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SUMÁRIO 1. Introdução .................................................................... 3 2. Definição ...................................................................... 6 3. Rinofaringite aguda ................................................... 6 4. Faringoamigdalite aguda .....................................24 5. Rinossinusite aguda ...............................................32 6. Otite média aguda ...................................................44 Referências bibliográficas ........................................52 3INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR 1. INTRODUÇÃO O sistema respiratório é constituído pelas vias respiratórias superior e inferior. O trato respiratório superior tem como função filtrar, aquecer e umidificar o ar e é formado por órgãos localizados fora da caixa torácica, in- cluindo o nariz externo, cavidades nasais, faringe e laringe. A via aérea inferior contém órgãos localizados na cavidade torácica, como a traqueia, brônquios, bronquíolos, alvéolos e pulmões, que são usados na troca de oxigênio e dióxido de carbono duran- te a respiração. Trato respiratório superior Cavidade nasal Faringe Laringe Traqueia Brônquio principal Pulmão Trato respiratório inferior Figura 1. Divisão do sistema respiratório. Fonte: https:// bit.ly/36BSFyt O trato respiratório superior é com- posto por 2 tipos distintos de super- fície epitelial. Um epitélio escamoso estratificado reveste a orofaringe e a nasofaringe, estas regiões normal- mente abrigam uma flora microbiana variada e abundante. Sendo que muitos patógenos podem colonizar estas superfícies epiteliais durante algum tempo, sem produzir uma infecção verdadeira e tornando fácil a obtenção de culturas bacterio- lógicas a partir destas áreas. Como resultado, o laboratório de mi- crobiologia enfrenta o desafio de iso- lar potenciais patógenos a partir da flora bucal normal, enquanto o médi- co enfrenta o desafio de distinguir entre a condição de portador e a infecção ativa. O epitélio respiratório é constituído por células colunares ciliadas, células globosas, além de glândulas muco- sas e serosas, que reveste os seios paranasais, a orelha média e as vias aéreas situadas abaixo da epiglote. Estas regiões, em contraste com a orofaringe e a nasofaringe, normal- mente são estéreis. Como estas áreas são inacessíveis para a realização de culturas de ro- tina, costuma ser necessário diag- nosticar e tratar as infecções com base em achados clínicos e pro- babilidades estatísticas, em vez de considerar os dados bacteriológicos derivados de um paciente individual. 4INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR Muitos mecanismos de defesa do hospedeiro protegem as vias aéreas superiores contra a infecção, onde as defesas mecânicas tendem a preve- nir a penetração de organismos oriun- dos da nasofaringe e da cavidade oral em áreas mais vulneráveis. Estas de- fesas consistem em: reflexos de tos- se, ânsia e espirro; secreções de muco viscoso, que capturam material parti- culado; e ação ciliar, que impulsiona para fora as partículas capturadas. Além disso, as defesas imunológi- cas locais tentam lidar com os or- ganismos que conseguiram passar pelas barreiras mecânicas. Estas de- fesas incluem um abundante tecido linfoide, anticorpos IgA secretórios presentes nas secreções respirató- rias e uma rica vasculatura que pode transportar rapidamente os leucóci- tos fagocíticos. As infecções respiratórias agu- das são mundialmente reconhecidas como uma das principais causas de morbidade e mortalidade em todas as idades, particularmente em crian- ças e idosos, resultando em torno de 3 a 5 milhões de casos de doenças graves/ano. Com o início do outono e inverno e da baixa da temperatura, as infec- ções respiratórias tornam-se mais frequentes. Nessa época aumenta o registro desse tipo de caso em hos- pitais e emergências, representando em todo o mundo, 20 a 40% das consultas em serviços de pedia- tria e 12 a 35% das internações hospitalares. SE LIGA! A principal causa de infecções do trato respiratório são os vírus, cerca de 90% dos casos, mas também po- dem ser causadas por bactérias e outros microrganismos. 5INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR Orofaringe e nasofaringe Seios paranasais, orelha média e abaixo da epiglote Reflexos de tosse, ânsia e espirro Abundante tecido linfoideNariz externo Traqueia Flora microbiana variada e abundante Normalmente são estéreis Secreções de muco viscoso Anticorpos IgACavidade nasal Brônquios e bronquíolos Ação ciliar Rica vasculatura para transportar dos leucócitos fagocíticos Faringe Alvéolos Laringe Pulmões SISTEMA RESPIRATÓRIO Epitélio respiratório Filtrar, aquecer e umidificar o ar Troca gasosa Defesas imunológicas locaisEpitélio escamoso estratificado Defesas mecânicas Vias aéreas superiores Mecanismos de defesa Dois epitélios Vias aéreas inferiores FLUXOGRAMA – SISTEMA RESPIRATÓRIO 6INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR 2. DEFINIÇÃO As infeções respiratórias agudas po- dem ser classificadas segundo sua localização anatômica em infecções das vias aéreas superiores e infec- ções das vias aéreas inferiores, como descrito abaixo: dos sintomas, os quais podem de- sencadear um processo sistêmico. Essas infecções tipicamente suce- dem às agressões às defesas do hospedeiro como as infecções virais que comprometem a função ciliar e produzem volumes aumentados de secreções finas e edema de mucosa, com consequente bloqueio dos ca- nais estreitos que drenam os seios e a orelha média. SE LIGA! As infeções de via aérea supe- rior são a causa mais comum de crian- ças atendidas por infecção respiratória aguda. 3. RINOFARINGITE AGUDA Resfriado e gripe são doenças vi- rais agudas do trato respiratório superior altamente transmissíveis, muitas vezes de difícil distinção entre si. O resfriado raramente é acompa- nhado de complicações sistêmicas e tem evolução autolimitada. A gripe, ao contrário, costuma ser acompa- nhada de complicações sistêmicas, podendo evoluir de maneira autolimi- tada, porém com significativa chance de apresentar agravos clínicos im- portantes em idosos e em portadores de doenças associadas. Dado o seu potencial pandêmico, a gripe pode ainda ser classificada nas variantes sazonal, forma clínica que ocorre anu- almente, e pandêmica, forma clínica Infecções das vias aéreas superiores Infecções das vias aéreas inferiores BronquiteRinofaringite aguda BronquioliteFaringoamidalite aguda Pneumonias Otite média aguda Rinossinusite aguda FLUXOGRAMA – SISTEMA RESPIRATÓRIO O comprometimento infeccioso das vias respiratórias superiores, nem sempre tem a devida atenção clínica. Isso se deve ao fato de que, em geral, os distúrbios são passageiros e não impedem o paciente de dar continui- dade à sua rotina diária. A situação muda a partir do momento em que se observa um agravamento 7INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR verificada em periodicidade de anos não previsíveis. Modo de transmissão Em ambas as doenças, os vírus res- piratórios são disseminados por três mecanismos: aerossóis de peque- nas partículas, aerossóis de partí- culas grandes e contato direto. Os aerossóis de pequenas partículas formam núcleos de gotículas que não se assentam e podem ser trans- mitidos por distâncias relativamente longas pelo ar. Quando inalados, es- ses aerossóis podem atingir as vias aéreas inferiores. Os aerossóis de partículas grandes re- ferem-se a gotículas geradas a partir da via aérea que se estabelecem ra- pidamente e são transmitidas apenas em distâncias relativamente curtas. A transmissão é através da tosse, pela fala ou pelo espirro do paciente infec- tado ou por meio do contato indire- to das mucosas oral, nasal ou ocular com secreções contaminadas. Aerossóis de partículas grandes Contato direto Aerossóis de partículas pequenas Transmitidos por distâncias relativamente longas pelo ar Gotículas transmitidas em distâncias curtas através de tosse, fala ou espirro Por fômitese contato mão a mão FLUXOGRAMA – MODOS DE TRANSMISSÃO O contato direto refere-se ao con- tato com fômites contaminados, bem como ao contato direto de pessoa para pessoa. O contato direto de mão a mão é, de longe, a forma mais comum de transmissão, pois o vírus consegue permanecer viável na pele humana por pelo menos duas horas. A transmissão por fômites também é considerada importante, uma vez que os vírus podem perdurar por horas nas superfícies de objetos. 8INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR CONCEITO! Fômite é qualquer objeto inanimado ou substância capaz de ab- sorver, reter e transportar organismos contagiantes ou infecciosos (de germes a parasitas), de um indivíduo a outro. A infecção com os vírus respirató- rios produz uma resposta imune adaptativa, e o risco de infecção na exposição subsequente parece estar relacionado com a presença ou au- sência de anticorpos específicos con- tra o patógeno. A frequência de in- fecção com esses vírus deve-se aos vários mecanismos dos patógenos para evitar as defesas do hospedeiro. Infecções com rinovírus e adenoví- rus resultam no desenvolvimento de imunidade protetora específica do sorotipo. As infecções repetidas com esses agentes patogênicos ocorrem porque existe um grande número de sorotipos distintos de cada vírus. Prevenção A prevenção da transmissão de am- bas as doenças deve ser feita com a interrupção da cadeia de transmis- são, onde no caso da precaução para gotículas o uso de máscaras cirúr- gicas é recomendado em pacientes contaminados. Já na precaução para aerossol, a sugestão é o uso da más- cara N95, em relação a precaução do contato direto existem medidas com- portamentais, como visto a seguir: FLUXOGRAMA – PREVENÇÃO Higienização frequente das mãos com água e sabão. Se não houver agua e sabão, use álcool em gel Cubra boca e nariz ao tossir ou espirrar com lenço de papel e jogue no lixo. Ou cubra a boca com o braço dobrado Não compartilhe utensílios de uso pessoal, como talheres, pratos, copos e garrafas Mantenha o ambiente bem ventilado e as janelas abertas Lave as mãos com agua e sabão antes e depois de tocar nos olhos, nariz e boca 9INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR Resfriado comum O resfriado comum é uma enfermida- de benigna autolimitada, causada por vírus respiratórios. É a doença aguda mais frequente em todo o mundo, responsável por 500 milhões de caso por ano. A incidência média é de 5 a 7 episódios por ano em crianças na idade pré-escolar e de 2 a 3 episó- dios por ano na idade adulta. Re- presenta cerca de 40% de ausência ao trabalho e à escola por ano. Etiologia O resfriado é causado por aproxi- madamente 200 subtipos de vírus, tendo na maioria das vezes o rino- vírus como responsável (30-50%) e em menor escala o coronavírus (10- 15%), o vírus sincicial respiratório (5%), o adenovírus (5%), os enteroví- rus (5%) e o vírus parainfluenza. Cer- ca de 20-30% são de etiologia não determinada. Em relação a sazonalidade, as rino- viroses e vários tipos de parain- fluenza predominam no outono e fim da primavera, enquanto o vírus sincicial respiratório (VSR), adenoví- rus e coronavírus tipicamente produ- zem surtos epidêmicos no inverno e na primavera. Fisiopatologia A infecção viral do epitélio nasal pode estar associada à destruição do revestimento epitelial, como acontece com os vírus da gripe e adenovírus, e menos extensos, como os coronaví- rus, ou sem dano histológico apa- rente, como ocorre com rinovírus e VSR. Independentemente dos acha- dos histopatológicos, a infecção do epitélio nasal está associada a uma resposta aguda em resposta infla- matória, caracterizada pela liberação de uma variedade de citocinas e pela remoção da mucosa. Embora haja alguma variação nas vias específicas envolvidas na resposta aos diferentes patógenos virais, essa resposta aguda parece ser responsá- vel, pelo menos em parte, por muitos dos sintomas associados ao resfriado comum. Obstrução nasal e rinorreia são os sintomas proeminentes do resfriado. A resposta nasal parece estar asso- ciada ao agrupamento do sangue nos vasos capacitantes do nariz e ao aumento do fluxo nasal. A con- tribuição importante dessas mudan- ças na obstrução nasal é demons- trada pelo efeito descongestionante substancial associado ao uso de va- soconstritores tópicos. O aumento da permeabilidade vascular com extra- vasamento de soro na mucosa nasal e nas secreções nasais também pode contribuir para a obstrução nasal. A patogênese da tosse em resfriados é mal compreendida e pode ser devi- do a uma variedade de mecanismos e a extensão da infecção viral no trato 10INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR respiratório inferior parece estar as- sociada à tosse em alguns pacientes. Também há evidência de que, em al- guns casos, a tosse é desencadeada por alterações neurais como resul- tado da estimulação dos recepto- res sensibilizados das vias aéreas superiores. SAIBA MAIS! A dor de garganta que é característica de resfriados de rinovírus pode ser produzida pela ela- boração de bradicinina como parte da resposta inflamatória. Concentrações aumentadas de bradicinina são encontradas nas secreções nasais durante os resfriados de rinovírus. Rinovírus Alterações neurais Vírus da gripe VSR Adenovírus Coronavírus FISIOPATOLOGIA DO RESFRIADO COMUM Dano histológico aparente Destruição do revestimento epitelial Agrupamento do sangue nos vasos capacitantes do nariz e ao aumento do fluxo nasal Variedade de mecanismos e extensão da infecção viral no trato respiratório inferior Caracterizada pela liberação de citocinas e remoção da mucosa Patogênese da tosseResposta aguda em resposta inflamatória Resposta nasal FLUXOGRAMA – FISIOPATOLOGIA DO RESFRIADO COMUM Quadro clínico O período de incubação costuma ser de 24 a 72 horas e os sintomas podem variar de paciente para pa- ciente, mas a rinite e a congestão nasal são os mais comuns. A referên- cia de garganta “arranhando” costu- ma também ser sintoma comum na fase inicial. 11INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR A dor de garganta aparece acompa- nhando os sintomas nasais até o ter- ceiro dia. A tosse inicia comumente no quarto dia, ocasião em que os sin- tomas nasais diminuem. Achados de exame físico são pobres, apesar do intenso mal-estar referido pelo pa- ciente. Em 25% dos casos os sinto- mas podem perdurar até duas sema- nas, durando em média 3 a 10 dias. SE LIGA! Uma pessoa com a doença pode transmitir o vírus em um período compreendido entre 2 dias antes do sur- gimento dos sintomas e 5 dias após a apresentação clínica de tal enfermidade, tendo o pico de transmissão entre se- gundo e terceiro dia. Tem como fatores de risco que au- mentam a gravidade da doença a baixa idade, prematuridade, taba- gismo, doença crônica, imunodefi- ciência e desnutrição. Diagnóstico Essencialmente clínico, a presença dos sintomas descritos, associados à sazonalidade e à possibilidade de contato recente com portadores de infecção aguda viral das vias respira- tórias superiores, costumam ser sufi- cientes para a definição diagnóstica, não havendo necessidade de reali- zação de exames complementares. O diagnóstico diferencial deve ser fei- to com as seguintes doenças: SE LIGA! Rinite alérgica é a consi- derada o diagnóstico diferencial mais importante. Tratamento O tratamento deve ser dirigido con- forme as manifestações dos sintomas e consiste geralmente no emprego de antitérmicos, analgésicos, solução salina nasal, brometo de ipratrópio nasal, cromoglicato de sódio nasal e anti-histamínicos. SE LIGA! Não se deve prescrever ácido acetilsalicílico, por talvez levar a um pos- sível quadro clínico de dengue ou desen- volver síndrome de Reye em crianças, nem antibióticos. Não existe evidência clínica que dê suporte à prescrição de vitamina C para o tratamento. Faringoamigdalite bacteriana Sinusite bacteriana aguda Bronquite aguda Rinite alérgica Coqueluche FLUXOGRAMA – DIAGNÓSTICO DIFERENCIALDE RESFRIADO COMUM 12INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR A obstrução nasal pode melhorar com descongestionantes nasais, os descongestionantes nasais tópicos são mais eficazes do que os orais, mas o uso de medicamentos tópicos por > 3 a 5 dias pode causar conges- tão de rebote. Os antitussígenos têm seu uso limita- do, uma vez que a tosse comumente é causada por obstrução nasal e go- tejamento nasal posterior. Pode-se aliviar a rinorreia com anti-histamí- nicos de 1ª geração, como clorfe- niramina ou brometo de ipratrópio intranasal (2 borrifos da solução a 0,03%, 2 ou 3 vezes/dia); mas devem ser evitados para os idosos e os pa- cientes com hipertrofia benigna da próstata ou glaucoma. TRATAMENTO CLÍNICO DO RESFRIADO COMUM Analgésicos Descongestionantes sistêmicos + analgésicos Descongestionantes sistêmicos + anti-histamínico Anti-histamínico Anti-inflamatórios não-hormonais Vasoconstritores tópicos Mucocinéticos Lavagem nasal Tabela 1. Tratamento clínico do resfriado comum. Fonte: Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cervico Facial. Guideline IVAS – Infeccção das Vias Aéreas Superiores. 2007. Complicações Uma das complicações é a sinusite, dados mostram que 0,5 a 2,5% dos adultos podem desenvolver sinusi- te bacteriana após quadro agudo de resfriado. Existem relatos de sinusite viral em 39% dos pacientes quando radiografados no sétimo dia da virose respiratória. SE LIGA! Pacientes que desenvolvem dor maxilofacial ou na arcada superior dos dentes costumam ter mais sinusite bacteriana. A otite média aguda foi diagnos- ticada em associação com 30% de infecções virais, principalmente em crianças e a disfunção de tuba audi- tiva é relativamente comum em pa- cientes com infecções de vias aéreas superiores Além das infecções do trato respira- tório inferior, como as pneumonias e bronquites. Dessas patologias, o VSR é o mais temido vírus, responsável por 2 a 9% dos casos de pneumonia em idosos. Ele tem também envolvi- mento nas exacerbações de insufi- ciência cardíaca congestiva e outras doenças crônicas em pacientes com mais 65 anos. As viroses respirató- rias em geral estão ligadas a cer- ca de 40% dos ataques agudos de asma, bem como em hiper-reatores, e estão relacionadas à persistência da tosse. 13INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR RESFRIADO COMUM SinusiteCOMPLICAÇÕES Otite média aguda Pneumonias Baixa idadeFATORES DE RISCO Prematuridade Tabagismo ImunodeficiênciasDoença crônica Desnutrição Destruição do revestimento epitelialFISIOPATOLOGIA Resposta aguda em resposta inflamatória Enfermidade benigna autolimitada, causada por vírusDEFINIÇÃO Doença aguda mais frequente no mundo Rinovírus (30-50%)ETIOLOGIA Coronavírus (10-15%) Vírus sincicial respiratório (5%) Enterovírus (5%)Adenovírus (5%) 20-30% etiologia não determinada SintomáticosTRATAMENTO Antitérmicos Analgésicos Anti-histamínicosDescongestionantes nasais Faringoamigdalite bacterianaDIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Rinite alérgica Sinusite bacteriana aguda CoquelucheBronquite aguda Período de incubação 24 a 72 horasQUADRO CLÍNICO Duração 3 a 10 dias Rinite Dor de gargantaCongestão nasal Tosse Essencialmente clínico DIAGNÓSTICO FLUXOGRAMA – MAPA RESUMO RESFRIADO COMUM 14INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR Gripe A influenza, normalmente conhecida como gripe, é uma doença grave que causa danos à saúde das pessoas há muitos séculos. Em geral, é associada ao aumento das taxas de hospitaliza- ção e de mortes por pneumonia, es- pecialmente em pacientes que apre- sentam doenças crônicas e fatores de risco. A taxa de ataque anual é calculada em 5-10% nos adultos e em 20-30% nas crianças. Em climas temperados as epide- mias sazonais do vírus ocorrem principalmente durante o tempo de inverno, comparado às regiões tropicais onde pode ocorrer ao lon- go do ano, tendo por resultado umas manifestações muito mais irregulares. SE LIGA! As taxas de internação por complicações associadas à gripe para cada 1.000.000 de habitantes acima de 65 anos variam de 200 a 1.000 inter- nações por ano, enquanto em indivíduos na faixa etária de 45 a 64 anos, esta taxa cai para 20 a 40 internações por ano. As epidemias causadas pelo vírus da gripe são calculadas para conduzir no mundo inteiro a aproximadamente 3 a 5 milhões de casos da doença severa, e até 500 mil mortes. Deve-se ter um cuidado maior em alguns grupos de risco, como mencionado abaixo: Classificação A gripe é quase sempre causada pe- los vírus do grupo influenza, um vírus RNA da família Orthomyxoviridae. Existem quatro tipos de vírus in- fluenza: A, B, C e D. Os vírus A e B apresentam maior importância clíni- ca. Estima-se que, em média, o tipo A causa 75% das infecções, mas em algumas temporadas, ocorre predo- mínio do tipo B. Os tipos A e B sofrem frequentes mutações e são responsáveis pelas FLUXOGRAMA – GRUPOS DE RISCO PARA GRIPE GRUPOS DE RISCO Gestantes Imunossuprimidos Extremos de idade (< 5 anos e > 60 anos) Comorbidades População indígena 15INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR epidemias sazonais e, também, por doenças respiratórias com duração de quatro a seis semanas. O vírus C raramente causa doença grave. O ví- rus influenza D, o qual foi isolado nos Estados Unidos em suínos e bovinos e não são conhecidos por infectar ou causar a doença em humanos. O genoma do vírus influenza é de na- tureza segmentada e seus subtipos são determinados por duas glicopro- teínas localizadas na superfície do en- velope viral: a hemaglutinina (H) e a neuraminidase (N). Até o momento, já foram identificadas 16 glicoproteí- nas H e 9 glicoproteínas N. Uma va- riante pode resultar de um processo dentro de um mesmo subtipo ou da interação de diferentes subtipos, pro- venientes, por exemplo, de aves e mamíferos. As características do genoma e a existência de múltiplos reservató- rios do vírus influenza favorecem a ocorrência de múltiplas combi- nações, as quais podem resultar no surgimento de cepas capazes de de- terminar epidemias de gripe. Neuraminidase Hemaglutinina Envelope RNA polimerase RNA endonuclease Genoma RNA Figura 2. Estrutura do vírus influenza. Fonte: http://imprensaregional.cienciaviva.pt/conteudos/ artigos/?accao=showartigo&id_artigocir=52 Fisiopatologia Enquanto o rinovírus e o coronavírus não causam lesão epitelial nas cé- lulas nasossinusais, o influenza e o adenovírus geram uma lesão signi- ficante no epitélio nasal. O rinovírus, por exemplo, entra via nasal ou duc- to nasolacrimal e ataca os recepto- res ICAM-1 nas células epiteliais na rinofaringe, levando a uma up-regu- lação da produção de histamina, bra- dicinina e outras citocinas (incluindo a 16INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR interleucina (IL) 1, IL-6, IL-8, fator de necrose tumoral a e leucotrienos C4). Os vírus também podem suprimir as funções dos neutrófilos, macrófa- gos e linfócitos. Dessa forma, favo- recem o crescimento de patógenos presentes na rinofaringe, como S. pneumoniae e H. influenzae, favore- cendo a infecção secundária. O influenza vírus penetra nas células epiteliais do trato respiratório supe- rior e se replica, as células danificadas destacam-se da membrana basal e as células epiteliais afetadas tornam- -se então alvos para a infecção bac- teriana. O trato respiratório é mais suscetível às infecções bacterianas, uma vez que ocorre perda de célu- las ciliadas, prejudicando o clearance mucociliar. O mecanismo pelo qual ocorre esta descamação, no entanto, é incerto. Entende-se que os sintomas são de- sencadeados em resposta à infecção viral no trato superior e à respos- ta imune à infecção, e não somente pela lesão celular. Após a invasão viral, há um aumen- to do número de macrófagos e es- tes estimulam a fase aguda da res- posta inflamatória. Na superfície dos macrófagos existe um receptor “toll- -like” que se combina com componen- tes virais ou bacterianos e estimulam a produção de citocinas. As citocinas agem recrutando outras células dosistema imune, desencadeiam a infla- mação e geram sintomas sistêmicos como a febre. Assim, um complexo misto de cito- cinas e mediadores proinflamatórios geram os sintomas. Enquanto a bra- dicinina é a responsável pelos sin- tomas locais como dor de garganta e congestão nasal, as citocinas são responsáveis pelos sintomas sistê- micos como a febre. Quadro clínico A sintomatologia é da febre é mais complexa comparada ao resfriado co- mum. Há o comprometimento sistê- mico com febre, mialgias, cefaleia, prostração tornando o paciente inca- paz para suas atividades diárias, sen- do uma das principais características da gripe, enquanto o resfriado traz maior desconforto pelos sintomas nasais de coriza e obstrução. 17INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR A tosse é o principal sintoma respi- ratório da gripe, geralmente acompa- nhada dos sintomas sistêmicos men- cionados, os quais têm início súbito e com período de incubação de 1 a 4 dias, tendo o pico de excreção viral no segundo dia. É comum encontrar febre e os demais sintomas sistêmicos nos primeiros 3 dias, prevalecendo os sintomas res- piratórios, notadamente a tosse, nos dias subsequentes, podendo perdurar por até 4 semanas. Outros sintomas que podem acompanhar o quadro são hiposmia, anosmia, pressão fa- cial e rinorreia posterior. SE LIGA! A associação da tosse e da febre no mesmo paciente apresenta um valor preditivo positivo de cerca de 80% em diferenciar a infecção pelo vírus in- fluenza dos outros quadros de infecção viral. http://www.gripe.sc.gov.br Cefaleia Mialgia Dor de garganta Coriza Febre Tosse FLUXOGRAMA – SINTOMAS DA GRIPE RESFRIADOS GRIPES Início dos sintomas Gradual Súbito Severidade dos sintomas Discreto Intenso Sintomas principais Cefaleia Espirros Calafrio Dor de garanta Coriza Febre alta Tosse Cefaleia intensa Dor de garganta Mialgia Fraqueza e cansaço Congestão nasal Falta de apetite Tabela 2. Características clínicas das gripes e resfriados. Gripes gradual súbito discreto intenso febre alta, tosse espir- ros cefaléia. Fonte: Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cervico Facial. Guideline IVAS – Infeccção das Vias Aéreas Superiores. 2007. 18INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR Diagnóstico No Brasil, mesmo durante o período de epidemia de gripe, somente 20 a 50% dos casos têm o agente etioló- gico confirmado. Nos exames labora- toriais pode-se encontrar leucocitose, leucopenia, neutrofilia, aumento de CPK, TGO, TGP e bilirrubina, pois o vírus tem trofismo não apenas para o trato respiratório. O diagnóstico é feito com a clínica positiva e junto a testes diagnósticos, onde a amostra ideal é a provenien- te de secreção respiratória, a qual pode ser obtida, preferencialmente, por meio de swabs nasofaríngeo, as- pirado nasofaríngeo e lavado nasal, mas também por swabs nasais e/ou de garganta. Em geral, a recomendação da reali- zação da coleta é de até 5 dias do início dos sintomas para a realiza- ção da imunofluorescência e testes rápidos em 7 dias para a técnica de reação em PCR. Pacientes imunode- primidos e crianças podem excretar vírus por períodos prolongados. As- sim, tais exames podem identificar agentes virais por períodos maiores. Aspirado nasofaríngeo Swab nasal Swab oral Figura 3. Testes diagnósticos da gripe. Fonte: http://inrad.hc.fm.usp.br/wp-content/uploads/2017/11/SCIH_Vigilancia- -influenza-2013.pdf O exame realizado com mais fre- quência é a imunofluorescência, a qual, idealmente, deve ser feita no mesmo dia da coleta, pois esta téc- nica não apresenta bons resultados quando se utilizam amostras armaze- nadas sob refrigeração. A vantagem de tal método é o painel de anticorpos monoclonais utilizado, o qual possibi- lita a identificação dos vírus influenza, parainfluenza, sincicial respiratório e adenovírus. Outro método muito realizado é a técnica de real-time PCR que é apli- cável em amostras refrigeradas, sen- do de escolha para o diagnóstico do 19INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR vírus H1N1. Este exame, que se vale da detecção do ácido ribonucleico vi- ral, possibilita avaliar a existência de vírus influenza A e estabelecer sua variante genética. A PCR viral apre- senta alta sensibilidade e especi- ficidade, variando entre 60-95% e 52-99%, respectivamente, para a de- tecção do influenza vírus. SE LIGA! Resultados negativos não ex- cluem a possibilidade de infecção, de- vendo-se, nestas situações, avaliar o período da coleta com relação ao início dos sintomas, o armazenamento, o sítio anatômico da infecção no trato respira- tório e o uso prévio de antivirais. Tratamento O tratamento específico da gripe pode ser obtido com os inibidores da neuroaminidase, os quais atuam im- pedindo a replicação dos vírus, cujos fármacos disponíveis são o oseltami- vir e o zanamivir. O zanamivir é apli- cado por meio de aerossol e o oselta- mivir, pela via oral. O zanamivir pode ser encontrado na traqueia e nos brônquios mais de 24 h após a inalação de uma única dose. Recomenda-se usá-lo com cuidado nos pacientes portadores de asma e doença pulmonar obstrutiva crô- nica (DPOC), pelo fato de poder pro- mover broncoespasmo, embora tal ocorra com pouca frequência. Seu emprego também não é recomen- dado em mulheres grávidas e em período de lactação. O oseltamivir deve ser prescrito em dose reduzida em pacientes com de- puração de creatinina menor do que 30 mℓ/min. Encontra-se intolerân- cia gastrointestinal em 5 a 15% dos pacientes, efeito que raramente leva ao abandono do tratamento. A dose pode ser dobrada nos pacientes por- tadores de formas graves da doen- ça e mantida enquanto durarem os sintomas. SE LIGA! Ambos os fármacos reduzem a duração dos quadros clínicos de in- fluenza em até 1 dia, se usados dentro das primeiras 48 horas do início da doença. Alguns estudos mostram que o emprego dos inibidores da neurami- nidase possibilitou a redução dos casos de pneumonia decorrentes da infecção por influenza. 20INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR SAIBA MAIS! No caso específico da gripe, existe ainda o recurso da vacina, destacando-se as de vírus ate- nuado, as de vírus inativado contendo adjuvantes e as produzidas em culturas de células. O Brasil adota a vacina anti-influenza composta de vírus inativados, fracionados e purificados. As mudanças antigênicas constantes do vírus influenza determinam a necessidade de altera- ções anuais da vacina, cuja composição em geral contém dois fragmentos do vírus influenza A e um fragmento do vírus influenza B. Existe ainda a vacina quadrivalente, cuja composição contém uma segunda cepa de um subtipo B. A definição dessa composição é estabelecida por um grupo de especialistas coordenado pela Organização Mundial da Saúde. DROGA FAIXA ETÁRIA POSOLOGIA Fosfato de oseltamivir Adulto 75 mg, 12/12h, 5 dias Criança maior de 1 ano de idade ≤ 15kg > 15 a 23 kg > 23 a 40 kg > 40 kg 30 mg, 12/12h, 5 dias 45 mg, 12/12h, 5 dias 60 mg, 12/12h, 5 dias 75 mg, 12/12h, 5 dias Criança menor de 1 ano de idade 0 a 8 meses 9 a 11 meses 3mg/Kg, 12/12h, 5 dias 3,5mg/Kg, 12/12h, 5 dias Zanamivir Adulto 10 mg: duas inalações de 5 mg, 12/12h, 5 dias Criança ≥ 7 anos 10 mg: duas inalações de 5 mg, 12/12h, 5 dias Tabela 3. Tratamento Gripe. PÚBLICO-ALVO Trabalhadores de saúde Povos indígenas Puérperas (mulheres até 45 dias após o parto) Idosos (a partir dos 60 anos) Professores Pessoas portadoras de doenças crônicas População privada de liberdade, incluindo adolescentes e jovens de 12 a 21 anos sob medida socioeducativa e funcionários do sistema prisional Gestantes Crianças de seis meses a seis anos (cinco anos, 11 meses e 29 dias) Tabela 4. Público-alvo da Campanha Nacional de Vacinação. Fonte: Ministério da Saúde, 2019 21INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR Não Não Não Pacientes tem sinais de gravidade? Dispneia Saturação de O2 < que 95% Desconforto respiratório Exacerbação de doença preexistente Síndrome gripal Síndrome respiratóriaaguda grave (SRAG) Internação Paciente tem indicação para UTI? Internação Oseltamivir Antibioticoterapia Hidratação venosa Oxigenioterapia sob monitoramento Exames radiográficos Exames complementares Choque Disfunção de órgãos vitais Insuficiência respiratória Instabilidade hemodinâmica UTI Paciente possui fator de risco ou tem sinais de piora? Oseltamivir Sintomáticos Exames radiográficos Aumentar a ingestão de líquidos orais Sintomáticos Aumentar a ingestão de líquidos orais Acompanhamento ambulatorial Retorno com sinais de piora ou aparecimento de sinais de gravidade Retorno em 48 horas ou com aparecimento de sinais de gravidade Sim Sim Sim FLUXOGRAMA – ABORDAGEM PACIENTE COM GRIPE 22INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR Complicações A persistência dos sintomas por mais de 10 dias ou sua recidiva podem in- dicar a existência de complicações. Tem como exemplo a sinusite, cujos agentes mais encontrados são o Streptococcus pneumoniae e o Ha- emophilus influenzae. Anaeróbios e Moraxella catarrhalis são os outros agentes possíveis, porém menos frequentes. SE LIGA! O diagnóstico clínico da sinu- site baseia-se na detecção de dois ou mais dos seguintes achados: goteja- mento pós-nasal, coriza purulenta, obs- trução nasal, hiposmia ou anosmia, ce- faleia, halitose, tosse e dor localizada na arcada dentária superior. A tomografia computadorizada de seios da face pode auxiliar o diagnóstico nos casos em que pairarem dúvidas. Penicilina e macrolí- dios são os antimicrobianos de escolha. Pneumonia é outra complicação im- portante e pode ter como agentes causais o próprio vírus ou bactérias. O comportamento clínico pode ser de extrema gravidade e, muitas ve- zes, é responsável pelos casos de óbito. Miosite, miocardite, pericardi- te, síndrome de Guillain-Barré, mieli- te transversa e encefalite são outros exemplos de complicações menos frequentes. Pneumonia viral Descompensação de comorbidades Miocardite/encefalite Miosite Pneumonia bacteriana Sinusite/otite FLUXOGRAMA – COMPLICAÇÕES DA GRIPE COMPLICAÇÕES 23INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR GRIPE Duração 7 dias Febre Mialgia Prostração Cefaleia Dor de garganta Tosse Período de incubação de 1 a 4 diasClínico Swabs combinado Aspirado nasofaríngeo Imunofluorescência indireta Teste da secreção respiratória Extremos de idade (5 anos e > 60 anos) População indígena Imunosuprimidos Comorbidades Gestantes Pneumonia Miocardite Miosite Descompensação de comorbidades Sinusite Fosfato de oseltamivir Sintomáticos Vacina anual para grupos de risco Zanamivir Quatro tipos de vírus: A, B, C e D Vírus A e B maior importância clínica Doença causada pelo vírus RNA da família Orthomyxoviridae GRUPOS DE RISCO COMPLICAÇÕES TRATAMENTO DEFINIÇÃODIAGNÓSTICO QUADRO CLÍNICO FLUXOGRAMA –. MAPA RESUMO DA GRIPE 24INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR 4. FARINGOAMIGDALITE AGUDA É a infecção aguda de faringe, ton- silas, ou ambas e embora a principal causa seja viral, muitas vezes apre- senta-se com um quadro de etiolo- gia bacteriana. As faringoamigdali- tes bacterianas correspondem de 20 a 40% dos casos. O agente etiológico mais comum é o estreptococo beta-hemolítico do grupo A. Sua importância em Saú- de Pública decorre não apenas da sua alta frequência, mas também das suas complicações. SE LIGA! As amigdalites de origem viral correspondem a 75% das faringoamig- dalites agudas, preponderantes nos pri- meiros anos de vida (2 e 3 anos) e me- nos frequentes na adolescência. Quadro clínico As anginas eritematosas são as mais frequentes, correspondendo a 90% dos casos, de origem viral ou bacte- riana. Ao exame observa-se a mucosa orofaríngea arroxeada, as amígdalas edemaciadas e aumentadas de vo- lume. As anginas eritematopultáceas apresentam, além das características inflamatórias presentes nas anginas eritematosas, exsudato esbranquiçado puntiforme ou confluente, que se des- prende facilmente da mucosa ao ser manipulado com o abaixador de língua. Úvula Amígdalas Língua Língua áspera acinzentada Amígdalas inchadas Inchaço da úvula Manchas esbranquiçadas Vermelhidão NORMAL AMIGDALITE Figura 4. Amigdalite bacteriana. Fonte: https://bit.ly/2ALxcrf 25INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR clínica é faringoamigdalite aguda ex- sudativa com linfonodomegalia cervi- cal e febre. Apesar do diagnóstico da faringoa- migdalite aguda bacteriana ser basi- camente clínico, é possível a utilização de métodos diagnósticos para a con- firmação da etiologia estreptocócica. A cultura de orofaringe é conside- rada o padrão ouro, mas apresenta como desvantagem o tempo prolon- gado (18 a 48 horas) para obtenção do resultado do exame e com isso a espera para a introdução da medica- ção adequada. Outros testes para detecção do es- treptococo, como ELISA, imunoen- saios ópticos ou sondas de DNA, apresentam a vantagem do diag- nóstico rápido, cerca de 15 minu- tos. Essas provas se apresentam na forma de kits e podem ser realizadas no consultório. Quando comparados à cultura de orofaringe, apresentam sensibilidade de 30 a 90% e especi- ficidade de 95%, tendo, portanto, um valor elevado de falsos-negativos. Na prática clínica, a solicitação da dosagem dos anticorpos antiestrep- tolisina O, anti-hialuronidase, anti- -DNAse e a antiestreptoquinase é de pouca utilidade, pois seus títulos só se elevam 2 ou 3 semanas após a fase aguda. Os quatro critérios clínicos que au- xiliam no diagnóstico de faringoamig- dalite estreptocócica são: Dor à deglutição é a marca da doen- ça e é, muitas vezes, referida nos ou- vidos. As crianças muito jovens que não são capazes de queixar--se de dor de garganta, quase sempre se re- cusam a comer. Febre alta, cefaleia, mal-estar e indisposição gastroin- testinal são comuns, assim como ha- litose e voz abafada. Em relação a etiologia bacteriana, usualmente afeta crianças a partir dos 3 anos, com pico de incidência entre 5 e 10 anos, podendo acometer qualquer idade. Manifesta-se com dor de garganta intensa, disfagia, otalgia reflexa, febre de intensidade variável, que pode ser acompanhada de que- da do estado geral. O exame físico revela hiperemia, au- mento de tonsilas e exsudato purulen- to, além de adenomegalia em cadeia jugulodigástrica, observada em 60% dos casos. No hemograma observamos leucocitose com desvio à esquerda. . Diagnóstico É importante o diagnóstico correto da faringoamigdalite estreptocóci- ca porque o seu tratamento dimi- nui o risco de doença reumática e de complicações supurativas, tais como abscesso periamigdaliano. É importante lembrar que o vírus que, com mais frequência, causa quadro clínico difícil de distinguir da etiolo- gia estreptocócica, cuja apresentação 26INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR Os pacientes que reúnem 1 ou ne- nhum critério pouco provavelmente estão infectados pelo estreptococo e não devem ser testados. Pacientes que preenchem 2 critérios podem ser testados. Os pacientes que possuem 3 ou 4 critérios podem ser testa- dos ou tratados empiricamente para estreptococo. O paciente que apresenta dor de gar- ganta com outros sintomas respirató- rios, tais como coriza, obstrução na- sal, disfonia, tosse, é muito provável que seja portador de faringoami- dalite viral. Tratamento Tratamentos de suporte incluem analgesia, hidratação e repouso. Os analgésicos podem ser sistêmicos ou tópicos. AINEs geralmente são anal- gésicos sistêmicos eficazes. Alguns médicos também administram uma dose única de corticosteroide (p. ex., dexametasona, 10 mg, IM), que pode ajudar a reduzir a duração dos sinto- mas sem afetar as taxas de recorrên- cia ou efeitos adversos. Analgésicos tópicos estão disponí- veis como pastilhas e sprays; os in- gredientes incluem benzocaína, fenol, lidocaína e outras substâncias. Esses analgésicos tópicos podem reduzir a dor, mas têm de ser usados repe- tidamente e muitas vezes afetam o paladar. Nocaso da etiologia bacteriana, o tra- tamento consiste no uso de analgé- sicos, anti-inflamatórios, corticoste- roides e antibioticoterapia. No Brasil, o antibiótico mais utilizado para tra- tamento de faringite estreptocócica é a amoxicilina, onde 7 a 10 dias tem sido o tempo utilizado. O tratamento pode ser iniciado imediatamente ou adiado até que os resultados da cultura sejam co- nhecidos. Se o tratamento é iniciado empiricamente, ele deve ser interrom- pido caso as culturas sejam negati- vas. Culturas para avaliar a evolução da infecção não são feitas rotineira- mente. Elas são úteis em pacientes com múltiplas recorrências de SBH- GA ou se houver surtos de faringite nos contatos em casa ou na escola. Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cervico Facial. Guideline IVAS – Infeccção das Vias Aéreas Superiores. 2007. Presença de febre Presença de exsudato amigdaliano (pontos purulentos) Presença de linfonodomegalia submandibular doloroso Ausência de outros sintomas respiratórios FLUXOGRAMA – CRITÉRIOS CLÍNICOS PARA DIAGNÓSTICO DE FARINGOAM- IGDALITE ESTREPTOCÓCICA 27INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR Se o paciente preferir, por ser pouco aderente a um tratamento mais pro- longado por via oral, a penicilina ben- zatina em dose única intramuscular é igualmente eficaz. No paciente alérgi- co à penicilina, azitromicina é a alter- nativa mais preconizada. Enquanto não existem cepas de es- treptococo do grupo A resistentes à penicilina até hoje, relatos de re- sistência à azitromicina têm sido publicados. Por esse motivo, e por existirem mais dados disponíveis da eficácia da penicilina em preve- nir doença reumática, esta deve ser a preferida, na sua apresentação de aminopenicilina (amoxicilina) ou peni- cilina natural (penicilina G benzatina). Como regra geral, após 48 a 72 ho- ras de antibiótico, o paciente com infecção bacteriana deve apresen- tar significativa melhora. PENICILINAS E DERIVADOS - PRIMEIRA ESCOLHA EM AMIGDALITES NÃO COMPLICADAS POSOLOGIA Penicilina G benzatina 600.000UI a 1.200.000 IM Dose única Amoxicilina 40-50 mg/kg/dia - 7 a 10 dias Amoxicilina + ácido clavulânico 40-50 mg/kg/dia - 7 a 10 dias Macrolídeos - pacientes alérgicos à penicilina Tabela 4. Tratamento faringoamigdalite bacteriana. Fonte: Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cervico Facial. Guideline IVAS – Infeccção das Vias Aéreas Superiores. 2007. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS AGENTES ETIOLÓGICOS DIAGNÓSTICO TRATAMENTO Viral Dor de garganta, disfa- gia, mialgia, febre baixa, tosse, coriza hialina e espirros e ausência de adenomegalia Rinovírus, coronaví- rus, adenovírus, her- pes simples, influen- za, parainfluenza, coxsackie e outros Clínico. Oroscopia: hiperemia e edema da mucosa faríngea e das amígda- las, com presença de exsudato (raramente) Analgésico e anti- -inflamatórios não hormonais Bacteriana Dor de garganta intensa, disfagia, otalgia reflexa, febre de intensidade variável, que podem ser acompanhadas de queda do estado geral e pre- sença de adenomegalia Streptococos do Gru- po A Clínico. Oroscopia: exame físico revela hiperemia, aumento de tonsilas e exsudato purulento Analgésico e an- tiinflamatórios e antibioticoterapia Tabela 5. Diferença entre faringoamigdalite viral e bacteriana. Fonte: Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cervico Facial. Guideline IVAS – Infeccção das Vias Aéreas Superiores. 2007. 28INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR Amigdalectomia tem sido com fre- quência considerada se amigdalite por SBHGA recorrer repetidamente (> 6 episódios/ano, > 4 episódios/ano por 2 anos ou > 3 episódios/ano por 3 anos) ou se a infecção aguda é grave e persistente mesmo após o uso dos antibióticos. Outros critérios para amigdalectomia compreendem distúrbios obstrutivos do sono, abscesso periamigdalia- no recorrente e suspeita de câncer. Mas esses critérios, e o uso de qual- quer diretriz específica, estão sendo questionados e as decisões devem ser individuais, com base na idade do paciente, múltiplos fatores de risco e resposta às recorrências da infecção. Figura 5. Amigdalectomia. Fonte: http://luizcantoni.com.br/amigdalectomia/ SE LIGA! A obstrução das vias respira- tórias no pós-operatório ocorre mais fre- quentemente em crianças < 2 anos, que possuam distúrbios do sono obstrutivos graves preexistentes e nos pacientes com obesidade mórbida ou que tenham doenças neurológicas, anomalias cra- niofaciais ou apneia do sono obstrutiva significativa no pré-operatório. As com- plicações são geralmente mais comuns e graves nos adultos. Complicações As principais complicações não-su- purativas são febre reumática, es- carlatina, glomerulonefrite aguda e síndrome do choque tóxico. Na febre reumática: os sinais e sin- tomas aparecem de 2 a 3 semanas após a faringoamigdalite estrep- tocócica, acometem crianças entre os 5 e 15 anos. Para o diagnóstico 29INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR utilizamos o critério de Jones modifi- cado, sendo confirmado na presença de 2 critérios maiores ou 1 critério maior e 2 menores, associados à evidência de infecção estreptocóci- ca recente. Critérios maiores Critérios menores Evidências de infecção Cardite / Valvulite (mitral) Eritema marginado Coréia Nódulos subcutâneos Febre Artralgia Aumento de VHS Aumento de proteína C- reativa Aumento do intervalo PR Antecedente de febre reumática Escarlatina recente Presença dos anticorpos Cultura positiva Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cervico Facial. Guideline IVAS – Infeccção das Vias Aéreas Superiores. 2007. FLUXOGRAMA – CRITÉRIOS DE JONES MODIFICADO PARA FEBRE REUMÁTICA A escarlatina está relacionada com a ação de endotoxinas, apresenta-se com rash cutaneopapular e eritema- toso, deixando a pele áspera, linfo- nodomegalia, vômitos, febre e erite- ma de orofaringe. Pode manifestar os sinais de Filatov (palidez perioral) e Pastia (presença de petéquias e hi- perpigmentação em linhas de flexão). A glomerulonefrite ocorre após infec- ção faríngea ou de pele e acomete 24% dos pacientes expostos a ce- pas nefritogênicas (correspondem a 1% do total). O paciente evolui com síndrome nefrítica de 1 ou 2 semanas após a infecção. Já a síndrome do choque tóxico pode ocorrer após infecção ou colonização estreptocócica de qualquer sítio. O paciente apresenta hipotensão as- sociada a pelo menos dois dos se- guintes fatores: insuficiência renal, coagulopatia, alterações na função hepática, síndrome da angústia res- piratória do adulto, necrose tecidual e rash eritematomacular. Com relação as complicações supu- rativas, temos: 30INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR SE LIGA! No caso do abscesso pe- riamigdaliano o paciente no curso da amigdalite aguda apresenta alteração no quadro, evoluindo com odinofagia acentuada e unilateral, piora da disfa- gia e da halitose, salivação, alteração no timbre da voz e trismo. Ao exame ob- serva-se edema dos tecidos localizados superiormente e lateralmente à amígda- la envolvida e deslocamento da úvula. O tratamento consiste na antibioticotera- pia (penicilina cristalina + metronidazol; amoxicilina + clavulanato, clindamicina) associada a anti-inflamatórios e punção para coleta de material para cultura e drenagem. Não é recomendada a reali- zação de amigdalectomia durante o pro- cesso infeccioso. COMPLICAÇÕES SUPURATIVAS Edema no ângulo da mandíbula, disfagia e dor de garganta Disseminação bacteriana a partir das infecções amigdalianas e faríngeas. Extensão da infecção localizada na amígdala para estruturas do espaço periamigdaliano Inicialmente como celulite evoluindo para a formação do abscesso Flora mista composta Abscesso parafaríngeo Abscesso periamigdaliano Infecções do espaço retrofaríngeo FLUXOGRAMA – COMPLICAÇÕES SUPURATIVAS 31INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR FARINGOAMIGDALITE BACTERIANA VIRAL Clínico Descartar infecção por estreptococoβ-hemolítico do grupo A Diagnóstico Teste rápido ou cultura de antígeno Dor de gargantaQuadro clínico Disfagia Mialgia TosseFebre baixa Coriza hialina Espirros RinovírusAgentes etiológicos Coronavírus Adenovírus Influenza e parainfluenzaHerpes simples Medidas de suporteTratamento Analgésicos Anti-inflamatórios Estreptococo beta-hemolítico do grupo AAgente etiológico Cultura de orofaringe (padrão ouro)Diagnóstico ELISA, imunoensaios ópticos ou sondas de DNA Hiperemia, aumento de tonsilas e exsudato purulento Exame físico Adenomegalia Dor de garganta intensaQuadro clínico Disfagia Otalgia reflexa Leucocitose com desvio à esquerdaFebre AnalgésicosTratamento Anti-inflamatórios Corticosteroides Antibioticoterapia Clínico Presença de febre Presença de exsudato amigdaliano Ausência de outros sintomas respiratórios Presença de linfonodomegalia submandibular dolorosa Hiperemia e edema da mucosa faríngea e das amígdalas Exame físico Raramente presença de exsudato Ausência de adenopatia FLUXOGRAMA – MAPA RESUMO FARINGOAMIGDALITE 32INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR 5. RINOSSINUSITE AGUDA Uma das afecções mais prevalentes das vias aéreas superiores, caracte- rizada por todo processo inflamató- rio da mucosa de revestimento da cavidade paranasal, trazendo custo financeiro elevado aos serviços de saúde. Sendo doença de alta preva- lência, gera impacto direta e indireta- mente na economia global. A rinossi- nusite ocorre geralmente após uma infecção das vias aéreas superiores viral, sendo a causa predisponente de 80% das rinossinusites bacterianas ou após uma inflamação alérgica, causa predisponente de 20% das rinossinusites bacterianas. Estima- -se que 0,5 a 2% das IVAS apre- sentam evolução para rinossinusite bacteriana. De acordo com dados americanos re- centes, a rinossinusite aguda afeta 1 em cada 7 adultos. A queda da produtividade ou incapacidade para exercer as atividades laborais one- ra indiretamente o sistema, pois os custos relativos à queda de produti- vidade e absenteísmo são altos e fre- quentemente subestimados. SE LIGA! Existe uma tendência em substituir o termo clássico sinusite por rinossinusite, em virtude da dificuldade de se estabelecer limites precisos para os processos inflamatórios que acome- tem a mucosa nasossinusal. Clinica- mente, a inflamação do seio (sinusite) raramente ocorre sem a inflamação con- comitante da mucosa nasal contígua. Figura 6. Rinossinusite. Fonte: https:// bit.ly/2Ay6TVg Classificação A rinossinusite é classificada princi- palmente de acordo com sua duração. É controversa a estipulação de limites precisos, sendo qualquer classifica- ção arbitrária. Desta forma, as clas- sificações devem ser consideradas 33INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR apenas como dado complemen- tar para nortear a conduta. Sendo a classificação das rinossinusites, se- gundo Bailey: Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cervico Facial. Guideline IVAS – Infeccção das Vias Aéreas Superiores. 2007. Aguda Duração menor que 4 semanas Sintomas resolvem completamente Crônica Sintomas por mais de 3 meses Ocorrência de sintomas persistentes residuais como tosse, rinorreia e obstrução nasal Subaguda Duração de 4 semanas a 3 meses Os sintomas resolvem completamente Aguda recorrente Duram menos de 30 dias cada, com remissão completa nos intervalos por, no mínimo, 10 dias. Caracterizada por 3 episódios em 6 meses ou 4 episódios em 12 meses Crônica agudizada Sintomas respiratórios residuais e sofrem agudizações, havendo remissão dos sintomas de agudização e permanência dos sintomas residuais após tratamento antimicrobiano. FLUXOGRAMA – CLASSIFICAÇÃO DA RINOSSINUSITE Fisiopatologia A patogênese da rinossinusite é mul- tifatorial e envolve uma complexa in- teração entre mecanismo de defesa do hospedeiro e o organismo infec- tante. Existem três fatores fundamen- tais para a fisiologia normal dos seios paranasais: a patência dos óstios, a função ciliar e a qualidade das se- creções nasais. Enquanto a obstrução do óstio do seio na rinossinusite aguda é mais fre- quente devido ao edema de mucosa, na rinossinusite crônica alguma anor- malidade anatômica que interfere na drenagem através do óstio está fre- quentemente presente. Obstrução do óstio sinusal, parcial ou completa, resulta em estagnação de secreções, queda do pH e da ten- são de oxigênio dentro do seio. Estas alterações favorecem o crescimen- to bacteriano. A tensão de oxigênio dentro do seio pode chegar a zero, promovendo crescimento anaeróbio e de bactérias facultativas, que têm 34INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR importante implicação na rinossinusi- te crônica. A interrupção do transporte mucoci- liar nos seios paranasais é outro fa- tor importante na patogênese da ri- nossinusite. O batimento ciliar normal frequentemente é maior que 700 ba- timentos por minuto. Entretanto, du- rante rinossinusite, o batimento ciliar decai para menos que 300. A qualidade e o caráter da secreção sinusal também mudam durante a rinossinusite. O muco espesso, que não pode ser efetivamente removido do seio, torna-se um meio de cul- tura para crescimento bacteriano. Tal secreção espessa obstrui o óstio sinusal podendo perpetuar o proble- ma, causando o ciclo nasal. Este é um particular problema em pacientes com fibrose cística, onde há falha da função das glândulas exócrinas. Resumindo, a completa compreensão dos mecanismos que levam à rinos- sinusite requer identificação de diver- sos fatores predisponentes de origem local e sistêmica. O padrão de infecção de vias aéreas superiores, incluindo rinossinusites, envolve várias fases. Geralmente, o primeiro estágio é uma rinossinu- site viral, que em geral dura até 10 dias, havendo recuperação com- pleta na maioria dos indivíduos sem antibioticoterapia. Rinovírus, influenza, adenovírus e parainfluen- za são os vírus mais comumente encontrados. Em uma pequena par- cela de indivíduos com rinossinusite viral (estimativa de 0,5% a 2%), uma infecção bacteriana secundária pode acontecer. Tal infecção geralmente é causada por bactérias aeróbias fa- cultativas (Streptococus pneumoniae, Haemophilus influenzae e Moraxella catarrhalis). Se não houver resolução do processo, bactérias anaeróbias da flora oral podem predominar com o decorrer do tempo. Etiologia Rinossinusite viral é a causa mais comum de rinossinusite adquirida na comunidade, geralmente ocasio- nando sintomas respiratórios autoli- mitados. Cerca de 0,5 a 10% dos ca- sos evoluem com infecção bacteriana secundária, com frequência naqueles que permanecem com sintomas após 10 dias ou com piora dos sintomas após 5 dias. Os principais mecanismos pelos quais a infecção viral predispõe à infecção bacteriana são: lesão do epitélio na- sal (patógenos de maior virulência, como influenza e adenovírus), au- mento da aderência de potenciais bactérias patogênicas na rinofarin- ge, aumento na produção de hista- mina, bradicinina e várias citocinas e efeito supressor do vírus na fun- ção de neutrófilos, macrófagos e leucócitos. 35INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR Um estudo que investigou a etiologia da rinossinusite aguda adquirida na comunidade, observou rinovírus em 15% das culturas, vírus da influenza em 5%, vírus parainfluenza em 3% e adenovírus em 2%. Com relação a rinossinusite bacteria- na, os agentes mais comumente rela- cionados com rinossinusite bacteriana aguda adquirida na comunidade em adultos são: Streptococcus pneu- moniae e Haemophilus influenzae, isolados em cerca de 75% dos casos. Anaeróbios são responsáveis por 2 a 6% dos casos e Moraxella catarrhalis, por 4%. Staphilococcus aureus e pyo- genes são isolados mais raramente SE LIGA! Rinossinusite nosocomial ge- ralmente acomete pacientes com intu- bação endotraqueal prolongada, uso de sonda nasogástrica e sobretudo in- tubação nasotraqueal. Os patógenos mais comumente envolvidos são os Gram-negativos. Quadro clínico Os aspectosclínicos da rinossinusi- te aguda em adultos são difíceis de distinguir de um resfriado comum ou ainda de rinite alérgica. Em ordem de importância, os sin- toma mais frequentes são dor, que pode ser nasal, facial ou ainda ma- nifestar-se como cefaleia, febre que está presente em 50% dos adultos com rinossinusite aguda, obstrução nasal e rinorreia, onde a secreção é geralmente verde-amarelada, po- dendo ser uni ou bilateral e halitose, anosmia e rinorreia posterior com tosse. SE LIGA! Em geral, a intensidade da dor é pior pela manhã, diminuindo ao longo do dia, aparecendo geralmente na re- gião do seio acometido. A rinossinusite do seio etmoidal apresenta-se com dor na parte medial do nariz e na área retror- bitária. A rinossinusite esfenoidal pode se manifestar por dor no vértex, bitem- poral, retrorbitária e pode ser irradiada para pescoço e ombros. Na rinossinusi- te maxilar aguda pode haver queixa de odontalgia. Havendo história prévia de IVAS, o quadro é mais comumente bilateral e associado a sintomas sistêmicos (febre, astenia, letargia). Os achados do exame físico incluem secreção purulenta e dor à palpação. Diagnóstico Na avaliação do paciente com rinos- sinusite, é fundamental um históri- co detalhado dos sintomas, visando classificar o processo em agudo, crô- nico ou crônico exacerbado e a dis- tinção entre rinossinusite alérgica ou infecciosa, e rinossinusite viral ou bacteriana. É difícil distinguir as rinossinusites vi- rais de rinossinusites bacterianas através da apresentação clínica. De modo geral, quanto mais prolongados 36INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR forem os sintomas, maior a chance de se tratar de uma rinossinusite bacte- riana. No curso de uma infecção viral de vias aéreas superiores, devemos suspeitar de uma infecção bacteria- na sinusal quando a sintomatologia de um resfriado comum persistir por mais de sete a dez dias sem evidên- cia de melhora, ou quando houver piora dos sintomas após o quinto dia, caracterizada por rinorreia purulenta abundante e obstrução nasal de iní- cio súbito, podendo haver associação com edema periorbitário ou dor facial. Os principais fatores preditivos de rinossinusite bacteriana são: São métodos indicados em poucos casos, como os recorrentes, crônicos ou ainda de difícil resposta ao trata- mento convencional. Biópsia com exame anatomopatoló- gico pode ser indicada para excluir a presença de neoplasias, vasculites, doenças autoimunes ou para estu- do de pólipos nasais. Na suspeita de discinesia ciliar pode ser utilizado o clearance mucociliar, a frequência do batimento ciliar ou avaliação da ultra- estrutura ciliar. A endoscopia nasal pode ser reali- zada através de broncosfibroscópio flexível ou rígido e ela auxilia na iden- tificação de desvio de septo e pólipos, possibilitando melhor visualização da mucosa nasal e dos cornetos e a co- leta de secreção diretamente do ós- tio do meato médio; entretanto, não é adequada para avaliar meato médio e regiões posteriores e superiores do nariz. Em contrapartida, a endoscopia nasal permite examinar todas as porções da cavidade nasal, além de grande utilidade na avaliação de pacientes crônicos com programação cirúrgi- ca ou já submetidos a procedimento previamente. Em geral, ela é bem tolerada e segu- ra e os efeitos colaterais mais comu- mente relacionados com esse proce- dimento são: epistaxe, dor e reflexo vasovagal. Maiores Menores Tosse Febre Dor/pressão facial Secreção nasal/ retronasal purulenta Hiposmia/anosmia Secreção nasal ao exame físico Cefaleia Halitose Dor em arcada dentária Otalgia ou pressão em ouvidos Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cervico Facial. Guideline IVAS – Infeccção das Vias Aéreas Superiores. 2007. FLUXOGRAMA – FATORES PREDITIVOS DE RINOSSINUSITE BACTERIANA O padrão-ouro no diagnóstico de rinossinusite bacteriana aguda é a cultura de secreção do seio aco- metido por punção ou endoscopia. 37INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR Figura 7. Endoscopia nasal de fossa nasal direita com secreção purulenta abundante em meato médio. Fonte: Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cervico Facial. Guideline IVAS – Infeccção das Vias Aéreas Superiores. 2007. Diagnóstico por imagem As alterações radiológicas que po- dem estar presentes na rinossinusite aguda são: espessamento de muco- sa, nível líquido ou opacificação com- pleta do seio. De um modo geral, a radiografia é um exame de baixa sensibilidade e especificidade, não sendo geralmente indicada nas ri- nossinusites agudas ou crônicas. Exemplificando, um paciente com quadro clínico de rinossinusite aguda com radiografia de seios da face nor- mal terá indicação de tratamento da mesma maneira, visto que o exame é pouco sensível. Desta forma, a ra- diografia será útil em poucos casos, e somente se analisada conjunta- mente com o quadro clínico e outros achados. A TC é considerada método de escolha em radiologia para ava- liação dos casos de rinossinusite. Tem indicação precisa nos casos de rinossinusite que não respondem ao tratamento médico adequado, nas ri- nossinusites crônicas ou recorrentes, nas complicações da rinossinusite aguda e nos casos com indicação ci- rúrgica. O valor da TC no diagnós- tico da rinossinusite bacteriana aguda é questionável pela alta sen- sibilidade e baixa especificidade desse exame. SE LIGA! Os critérios tomográficos para o diagnóstico de rinossinusite aguda ou crônica agudizada são: nível líquido e/ou velamento total de um ou mais seios. A interpretação do exame deve ser feita com cautela em razão da dificuldade em se diferenciar espessamento de muco- sa de secreções ou cicatrizes fibrosas. Também deve se correlacionar os dados clínicos em achados de imagem, que muitas vezes podem ser discrepantes. Ressonância magnética dos seios da face. 38INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR Figura 8. Diferença da tomografia computadorizada no caso de sinusite. Fonte: http://www.dremerson.com.br/ noticias/sinusite/ salina fisiológica ou hipertônica, para fazer uma lavagem efetiva é neces- sário colocar a solução na mão e as- pirar pela narina até a solução atingir a cavidade oral, uma narina de cada vez. Repetir o procedimento várias vezes ao dia. Os descongestionantes podem ser tópicos ou orais, os tópicos devem ser usados por um curto período de tempo, no máximo 3 dias, por causa do efeito rebote e desenvolvimento de rinite medicamentosa com o uso crônico. Exemplos de descongestio- nantes tópicos incluem: cloridrato de oximetazolina e nitrato de nafazolina. Os descongestionantes orais, como cloridrato de fenilefrina também po- dem ser utilizados, sendo geralmen- te disponíveis em apresentações que Liquido dentro dos seio maxilar Sinusite do seio maxilar Seios da face sem obstruções A ressonância magnética tem indi- cação na avaliação das complicações regionais e intracranianas das sinu- sopatias, no diagnóstico diferencial de processos neoplásicos e quando há suspeita de rinossinusite fúngica. Tratamento Desobstruir o seio e restabelecer a drenagem é tão importante quanto erradicar o agente etiológico. Algu- mas medidas que podem ser úteis na desobstrução do seio são hidratação adequada, umidificação do am- biente e evitar exposição a agentes que causem alergia. Além da lavagem nasal com solução salina, que é importante para todos os pacientes. Pode ser usada solução 39INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR associam anti-histamínicos orais, pois estes ajudam a diminuir a tosse asso- ciada ao quadro gripal. Os fitoterápicos também pode ser extremamente útil em rinossinusites virais. Um fitoterápico que vem tendo grande destaque para o tratamento de rinossinusites virais e demais in- fecções virais de vias aéreas superio- res e o Pelargonium sidoides Extrato EPs 7630. Em geral, o medicamento e utilizado durante um total de 5 a 7 dias Com relação aos sprays nasais com corticosteroides, segundo o FDA, a partir dos2 anos de idade a mometa- sona já pode ser administrada, desde que de forma cautelosa. A budesonida e a triancinolona ca- recem de estudos que digam uma idade mínima para prescrição destas drogas. No entanto, a partir dos seis anos de idade já podem ser receita- dos com relativa segurança. Podem ser usados quando se suspeita de rinite alérgica como predisponente para rinossinusite crônica ou aguda recorrente sendo, nestes casos, indi- cados de forma contínua. Diferente- mente dos descongestionantes, são pouco úteis quando se deseja des- congestionar agudamente os seios, pois têm efeito moderado somente após a segunda semana de uso. Os estabilizadores de membrana de mastócitos são um grupo de me- dicamentos que podem ser usados em rinites alérgicas e irritativas. São os que apresentam menor índice de efeitos colaterais. No entanto, tam- bém são os que oferecem menor efi- cácia no tratamento de rinites. Já os antileucotrienos ainda apresentam alto custo, mas são drogas relativa- mente seguras que vêm apresentan- do bons resultados em pacientes com hiper-reatividade brônquica de base. Feito o diagnóstico de rinossinusite bacteriana aguda, a escolha do anti- biótico deve refletir a prevalência de organismos produtores de B-lacta- mase. Amoxicilina é adequada onde a presença destes microrganismos é baixa, que é o caso do Brasil. Se não houver melhora do quadro clínico em 4 a 5 dias, recomenda-se o uso de outros antibióticos de segunda op- ção, como amoxicilina com clavula- nato de potássio, cefuroxima axetil ou cefprozil. Em pacientes que usaram antibióti- cos no último mês, que apresentem complicações da rinossinusite ou que tenham rinossinusite frontal ou es- fenoidal, pode-se iniciar diretamente com os antibióticos de segunda op- ção. Em pacientes com alergia a pe- nicilina e/ou cefalosporinas, pode-se utilizar claritromicina, clindamicina, gatifloxacina ou moxifloxacina. 40INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR É recomendado o uso de antibióticos por 10 a 15 dias, porém se a respos- ta clínica for baixa, a continuação da terapia por uma semana depois da resolução dos sintomas pode ser a melhor escolha. Já as rinossinusites crônicas devem ser tratadas por 3 a 4 semanas com cobertura para anaeróbios. Exemplos de antibióticos que podem ser utiliza- dos são amoxicilina com clavulanato de potássio, cefuroxima axetil, ce- fprozil ou clindamicina. A cirurgia endoscópica funcional dos seios é indicada em pacien- tes com rinossinusite crônica re- corrente que não responderam ao tratamento clínico maximizado, em pacientes com complicações de rinossinusites agudas ou crônicas e em alguns casos selecionados de pacientes com rinossinusite aguda recorrente. A cirurgia poderá ser in- dicada se houver um defeito anatô- mico corrigível cirurgicamente, como, por exemplo, obstrução do complexo ostiomeatal. RINUSSINOSITES BACTERIANAS ANTIBIÓTICO Rinossinusite aguda (antibiótico de primeira opção) Amoxicilina (ex.: Amoxil® ou genérico) (antibiótico de primeira opção) Rinossinusite aguda (antibiótico de segunda opção) Amoxicilina com clavulanato de potássio (antibióticos de segunda opção) (ex.: Clavulin®, Novamox® ou genérico) Cefuroxima axetil (ex.: Zinnat® ou genérico) Cefprozil (Cefzil®) Rinossinusite aguda, paciente alérgico a penicilina e/ ou cefalosporina Claritromicina (ex.: Klaricid® ou genérico) paciente alérgico a penicilina Clindamicina (ex.: Dalacin® ou genérico) e/ou cefalosporina Gatifloxacina (Tequin®) Moxifloxacina (Avalox®) Rinussinusite crônica Amoxicilina com clavulanato de potássio (ex.: Clavu- lin®, Novamox® ou genérico) Cefuroxima axetil (ex.: Zinnat® ou genérico) Cefprozil (Cefzil®) Clindamicina (ex.: Dalacin® ou genérico) Tabela 6. Recomendações de antibióticos nas rinossinusites bacterianas. Fonte: Associação Brasileira de Otorrinola- ringologia e Cirurgia Cervico Facial. Guideline IVAS – Infecção das Vias Aéreas Superiores. 2007. 41INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR TRATAMENTO Hidratação adequadaMedidas gerais Umidificação do ambiente Evitar exposição a agentes que causem alergia Lavagem nasal com solução salina Fitoterápicos AmoxicilinaAntibióticos Rinites alérgicas e irritativas Estabilizadores de membrana de mastócitos Rinossinusite crônica recorrente Cirurgia endoscópica funcional dos seios Pacientes com hiper- reatividade brônquica de baseAntileucotrienos Budesonida, triancinolona e fluticasona Sprays nasais com corticosteroides Descongestionantes Tópicos Por um curto período de tempo (no máximo 3 dias) Cloridrato de oximetazolina e nitrato de nafazolina Orais Cloridrato de fenilefrina Associação com anti-histamínicos FLUXOGRAMA – TRATAMENTO DA RINOSSINUSITE Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cervico Facial. Guideline IVAS – Infeccção das Vias Aéreas Superiores. 2007. 42INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR Complicações As complicações agudas são mais frequentemente observadas em crianças do que em adultos, entre as quais podem-se citar orbitárias (mais comuns): celulite orbitária difusa, abscesso subperiósteo, abscesso orbitário, intracranianas: meningi- te, abscesso sub e extradural, abs- cesso cerebral, tromboflebite do seio venoso e ósseas: osteomielite dos ossos do crânio. Figura 9. Complicação orbitária decorrente de rinossinusite aguda à esquerda. Fonte: Associação Brasileira de Otorri- nolaringologia e Cirurgia Cervico Facial. Guideline IVAS – Infeccção das Vias Aéreas Superiores. 2007. SAIBA MAIS! Em virtude da modernização das técnicas de imagem e do uso de antibioticoterapia, houve uma diminuição na incidência de complicações. TC, RM e endoscopia nasossinusal permitem um diagnóstico mais rápido com identificação do estágio em que se encontra a complicação, possibilitando abordagem mais ágil. O tratamento deve ser agressivo, com uso de antibiotico- terapia endovenosa de amplo espectro, com penetração em sistema nervoso central, visando à cobertura dos principais germes associados. Na presença de abscesso ou sequestro ósseo, a indicação cirúrgica é imperativa. 43INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR RINOSSINUSITE AgudaClassificação Subaguda Crônica Crônica agudizada Recorrente Fatores locorregionaisFisiopatologia Fatores sistêmicos Ausência de adenopatia ClínicoDiagnóstico Cultura de secreção do seio por punção ou endoscopia Tomografia computadorizada Hidratação adequada Tratamento Umidificação do ambiente Fitoterápicos Lavagem nasal com solução salina Cirurgia endoscópica funcional dos seios Evitar exposição a agentes que causem alergia Sprays nasais com corticosteroides Descongestionantes AmoxicilinaAntibióticos Processo inflamatório da mucosa de revestimento da cavidade paranasal Viral Etiologia Bacteriana DorQuadro clinico Febre Obstrução nasal e rinorreia AnosmiaHalitose Rinorreia posterior com tosse FLUXOGRAMA – MAPA RESUMO DA RINOSSINUSITE 44INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR 6. OTITE MÉDIA AGUDA A otite média é definida como um processo de natureza inflamatória, infecciosa ou não que ocupa focal ou generalizadamente a fenda au- ditiva. O osso temporal apresenta espaços pneumatizados contíguos e, portanto, a inflamação da orelha média pode envolver também a mas- tóide, o ápice petroso e as células perilabirínticas. Estima-se que aproximadamente 2/3 de todas as crianças apresenta- rão pelo menos 1 episódio de otite média aguda (OMA) com 1 ano de vida, e aproximadamente 90% até os 7 anos; 75% terão apresentado 3 ou mais episódios em 7 anos. Sabe-se ainda que a incidência de oti- te média durante o ano acompanha a de infecção viral das vias aéreas su- periores, ou seja, é maior nos meses de inverno. O principal pico de inci- dência de OMA é entre 6 e 11 meses de idade; com um segundo pico entre 4 e 5 anos de idade. Até 2 anos de idade, tanto OMA quanto otite média secretora (OMS) são bilaterais em sua maioria. Após os 2 anos, a maioria dos episódios de OMA e OMS é unilateral.Dentre os fatores de proteção encontramos o aleitamento materno, rico em imu- noglobulinas, diminuindo do risco de OMA no primeiro ano de vida. Já al- guns fatores de risco para o desen- volvimento das otites médias são: Fisiopatologia Para a melhor compreensão do de- senvolvimento das otites médias, é importante o conhecimento anatô- mico e funcional da tuba auditiva. A tuba auditiva (TA) é um ducto oste- ocartilaginoso que comunica a orelha média e a rinofaringe. Apresenta três funções principais em relação à ore- lha média: proteção contra secreção e gradiente de pressão da naso- faringe, drenagem de secreção da orelha média para a nasofaringe e ventilação para equalizar pres- são da orelha média com a pressão atmosférica. Uma tuba auditiva fisiologicamente ideal deve apresentar abertura ativa e intermitente devido apenas à con- tração do músculo tensor do véu pa- latino durante a deglutição e bocejo, Baixo nível socioeconômico Sistema de saúde precário Exposição a poluentes ambientais (fumaça de cigarro) Disfunções da tuba auditiva Conglomerados populacionais Crianças institucionalizadas Doença do refluxo gastroesofágico FLUXOGRAMA – FATORES DE RISCO PARA O DESENVOLVIMENTO DAS OTITES MÉDIAS 45INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR mantendo a pressão da orelha média próxima à do ambiente. A tuba auditiva apresenta-se de di- ferentes maneiras na criança e no adulto, o que facilita a infecção da orelha média nas crianças. O desen- volvimento do tecido glandular dimi- nui acentuadamente com o cresci- mento da tuba auditiva, enquanto o desenvolvimento da musculatura palatina aumenta com a idade, oti- mizando o mecanismo de abertura tubária no adulto. Outro fator importante é a posição supina adotada pela criança para ali- mentação, que aumenta a possibi- lidade de refluxo e dessa forma a incidência de otite média. Além do funcionamento adequado da tuba au- ditiva, outros fatores podem interferir na fisiopatologia das otites médias agudas, como fatores imunológicos (deficiências imunes ou hiper-reati- vidade), alergias (leite de vaca, alér- genos respiratórios), alterações na- sossinusais obstrutivas, Intubação nasotraqueal ou sondagem naso- gástrica prolongadas, fissura pala- tina, anomalias craniofaciais e dis- funções ciliares. A OMA inicia-se com edema, engur- gitamento capilar e infiltrado poli- morfonuclear na lâmina própria da mucosa da orelha média formando um exsudato purulento. Ulceração epitelial pode ocorrer, resultando em proliferação de tecido de granulação, que pode manter a infecção, obstruir a drenagem e a ventilação da orelha média e levar à destruição óssea atra- vés da ação de enzimas. Com a evolução da inflamação, o edema é substituído por fibrose e as células inflamatórias inicialmente po- limorfonucleares serão suplantadas pelos linfócitos. Na evolução de uma OMA, podemos encontrar a OMS e, se houver perfuração crônica da membrana timpânica, a apresenta- ção será de uma otite média crôni- ca (OMC). Classificação e etiologia As otites podem ser classificadas de acordo com o achado na otoscopia, em: 46INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cervico Facial. Guideline IVAS – Infecção das Vias Aéreas Superiores. 2007. Simples Supurativa Colesteatomatosa Tuberculosa Aguda Supurada Recorrente OTITE MEDIA Crônica Com efusão Aguda MT íntegra ou perfurada <2 meses MT perfurada > 2 meses FLUXOGRAMA – CLASSIFICAÇÃO DAS OTITES MÉDIAS Os agentes mais frequentes da OMA são streptococcus pneumoniae, ha- emophilus influenza e moraxella ca- tarrhalis. Em crianças menores que 6 semanas de idade, S. aureus e baci- los Gram-negativos têm importância notável, causando 20% dos casos de OMA. Mesmo assim, os germes mais frequentes são os mesmos que em outras faixas etárias. Vale ressal- tar que bacteremia na vigência de OMA está frequentemente asso- ciada a estreptococos do grupo B. A resistência aos antimicrobianos tem sido relatada com maior incidência, sendo atribuída aos agentes produto- res de ß-lactamase. Recentemente, S. pneumoniae tem desenvolvido resistência à penicilina, ainda com baixa incidência, através de alterações na proteína ligadora de penicilina. A porcentagem de bactérias produto- ras de ß-lactamase entre os principais agentes da OMA é de 20%. Quadro clinico Comumente, o paciente relata história de otalgia súbita após estado gri- pal. A otalgia piora com a deglutição 47INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR ou o assoar do nariz, podendo ocor- rer também hipoacusia, sensação de plenitude auricular e ruídos subjeti- vos e, ainda, pulsações auriculares sincrônicas com os batimentos cardí- acos (sinal de Scheibe) e equivale a um empiema da caixa do tímpano. Al- gumas vezes acompanha-se de mi- croperfuração pulsátil e a dor diminui à medida que se diminui a pressão na orelha média após perfuração da membrana timpânica. QUADRO CLINICO OTOSCOPIA/EXAME FÍSICO TRATAMENTO OMA Otalgia precedida de IVAS, febre MT íntegra, hiperemiada em torno do cabo do martelo ou de toda membrana. MT abaulada e espessada Antibiótico sistêmico com cobertura para H. influenza,. M. catharralis, S. pneumo- niae, analgésico OMA supurada Otorreia precedida de otalgia e IVAS, com melhora da otalgia após saída de secreção MT perfurada, otorreia fluida amarelo-clara, MT espessa- da. Algumas vezes há otite externa associada Antibiótico sistêmico com cobertu- ra para H. influenza, M. catharralis, S. pneumoniae. analgésico, orientações (evitar entrar água na orelha). Gotas otológicas quando hou- ver otite externa OMA re- corrente (OMAR) 3 ou mais episódios de OMA em 6 meses ou 4 ou mais episódios em 1 ano MT íntegra, hiperemiada em torno do cabo do martelo ou de toda membrana. MT abaulada e espessada Tratamento específico para OMA , procu- rar e tratar condições associadas e predis- ponentes (hipertrofia de adenóide, alergia, imunodeficiências, discinesias ciliares, etc.) Adenoidectomia, colocação de tubo de ventilação, vacinas OMS Geralmente é evolução de OMA ou OMAR. Paciente assintomático ou se quei- xa de hipoacusia e leve otalgia. MT íntegra, espessada, com aumento de vascularização, as vezes com secreção ama- relada atrás da MT, com bo- lhas de ar em orelha media, pode haver retração de MT Se ocorrer após um episódio isolado de OMA, o mesmo resolve espontaneamente apis 40-60 dias. A partir de 2 meses deve ser instituído tratamento com antibiótico sistêmico (semelhante a OMA) e corticoi- des. Sempre procurar e tratar condições associadas como o aumento de adenóides. Caso não haja melhora com tratamento clínico, indicar tubo de ventilação Tabela 7. Quadro clínico e tratamento das otites médias Diagnostico O diagnóstico das otites é clínico e efetuado com base no conjunto de sintomas e no exame otológico, que permite a visualização do interior do ouvido. Na otite média, a membrana timpânica costuma se mostrar verme- lha e arqueada. Na externa, é o condu- to auditivo que se encontra averme- lhado e inchado, além de apresentar grande sensibilidade à manipulação. 48INFECÇÃO DE VIA ÁREA SUPERIOR Figura 10. Otite média aguda no exame otológico. A membrana timpânica na otite média aguda (inferior) é abaulada e eritematosa e tem pontos de referência indistintos. Fonte: https://msdmnls.co/377Ws6V Tratamento Acerca da antibioticoterapia, a pri- meira opção é a amoxicilina via oral por 10 dias. Espera-se melhora clíni- ca e remissão da febre após 48 a 72 horas do uso da medicação. Se não houver, pode-se utilizar outros antibi- óticos como amoxicilina-ácido clavu- lânico, cloranfenicol, cefaclor e outras cefalosporinas de segunda geração. IDADE DIAGNÓSTICO DE CERTEZA DIAGNÓSTICO INCERTO < 6 meses Antibioticoterapia Antibioticoterapia 6 meses – 2 anos Antibioticoterapia Antibioticoterapia se doença severa; conduta expectante se não severa ≥ 2 anos Antibioticoterapia se doença
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