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Patologia do Trato Genital Feminino

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Laísa Dinelli Schiaveto 
 
Patologia do Trato Genital Feminino 
Introdução 
O trato genital feminino é composto por dois grupos 
de órgãos: os internos e os externos. Sendo que, o 
grupo de órgãos internos é composto pelos ovários, 
tubas uterinas, útero e vagina; enquanto, o grupo de 
órgãos externos – que formam a vulva – é composto 
pelo monte púbico, grandes lábios, pequenos lábios, 
vestíbulo, glândulas vestibulares maiores (de Bartholin) 
e menores, e clitóris. 
 
Obs.: É importante destacar que, as mamas também 
são consideradas partes do sistema genital feminino. 
Embriologia 
O desenvolvimento normal do trato genital feminino 
se dá através de uma série de eventos precisamente 
coreografados, envolvendo as células germinativas 
primordiais, ductos de Müller (paramesonéfricos), 
ductos de Wolff (mesonéfricos), e seio urogenital. 
 
As células germinativas surgem na parede do saco 
vitelino até a 4ª semana de gestação. Até a 5ª ou 6ª 
semana, elas migram para a crista urogenital e induzem 
a proliferação do epitélio mesodérmico, que gera o 
epitélio e o estroma do ovário. 
Os ductos de Müller laterais se formam 
aproximadamente na 6ª semana de desenvolvimento 
através da invaginação e fusão do epitélio de 
revestimento do celoma. Crescem progressivamente 
em direção caudal para entrar na pelve, onde se 
curvam em direção medial para se fundir com o seio 
urogenital no tubérculo de Müller. A continuação do 
crescimento caudal coloca esses ductos fundidos em 
contato com o seio urogenital. As porções superiores 
não fundidas dos ductos de Müller amadurecem para 
se tornar as tubas uterinas, enquanto a porção inferior 
fundida se desenvolve para formar o útero, o colo 
uterino, e a parte superior da vagina. 
O seio urogenital se desenvolve quando a cloaca é 
subdividida pelo septo urorretal; ele forma, no final, a 
parte inferior da vagina e o vestíbulo da genitália 
externa. 
Normalmente os ductos mesonéfricos regridem nas 
mulheres, porém vestígios podem persistir na vida 
adulta como inclusões epiteliais adjacentes aos ovários, 
tubas e útero. No colo uterino e na vagina esses 
vestígios podem ser císticos e são chamados de cistos 
do ducto de Gartner. 
O revestimento epitelial do trato genital feminino e a 
superfície ovariana têm origem comum a partir do 
epitélio celômico (mesotélio), o que pode explicar 
porque aparecem lesões benignas e malignas 
morfologicamente semelhantes em vários locais 
dentro do trato genital feminino e das superfícies 
peritoneais adjacentes. 
As doenças do trato genital feminino são 
extremamente comuns e incluem complicações da 
gravidez, infecções, tumores e efeitos induzidos por 
hormônios. 
Infecções 
Uma grande variedade de microrganismos pode 
infectar o trato genital feminino. 
• Infecções por Candida, Trichomonas vaginalis e 
Gardnerella vaginallis são extremamente comuns, 
podendo causar desconforto significativo; 
Laísa Dinelli Schiaveto 
 
• Infecções por Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia 
trachomatis são causas importantes de infertilidade 
feminina; 
• Infecções por Ureaplasma urealyticum e Mycoplasma 
hominis estão implicadas em partos pré-termos; 
• Os vírus, especialmente os vírus de herpes simples 
(HSVs) e os papilomavírus humanos (HPVs) 
apresentam morbidade considerável; os HSVs 
causam ulcerações genitais dolorosas, enquanto os 
HPVs estão envolvidos na patogenia de cânceres 
cervicais, vaginais e vulvares. 
Muitas dessas infecções são transmitidas sexualmente, 
incluindo tricomoníase, gonorreia, cancro mole, 
granuloma inguinal, linfogranuloma venéreo, sífilis, 
micoplasmas, clamídia, HSV e o HPV. 
INFECÇÕES 
DO TRATO GENITAL INFERIOR 
VÍRUS DO HERPES SIMPLES 
A infecção genital pelo vírus do herpes simples é 
comum, envolvendo, por ordem de frequência, o colo 
uterino, a vagina e a vulva. Os HSVs são vírus DNA 
que incluem dois sorotipos, o HSV-1 e o HSV2. 
O HSV-1 tipicamente resulta em infecção orofaríngea, 
enquanto o HSV-2 geralmente envolve a mucosa 
genital e a pele. Contudo, dependendo das práticas 
sexuais, o HSV-1 pode ser detectado na região genital 
e o HSV-2 também pode causar infecções orais. 
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS 
As lesões se desenvolvem tipicamente de 3 a 7 dias 
após a transmissão e são frequentemente associadas a 
sintomas sistêmicos, como febre, mal-estar e 
linfonodos inguinais sensíveis. 
O início das lesões geralmente consiste em pápulas 
vermelhas que evoluem para vesículas, e então para 
úlceras coalescentes dolorosas. Essas são facialmente 
visíveis na pele e mucosa vulvares, enquanto as lesões 
cervicais ou vaginais apresentam secreção purulenta e 
dor pélvica. Ainda, as lesões ao redor da uretra podem 
causar micção dolorosa e retenção urinária. 
As vesículas e úlceras contêm numerosas partículas 
virais, explicando a taxa de transmissão elevada 
durante a infecção ativa. 
As lesões de mucosa e de pele cicatrizam 
espontaneamente em 1 a 3 semanas; porém, durante a 
infecção aguda, o vírus migra para os gânglios nervosos 
lombossacrais regionais, estabelecendo uma infecção 
latente. Devido à latência viral, as infecções por HSV 
persistem indefinidamente, e qualquer redução da 
função imunológica, bem como o estresse, o trauma, a 
radiação ultravioleta e as alterações hormonais, pode 
desencadear a reativação do vírus e a recorrência das 
lesões da pele e mucosa. 
Obs.: 1/3 dos indivíduos infectados é sintomático. 
 
MORFOLOGIA 
No momento em que é feita a biopsia da lesão do HSV, 
ela tipicamente está na fase de úlcera. O epitélio fica 
descamado, e está presente uma inflamação aguda 
acentuada no leito da úlcera. Os esfregaços do 
exsudato inflamatório das lesões ativam alterações 
citopáticas caraterísticas do HSV, que consistem em 
células escamosas multinucleadas contendo inclusões 
virais eosinófilas a basófilas, com um aspecto de “vidro 
fosco”. 
 
TRANSMISSÃO 
Ocorre principalmente durante a fase ativa, mas ela 
pode ocorrer ocasionalmente durante a fase latente, 
devido à descamação subclínica do vírus. A infecção 
prévia por HSV-1 parece reduzir a suscetibilidade à 
infecção por HSV-2. 
A consequência mais grave da infecção por HSV é 
transmissão ao recém-nascido durante o parto. O 
risco é maior se a infecção estiver ativa durante o 
Laísa Dinelli Schiaveto 
 
parto e particularmente se constituir uma infecção 
primária (inicial) a mãe. Uma incisão cesariana é 
justificada nesses casos. Além disso, a infecção por 
HSV-2 facilita a aquisição e a transmissão do HIV-1. 
Obs.: Preservativos e terapias antivirais podem 
reduzir o risco de transmissão, mas não o previnem. 
Obs.: As mulheres são mais suscetíveis à transmissão 
do que os homens. 
DIAGNÓSTICO 
Se baseia nos achados clínicos típicos e na detecção de 
HSV. O exsudato purulento é aspirado das lesões e 
inoculado em uma cultura de tecido. Após 48 a 72 
horas, o efeito citopático viral pode ser observado e o 
vírus pode então ser isolado e ter o sorotipo 
determinado. 
Além disso, alguns laboratórios oferecem testes mais 
sensíveis como a reação em cadeia da polimerase, 
ensaios imunoabsorventes enzimáticos e teste de 
anticorpos por imunofluorescência direta para 
detecção de HSV nas secreções lesionais. 
Obs.: Indivíduos com infecção primária por HSV em 
fase aguda não possuem anticorpos séricos anti-HSV. 
A detecção de anticorpos anti-HSV no soro é 
indicativa de infecção latente/recorrente. 
TRATAMENTO 
Não existe um tratamento eficaz para HSV latente; 
contudo, agentes antivirais, como aciclovir ou 
fanciclovir podem reduzir a duração da fase 
sintomática inicial e recorrente. 
A solução definitiva seria uma vacina efetiva, um 
objetivo atraente que ainda não foi alcançado. 
MOLUSCO CONTAGIOSO 
Trata-se de uma lesão cutânea ou das mucosas, 
causada por um poxvirus. Existem quatro tipos de 
vírus do molusco contagioso (MCVs), MCV-1 até 
MCV-4, sendo que o MCV-1 é o mais prevalente e o 
MCV-2 é o mais frequentementetransmitido por 
contato sexual. 
As infecção são comuns em crianças entre 2 a 12 anos 
de idade e são transmitidas por contato direto ou 
artigos compartilhados (ex.: toalhas). O molusco pode 
afetar qualquer área da pele, porém é mais comum no 
tronco, braços e pernas. Já, em adultos, estas infecções 
tipicamente têm transmissão sexual e afetam os 
genitais, a porção inferior do abdome, as nádegas e a 
parte interna das coxas. 
O período de incubação médio corresponde a 6 
semanas. 
O diagnóstico se baseia no aspecto clínico 
caraterístico de pápulas peroladas em forma de cúpula 
com uma depressão central. Estas medem de 1 a 5 mm 
de diâmetro, e seu núcleo ceroso central contém 
células com inclusões virais intracitoplasmáticas. 
 
 
INFECÇÕES FÚNGICAS 
Especialmente aquelas causadas por leveduras 
(Candida), sendo extremamente comuns. Na verdade, 
as leveduras fazem parte da microbiota vaginal normal 
de muitas mulheres e o desenvolvimento de candidíase 
sintomática é tipicamente o resultado de uma 
perturbação no ecossistema microbiano vaginal da 
paciente. Diabetes melito, antibióticos, gravidez e 
condições que resultem em comprometimento da 
função dos neutrófilos ou da célula T Th17 são 
permissivos com a infecção fúngica sintomática. 
Quando sintomática, se manifesta por prurido 
vulvovaginal acentuado, eritema, inchaço e secreção 
vaginal semelhante a leite coalhado. A infecção grave 
pode resultar em ulcerações da mucosa. 
Laísa Dinelli Schiaveto 
 
 
O diagnóstico é feito encontrando-se os 
pseudoesporos ou hifas fúngicas filamentosas, ao se 
adicional a solução KOH na lâmina preparada com a 
secreção ou no esfregaço de Papanicolau. 
Obs.: Embora a transmissão sexual da infecção por 
levedura tenha sido documentada, a candidíase não é 
considerada uma DST. 
TRICHOMONAS VAGINALIS 
É um protozoário ovoide flagelado de grande tamanho, 
geralmente transmitido pelo contato sexual, que se 
desenvolve de 4 dias a 4 semanas. 
As pacientes podem ser assintomáticas ou podem se 
queixar de uma secreção vaginal amarelada e 
espumosa, desconforto vulvovaginal, disúria e 
dispareunia. As mucosas vaginais e cervicais 
tipicamente apresentam aspecto vermelho-vivo, com 
acentuada dilatação dos vasos da mucosa cervical 
resultando em um aspecto colposcópico característico 
de “colo uterino em morango”. 
 
GARDNERELLA VAGINALIS 
É um bacilo Gram-negativo que está associado como a 
causa principal de vaginose bacteriana (vaginite). 
As pacientes tipicamente apresentam uma secreção 
vaginal fina, verde-acinzentada, com odor desagradável 
(de peixe). 
 
Os esfregaços de Papanicolau revelam células 
escamosas superficiais e intermediarias recobertas por 
cocobacilos com aspecto pilosos. As culturas 
bacterianas nesses casos revelam G. vaginalis e outras 
bactérias, incluindo peptoestreptococos anaeróbicos e 
estreptococos α-hemolíticos aeróbicos. 
Obs.: Em pacientes grávidas, a vaginose bacteriana foi 
implicada em trabalho de parto prematuro. 
UREAPLASMA UREALYTICUM 
E MYCOPLASMA HOMINIS 
Respondem por alguns casos de vaginite e cervicite e 
têm sido associadas à corioamnionite e ao parto 
prematuro em pacientes grávidas. 
CHLAMYDIA TRACHOMATIS 
Assume a forma de cervicite. 
Contudo, em algumas pacientes, a infecção ascende até 
o útero e às tubas uterinas, resultando em 
endometrite e salpingite, sendo uma das causas de 
doença inflamatória pélvica (DIP). 
INFECÇÕES ENVOLVENDO OS 
TRATOS GENITAIS INFERIOR E 
SUPERIOR 
DOENÇA INFLAMATÓRIA PÉLVICA (DIP) 
É uma infecção que começa na vulva ou na vagina e se 
espalha para cima de modo a envolver a maioria das 
estruturas do sistema genital feminino, resultando em 
dor pélvica, sensibilidade dos anexos, febre e secreção 
vaginal. 
Laísa Dinelli Schiaveto 
 
A Neisseria gonorrhoeae é a causa mais comum da DIP, 
sendo a complicação mais seria da gonorreia em 
mulheres. A infecção por Clamydia é outra causa 
também muito comum. As infecções após abortos 
espontâneos ou induzidos e partos normais ou 
anormais – infecções puerperais – também são causas 
importantes; nessas situações, as infecções são 
tipicamente polimicrobianas e podem ser causadas por 
estafilococos, estreptococos, coliformes e pelo 
Clostridium perfringens. 
Com o gonococo, as alterações inflamatórias 
começam a aparecer aproximadamente 2 a 7 dias após 
a inoculação. A infecção inicial envolve mais 
comumente a mucosa endocervical, mas ela também 
pode começar na glândula de Bartholin e em outras 
glândulas vestibulares ou periuretrais. A partir de 
qualquer um desses lugares, os organismo podem se 
disseminar para cima e envolver as tubas uterina e a 
região tubo ovariana. 
Já, as infecções bacterianas não gonocócicas que 
seguem uma aborto induzido, dilatação e curetagem 
do útero, e outros procedimentos cirúrgicos se 
disseminam a partir do útero para cima, pelos canais 
linfáticos ou venosos, e não pela superfície mucosa. 
Assim, essas infecções tendem a produzir mais 
inflamação dentro das camadas mais profundas dos 
órgãos do que as infecções gonocócicas. 
MORFOLOGIA 
A infecção gonocócica é caracterizada pela inflamação 
aguda acentuada das superfícies mucosas envolvidas. 
Os esfregaços do exsudato inflamatório revelam 
diplococos Gram-negativos fagocitados dentro de 
neutrófilos. 
Se a infecção se espalhar, o endométrio é geralmente 
poupado (por razões não claras). No entanto, dentro 
das tumbas uterinas, segue-se uma salpingite 
supurativa aguda, fazendo com que a mucosa das tubas 
uterinas torne-se congesta e infiltrada difusamente por 
neutrófilos, plasmócitos e linfócitos, resultando em 
lesão epitelial e descamação das pregas. Além disso, a 
luz das tubas torna-se preenchida por um exsudato 
purulento que pode vazar pelas fimbrias da 
extremidade do órgão. 
A infecção pode se propagar até o ovário, criando uma 
salpingo-ooforite. Coleções de pus podem se acumular 
dentro do ovário e da tuba (abscessos tubo-ovariano) 
ou no lúmen da tuba (piossalpingite). 
 
Com o tempo, os organismos infectantes podem 
desaparecer, mas as pregas tubárias, desnudadas de 
seu epitélio de revestimento, aderem umas às outras, 
e lentamente serão fundidas em um processo de 
cicatrização, formando espaços semelhantes a 
glândulas e bolsas cegas – salpingite crônica. A 
cicatrização da luz tubaria e das fímbrias pode impedir 
a apreensão e a passagem de ovócitos, resultando em 
infertilidade ou gravidez ectópica. Ainda, a 
hidrossalpingite pode se desenvolver como 
consequência da fusão das fímbrias e o subsequente 
acúmulo de secreções tubarias e da distensão tubária. 
 
Comparando-se com as infecções gonocócicas, a DIP 
causada por estafilococos, estreptococos e outros 
invasores puerperais tende a exibir menos 
envolvimento da mucosa e da luz tubária, e mais 
inflamação dentro das camadas teciduais mais 
profundas. A bacteremia é uma complicação mais 
frequente da DIP estreptocócica ou estafilocócica. 
COMPLICAÇÕES 
As complicações agudas da DIP incluem peritonite e 
bacteremia, que podem resultar em endocardite, 
meningite e artrite supurativa. 
Laísa Dinelli Schiaveto 
 
As sequelas crônicas da DIP incluem infertilidade e 
obstrução tubária, gravidez ectópica, dor pélvica e 
obstrução intestinal devido a aderências entre o 
intestino e os órgãos pélvicos. 
TRATAMENTOS 
Nos estágios iniciais, as infecções gonocócicas são 
facilmente controladas com antibióticos. 
As infecções que ficam enclausuradas nos abscessos 
tubo-ovarianos são difíceis de erradicar com 
antibióticos, e às vezes é necessário remover os 
órgãos cirurgicamente. 
As DIPs pós-aborto e pós-parto também são 
responsivas ao tratamento com antibióticos, porém 
seu controle é muito mais difícil devido ao amplo 
espectro de patógenos que podem estar envolvidos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Vulva 
A vulva é representada pelos órgãos genitais externos, 
compreendendo o monte do púbis, os lábios maiores, 
os lábios menores, o clitóris,vestíbulo e as glândulas 
vestibulares maiores (de Bartholin) e menores. 
Serve como tecido sensitivo e erétil para excitação e 
relação sexual; para orientar o fluxo de urina; e para 
evitar a entrada de material estranho nos sistemas 
genital e urinário. 
 
Monte do Púbis: É a eminência adiposa, arredonda, 
anterior à sínfise púbica, tubérculos púbicos e ramo 
superior do púbis. Esta é formada por massa de tecido 
adiposo subcutâneo, sendo que a quantidade de tecido 
adiposo aumenta na puberdade e diminui após a 
menopausa. A superfície do monte é continua com a 
parede anterior do abdome e, após a puberdade, é 
coberto por pelos pubianos. 
Lábios Maiores: São pregas cutâneas proeminentes 
que proporcionam proteção indireta para o clitóris e 
para os óstios da uretra e da vagina. Seguem sentido 
ínfero-posterior do monte do púbis em direção ao 
ânus. Estão situados nas laterais da rima do pudendo, 
uma depressão central onde localiza-se os pequenos 
lábios e o vestíbulo da vagina. As faces externas na 
mulher adulta são cobertas por pele pigmentada 
contendo muitas glândulas sebáceas e por pelos 
pubianos. As faces internas são lisas, rosadas e não 
possui pelos. 
Lábios Menores: São pregas arredondadas de pele 
sem pelos e sem tecido adiposo. Estão situados na rima 
do pudendo, circundam imediatamente e fecham o 
vestíbulo da vagina, no qual se abrem os óstios externo 
da uretra e da vagina. Possuem um núcleo de tecido 
conjuntivo esponjoso contendo tecido erétil em sue 
base e muitos pequenos vasos sanguíneos. 
Anteriormente, formam duas lâminas; as lâminas 
mediais de cada lado se unem e formam o frênulo do 
Laísa Dinelli Schiaveto 
 
clitóris, enquanto as lâminas laterais unem-se 
anteriormente à glande do clitóris (ou muitas vezes 
anterior e inferiormente, assim sobrepondo-se à 
glande e encobrindo-a), e formam o prepúcio do 
clitóris. A face interna é formada por pele fina e úmida, 
sendo roseada e contendo muitas glândulas sebáceas e 
terminações nervosas livres. 
Clitóris: É um órgão erétil localizado no ponto de 
encontro dos lábios menores anteriormente. Consiste 
em uma raiz e um pequeno corpo cilíndrico, formado 
por dois ramos, dois corpos cavernosos e a glande do 
clitóris. O corpo é recoberto pelo prepúcio. Juntos, o 
corpo e a glande tem cerca de 2cm de comprimento e 
< 1cm de diâmetro. Atua apenas como órgão de 
excitação sexual, sendo muito sensível e aumentando 
de tamanho à estimulação tátil. Ainda, a glande é a 
parte mais inervada do clitóris e tem densa provisão 
de terminações sensitivas. 
 
Vestíbulo da Vagina: É o espaço circundado pelos 
lábios menores no qual se abrem os óstios da uretra e 
da vagina e os ductos das glândulas vestibulares 
maiores e menores. O óstio externo da uretra está 
localizado 2 a 3 cm posteroinferiormnete à glande do 
clitóris e anteriormente ao óstio da vagina, sendo que 
de cada lado há aberturas dos ductos das glândulas 
uretrais. O tamanho e a aparência do óstio da vagina 
variam com a condição do hímen, uma prega anular 
fina de mucosa, que proporciona oclusão parcial ou 
total do óstio da vagina. Após a ruptura do hímen, são 
visíveis as carúnculas himenais remanescentes, sendo 
estes quem delimitam a vagina e o vestíbulo. 
Bulbos do Vestíbulo: São duas massas de tecido 
erétil alongado, com cerca de 3cm de comprimento. 
Situam-se lateralmente ao linfo do óstio da vagina 
superior ou profundamente ao lábios menores, 
imediatamente inferiores à membrana do períneos. 
São cobertos inferior e lateralmente pelos músculos 
bulboesponjosos que se estendem ao longo de seu 
comprimento. 
Glândulas Vestibulares: 
• As glândulas vestibulares maiores (ou de Bartholin), 
com cerca de 0,5cm de diâmetro, estão situadas no 
espaço superficial do períneo, situando-se 
especificamente de cada lado do vestíbulo da 
vagina, posterolaterlamente ao óstio da vagina e 
inferiormente à membrana do períneo. São 
redondas ou ovais, sendo parcialmente 
sobrepostas posteriormente pelos bulbos do 
vestíbulos. Essas secretam muco para o vestíbulo 
durante a excitação sexual. 
• As glândulas vestibulares menores são pequenas 
glândulas de cada lado do vestíbulo da vagina que 
se abrem nele entre os óstios da uretra e da vagina. 
Essas secretam muco para o vestíbulo da vagina, o 
que umedece os lábios e o vestíbulo da vagina. 
à Como a vulva está constantemente exposta a 
secreções e à umidade, esta é mais suscetível a 
infecções superficiais do que a pele de outras áreas do 
corpo. 
CISTO DE BARTHOLIN 
A infecção da glândula de Bartholin (glândulas 
vestibulares maiores) produz uma inflamação aguda 
(adenite) e pode resultar em abscesso. 
Os cistos do ducto de Bartholin são relativamente 
comuns, ocorrem em todas as idades, e resultam da 
obstrução do ducto por um processo inflamatório. São 
geralmente revestidos por epitélio transicional ou 
escamoso. Podem crescer até 3 a 5 cm de diâmetro e 
produzir dor e desconforto local. Além disso, são 
excisados ou abertos permanentemente 
(marsupialização). 
 
DISTÚRBIOS EPITELIAIS 
NÃO NEOPLÁSICOS 
Leucoplasia é um termo clínico descritivo para 
espessamento epitelial em placas brancas e opacas, 
Laísa Dinelli Schiaveto 
 
podendo ocasionar prurido e descamação. Pode ser 
causada por um grande número de distúrbios 
benignos, pré-malignos ou malignos, incluindo: 
• Dermatoses inflamatórias (ex.: psoríase e 
dermatite crônica); 
• Líquen escleroso e hiperplasia das células 
escamosas; 
• Neoplasias (ex.: neoplasia intersticial vulvar (NIV), 
doença de Paget e carcinoma invasor). 
 LÍQUEN ESCLEROSO 
Mais comum em mulheres após a menopausa. 
Se apresenta como placas ou máculas lisas, que com o 
tempo podem ficar maiores e coalescer, produzindo 
uma superfície que lembra porcelana ou papel 
pergaminho. Quando toda a vulva é afetada, os lábios 
se tornam atróficos e aglutinados, e o orifício vaginal 
se contrai. 
Histologicamente, a lesão é caracterizada pelo 
adelgaçamento acentuado da epiderme, degeneração 
das células basais, queratinização excessiva 
(hiperqueratose), mudanças escleróticas da derme 
superficial e por um infiltrado linfocítico em forma de 
faixa na derme subjacente. 
 
A patogenia é incerta, mas a presença de células T 
ativadas no infiltrado inflamatório subepitelial e a maior 
frequência de doenças autoimunes nessas mulheres 
sugerem que está envolvida em uma reação 
autoimune. 
Obs.: Embora não seja uma lesão pré-maligna, as 
mulheres sintomáticas têm possibilidade um pouco 
maior de desenvolver carcinoma de células escamosas 
da vulva. 
HIPERPLASIA DE CÉLULAS ESCAMOSAS 
É uma condição inespecífica resultante da fricção ou 
arranhadura da pele para aliviar o prurido. 
Clinicamente, se apresenta como uma leucoplasia, e o 
exames histológico revela um espessamento da 
epiderme (acantose) e hiperqueratose. Às vezes, 
apresenta uma infiltração linfocítica na derme. Ainda, 
o epitélio pode exibir atividade mitótica, mas carece 
de atipia celular. 
 
Obs.: Embora não seja considerada pré-maligna, às 
vezes se apresente nas margens dos canceres vulvares. 
LESÕES EXOFÍTICAS BENIGNAS 
As lesões elevadas (exofíticas) ou verrucosas da vulva 
podem ser causadas por uma infecção ou condições 
reativas de etiologia desconhecida. 
CONDILOMA ACUMINADO 
São verrugas genitais benignas causadas por HPVs de 
baixo risco oncogênico, principalmente os tipos 6 e 11. 
Eles podem ser solitários, mas são mais 
frequentemente multifocais, podendo envolver as 
regiões vulvar, perianal, a vagina e, menos comumente, 
o colo uterino. 
No exame histológico, elas consistem em eixo 
conjuntivo arborescente, exofítico, papilar, coberto 
por epitélio escamoso espessado. 
Laísa Dinelli Schiaveto 
 
 
Ainda, o epitélio superficial exibe características 
alterações citopáticas virais – atipia coilocitótica – que 
se manifesta como um aumento nuclear, 
hipercromasia e uma halo citoplasmático perinuclear. 
 
Obs.: Não são consideradoslesões pré-cancerosas. 
LESÕES NEOPLÁSICAS 
ESCAMOSAS 
NEOPLASIA INTRAEPITELIAL VULVAR 
E CARCINOMA VULVAR 
O carcinoma da vulva é uma neoplasia maligna 
incomum, representando 3% de todos os canceres 
genitais em mulheres, sendo que, aproximadamente 
2/3 ocorrem em mulheres acima de 60 anos. O 
carcinoma de células escamosas é o tipo histológico 
mais comum. 
Em termos de etiologia, patogenia e características 
histológicas, os carcinomas de células escamosas da 
vulva podem ser divididos em dois grupo: 
Carcinomas Basaloides e Verrucosos 
Estão relacionados à infecção com HPVs de alto risco, 
mais comumente o HPV-16; são menos comuns (30%) 
e ocorrem em pacientes mais jovens. 
Se desenvolvem a partir de uma lesão precursora in 
situ – neoplasia intraepitelial vulvar clássica (NIV 
clássica). Essa forma de NIV ocorre principalmente em 
mulheres em idade reprodutiva, incluindo lesão 
designadas anteriormente como carcinoma in situ ou 
doença de Bowen. Os fatores de risco incluem idade 
jovem na primeira relação sexual, múltiplos parceiros 
sexuais e parceiro do sexo masculino com múltiplas 
parceiras sexuais. 
Frequentemente, a NIV é multicêntrica e 10 a 30% das 
pacientes apresentam lesões vaginais ou cervicais 
relacionadas ao HPV. 
O risco de progressão para carcinoma invasor é mais 
alto em mulheres com mais de 45 anos de idade ou em 
mulheres imunossuprimidas. O pico de idade para este 
tipo de câncer encontra-se na 6a década de vida. 
MORFOLOGIA: 
A NIV clássica se apresenta como uma lesão branca 
discreta (hiperqueratótica) ou como uma lesão 
levemente elevada e pigmentada. 
Microscopicamente, é caracterizada pelo 
espessamento epidérmico, atipia nuclear, aumento de 
mitoses e falta de maturação celular. 
 
Laísa Dinelli Schiaveto 
 
Os carcinomas invasores que surgem a partir da NIV 
clássica podem ser exofíticos ou endurecidos, com 
ulceração central. 
Ao exame histológico, os carcinomas basaloides 
consistem em ninhos e cordões de células pequenas, 
agrupadas de modo compacto, que não apresentam 
maturação, lembrando a camada basal do epitélio 
normal. Ainda, o tumor pode apresentar focos de 
necrose central. 
 
Em contrapartida, o carcinoma verrucoso é 
caracterizado por arquitetura exofítica e papilar e 
atipia coilocitótica proeminente. 
Carcinomas Queratinizantes 
de Células Escamosas 
Não possuem relação com a infecção por HPV; são 
mais comuns (70%) e ocorrem em mulheres mais 
idosas. 
Ocorre mais frequentemente em indivíduos com 
histórico de longa data de líquen escleroso ou 
hiperplasia das células escamosas. Ele surge de uma 
lesão precursora – neoplasia intraepitelial vulvar 
diferenciada (NIV diferenciada) ou NIV simples. O pico 
de ocorrência acontece na 8a década de vida. 
Estudos mostram que a irritação epitelial crônica do 
líquen escleroso ou na hiperplasia de células escamosas 
pode contribuir para uma evolução gradual para o 
fenótipo maligno, presumidamente através da 
aquisição de mutações “condutoras” em oncogenes e 
em supressores tumorais. De acordo com essa ideia, 
tem-se relatado uma alta frequência de mutações 
TP53. 
MORFOLOGIA: 
A NIV diferenciada é caracterizada pela atipia 
acentuada da camada basal do epitélio escamoso e uma 
diferenciação de aparência normal das camadas mais 
superficiais. 
 
Os carcinomas queratinizantes invasores de células 
escamosas que surgem na NIV diferenciada contêm 
ninhos e línguas de epitélio escamoso maligno com 
proeminentes perolas de queratina centrais. 
 
Os carcinomas invasores associados ao líquen 
escleroso, à hiperplasia das células escamosas e à NIV 
diferenciada podem se desenvolver de maneira 
traiçoeira, podendo ser erroneamente interpretados 
como dermatite ou leucoplasia por longos períodos. 
Uma vez que o câncer invasor esteja desenvolvido, o 
risco do avanço metastático é associado ao tamanho 
do tumor, profundidade da invasão e envolvimento 
dos vasos linfáticos. A disseminação inicial ocorre para 
os linfonodos inguinais, pélvicos, ilíacos e periaórticos. 
Laísa Dinelli Schiaveto 
 
Finalmente, pode ocorrer disseminação linfo-
hematogênica para os pulmões, fígado e para outros 
órgãos internos. 
Os pacientes com lesões de menos de 2 cm de 
diâmetro apresentam 90% de sobrevida em 5 anos 
após o tratamento com vulvectomia e linfadenectomia; 
contudo, lesões maiores, com envolvimento de 
linfonodos, apresentam um prognóstico ruim. 
Obs.: O risco de desenvolvimento de câncer na NIV 
depende da duração e extensão da doença, e da 
condição imunológica do paciente. 
LESÕES NEOPLÁSICAS 
GLANDULARES 
A vulva contém glândulas sudoríparas apócrinas 
modificadas, assim como na mama. Então, devido a 
essas características similares às das mamas, a vulva 
pode ser envolvida por dois tumores que têm 
correspondentes na mama. 
HIDRADENOMA PAPILÍFERO 
Apresenta-se como um nódulo bem circunscrito, mais 
comumente nos lábios maiores ou na pregas 
interlabiais, podendo ser confundido com carcinoma 
devido a sua tendência à ulceração. 
Sua aparência histológica é idêntica àquela do papiloma 
intraductal da mama, e consiste em projeções papilares 
cobertas com duas camadas de células: uma camada 
superior de células secretoras colunares e uma camada 
mais profunda de células mioepiteliais aplanadas. Esses 
elementos mioepiteliais são característicos das 
glândulas sudoríparas e dos tumores da glândula 
sudorípara. 
 
DOENÇA DE PAGET EXTRAMAMÁRIA 
Trata-se de uma lesão curiosa e rara da vulva, sendo 
semelhante em suas manifestações à doença de Paget 
da mama. Na vulva, se apresente com uma área de 
traçado geográfico, pruriginosa, vermelha, crostosa, 
que ocorre geralmente nos lábios maiores. 
MORFOLOGIA 
É uma particular proliferação intraepitelial de células 
malignas. As células de Paget são maiores que os 
queratinócitos ao redor, sendo vistas individualmente 
ou em pequenos grupos dentro da epiderme. Estas 
têm um citoplasma pálido que contém 
mucopolissacarídeos. Além disso, expressam 
citoqueratina 7. Exibem diferenciação apócrina, écrina 
e de queratinócitos e supostamente sugerem a partir 
de células multipotentes encontradas nos ductos de 
glândulas similares às da mama encontradas na pelve 
vulvar. 
 
A doença de Paget vulvar não é tipicamente associada 
ao câncer subjacente e fica confinada à epiderme da 
pele vulvar. 
O tratamento consiste na excisão local ampla. As 
células de Paget se espalham lateralmente dentro da 
epiderme, e podem estar presentes além dos limites 
da lesão visível. Como resultado, as células do tumor 
podem não ser excisadas completamente, e a doença 
pode recorrer. A doença de Paget intraepidérmica 
pode persistir por muitos anos, mesmo décadas, sem 
invasão ou metástases. Nos raros casos em que a 
invasão se desenvolve, o prognóstico é ruim. 
 
Laísa Dinelli Schiaveto 
 
Vagina 
É um tubo musculomembranáceo distensível (7 a 9 cm 
de comprimento), que estende-se do meio do colo do 
útero até o óstio da vagina, uma abertura em sua 
extremidade inferior. O óstio da vagina, o óstio 
externo da uretra e os ductos da glândula vestibular 
maior e as glândulas vestibulares menores abrem-se no 
vestíbulo da vagina, que é uma fenda entre os lábios 
menores da vulva. Ainda, a parte vaginal do colo do 
útero está localizada anteriormente na parte superior 
da vagina. 
A vagina serve como canal para o líquido menstrual; 
forma a parte inferior do canal de parto; recebe o 
pênis e o ejaculado durante a relação sexual; 
comunica-se superiormente com o canal do colo do 
útero e inferiormente com o vestíbulo da vagina. 
 
Geralmente, a vagina encontra-se colapsada. Quatro 
músculos comprimem a vagina e atuam como 
esfíncteres: pubovaginal, esfíncter externo da uretra, 
esfíncter uretrovaginal e bulboesponjoso. 
O fórnice da vagina, um recesso ao redor do colo, 
tem partes anterior, posterior e lateral. A parte 
posterior é a mais profunda e tem intima relação com 
a escavação retouterina.A vagina está relacionada: 
• Anteriormente com o fundo da bexiga e da uretra; 
• Lateralmente, com o músculo levantador do 6anus, 
a fáscia visceral da pelve e dos ureteres; 
• Posteriormente (da parte inferior para a superior) 
com o canal anal, o reto e a escavação retouterina. 
à A vagina é uma porção do trata genital feminino que 
é notavelmente livre de doenças primárias. Dessa 
forma, estas lesões são rara, das quais a mais grave é o 
carcinoma de células escamosas vaginal. 
MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS 
VAGINA SEPTADA OU DUPLA 
É uma anomia incomum que surge da falha na fusão 
total dos ductos de Müller, acompanhando um útero 
duplo (útero didelfo). Essa e outras anormalidade 
podem ser manifestações de síndromes genéticas, 
exposição intrauterina a dietilestilbestrol (DES – usado 
para prevenir abortos) ou outros fatores 
perturbadores da sinalização epitelial-estromal 
recíproca durante o desenvolvimento fetal. 
 
ADENOSE VAGINAL 
Durante o desenvolvimento embrionário, a vagina é 
inicialmente recoberta por um epitélio colunar do tipo 
endocervical. Este é normalmente substituído por um 
epitélio escamoso que sobe a partir do seio urogenital. 
Contudo, pequenas áreas residuais do epitélio 
glandular podem persistir na vida adulta – adenose 
vaginal. 
Manifesta-se clinicamente como áreas vermelhas, 
granulares, contrastando com a mucosa vaginal rosa 
clara normal ao redor. Ao exame microscópico, 
consiste em epitélio mucinoso colunas indistinguível 
do epitélio endocervical. 
CISTOS DO DUCTO DE GARTNER 
São lesões relativamente comuns, encontradas ao 
longo das paredes laterais da vagina, sendo derivadas 
dos ductos de Wolff (mesonéfricos). Consistem em 
cistos de 1 a 2 cm preenchidos com fluido que 
ocorrem em localização submucosa. 
Laísa Dinelli Schiaveto 
 
 
NEOPLASIAS PRÉ-MALIGNAS E 
MALIGNAS DA VAGINA 
A maioria dos tumores benignos da vagina ocorre em 
mulheres em idade reprodutiva e inclui tumores 
estromais (pólipos estromais), leiomiomas e 
hemangiomas. O tumor maligno mais comum 
envolvendo a vagina é a propagação do carcinoma do 
colo uterino, seguido por um carcinoma de células 
escamosas primário da vagina. 
NEOPLASIA INTRAEPITELIAL VAGINAL E 
CARCINOMA DE CÉLULAS ESCAMOSAS 
Quase todos os carcinomas primários da vagina 
consistem em carcinomas de células escamosas 
associados a HPVs de alto risco. 
O carcinoma primário da vagina é um câncer 
extremamente raro, representando aproximadamente 
1% das neoplasias malignas do trato genital feminino. 
O maior fator de risco é o carcinoma prévio do colo 
uterino ou da vulva. 
O carcinoma de células escamosas da vagina surge a 
partir de uma lesão pré-maligna – neoplasia 
intraepitelial vaginal (NIVA ou VAIN)– semelhante às 
lesões intraepiteliais escamosas cervicais. 
Mais frequentemente, o tumor invasor afeta a porção 
posterior da vagina, particularmente a parede 
posterior na junção com a ectocérvice. As lesões nos 
dois terços inferiores da vagina metastatizam para os 
linfonodos inguinais, enquanto as lesões da parte 
superior da vagina tendem a envolver os linfonodos 
ilíacos regionais. 
RABDOMIOSSARCOMA EMBRIONÁRIO 
OU SARCOMA BOTRIOIDE 
É um tumor vaginal incomum, composto por 
rabdomioblastos embrionários malignos, sendo mais 
frequentemente encontrado em bebês e crianças com 
menos de 5 anos de idade. Têm a tendência de crescer 
como massas polipoides arredondadas e volumosas, 
que têm a aparência e consistência de cachos de uvas. 
 
As células tumorais são pequenas e possuem núcleos 
ovais, com pequenas protrusões de citoplasma a partir 
de uma extremidade, parecidas com uma raquete de 
tênis. Raramente, as estriações, que indicam 
diferenciação muscular, podem ser vistas no 
citoplasma. Abaixo do epitélio vaginas, estas células 
estão aglomeradas na camada de cambio, porém 
profundamente estão situadas em meio a um estroma 
fibromixomatoso frouxo, que é edematoso e pode 
conter muitas células inflamatórias. 
Estes tumores tendem a invadir localmente e causar 
morte por penetração na cavidade peritoneal ou por 
obstrução do trato urinário. A cirurgia conservadora, 
associada à quimioterapia, oferece os melhores 
resultados, nos casos diagnosticados em fases iniciais. 
Obs.: Tais lesões podem ser confundidas com pólipos 
inflamatórios benignos. 
 
 
 
Laísa Dinelli Schiaveto 
 
Colo Uterino 
Anatomicamente, o colo uterino compreende a 
porção vaginal externa (ectocérvice) e o canal 
endocervical. A ectocérvice é visível no exame vaginal 
e é coberta por um epitélio escamoso contínuo com a 
parede vaginal. O epitélio escamoso converge 
centralmente em uma pequena abertura chamada de 
orifício externo, que se continua com o canal 
endocervical. A endocérvice é revestida por um 
epitélio colunar secretor de muco. O ponto onde o 
epitélio escamoso e o colunar se encontram é 
chamado de junção escamocolunar. 
 
A posição da junção varia e muda com a idade e a 
influência hormonal, mas em geral a junção sobe ao 
longo do canal endocervical com o tempo. A 
substituição do epitélio glandular pelo avanço do 
epitélio escamoso é um processo chamado de 
metaplasia escamosa. A área do colo uterino onde o 
epitélio toca o epitélio escamoso é chamada de “zona 
de transformação”. O ambiente epitelial singular do 
colo uterino o faz altamente suscetível a infecções com 
HPV, a principal causa de câncer do colo uterino. As 
células epiteliais metaplásicas escamosas imaturas na 
zona de transformação são mais suscetíveis à infecção 
por HPV, e como resultado disso, é onde se 
desenvolvem as lesões e cânceres precursores 
cervicais. 
Ainda, a ectocérvice, em condições normais, é 
revestida por epitélio plano estratificado não 
corneificado; a estratificação é regular; as células da 
superfície são achatadas e possuem glicogênio, que 
aparece como vacúolos claros no citoplasma; não 
existem glândulas. Já, a endocérvice, em condições 
normais, é revestida por epitélio cilíndrico simples 
mucoso; há glândulas. 
INFLAMAÇÕES 
CERVICITES AGUDA E CRÔNICA 
No início da menarca, a produção de estrogênios pelo 
ovário estimula a maturação da mucosa escamosa 
cervical e vaginal e a formação de vacúolos de 
glicogênio intracelular nas células escamosas. À medida 
que essas células descamam, o glicogênio fornece um 
substrato para microrganismos vaginais endógenos 
aeróbios e anaeróbios, mas particularmente para os 
lactobacilos, que são a espécie microbiana dominante 
na vagina normal. 
Os lactobacilos produzem ácido lático, que mantém o 
pH vaginal abaixo de 4,5 (pH ácido), suprimindo o 
crescimento de outros organismos patogênicos. Além 
disso, em pH baixo, os lactobacilos produzem 
peróxido de hidrogênio (H2O2) bacteriotóxico. Se o 
pH se tornar alcalino (pH alto) devido a sangramento, 
relação sexual ou uso de ducha vaginal, a produção de 
H2O2 pelos lactobacilos diminui. à Em cada uma 
dessas condições, o ambiente vaginal alterado 
promove o crescimento excessivo de outros 
microrganismos, o que pode resultar em cervicite ou 
vaginite. 
Contudo, infecções por gonococos, clamídia, 
micoplasma e vírus do herpes simples podem produzir 
cervicite aguda ou crônica significativa, e sua 
identificação é importante devido à sua associação com 
doenças do trato genital superior, complicações 
durante gravidez e transmissão sexual. 
Uma inflamação cervical pronunciada produz 
alterações reparadoras e reativas no epitélio e 
descamação de células escamosas de aparência atípica, 
e, portanto, podem causar um resultado anormal e 
inespecífico no exame de Papanicolau. 
Em áreas com cervicite crônica, há um infiltrado 
inflamatório inespecífico, com linfócitos e plasmócitos 
na lâmina própria. Se ela for intensa, o epitélio de 
revestimento pode sofrer erosão (cervicite crônica 
erosiva). Ademais, quando há, além de linfócitos e 
plasmócitos, neutrófilos, recebe o nome de cervicite 
crônica ativa. 
PÓLIPOS ENDOCERVICAIS 
São crescimentos exofíticos benignos que surgem 
dentro do canalendocervical. Eles variam de 
protuberâncias sésseis pequenas a grandes polipoides 
Laísa Dinelli Schiaveto 
 
que podem avançar através do orifício externo 
cervical. 
Histologicamente, são compostos por um estroma 
fibromixomatoso frouxo coberto por glândulas 
endocervicais secretoras de muco, frequentemente 
acompanhadas por inflamação. 
 
A maior importância dos pólipos é que eles podem ser 
fontes de “sangramento de escape” ou sangramentos 
maiores que levam a suspeita de uma lesão mais 
assustadora. A curetagem simples ou a excisão 
cirúrgica são curativas. 
NEOPLASIAS PRÉ-MALIGNAS E 
MALIGNAS DO COLO UTERINO 
O carcinoma cervical é o terceiro câncer mais comum 
em mulheres, sendo que mais da metade é fatal. 
PATOGENIA 
Os HPVs de alto risco são de longe o fator mais 
importante no desenvolvimento do câncer de colo 
uterino. Existem 15 HPVs de alto risco identificado, 
mas os HPV-16 representa 60% dos casos e o HPV-18 
representa 10% dos casos. Os HPVs de alto risco 
também estão associados nos carcinomas de células 
escamosas que surgem em muitos outros locais, 
incluindo a vagina, a vulva, o ânus, tonsilas palatinas e 
outros locais da orofaringe. 
Obs.: Lembrando que, os HPVs de baixo risco 
oncog6enico são a causa de verrugas vulvares, 
perineais e perianais transmitidas sexualmente 
(condiloma acuminado). 
As infecções genitais por HPV são extremamente 
comuns, sendo que, a maioria é assintomática e não 
causa qualquer alteração do tecido. A maioria dessas 
infecções é transitória e eliminada pela resposta 
imunológica no decorrer de meses. Em média, 50% das 
infecções por HPV são eliminadas dentro de 8 meses 
e 90% são eliminadas dentro de 2 anos. A duração da 
infecção é relacionada ao tipo de HPV; em média, as 
infecções com alto risco duram mais que as infecções 
com baixo risco oncogênico (13 meses contra 8 
meses, respectivamente). A infecção persistente 
aumenta o risco de desenvolvimento das lesões 
precursoras do colo uterino e do carcinoma 
subsequente. 
Os HPVs infectam as células basais imaturas do epitélio 
escamoso em áreas de ruptura epitelial o células 
escamosas metaplásicas imaturas presentes na junção 
escamucolunar. Estes não infectam as células 
superficiais escamosas maduras que recobrem a 
ectocérvice, a vagina e a vulva. Então, o 
estabelecimento da infecção por HPV nesses locais 
requer lesão do epitélio superficial, permitindo, assim, 
o acesso do vírus às células imaturas da camada basal 
do epitélio. O colo uterino, com suas áreas 
relativamente grandes de epitélio escamoso 
metaplásico imaturo, é particularmente vulnerável à 
infecção por HPV. 
A capacidade do HPV agir como carcinógeno depende 
das proteínas virais E6 e E7, que interferem na 
atividade das proteínas supressoras de tumores, que 
regulam o crescimento e a sobrevivência das células. 
Embora o HPV infecte as células escamosas imaturas, 
a replicação viral ocorre durante a maturação das 
células escamosas. Normalmente, essas células mais 
maduras são detidas na fase G1 do ciclo celular, mas 
elas continuam a progredir ativamente através do ciclo 
celular ao serem infectadas pelo HPV, que usa 
maquinaria de síntese de DNA da célula hospedeira 
para replicar seu próprio genoma. Ainda, outro fator 
que contribui para a transformação maligna pelo HPV 
é o estado físico do vírus. 
Ainda que o HPV tenha sido estabelecido firmemente 
como uma causa habitual de câncer cervical, este não 
é suficiente para causar câncer à Essa conclusão é 
apoiada pelo fato de que uma alta porcentagem de 
mulheres jovens é infectada por um ou mais tipos de 
HPV durante seus anos reprodutivos, mas apenas 
algumas desenvolvem câncer à Dessa forma, outros 
fatores como a exposição a carcinógenos e o estado 
imune do hospedeiro influenciam se uma infecção por 
HPV regride ou persiste, e, enfim, evolui para um 
câncer. 
 
 
 
Laísa Dinelli Schiaveto 
 
NEOPLASIA INTRAEPITELIAL CERVICAL 
(LESÕES INTRAEPITELIAIS ESCAMOSAS) 
 
As lesões intraepiteliais escamosas de baixo grau (LSIL) 
são associadas com a infecção de HPV produtiva. Há 
um alto nível de replicação viral e apenas pequenas 
alterações no crescimento das células hospedeiras. 
Esta não progride diretamente para carcinoma invasivo 
e, na verdade, em muitos casos, regride 
espontaneamente; apenas uma pequena porcentagem 
progride para HSIL. Por esse motivo, a LSIL não é 
tratada como uma lesão pré-maligna. 
Nas lesões intraepiteliais escamosas de alto grau 
(HSIL) ocorre uma desregulação progressiva do ciclo 
celular pelo HPV, que resultam em aumento da 
proliferação celular, diminuição ou parada da 
maturação epitelial e uma menor taxa de replicação 
viral. O desarranjo do ciclo celular neste caso pode se 
tornar irreversível e resultar em um fenótipo maligno 
totalmente transformado. Sendo assim, considera-se 
que as HSILs oferecem um alto risco de progredirem 
para um carcinoma. 
Obs.: Mais de 80% das LSILs e 100% das HSILs são 
associadas com HPVs de alto risco, dos quais o HPV-
16 é o tipo mais comum de HPV em ambas as 
categorias de lesões. 
Obs.: A LSIL é 10 vezes mais comum do que a HSIL. 
MORFOLOGIA 
O diagnóstico de SIL se baseia na identificação de atipia 
nuclear caracterizada por aumento nuclear, 
hipercromasia (coloração escura), presença de 
grânulos grosseiros de cromatina e variação dos 
tamanhos e formas nucleares. As mudanças nucleares 
são frequentemente acompanhadas por halos 
citoplasmáticos. 
 
No nível ultraestrutural, esses halos consistem em 
vacúolos perinucleares, uma mudança citopática criada 
em parte por uma proteína codificada no HPV 
chamada E5 que se concentra nas membranas do 
retículo endoplasmático. As alterações nucleares e o 
halo perinuclear associado são chamados de atipia 
coilocitótica. 
A classificação de SIL em baixo ou alto grau se baseia 
na expansão da camada de células imaturas a partir de 
sua localização basal normal. Se as células escamosas 
imaturas estiverem confinadas ao terço inferior do 
epitélio, a lesão é classificada como LSIL; se houver 
expansão para dois terços da espessura epitelial, é 
classificada como HSIL. 
CARCINOMA CERVICAL 
• 80% - carcinoma de células escamosas; 
• 15% - adenocarcinoma (que se desenvolve a partir 
de uma lesão precursora – adenocarcinoma in situ); 
• 5% - carcinomas adenoescamosos e 
neuroendócrinos. 
Todos os tipos tumorais são causados por HPVs de 
alto risco. A idade média das pacientes com carcinoma 
cervical invasor é de 45 anos. O tempo de progressão 
a partir da forma in situ até o carcinoma 
adenoescamoso e o carcinoma neuroendócrino é mais 
curto do que no carcinoma das células escamosas; 
então, os pacientes com esses tumores 
frequentemente se apresentam em estágios avançados 
das doenças, tendo um prognóstico menos favorável. 
MORFOLOGIA 
O carcinoma cervical invasor pode se manifestar como 
massa vegetante (exofítico) ou infiltrativa. 
O carcinoma de células escamosas é composto por 
ninhos e projeções de epitélio escamoso maligno, 
queratinizado ou não queratinizado, invadindo o 
estroma cervical subjacente. 
Laísa Dinelli Schiaveto 
 
 
Os adenocarcinomas são caracterizados pela 
proliferação de epitélio glandular composto por células 
endocervicais malignas com núcleos grandes, 
hipercromáticos, e citoplasma com relativa diminuição 
de mucina, resultando em um aspecto escuro das 
glândulas, em comparação ao epitélio endocervical 
normal. 
 
Os carcinomas adenoescamosos são tumores 
compostos por uma mistura de epitélio maligno 
glandular e escamoso. 
O carcinoma cervical neuroendócrino tem uma 
aparência similar à do carcinoma de pequenas células 
do pulmão, mas a diferença é que ele é positivo para 
HPVs de alto risco. 
O carcinoma cervical avançado se estende por 
disseminação direta para envolver tecidos contíguos, 
incluindo os tecidos paracervicais, a bexiga, os 
ureteres (resultando em hidronefrose), o reto e a 
vagina. A invasão linfovascular resulta em metástases 
de linfonodos locaise distantes. As metástases 
distantes também podem ser encontradas no fígado, 
pulmões, medula óssea e outros órgãos. 
O câncer cervical é estadiado da seguinte 
forma: 
Estádio 0 – Carcinoma in situ (NIC III, HSIL). 
Estádio I – Carcinoma confinado ao colo uterino; 
• Ia – Carcinoma pré-clínico (diagnosticado apenas 
por microscopia); 
• IaI – Invasão do estroma não mais profunda que 3 
mm e não mais larga que 7 mm (carcinoma 
microinvasor); 
• IaII – Profundidade máxima de invasão do estroma 
acima de 3 mm e não mais profundo que 5 mm, 
considerado a partir da base do epitélio; invasão 
horizontal de no máximo 7 mm; 
• Ib – Carcinoma histologicamente invasivo 
confinado ao colo uterino, sendo maior que o 
estágio IaII. 
Estádio II – O carcinoma se estende além do colo 
uterino, mas não até a parede pélvica. O carcinoma 
envolve a vagina, mas não o terço inferior. 
Estádio III – O carcinoma se estende para a parede 
pélvica. Ao exame retal não existe um espaço sem 
câncer entre o tumor e a parede pélvica. O tumor 
envolve o terço inferior da vagina. 
Estádio IV – O carcinoma se estende além da pelve 
verdadeira ou envolve a mucosa da bexiga ou do reto. 
Esse estádio também inclui câncer com disseminação 
metastática. 
ASPECTOS CLÍNICOS 
Mais da metade dos cânceres cervicais invasores são 
detectados em mulheres que não participaram de 
triagem regular. 
O prognóstico e a sobrevida nos carcinomas invasores 
dependem em grande parte do estádio no qual o 
câncer é inicialmente descoberto e, em certo grau, do 
tipo celular, com tumores neuroendócrinos de 
pequenas células apresentando um prognóstico muito 
desanimador. 
Com os tratamentos atuais, a taxa de sobrevida em 5 
anos é de 100% para carcinomas microinvasores, e 
menos do que 50% para tumores que se estendem 
além da pelve. 
A maioria dos pacientes com câncer de colo uterino 
avançado morre das consequências da invasão tumoral 
local (p. ex., obstrução uretral, pielonefrite e uremia), 
e não das complicações da doença metastática. 
Laísa Dinelli Schiaveto 
 
Corpo do Útero e Endométrio 
O útero tem dois componentes principais: o 
miométrio e o endométrio. O miométrio é composto 
por feixes entrelaçados de músculo liso que formam a 
parede do útero. A cavidade interna do útero é 
revestida pelo endométrio, composto por glândulas 
em meio a um estroma celular. 
O útero está sujeito a uma variedade de distúrbios, 
sendo que os mais comuns resultam de desequilíbrios 
endócrinos, complicações da gravidez e proliferação 
neoplásica. 
 
HISTOLOGIA ENDOMETRIAL 
DO CICLO MENSTRUAL 
O endométrio passa por mudanças morfológicas e 
fisiológicas dinâmicas durante o ciclo menstrual em 
resposta aos hormônios esteroides sexuais 
produzidos coordenadamente no ovário. O ovário é 
influenciado pelos hormônios produzidos pela hipófise, 
em resposta a sinais provenientes do hipotálamo. Em 
conjunto, os fatores hipotalâmicos, hipofisários e 
ovarianos, e suas interações, regulam a maturação dos 
folículos ovarianos, a ovulação e a menstruação. 
A “determinação da data” do endométrio por seu 
aspecto histológico muitas vezes é usada clinicamente 
para avaliar o estado hormonal, documentar a 
ovulação e determinar as causas de sangramento 
endometrial e infertilidade. 
 
A progressão através de ciclos menstruais normais 
tem correlação com as seguintes características 
histológicas: 
• O ciclo começa com a menstruação, durante a qual 
a porção superficial do endométrio, chamada de 
camada funcional, é desprendida. 
• A fase de proliferação é marcada pelo rápido 
crescimento das glândulas e do estroma vindo da 
porção mais profunda do endométrio (camada 
basal). Durante a fase proliferativa, as glândulas são 
estruturas retas e tubulares revestidas por células 
colunares regulares, altas, pseudoestratificadas. As 
figuras mitóticas são numerosas e não existem 
evidências de secreção de muco ou vacuolização. 
O estroma endometrial é composto por células 
fusiformes com citoplasma escasso, também em 
processo ativo de proliferação. 
• Durante a ovulação, cessa a proliferação 
endometrial, e a diferenciação começa em resposta 
aos efeitos da progesterona produzida pelo corpo 
lúteo do ovário. 
• A pós-ovulação é marcada pela aparição de 
vacúolos secretórios abaixo dos núcleos no 
epitélio glandular. Essa atividade secretora é mais 
proeminente durante a 3ª semana do ciclo 
menstrual, quando os vacúolos basais movem-se 
progressivamente para a superfície apical. Quando 
a secreção é máxima, entre 18 e 24 dias, as 
glândulas estão dilatadas. Na 4ª semana, as glândulas 
estão tortuosas, produzindo uma aparência 
serrilhada. Esse aspecto serrilhado ou de “dente de 
serrote” é acentuado pela exaustão secretora e 
encolhimento das glândulas. 
• As mudanças estromais no fim da fase secretora, 
devidas predominantemente à progesterona, são 
importantes para estabelecer a data do 
endométrio. As arteríolas espiraladas 
proeminentes aparecem nos dias 21 e 22, 
Laísa Dinelli Schiaveto 
 
acompanhadas de um aumento na substância 
fundamental e no edema entre as células estromais. 
Nos dias 23° e 24° aparecem a hipertrofia das 
células estromais, o aumento da eosinofilia 
citoplasmática (alteração prédecidual) e o 
ressurgimento de mitoses estromais. As alterações 
pré-deciduais se espalham pela camada funcional 
durante os dias 24 a 28 e são acompanhadas por 
um esparso infiltrado de neutrófilos e linfócitos, 
que neste contexto é considerado normal. 
• Com a dissolução do corpo lúteo e a subsequente 
queda nos níveis de progesterona, a camada 
funcional se degenera, e ocorre sangramento no 
estroma, seguido do rompimento do estroma e 
início do próximo ciclo menstrual. 
DISTÚRBIOS ENDOMETRIAIS 
FUNCIONAIS (SANGRAMENTO 
UTERINO DISFUNCIONAL) 
Embora o sangramento uterino anormal possa ser 
causado por condições patológicas bem definidas, 
como endometrite crônica, pólipos endometriais, 
leiomiomas submucosos ou neoplasias endometriais, 
ele é gerado mais comumente a partir de perturbações 
hormonais que produzem sangramentos uterinos 
disfuncionais. Esse é o termo clínico para um 
sangramento uterino sem qualquer normalidade 
orgânica (estrutural) subjacente. 
 
CICLO ANOVULATÓRIO 
A causa mais frequente de sangramento disfuncional é 
a anovulação (falha na ovulação). Os ciclos 
anovulatórios são resultado de desequilíbrios 
hormonais sutis, e são mais comuns na menarca e no 
período perimenopausa. 
A falha na ovulação resulta em uma estimulação 
endometrial excessiva pelos estrogênios, que não é 
contraposta pela progesterona. Nessas circunstâncias, 
as glândulas endometriais sofrem discretas alterações 
arquiteturais, incluindo dilatação cística, que 
geralmente são resolvidas com o ciclo ovulatório 
seguinte. 
No entanto, as repetidas anovulações podem resultar 
em um sangramento que, em certas condições clínicas, 
pode levar a uma biópsia endometrial. Nessa situação, 
as biópsias revelam uma condensação estromal e uma 
metaplasia epitelial eosinófila parecidas com aquelas 
vistas no endométrio menstrual. 
Mais comumente, o endométrio é composto de 
glândulas pseudoestratificadas, e contém figuras 
mitóticas dispersas. 
 
FASE LÚTEA INADEQUADA 
Refere-se à condição que se manifesta clinicamente 
como infertilidade associada ou com aumento de 
sangramento ou com amenorreia. 
Acredita-se que a causa seja a produção inadequada de 
progesterona durante o período pós-ovulatório. A 
biópsia do endométrio realizada em uma data pós-
ovulatória estimada mostra o endométrio secretor 
com características que não correspondem àquelas 
esperadas para a data estimada. 
DISTÚRBIOS INFLAMATÓRIOS 
O endométrio e o miométrio são relativamente 
resistentes a infecções, principalmente porque a 
endocérvice forma uma barreira para a infecção 
ascendente. Portanto, embora a inflamação crônica do 
colo uterino seja um achado esperado e 
frequentemente insignificante, é motivo de 
preocupação a inflamação no endométrio,excluindo a 
fase menstrual. 
 
 
Laísa Dinelli Schiaveto 
 
ENDOMETRITE AGUDA 
É rara e limitada a infecções bacterianas originadas 
após o parto ou aborto. Produtos de concepção 
retidos constituem o fator predisponente usual; dessa 
forma, os agentes causadores incluem estreptococos 
hemolíticos do grupo A, estafilococos e outras 
bactérias. 
A resposta inflamatória é limitada principalmente ao 
estroma e é totalmente inespecífica. A remoção dos 
fragmentos gestacionais retidos por curetagem, 
acompanhada por antibioticoterapia, é rapidamente 
seguida da remissão da infecção. 
ENDOMETRITE CRÔNICA 
Ocorre em associação com os seguintes distúrbios: 
• Doença inflamatória pélvica (DIP); 
• Tecido gestacional retido, pós-parto ou pós-
aborto; 
• Dispositivos contraceptivos intrauterinos; 
• Tuberculose, seja através de disseminação miliar 
ou, mais frequentemente, a partir da drenagem da 
salpingite tuberculosa (ambas são raras nos países 
ocidentais). 
O diagnóstico da endometrite crônica se baseia na 
identificação de plasmócitos no estroma, que não são 
vistos no endométrio normal. 
 
Em cerca de 15% dos casos, não há qualquer causa 
aparente. Algumas mulheres com essa, assim chamada, 
endometrite crônica inespecífica apresentam queixas 
ginecológicas como sangramento anormal, dor, 
secreção e infertilidade. 
A clamídia pode estar envolvida, e é comumente 
associada a infiltrado celular inflamatório tanto agudo 
(ex.: neutrófilos) quanto crônico (ex.: linfócitos, 
plasmócitos). Os organismos responsáveis podem ou 
não ser detectados através de cultura. Se houver 
suspeita de infecção por razões clínicas, a 
antibioticoterapia é indicada mesmo diante de culturas 
negativas, já que pode prevenir outras sequelas (ex.: 
salpingite). 
ENDOMETRIOSE 
É definida pela presença de tecido endometrial 
“ectópico” em um local fora do útero. O tecido 
anormal inclui mais comumente tanto as glândulas 
endometriais quanto o estroma, mas pode consistir 
apenas em estroma em alguns casos. 
Ocorre nos seguintes locais, em ordem descendente 
de frequência: (1) ovários; (2) ligamentos uterinos; (3) 
septo retovaginal; (4) fundo de saco; (5) peritônio 
pélvico; (6) intestinos grosso e delgado, e apêndice; (7) 
mucosa do colo uterino, vagina e tubas uterinas; e (8) 
cicatrizes de laparotomia. 
Frequentemente causa infertilidade, dismenorreia 
(menstruação dolorosa), dor pélvica e outros 
problemas. 
O distúrbio é principalmente uma doença de mulheres 
na vida reprodutiva ativa, mais frequentemente na 3ª e 
4ª décadas. Menos frequentemente, a endometriose 
pode invadir e se espalhar, comportamentos que 
frequentemente contribuem para significativas 
complicações. Por exemplo, a invasão da parede 
muscular do intestino pela endometriose pode 
resultar em sintomas intestinais. 
 
PATOGENIA 
As origens propostas das lesões endometrióticas são 
classificadas em duas categorias principais: (1) aquelas 
que propõem uma origem a partir do endométrio 
uterino e (2) aquelas que propõem uma origem a partir 
de células fora do útero, que têm a capacidade de fazer 
surgir tecido endometrial. 
As teorias mais aceitas são as seguintes: 
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• Teoria Regurgitante: tecido endometrial se 
implanta em locais ectópicos, via fluxo retrógrado 
do endométrio menstrual, uma vez que a 
menstruação retrógrada pelas tubas uterinas 
ocorre regularmente mesmo em mulheres 
normais. 
• Teoria das Metástases Benignas: tecido 
endometrial do útero pode se espalhar para locais 
distantes (ex.: ossos, pulmão e cérebro) através 
dos vasos sanguíneos e dos canais linfáticos. 
• Teoria Metaplásica: endométrio surge diretamente 
do epitélio celômico (mesotélio da pelve ou 
abdome), a partir do qual são originados os ductos 
de Müller e por fim o próprio endométrio durante 
o desenvolvimento embrionário; além disso, os 
remanescentes mesonéfricos podem sofrer 
diferenciação endometrial e gerar tecido 
endometrial ectópico. 
• Teoria das Células-Tronco/Progenitoras 
Extrauterinas: célulastronco/progenitoras da 
medula óssea se diferenciam em tecido 
endometrial. 
O endométrio implantado libera fatores pró-
inflamatórios, como prostaglandina, TNF, 
Interleucinas, VEGF, entre outros; também, aumenta a 
produção de estrogênio pelas células endometrióticas, 
pois há altos níveis de aromatase, que está ausente no 
estroma endometrial normal. Esse é um ponto chave, 
pois, como o estrogênio aumenta a persistência e a 
vida útil do endométrio, os inibidores da aromatase 
são usados para o tratamento da endometriose. 
Esses fatores pró-inflamatórios permitem que o 
endométrio ectópico cresça e invada, estabelecendo 
redes neurovasculares e diminuindo a remoção pelo 
sistema imune. Acredita-se na influência de alterações 
epigenéticas. 
 
MORFOLOGIA 
As lesões endometrióticas sangram periodicamente 
em resposta tanto à estimulação hormonal extrínseca 
(dos ovários) quanto à intrínseca. Esse sangramento 
produz nódulos com aspecto vermelho-azulado a 
amareloacastanhado sobre ou logo abaixo da 
superfície da mucosa e/ou serosa nos locais de 
envolvimento. 
Quando a doença é extensa, a organização da 
hemorragia causa aderências fibrosas extensas entre as 
tubas, ovários e outras estruturas, e oblitera o saco de 
Douglas. 
Os ovários podem ser acentuadamente distorcidos 
por grandes massas císticas (3 a 5 cm de diâmetro) 
preenchidas com um líquido marrom resultante de 
hemorragia prévia; estes são citados frequentemente 
na clínica como cistos de chocolate ou 
endometriomas. 
As formas agressivas de endometriose podem infiltrar 
os tecidos e causar fibrose e aderências subsequentes. 
O diagnóstico histológico da endometriose 
geralmente é simples, mas pode ser difícil em casos de 
longa duração, em que o tecido endometrial é 
obscurecido pela fibrose secundária. Um diagnóstico 
histológico de endometriose é realizado facilmente se 
tanto as glândulas endometriais quanto o estroma 
estiverem presentes, com ou sem a presença de 
hemossiderina. 
Em raros casos, somente o estroma é identificado. Se 
apenas as glândulas estiverem presentes, outros 
diagnósticos com ramificações clínicas, como a 
endossalpingiose, devem ser considerados. 
A endometriose atípica, o precursor provável do 
carcinoma dos ovários relacionado à endometriose, 
tem duas aparências morfológicas. Uma delas consiste 
na atipia citológica do revestimento do epitélio que 
recobre cisto endometriótico sem grandes alterações 
de arquitetura. A segunda é marcada pela aglomeração 
das glândulas devido à proliferação epitelial excessiva, 
frequentemente associada com a atipia citológica, a 
qual produz uma aparência que lembra a hiperplasia 
endometrial atípica complexa. 
ASPECTOS CLÍNICOS 
Os sinais e sintomas clínicos geralmente incluem 
dismenorreia grave, dispareunia (dor na relação 
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sexual) e dor pélvica decorrente do sangramento 
intrapélvico e das aderências periuterinas. 
A dor durante a defecação indica envolvimento da 
parede retal e a disúria resulta do envolvimento da 
serosa da bexiga. Irregularidades menstruais são 
comuns, e infertilidade é uma queixa de apresentação 
em 30% a 40% de mulheres. 
Além disso, embora raros, tumores malignos podem 
se desenvolver nesse contexto, sugerindo que a 
endometriose contém um epitélio “de risco”. 
ADENOMIOSE 
É definido como a presença de tecido endometrial no 
interior da parede uterina (miométrio). A adenomiose 
permanece em continuidade com o endométrio, 
supostamente significando crescimento para baixo do 
tecido endometrial na direção, e entre, dos fascículos 
de músculo liso do miométrio. 
Ao exame microscópico, ninhos irregulares de 
estroma endometrial, com ou sem glândulas, estão 
organizados dentro do miométrio, separados da basal 
por pelo menos 2 a 3 mm. 
Como na endometriose, os sintomas clínicos da 
adenomiose incluem menometrorragia (menstruações 
irregulares e intensas), dismenorreia em cólica, 
dispareunia e dorpélvica, particularmente durante o 
período prémenstrual. 
Ela pode estar presente juntamente com a 
endometriose. 
PÓLIPOS ENDOMETRIAIS 
São massas exofíticas de tamanho variável que se 
projetam para a cavidade endometrial. Podem ser 
únicos ou múltiplos, e geralmente são sésseis, medindo 
de 0,5 a 3 cm de diâmetro, mas ocasionalmente são 
grandes e pediculados. Podem ser assintomáticos ou 
podem causar sangramento anormal (intramenstrual, 
menometrorragia, ou na pós-menopausa) se sofrerem 
ulceração ou necrose. 
As células estromais nos pólipos endometriais contêm 
certas reorganizações cromossômicas similares 
àquelas encontradas em outros tumores 
mesenquimais benignos à Sugere que o estroma do 
pólipo é neoplásico, e que as glândulas associadas são 
reativas, e são simplesmente como acompanhantes. 
As glândulas nos pólipos podem ser hiperplásicas ou 
atróficas, e podem ocasionalmente demonstrar 
alterações secretoras (pólipos funcionais). Os pólipos 
podem tornar-se hiperplásicos em associação com a 
hiperplasia endometrial generalizada, e respondem ao 
estrogênio, mas mostram pouca ou nenhuma resposta 
à progesterona. 
 
Têm sido observados pólipos endometriais em 
associação com a administração de tamoxifeno, que é 
usado geralmente na terapia de câncer de mama, 
devido à sua atividade antiestrogênica nas mamas. No 
entanto, o tamoxifeno tem fracos efeitos pró-
estrogênicos no endométrio. 
Os pólipos atróficos, que em grande parte ocorrem 
em mulheres na pós-menopausa, provavelmente 
representam o que sobrou de pólipos anteriormente 
hiperplásicos. 
Raramente, adenocarcinomas surgem no interior de 
pólipos endometriais. 
HIPERPLASIA ENDOMETRIAL 
É causa importante de sangramento anormal, e uma 
precursora frequente dos tipos mais comuns de 
carcinoma endometrial. É definida como um aumento 
da proliferação das glândulas endometriais relativas ao 
estroma, resultando em maior proporção de glândulas 
para estroma em comparação ao endométrio 
proliferativo normal. 
Está associada à estimulação estrogênica prolongada 
do endométrio, que pode ser decorrente de 
anovulação, aumento da produção de estrogênio a 
partir de fontes endógenas, ou devido a estrogênio 
exógeno. As condições associadas incluem: 
• Obesidade (conversão periférica de androgênios 
em estrogênios); 
• Menopausa; 
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• Síndrome do ovário policístico; 
• Tumores de células granulosas funcionais do 
ovário; 
• Função cortical ovariana excessiva (hiperplasia 
estromal cortical); 
• Administração prolongada de substâncias 
estrogênicas (terapia de substituição de 
estrogênio). 
A inativação do gene supressor de tumores PTEN é 
uma alteração genética comum tanto nas hiperplasias 
endometriais quanto nos carcinomas endometriais. O 
PTEN codifica uma fosfatase lipídica, que é um 
importante regulador negativo da via reguladora de 
crescimento fosfatidilinositol 3-cinase (PI3K)/AKT. 
Quando a função do PTEN é perdida, a via PI3K/AKT 
se torna excessivamente ativa. 
MORFOLOGIA 
Hiperplasia Típica: Tem uma grande variedade de 
aparências, mas a característica primordial é o 
aumento relação glândula-estroma. As glândulas 
mostram variação em tamanho e forma, e podem estar 
dilatadas. 
 
Embora focalmente possa haver glândulas justapostas 
(back-to-back), uma certa quantidade de estroma 
persiste. Essas lesões refletem uma resposta do 
endométrio à estimulação persistente do estrogênio, e 
raramente evoluem para adenocarcinoma 
(aproximadamente de 1% a 3%). A hiperplasia típica 
pode evoluir para atrofia cística quando o estrogênio 
é retirado. 
 
Hiperplasia Atípica (neoplasia intraepitelial 
endometrial): é composta por padrões complexos de 
proliferação glandular exibindo atipia nuclear. As 
glândulas estão comumente justapostas e 
frequentemente têm contornos complexos devido às 
estruturas ramificantes. As células se tornam 
arredondadas e perdem a sua normal orientação 
perpendicular em relação à membrana basal. Além 
disso, os núcleos possuem cromatina aberta (vesicular) 
e nucléolos evidentes. 
 
 
De fato, aproximadamente de 23% a 48% das mulheres 
com diagnóstico de hiperplasia atípica mostram-se 
como portadoras de carcinoma após ser realizada uma 
histerectomia. 
Atualmente a hiperplasia atípica é tratada com 
histerectomia ou, em mulheres jovens que desejam 
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engravidar, realiza-se um teste terapêutico com 
progestina, seguido de acompanhamento cuidadoso. 
Mais frequentemente, com sorte após uma gravidez 
bem-sucedida, a ausência de regressão exige a 
remoção do útero. 
TUMORES MALIGNOS DO 
ENDOMÉTRIO 
CARCINOMA DO ENDOMÉTRIO 
Câncer invasor do trato genital feminino mais comum. 
Representa 7% de todos os cânceres invasores em 
mulheres, excluindo-se o câncer de pele. 
PATOGENIA 
A classificação do carcinoma endometrial pode ser 
feita em duas grandes categorias. 
 
Carcinoma Tipo I (Endometrioide) 
Representa o tipo mais comum, respondendo por mais 
de 80% de todos os casos. A maioria é bem 
diferenciada e imita as glândulas endometriais 
proliferativas, e como tais, são chamados de 
carcinomas endometrioides. 
São associados com (1) obesidade, (2) diabetes (a 
tolerância anormal à glicose é encontrada em mais de 
60%), (3) hipertensão, (4) infertilidade e (5) 
estimulação estrogênica sem antagonismo. 
Da mesma forma que com outros cânceres, o 
desenvolvimento de um carcinoma endometrial 
envolve a aquisição em etapas de várias alterações 
genéticas nos genes supressores de tumores e 
oncogenes. 
 
O sequenciamento dos genomas dos carcinomas 
endometrioides tipo I tem mostrado que as mutações 
mais comuns agem de maneira a aumentar a sinalização 
através da via PI3K/AKT, que é a marca desse tipo 
específico de tumor. A sinalização PI3K/AKT aumenta 
de alguma forma a expressão dos genes-alvo 
dependentes de receptores de estrogênio em células 
endometriais. Os carcinomas endometriais tipo I são 
um tanto únicos no sentido de que os tumores 
individuais podem abrigar múltiplas mutações que 
aumentam a sinalização PI3K/AKT, sugerindo que o 
desenvolvimento e a progressão do tumor são 
incentivados por aumentos sucessivos na força do 
sinal. 
Morfologia: Pode tomar a forma de um tumor 
polipoide localizado, ou de um tumor que infiltra 
difusamente o revestimento endometrial. 
 
Os adenocarcinomas endometrioides demonstram 
padrões de crescimento das glândulas que lembram o 
epitélio endometrial normal. Há três graus 
histológicos: 
• Bem diferenciado (grau 1), composto quase que 
inteiramente de glândulas bem formadas; 
 
• Moderadamente diferenciado (grau 2), que mostra 
glândulas bem formadas, misturadas com áreas 
compostas por lençóis celulares sólidos que, por 
definição, constituem 50% ou menos do tumor; 
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• Pouco diferenciado (grau 3), caracterizado por 
mais do que 50% de padrão de crescimento sólido. 
 
Obs.: Pode-se distinguir os tumores bem 
diferenciados das hiperplasias pela falta de estroma 
entre as glândulas. 
Carcinoma Tipo II (Seroso) 
Geralmente ocorre em mulheres que são em torno de 
10 anos mais velhas do que aquelas com os carcinomas 
tipo I; em contraste com o carcinoma tipo I, 
geralmente surge no contexto de atrofia endometrial. 
 
Os tumores tipo II por definição são pouco 
diferenciados (grau 3) e representam 
aproximadamente 15% dos casos de carcinoma 
endometrial. O subtipo mais comum é o carcinoma 
seroso, citado deste modo devido à sua sobreposição 
morfológica e biológica com os carcinomas serosos do 
ovário. 
As mutações no supressor de tumores TP53 estão 
presentes em pelo menos 90% dos carcinomas 
endometriais serosos. A maioria são mutações com 
troca de sentido (missense), que resultam em um 
acúmulo da proteína alterada. 
 
 
O precursor do carcinoma seroso, o carcinoma 
intraepitelial endometrial seroso, consiste em células 
idênticas às do carcinoma seroso, porém não possui 
invasão estromal identificável. As mutaçõesno TP53 
também são encontradas em aproximadamente 75% 
dos carcinomas intraepiteliais endometriais, sugerindo 
que a mutação do TP53 é um evento inicial na evolução 
do carcinoma endometrial seroso. Portanto, o 
carcinoma seroso supostamente começa como uma 
neoplasia epitelial de superfície, que se estende para 
estruturas glandulares adjacentes, e mais tarde invade 
o estroma endometrial. Acredita-se que seu pior 
prognóstico seja consequência de uma propensão a 
esfoliação, deslocamento através das tubas uterinas, e 
implantação nas superfícies peritoneais, como seus 
equivalentes ovarianos. 
Morfologia: Geralmente, os carcinomas serosos 
surgem em úteros pequenos e atróficos e 
frequentemente constituem tumores grandes e 
volumosos, ou profundamente invasivos para o 
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miométrio. A lesão precursora, o carcinoma 
intraepitelial endometrial seroso, consiste em células 
malignas idênticas às do carcinoma seroso, que 
permanecem confinadas às superfícies epiteliais. 
 
 
As lesões invasivas podem apresentar um padrão de 
crescimento papilar composto por células com atipia 
citológica acentuada, incluindo uma elevada proporção 
núcleo-citoplasma, figuras mitóticas atípicas, 
hipercromasia e nucléolos proeminentes. Contudo, 
também podem apresentar um padrão de crescimento 
predominantemente glandular; nesses casos, podem 
ser distinguidos do carcinoma endometrioide pela 
acentuada atipia citológica. 
Todos os tumores nessa categoria são classificados 
como grau 3, independentemente do padrão 
histológico. 
Aspectos Clínicos: É incomum em mulheres com 
menos de 40 anos de idade; o pico de incidência se dá 
em mulheres de 55 a 65 anos de idade, após a 
menopausa. Embora possa permanecer assintomático 
por um período de tempo, geralmente produz 
sangramento vaginal irregular ou no período da pós-
menopausa, com leucorreia excessiva. O aumento do 
útero pode estar ausente nos estádios iniciais. 
O diagnóstico do câncer endometrial deve ser 
estabelecido através de exame histológico do tecido 
obtido por biópsia ou curetagem. 
O prognóstico depende fortemente do estádio clínico 
no momento do diagnóstico, assim como do grau e do 
subtipo histológico. Nos Estados Unidos, a maioria dos 
tumores (aproximadamente 80%) é de carcinomas 
endometrioides bem diferenciados ou 
moderadamente diferenciados do estágio I. 
A cirurgia, isolada ou em combinação com 
radioterapia, determina 90% de sobrevida em 5 anos 
se a doença estiver em estádio I (grau 1 ou 2). Essa 
taxa cai para aproximadamente 75% em tumores de 
grau 3/estádio I, e para 50% ou menos nos carcinomas 
endometriais estádios II e III. 
Em geral, a sobrevida em 5 anos para as mulheres com 
carcinoma seroso é de 18% a 27%, e mesmo quando 
ele fica confinado no útero, a taxa de recorrência é de 
até 80%. 
TUMORES MÜLLERIANOS MISTOS 
MALIGNOS (CARCINOSSARCOMAS) 
São adenocarcinomas endometriais com um 
componente mesenquimal maligno; este pode assumir 
várias formas. Alguns contêm células tumorais que 
lembram elementos mesenquimais uterinos (sarcoma 
estromal, leiomiossarcoma), enquanto outros contêm 
tipos celulares malignos heterólogos 
(rabdomiossarcoma, condrossarcoma). 
As mutações encontradas nos TMMMs têm a 
tendência de envolver os mesmos genes que sofrem 
mutação no carcinoma endometrial, como o PTEN, o 
TP53, e o PIK3CA. 
Morfologia: Os TMMMs são geralmente volumosos 
e polipoides, e podem apresentar-se salientes no óstio 
cervical. Ao exame histológico, os tumores geralmente 
consistem em adenocarcinomas (endometrioides, 
serosos ou de células claras) misturados com 
elementos mesenquimais malignos (sarcomatosos). 
Laísa Dinelli Schiaveto 
 
 
 De maneira alternativa, o tumor pode conter dois 
componentes epiteliais e mesenquimatosos distintos e 
separados. Os componentes sarcomatosos também 
podem mimetizar tecidos extrauterinos (ex.: músculo 
estriado, cartilagem, tecido adiposo e osso). As 
metástases geralmente contêm apenas componentes 
epiteliais. 
 
Os TMMMs ocorrem em mulheres na pós-menopausa 
e se apresentam acompanhados de sangramento. O 
resultado é determinado principalmente pela 
profundidade da invasão e pelo estádio. 
As taxas gerais de sobrevida em 5 anos são de 25% a 
30% para os pacientes com a doença em estádio 
avançado. 
Os estádios patológicos tanto do adenocarcinoma 
endometrial dos tipos I e II, quanto dos tumores 
müllerianos mistos malignos são os seguintes: 
Estádio I – O carcinoma está confinado apenas ao 
corpo uterino. 
Estádio II – O carcinoma envolve o corpo e o colo 
uterino. 
Estádio III – O carcinoma se estende para fora do 
útero, mas não para fora da pelve verdadeira. 
Estádio IV – O carcinoma se estende para fora da pelve 
verdadeira ou envolve a mucosa da bexiga ou o reto. 
TUMORES DO ESTROMA 
ENDOMETRIAL 
Estes tumores relativamente incomuns compreendem 
menos do que 5% dos cânceres endometriais e 
incluem neoplasias estromais combinadas com 
glândulas benignas (adenossarcomas) e neoplasias 
estromais puras. 
ADENOSSARCOMAS 
Se apresentam mais comumente como crescimentos 
polipoides endometriais de base larga e ampla que 
podem sofrer prolapso pelo óstio cervical. 
O diagnóstico é baseado na presença de estroma de 
aspecto maligno, que coexiste com glândulas 
endometriais benignas, porém com aspecto anormal. 
Esses tumores predominam em mulheres entre a 4ª e 
a 5ª década de vida e geralmente são considerados 
como de baixo grau de malignidade; as recorrências 
desenvolvem-se em um quarto dos casos e quase 
sempre estão confinadas à pelve. 
O principal dilema diagnóstico consiste em diferenciar 
esses tumores de grandes pólipos benignos. 
A distinção é importante, pois o adenossarcoma é 
sensível ao estrogênio e responde à ooforectomia. 
TUMORES ESTROMAIS 
O endométrio ocasionalmente origina neoplasias que 
se parecem com as células estromais normais. As 
neoplasias endometriais estromais são divididas em 
duas categorias: (1) nódulos estromais benignos e (2) 
sarcomas de estroma endometrial. 
Os sarcomas estromais podem ainda ser divididos nos 
tipos de baixo e alto grau, dependendo de sua 
diferenciação. 
Estão associados com translocações cromossômicas 
que criam genes de fusão. 
As taxas de sobrevida em 5 anos são de 50%, em 
média, para tumores de grau baixo, e ainda menores 
para os de alto grau. 
Laísa Dinelli Schiaveto 
 
TUMORES DO MIOMÉTRIO 
LEIOMIOMAS 
Os leiomiomas uterinos (comumente chamados 
fibroides) talvez constituam o tipo de tumor mais 
comum em mulheres. São neoplasias benignas de 
músculo liso, que podem ocorrer isoladamente, 
porém são mais frequentemente múltiplas. A maioria 
dos leiomiomas apresenta cariótipo normal, mas 
aproximadamente 40% possuem uma anormalidade 
cromossômica simples. 
Morfologia: São tumores bastante circunscritos, 
nítidos, arredondados, firmes, de cor cinza-
esbranquiçada, variando em tamanho de nódulos 
pequenos, pouco visualizáveis, a tumores volumosos, 
que preenchem a pelve. Exceto em raros casos, são 
encontrados no miométrio do corpo uterino. Apenas 
raramente envolvem os ligamentos uterinos, o 
segmento uterino inferior, ou colo uterino. Eles 
podem ocorrer dentro do miométrio (intramurais), 
logo abaixo do endométrio (submucosos) ou abaixo 
da serosa (subserosos). 
 
Qualquer que seja o seu tamanho, o característico 
padrão turbilhonado dos feixes de músculo liso na 
superfície de corte geralmente torna essas lesões 
facilmente identificáveis. Tumores grandes podem 
desenvolver áreas de ecimento amarelo-acastanhadas 
a vermelhas. 
São compostos por feixes de células musculares lisas 
que lembram o miométrio não envolvido. Geralmente, 
as células musculares individuais têm tamanho e forma 
homogêneos, possuem o núcleo oval característico e 
processos citoplasmáticos bipolares longos e finos. As 
figuras mitóticas são escassas. 
 
Variantes benignas de leiomioma incluem tumores 
atípicos ou bizarros (simplásticos) com atipias 
nucleares e

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