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Patologia do Trato Genital Feminino INTRODUÇÃO O sistema reprodutor feminino é composto por dois grupos de órgãos: os internos e os externos. Nos órgãos reprodutores tem-se os ovários, as tubas uterinas, o útero e a vagina. Já os órgãos genitais externos incluem o monte púbico, os grandes lábios, pequenos lábios, vestíbulo, glândulas de Bartholin e clitóris. Essas estruturas formam a vulva. Além disso, vale ressaltar que, as mamas também são consideradas partes do sistema genital feminino. O desenvolvimento normal do trato genital feminino se dá através de uma série de eventos precisamente coreografados, envolvendo as células germinativas primordiais, ductos de Muller (paramesonéfricos), ductos de Wolff (mesonéfricos), e selo urogenital. A à No início do desenvolvimento, os ductos mesonéfricos (em azul) e mullerianos (em vermelho) se fundem ao seio urogenital para formar o tubérculo mulleriano. B à No momento do nascimento, os ductos mullerianos já se fundiram para formar as tubas uterinas, o útero e a endocérvice (em vermelho), fundindo-se com a mucosa vaginal escamosa. Os ductos mesonéfricos regridem, mas podem ser encontrados como vestígios no ovário, anexos e colo uterino (ducto de Gartner). EMBRIOLOGIA As células germinativas surgem na parede do saco vitelino até a 4ª semana de gestação. Até a 5ª ou 6ª semana, elas migram para a crista urogenital e induzem a proliferação do epitélio mesodérmico, que gera e epitélio e o estroma do ovário. Os ductos de Muller laterais se formam aproximadamente na 6ª semana de desenvolvimento através da invaginação e fusão do epitélio de revestimento do celoma. Esses ductos crescem progressivamente em direção caudal para entrar na pelve, onde se curvam em direção medial para se fundir com o seio urogenital no tubérculo de Muller. A continuação do crescimento caudal coloca esses ductos fundidos em contato com o seio urogenital. As porções superiores não fundidas dos ductos de Muller amadurecem para se tornar as tubas uterinas, enquanto a porção inferior fundida se desenvolve para formar o útero, o colo uterino, e a parte superior da vagina. O seio urogenital se desenvolve quando a cloaca é subdividida pelo septo urorretal; ele forma, no final, a parte inferior da vagina e o vestíbulo da genitália externa. Normalmente os ductos mesonéfricos regridem nas mulheres, porém vestígios podem persistir na vida adulta como inclusões epiteliais adjacentes aos ovários, tubas e útero. No colo uterino e na vagina esses vestígios podem ser císticos e são chamados de cistos do ducto de Gartner. O revestimento epitelial do TGF e a superfície ovariana tem origem comum a partir do epitélio celômico (mesotélio), o que pode explicar porque aparecem lesões benignas e malignas morfologicamente semelhantes em vários locais dentro do TGF e das superfícies peritoneais adjacentes. As doenças do TGF são extremamente comuns e incluem complicações da gravidez, infecções, tumores e efeitos induzidos por hormônios. MUTILAÇÃO A mutilação genital feminina é a remoção ritual de parte ou de todos os órgãos genitais externos. A mutilação genital feminina é praticada rotineiramente em regiões da África (geralmente, na África do Norte ou na África Central), onde está profundamente enraizada em algumas culturas. A mutilação também é praticada em algumas regiões do Oriente Médio assim como em outras partes do mundo. Esta mutilação é praticada porque seus praticantes acreditam que mulheres que sentem prazer sexual são consideradas impossíveis de controlar, são rejeitadas e não conseguem se casar. INFECÇÕES Referência: Patologia: Bases patológicas das doenças. Robbins, 9ª edição Beatriz Loureiro Uma grande variedade de organismos pode infectar o TGF. As infecções por alguns microrganismos, tais como Candida, Trichomonas e Gardnerella, são extremamente comuns, podendo causar desconforto significativo, mas sem sequelas sérias. Outras, como as infecções por Neisseria gonorrheae e Chlamydia, são causas importantes de infertilidade feminina, e outras ainda, como as infecções por Ureplasma urealyticum e Mycoplasma hominis, estão implicadas em partos pré- termo. Os vírus, especialmente os vírus de herpes simples (HSVs) e os papilomavírus humanos (HPVs), também representam morbidade considerável; os HSVs causam ulcerações genitais dolorosas, enquanto os HPVs estão envolvidos na patogenia de cânceres cervicais, vaginais e vulvares. Ainda, vale ressaltar algumas DSTs como: cancro mole, candidíase, candiloma, gonorreia, granuloma, tricomoníase, herpes, linfogranuloma, sífilis e AIDS. Estas, podem apresentar consequências a respeito da leucorreia, onde esta corre o risco de não ficar situado apenas numa região, podendo ter um espaço de ascensão e, com isso, pode acometer os ovários, podendo gerar uma doença inflamatória pélvica (DIP). INFECÇÕES DO TRATO GENITAL INFERIOR HERPES SIMPLES GENITAL A infecção genital pelo vírus do herpes simples é comum, envolvendo, por ordem de frequência, o colo uterino, a vagina e a vulva. Os HSVs são vírus DNA que incluem dois sorotipos, o HSV-1 e o HSV-2. O HSV-1, tipicamente, resulta em infecção orofaríngea, enquanto o HSV-2 geralmente envolve a mucosa genital e a pele; contudo, dependendo das práticas sexuais, o HSV-1 pode ser detectado na região genital e o HSV-2 também pode causar infecções orais. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS As lesões se desenvolvem tipicamente de 3 a 7 dias após a transmissão, e são frequentemente associadas a sintomas sistêmicos como febre, mal-estar, e linfonodos inguinais sensíveis. Geralmente, o início das lesões geralmente consiste em pápulas vermelhas que evoluem para vesículas, e então para úlceras coalescentes dolorosas. Essas lesões são facilmente visíveis na pele e mucosa vulvares, enquanto as lesões cervicais ou vaginais apresentam secreção purulenta intensa e dor pélvica. Além disso, as lesões ao redor da uretra podem causar micção dolorosa e retenção urinária. As lesões de mucosa e de pele cicatrizam espontaneamente em 1 a 3 semanas; porém, durante a infecção aguda, o vírus migra para os gânglios nervosos lombossacrais regionais, estabelecendo uma infecção latente. Devido à latência viral, as infecções por HSV persistem indefinidamente, e qualquer redução da função imunológica, bem como estresse, o trauma, a radiação ultravioleta e as alterações hormonais, pode desencadear a reativação do vírus e recorrência das lesões da pele e mucosa. Lesões ulceradas em vulva. TRANSMISSÃO Ocorre principalmente durante a fase ativa, mas ela pode ocorrer ocasionalmente durante a fase latente, devido à descamação subclínica do vírus. Preservativo e terapias antivirais podem reduzir o risco de transmissão, mas não o previnem. As mulheres são mais suscetíveis à transmissão que os homens. A infecção prévia por HSV-1 parece reduzir a suscetibilidade à infecção por HSV-2. A consequência mais grave da infecção por HSV é a transmissão ao recém-nascido durante o parto. O risco é maior se a infecção estiver ativa durante o parto e particularmente se constituir uma infecção primaria (inicial) na mãe. Uma incisão cesariana é justificada nesses casos. Ademais, a infecção pelo HSV-2 facilita a aquisição e transmissão do HIV-1. DIAGNÓSTICO Este, se baseia nos achados clínicos típicos e na detecção de HSV. O exsudato purulento é aspirado das lesões e inoculado em uma cultura do tecido. Após 48 a 72 horas, o efeito citopático viral pode ser observado e o vírus pode então ser isolado e ter o sorotipo determinado. Além disso, alguns laboratórios oferecem testes mais sensíveis como a reação em cadeia da polimerase, ensaios imunoabsorventes enzimáticos e teste de anticorpos por imunofluorecência direta para detecção de HSV nas secreções lesionais. PREVENÇÃO Uma vez que um paciente é diagnosticado com infecção genital por HSV, o aconselhamento também deve incluir a prevenção da transmissãoao(s) parceiro(s). Os pacientes precisam ser informados de que o HSV pode ser transmitido Beatriz Loureiro mesmo quando os sintomas ou lesões genitais estão ausentes, devido à disseminação viral. O contato direto com as membranas mucosas ou pele pode levar à transmissão viral, mesmo na ausência de relação sexual. O uso consistente de preservativos pode diminuir o risco de transmissão do HSV-2 a um parceiro não infectado em até 96% e é mais eficaz na prevenção da transmissão de homens para mulheres. No entanto, os pacientes devem ser informados de que a transmissão do HSV-2 ainda é uma possibilidade, mesmo com o uso consistente de preservativo, devido à liberação de vírus da mucosa não protegida por preservativos, ou do HSV-1 por contato oral- genital desprotegido. TRATAMENTO Não existe um tratamento eficaz para HSV latente; contudo, agentes antivirais como aciclovir ou fanciclovir podem reduzir a duração da fase sintomática inicial e recorrente. A solução definitiva seria uma vacina efetiva. MORFOLOGIA No momento em que é feita uma biópsia da lesão do HSV, ela tipicamente está na fase de úlcera. O epitélio fica descamado e está presenta uma inflamação aguda acentuada no leito da úlcera. Os esfregaços do exsudato inflamatório das lesões ativas mostram alterações citopáticas características do HSV, que consistem em células escamosas multinucleadas contendo inclusões virais eosinófilas e basófilas, com um aspecto de “vidro fosco”. MOLUSCO CONTAGIOSO O molusco contagioso é uma lesão cutânea ou das mucosas, causada por um poxvirus. Existem 4 tipos de vírus do molusco contagioso (MCVs), MCV-1 a 4, sendo que MCV-1 é o mais prevalente e o MCV-2 é o mais frequentemente transmitido por contato sexual. TRANSMISSÃO E CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS As infecções são comuns em crianças entre 2 a 12 anos de idade e são transmitidas por contato direto ou objetos compartilhados (p.ex., toalhas). O molusco pode afetar qualquer área da pele, porém é mais comum no tronco, braços e pernas. Em adultos, as infecções por molusco tipicamente têm transmissão sexual e afetam os genitais, a porção inferior do abdome, as nádegas e a parte interna das coxas. PERÍODO DE INCUBAÇÃO Corresponde a 6 semanas. DIAGNÓSTICO O diagnóstico se baseia no aspecto clínico característico de pápulas peroladas em forma de cúpula com uma depressão central. As pápulas medem de 1 a 5 mm de diâmetro, e seu núcleo ceroso central contém células com inclusões virais intracitoplasmáticas. INFECÇÕES FÚNGICAS Principalmente aquelas causadas pela Cândida. As leveduras fazem parte da microflora vaginal normal de muitas mulheres e o desenvolvimento de candidíase sintomática é devido a uma perturbação no ecossistema microbiano vaginal da paciente. DM, antibióticos, gravidez e condições que resultem em comprometimento da função dos neutrófilos ou da célula TTH17 são permissivos com a infecção fúngica sintomática, que se manifesta por prurido vulvovaginal acentuado, eritema, inchaço e secreção vaginal semelhante a leite coalhado. A infecção pode resultar em ulcerações da mucosa. DIAGNÓSTICO Pseudoesporos ou hifas filamentosas advindas do Papanicolau. TRICHOMONAS VAGINALIS Beatriz Loureiro É um protozoário ovoide flagelado de grande tamanho, geralmente transmitido pelo contato sexual, que se desenvolve de 4 dias a 4 semanas. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS Pode-se ter pacientes assintomáticas ou pode-se ter queixas de secreção vaginal amarela e espumosa, desconforto vulvovaginal, disúria e dispareunia. As mucosas vaginais e cervicais tipicamente apresentam aspecto vermelho-vivo, com acentuada dilatada dos vasos da mucosa cervical, resultando em um aspecto colposcópio característico de “colo uterino em morango”. DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO O diagnóstico é feito a partir do exame clínico, com a consulta e avaliação dos sintomas e logo em seguida do exame laboratorial conhecido como Papanicolau, que consiste na coleta de uma amostra da secreção vaginal (células cervicais) a partir do útero. Durante o exame é possível observar uma vagina inflamada e com pequenas úlceras o que já é indicativo de tricomoníase. No caso do homem a coleta é feita a partir de secreção uretral ou prostática. O tratamento mais indicado atualmente é o metronidazol (antimicrobiano) e o tinidazol (antifúngico) PREVENÇÃO A prevenção é feita a partir do tratamento e controle dos pacientes contaminados, mas principalmente com o uso de preservativo durante a relação sexual. GARDNERELLA VAGINALIS É um bacilo gram-negativo que está associado como a principal causa de vaginose bacteriana (vaginite). CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS As pacientes tipicamente apresentam uma secreção vaginal fina, verde-acinzentada, com odor desagradável (de peixe). Os esfregaços de Papanicolau revelam células escamosas superficiais e intermediárias recobertas por cocobacilos com aspecto piloso. As culturas bacterianas nesses casos revelam G. vaginalis e outras bactérias, incluindo peptoestreptococos anaeróbicos e estreptococos α-hemolíticos aeróbicos. OBSERVAÇÃO: pode causar trabalho de parto prematuro em pacientes grávidas. UREPLASMA UREALYTICUM E MYCOPLASMA HOMINIS Causam vaginite e cervicite, estando associadas com a corioamniotite e ao parto prematuro. CHLAMYDIA TRACHOMATIS Causa cervicite, pode ascender para o útero e para as tubas uterinas, causando endometrite e salpingite, sendo uma das causas de doença inflamatória pélvica (DIP). INFECÇÕES ENVOLVENDO OS TRATOS GENITAIS INFERIOR E SUPERIOR DOENÇA INFLAMATÓRIA PÉLVICA (DIP) A DIP é uma infecção que começa na vulva ou na vagina e se espalha para cima de modo a envolver a maioria das estruturas do sistema genital feminino, resultando em dor pélvica, sensibilidade dos anexos, febre e secreção vaginal. A Neisseria gonorrhoeae continua a ser uma causa comum da DIP e a complicação mais séria da gonorreia em mulheres. A infecção por Clamydia é outra causa bem reconhecida de DIP. As infecções após abortos espontâneos ou induzidos e partos normais ou anormais (chamadas infecções puerperais) também são causas importantes de DIP. Nessas situações, as infecções são tipicamente polimicrobianas e podem ser causadas por estafilococos, estreptococos, coliformes e pelo Clostridium perfringens. Com o gonococo, as alterações inflamatórias começam a aparecer aproximadamente 2 a 7 dias após a inoculação. A infecção inicial envolve mais comumente a mucosa Beatriz Loureiro endocervical, mas ela também pode começar na glândula de Bartholin e em outras glândulas vestibulares ou periuretrais. A partir de qualquer um desses lugares, os organismos podem se disseminar para cima e envolver as tubas uterinas e a região tubo-ovariana. As infecções bacterianas não gonocócicas que seguem um aborto induzido, dilatação e curetagem do útero, e outros procedimentos cirúrgicos se disseminam a partir do útero para cima, pelos canais linfáticos ou venosos, e não pela superfície mucosa. Portanto, essas infecções tendem a produzir mais inflamação dentro das camadas mais profundas dos órgãos do que as infecções gonocócicas. MORFOLOGIA A infecção gonocócica é caracterizada pela inflamação aguda acentuada das superfícies das mucosas envolvidas, revelando, no esfregado do exsudato, diplococos gram- negativos fagocitados por neutrófilos. Com a evolução, em geral, o endométrio é poupado, mas as tubas não, ocorrendo uma salpingite supurativa aguda. Nesta, a mucosa se torna congestionada e infiltrada por neutrófilos, plasmócitos e linfócitos, e, consequentemente, ocorre lesão epitelial e descamação das pregas, de modo que a luz das tubas fique preenchidas por exsudato purulento que pode vazar pelas fímbrias da extremidade do órgão. A infecção pode se agravar até o ovário. COMPLICAÇÕES As complicações agudas da DIP incluem peritonite e bacteremia, que podem resultar em endocardite, meningitee artrite supurativa. As sequelas crônicas da DIP incluem infertilidade e obstrução tubária, gravidez ectópica, dor pélvica e obstrução intestinal devido a aderências entre o intestino e os órgãos pélvicos. TRATAMENTO Nos estágios iniciais, as infecções gonocócicas são facilmente controladas com antibióticos. VULVA A vulva corresponde à genitália externa do sistema reprodutor feminino. Inclui o conjunto de órgãos genitais femininos externos e visíveis: o monte de vênus, os grandes e os pequenos lábios, o vestíbulo (no qual estão localizados o meato uretral, introito vaginal, hímen, glândulas parauretrais ou vestibulares menores ou de Skene e glândulas vestibulares maiores ou de Bartholin) e o clitóris. A vulva também pode ser chamada de pudendo feminino, e, em condições normais, protege a vagina, assim como protege o meato uretral da entrada de materiais estranhos. Também tem função de orientar o fluxo de urina. Esta região possui muitas terminações nervosas sensoriais táteis, como corpúsculos de Meissner e Pacini que contribuem para a fisiologia do estímulo sexual. ANATOMIA DA VULVA Como dito, várias estruturas compõem a vulva: MONTE DO PÚBIS O monte do púbis é um coxim de tecido adiposo recoberto de pelos, situado sobre a sínfise púbica. O tecido adiposo aumenta durante a puberdade, assim como o aparecimento de pelos ocorre nesse mesmo período. GRANDES LÁBIOS Os grandes lábios são constituídos de pregas arredondadas de tecido adiposo proeminentes que proporcionam proteção indireta para o clitóris e para os óstios da uretra e da vagina. Seguem em sentido ínfero-posterior do monte púbis em direção ao ânus. Esses grandes lábios situam-se na lateral da rima do pudendo, uma depressão central onde localiza-se os pequenos lábios e o vestíbulo da vagina. O lado exterior dos grandes lábios é recoberto por pele pigmentadas e pelos pubianos, além de glândulas sebáceas. A face interna dos lábios são lisas, rosadas e sem pelos. PEQUENOS LÁBIOS Os pequenos lábios são pregas menos espessas de coloração vermelho-rosada, sem pelos e sem tecido adiposo. Estas estruturas circundam imediatamente e fecham o vestíbulo da vagina, onde se localizam o óstio da uretra e da vagina. Por isso, considera-se que uma de suas funções consiste na proteção desses orifícios. Sua extensão anterior constitui o prepúcio do clitóris; e o clitóris. CLITÓRIS O clitóris é um órgão erétil localizado no ponto de encontro dos lábios menores do pudendo anteriormente. Consiste em uma raiz e um pequeno corpo cilíndrico, formados por dois ramos, dois corpos cavernosos e a glande do clitóris. Possui Beatriz Loureiro a mesma origem embrionária do pênis e atua como órgão de excitação sexual. VESTÍBULO O vestíbulo é uma fossa de formato navicular entre os pequenos lábios. A abertura vaginal fica na sua parte posterior, e é denominada introito, que nas mulheres virgens é ocluída pelo hímen. O meato uretral desemboca no vestíbulo póstero-inferiormente ao clitóris, entre essa estrutura e a vagina. Ladeando a região imediatamente atrás do meato uretral ficam os orifícios das glândulas parauretrais. As aberturas das glândulas de Bartholin estão localizadas posteriormente, de cada lado do orifício vaginal, mas não costumam ser visíveis, uma vez que se localizam em região mais profunda. O termo períneo designa o tecido localizado entre o introito e o ânus. CISTO DE BARTHOLIN O cisto de Bartholin são ocasionados por uma obstrução do ducto da glândula de Bartholin devido a uma inflamação. Eles são revestidos por epitélio de transição ou escamoso, podendo ser excisados ou abertos permanentemente. DISTÚRBIOS EPITELIAIS NÃO NEOPLÁSICOS Leucoplasia é um termo clínico descritivo para espessamento epitelial em placas brancas ou opacas, podendo ocasionar prurido e descamação. Pode ser causada por um grande número de distúrbios benignos, pré-malignos ou malignos, incluindo: à Dermatoses inflamatórias; à Líquen escleroso e hiperplasia das células escamosas; à Neoplasias, como a neoplasia intraepitelial vulvar (NIV), a doença de Paget e o carcinoma invasor. A seguir, será descrito brevemente as principais causas da leucoplasia – o líquen escleroso e a hiperplasia das células escamosas. LÍQUEN ESCLEROSO É comum em mulheres pós-menopausa, são placas ou máculas lisas, que, com o tempo, aumentam e coalescem, tendo uma superfície parecida com porcelana ou pergaminho. Não é uma lesão pré-maligna, mas quem possui tem uma possibilidade maior de ter carcinoma de células escamosas da vulva. Na sua histologia observa-se adelgaçamento acentuado da epiderme, com degeneração das células basais, hiperqueratose, mudanças escleróticas da derme superficial e presença de infiltrado linfocitário em faixa na derme. HIPERPLASIA DE CÉLULAS ESCAMOSAS Também conhecida como distrofia hiperplásica ou líquen simples crônico, é uma condição inespecífica resultante da fricção da pele para aliviar o prurido. CLÍNICA – leucoplasia. HISTOLOGIA – espessamento da epiderme (que recebe o nome de acantose) e hiperqueratose. Pode ter infiltração linfocitária na derme. Ainda, o epitélio com hiperplasia pode ter uma atividade mitótica, carecendo de atipia. OBSERVAÇÃO: não é pré-maligno, podem, pode aumentar a chance de cânceres vulvares. LESÕES EXOFÍTICAS BENIGNAS As células elevadas (exofíticas) ou verrucosas da vulva podem ser causadas por uma infecção ou condições reativas de etiologia desconhecida. O condiloma acuminado, uma Beatriz Loureiro lesão induzida pelo papilomavírus, também chamado de verruga genital, e o condiloma plano sifilítico são consequências de infecções sexualmente transmitidas. CONDILOMA ACUMINADO São verrugas genitais benignas causadas por HPVs de baixo risco de ocasionar o câncer, como o tipo 6 e o tipo 11. Em geral, são multifocais e podem estar na vulva, no períneo ou no ânus, além da vagina e do colo. HISTOLOGIA – eixo conjuntivo arborescente, exofítico, papilar, coberto por epitélio escamoso espessado. No epitélio superficial, há atipia coilocitótica (aumento nuclear, hipercromasia e halo plasmático perinuclear. OBSERVAÇÃO – os condilomas acuminados não são considerados lesões pré-cancerosas. LESÕES NEOPLÁSICAS ESCAMOSAS NEOPLASIA INTRAEPITELIAL VULVAR E CARCINOMA VULVAR O carcinoma da vulva é uma neoplasia maligna incomum, representando cerca de 3% de todos os cânceres genitais em mulheres. O carcinoma de células escamosas é o tipo histológico mais comum de câncer vulvar. Em termos de etiologia, patogenia e características histológicas, os carcinomas de células escamosas da vulva são divididos em dois grupos: à Basaloide: associado ao HPV de alto risco, sobretudo o 16, e ocorre em pacientes jovens; à Queratinizantes: não associados ao HPV e ocorrem em mulheres mais idosas. BASALOIDE O basaloide se desenvolve a partir de uma lesão in situ, que recebe o nome de neoplasia intraepitelial vulvar (NIV clássica ou VIN – em inglês). Essa forma é comum em mulheres em idade reprodutiva, incluindo os carcinomas em situ ou doença de Bowen (forma inicial do carcinoma de células escamosas, sendo limitado à epiderme). Os fatores de risco para NIV são idade jovem na primeira relação sexual, múltiplos parceiros sexuais, parceiro do sexo masculino com múltiplas parceiras sexuais. A NIV frequentemente é multicêntrica, e 10% a 30% das pacientes com NIV também apresentam lesões vaginais ou cervicais relacionadas ao HPV. O risco de progressão para carcinoma invasor é mais alto em mulheres com mais de 45 anos de idade ou em mulheres imunossuprimidas. O pico de idade para o câncer vulvar basaloide e verrucoso encontra-se na 6ª década de vida. MORFOLOGIA: a NIV clássica é uma lesão branca discreta ou levemente elevada e pigmentada. Na microscopia, há espessamento da epiderme, atipia nuclear, aumento das figuras de mitose e falta de maturação celular.Os carcinomas invasores decorrentes da NIV clássica, como a imagem abaixo, podem ser exofíticos ou endurecidos, podendo ter ulceração/necrose central, como é o caso da imagem vista abaixo: CARCINOMA QUERATINIZANTE DE CÉLULAS ESCAMOSAS Surge de uma lesão intraepitelial vulvar diferenciada (NIV diferenciada ou NIV simples) e ocorre em indivíduos com líquen escleroso ou hiperplasia das células escamosas de longa data, com pico em mulheres na 8ª década. MORFOLOGIA: há uma atipia acentuada da camada basal do epitélio escamoso e há uma diferenciação de aparência normal das camadas mais superficiais. Os carcinomas invasores que surgem do NIV diferenciado possuem ninhos e línguas de epitélio escamoso maligno, com pérolas de queratina centrais proeminentes, como pode ser visto na imagem a seguir: Os carcinomas invasores que resultam do líquen escleroso, da hiperplasia das células escamosas e da NIV diferenciada podem ser diagnosticados de maneira errada como uma dermatite ou como uma leucoplasia por longos períodos. Beatriz Loureiro Isso é prejudicial, visto que, uma vez que esse carcinoma invasor se desenvolve, o risco de metástases é maior, variando de acordo com o tamanho e profundidade do tumor, além dos casos que envolvem os vasos linfáticos. Em primeiro lugar, o carcinoma invasor vai em direção aos linfonodos inguinais, pélvicos, ilíacos e periaórticos, chegando à via linfo-hematogênica, indo logo para os principais órgãos: pulmões e fígado, entre outros. LESÕES NEOPÁSICAS GLANDULARES Como a mama, a vulva contém glândulas sudoríparas apócrinas modificadas. Com isso, a vulva pode ser envolvida por dois tumores que têm correspondentes na mama, como o hidradenoma papilífero e a doença de Paget extramamária. HIDRADENOMA PAPILÍFERO Este, se apresenta como um nódulo bem circunscrito, mais comumente nos lábios maiores ou nas pregas interlabiais, e pode ser confundido clinicamente com carcinoma devido à sua tendência à ulceração. HISTOLOGIA: semelhante ao papiloma intraductal da mama, sendo projeções papilares cobertas por uma camada de células secretoras colunares, na parte superior, e uma camada de células mioepiteliais aplanadas, mais profunda, como mostrado na imagem a seguir: OBSERVAÇÃO: os elementos mioepiteliais são característicos de glândulas sudoríparas e seus tumores. DOENÇA DE PAGET EXTRAMAMÁRIA Esta lesão curiosa e rara da vulva é semelhante à doença de Paget (proliferação intraepitelial de células malignas) da mama, apresentando-se na vulva como um traçado geográfico, pruriginoso, vermelho, crostoso nos lábios maiores. MORFOLOGIA – maiores que os queratinócitos ao redor, com citoplasma pálido com mucopolissacarídeo, como mostrado na imagem abaixo. Além disso, as células expressam citoqueratina 7. As células de Paget exibem diferenciação apócrina, écrina e de queratinócitos e supostamente surgem a partir de células multipotentes encontradas nos ductos de glândulas similares às da mama encontradas na pelve vulvar. Em contraste com a doença de Paget do mamilo, na qual 100% dos pacientes têm um carcinoma ductal subjacente, a doença de Paget vulvar não é tipicamente associada ao câncer subjacente e fica confinada à epiderme da pele vulvar. O tratamento consiste na excisão local ampla. As células de Paget se espalham lateralmente dentro da epiderme, e podem estar presentes além dos limites da lesão visível. Como resultado, as células do tumor podem não ser excisadas completamente, e a doença pode recorrer. A doença de Paget intraepidérmica pode persistir por muitos anos, mesmo décadas, sem invasão ou metástases. Nos raros casos em que a invasão se desenvolve, o prognóstico é ruim. VAGINA A vagina é uma das estruturas que compõem o sistema genital interno feminino. Corresponde a um canal músculo- membranáceo tubular que comunica o útero ao meio externo. Ela esta localizada na região posterior da bexiga e da uretra e se projeta ao longo da linha mediana de sua parede anteroinferior. A porção superior do canal da vagina recebe a parte vaginal do colo do útero e possui comunicação com a cavidade uterina por meio do óstio do útero, que continua superiormente com o canal cervical. Na porção inferior da vagina está o óstio da vagina, orifício que pode ser visualizado à macroscopia no vestíbulo da vagina, região entre os lábios menores da vulva. Além do óstio da vagina, o vestíbulo da vagina contém o óstio externo da uretra, os ductos das glândulas vestibulares maiores e as glândulas vestibulares menores. Dentre as funções da vagina, destaca-se: • Canal para o sangue da menstruação; Beatriz Loureiro • Forma parte do canal de parto; • Permite relação sexual e reprodução (entrada do pênis); • Comunicação com o canal do colo e vestíbulo da vagina. 1) Prepúcio do clitóris 2) Glande do clitóris 3) Lábios menores 4) Corpo cavernoso do clitóris 5) Bulbo do vestíbulo 6) Orifício externo da uretra 7) Óstio da vagina 8) Lábios maiores 9) Abertura da glândula de Bartholin 10) Ânus 11) Glândulas vestibulares maiores MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS VAGINA SEPTADA OU DUPLA A vagina septada, ou dupla, é uma anomalia incomum que surge da falha na fusão total dos ductos de Muller e acompanha um útero duplo (útero didelfo). Essa e outras anormalidades da genitália externa podem ser manifestações de síndromes genéticas, exposição intrauterina a dietilestilbestrol (DES, usado para prevenir ameaças de aborto nas décadas de 1940 a 1960) ou outros fatores perturbadores da sinalização epitelial-estromal recíproca durante o desenvolvimento fetal. ADENOSE VAGINAL Durante o desenvolvimento embrionário, a vagina é inicialmente coberta por um epitélio colunar do tipo endocervical. Ele é normalmente substituído por um epitélio escamoso que sobe a partir do seio urogenital. Pequenas áreas residuais do epitélio glandular podem persistir na vida adulta, e sendo reconhecidas como adenose vaginal. A adenose se manifesta clinicamente como áreas vermelhas, granulares, contrastando com a mucosa vaginal rosa-clara normal ao redor. Ao exame microscópico, a adenose consiste em epitélio mucinoso colunar indistinguível do epitélio endocervical. A adenose, embora normalmente presente em uma pequena porcentagem de mulheres adultas, tem sido relatada em 35% a 90% das mulheres expostas a DES no útero CISTOS DO DUCTO DE GARTNER Os cistos do ducto de Gartner são lesões relativamente comuns, encontradas ao longo das paredes laterais da vagina, e são derivados dos vestígios dos ductos de Wolff (mesonéfricos). Consistem em cistos de 1 a 2 cm preenchidos com fluido que ocorrem em localização submucosa. Outros cistos, incluindo cistos mucosos, que ocorrem na vagina proximal, são derivados do epitélio mülleriano. Outra lesão de origem mülleriana, a endometriose pode ocorrer na vagina e simular uma neoplasia clinicamente. OBSERVAÇÃO: Os ductos de Wolff são encontrados durante a embriogênese e são estruturas urogenitais. NEOPLASIAS PRÉ-MALIGNAS E MALIGNAS DA VAGINA A maioria dos tumores benignos da vagina ocorre em mulheres em idade reprodutiva e inclui tumores estromais (pólipos estromais), leiomiomas e hemangiomas. O tumor maligno mais comum envolvendo a vagina é a propagação do carcinoma do colo uterino, seguido por um carcinoma de células escamosas primário da vagina. NEOPLASIA INTRAEPITELIAL E CARCINOMA DE CÉLULAS ESCAMOSAS Quase todos os carcinomas primários da vagina consistem em carcinomas de células escamosas associados a HPVs de alto risco. O carcinoma primário da vagina é um câncer extremamente raro, representando aproximadamente 1% das neoplasias malignas do TGF. O maior fator de risco é o carcinoma prévio do colo uterino ou da vulva; 1% a 2% das mulheres com um carcinoma cervical invasor eventualmente desenvolvem um carcinoma de células escamosas vaginal. O carcinoma de células escamosas da vagina surge a partir deuma lesão pré-maligna, a neoplasia intraepitelial vaginal (NIVA ou VAIN), análoga às lesões intraepiteliais escamosas cervicais. Normalmente, o tumor invasor afeta a porção posterior da vagina, particularmente a parede posterior na junção com a ectocérvice. As lesões nos dois terços inferiores da vagina metastatizam para os linfonodos inguinais, enquanto as lesões da parede superior da vagina tendem a envolver os linfonodos ilíacos regionais. RABDOMIOSSARCOMA EMBRIONÁRIO Beatriz Loureiro Também chamado de sarcoma botrioide, este tumor incomum composto de rabdomioblastos embrionários malignos, ocorre mais frequentemente em bebês e crianças menores que 5 anos. Esse tumor cresce como uma massa polipoide, arredondada e volumosa, com consistência de cachos de uva. Frequentemente, são confundidos como os pólipos inflamatórios benignos, o que é prejudicial para o paciente, pois, esses tumores são capazes de invadir e causar a morte por penetração na cavidade peritoneal ou por obstrução do trato urinário. COLO UTERINO Anatomicamente, o colo uterino compreende a porção vaginal externa (ectocérvice) e o canal endocervical. A ectocérvice é visível no exame vaginal e é coberta por um epitélio escamoso contínuo com a parede vaginal. O epitélio escamoso converge centralmente em uma pequena abertura chamada de orifício externo, que se continua com o canal endocervical. A endocérvice é revestida por um epitélio colunar secretor de muco. O ponto onde o epitélio escamoso e colunar se encontram é chamado de junção escamocolunar, podendo ser visto na imagem a seguir: A posição da junção varia e muda com a idade e a influência hormonal, mas em geral a junção sobe ao longo do canal endocervical com o tempo. A substituição do epitélio glandular pelo avanço do epitélio escamoso é um processo chamado de metaplasia escamosa. A área do colo uterino onde o epitélio toca o epitélio escamoso é chamada de “zona de transformação”. O ambiente epitelial singular do colo uterino o faz altamente suscetível a infecções com HPV, a principal causa de câncer do colo uterino. As células epiteliais metaplásticas escamosas imaturas na zona de transformação são mais suscetíveis à infecção por HPV, e como resultado disso, é onde se desenvolvem as lesões e cânceres precursores cervicais. A ectocérvice normal é revestida por epitélio plano estratificado não corneificado, com estratificação regular. As células da superfície possuem glicogênio, que são vacúolos claros no citoplasma. Não há glândulas na ectocérvice. Enquanto isso, a endocérvice normal é revestida por epitélio cilíndrico simples mucoso. Há glândulas na endocérvice. INFLAMAÇÕES CERVICITES AGUDA E CRÔNICA No início da menarca, a produção de estrogênios pelo ovário estimula a maturação da mucosa cervical e vaginal e a formação de vacúolos de glicogênio intracelular nas células escamosas. À medida que essas células descamam, o glicogênio fornece um substrato para microrganismos vaginais endógenos aeróbios e anaeróbios, mas particularmente para os lactobacilos, que são a espécie microbiana dominante na vagina normal. Quando ocorre a descamação, o glicogênio vira um substrato para microrganismos, sobretudo os lactobacilos normais do corpo, mantendo o pH baixo, o que impede o crescimento de microrganismos patogênicos. Em contrapartida, caso o pH se torne alcalino (sangramento, relação sexual ou uso de ducha vaginal), os lactobacilos não produzem tanto peróxido, permitindo o crescimento de microrganismos invasores, ocasionando a cervicite ou a vaginite. CAUSAS à infecções por gonococos, clamídia, micoplasma ou herpes. CONSEQUÊNCIAS à alterações reparadoras e reativas no epitélio e descamação das células escamosas de aparência atípica. COMPLICAÇÕES à doenças no trato genital superior, complicações na gravidez, IST. Beatriz Loureiro Em áreas com cervicite crônica, há um infiltrado inflamatório inespecífico, com linfócitos e plasmócitos na lâmina própria. Se ela for intensa, o epitélio de revestimento pode sofrer erosão (cervicite crônica erosiva). Ademais, quando há, além de linfócitos e plasmócitos, neutrófilos, recebe o nome de cervicite crônica ativa. PÓLIPOS ENDOCERVICAIS Os pólipos endocervicais são crescimentos exofíticos benignos que surgem dentro do canal endocervical. Eles variam de protuberâncias sésseis pequenas a grandes massas polipoides que podem avançar através do orifício externo cervical. HISTOLOGIA à histologicamente, são compostos por um estroma fibromixomatoso frouxo coberto por glândulas endocervicais secretoras de muco, frequentemente acompanhadas por inflamação, podendo ser analisado na imagem a seguir: A maior importância dos pólipos é que eles podem ser fonte de “sangramento de escape” ou sangramentos maiores que levantam a suspeita de uma lesão assustadora. A curetagem simples ou a excisão cirúrgica são curativas. NEOPLASIAS PRÉ-MALIGNAS E MALIGNAS DO COLO UTERINO Em todo mundo, o carcinoma cervical é o terceiro câncer mais comum em mulheres, com uma estimativa de 530 mil novos casos em 2008, dos quais mais da metade é fatal. PATOGENIA à Os HPVs de alto risco são as causas mais importantes do desenvolvimento do câncer de colo uterino, sobretudo aquelas infecções recorrentes, pois vão aumentar o risco de desenvolvimento de lesões precursoras do colo e do carcinoma subsequente. As infecções genitais por HPV são extremamente comuns; a maioria é assintomática e não causa qualquer alteração do tecido, não sendo, consequentemente, detectadas no Papanicolau. Com isso, há muitas mulheres com 20-24 anos que possuem o vírus, mas que possuem resultados normais no exame. Entretanto, 50% das infecções por HPV são eliminadas pelo sistema imune dentro de 8 meses (em geral, os de baixo risco) e 90% dentro de 2 anos (em geral, os de alto risco). Esse vírus vai infectar as células basais imaturas do epitélio escamoso quando há ruptura epitelial ou células escamosas metaplásicas imaturas na junção escamocolunar. Entretanto, a capacidade do HPV de ser um agente carcinogênico vai depender das proteínas virais E6 e E7, que vão interferir na atividade das proteínas supressoras tumorais (reguladoras do crescimento e sobrevivência das células). Com a ação dessas proteínas, ao invés do ciclo celular ser interrompido em G1 pela invasão viral, ele vai continuar permitindo a replicação viral. Ainda que o HPV tenha sido estabelecido firmemente como uma causa habitual de câncer cervical, não é suficiente para causar câncer. Dessa forma, outros fatores como a exposição a cocarcinógenos e o estado imune do hospedeiro influenciam se uma infecção por HPV regride ou persiste, e, enfim, evolui para um câncer. NEOPLASIA INTRAEPITELIAL CERVICAL (LESÕES INTRAEPITELIAIS ESCAMOSAS) A neoplasia intraepitelial cervical tem uma classificação específica, que recebe o nome de NIC, porém, atualmente sofreu uma modificação de nomenclatura. DIAGNÓSTICO à o diagnóstico da lesão intraepitelial de células escamosas é feito pela identificação da atipia nuclear (aumento da relação núcleo-citoplasma, hipercromasia (coloração escura), variação de tamanhos e formas nucleares, cromatina mais evidente). Essas mudanças, em geral, são acompanhadas por halos citoplasmáticos, que são vacúolos perinucleares e essa associação dos halos e mudanças é chamada de atipia coilocitótica. LESÃO ANTIGA NOMENCLATURA NOVA NOMENCLATURA Displasia leve NIC I LSIL – Lesão intraepitelial escamosa de baixo grau Displasia moderada NIC II HSIL – lesão intraepitelial escamosa de alto grau Displasia grave NIC III HSIL - lesão intraepitelial escamosa de alto grau Carcinoma in situ NIC III HSIL - lesão intraepitelial escamosa de alto grau LSIL à associada à infecção produtiva de HPV, com alto nível de replicação viral, mas pequenas alterações no crescimento das células hospedeiras. Ela não tem progressãodireta para o carcinoma invasivo, poucos casos evoluem para HSIL. Sendo assim, não se trata de uma lesão pré-maligna. Beatriz Loureiro HSIL à desregulação progressiva do ciclo celular pelo vírus, aumentando a proliferação celular, diminuindo ou parando a maturação epitelial, com pequena taxa de replicação viral. O desarranjo é irreversível, na maioria dos casos, podendo resultar em um fenótipo maligno. Esta, possui alto risco de carcinoma invasor. CARCINOMA CERVICAL A idade média das pacientes com carcinoma cervical invasor é de 45 anos. O carcinoma de células escamosas é o subtipo histológico mais comum, representando aproximadamente 80% dos casos. O segundo tipo tumoral mais comum é o adenocarcinoma, que representa aproximadamente 15% dos casos de câncer cervical e se desenvolve a partir de uma lesão precursora chamada adenocarcinoma in situ. Os carcinomas adenoescamosos e neuroendócrinos são tumores cervicais raros que representam 5% dos casos restantes. Todos os tipos tumorais citados previamente são causados por HPVs de alto risco oncogênico. MORFOLOGIA à pode ser uma massa vegetante/exofítico ou infiltrativa. O carcinoma de células escamosas (imagem abaixo) é composto por ninhos e projeções de epitélio escamoso maligno (queratinizado ou não queratinizado), que invade o estroma cervical subjacente. Por sua vez, os adenocarcinomas são caracterizados pela proliferação do epitélio glandular, que é composto por células endocervicais (lembre-se: ectocérvice não tem glândulas) malignas, com atipia, como é mostrado na imagem abaixo: O carcinoma cervical avançado se estende por disseminação direta para envolver tecidos contíguos, incluindo os tecidos paracervicais, a bexiga, os ureteres, o reto e a vagina. O câncer cervical é estadiado da seguinte forma: • Estádio 0: carcinoma in situ; • Estádio I: carcinoma confinado ao colo uterino Ia: carcinoma pré-clínico, diagnosticado apenas por microscopia. Ia1: invasão do estroma não mais profunda que 3 mm e não mais larga que 7 mm. Ia2: profundidade máxima de invasão do estroma acima de 3mm, mas não mais profundo que 5mm. Ib: carcinoma histologicamente invasivo, confinado no colo uterino: • Estádio II: carcinoma ultrapassa o colo, mas não chega até a parede pélvica. O carcinoma envolve a vagina, mas não o terço inferior: • Estádio III: carcinoma se estende para a parede pélvica e pode envolver o terço inferior da vagina: • Estádio IV: carcinoma além da pelve verdadeira ou envolve a mucosa da bexiga ou do reto. Inclui câncer metastático. ASPECTOS CLÍNICOS à Mais da metade dos cânceres cervicais invasores são detectados em mulheres que não participaram de triagem regular. Embora os cânceres invasores precoces do colo uterino (carcinomas microinvasores) possam ser tratados apenas por biópsia em cone, a maioria dos cânceres invasivos é tratada por histerectomia com dissecção de linfonodos, e, para lesões avançadas, irradiação e quimioterapia. O prognóstico e a sobrevida nos carcinomas invasores dependem em grande parte do estádio no qual o câncer é inicialmente descoberto e, em certo grau, do tipo celular, com tumores neuroendócrinos de pequenas células apresentando um prognóstico muito desanimador. Com os tratamentos atuais, a taxa de sobrevida em 5 anos é de 100% para carcinomas microinvasores, e menos do que 50% para tumores que se estendem além da pelve. A maioria dos pacientes com câncer de colo uterino avançado morre das consequências da invasão tumoral local (p. ex., obstrução uretral, pielonefrite e uremia), e não das complicações da doença metastática. RASTREAMENTO E PREVENÇÃO DO CÂNCER DO COLO UTERINO: O rastreamento citológico tem reduzido significamente a mortalidade por câncer cervical. Usando uma espátula ou Beatriz Loureiro escova, a zona de transformação do colo uterino é raspada de modo circunferencial, e as células são vistas em lâminas histológicas sob a forma de esfregaços ou após centrifugação. Após a fixação e coloração, os esfregaços são triados microscopicamente por observação ou (de maneira crescente) com sistemas de análise de imagens automatizados. à Quase todas as lesões precursoras cervicais e carcinomas cervicais são causados por tipos de HPV de alto risco, mais comumente o HPV-16. CORPO DO ÚTERO E ENDOMÉTRIO O útero é um órgão fibromuscular em forma de pera invertida, localizado na cavidade pélvica. Recebe as tubas ou trompas uterinas na parte mais superior, já na parte inferior continua-se com a vagina, com a qual forma usualmente um ângulo de 90 graus. O útero tem dois componentes principais: o miométrio e o endométrio. O miométrio composto por feixes entrelaçados de músculo liso que formam a parede do útero. A cavidade interna do útero é revestida pelo endométrio, composto por glândulas em meio a um estroma celular. O útero está sujeito a uma variedade de distúrbios, sendo que os mais comuns resultam de desequilíbrios endócrinos, complicações da gravidez e proliferação neoplásica. HISTOLOGIA ENDOMETRIAL NO CICLO MENSTRUAL O endométrio passa por mudanças morfológicas e fisiológicas dinâmicas durante o ciclo menstrual em resposta aos hormônios esteroides sexuais produzidos coordenadamente no ovário. O ovário é influenciado pelos hormônios produzidos pela hipófise, em resposta a sinais provenientes do hipotálamo. Em conjunto, os fatores hipotalâmicos, hipofisários e ovarianos, e suas interações, regulam a maturação dos folículos ovarianos, a ovulação e a menstruação. A “determinação da data” do endométrio por seu aspecto histológico muitas vezes é usada clinicamente para avaliar o estado hormonal, documentar a ovulação e determinar as causas de sangramento endometrial e infertilidade. A progressão através dos ciclos menstruais normais tem correlação com as seguintes características histológicas: • O ciclo começa com a menstruação, durante a qual a porção superficial do endométrio, chamada de camada funcional, é desprendida; • A fase de proliferação é marcada pelo rápido crescimento das glândulas e do estroma oriundo da porção mais profunda do endométrio (camada basal). Durante essa fase, as glândulas estão estruturadas retas e tubulares revestidas por células colunares regulares, altas e pseudoestratificadas; • Durante a ovulação, cessa a proliferação endometrial, e a diferenciação começa em resposta aos efeitos da progesterona produzida pelo corpo lúteo do ovário; • A pós-ovulação é marcada pela aparição de vacúolos secretórios abaixo dos núcleos no epitélio glandular. Quando a secreção é máxima, as glândulas estão dilatadas; • As mudanças estromais no fim da fase secretora, devidas predominantemente à progesterona, são importantes para estabelecer a data do endométrio; • Com a dissolução do corpo lúteo e a subsequente queda nos níveis de progesterona, a camada funcional se degenera, e ocorre sangramento no estroma, seguido do rompimento do estroma e início do próximo ciclo menstrual. DISTÚRBIOS ENDOMETRIAIS FUNCIONAIS (SANGRAMENTO UTERINO DISFUNCIONAL) Durante o ciclo, o endométrio passa por mudanças morfológicas e fisiológicas por conta dos esteroides produzidos nos ovários. Os ovários são influenciados pelos Beatriz Loureiro hormônios do eixo hipotálamo-hipófise, permitindo a maturação dos folículos, a ovulação e a menstruação. Por mais que o sangramento anormal possa ser causado por condições patológicas bem definidas (endometrite crônica, pólipos endometriais, leiomiomas submucosos ou neoplasias endometriais), geradas por perturbações hormonais que produzem sangramentos uterinos disfuncionais. CAUSAS DE SANGRAMENTO UTERINO ANORMAL POR GRUPO ETÁRIO: CICLO ANOVULATÓRIO A causa mais frequente de sangramento disfuncional é a anovulação (falha na ovulação). Os ciclos anovulatórios são resultado de desequilíbrios hormonais sutis; e são mais comuns na menarca e no período perimenopausa.A anovulação é resultado de distúrbios endócrinos, como doença da tireoide; lesões ovarianas, como os ovários policísticos; e distúrbios metabólicos generalizados, como a obesidade. CAUSAS DO CICLO ANOVULATÓRIO: desequilíbrios hormonais sutis, mais comuns na menarca e no período perimenopausa. CONSEQUÊNCIAS: estimulação excessiva do endométrio pelos estrogênios que não é equilibrada pela progesterona. Assim, há alterações estruturais das glândulas endometriais, como a dilatação cística, o que é solucionado no ciclo seguinte. à Recorrência: sangramento que leva, na biópsia, ao desaparecimento de características morfológicas vindas da progesterona, como alterações secretoras das glândulas. Isso ocorre porque o corpo lúteo, que é a fonte da progesterona, não se desenvolve sem a ovulação. FASE LÚTEA INADEQUADA Este termo se refere à condição que se manifesta clinicamente como infertilidade associada ou com aumento de sangramento ou com amenorreia. Acredita-se que a causa seja a produção inadequada de progesterona durante o período pós-ovulatório. A biópsia do endométrio realizada em uma data pós-ovulatória estimada mostra o endométrio secretor com características que não correspondem àquelas esperadas para a data estimada. DISTÚRBIOS INFLAMATÓRIOS O endométrio e o miométrio são relativamente resistentes à infecções, principalmente porque a endocérvice forma uma barreira para a infecção ascendente. Portanto, embora a inflamação crônica do colo uterino seja um achado esperado e frequentemente insignificante, é motivo de preocupação a inflamação do endométrio, excluindo a fase menstrual. ENDOMETRITE AGUDA A endometrite aguda é rara e limitada a infecções bacterianas originadas após o parto ou aborto. Produtos de concepção retidos constituem o fator predisponente usual; os agentes causadores incluem estreptococos hemolíticos do grupo A, estafilococos e outras bactérias. A resposta inflamatória é limitada, principalmente, ao estroma e é totalmente inespecífica. TRATAMENTO: retirada dos fragmentos gestacionais retidos por curetagem + antibioticoterapia. ENDOMETRITE CRÔNICA A endometrite crônica ocorre em associação com os seguintes distúrbios: à DIP; à Tecido gestacional retido, pós-parto ou pós-aborto; à Dispositivos contraceptivos intrauterinos; à Tuberculose. DIAGNÓSTICO: identificação de plasmócitos no estroma. SINTOMAS: sangramento anormal, dor, secreção e infertilidade. ENDOMETRITE E ADENOMIOSE A endometriose é definida pela presença do tecido endometrial “ectópico” em um local fora do útero. O tecido anormal inclui mais comumente tanto as glândulas endometriais quanto o estroma, mas pode consistir apenas em estroma em alguns casos. Ocorre nos seguintes locais, em ordem descendente de frequência: (1) ovários; (2) ligamentos uterinos; (3) septo retovaginal; (4) fundo do saco; (5) peritônio pélvico); (6) intestinos grosso e delgado, e apêndice; (7) mucosa do colo uterino, vagina e tubas uterinas; e (8) cicatrizes de laparotomia. A endometriose frequentemente causa infertilidade, dismenorreia, dor pélvica e outros problemas. O distúrbio é principalmente uma doença de mulheres na vida reprodutiva ativa, mais frequentemente na terceira e Beatriz Loureiro quarta décadas, afetando aproximadamente de 6% a 10% das mulheres. PATOGENIA: • Teoria Regurgitante: tecido endometrial se implanta ectopicamente, via fluxo retrógrado do endométrio menstrual, uma vez que a menstruação retrógrada acontece mesmo em mulheres normais. • Teoria das Metástases Benignas: endométrio uterino se espalha para locais mais distantes através de vasos sanguíneos e linfáticos. • Teoria Metaplásica: endométrio surge diretamente do epitélio celômico, que é o mesotélio da pelve ou do abdômen, que origina os ductos de Muller e o próprio endométrio na embriogênese. • Teoria das Células-Tronco/Progenitoras Extrauterinas: células tronco da medula se diferenciando em tecido endometrial. O endométrio implantado libera fatores pró-inflamatórios, como prostaglandina, TNF, Interleucinas, VEGF, entre outros; e, também, aumenta a produção de estrogênio pelas células endometrióticas, pois há altos níveis de aromatase, que está ausente no estroma endometrial normal. Esse é um ponto chave, pois, como o estrogênio aumenta a persistência e a vida útil do endométrio, os inibidores da aromatase são usados para o tratamento da endometriose. Esses fatores pró-inflamatórios permitem que o endométrio ectópico cresça e invada, estabelecendo redes neurovasculares e diminuindo a remoção pelo sistema imune. Acredita-se na influência de alterações epigenéticas. MORFOLOGIA: o sangramento das lesões produz nódulos com coloração vermelho-azulada ou amarelo-acastanhado sobre ou sob a superfície mucosa e/ou serosa dos locais acometidos. Nas hemorragias extensas, há aderências fibrosas entre as tubas, ovários e outras, obliterando o saco de Douglas. Os ovários podem estar distorcidos por massas císticas preenchidas com hemossiderina, chamados de cistos de chocolate ou endometriomas. As formas mais agressivas causam fibrose e aderências nos tecidos. A endometriose atípica tem duas aparências morfológicas: atipia na citologia do revestimento do epitélio que recobre o cisto, mas sem alterações estruturais; e aglomeração de glândulas pela proliferação epitelial excessiva, associada à atipia citológica, lembrando uma hiperplasia endometrial atípica complexa. ASPECTOS CLÍNICOS: os sinais e sintomas clínicos geralmente incluem dismenorreia grave, dispereunia e dor pélvica decorrente do sangramento intrapélvico e das aderências periuterinas. A dor durante a defecação indica envolvimento da parede retal e a disúria resulta do envolvimento da serosa da bexiga. Irregularidades menstruais são comuns e infertilidade é uma queixa de apresentação em 30% a 40% de mulheres. Embora raro, tumores malignos podem se desenvolver nesse contexto. ADENOMIOSE Presença de tecido endometrial no miométrio, permanecendo em continuidade com o endométrio. MICROSCOPIA – ninhos irregulares de estroma endometrial, podendo ter ou não glândulas, separados da membrana basal. SINTOMAS – menometrorragia, dismenorreia em cólica, dispareúnia e dor pélvica. Pode ocorrer em conjunto com a endometriose PÓLIPOS ENDOMETRIAIS Massas exofíticas que se projetam para a cavidade endometrial, podendo ser únicos ou múltiplos, sésseis ou pediculados. Podem ser assintomáticos ou causar sangramentos caso ocorra ulceração ou necrose. As glândulas nos pólipos podem estar hiperplásicas ou atróficas, podendo demonstrar alterações secretoras, sendo chamados, no caso, de pólipos funcionais. Quando esses pólipos estão associados com a hiperplasia endometrial generalizada, eles têm a capacidade de se tornarem hiperplásicos. É raro, mas adenocarcinomas podem surgir no interior de pólipos endometriais. Beatriz Loureiro OBSERVAÇÃO: tem sido observado que, na administração e tamoxifeno, utilizado para o câncer de mama, podem surgir pólipos endometriais. HIPERPLASIA ENDOMETRIAL Esta, é uma causa importante de sangramento anormal, e uma precursora frequente dos tipos mais comuns de carcinoma endometrial. É definida como um aumento da proliferação das glândulas endometriais relativas ao estroma, resultando em maior proporção de glândulas para estroma em comparação ao endométrio proliferativo normal. A hiperplasia endometrial está associada à estimulação estrogênica prolongada do endométrio, que pode ser decorrente de anovulação, aumento da produção de estrogênio a partir de fontes endógenas, ou devido a estrogênio exógeno. As condições associadas incluem obesidade, menopausa, síndrome do ovário policístico, tumores de células granulosas funcionais do ovário, função cortical ovariana excessiva e a administração prolongada de substancias estrogênicas. CONSEQUÊNCIA: Causa importante de sangramento anormal,sendo um precursor de carcinoma endometrial, portanto, tem potencial maligno. à A inativação do gene supressor de tumores PTEN é uma alteração genética comum entre a hiperplasia e o carcinoma endometrial. Quando se perde a função do PTEN, a via PI3/Akt é ativada em excesso. Essa via melhora a capacidade do receptor de estrogênio de ativar a expressão de seus genes-alvo. Desse modo, quando o PTEN não exerce a sua função, vai ocorrer a estimulação da expressão de genes que dependem do estrogênio, permitindo o crescimento de células epiteliais endometriais e mamárias. Isso se relaciona pelo fato de pacientes com a síndrome de Cowden (mutações na linhagem germinativa do PTEN) terem um alto índice de desenvolvimento de carcinoma endometrial e câncer de mama. MORFOLOGIA: A hiperplasia típica possui um aumento na relação glândula/estroma, sendo que essas glândulas podem ser de tamanhos e forma, podendo, até mesmo, estar dilatadas. Ela pode evoluir para atrofia cística nos casos em que o estrogênio é retirado. A hiperplasia atípica (neoplasia intraepitelial endometrial), apresenta atipia nuclear, glândulas justapostas e perda da orientação perpendicular em relação à lâmina basal. As cromatinas ficam abertas e os nucléolos evidentes. Em geral, ela vai ser tratada com histerectomia em mulheres mais velhas e terapia com progestina e acompanhamento cuidadoso. TUMORES MALIGNOS DO ENDOMÉTRIO CARCINOMA DO ENDOMÉTRIO Esse câncer é o mais invasor do TGF mais comum. Representa 7% de todos os cânceres invasores em mulheres, excluindo-se o câncer de pele. PATOGENIA: estudos clinicopatológicos e análises moleculares sustentam a classificação do carcinoma endometrial em duas grandes categorias, citadas como tipo I e tipo II, conforme resumido na tabela abaixo: CARACTERÍSTICAS TIPO I TIPO II IDADE 55-65 anos 65-75 anos SITUAÇÃO CLÍNICA Estrogênio sem oposição; obesidade; hipertensão; diabetes Atrofia, biótipo magro MORFOLOGIA Endometrioide Seroso, célula clara, tumores mullerianos mistos PRECURSOR Hiperplasia Carcinoma intraepitelial endometrial seroso GENÉTICA PTEN; ARID1A (regulador de cromatina); PIK3CA (PI3K); KRAS; FGF2 (fator de crescimento; IM (instabilidade de microssatélites); CTNNB1 (sinalização de Wnt); TP53 TP53, aneuploidia, PIK3CA (PI3K), FBXW7 (regulador de ciclina E, MYC), CHD4 (regulador de cromatina), PPP2R1A (PP2A) COMPORTAMENTO Indolente, disseminação através dos vasos linfáticos Agressivo, disseminação intraperitoneal e linfática CARCINOMA TIPO I (ENDOMETRIOIDE) Beatriz Loureiro Representa o tipo mais comum, respondendo por mais de 80% dos casos. A maioria é bem diferenciada e imita as glândulas endometriais proliferativas, e como tais, são chamados de carcinomas endometrioides. Eles surgem tipicamente nas condições de hiperplasia endometrial, e como a hiperplasia endometrial, são associados com obesidade, diabetes, hipertensão, infertilidade e estimulação estrogênica sem antagonismo. Da mesma forma que com outros cânceres, o desenvolvimento de um carcinoma endometrial envolve a aquisição em etapas de várias alterações genéticas nos genes supressores de tumores e oncogenes. O sequenciamento dos genomas dos carcinomas endometrioides tipo I tem mostrado que as mutações mais comuns agem de maneira a aumentar a sinalização através da via PI3K/AKT, que é a marca desse tipo específico de tumor. A sinalização PI3K/AKT aumenta de alguma forma a expressão dos genes-alvo dependentes de receptores de estrogênio em células endometriais. Os carcinomas endometriais tipo I são um tanto únicos no sentido de que os tumores individuais podem abrigar múltiplas mutações que aumentam a sinalização PI3K/AKT, sugerindo o desenvolvimento e a progressão do tumor são incentivados por aumentos sucessivos na força do sinal. MORFOLOGIA: o carcinoma endometrioide pode tomar a forma de um tumor polipoide localizado, ou de um tumor que infiltra difusamente o revestimento endometrial. Os adenocarcinomas endometrioides demonstram padrões de crescimento das glândulas que lembram o epitélio endometrial normal. Há 3 graus histológicos diferenciados (grau 1 – imagem B); moderadamente diferenciado (grau 2 – imagem C); e pouco diferenciado (grau 3 – imagem D). CARCINOMA TIPO II (SEROSO) Geralmente ocorre em mulheres que são em torno de 10 anos mais velhas do que aquelas com os carcinomas tipo I; em contraste com o carcinoma tipo I, geralmente surge no contexto de atrofia endometrial. Os tumores tipo II por definição são pouco diferenciados (grau 3) e representam aproximadamente 15% dos casos de carcinoma endometrial. O subtipo mais comum é o carcinoma seroso. As mutações no supressor de tumores TP53 estão presentes em pelo menos 90% dos carcinomas endometriais serosos. A maioria são mutações com troca de sentido (missense), que resultam em um acúmulo da proteína alterada. MORFOLOGIA: geralmente, os carcinomas serosos surgem em úteros pequenos e atróficos e frequentemente constituem tumores grandes e volumosos, ou profundamente invasivos para o miométrio. A lesão precursora, o carcinoma intraepitelial endometrial seroso, consiste em células malignas idênticas às do carcinoma seroso, que permanecem confinadas às superfícies epiteliais. ASPECTOS CLÍNICOS: é incomum em mulheres com menos de 40 anos. Embora possa permanecer assintomático por um período de tempo, geralmente produz sangramento vaginal irregular ou no período pós-menopausa, com leucorreia excessiva. O aumento do útero pode estar ausente nos estágios iniciais. O diagnóstico do câncer endometrial deve ser estabelecido através de exame histológico do tecido obtido por biópsia ou curetagem. TUMORES MULLERIANOS MISTOS MALIGNOS São adenocarcinomas endometriais com um componente mesenquimal maligno. Alguns vão conter elementos que lembram sarcomas estromais e leiomiossarcomas e outros Beatriz Loureiro possuem tipos celulares malignos heterólogos (rabdomiossarcoma, condrossarcoma). MUTAÇÕES GENÉTICAS: PTEN, TP53, PIK3CA. MORFOLOGIA: em geral, são volumosos e polipoides, podendo ser salientes no óstio cervical. HISTOLOGIA: adenocarcinomas + elementos mesenquimais malignos. CLÍNICA: em mulheres na pós menopausa, pode ter sangramento. TUMORES DO ESTROMA ENDOMETRIAL Estes tumores relativamente incomuns compreendem menos do que 5% dos cânceres endometriais e incluem neoplasias estromais combinadas com glândulas benignas (adenossarcomas) e neoplasias estromais puras. ADENOSSARCOMAS São crescimentos polipoides endometriais, com a base mais larga e mais ampla, que podem sofrer prolapso pelo óstio cervical. DIAGNÓSTICO: estroma com malignidade + glândulas endometriais anormais benignas. MALIGNIDADE: baixo grau TUMORES ESTROMAIS São divididos em nódulos estromais benignos e sarcomas de estroma endometrial (de baixo ou alto grau). Os sarcomas se associam às translocações cromossômicas, que criam fusão de genes. TUMORES DO MIOMÉTRIO LEIOMIOMAS Os leiomiomas uterinos (comumente chamados fibroides) talvez constituam o tipo de tumor mais comum em mulheres. São neoplasias benignas de músculo liso, que podem ocorrer isoladamente, porém são mais frequentemente múltiplas e com cariótipo normal, mas pode haver anormalidade cromossômica. MORFOLOGIA: tumores circunscritos, nítidos, arredondados, firmes, cinza-esbranquiçados, podendo ser pequenos ou volumosos. Raramente são encontrados no miométrio e raramente envolvem os ligamentos uterinos, o colo ou o segmento uterino inferior. HISTOLOGIA: células musculares lisas que lembram o miométrio não envolvido. VARIANTE RARA: leiomioma metastatizante benigno, que é um leiomioma que se estende para vasos, chegando, sobretudo, aos pulmões. Outra variante é a leiomiomatose peritoneal disseminada, que forma vários nódulos pequenos no peritônio. SINTOMAS: sangramentoanormal, aumento da frequência urinária, dor súbita, problemas na fertilidade, abortos espontâneos, má apresentação fetal, inércia uterina e hemorragia pós-parto. LEIMIOSSARCOMAS São neoplasias malignas raras, que surgem do miométrio ou de células precursoras do estroma endometrial (não de leiomiomas). Há alterações genéticas, incluindo deleções. MORFOLOGIA: crescem como massas volumosas escamosas que invadem a parede do útero ou como massas polipoides projetadas para a luz da cavidade uterina. Há atipias citológicas bem diferenciadas – presença de figuras de mitose, acompanhadas de necrose. Os leimiossarcomas ocorrem tanto antes como após a menopausa, com uma incidência máxima entre 40 a 60 anos de idade. Esses tumores geralmente recorrem após a Beatriz Loureiro cirurgia, e mais da metade acaba metastatizando pela corrente sanguínea até órgãos distantes, como pulmões, ossos e cérebro. A taxa de sobrevida em 5 anos é aproximadamente 40%, mas as lesões anaplásticas têm uma taxa de sobrevida em 5 anos de apenas 10% a 15%. TUBAS UTERINAS As tubas uterinas, também conhecidas como trompas de falópio, é uma porção do sistema reprodutor feminino. Elas estão localizadas entre cada ovário até o útero. São dois tubos de cerca de 10 cm que se localizam um de cada lado do útero e conduzem os óvulos produzidos nos ovários até esse órgão. É nas tubas que ocorre a fecundação. Possuem camadas muscular, mucosa e serosa e se dividem em quatro partes: • Parte uterina: localiza-se na parede do útero; • Istmo: situa-se junto ao útero. Corresponde à porção medial, menos calibrosa e menos móvel do órgão; • Ampola: dilatação que se segue ao istmo e onde em geral ocorre a fecundação. É a parte mais longa e calibrosa das tubas; • Infundíbulo: extremidade da tuba, que se abre próximo ao ovário. É nessa última porção que se localizam as fímbrias, espécies de franjas que se abrem na cavidade do peritônio por meio de uma abertura denominada óstio abdominal. As fímbrias se movimentam, conduzindo o ovócito para o interior das tubas. Os distúrbios mais comuns que afetam a tuba uterina são as infecções e condições inflamatórias associadas, seguidas em frequência pela gravidez ectópica (tubária) e pela endometriose. INFLAMAÇÕES A salpingite supurativa pode ser causada por qualquer organismo piogênico, e, em alguns casos, mais de um organismo está envolvido. Em mais de 60% dos casos deste distúrbio o agente causador é o Gonococcus, sendo as Chamydiae as responsáveis por muitos dos casos restantes. Essas infecções tubárias fazem parte da DIP. TUMORES E CISTOS As lesões primárias mais comuns da tuba uterina (excluindo- se endometriose) são cistos mínimos, translúcidos, de 0,1 a 2 cm, preenchidos por um líquido seroso claro, chamados cistos paratubários. Variantes maiores são encontradas próximo à extremidade fimbriada da tuba ou nos ligamentos largos e são citadas como hidátides de Morgagni. Esses cistos, revestidos por epitélio seroso benigno (tipo tubário), são supostamente originados de vestígios do ducto de Muller e tem pouca importância. TUMORES BENIGNOS: adenomatoides (na subserosa ou na mesossalpinge). TUMORES MALIGNOS: adenocarcinoma primário (massa tubária dominante). OVÁRIOS Os ovários são gônadas femininas com formato e tamanho semelhantes ao de uma amêndoa, nos quais se desenvolvem os oócitos, que são as células germinativas femininas. Eles são glândulas produtoras dos hormônios sexuais. Cada ovário é suspenso por uma curta prega peritoneal ou mesentério, chamado de mesovário, que é uma subdivisão do ligamento largo. A superfície do ovário é revestida pela túnica albugínea do ovário (tecido conjuntivo), que, por sua vez, é revestida pelo mesotélio ovariano, também chamado de epitélio germinativo (epitélio simples cúbico, acinzentado, fosco). O ligamento suspensor do ovário se torna contínuo com o mesovário do ligamento largo. O ligamento útero-ovárico curto fixa o ovário ao útero, unindo a extremidade uterina do ovário ao ângulo lateral do útero, inferior à entrada da tuba uterina. O ovário está suspenso na cavidade peritoneal e sua superfície não é coberta por peritônio. Beatriz Loureiro As mais comuns lesões encontradas no ovário incluem cistos benignos ou funcionais e tumores. Os distúrbios neoplásicos podem ser agrupados de acordo com a sua origem a partir de cada um dos três tipos de células principais dos ovários: (1) o epitélio mulleriano; (2) as células germinativas; e (3) as células estromais dos cordões sexuais. As inflamações primárias do ovário (ooforite) são incomuns, e em raras ocasiões podem ter uma base autoimune (ooforite autoimune); as reações autoimunes afetam os folículos ovarianos e podem levar à infertilidade. CISTOS FUNCIONAIS E NÃO NEOPLÁSICOS CISTOS FOLICULARES E LUTEÍNICOS Os foliculares são comuns nos ovários, com origem nos folículos graafianos que não se romperam ou nos folículos que se romperam, mas foram imediatamente fechados. MORGOLOGIA: os foliculares são múltiplos, preenchidos por líquido seroso claro e revestido por membrana cinza- brilhante. Os luteínicos são revestidos por borda de tecido amarelo-brilhante contendo células da granulosa luteinizadas. OVÁRIOS POLICÍSTICOS E HIPERTECOSE ESTROMAL A síndrome do ovário policístico (SOP) ou síndrome de Stein- Leventhal, é um distúrbio endócrino, em que há hiperandrogenismo, anormalidades menstruais, ovários policísticos, anovulação crônica e diminuição de fertilidade. FATORES DE RISCO: obesidade, DM II e aterosclerose prematura. PATOGENIA: desregulação das enzimas que fazem a biossíntese de andrógenos e estão envolvidas na produção excessiva de andrógenos. Assim, há formação de cistos foliculares que aumentam os ovários, deixando a mulher com risco de hiperplasia endometrial e carcinoma. A hipertecose estromal ou hiperplasia estromal cortical, é um distúrbio do estroma ovariano que pode se sobrepor à SOP, causando o aumento uniforme do ovário e uma coloração branco ou marrom-claro. HISTOLOGIA: estroma hipercelular, ninhos nítidos de células com citoplasma vacuolado. Beatriz Loureiro
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