiou em seus cotovelos e me escaneou de cima a baixo. O sorriso se alargou. Eu agarrei o travesseiro e o coloquei na minha frente, escondendo todos os pontos importantes. Ele ergueu seu olhar para o meu, deixando de sorrir, e se sentou. O lençol se amontoou em seu colo, revelando um caminho da felicidade embaixo de seu tanquinho. Quem poderia imaginar que o estonteante Zac Kavanagh tinha um corpo de parar o trânsito? — Acho que é tarde demais para ficar tímida. — Ele disse. — Eu... Um... — Excelente, Amy. Muito impressionante. — Eu tenho que ir. — Olhei ao redor, procurando pelas minhas roupas mas apenas encontrei meus saltos altos, abandonados no chão como se eu os tivesse jogado ali. Eu não joguei meus sapatos, especialmente sapatos caros. Normalmente eu os colocava juntos, com cuidado,no guarda-roupa ou em um canto, talvez os enfiasse embaixo da cama. Eu deveria estar verdadeiramente bêbada para descartá-los daquela forma. Aqueles stilettos prata provavelmente eram os responsáveis por me colocar naquela confusão para começo de conversa. Definitivamente, eles eram um belo par de sapatos que me faziam parecer mais alta e magra. Isso e o vestido preto justo. Onde estava meu vestido? — Suas roupas estão na sala de estar, — Zac disse, acenando para a porta. — Nós nos despimos lá. — Os olhos dele deslizaram para os saltos. — Só mantivemos os poucos itens importantes que foram classificados como necessários. Classificados como necessários? Que diabos? Eu não queria conversar com ele. Talvez ele soubesse meu nome, mas ele não sabia quem eu era, e ficar para bater um papo só revelaria demais. Sem contar que Zac Kavanagh era um playboy, com mais conquistas que estrelas no céu. Todo mundo sabia disso. Ele estava nos jornais semana sim, semana não, com uma garota diferente em seus braços, normalmente uma modelo ou atriz, sempre de longas pernas e linda. Como diabos eu acabei caindo na armadilha desse cara? Ele era o tipo de homem que eu evitava como mau cheiro. Bonito demais para seu próprio bem, muito arrogante para ser sincero, muito rico e bajulado para se importar com qualquer um além dele mesmo. Eu era melhor que isso, mais inteligente. Eu não deveria ter acabado no quarto dele. Assim que eu voltasse para o meu quarto de hotel, eu teria uma conversa séria com Katy e Jemma. Primeiramente, elas não deveriam me deixar beber ao ponto que eu acabasse falando com alguém tipo o Zac, e em segundo lugar, se eu o fizesse, elas não deveriam ter me deixado ir para o quarto dele sozinha. — Amy, volte para cama, — ele falou manhoso. Sim, manhoso. Ele tinha uma voz suave e insistente perfeitamente aperfeiçoada. — Você não precisa ir embora ainda. — Minhas amigas estão esperando por mim. — Elas falaram para ficarmos à vontade. — Ele franziu a testa. — Elas falaram para dormirmos até mais tarde, relaxarmos e elas se encontrariam com a gente depois. Você não lembra? Eu abracei o travesseiro mais forte. — Não exatamente... Ele parecia estar... desapontado? Há! Sem dúvidas ele deveria se orgulhar de ser capaz de oferecer um desempenho memorável na cama. Bufei, mas tentei cobrir minha reação com uma tosse. Zac afastou os lençóis e saiu da cama. Não olhe para baixo, Amy. Ok, eu olhei. Eu sou humana. Bom. Muito, muito bom mesmo, ainda mais meio ereto como estava. Eu forcei meu olhar de volta para seu rosto, mas não era uma boa ideia. Ele estava sorrindo de canto dos lábios, como se ele soubesse que eu estava admirando seu pacote. — Me conte o que você lembra. — Ele pediu. De forma alguma eu me enfiaria em um bate-papo com esse cara. — Olha, isso foi um erro. Eu vou emb- — Um erro? — Ele deu um passo para perto de mim e ergueu sua mão como se fosse me segurar. Eu me afastei e ele piscou rapidamente. Zac abaixou sua mão, encarando- a, então cerrou seus punhos nas laterais de seu corpo. — Sim. — Eu disse, me dirigindo para a porta. — Eu não te conheço. Eu não costumo dormir com estranhos. — Nós nós conhecemos bem antes de... — Ele sacudiu sua cabeça para a cama. — Nós conversamos por horas. Merda, eu contei onde e com o que eu trabalhava? Ele sabia que a situação do irmão dele era parcialmente minha culpa? Okay, Damon Kavanagh cometeu o crime e aquilo não era minha culpa, mas o motivo pelo qual ele foi condenado à pena de cinco anos por agressão era. Eu sugeri a ideia de reivindicar uma punição mais severa e transformá-lo em um exemplo. Damon Kavanagh era famoso e quase matou um cara com suas próprias mãos. Imaginei que justificava. Nós apresentamos seus antecedentes para descartar as alegações de legítima defesa feitas por seus advogados e o júri o condenou. Cinco anos não era muito tempo mas parece ter sido um baque grande para a família naquela época. Todos eles saíram do tribunal em choque. Zac definitivamente não sabia quem eu era, se soubesse ele não teria nem se aproximado de mim, e não gostaria que eu pulasse de novo na cama com ele. — Parece ótimo. — Falei, dando de ombros. — Mas eu não me lembro de nada. — Mas você não bebeu muito. Talvez alguns poucos drinks, e foi isso. — Eu sou fraca para bebidas. — Claramente. — Os cantos dos seus lábios se ergueram, como se lembrasse de algo que eu fiz na noite passada que realçava tal afirmação. Eu queria perguntar, mas não ousei. Aliás, eu não queria saber quais atos humilhantes cometi. Já era ruim suficiente estar nua em frente a Zac Kavanagh em carne e osso! Sem contar que ele estava nu também. Ele tinha um corpo incrível. O meu era magro e pequeno em todos os lugares errados. Já ele... Não tinha nada de pequeno sobre ele. — Certo, eu vou embora agora. — Eu continuei me afastado na direção que acreditei que fosse a da porta. Mas errei e trombei contra a parede. Ele pressionou seus lábios um contra o outro, possivelmente tentando esconder o sorriso em frente a minha conduta patética e desajeitada. Bastardo. Segui meu caminho ao longo da parede até encontrar a porta. Recuei até ela. Se eu a fechasse, poderia me virar e olhar para onde estava indo. — Espere. — Ele devia ter adivinhado o que eu pretendia fazer, já que atravessou a soleira da porta a passos largos, direto para onde eu estava. Mais uma vez ele ergueu sua mão, como se fosse me segurar, mas a abaixou antes que nos tocássemos. — Agora que você está sóbria, você pode me conhecer de novo. Eu vou pedir café da manhã. — Não. Está tudo bem. Uma pequena linha voltou a cortar a ponte do seu nariz. — Você quer sair para comer café da manhã? — Não! Eu só quero voltar para o meu quarto. — Ah. — Aquela única, pesada exclamação caiu entre nós como uma pedra. Acho que Zac não estava acostumado com mulheres dizendo “não” para ele. Foi minha vez de sorrir, de canto de boca, e a sensação era ótima. — Licença, eu preciso me vestir. Sozinha. Ele arrastou sua mão por seus cabelos, mas eles já estavam bagunçados das horas de sono e por causa de tudo que fizéssemos antes disso. Minhas coxas estremeceram e o interior da minhas partes íntimas pulsou. Parece que meu corpo se lembrava dos bons tempos que dividimos, mas minha mente não. Ele vasculhou ao redor e encontrou o que estava procurando. Segui seu olhar até meu vestido, meio escondido embaixo do sofá. Meu maravilhoso vestido de seda, que eu guardava para ocasiões especiais estava fazendo companhia para a poeira embaixo do sofá. Que diabos? Eu o agarrei logo que Zac o ofereceu para mim. Infelizmente, isso fez com que o travesseiro deslizasse para baixo, revelando meu seio direito. Seu olhar instantaneamente voou para a área, claro. Cobri-me novamente, mas o estrago já tinha sido feito. O olhar de Zac se aqueceu e seu pênis endureceu. Esse cara não era sútil. — Se importa? — Rosnei. A maioria dos caras decentes pediria desculpa, talvez coraria por causa da encarada inapropriada, mas Zac apenas sorriu. — O que eu posso dizer? Você é a mulher mais sexy que eu já tive o prazer de ver nua faz um bom tempo. — Claro. Você usa essa cantada com todo mundo? Aquela afirmação eliminou seu sorriso. — Não. — Aham, sei. Ele me observou, com suas sobrancelhas ainda amarrotando sua testa. — Acabei de notar algo. Você provavelmente nem lembra o meu nome. Deve ser inquietante para você — Ele ofereceu sua mão. — Meu nome é Zac. Eu encarei sua mão. Ele realmente acreditava que eu cairia naquela e soltaria o travesseiro novamente? Zac retraiu sua mão e limpou sua garganta. — Zac Kavanagh. — O nome deveria me impressionar? Talvez me convencer a voltar para a sua cama? — Vejo que você já desvendou quem eu sou. — Ele disse, rígido. — Pela falta de surpresa. — Eu sou de Roxburd. Todos conhecem os Kavanaghs lá. Todo mundo no país inteiro sabe quem são os Kavanaghs. Vocês não são a família mais sutil. Ele inalou bruscamente. Suas narinas se dilataram. — Amy, antes de você ir embora, nós temos que conversar. — Eu tenho que me vestir. Onde é o banheiro?— Tem um por ali. — Ele apontou para uma porta fora da sala de estar. — Tem uma suíte no quarto também, se você preferir. Use tudo que precisar. Os funcionários do hotel mantém ambos bem abastecidos mesmo sabendo que estou aqui sozinho. — Talvez eles soubessem que você traria uma mulher. Não pensei que ele escutaria as palavras que eu murmurei ao sair, mas ele respondeu com um: — Talvez. Encontrei meu sutiã e calcinha e marchei para o banheiro com o máximo de dignidade que pude, com Zac encarando minha bunda nua. Eu fechei a porta e fiz uma careta para mim mesma no espelho. Meu cabelo estava achatado em um lado, e minha máscara escorregou dos meus cílios para meu rosto, de alguma forma ela tinha descido até minhas bochechas. Batom manchava o lado esquerdo da minha boca. Bom trabalho, Amy, você acordou ao lado de um cara gostoso parecendo uma palhaça. Bem sexy. Afastei o constrangimento. Eu não me sentiria envergonhada em frente a um cara que descartava namoradas mais frequentemente que seu lixo. Sexo casual não era um problema. Mulheres faziam o tempo todo. Só não essa mulher. Eu me limpei da melhor forma que consegui e desejei ter trago minha bolsa comigo para guardar alguns pequenos frascos de higiene. O aroma deles era divino, e me ajudou a me sentir humana novamente. Eu expirei. Era hora de enfrentar as consequências. Abri a porta, esperando encontrar Zac ainda nu, parado no mesmo lugar, mas ele havia vestido uma calça. A parte superior do seu corpo ainda estava exposta e meu olhar a examinou. Até que ele virou e vi o que estava fazendo. — Ei! Me dê isso. — Caminhei na direção de Zac e arranquei minha bolsa de suas mãos. — O que diabos você pensa que está fazendo? Os olhos dele se arregalaram. — Desculpe, eu... Não é o que você está pensando? — Não? Quer dizer que você não estava revirando minha bolsa sem minha permissão? — Hum... — Ele mordeu seu lábio. O gesto fazia com que ele parecesse tão jovem, como um garoto levado que foi pego com as mãos no pote de biscoitos. — Eu deveria chamar a polícia para você. A travessura desapareceu. E ele engoliu em seco. — Amy, uau. Se acalme. Desse jeito nem parece você mesma. — Como diabos você sabe como eu sou? — Nós nos conhecemos muito bem- — Você está falando sério? Você acha que me conhece depois de um par de horas juntos? — Foi mais que um par, mas sim, conheço. Sua convicção absoluta me desconcertou. Ele realmente acreditava que duas pessoas eram capazes de se conhecer bem em uma noite? Ele parecia acreditar. Eu nem tinha certeza do que pensar sobre aquilo. Claro que não era possível, mas quase parecia cruel furar a bolha dele. — Eu entendo que você foi surpreendida por toda essa experiência. — Ele disse antes que eu pudesse responder. — Eu entendo que você não se lembra de mim ou sobre o que conversamos. Mas eu quero que você saiba que eu me diverti muito na noite passada. O melhor período que já passei com uma mulher... ou qualquer pessoa. E foi antes de virmos para meu hotel e... ficar nus juntos. Uau. Ok. Uau. Aquelas eram palavras poderosas, e elas fizeram meu coração se agitar em meu peito. Se eu não conhecesse Zac como um playboy charmoso, eu teria caído completamente em seu jogo. Ele era bom. Muito bom. Ainda mais embrulhado naquele embalagem deliciosa. Mas eu não era idiota nem ingênua. Eu tinha um cérebro, e meu radar para papo furado estava sempre ligado no alto. Caí em cantadas como aquela antes. Talvez não tão hábeis e elegantes, mas próximas. E eu acabei passando vergonha ao descobrir a verdadeira face do cara. Eu sabia como fisgar aquele tipo. Assim como minha mãe. Bufei. — Boa tentativa. — Eu estou sendo sincero. — Claro que está. Seus olhos se estreitaram. — Me dê uma chance para provar a você. Para te fazer lembrar. Eu me dirigi ao quarto para pegar meus sapatos. — Não, obrigada. Zac me seguiu. — Sabe, não estou acostumado a ser dispensado instantaneamente. Normalmente me dão uma chance. — Eu te dei uma chance. — O que isso significa? — Significa que a evidência prova que você não é um cara legal. — Eu apanhei meus sapatos e me virei para ir embora, mas ele bloqueou a porta. Os lábios dele estavam entreabertos e ele parecia... incerto. Sua expressão me inquietava. Ele deveria parecer pretensioso e arrogante, ou talvez culpado. — Eu não entendo. — Ele murmurou. — Que evidência? O que eu fiz? — Você se aproveitou de uma garota que estava tão bêbada que não conseguiria se lembrar de nada no dia seguinte. Ele se balançou para trás em seus calcanhares, como se minhas palavras tivessem acertado-o como um tapa. — Eu não achei que você estivesse tão bêbada assim. Você não estava falando embolado, nem subiu sobre mesas e dançou, ou arrancou seu vestido. Você parecia normal. — Eu joguei meu vestido no chão! Minha calcinha estava presa na maçaneta! Isso não é um comportamento normal. Ele me olhou como se aquilo fosse normal para ele. Como os encontros normais de Zac Kavanagh acabavam? — Eu sinto muito. De verdade. — Ele entrou no quarto e dessa vez me tocou. Ele gentilmente me segurou pelos ombros, e abaixou sua cabeça para encontrar meu olhar. — Amy, eu sinto muito. Eu não sabia que estava me aproveitando de você. Céus, se é isso que você pensa... — Ele inspirou, e expirou lentamente. — Então eu só posso pedir desculpas, de novo e de novo. — Seus polegares acariciaram meus braços nus. Ele engoliu e me estudou rapidamente, sem cobiça. — Você está bem? Está machucada? — Eu estou bem. Só... me solta. Seus dedos saltaram para longe como se ele tivesse esquecido que estava me segurando. Ele esfregou suas mãos por seu rosto, e quando ele as removeu, o olhar de horror enojado me fez desejar retirar tudo que eu havia dito. Ao invés disso, eu escapuli por ele. Eu não parei para colocar meus sapatos ou olhar para trás. Eu caminhei para fora e pressionei o botão do elevador. Ele chegou imediatamente, graças a Deus, e o peguei para o térreo. Minhas mãos tremiam ao eu cruzar o hall de entrada do hotel, e meu coração martelava contra minhas costelas. Eu me sentia como uma covarde e estava um pouco irritada comigo por tê-lo acusado de algo tão desprezível. Eu deveria ter voltado e pedido desculpas, mas eu não podia encará-lo de novo. Eu não poderia arriscar ouvi-lo dizer coisas agradáveis para mim. Eu gostava de pensar que era forte quando o assunto era homens como Zac, mas eu não era. Eu era fraca e idiota. Talvez tenha sido por isso que ataquei da única forma que sabia: com palavras. Elas eram as melhores amigas de um advogado. — Licença, senhorita. — Chamou o porteiro de trás do balcão onde ele estava segurando o telefone. — Sr. Kavanagh gostaria de lhe oferecer o carro dele para te levar até seu hotel. Eu espiei o telefone. Parece que Zac havia se recuperado o suficiente para lembrar suas boas maneiras. — Obrigada, mas eu não tenho um meio de devolver o carro. — Ele vem com um motorista. — Ah, certo. Claro que viria. — Eu balancei minha cabeça. — Eu não preciso do carro. Você pode chamar um táxi para mim, por favor? — Sempre tem um esperando do lado de fora. — Ele me deu um sorriso compreensivo, como se ele pensasse que Zac havia me mandado embora. Suspirei. Eu nem conseguia juntar um pouco de indignação. Eu estava exausta. Minhas emoções estavam estiradas até o limite, e meu coração ainda estava batendo a milhões de quilômetro por horas. Eu também estava com sede, fome e queria tomar banho. Eu conseguia sentir o cheiro de Zac em mim e era intoxicante, distrativo. Subi no táxi, apertando minha bolsa e sapato. Eu não me importei com o que o motorista pensaria ao dar o nome do meu hotel. Eu só queria me afastar de Zac o máximo possível e deixar toda aquela experiência no passado. O mais rápido que eu o esquecesse, melhor. Tudo estaria bem amanhã. Eu estaria de volta no escritório, trabalhando em um caso grande, cercada por pessoas que não tentavam me seduzir para conseguir tirar minhas calças. As pessoas que me conheciam de verdade, não as que diziam que conheciam para tentar dormir comigo. Meu celulartocou e meu coração se aquietou. Eu dei meu número a Zac? Eu não conseguia me lembrar. Eu não conseguia lembrar merda nenhuma, e sentia que não lembrar voltaria para me assombrar. CAPÍTULO 2 Não era Zac no telefone, e sim Katy. Informei que eu estaria de volta ao hotel em breve, e eu precisava conversar com ela. Ela parecia levemente satisfeita. Eu não tinha ideia do porquê. — Vocês me deixaram ir embora com um Kavanagh! — Eu acusei assim que abri a porta para nosso quarto de hotel compartilhado. Os sorrisos de Katy e Jemma deslizaram de seus rostos ao mesmo tempo. — E daí? — Jemma deu de ombros. — Era o Zac Kavanagh. O legal. Os outros estão casados agora. Se não me engano. — Com a exceção daquele que você mandou para a cadeia, — Katy acrescentou. Jemma fez um careta para ela. — Você não está ajudando. — Mas, bem, ela mandou. — Ela sabe disso, todas nós sabemos. — Eu não acho que Zac sabia. — Eu disse. — Ele não teria se interessado tanto por mim se soubesse que eu trabalhei contra o irmão dele. — Verdade. — Katy acenou, seu rosto suave e redondo se contorceu enquanto ela ponderava. — Você mudou. Tipo, está muito, muito diferente. Positivamente, quero dizer, não foi uma mudança ruim. De forma alguma. Você está bem fofa agora. — Foi pura sorte que ele não me reconheceu. — Informei. — Não sei. — Os olhos hazel de Jemma brilharam com malícia. — Teria sido divertido se ele tivesse decidido fazer você pagar. Talvez com algumas palmadas... — Jemma! — Eu balancei minha cabeça e postei meus sapatos lado a lado no guarda-roupa perto das minhas sandálias confortáveis. — Como foi? — Jemma colocou uma mecha do seu longo cabelo marrom atrás de sua orelha e se sentou na cama. Katy se sentou ao lado dela, seu rosto se iluminando em expectativa. Elas pareciam duas crianças esperando, euforicamente, pela história para dormir que seria lida para elas. — Ele é tão bom na cama quanto dizem? Pisquei olhando-as. Elas eram minhas amigas do trabalho, não velhas amigas do tempo de faculdade ou de antes. Eu não mantinha contato com ninguém do meu passado. Isso significava que elas não sabiam o que acontecia comigo quando eu ficava bêbada. Não era justo ficar irritada com elas. — Eu não lembro. Elas franziram o cenho em minha direção. — Então... Não foi tão bom? Jemma parecia desapontada. E eu dei de ombros. — Pode ter sido. Eu acho que transamos mais de uma vez. — Talvez três ou quatro vezes se eu poderia considerar minhas coxas como indício. — Mas quando eu bebo, eu esqueço. O queixo de Katy caiu. Jemma mordeu seus lábios. — Ah, querida. Sinto muito. Nós não sabíamos. — Ela olhou para a Katy, que balançou sua cabeça. — Tudo bem, eu nunca comentei antes. Eu deveria tê-lo feito. Katy se levantou e me abraçou. Ela era a mãe do nosso trio, a que sempre garantia que nós estávamos bem, e que nossas roupas íntimas e sapatos eram apropriados para a ocasião. Se ela soubesse sobre meu problema, ela nunca teria me deixado fora do seu campo de visão. — Isso deve ter te assustado quando acordou de manhã. — Ela disse. — Um pouco. — Eu acolhi seu abraço. Eu precisava. Acordar ao lado de um cara estranho me assustou, percebi, mas pelo menos eu tinha parado de tremer. Também notei que não tinha experienciado um dos meus ataques de pânico. — Então o que aconteceu de manhã? — Jemma parecia glamourosa como sempre, mesmo que ainda eram nove horas da manhã. O cabelo dela estava despenteado de uma forma estilosa, como se ela tivesse acabado de sair da praia, exceto que não tinha nenhuma praia à vista a quilômetros. As unhas dela tinham formas perfeitas, sua maquiagem já estava aplicada e ela até estava calçada. Katy voltou a se sentar na cama, sobre seus pés descalços. — Ele te falou o que aconteceu ontem? — Não exatamente. Por quê? O que aconteceu? O que eu fiz? — Nada. — Katy respondeu. — Nada que a gente saiba. — Jemma piscou. Katy rolou seus olhos. — Nós estávamos no bar juntas no meio da tarde e ele veio até a gente. — Ele veio até ela, Katy. Não precisamos enrolar. — Nós sabíamos quem ele era. — Katy continuou. — E eu só presumi que ele sabia quem você era no começo, mas ele não falou com você como se te reconhecesse. — Sério, por horas ele só tinha olhos para você. — Jemma cruzou suas pernas e se inclinou para trás, se apoiando em suas mãos. — Ele não parava de te encarar e era tão atencioso. Ele se agarrava a tudo que você dizia, como um gatinho com leite. — Você não deve dar leite a gatos, — Katy falou para ela, — faz mal para eles. Só pode dar água. Jemma girou seus olhos. — O ponto é: vocês conversaram por horas. Nem parecia que estávamos lá. — Eu bebi muito? — Talvez quatro drinks e isso durante várias horas. Você não parecia bêbada. Não estava falando enrolado nem nada. Suspirei. Exatamente como Zac havia dito. Eu não deveria ter chamado ele de bastardo por ter se aproveitado de uma bêbada. Mas como pedir desculpas agora? Eu não tinha o telefone dele. — Depois de algumas horas, você disse que iria embora com ele. — Jemma disse. — E vocês me deixaram? E se ele fosse um assassino da machadinha? Katy sugou seu lábio inferior e me olhou com grandes olhos de cachorro abandonado. — Eu sinto muito, Amy. De verdade. Jemma prendeu seu olhar ao meu. — Era Zac Kavanagh, pelo amor de Deus. Ele não é um desconhecido, ele é... uma celebridade. Se ele arrancasse um fio de cabelo na sua cabeça, ele estaria em sérios apuros, e ele sabe disso. Os Kavanaghs não são idiotas. — Com exceção do mais novo. — Katy disse. — Quão idiota ele foi para bater naquele cara? — Talvez tenha sido legítima defesa. — Eu murmurei, distraída. As duas me olharam como se eu tivesse ficado louca. Elas não tinham trabalhado no mesmo caso que eu, mas o acompanharam junto com todos no escritório da promotoria, e o resto da cidade. — Se acreditássemos na defesa. — Eu acrescentei rapidamente. — Na qual eu não acredito, a propósito. — Eu limpei minha garganta. — O Zac não me machucou. Ele foi... agradável. Mais ou menos. Jemma levantou suas mãos. — O que isso significa? O que ele fez que não foi agradável? — Eu o peguei mexendo na minha bolsa. — Para que? Eu dei de ombros. — Atrás de dinheiro, imagino. Katy e Jemma gargalharam. — Ele não ia roubar de você, idiota. — Jemma disse. — Os cofres de banco não são grandes o suficiente para guardar a riqueza dele. Eu me sentia como uma idiota. Ela tinha razão. Ele não ia roubar de mim. Mas então por que ele estava mexendo na minha bolsa? — Ele trabalha na empresa da família? — Ele tem seu próprio negócio no ramo do surf. Eles fazem roupas, pranchas, e esse tipo de coisa. Você já ouviu falar da Wave Rider? Acenei com a cabeça. — É a marca da empresa dele. — Como você sabe disso tudo? — Katy perguntou. — Meu irmão é um advogado corporativo. Ele trabalhou com o Zac no passado. Com aquisições e investimentos, não só no mundo surf, mas também em outras indústrias. Ele é cheio da grana. — E ele acabou de fazer trinta. — Katy esticou suas pernas e deitou na cama com um suspiro. — Você é uma sortuda, Amy. Eu andei para a porta do banheiro, com as mãos erguidas em rendição. — Primeiro de tudo, vocês duas me assustam com o tanto de coisas que sabem sobre ele. Segundo, eu não sou sortuda porque eu não vou mais me envolver com ele. — O quê? — Katy se sentou novamente. — Por que não? — Resumindo a história, ele não é meu tipo. Eu não vou atrás de caras mulherengos. — Mulherengo? — Você não achou isso ontem a noite. — Jemma murmurou. — Talvez eu não tenha ouvido as cantadas decoradas dele, — eu disse. — Ou talvez eu estivesse bêbada demais para notar. Mas, acredite, elas são terríveis. Não sei como uma garota sensata cairia nelas. — Ok, talvez eu soubesse. Talvez uma garota com a quantidade certa de ingenuidade e desespero gostaria de ouvir que ele nunca se divertiu tanto com outra pessoa, em toda a sua vida. Mas não eu. Senti o olhar delas queimando nas minhas costas quando entrei no banheiro. Depois de um longo banho, eu me acalmei suficiente para encará- las de novo. Eu até me acalmeio suficiente para pensar claramente sobre a situação na qual me enfiei. Tudo podia ter acontecido. Zac poderia mesmo ter sido um assassino da machadinha, e eu poderia ter me enfiado em sérios problemas. A única coisa com a qual eu tinha que me preocupar agora era se nós usamos proteção. O meio das minhas pernas não estavam queimando ou ardendo. E, pensando na outra complicação causada por sexo sem proteção, uma ou duas semanas seriam suficientes para cortar aquela possibilidade. Minha noite louca com Zac me confirmou uma coisa: eu nunca iria beber novamente. E que surfar era muito bom para desenvolver os ombros e os músculos das costas! *** Meu grampeador estava sumido. O espaço reservado para ele na minha escrivaninha se abria como uma boca enorme, me convidando a preenchê-lo. Eu só tinha saído algumas horas mais cedo na sexta para pegar o vôo para Vegas! Francamente, você não pode confiar em ninguém no escritório da promotoria de Roxburg. Eu me empurrei para longe da minha cadeira e coloquei minha cabeça sobre a partição para falar como minha assistente pessoal. Beverley não era só minha assistente. Ela trabalhava para três pessoas em nosso time, mas eu sentia como se ela fosse minha. Sempre que precisava de algum explicação, ou quando ela tinha alguma reclamação sobre os outros advogados, ela me procurava. Ela era uma mulher na meia-idade, tinha mais ou menos a idade da minha mãe, e era doce como torta de maçã. — Beverley, você viu meu grampeador? Ela piscou com seus olhos úmidos em minha direção, e fungou. — Eu não estava te acusando! — Protestei. — Eu só estava questionando onde ele foi parar. Seu rosto desmoronou e ela pressionou um lenço contra seu nariz. — Eu vou sentir sua falta, Amy. — Huh? — Eu fui demitida. — O quê? — Eu contornei a repartição e me empoleirei na beira de sua escrivaninha. — De jeito nenhum! Eles não podem te demitir. Você é incrível no seu trabalho. — Ok, ela não era incrível. Ela era... adequada. Se ela se esforçasse mais, ela iria de adequada para boa, mas ela não dava tudo de si e raramente colocava o esforço necessário para ser considerada boa. Ainda assim, ela não merecia ser demitida. — Jack me ligou nesta manhã e me demitiu. — Bastardo, — eu murmurei, olhando para a porta fechada do escritório de Jack. Nosso chefe normalmente não era um bastardo. Ele era um ótimo advogado, mas péssimo em confrontos. Então por que ele decidiu demitir Beverley? — Quer que eu fale com ele? — Você faria isso, Amy? Ah, muito obrigada. Eu preciso desse emprego. Com minha mãe doente e tudo mais, eu não tenho tempo para procurar outro. Eu dei um tapinha no ombro dela. — Espere aqui. Eu vou resolver isso. — Marchei para o escritório do Jack e bati na porta. Eu entrei sem ser convidada, mas Jack já estava acostumado com isso. Ele ergueu seus olhos da tela de seu notebook. — Nem comece, Amy. — Ele se afundou em sua cadeira, se acomodando ainda mais. Jack tinha uma postura péssima, e usar a tela do notebook não ajudava. Ele recusava pegar uma maior como as do resto de nós. Ele também recusava arrumar sua mesa. O que me deixava louca. Eu peguei os textos jurídicos e os devolvi para a estante, então comecei a alinhar os papéis em sua bandeja. — Então, por que você fez isso? — Eu não tenho que te responder — Não, mas seria gentil se você o fizesse já que você claramente não falou para Beverly porque você a demitiu. Sua mão grande se fechou sobre a minha, prendendo-a contra a mesa, com um lápis ainda em sua palma. — Pare de arrumar meu escritório. Você sabe que eu odeio isso. — Só estou tentando te manter organizado. — Eu sou organizado. Eu lutei contra a vontade de dizer que não parecia. Nós podíamos ter um relacionamento tranquilo, mas ele ainda era meu chefe e hoje parecia mais irritado que o normal. Ele me soltou e eu sentei. — E então? — Ela tem tomado liberdades demais atualmente. Folgas aqui e ali. Às vezes ela não volta depois do almoço. — A mãe dela está doente. Você sabe disso. E ela sempre pede permissão primeiro. — Não para mim. — Você nos deu permissão para dar folgas se ela precisasse quando você não estivesse aqui. Ele grunhiu e se concentrou na sua tela. Eu esperei, mas ele não disse nada. — Mais algum motivo? — Perguntei. — Volte para seu trabalho, Amy. Eu não quero discutir isso com você. Eu cruzei meus braços e esperei até que ele olhasse para cima. Ele encostou suas costas na cadeira, balançando-a perigosamente. Jack era um homem grande e, às vezes, eu me perguntava como os móveis de seu escritório sobreviviam carregando seu peso diariamente. — Beverley tem que ir embora, — foi tudo que ele disse. — Essa é a única explicação que eu vou dar. Agora vá. Nós temos trabalho a fazer. Você já leu os relatórios policiais? — Não, meu grampeador sumiu. Ele me encarou por alguns segundos, então abriu a gaveta da sua escrivaninha e me entregou seu grampeador. — Tem mais alguma coisa te impedindo de fazer seu trabalho? — Só a falta de assistente pessoal. — Isso já está resolvido. O substituto está esperando para começar. Assim que a Beverley deixar o prédio, ele estará pronto para entrar em ação. — Ele? Nós teremos um homem como assistente pessoal? — Não seja machista. Eu poderia jurar que as suaves dobras ao redor de seus olhos se ergueram em um sorriso, mas era difícil dizer quando Jack estava rindo. Quem disse que pessoas gordinhas eram alegres não conheceu Jack. Ele não era nenhum Papai Noel. — Desculpe, você tem razão. Não tem nenhum problema com um assistente pessoal do sexo masculino. Mas como você conseguiu alguém tão... Uau, Jack. Fala sério. Ele é um amigo seu? Ou um parente? — Não. — Ele voltou a estudar a tela de seu notebook, mexendo seu mouse. — Então como você conseguiu alguém tão rápido? — A nova agência de emprego é muito eficiente. Eu bufei. Ele ergueu sua sobrancelha em minha direção sobre a tela de seu notebook. — Volte para sua escrivaninha, Amy. Fale para Beverley... — Ele suspirou. — Fale para ela que não podia ser evitado. Seus dedos de salsicha clicaram no mouse, ele parecia concentrado. Eu não conseguiria uma explicação melhor. Pobre Beverley. Eu saí para informar-lhe de que eu não tinha sido bem-sucedida, e descobri que ela já não estava lá e havia um cara em seu lugar. Ele provavelmente era alguns anos mais novo que eu, no começo dos seus vinte, com cabelo marrom curto e um sorriso leve. Ele se ergueu ao me ver, e ofereceu sua mão. Ele era alto, acima dos um e oitenta, mas esguio, não tinha os ombros largos como- bem, não tinha ombros largos. Ele vestia calças pretas, uma blusa formal e gravata que pareciam ter um bom corte e serem caras. Seu paletó sob medida estava pendurado nas costas de sua cadeira. — Sou o Timothy, — ele disse, com a mão ainda esticada. Eu devo ter aparentado estar tão atordoada quanto me sentia, porque seu sorriso escorregou de seu rosto. Eu apertei sua mão e o sorriso voltou, mais brilhante que nunca. Sua mão ficou contra a minha por mais tempo do que era necessário para cumprimentos, e seus olhos prenderam-se aos meus durante todo o tempo. Eles eram azuis, mas não azuis como o céu claro, eram mais próximos de um azul-ardósia. — Eu sou Amy. A Beverley já foi embora? Ele olhou ao redor, como se esperasse que sua antecessora estivesse espreitando atrás de uma escrivaninha. — Parece que sim. — Você a viu? — Eu nunca vi o rosto dela. — Ah, certo. Então a agência te ligou sobre esse emprego hoje de manhã? — Cedo e no horário certo. — Ele acenou com a cabeça. — Eu estava fazendo minha corrida matinal. Foi sorte que eu estava com meu celular. — Eles são eficientes. — Muito. — Alguém já te mostrou o escritório? — Não, você se incomodaria? — De forma alguma. Só vai levar alguns minutos. Eu preciso voltar ao trabalho, de qualquer forma. Estamos começando um grande caso nesta manhã e teremos uma reunião em... — Eu chequei meu relógio. — Dez minutos. Vamos. Eu o apresentei ao resto da equipe, mostrei onde ficava a cozinha, o arquivo, a copiadora e todos os outros itens essenciais, antes do horárioda reunião. Jack estava esperando por nós. Ele se apresentou a Timothy, mas não deixou que seus olhares se encontrassem ao fazê-lo. Foi estranho. Jack era bom fazendo contato visual. Tendo trabalhado para o escritório da promotoria a maior parte da sua vida, ele entendia quanto poder estava contido no contato visual. Ele poderia influenciar o júri, intimidar o réu, ou encorajar uma testemunha nervosa. Algo estava acontecendo ali, e eu queria saber o quê. Não só por causa de Beverley, mas por minha causa também. Eu não conseguiria trabalhar em um lugar cheio de segredos. Assim como um cabo de eletricidade exposto, às vezes eles levavam as pessoas a cair e se machucar. Além do mais, eles só traziam desordem. — Espero não ter que lembrá-los da loucura da mídia que vai envolver esse caso. — Jack disse. — Grande parte da atenção estará sobre nós, nós não podemos cometer erros. Temos que colocar os paus nos is. — Você quis dizer colocar os pingos nos is, — eu lhe falei. Jack só me encarou. Provavelmente era um daqueles momentos que eu deveria ter ficado calada, mas era difícil deixar passar uma expressão idiomática incorreta. — Vamos revisar o que sabemos. — Jack checou toda a evidência que a polícia tinha apresentado sobre o caso Ky Kimble. Kimble era um jogador de futebol famoso acusado de estupro um ano atrás, mas as acusações foram retiradas por falta de evidência. A vítima, Bella, alegou que ela tinha consentido em transar com o amigo dele, não Ky, e não sabia que o cara errado tinha entrado em seu quarto no escuro. Só soube depois, quando ela ligou a luz. Era um caso difícil, mas uma cabeleireira tinha se apresentado afirmando que ela cortou o cabelo de Ky apressadamente, antes que ele fosse para o quarto da vítima. Aparentemente, ele lhe disse: “Bella não vai notar a diferença no escuro”. Ainda seria difícil conseguir uma condenação, mas com uma testemunha e o público no nosso lado, nós tínhamos uma chance. O júri supostamente não deveria ser influenciado pela opinião pública, mas Ky Kimble não era um homem que muitos gostavam. Ele era um sabe-tudo convencido, um arrogante que falava demais e usava táticas de intimidação nos jogadores rivais. Ele estava pisando na fina linha entre excêntrico, mas uma simpática personalidade do sport e imbecil irritante. A única real diferença entre Ky Kimble e outros como Mohammed Ali era habilidade. Mohammed Ali era um campeão. Kimble era um quarterback aceitável. — Amy, eu preciso falar com você. — Jack me convidou para o seu lado da mesa de conferência com um curvar de dedo. Os outros se retiraram. Eu estava esperando que ele perguntasse sobre a Beverley ou Timothy, mas ao invés disso, ele disse: — Você está encarregada da testemunha. Você precisa observá-la como uma águia. Não deixe que ela fale com ninguém associado à equipe de advogados do Kimble. — Você acha que eles pagariam para ela ficar calada? — É possível. — Eu vou conversar com ela, deixá-la ciente do que poderia acontecer. — Excelente. — Ele empilhou suas anotações e as colocou em uma pasta. — Se ela parecer hesitante, você precisava me avisar no mesmo instante. Entendeu? — Claro. Eu não vou deixar ninguém chegar até ela. — Não é isso que eu quiser dizer. Quis dizer se ela parecer... hesitante. — Você acha que ela voltaria atrás mesmo sem Kimble entrando em contato com ela? — Tudo é possível. Estou contando com você, Amy. Esse caso vai pegar fogo na mídia, então mantenha sua cabeça baixa e fique longe de confusões. — Ele bufou. — Desculpe, eu esqueci com que eu estava falando por um minuto. Uma mulher que não suporta perder seu grampeador não vai esquecer de colocar os paus nos is. — Os pingos. — Tanto faz. — Ah, Jack, sobre Timothy. Você tem certeza que ele não foi plantado aqui pelo time do Kimble para nos espionar? O bufar produzido foi seguido por uma risada. O som contínuo, estrondoso, surpreendeu-me. Eu não conseguia me lembrar de tê-lo ouvido antes. — Você tem assistido muita televisão. Não há espiões nesse escritório. — Mas você não acha que o aparecimento repen- — Volte para o trabalho. Não temos mais nada a discutir. Eu me exasperei silenciosamente por alguns segundos antes de deixá-lo com sua rabugice. Voltei para minha escrivaninha, observando atentamente Timothy enquanto eu passava. Ele olhou para cima e sorriu para mim. Parecia falso, em minha opinião, mas talvez ele estivesse extrapolando em sua compensação por ser seu primeiro dia. Ele queria se adaptar imediatamente. Ele parecia ter compreendido sua função e já estava digitando, seus dedos voando pelo teclado. Mas ser um datilógrafo eficiente não significava que ele não era um espião, só significava que ele estava preparado para seu papel. Ao chegar a minha escrivaninha, eu já tinha me acalmado um pouco. Jack possivelmente tinha razão. Minha teoria de espião no campo inimigo era muito surreal para a vida real. Só o tempo diria se Timothy era um bom assistente pessoal. Tempo e alguns desafios lançados em sua direção por um colega desconfiado. Eu estava simultaneamente pensando em testes enquanto pesquisava pelos documentos com o número da testemunha, sendo interrompida por Katy e Jemma. Elas se empoleiraram nas laterais da minha escrivaninha e se inclinaram para perto. — E então? — Jemma sussurrou. — Ele já te ligou? — Quem? Aquele comentário me fez ganhar um rolar de olhos de ambas. — Você sabe quem. — Katy cantarolou. — Claro que não. — Eu respondi. — Por que ele entraria em contato comigo? — Porque ele quer te ver de novo. Duh. — Primeiro de tudo, eu duvido. Você conhece a reputação dele. Ele já deve estar perseguindo sua próxima conquista. Segundo, ele provavelmente não tem meu número. Jemma torceu sua boca vermelha brilhante para o lado. Enquanto, durante os finais de semana, ela tinha aquela aura de garota da praia, em seu horário de trabalho, de segunda a sexta, ela era tão elegante e sofisticada quanto qualquer outro advogado. — Tenho certeza que ele tem. Ele parece o tipo de cara que coleta telefones. Você tem o dele? Eu quase disse que não tinha, mas então me detive. Como eu poderia ter certeza? — Eu não chequei. — Eu procurei pelo meu celular dentro da minha bolsa e chequei a tela. Uma chamada perdida de um número desconhecido. — Não. — Eu disse, procurando pelos Zs e Ks, só por via das dúvidas. — Se eu não tenho dele, ele provavelmente não tem o meu. A chamada perdida. De um número desconhecido. Com certeza não era ele. — Agora se vocês não se importam, senhoritas, eu tenho que trabalhar. — Eu fiz um gesto para que elas fossem embora e ambas desceram da minha escrivaninha, mas não foram a qualquer lugar. — Quem é a criança fofa? — Jemma perguntou, balançando sua cabeça em direção ao Timothy. — Novo assistente pessoal. — O que aconteceu com a Bev? — Dispensada hoje de manhã. — Não brinca. O que ela fez? Eu dei de ombros. — Eu não tenho certeza. O Jack a demitiu sem aviso prévio e um minuto depois Timothy apareceu como um filhote saltitante. Katy franziu a testa, observando as costas de Timothy. — Pobre Beverley. Ela está bem? — Ela ficou bem chateada. Eu vou ligar para ela mais tarde para ver se ela precisa de algo. — Dei de ombros. — Eu falei com o Jack em nome dela, mas ele não escutou. — Idiota. — Jemma murmurou, lançando um olhar irritado em direção ao meu chefe enquanto ele voltava para seu escritório. Ele estava falando em seu telefone e não percebeu. — Você vai deixar por isso mesmo? — Kate perguntou. Às vezes ela tinha o hábito de trocar de tópicos sem notar e eu tinha dificuldade em acompanhar seu raciocínio. Acho que ela tinha diálogos em sua cabeça que acreditava terem acontecido em voz alta e continuava do momento em que eles pararam. Lancei-lhe um olhar sem expressão. — Com o Zac? Você vai tentar ligar para ele? — Não. Por que eu faria isso? — Porque ele é gostoso. — Jemma respondeu por ela. — E estonteante. E sexy. E super rico. — Nenhum desses são bons motivos para ligar para um cara na manhã seguinte. — Então você está categorizando a situação como umde caso de Vegas. — Katy concluiu. — Sim. O que acontece em Vegas e todo o resto. — Eu apontei meu dedo para cada uma delas. — Nenhuma de vocês vai mencionar isso para ninguém. Entendido? Foi um grande erro confraternizar com um Kavanagh. Se a mídia ficar sabendo, eu poderia perder meu emprego. — Não seja tão dramática. — Jemma disse. Mas Kate acenou. — Acho que ela está certa, Jem. Causaria uma grande comoção, e não positivamente. Se a Amy não está tão interessada assim no Zac, não valeria a pena. — Ela arqueou ambas sobrancelhas na minha direção. — Você não está, está? — Não! Ele não é nem um pouco meu tipo. Jemma girou os olhos novamente. Se ela continuasse naquele ritmo, correria o risco de suas lentes de contato saltarem de seus olhos. — Você sabe que os caras que você acredita serem seu tipo, não são seu tipo, certo? — Isso não faz sentido. — Eu as expulsei. — Vão. Eu tenho que trabalhar. Se eu não começar a parecer ocupada, o Jack vai vir aqui e gritar comigo. Elas saíram, prometendo me levar para almoçar. Eu acho que elas queriam fofocar mais sobre o Zac. Mas elas se desapontariam. Porque eu não tinha nada mais a dizer. Jemma olhou Timothy de cima a baixo ao passar e ele ligou um belo sorriso que parecia mais genuíno do que aquele que ele havia me oferecido. Eu o estudei atentamente, tentando entendê-lo. Pela forma que ele olhou Jemma, eu tinha certeza que ele não era gay. Ele percebeu que eu estava olhando e corou, logo em seguida voltou a digitar furiosamente, martelando o teclado. Encontrei o telefone da testemunha e liguei para ela. Yolanda Murphy tinha uma voz feminina aguda com um sotaque de Nova York. Ela devia estar no trabalho porque o som de um secador de cabelo zumbia no fundo. Eu a fiz prometer que me procuraria se tivesse alguma dúvida, e reforcei a importância de não falar com mais ninguém sobre o caso. — Nem mesmo minha mãe? — Não. — Meu namorado? — Nem ele. Só comigo. Se alguém parecer estar fazendo perguntas demais, então eles podem ser suspeitos. Ela pausou e eu fiz uma careta. Eu falei demais? E agora ela estava entrando em pânico? — Certo. — Foi tudo que ela disse. — Só você. Entendi. Desliguei e voltei para o trabalho. Meia hora depois, Timothy me entregou uma pilha de papéis. — Aqui está o relatório que você pediu a Beverley para digitar. — Que rápido. — Imagino que todo aquele ataque ao teclado tenha compensado. Eu folheei as páginas enquanto ele voltava para sua escrivaninha. O documento estava asseadamente preso e muito bem- apresentado, mas os títulos não sobressaiam muito bem, e o sumário estava no começo, não no fim. Eu andei até a escrivaninha dele e coloquei o documento sobre ela. — Tem algo errado com ele? — Ele parecia preocupado e me senti como se fosse cruel. Mas eu tinha que falar. Aquelas duas coisas estavam me incomodando de verdade. — Não é o mesmo jeito que Beverley fazia as coisas. Ele pareceu relaxar um pouco, e até mesmo sorriu. — É porque eu não sou a Beverley. Eu abri no sumário. — Ela coloca isso no final. — Meu antigo chefe me falou para sempre colocar o sumário na frente. Para que os superiores não tenham que ler todo o relatório, e possam ler o sumário e pronto. — O ponto é fazer que eles leiam todo o documento. Qual é o sentido de escrever se eles não vão ler? Se for o caso, podemos só escrever sumários e nada mais. Ele me olhou como se achasse que aquilo economizaria muito tempo. — Eu vou fazer a alteração. — Obrigada. E os títulos deveriam ser tamanho 16 e em negrito. Eles não estão sobressaindo o suficiente como estão atualmente. — Eu mudei o estilo da fonte para deixá-los diferente do texto original, e o tamanho deles é 14, enquanto o resto do texto é doze. — Não é a mesma coisa. — Não, não é. — A voz dele soava como “sim, e daí?” — Eu vou refazê- los também, que tal? — Isso seria ótimo, obrigada. — Eu quase comecei a sair, mas me senti mal por forçá-lo a fazer trabalho extra. — Desculpe, eu gosto das coisas sendo feitas de um jeito específico. Meu jeito é mais organizado e eu gosto de ser organizada. Seu olhar deslizou para minha mesa, onde tudo estava em seu devido lugar. — Percebi. — Se te faz sentir melhor, a Beverley precisou de várias tentativas até escrever um relatório do jeito que eu gosto. Você só cometeu dois erros. — Eu lhe ofereci um jóia com o polegar. — Bom trabalho. — Céus, eu soava como uma idiota. Um jóia? Que pateta. Não era surpresa que Zac Kavanagh não tenha pedido meu número. Eu não era digna de ser perseguida além daquela noite. Uma noite na qual eu nem fui eu mesma, de qualquer forma. Eu não me lembrava de como havia agido, mas eu não era o tipo despreocupado e selvagem, com o qual ele provavelmente estava acostumado. Eu me lembrei da chamada perdida no meu telefone e estava pronta para checá-la quando Timothy segurou minha mão. Eu a encarei e ele rapidamente a largou. — Desculpe. — Ele murmurou. — Eu só queria perguntar se você almoçaria comigo hoje. Pensei que seria agradável se eu conhecesse meus colegas de trabalho fora do escritório. No primeiro dia? E por que eu e não os outros da equipe? — Eu não posso hoje. Eu vou ter que almoçar com minhas amigas se não estiver comendo na minha mesa. — O que era uma possibilidade evidente considerando o caminho que meu dia estava seguindo até então. Eu mal produzi qualquer coisa. A expressão de Timothy parecia desapontada e suas bochechas ficaram rosadas. — Meu convite passou dos limites? — Não, claro que não. — Pobre criança. Eu não queria que ele se sentisse mal. — Outra hora, ok? Ele se alegrou. — Claro. Seria ótimo. Eu acho que vou gostar de trabalhar com você, Amy. — Certo. Eu também. Quero dizer, vou gostar de trabalhar com você. — Eu ri e ele também. Tenso e desconfortável. Ele estava flertando comigo? Eu esperava que não, mas não tinha certeza. Normalmente eu era capaz de dizer, mas Timothy era diferente. Eu recebia sinais confusos vindos dele. Havia algo sobre ele que eu não conseguia identificar. Talvez eu descobrisse depois de conhecê-lo melhor. Eu apanhei meu telefone de novo quando cheguei na minha escrivaninha. Uma mensagem havia sido deixada pelo mesmo número. Meu coração tropeçou em si mesmo enquanto eu escutava, e se afundou quando percebi que não era a voz profunda, suave de Zac na mensagem. Era um repórter. Ele queria saber sobre o caso do Ky Kimble. Eu deletei a mensagem e coloquei meu telefone ao lado do meu teclado. Alguém estúpido o suficiente para acreditar que eu falaria sobre o caso não merecia uma resposta. Eu não estava interessada em repórteres, ou em Ky Kimble, na verdade. Eu estava mais interessada em minha reação a mensagem. Ela me surpreendeu. Eu tinha pensando que era Zac — torcido que fosse ele — e fiquei desapontada quando notei que não era. O que isso falava sobre mim? Que eu era uma perdedora, desesperada por qualquer tipo de companhia, até mesmo a dele? Meu celular vibrou novamente, quase tremendo para fora da escrivaninha. Eu o apanhei e atendi como um “oi, é a Amy.” — Amy? Ei, fico feliz que você atendeu. É o Zac. Nós precisamos conversar. CAPÍTULO 3 — Hum...— Sensacional, Amy. — Oi. — Eu acrescentei. — Desculpe, eu não posso falar agora. Estou trabalhando. — Não desliga! Eu não pretendia fazê-lo. Por que eu não estava prestes a desligar? — Ok. — Eu não quero falar pelo telefone. — Os traços melódicos em sua voz atravessaram a linha e me fizeram pressionar meu telefone firmemente contra minha orelha. Sua voz era hipnotizante. Não era uma surpresa que eu tenha ficado ouvindo ele falar por horas no sábado à noite. — Podemos nos encontrar para almoçar? Era a primeira vez que eu tinha tantos convites para almoço em um dia, dois deles de caras. Que sortuda. — Não posso. — Hoje à noite? — Tenho que trabalhar até mais tarde. — Talvez. Silêncio. Será que ele não sabia que eu estava o evitando? — Eu podia te buscar e te levar para tomar alguma coisa. Onde você trabalha? — Vou ficar aqui até bem tarde. Desculpe. Pensei ter ouvido-o inspirar profundamente, mas pode ter sido barulhode fundo. — Você tem que comer em algum momento. Eu posso levar o jantar para você. Você trabalha para uma das principais firmas de advocacia? — Como você sabe que eu sou uma advogada? — Você me contou. Ah sim, essa deve ser uma das conversas das quais eu não me lembrava. — Eu vou comer na minha mesa hoje e depois vou direto para casa, para dormir. Eu tenho muito trabalho para fazer. Mais silêncio. Ele provavelmente estava decidindo se eu era digna de ser perseguida ou não. Zac provavelmente pensou que eu era fácil, não sendo uma modelo maravilhosa, e pularia na cama com ele de novo. Há! Um tolo. — Você marca o dia então. — Ele disse, eventualmente. — Eu estou trabalhando em um grande caso agora. Não é um bom momento. — Você não pode me evitar para sempre. Isso era o que ele achava. — Olha, Zac, eu pensei que tinha sido clara ontem de manhã. Eu não quero te ver de novo. Eu me encolhi diante de minha frieza. Eu teria voltado atrás imediatamente se fosse um cara normal, mas eu tinha certeza que Zac Kavanagh conseguia suportar um pouco de rejeição. Se não, ele precisava aprender. Ele provavelmente já disse algo igualmente cruel para várias mulheres. — Eu não vou fingir que estou contente em te ouvir dizendo isso. — Ele disse. — Mas ainda precisamos conversar sobre o que aconteceu no final de semana. Tem algo que você precisa saber. Ah, merda. Nós não usamos proteção. Eu fechei meus olhos, amaldiçoando minha baixa tolerância para bebidas e a idiotice dele de não pensar por nós dois. Como ele pôde não ter insistido em usar proteção? Eu me inclinei para trás em minha cadeira e esfreguei minha testa. Quando eu afastei minha mão, Jack estava pairando em frente a minha escrivaninha. Para um cara tão grande, definitivamente, ele se esgueirava sorrateiramente. — Eu tenho que ir. — Eu falei para Zac rapidamente. — Eu vou te ligar nesse número se... algo acontecer. — O que você quer...? Eu desliguei e coloquei meu celular no silencioso. — Desculpe. — Eu disse a Jack. — Ligação pessoal. — Não sendo a mídia... Um repórter já entrou em contato comigo. — Eu ignorei um mais cedo também. Não se preocupe, eu não vou falar com eles. — Ótimo. Você falou com a testemunha? Eu transmiti a minha conversa com Yolanda, depois voltei ao trabalho. Passei o resto do dia na minha escrivaninha, pulando o almoço com as meninas. Timothy me trouxe uma baguete da lanchonete do outro lado da rua e se convidou a sentar comigo. Ele conversou enquanto eu comia. Foi desconfortável no começo, mas depois de cinco minutos ouvindo sua história, comecei a gostar dele. Ele era um cara legal, eu já não sentia que ele estava me estudando para dar em cima de mim. Só parecia que ele queria se encaixar no seu primeiro dia, e eu não poderia culpá-lo por causa disso. Ele voltou para sua mesa, jogando o embrulho da minha baguete no lixo ao passar e cerrou seu punho em comemoração quando acertou. É, apenas uma criança. E uma criança simpática. Eu tentaria não ser muito dura com ele. No final das contas, Timothy era um fantástico assistente pessoal. Ele trabalhou junto com nosso time durante a semana, organizando depoimentos, revisando declarações, formulando nossos argumentos. Eu já não pensava que ele era um espião para a defesa de Kimble, mas eu ainda não tinha certeza se ele estava tentando me conquistar. Timothy era muito charmoso, sempre reservando os sorrisos mais brilhantes para mim, fazendo pequenas coisas tipo preparar meu café exatamente como eu gostava, na xícara correta, e até a colocava no mesmo lugar todos os dias, onde eu lhe pedi para deixá-la no primeiro dia. Mesmo assim, eu tinha a sensação que ele estava interessado na Jemma, não em mim. Ela recebia os sorrisos genuínos, enquanto eu os ofuscantes. E ele encarava a bunda dela quando ela saía, não a minha. Eu vesti meu terninho mais justo na sexta só para ter certeza, e olhei sobre meu ombro para verificar se ele estava me olhando. Não, não estava, e eu me orgulhava da minha bunda. Eu odiava mistérios, e ele definitivamente estava agindo de uma forma um pouco estranha comigo. Mas eu não tinha mais ideias do porquê. Zac ligou novamente na terça. Eu reconheci o número e não respondi. Eu não tinha adicionado ele à lista de contatos, mas seu número era distinto o suficiente para que eu soubesse todas às vezes que ele ligava. E ele ligou duas vezes na terça, quarta e quinta. Também deixou mensagens. A primeira perguntava o que eu quis dizer com “se algo acontecer”. Na segunda, ele me pediu para ligar para ele. Na terceira e quarta, ele disse que parecia ter havido um mal-entendido entre a gente e estávamos falando de coisas diferentes. Aquelas mensagens quase me fizeram retornar a ligação para descobrir do que ele estava falando. Isso, e a voz dele. Eu me mantive firme e deletei as mensagens. A quinta mensagem estava suavemente marcada por frustração. Ele me pediu para “por favor, me ligue volta. É realmente importante”. Na sexta e última mensagem de voz, ele me disse que estava ciente que parecia um stalkear, então ele não ligaria mais, contudo iria pedir uma última vez que eu o encontrasse novamente antes que eu bloqueasse o número dele. Eu sorri com o comentário. O cara sabia exatamente o que eu estava pensando. Na sexta, cinco dias depois que eu o vi pela última vez no seu quarto de hotel em Vegas. Ele mandou uma mensagem: Por favor me encontre hoje. Sem compromisso, só para uma conversa. Me mande um texto falando ‘sim’ e eu te informarei onde. Por capricho, enviei um ‘não’. A mensagem que retornou imediatamente dizia: mesmo estando honrado que você finalmente se dignou a responder, eu preferiria que você falasse não na minha cara. Me encontre no The Hub hoje, às 8, para bebermos algo. Por favor. Temos que discutir coisas MUITO importantes. Eu não respondi. Estava ocupada na maioria das sextas à noite, de qualquer forma. Minha mãe e eu normalmente nos encontrávamos para lamentações e um jantar acompanhado por vinho. Eu deslizei o telefone de volta para minha bolsa com um suspiro. Zac era insistente, eu admitia. Era agradável ser perseguida por um cara gostoso, mas eu não deixaria que aquilo me afetasse. Não significava nada além de que seu ego estava ferido pela minha rejeição, e agora ele precisava provar a si mesmo que conseguiria conquistar todas garotas, até mesmo as teimosas. Eu me perguntei quantas rejeições ele enfrentou em sua vida. Minha mãe já estava no meu apartamento quando cheguei em casa. Eu lhe dei minha chave depois que mudei, e me arrependi desde então. Ela tinha o hábito de chegar sem avisar. Seria aceitável se ela já tivesse começado a cozinhar, mas ela não o tinha feito. Ela estava sentada em um banco da bancada da cozinha, com um copo de vinho cheio ao seu lado. Seu cabelo loiro estava curvado sobre algo em sua mão, suas unhas rosas batucavam na bancada. Eu beijei sua bochecha fria, absorvendo o aroma de seu perfume favorito. Ela me beijou de volta, mas parecia distraída. — Eu trouxe frango e torta de vegetais. — Informei. — Eu não tive tempo de fazer compras e está ficando tarde. — Já eram quase seis e meia. Ela balançou um envelope na minha direção. — Por que você está recebendo um correio de Nevada? Eu peguei o envelope dela. O remetente era um cartório. — Eu não sei. Coloquei o envelope junto com os outros e o alinhei na pilha, para que as extremidades não estivessem separadas. Ela colocou sua mão sobre a minha. — Querida, você não me contou muito sobre seu final de semana lá. — Não tem muito para contar. Foram duas noites. — O que você fez? Dei de ombros. — O típico. Seus olhos cercados por grossos cílios alongados por máscara se estreitaram em minha direção. — O típico é fazer apostas, se nós estamos falando de Vegas. E você não aposta. — Nós fizemos coisas de turista. — Eu liguei o forno e tirei uma bandeja. — Bebemos em um bar, nadamos na piscina do hotel. Só nos divertimos juntas. Seu dedo clicou sobre a carta no topo da pilha. — Você sabe o esse cartório faz? — Faz registros? Talvez eu recebi uma multa. Eu achoque dirigi um carro alugado um pouco rápido demais quando chegamos. Fiquei animada ao chegarmos lá. Não deve ser caro demais. — Amy. — Sua voz severa me assustou. Eu pisquei em sua direção e dei de ombros. — Não minta para mim. — Não estou mentindo, por que eu mentiria para você? Sobre o que eu mentiria? Ela pegou o envelope e usou sua garra para abri-lo. Ela puxou o papel, o desdobrou e o balançou em frente ao meu rosto. — Isso. Eu conferi a página, escaneando as palavras. Arranquei o papel dela e li novamente. Não. Não podia ser. Aquilo não estava acontecendo. Não era uma multa, era um certificado de casamento. Meu nome estava lá, assim como o do Zac. Eu deixei o papel cair no chão, e imediatamente fiz a mesma trajetória. Inclinei-me contra o armário da cozinha e inalei, mas eu parecia incapaz de recuperar meu fôlego. — Você não sabia? Eu balancei minha cabeça. — Eu bebi um pouco sábado à noite. — Ah, é geralmente assim que essas coisas acontecem. — Ela pegou o certificado, mas eu o tomei da sua mão antes que ela visse o nome de Zac. Se ela o visse, ela começaria a ter todo tipo de ideia em sua cabeça, me imaginando casada com um Kavanagh, tendo bebês bonitos e vivendo em uma mansão em Serendipity Bend. Eu não conseguiria lidar com minha mãe se ela acabasse eufórica diante daquela situação. — Eu só queria ver o nome do seu marido. — Ela disse. Gemi. — Ele não é meu marido. Ele é um erro. Eu vou pedir anulação. — Você precisa de advogados para isso. Então foi por isso que Zac me ligou tantas vezes durante a semana. Ele se lembrava de termos nos casado e queria me informar que nós estaríamos anulando o casamento. Ele só não queria me falar sobre isso pelo telefone. Não que eu soubesse o porquê. Não era nada demais. Minha respiração estava rápida e curta. Meu coração acelerou, debatendo- se contra minhas costelas. A mão da minha mãe descansou na minha nuca novamente, me distraindo do sangue correndo por meu corpo. Ela estava cantarolando, notei. You are my sunshine, a mesma música que ela sempre cantarolava durante esses episódios. A voz dela era tão tranquilizante quando sua mão. Fazia anos desde meu último ataque de ansiedade, e eu esperava que tivesse superado eles. Aparentemente a ideia de casar — de estar casada — era demais para mim. Todas minhas antigas ansiedades voltaram se chocando em mim com a força de uma onda gigante, ameaçando varrer tudo pelo qual eu trabalhei tanto para conquistar — minha independência, minha carreira, minha vida. Eu tinha que afastar os pensamentos antes que eles me consumissem completamente e o pânico voltasse. O casamento não era permanente. Nós nem precisávamos passar por um divórcio normal. Claro que Zac pensava o mesmo já que ele passou a semana inteira me incomodando. Eu chequei meu relógio. Eu tinha tempo. Levantei-me e peguei meu telefone. Sim, eu enviei a mensagem para o número de Zac. Vou estar lá às oito. Minha mãe entrou no modo-mãe o que não acontecia com frequência, então eu a deixei. Ela encheu um copo de vinho para mim e se apressou pela cozinha para fazer uma salada para acompanhar nossa torta. Mas o modo-mãe sempre vinha com um custo. — Por que você não me conta o nome dele? — Ela perguntou. — Não é importante. Nós vamos anular o casamento e eu nunca vou vê- lo novamente. — Por que você não quer vê-lo novamente? Qual é o problema com ele? — Ele não é... meu tipo. Aquele comentário produziu o som mais deselegante que eu já tinha ouvido ser feito pelo nariz da minha mãe. Eu não conseguia decifrar o que aquilo significava. — Talvez você devesse dar uma chance a ele. Você pode acabar descobrindo que gosta dele. — Eu duvido, ele é um mulherengo. — Como você pode saber se não lembra da noite de sábado? — A reputação dele tem um grande alcance. Ela engasgou e virou-se, com a faca em mãos. — Ele é famoso? — N-não. Mas minha mãe não me ouviu, ou talvez tenha escutado a minha hesitação e adivinhou que eu estava mentindo. — Ah, meu deus! A minha garotinha está casada com alguém famoso. Eu sempre soube que sua aparência faria que te notassem. Claro, sempre pensei que seria para virar modelo ou trabalhar na televisão, mas você nunca demonstrou qualquer inclinação para esse tipo de coisa depois do desastre daquela apresentação de teatro na quarta série, mas eu nunca perdi as esperanças. — Mãe, pare. — Ele é um ator? — Mãe. — Um atleta famoso? — Ela ofegou. — Tinha um torneio de golfe em Vegas nessa semana. Ele é jogador de golfe? — Não! — Porque tudo bem se ele for. Jogadores de golfe não são os atletas mais sexies, mas eles ganham muito dinheiro. Não tanto quanto jogadores de basquete ou jogadores de futebol americano, mas uma quantidade decente. — Não acredito nisso. Eu não vou responder a suas perguntas. — Cruzei meu braço sobre meu peito, então percebi que não poderia beber vinho daquela forma. Peguei meu copo e virei o resto. Minha mãe voltou a cortar. — Você precisa de um casamento adequado. Eu gemi e descansei minha cabeça na bancada. O mais rápido que eu conseguisse balançar o papel da anulação na frente dela, melhor. Se não, ela começaria a trazer revistas de casamento. Eu não me surpreenderia se ela tivesse uma escondida na bolsa dela. Ela esteve sonhando com meu casamento desde que eu nasci. Quando eu fiz dezoito e comecei a namorar, ela me pressionou sobre a seriedade de cada relacionamento. Segundo ela, eu nunca me casaria se eu não os desse uma chance, ou se encontrasse problemas em cada pequena coisa que eles faziam. Eu respondi que não tinha problema. Casamento não era para mim. Era para mulheres como ela. Mulheres sem carreira, que precisavam de um homem para fazê-las se sentirem autossuficientes. Mulheres que se apaixonavam desesperadamente com qualquer cara que lhes desse um pouco de atenção e depois ficavam com o coração partido quando ele fosse embora. Era um milagre que minha mãe só tivesse casado quatro vezes. Houve tantos “quase noiva” que perdi a conta. — Eu vou trazer meu livro de recortes de casamento amanhã. — Ela ergueu suas duas mãos antes que eu pudesse falar. — Caso você mude de ideia. — Livro de recorte de casamento? — Eu estive coletando fotos por trinta e dois anos e colando nesse livro. Está bem grosso atualmente. — Mas eu só tenho vinte e nove. — Originalmente não era destinado a você. — Seus longos cílios se abaixaram, como cortinas sobre seus olhos, e ela voltou a cortar tomates. Eu mordi meus lábios. Minha mãe estava coletando fotos de casamento para ela. Trinta e dois anos atrás foi aproximadamente quando ela conheceu meu pai. Ele era um jogador de baseball, e ela a Miss Roxburg. O romance deles foi como um furacão e eles se casaram dentro de seis meses. Mas meu pai não era simplesmente um jogador de baseball. Ele era também um viciado em jogos de azar e um mulherengo que tinha uma garota diferente em cada cidade, em alguns casos mais de uma. A reputação dele era bem conhecida, a única que não sabia era minha mãe. Até o dia que ela recebeu a carta de uma das amantes dele, irritada por que o homem que ela amava se recusava a abandonar a esposa dele por ela. Eles discutiram, minha mãe colocou meu pai na rua, mas ele pediu para voltar para casa. Ela deixou. Então um dia, quando eu tinha cinco, ele só se levantou e saiu para viver com outra mulher. Minha mãe ficou devastada. Meu pai e eu éramos sua a vida inteira. Ser uma boa esposa era tudo para ela. Ter como marido um famoso jogador de baseball era importante, fazia que ela se sentisse importante. A partida dele deixou um grande buraco no mundo dela. Ela chorou por dias e apenas se ergueu novamente quando um novo vizinho começou a demonstrar interesse por ela. Minha mãe se casou com ele, só para se divorciar um ano depois. Então ela se casou de novo, e de novo. Cada marido era igual ao anterior. Bonito demais, charmoso demais, pronto para levar toda e qualquer mulher bonita para cama. Ela finalmente desistiu de consertá-los depois do marido número quatro. Foi pouco tempo depois disso que meu pai voltou, implorando por perdãoe pedindo uma nova chance. Minha mãe o aceitou de volta, dizendo que ela o amava apesar de tudo. No final das contas, ele estava morrendo de câncer e precisava de uma cama macia na qual se deitar e uma mulher para cuidar dele nos seus últimos meses. Ele não tinha dinheiro, nem casa, só tinha a gente. Minha mãe deu a ele tudo que ele precisava, eu não lhe dei nada. Nós não mantivemos contato nos anos que ele esteve longe, eu não queria ter nada a ver com ele. Algumas pessoas não mereciam filhos, ou companheiros como minha mãe. Eu deixei ela tagarelar sobre seu livro de casamento. Era o mínimo que eu poderia fazer já que ela tinha me dado tanto suporte durante os anos, trabalhando duro para colocar comida na mesa e me fornecer um verdadeiro lar. Dentre todo mundo, era ela quem me entendia melhor. Ela sabia porque eu tinha ataques de pânico, e como terminá-los. Ela sabia porque eu queria continuar solteira, mesmo que a mataria admitir. Ela sabia porque meu trabalho era tão importante para mim. Eu saí de casa às sete e meia, despedindo-me da minha mãe logo depois que comemos. Eu usava uma saia cinza na altura dos joelhos, ao invés de jeans ou calças, e um top prateado com um decote cascata. Meu cabelo curto era fácil de arrumar, motivo pelo qual eu o amava tanto, e brincos longos ficavam elegantes com ele. Então escolhi pequenas argolas. Eu também coloquei pouca maquiagem e sapatos com saltos modestos. Nada de salto agulha. Nada que o fizesse prestar muita atenção em mim. Eu cheguei cedo ao The Hub, um bar no centro de Roxburg que atraía uma variedade de pessoas, de funcionários de empresas bebendo depois de um dia de trabalho, aos jovens aproveitando para colocar o papo em dia antes de se dirigir para as boates próximas. Zac não estava lá quando eu cheguei, então eu pesquisei sobre anulação de casamento no meu telefone enquanto esperava. Não parecia muito difícil de conseguir. Se Zac não sabia meu sobrenome, eu teria que lhe informar. Bem, não seria um problema já que eu não o veria novamente. Sem contar que eu poderia mandar uma mensagem com a informação. E meu sobrenome talvez não o ajudasse a se recordar de qualquer coisa. Fazia dois anos desde o julgamento do seu irmão, e eu não fui a principal assistente da promotoria. — Ei. Deixei meu telefone cair sobre a mesa ao ouvir sua voz. — Ah, oi. — Eu deslizei meu telefone de volta para minha bolsa e o olhei. Céus. Ele era tão bonito vestido quanto era nu. Usando calças pretas e uma blusa cinza-escura que se ajustava bem sobre seus ombros, Zac era o homem dos sonhos de todas as mulheres. Seu cabelo escuro estava mais organizado, abandonando o estilo acabei-de-transar, e sua barba estava feita. Ele parecia muito mais alto que todos os outros caras, mas talvez aquela sensação fosse acarretada pelo fato dele estar muito próximo de mim. Seus olhos azul-claro se focaram em mim, absorvendo meu cabelo, rosto, mãos. Ele inalou fundo e sorriu brevemente, como se estivesse preocupado que eu não apareceria no final das contas, e estava contente que eu estava ali. Ele era bom, eu admitia. Zac conseguiu me fazer sentir especial sem fazer nada além de sorrir e me olhar. Ele se inclinou para perto e beijou minha bochecha antes que eu notasse o que estava acontecendo. Ele cheirava a uma loção-pós-barba sutil e cara. — Você esperou por muito tempo? — Zac perguntou. — Só alguns minutos. — Tempo suficiente para pedir uma bebida, vejo. — Ele acenou em direção ao meu vinho branco e ergueu um dedo. Uma garçonete estava ao seu lado em um piscar. Ele pediu uma cerveja, focando toda sua atenção na atendente enquanto o fazia. Ela sorriu melancolicamente quando ele voltou a se virar para mim, e demorou mais que o necessário para ir embora. Girei meus olhos, mas Zac percebeu. E franziu a testa. — Desculpe por todas aquelas mensagens. — Eu recebi uma correspondência do cartório hoje. — Eu lhe informei. — Ah, sim, o certificado de casamento. Eu pensei que chegaria em breve. — Por que você não me disse... — Eu olhei ao redor e me inclinei para frente, — que nos casamos? — No começo, eu pensei que você sabia. Então quando eu percebi que você tinha se esquecido disso também, eu tentei te ligar para contar — Sim. Vejo que eu te dei meu número. — E eu te dei o meu. — Ele disse. — Não, eu não tenho seu número no meu celular. — Eu te dei meu cartão. Você colocou na sua bolsa junto com o... ah, agora, eu entendi. Naquela conversa, eu me sentia como se estivesse atrasada para uma festa. — Entendeu o quê? — A capela que nos deu o certificado de casamento. Aquele não era o verdadeiro, era uma lembrança. O da sua caixa de correio é o verdadeiro. O outro deve ter caído da sua bolsa junto com o meu cartão durante a noite. Provavelmente quando você estava dançando na fonte. Eu o encarei. Não, eu não queria nem ouvir sobre dançar na fonte. — Então quando você estava vasculhando minha bolsa, domingo de manhã, você estava procurando pelo certificado. Ah! Sua sobrancelha esquerda se ergueu. — Você achou que eu estava roubando de você? — Não! Claro que não. — Eu bufei depois me encolhi envergonhada. Eu era mesmo uma perdedora. — Por que um Kavanagh precisaria roubar? Ele riu baixo. — Por que um Kavanagh faz qualquer coisa? Eu não entendi o que ele quis dizer, logo permaneci em silêncio. — Eu queria falar sobre isso naquela manhã, mas você saiu apressada. Pensei que era melhor te deixar... descansar por um dia ou dois, mas na segunda eu estava ansioso para falar com você de novo. — Ele deu de ombros e foi o dar de ombros mais sexy que eu já tinha visto. Um pouco juvenil e inocente, e completamente honesto. — Eu decidi que eu não queria falar sobre nosso casamento pelo telefone. — Ele sorriu e algo dentro de mim se ergueu em atenção. Seu sorriso foi um pouco torto, um pouco travesso, mas completamente genuíno. — Eu sabia que te contar que nós estávamos casados te assustaria, então achei melhor te contar pessoalmente, assim eu poderia ficar de olho em você. Eu balancei minha mão para afastar sua preocupação. — Sim, claro, tudo está bem. Fiquei um pouco chocada, mas eu sabia que nós poderíamos resolver isso facilmente. Ele me olhou como se não acreditasse em mim. Eu era uma péssima atriz, então não foi uma surpresa. Como ele sabia que eu não ficaria bem depois de saber sobre nosso casamento? Com certeza eu não lhe contei sobre meus ataques de pânico. Eu nunca contava para ninguém. Só minha mãe sabia. — Então agora que você sabe, — ele disse. — Podemos falar sobre o que acontece em seguida. — É por isso que eu concordei em encontrar com você. Ele limpou sua garganta e postou suas mãos sobre a mesa. Ele parecia não saber o que fazer com elas. Seus dedos se moveram em direção aos meus, que seguravam minha taça de vinho, mas os puxou de volta antes que nos tocássemos. Zac batucou seus dedos e finalmente os entrelaçou a sua frente. Era um pouco cativante ver alguém como ele nervoso. — Não precisa se preocupar. — Eu lhe disse, usando minha voz de advogada. Zac agia como uma testemunhar apreensiva, precisando de alguém que suavizasse seus medos. Eu podia fazer aquilo. — Eu sei que nossa situação é estranha, mas logo vamos resolver tudo. Anulações são fáceis de conseguir. Eu tenho um contato da área de direito da família se você precisar, mas eu tenho certeza que seu advogado consegue preparar os documentos. Só precisamos apresentar os papéis na corte e tudo estará resolvido. Eu não vou dificultar a situação. Eu não vou querer nada seu, se é com isso que você está preocupado. — Não é. — O batucar ficou mais rápido, até que ele parou de repente. Seus olhos penetrantes me prenderam ao meu assento. — A questão é: eu não quero uma anulação. Quero continuar casado. — O qu-quê? — Meu peito e garganta se apertaram. Meu coração acelerou e vertigens borraram minha visão. A escuridão rastejou das extremidades e tudo que eu conseguia ver através do túnel era o rosto preocupado de Zac. E então até ele desapareceu. CAPÍTULO 4 — Está tudo bem, Amy. — A voz de Zac era a única coisa que
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