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2 Institucionalização da Geografia no Brasil

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INTRODUÇÃO
AOS ESTUDOS 
GEOGRÁFICOS 
Anna Paula Lombardi
A institucionalização 
da geografia no Brasil
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Analisar a história da geografia no Brasil e os seus principais referenciais 
teóricos.
  Explicar o processo de institucionalização do IBGE no Brasil e a sua 
importância para a geografia brasileira.
  Descrever o processo de reconhecimento da geografia como disciplina 
obrigatória no ensino fundamental e no ensino médio.
Introdução
Neste capítulo, você vai estudar a institucionalização da geografia no 
Brasil. Essa história começa com a chegada dos portugueses, em 1500. 
Nesse período inicial, foram produzidas obras de descrição do território 
da colônia. Contudo, apesar desse início longínquo, a geografia brasileira 
obteve caráter científico somente após 1930, com a criação das universi-
dades no País. Também foi nesse momento que surgiram a Associação 
dos Geógrafos Brasileiros (AGB) e o Instituto Brasileiro de Geografia e 
Estatística (IBGE).
Ainda nos anos 1930, o ensino gratuito se tornou obrigatório; posterior-
mente, a própria geografia se consolidou como uma disciplina indispensá-
vel. Porém, em 2016, o Governo Federal apresentou a Lei nº 13.415, ainda 
em tramitação, que determina que a geografia não seja mais obrigatória 
no ensino médio, tornando-se optativa.
A história da geografia no Brasil
A geografi a entra em cena no Brasil logo com a chegada dos portugueses, 
em 1500. Afi nal, os europeus precisavam descrever a terra descoberta: era 
essencial mapear o território para poder explorá-lo. Alguns séculos depois, a 
geografi a se introduz no Brasil como disciplina da educação básica.
Segundo Araújo (2012), a história da educação brasileira se inicia com a 
chegada dos jesuítas, por volta de 1550. Como você sabe, a cultura europeia 
trazida pelos jesuítas e o encontro com os nativos que já habitavam o Brasil 
resultou em um choque de culturas. De um lado, estavam os jesuítas com o 
catolicismo; de outro, os nativos com as suas peculiaridades culturais, que 
incluíam língua, rituais e alimentos. A Companhia de Jesus foi a primeira 
organização a realizar ações de cunho educacional no Brasil, em meados do 
século XVI. Para isso, os jesuítas criaram instituições com um sistema escolar 
nas principais cidades da colônia.
Os jesuítas, contudo, não se limitaram ao ensino religioso, com os prin-
cípios de evangelização. A partir do momento em que a elite local foi ad-
quirindo costumes aristocráticos de caráter europeu, a educação passou a 
incluir outros conhecimentos. Assim, os colégios foram criados para atender 
a uma pequena parcela da população. Ou seja, apenas os filhos da população 
pertencente às camadas sociais mais altas frequentavam as escolas.
O primeiro plano de estudo criado pelos jesuítas foi elaborado pelo padre 
Manuel da Nóbrega (1517–1570) e teve o ensino de português como precursor. 
Aos poucos, outros saberes foram ganhando espaço, como a aula de gramática 
e os estudos voltados para as viagens à Europa. Na época, a geografia era 
considerada um saber pouco importante. Ela aparecia principalmente em textos 
literários que tinham as diferentes paisagens como enfoque (ARAÚJO, 2012).
Segundo Oliveira (2011), em meados do século XVIII, no Brasil, a geo-
grafia foi inserida no currículo escolar oficial, influenciado pelos princípios 
iluministas vigentes na Europa, que valorizavam a nacionalidade. Assim, em 
1837, com a criação do Colégio Pedro II, a geografia foi realmente reconhe-
cida como uma disciplina autônoma. No Colégio Pedro II, os estudos foram 
divididos em dois ciclos. O primeiro tinha a duração de quatro anos e todos 
os alunos eram obrigados a frequentá-lo. Já o segundo ciclo tinha duração de 
três anos, era opcional e dava o direito de ingressar em cursos técnicos. Nesse 
contexto, a geografia surge como disciplina com o intuito de dar suporte para 
os alunos em relação à identidade nacional, reforçando a ideia do nacionalismo 
patriótico e incentivando o amor pela pátria.
Assim, a geografia se estabelece como um campo rico do saber para a 
formação do cidadão e para a construção da identidade nacional. Na época, 
A institucionalização da geografia no Brasil2
não eram precisamente professores formados em geografia que lecionavam 
a disciplina. Além disso, grandeza do território brasileiro tinha importância 
fundamental, daí o destaque dado às descrições desse território. A gran-
deza representava a qualidade da nação, que futuramente iria prosperar, 
perspectiva que levava em conta o modelo europeu de economia e política 
(OLIVEIRA, 2011).
Segundo Saviani (2005), os estudos eram fundamentados em um ensino 
tradicional. Tal ensino ganhou força no Brasil a partir de 1759, quando co-
meçaram a ser implementadas as reformas pombalinas da instrução pública. 
Essas reformas se contrapõem ao predomínio das doutrinas religiosas e, com 
base nas ideias laicas inspiradas no Iluminismo, instituem o privilégio do 
Estado em matéria de instrução. Em 1808, começou a divulgação do método 
de ensino tradicional como oficial; a pedagogia tradicional predominou no 
Brasil até meados de 1940.
Em 1759, o Marquês de Pombal desenvolveu um currículo que enfatizava as ciências 
naturais e matemáticas. Mesmo assim, manteve-se o ensino religioso nos colégios. 
Nessa época, o sistema educacional do Brasil foi influenciado pelas ideias iluministas 
e transferiu-se o monopólio da educação para o Estado.
No Brasil, no final do século XIX, a base econômica era a monocultura, 
com o café em São Paulo e o leite em Minas Gerais. Logo, a economia do 
Brasil se mantinha concentrada na região Sudeste. Além disso, havia uma elite 
agrária detentora do poder econômico e político que também influenciava as 
tomadas de decisão, inclusive as relacionadas aos conteúdos que a população 
poderia aprender. A disciplina de geografia no Colégio Pedro II foi organi-
zada com base nessa configuração social e econômica. Assim, as principais 
caraterísticas da pedagogia tradicional influenciaram as diversas áreas de 
conhecimento que já estavam instituídas como disciplinas oficiais, inclusive 
a geografia. No Quadro 1, a seguir, você pode ver as principais características 
da pedagogia tradicional.
3A institucionalização da geografia no Brasil
Fonte: Adaptado de Mizukami (1986).
Alunos
São receptores passivos das informações que lhes são forneci-
das, ou seja, não têm o direito de se expressar.
Mundo
A realidade é algo transmitido ao indivíduo principalmente 
pelo processo de educação formal, pela família e pela Igreja. O 
mundo, nessa abordagem, é considerado externo ao indivíduo, 
que vai se apossando gradativamente de uma compreensão, à 
medida que se defronta com modelos.
Sociedade 
e cultura
Os tipos de sociedade e de cultura podem ser os mais variados. 
O objetivo de ensino geralmente está relacionado aos valores 
culturais da sociedade na qual o sujeito está inserido.
Educação
A abordagem tradicional é caracterizada pela concepção de 
educação como um produto, já que os modelos a serem alcan-
çados são preestabelecidos. Trata-se da transmissão de ideias 
selecionadas e organizadas logicamente.
Escola
A ênfase é dada às situações em sala de aula. Os alunos são 
“instruídos” e “ensinados” pelo professor.
Professor 
e aluno
O papel do professor é basicamente o de transmitir certos 
conteúdos que são predefinidos e constituem o próprio fim da 
existência escolar. Pede-se ao aluno a repetição automática dos 
dados que a escola forneceu ou a exploração intelectual desses 
dados. O professor exerce o papel mediador entre o aluno e os 
modelos culturais. Simplificando, pode-se dizer que o professor 
é o agente, e o aluno, o ouvinte.
Metodologia
O professor já traz o conteúdo pronto e o aluno se limita a 
escutá-lo passivamente. A didática tradicional quase poderia 
ser resumida em: “dar a lição” e “tomar a lição”.
Avaliação
A avaliação é realizada predominantementevisando à exatidão da 
reprodução do conteúdo comunicado em sala de aula. Pode ser 
feita por meio de chamadas, exames, provas orais, exercícios, etc.
Quadro 1. Principais aspectos da teoria pedagógica tradicional
A institucionalização da geografia científica se consolidou após a criação 
das universidades brasileiras como a Universidade de São Paulo (USP), em 
1920, e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 1938. Pierre 
Deffontaines (1894–1978) e Pierre Monbeig (1935–1946) foram os geógrafos 
franceses que praticamente institucionalizaram a geografia no Brasil. Em 
1934, Pierre Deffontaines criou a Associação dos Geógrafos Brasileiros em 
A institucionalização da geografia no Brasil4
São Paulo (AGB–SP). Essa associação promoveu um dos mais avançados 
desenvolvimentos de pesquisa geográfica do País (DANTAS, 2008).
A partir da criação da Universidade de São Paulo, com a sua Faculdade de 
Filosofia, Ciências e Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ, 
antiga Universidade do Brasil) e da Associação dos Geógrafos Brasileiros, 
idealizada por Pierre Deffontaines, a geografia começou a se institucionalizar 
por aqui (DANTAS, 2008). O ensino de geografia implementado em São 
Paulo e no Rio de Janeiro foi influenciado pela tradição francesa, portanto se 
fundamentou na história e na sociologia.
Pierre Monbeig e Pierre Deffontaines foram convidados pelo também fran-
cês Emmanuel de Martonne para ajudar no processo de institucionalização da 
geografia no Brasil. Ambos davam maior enfoque à geografia regional e à área 
humana. Monbeig ensinou por cerca de 15 anos na Universidade de São Paulo e 
foi substituído por Deffontaines, que atuou por cinco anos. O geógrafo francês 
Francis Ruellan (1894–1974) e o geógrafo Josué de Castro (1908–1973), da área 
da geografia humana, também faziam parte do corpo docente. A influência 
francesa na geografia do Brasil se estenderia por mais de 20 anos, até cerca de 
1950, sendo mais acentuada aqui do que na própria França.
Segundo Andrade (1991), o geógrafo francês Delgado de Carvalho, autor 
do livro O Brasil Meridional, é considerado outro dos grandes precursores 
dos estudos da geografia científica no País. Ele também é considerado um dos 
primeiros geógrafos que contribuíram para a história do pensamento geográfico 
e para a institucionalização dessa disciplina, que passou a ser estudada em 
nível superior e a ser aplicada à problemática nacional.
Confira o artigo de Rocha (2000) “Delgado de Carvalho e a orientação moderna no 
ensino da geografia escolar brasileira”, disponível no link a seguir.
https://qrgo.page.link/G1RxH
A institucionalização do IBGE 
e a geografia brasileira
O Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística é um dos mais importantes 
órgãos de planejamento territorial do Estado brasileiro. O IBGE foi criado 
5A institucionalização da geografia no Brasil
pelo Decreto-Lei nº 218, de 1938, porém esse órgão já existia desde 1934 sob 
a denominação Instituto Nacional de Estatística, com o apoio do Conselho 
Brasileiro de Geografi a (CBG). Com a nova denominação, o IBGE foi estrutu-
rado pelas seguintes áreas de conhecimento: geografi a, geodésia e cartografi a 
(IBGE, 2017).
Almeida (2001) explica que a criação do IBGE no Brasil teve a parti-
cipação da União Geográfica Internacional (UGI) e do geógrafo francês 
Emmanuel de Martonne. O contato entre a geografia brasileira e a UGI 
aconteceu em meados de 1931, na França, durante o Congresso da União. 
O delegado responsável por representar a Academia Brasileira de Ciências 
(ABC) foi o professor Alberto José de Sampaio (1881–1946), naturalista 
especializado em fitogeografia, pesquisador do Museu Nacional e autor de 
várias obras sobre a vegetação brasileira. O professor contribuiu de forma 
muito atuante, chamando a atenção de Martonne, diretor do Instituto de 
Geografia da Universidade de Paris e presidente do Congresso Geral da 
União de Geografia Internacional.
As articulações feitas no Congresso entre Sampaio e Martonne trouxeram 
o francês ao Brasil em 1933. Martonne se deu conta da oportunidade de or-
ganizar dois campos de estudos e de criar os institutos e as universidades no 
País. O primeiro campo era a geografia física; Martonne percebeu o grande 
potencial da geografia tropical brasileira. E o segundo estava relacionado 
com os aspectos políticos e culturais. Com essas duas perspectivas, havia a 
necessidade de criar as principais associações e institutos (Instituto Histórico e 
Geográfico Brasileiro, Sociedade Brasileira de Geografia e Academia Brasileira 
de Ciências), que deveriam juntar esforços para a adesão do Brasil à UGI.
O IBGE surgiu nesse contexto, como um órgão nacional que pertenceria 
ao governo central. Assim, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística foi 
criado com sede no Rio de Janeiro, em 1938. Ele foi idealizado sob a égide do 
presidente Getúlio Vargas (1882–1954), durante a ditadura do Estado Novo e a 
partir do Instituto Nacional Estatístico. Em meados de 1939, o IBGE começou 
a campanha de levantamento intensivo da divisão territorial do País, que tinha 
como finalidade a definição dos mapas dos municípios (IBGE, 2017).
Em relação às atividades geodésicas realizadas pelo IBGE em 1939, o 
Brasil tinha de atualizar a sua carta geográfica. Na época, foram emitidas em 
torno de 602 coordenadas levantadas em cidades e vilas de todo o País, por 
exemplo. De 1944 até 1970, o IBGE estruturou o sistema geodésico brasileiro 
fundamentado no método de posicionamento clássico (triangulação, métodos 
astronômicos e poligonação geodésica), aplicado até meados dos anos 1990 
com o recurso a equipamentos como teodolitos. Outro ponto importante foi a 
A institucionalização da geografia no Brasil6
divisão regional do Brasil em Norte, Nordeste, Sudeste, Centro-Oeste e Sul, 
proposta por Fábio Macedo Soares Guimarães em 1970 (IBGE, 2017).
Portanto, com o objetivo de promover e desenvolver o conhecimento ter-
ritorial por meio de uma política de coleta de dados estatísticos, o IBGE foi o 
suporte da administração pública relacionada ao ordenamento territorial. Esse 
órgão formulou e criou políticas públicas para a organização das cidades e do 
meio ambiente, promovendo o desenvolvimento urbano e a sustentabilidade. 
A Universidade Federal do Rio de Janeiro formou muitos geógrafos que traba-
lharam no Instituto. Nesse sentido, o IBGE também recorria aos professores da 
UFRJ com o objetivo de lecionar cursos de férias para os professores de outros 
estados. Os mestres estrangeiros que por um bom período permaneceram no 
Brasil trabalhavam na Universidade e no IBGE (DANTAS, 2008).
O IBGE foi estruturado pelas seguintes áreas de conhecimento: geografia, 
geodésia e cartografia. O Decreto nº 327, de 1938, estabeleceu as ações de 
normatização da área de geodésia do IBGE para suprir o mapeamento do 
recenseamento geral de 1940 (IBGE, 2017). Nesse período, foram iniciados 
os trabalhos de levantamento das coordenadas geográficas das cidades bra-
sileiras, prosseguindo com a estruturação das redes planimétrica, altimétrica 
e gravimétrica, que estabeleceram as bases para o mapeamento sistemático 
do País, realizado e organizado pela área de cartografia.
Essa área, além de coordenar o sistema cartográfico brasileiro, imprime 
continuamente cartas e é também responsável pela elaboração cartográfica 
dos altas do IBGE. Outro aspecto importante é a atuação dos técnicos que 
definem as políticas cartográficas, os seus parâmetros metodológicos e as 
escalas de representação dos trabalhos cartográficos. Além disso, o IBGE, 
junto às forças armadas, determinou os tipos de cartas especiais de trabalho 
que servem de base para as organizações militares.
A área cartográfica também define com precisão os limites entre as 
principais unidades territoriais legalmente vigentes no País, tanto na escala 
municipal quanto na estadual. Em caso de litígios entre essas unidades, 
cabe aos cartógrafos do IBGE a determinação dos novos limites, quenormalmente são arbitrados pelo Poder Judiciário. É também atribuição 
da área dar apoio técnico às operações de mapeamento das bases opera-
cionais geográficas dos censos, principalmente oferecendo suporte técnico 
às prefeituras que não possuem pessoal qualificado para a confecção dos 
mapas (ALMEIDA, 2001).
Em síntese, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, criado em 1938 
com sede no Rio de Janeiro, é um dos órgãos mais importantes do Brasil até hoje. 
No começo, o IBGE teve um papel importante tanto para a formação de professores 
7A institucionalização da geografia no Brasil
e profissionais da geografia quanto para o levantamento estatístico do território 
do País. Atualmente, ele é um dos órgãos estatísticos nacionais mais importantes, 
realizando recenseamentos em todo o território brasileiro a cada 10 anos.
Em meados de 1950, a ciência geográfica ganhou visibilidade nacional graças à As-
sociação dos Geógrafos Brasileiros, ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e 
às universidades já instituídas no Brasil. Em 1961, foi criado o Instituto de Geografia 
pelo geógrafo Aroldo de Azevedo (1910–1974), com o auxílio do Departamento de 
Geografia da USP. Ainda hoje, os laboratórios de pesquisa da Universidade atraem 
diversos jovens para essa formação. Os laboratórios de aerofotogeografia, de estudos 
regionais em geografia, de geografia agrária e de geografia urbana são exemplos dos 
laboratórios de geografia da USP (SCARIM, 2008).
A geografia como disciplina obrigatória 
no ensino fundamental e no ensino médio
O projeto de educação do Brasil tem uma base que remete aos diferentes 
contextos históricos do País, caracterizados pelas distintas situações políticas e 
econômicas pelas quais a sociedade nacional passou. Além disso, as tendências 
da educação brasileira sempre estiveram articuladas com o momento histórico 
e econômico mundial.
No período anterior a 1930, não existia no Brasil um sistema formal e 
regular de ensino garantido pelo poder público para toda a população no 
território brasileiro. Entretanto, a geografia era considerada uma disciplina 
oficial desde 1837, quando foi implantada no Colégio Pedro II, um colégio 
muito tradicional e modelo de ensino, frequentado apenas pela elite da época.
O currículo escolar já era estabelecido no Brasil para algumas áreas de 
conhecimento antes de 1930, desde a formação do sistema escolar de ordem 
religiosa. Tal sistema foi criado pelo padre Manuel da Nóbrega em meados de 
1500 e se estendeu até o final do século XVII. Contudo, com a revolução pom-
balina, foi constituído um ensino de caráter laico, com os conteúdos baseados 
nas cartas régias. Nesse contexto, o currículo aparece para garantir o ensino 
e a aprendizagem do conteúdo que o sujeito deveria conhecer. Essa é a base 
principal para que todos numa sociedade consigam ter um desenvolvimento 
social, cultural, político e econômico pleno.
A institucionalização da geografia no Brasil8
Segundo Rangel e Gouvea (2016), a geografia como disciplina escolar 
foi constituída em 1837 no Colégio Pedro II, como você já viu. A principal 
finalidade de instituir a disciplina era garantir a identidade da população, que 
deveria nutrir o amor à pátria, adquirindo certo nacionalismo. Além disso, o 
objetivo era capacitar politicamente a elite, para que ocupasse os principais 
e melhores cargos públicos do País. Outro fator importante para a inclusão 
da geografia no Colégio Pedro II foi o fato de que ela já era uma disciplina 
obrigatória no programa escolar francês.
De acordo com Araújo (2012), no século XIX, a obra precursora da geografia 
brasileira foi Corografia Brasílica, do padre português Manuel Aires de Casal 
(1754–1821). Essa obra apresentava as principais descrições da colônia com 
base no interesse da Corte Portuguesa. Ela não tinha cunho didático escolar; 
logo, é considerada um dos textos fundamentais da geografia do Brasil.
Falar sobre o currículo no ensino de geografia requer entender o que signi-
fica currículo. Na verdade, a ideia de currículo é trabalhada por várias correntes 
do pensamento educacional, como você pode ver no Quadro 2, que apresenta 
três correntes importantes. A primeira é a que predominou no Brasil até me-
ados de 1950 e as outras duas fazem parte do pensamento educacional atual.
Fonte: Adaptado de Rangel e Gouvea (2016).
Teoria tradicional Teoria crítica Teoria pós-crítica
Questões técnicas, neutras Questionamento constante Questionamento constante
Questão central: o que é? 
(preocupação com ques-
tões de organização)
Questão central: por quê? 
(preocupada com cone-
xões entre saber, identidade 
e poder)
Questão central: por quê? 
(preocupada com cone-
xões entre saber, identidade 
e poder)
Aceita o status quo Permite ver a educação de 
uma nova perspectiva
Permite ver a educação de 
uma nova perspectiva.
Quadro 2. Correntes do pensamento educacional
No Brasil, a geografia se disseminou por meio das reformas educacionais. 
Essa disciplina foi inserida no currículo escolar como disciplina obrigatória no 
ensino fundamental e no ensino médio. No Brasil Império (1822–1899), ocorreu 
a primeira tentativa de regulamentar o ensino básico; a Carta Constitucional 
de 1823 declara a instrução gratuita para todas as cidades.
9A institucionalização da geografia no Brasil
Em 1834, a primeira constituição brasileira foi reformulada. No campo 
educacional, a principal medida de impacto foi o direito adquirido pelas 
unidades políticas de legislar sobre o seu próprio sistema educacional. Os 
governos das províncias adquiriram a responsabilidade total pelo ensino 
elementar e médio. Assim, surgiram os primeiros liceus provinciais, si-
tuados nas capitais, como Rio Grande do Norte, Bahia, Paraíba e Rio de 
Janeiro. Contudo, foi apenas o Rio de Janeiro, cidade que abrigava a Corte, 
que apresentou a divisão entre os níveis de estudo. Tal divisão foi feita no 
Colégio Pedro II (ARAÚJO, 2012).
Segundo Araújo (2012, p. 94), por mais de 300 anos de colônia, “[...] 
não tivemos uma estrutura escolar para ser utilizada pelo povo: os jesu-
ítas, durante esse tempo, mantiveram 17 seminários de formação de clé-
rigos. Com a expulsão dos jesuítas, ficou a Colônia sem qualquer tipo de 
escola [...]”. Além disso, o Brasil criou cursos superiores sem curso elementar 
e médio, dificultando a consolidação da geografia como disciplina. Entre 
1840 e 1889, “[...] as províncias criaram os liceus (rapazes) e as escolas 
normais (moças) e iniciaram a criação do curso elementar nas cidades e vi-
larejos (omissão total do poder central) somente por iniciativa particular [...]” 
(ARAÚJO, 2012, p. 94).
Foi apenas em 1930, com a criação do Ministério da Educação (MEC), que 
foi possível inserir a geografia como disciplina obrigatória no ensino seriado, 
ou seja, no ensino fundamental e no ensino médio, para todos os sujeitos com 
idade de adquirir conhecimento. O MEC passa a agir intensamente de 1930 a 
1962 (reformas Campos e Capanema), quando “[...] perde suas funções com a 
aprovação, pelo Congresso Nacional, da Lei de Diretrizes e Bases. Os estados 
começam [então] a ampliar a rede oficial de ensino Fundamental e Médio [...]” 
(ARAÚJO, 2012, p. 95).
Como você pode notar, a institucionalização da geografia é recente, 
apesar de a necessidade de descrever e mapear o território nacional existir 
desde o Brasil colonial. Inicialmente colocada em pauta pelos jesuítas, pois 
a educação era sua incumbência, a geografia foi agregando aspectos mais 
generalistas. Com a criação do Colégio Pedro II, essa disciplina adquiriu 
um caráter elitista.
Com as sucessivas reformas do ensino, a geografia foi paulatinamente 
inserida nos currículos, especialmente devido à necessidade de patriotismo 
e nacionalismo. Ela era vinculada à localização física e restrita de locais 
de conhecimento e cidades. Posteriormente, a disciplina passou a agregar a 
política humana e social. Isso ocorreu com a criação de órgãos estatísticos 
como o IBGE, que passaram a consideraros aspectos sociais e humanos e 
A institucionalização da geografia no Brasil10
instituíram a geografia como ciência. Assim, ela foi incluída efetivamente 
nas academias. Como você viu, a Universidade do Brasil, atual UFRJ, e a 
Universidade de São Paulo foram essenciais no processo de institucionali-
zação da geografia.
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https://memoria.ibge.gov.br/images/memoria/linha-do-tempo/LinhaDoTempoSemI-
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ção de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal de Espírito Santo, Vitória, 2011.
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11A institucionalização da geografia no Brasil

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