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Laísa Dinelli Schiaveto Patologia do Trato Genital Feminino Introdução O trato genital feminino é composto por dois grupos de órgãos: os internos e os externos. Sendo que, o grupo de órgãos internos é composto pelos ovários, tubas uterinas, útero e vagina; enquanto, o grupo de órgãos externos – que formam a vulva – é composto pelo monte púbico, grandes lábios, pequenos lábios, vestíbulo, glândulas vestibulares maiores (de Bartholin) e menores, e clitóris. Obs.: É importante destacar que, as mamas também são consideradas partes do sistema genital feminino. Embriologia O desenvolvimento normal do trato genital feminino se dá através de uma série de eventos precisamente coreografados, envolvendo as células germinativas primordiais, ductos de Müller (paramesonéfricos), ductos de Wolff (mesonéfricos), e seio urogenital. As células germinativas surgem na parede do saco vitelino até a 4ª semana de gestação. Até a 5ª ou 6ª semana, elas migram para a crista urogenital e induzem a proliferação do epitélio mesodérmico, que gera o epitélio e o estroma do ovário. Os ductos de Müller laterais se formam aproximadamente na 6ª semana de desenvolvimento através da invaginação e fusão do epitélio de revestimento do celoma. Crescem progressivamente em direção caudal para entrar na pelve, onde se curvam em direção medial para se fundir com o seio urogenital no tubérculo de Müller. A continuação do crescimento caudal coloca esses ductos fundidos em contato com o seio urogenital. As porções superiores não fundidas dos ductos de Müller amadurecem para se tornar as tubas uterinas, enquanto a porção inferior fundida se desenvolve para formar o útero, o colo uterino, e a parte superior da vagina. O seio urogenital se desenvolve quando a cloaca é subdividida pelo septo urorretal; ele forma, no final, a parte inferior da vagina e o vestíbulo da genitália externa. Normalmente os ductos mesonéfricos regridem nas mulheres, porém vestígios podem persistir na vida adulta como inclusões epiteliais adjacentes aos ovários, tubas e útero. No colo uterino e na vagina esses vestígios podem ser císticos e são chamados de cistos do ducto de Gartner. O revestimento epitelial do trato genital feminino e a superfície ovariana têm origem comum a partir do epitélio celômico (mesotélio), o que pode explicar porque aparecem lesões benignas e malignas morfologicamente semelhantes em vários locais dentro do trato genital feminino e das superfícies peritoneais adjacentes. As doenças do trato genital feminino são extremamente comuns e incluem complicações da gravidez, infecções, tumores e efeitos induzidos por hormônios. Infecções Uma grande variedade de microrganismos pode infectar o trato genital feminino. • Infecções por Candida, Trichomonas vaginalis e Gardnerella vaginallis são extremamente comuns, podendo causar desconforto significativo; Laísa Dinelli Schiaveto • Infecções por Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis são causas importantes de infertilidade feminina; • Infecções por Ureaplasma urealyticum e Mycoplasma hominis estão implicadas em partos pré-termos; • Os vírus, especialmente os vírus de herpes simples (HSVs) e os papilomavírus humanos (HPVs) apresentam morbidade considerável; os HSVs causam ulcerações genitais dolorosas, enquanto os HPVs estão envolvidos na patogenia de cânceres cervicais, vaginais e vulvares. Muitas dessas infecções são transmitidas sexualmente, incluindo tricomoníase, gonorreia, cancro mole, granuloma inguinal, linfogranuloma venéreo, sífilis, micoplasmas, clamídia, HSV e o HPV. INFECÇÕES DO TRATO GENITAL INFERIOR VÍRUS DO HERPES SIMPLES A infecção genital pelo vírus do herpes simples é comum, envolvendo, por ordem de frequência, o colo uterino, a vagina e a vulva. Os HSVs são vírus DNA que incluem dois sorotipos, o HSV-1 e o HSV2. O HSV-1 tipicamente resulta em infecção orofaríngea, enquanto o HSV-2 geralmente envolve a mucosa genital e a pele. Contudo, dependendo das práticas sexuais, o HSV-1 pode ser detectado na região genital e o HSV-2 também pode causar infecções orais. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS As lesões se desenvolvem tipicamente de 3 a 7 dias após a transmissão e são frequentemente associadas a sintomas sistêmicos, como febre, mal-estar e linfonodos inguinais sensíveis. O início das lesões geralmente consiste em pápulas vermelhas que evoluem para vesículas, e então para úlceras coalescentes dolorosas. Essas são facialmente visíveis na pele e mucosa vulvares, enquanto as lesões cervicais ou vaginais apresentam secreção purulenta e dor pélvica. Ainda, as lesões ao redor da uretra podem causar micção dolorosa e retenção urinária. As vesículas e úlceras contêm numerosas partículas virais, explicando a taxa de transmissão elevada durante a infecção ativa. As lesões de mucosa e de pele cicatrizam espontaneamente em 1 a 3 semanas; porém, durante a infecção aguda, o vírus migra para os gânglios nervosos lombossacrais regionais, estabelecendo uma infecção latente. Devido à latência viral, as infecções por HSV persistem indefinidamente, e qualquer redução da função imunológica, bem como o estresse, o trauma, a radiação ultravioleta e as alterações hormonais, pode desencadear a reativação do vírus e a recorrência das lesões da pele e mucosa. Obs.: 1/3 dos indivíduos infectados é sintomático. MORFOLOGIA No momento em que é feita a biopsia da lesão do HSV, ela tipicamente está na fase de úlcera. O epitélio fica descamado, e está presente uma inflamação aguda acentuada no leito da úlcera. Os esfregaços do exsudato inflamatório das lesões ativam alterações citopáticas caraterísticas do HSV, que consistem em células escamosas multinucleadas contendo inclusões virais eosinófilas a basófilas, com um aspecto de “vidro fosco”. TRANSMISSÃO Ocorre principalmente durante a fase ativa, mas ela pode ocorrer ocasionalmente durante a fase latente, devido à descamação subclínica do vírus. A infecção prévia por HSV-1 parece reduzir a suscetibilidade à infecção por HSV-2. A consequência mais grave da infecção por HSV é transmissão ao recém-nascido durante o parto. O risco é maior se a infecção estiver ativa durante o Laísa Dinelli Schiaveto parto e particularmente se constituir uma infecção primária (inicial) a mãe. Uma incisão cesariana é justificada nesses casos. Além disso, a infecção por HSV-2 facilita a aquisição e a transmissão do HIV-1. Obs.: Preservativos e terapias antivirais podem reduzir o risco de transmissão, mas não o previnem. Obs.: As mulheres são mais suscetíveis à transmissão do que os homens. DIAGNÓSTICO Se baseia nos achados clínicos típicos e na detecção de HSV. O exsudato purulento é aspirado das lesões e inoculado em uma cultura de tecido. Após 48 a 72 horas, o efeito citopático viral pode ser observado e o vírus pode então ser isolado e ter o sorotipo determinado. Além disso, alguns laboratórios oferecem testes mais sensíveis como a reação em cadeia da polimerase, ensaios imunoabsorventes enzimáticos e teste de anticorpos por imunofluorescência direta para detecção de HSV nas secreções lesionais. Obs.: Indivíduos com infecção primária por HSV em fase aguda não possuem anticorpos séricos anti-HSV. A detecção de anticorpos anti-HSV no soro é indicativa de infecção latente/recorrente. TRATAMENTO Não existe um tratamento eficaz para HSV latente; contudo, agentes antivirais, como aciclovir ou fanciclovir podem reduzir a duração da fase sintomática inicial e recorrente. A solução definitiva seria uma vacina efetiva, um objetivo atraente que ainda não foi alcançado. MOLUSCO CONTAGIOSO Trata-se de uma lesão cutânea ou das mucosas, causada por um poxvirus. Existem quatro tipos de vírus do molusco contagioso (MCVs), MCV-1 até MCV-4, sendo que o MCV-1 é o mais prevalente e o MCV-2 é o mais frequentementetransmitido por contato sexual. As infecção são comuns em crianças entre 2 a 12 anos de idade e são transmitidas por contato direto ou artigos compartilhados (ex.: toalhas). O molusco pode afetar qualquer área da pele, porém é mais comum no tronco, braços e pernas. Já, em adultos, estas infecções tipicamente têm transmissão sexual e afetam os genitais, a porção inferior do abdome, as nádegas e a parte interna das coxas. O período de incubação médio corresponde a 6 semanas. O diagnóstico se baseia no aspecto clínico caraterístico de pápulas peroladas em forma de cúpula com uma depressão central. Estas medem de 1 a 5 mm de diâmetro, e seu núcleo ceroso central contém células com inclusões virais intracitoplasmáticas. INFECÇÕES FÚNGICAS Especialmente aquelas causadas por leveduras (Candida), sendo extremamente comuns. Na verdade, as leveduras fazem parte da microbiota vaginal normal de muitas mulheres e o desenvolvimento de candidíase sintomática é tipicamente o resultado de uma perturbação no ecossistema microbiano vaginal da paciente. Diabetes melito, antibióticos, gravidez e condições que resultem em comprometimento da função dos neutrófilos ou da célula T Th17 são permissivos com a infecção fúngica sintomática. Quando sintomática, se manifesta por prurido vulvovaginal acentuado, eritema, inchaço e secreção vaginal semelhante a leite coalhado. A infecção grave pode resultar em ulcerações da mucosa. Laísa Dinelli Schiaveto O diagnóstico é feito encontrando-se os pseudoesporos ou hifas fúngicas filamentosas, ao se adicional a solução KOH na lâmina preparada com a secreção ou no esfregaço de Papanicolau. Obs.: Embora a transmissão sexual da infecção por levedura tenha sido documentada, a candidíase não é considerada uma DST. TRICHOMONAS VAGINALIS É um protozoário ovoide flagelado de grande tamanho, geralmente transmitido pelo contato sexual, que se desenvolve de 4 dias a 4 semanas. As pacientes podem ser assintomáticas ou podem se queixar de uma secreção vaginal amarelada e espumosa, desconforto vulvovaginal, disúria e dispareunia. As mucosas vaginais e cervicais tipicamente apresentam aspecto vermelho-vivo, com acentuada dilatação dos vasos da mucosa cervical resultando em um aspecto colposcópico característico de “colo uterino em morango”. GARDNERELLA VAGINALIS É um bacilo Gram-negativo que está associado como a causa principal de vaginose bacteriana (vaginite). As pacientes tipicamente apresentam uma secreção vaginal fina, verde-acinzentada, com odor desagradável (de peixe). Os esfregaços de Papanicolau revelam células escamosas superficiais e intermediarias recobertas por cocobacilos com aspecto pilosos. As culturas bacterianas nesses casos revelam G. vaginalis e outras bactérias, incluindo peptoestreptococos anaeróbicos e estreptococos α-hemolíticos aeróbicos. Obs.: Em pacientes grávidas, a vaginose bacteriana foi implicada em trabalho de parto prematuro. UREAPLASMA UREALYTICUM E MYCOPLASMA HOMINIS Respondem por alguns casos de vaginite e cervicite e têm sido associadas à corioamnionite e ao parto prematuro em pacientes grávidas. CHLAMYDIA TRACHOMATIS Assume a forma de cervicite. Contudo, em algumas pacientes, a infecção ascende até o útero e às tubas uterinas, resultando em endometrite e salpingite, sendo uma das causas de doença inflamatória pélvica (DIP). INFECÇÕES ENVOLVENDO OS TRATOS GENITAIS INFERIOR E SUPERIOR DOENÇA INFLAMATÓRIA PÉLVICA (DIP) É uma infecção que começa na vulva ou na vagina e se espalha para cima de modo a envolver a maioria das estruturas do sistema genital feminino, resultando em dor pélvica, sensibilidade dos anexos, febre e secreção vaginal. Laísa Dinelli Schiaveto A Neisseria gonorrhoeae é a causa mais comum da DIP, sendo a complicação mais seria da gonorreia em mulheres. A infecção por Clamydia é outra causa também muito comum. As infecções após abortos espontâneos ou induzidos e partos normais ou anormais – infecções puerperais – também são causas importantes; nessas situações, as infecções são tipicamente polimicrobianas e podem ser causadas por estafilococos, estreptococos, coliformes e pelo Clostridium perfringens. Com o gonococo, as alterações inflamatórias começam a aparecer aproximadamente 2 a 7 dias após a inoculação. A infecção inicial envolve mais comumente a mucosa endocervical, mas ela também pode começar na glândula de Bartholin e em outras glândulas vestibulares ou periuretrais. A partir de qualquer um desses lugares, os organismo podem se disseminar para cima e envolver as tubas uterina e a região tubo ovariana. Já, as infecções bacterianas não gonocócicas que seguem uma aborto induzido, dilatação e curetagem do útero, e outros procedimentos cirúrgicos se disseminam a partir do útero para cima, pelos canais linfáticos ou venosos, e não pela superfície mucosa. Assim, essas infecções tendem a produzir mais inflamação dentro das camadas mais profundas dos órgãos do que as infecções gonocócicas. MORFOLOGIA A infecção gonocócica é caracterizada pela inflamação aguda acentuada das superfícies mucosas envolvidas. Os esfregaços do exsudato inflamatório revelam diplococos Gram-negativos fagocitados dentro de neutrófilos. Se a infecção se espalhar, o endométrio é geralmente poupado (por razões não claras). No entanto, dentro das tumbas uterinas, segue-se uma salpingite supurativa aguda, fazendo com que a mucosa das tubas uterinas torne-se congesta e infiltrada difusamente por neutrófilos, plasmócitos e linfócitos, resultando em lesão epitelial e descamação das pregas. Além disso, a luz das tubas torna-se preenchida por um exsudato purulento que pode vazar pelas fimbrias da extremidade do órgão. A infecção pode se propagar até o ovário, criando uma salpingo-ooforite. Coleções de pus podem se acumular dentro do ovário e da tuba (abscessos tubo-ovariano) ou no lúmen da tuba (piossalpingite). Com o tempo, os organismos infectantes podem desaparecer, mas as pregas tubárias, desnudadas de seu epitélio de revestimento, aderem umas às outras, e lentamente serão fundidas em um processo de cicatrização, formando espaços semelhantes a glândulas e bolsas cegas – salpingite crônica. A cicatrização da luz tubaria e das fímbrias pode impedir a apreensão e a passagem de ovócitos, resultando em infertilidade ou gravidez ectópica. Ainda, a hidrossalpingite pode se desenvolver como consequência da fusão das fímbrias e o subsequente acúmulo de secreções tubarias e da distensão tubária. Comparando-se com as infecções gonocócicas, a DIP causada por estafilococos, estreptococos e outros invasores puerperais tende a exibir menos envolvimento da mucosa e da luz tubária, e mais inflamação dentro das camadas teciduais mais profundas. A bacteremia é uma complicação mais frequente da DIP estreptocócica ou estafilocócica. COMPLICAÇÕES As complicações agudas da DIP incluem peritonite e bacteremia, que podem resultar em endocardite, meningite e artrite supurativa. Laísa Dinelli Schiaveto As sequelas crônicas da DIP incluem infertilidade e obstrução tubária, gravidez ectópica, dor pélvica e obstrução intestinal devido a aderências entre o intestino e os órgãos pélvicos. TRATAMENTOS Nos estágios iniciais, as infecções gonocócicas são facilmente controladas com antibióticos. As infecções que ficam enclausuradas nos abscessos tubo-ovarianos são difíceis de erradicar com antibióticos, e às vezes é necessário remover os órgãos cirurgicamente. As DIPs pós-aborto e pós-parto também são responsivas ao tratamento com antibióticos, porém seu controle é muito mais difícil devido ao amplo espectro de patógenos que podem estar envolvidos. Vulva A vulva é representada pelos órgãos genitais externos, compreendendo o monte do púbis, os lábios maiores, os lábios menores, o clitóris,vestíbulo e as glândulas vestibulares maiores (de Bartholin) e menores. Serve como tecido sensitivo e erétil para excitação e relação sexual; para orientar o fluxo de urina; e para evitar a entrada de material estranho nos sistemas genital e urinário. Monte do Púbis: É a eminência adiposa, arredonda, anterior à sínfise púbica, tubérculos púbicos e ramo superior do púbis. Esta é formada por massa de tecido adiposo subcutâneo, sendo que a quantidade de tecido adiposo aumenta na puberdade e diminui após a menopausa. A superfície do monte é continua com a parede anterior do abdome e, após a puberdade, é coberto por pelos pubianos. Lábios Maiores: São pregas cutâneas proeminentes que proporcionam proteção indireta para o clitóris e para os óstios da uretra e da vagina. Seguem sentido ínfero-posterior do monte do púbis em direção ao ânus. Estão situados nas laterais da rima do pudendo, uma depressão central onde localiza-se os pequenos lábios e o vestíbulo da vagina. As faces externas na mulher adulta são cobertas por pele pigmentada contendo muitas glândulas sebáceas e por pelos pubianos. As faces internas são lisas, rosadas e não possui pelos. Lábios Menores: São pregas arredondadas de pele sem pelos e sem tecido adiposo. Estão situados na rima do pudendo, circundam imediatamente e fecham o vestíbulo da vagina, no qual se abrem os óstios externo da uretra e da vagina. Possuem um núcleo de tecido conjuntivo esponjoso contendo tecido erétil em sue base e muitos pequenos vasos sanguíneos. Anteriormente, formam duas lâminas; as lâminas mediais de cada lado se unem e formam o frênulo do Laísa Dinelli Schiaveto clitóris, enquanto as lâminas laterais unem-se anteriormente à glande do clitóris (ou muitas vezes anterior e inferiormente, assim sobrepondo-se à glande e encobrindo-a), e formam o prepúcio do clitóris. A face interna é formada por pele fina e úmida, sendo roseada e contendo muitas glândulas sebáceas e terminações nervosas livres. Clitóris: É um órgão erétil localizado no ponto de encontro dos lábios menores anteriormente. Consiste em uma raiz e um pequeno corpo cilíndrico, formado por dois ramos, dois corpos cavernosos e a glande do clitóris. O corpo é recoberto pelo prepúcio. Juntos, o corpo e a glande tem cerca de 2cm de comprimento e < 1cm de diâmetro. Atua apenas como órgão de excitação sexual, sendo muito sensível e aumentando de tamanho à estimulação tátil. Ainda, a glande é a parte mais inervada do clitóris e tem densa provisão de terminações sensitivas. Vestíbulo da Vagina: É o espaço circundado pelos lábios menores no qual se abrem os óstios da uretra e da vagina e os ductos das glândulas vestibulares maiores e menores. O óstio externo da uretra está localizado 2 a 3 cm posteroinferiormnete à glande do clitóris e anteriormente ao óstio da vagina, sendo que de cada lado há aberturas dos ductos das glândulas uretrais. O tamanho e a aparência do óstio da vagina variam com a condição do hímen, uma prega anular fina de mucosa, que proporciona oclusão parcial ou total do óstio da vagina. Após a ruptura do hímen, são visíveis as carúnculas himenais remanescentes, sendo estes quem delimitam a vagina e o vestíbulo. Bulbos do Vestíbulo: São duas massas de tecido erétil alongado, com cerca de 3cm de comprimento. Situam-se lateralmente ao linfo do óstio da vagina superior ou profundamente ao lábios menores, imediatamente inferiores à membrana do períneos. São cobertos inferior e lateralmente pelos músculos bulboesponjosos que se estendem ao longo de seu comprimento. Glândulas Vestibulares: • As glândulas vestibulares maiores (ou de Bartholin), com cerca de 0,5cm de diâmetro, estão situadas no espaço superficial do períneo, situando-se especificamente de cada lado do vestíbulo da vagina, posterolaterlamente ao óstio da vagina e inferiormente à membrana do períneo. São redondas ou ovais, sendo parcialmente sobrepostas posteriormente pelos bulbos do vestíbulos. Essas secretam muco para o vestíbulo durante a excitação sexual. • As glândulas vestibulares menores são pequenas glândulas de cada lado do vestíbulo da vagina que se abrem nele entre os óstios da uretra e da vagina. Essas secretam muco para o vestíbulo da vagina, o que umedece os lábios e o vestíbulo da vagina. à Como a vulva está constantemente exposta a secreções e à umidade, esta é mais suscetível a infecções superficiais do que a pele de outras áreas do corpo. CISTO DE BARTHOLIN A infecção da glândula de Bartholin (glândulas vestibulares maiores) produz uma inflamação aguda (adenite) e pode resultar em abscesso. Os cistos do ducto de Bartholin são relativamente comuns, ocorrem em todas as idades, e resultam da obstrução do ducto por um processo inflamatório. São geralmente revestidos por epitélio transicional ou escamoso. Podem crescer até 3 a 5 cm de diâmetro e produzir dor e desconforto local. Além disso, são excisados ou abertos permanentemente (marsupialização). DISTÚRBIOS EPITELIAIS NÃO NEOPLÁSICOS Leucoplasia é um termo clínico descritivo para espessamento epitelial em placas brancas e opacas, Laísa Dinelli Schiaveto podendo ocasionar prurido e descamação. Pode ser causada por um grande número de distúrbios benignos, pré-malignos ou malignos, incluindo: • Dermatoses inflamatórias (ex.: psoríase e dermatite crônica); • Líquen escleroso e hiperplasia das células escamosas; • Neoplasias (ex.: neoplasia intersticial vulvar (NIV), doença de Paget e carcinoma invasor). LÍQUEN ESCLEROSO Mais comum em mulheres após a menopausa. Se apresenta como placas ou máculas lisas, que com o tempo podem ficar maiores e coalescer, produzindo uma superfície que lembra porcelana ou papel pergaminho. Quando toda a vulva é afetada, os lábios se tornam atróficos e aglutinados, e o orifício vaginal se contrai. Histologicamente, a lesão é caracterizada pelo adelgaçamento acentuado da epiderme, degeneração das células basais, queratinização excessiva (hiperqueratose), mudanças escleróticas da derme superficial e por um infiltrado linfocítico em forma de faixa na derme subjacente. A patogenia é incerta, mas a presença de células T ativadas no infiltrado inflamatório subepitelial e a maior frequência de doenças autoimunes nessas mulheres sugerem que está envolvida em uma reação autoimune. Obs.: Embora não seja uma lesão pré-maligna, as mulheres sintomáticas têm possibilidade um pouco maior de desenvolver carcinoma de células escamosas da vulva. HIPERPLASIA DE CÉLULAS ESCAMOSAS É uma condição inespecífica resultante da fricção ou arranhadura da pele para aliviar o prurido. Clinicamente, se apresenta como uma leucoplasia, e o exames histológico revela um espessamento da epiderme (acantose) e hiperqueratose. Às vezes, apresenta uma infiltração linfocítica na derme. Ainda, o epitélio pode exibir atividade mitótica, mas carece de atipia celular. Obs.: Embora não seja considerada pré-maligna, às vezes se apresente nas margens dos canceres vulvares. LESÕES EXOFÍTICAS BENIGNAS As lesões elevadas (exofíticas) ou verrucosas da vulva podem ser causadas por uma infecção ou condições reativas de etiologia desconhecida. CONDILOMA ACUMINADO São verrugas genitais benignas causadas por HPVs de baixo risco oncogênico, principalmente os tipos 6 e 11. Eles podem ser solitários, mas são mais frequentemente multifocais, podendo envolver as regiões vulvar, perianal, a vagina e, menos comumente, o colo uterino. No exame histológico, elas consistem em eixo conjuntivo arborescente, exofítico, papilar, coberto por epitélio escamoso espessado. Laísa Dinelli Schiaveto Ainda, o epitélio superficial exibe características alterações citopáticas virais – atipia coilocitótica – que se manifesta como um aumento nuclear, hipercromasia e uma halo citoplasmático perinuclear. Obs.: Não são consideradoslesões pré-cancerosas. LESÕES NEOPLÁSICAS ESCAMOSAS NEOPLASIA INTRAEPITELIAL VULVAR E CARCINOMA VULVAR O carcinoma da vulva é uma neoplasia maligna incomum, representando 3% de todos os canceres genitais em mulheres, sendo que, aproximadamente 2/3 ocorrem em mulheres acima de 60 anos. O carcinoma de células escamosas é o tipo histológico mais comum. Em termos de etiologia, patogenia e características histológicas, os carcinomas de células escamosas da vulva podem ser divididos em dois grupo: Carcinomas Basaloides e Verrucosos Estão relacionados à infecção com HPVs de alto risco, mais comumente o HPV-16; são menos comuns (30%) e ocorrem em pacientes mais jovens. Se desenvolvem a partir de uma lesão precursora in situ – neoplasia intraepitelial vulvar clássica (NIV clássica). Essa forma de NIV ocorre principalmente em mulheres em idade reprodutiva, incluindo lesão designadas anteriormente como carcinoma in situ ou doença de Bowen. Os fatores de risco incluem idade jovem na primeira relação sexual, múltiplos parceiros sexuais e parceiro do sexo masculino com múltiplas parceiras sexuais. Frequentemente, a NIV é multicêntrica e 10 a 30% das pacientes apresentam lesões vaginais ou cervicais relacionadas ao HPV. O risco de progressão para carcinoma invasor é mais alto em mulheres com mais de 45 anos de idade ou em mulheres imunossuprimidas. O pico de idade para este tipo de câncer encontra-se na 6a década de vida. MORFOLOGIA: A NIV clássica se apresenta como uma lesão branca discreta (hiperqueratótica) ou como uma lesão levemente elevada e pigmentada. Microscopicamente, é caracterizada pelo espessamento epidérmico, atipia nuclear, aumento de mitoses e falta de maturação celular. Laísa Dinelli Schiaveto Os carcinomas invasores que surgem a partir da NIV clássica podem ser exofíticos ou endurecidos, com ulceração central. Ao exame histológico, os carcinomas basaloides consistem em ninhos e cordões de células pequenas, agrupadas de modo compacto, que não apresentam maturação, lembrando a camada basal do epitélio normal. Ainda, o tumor pode apresentar focos de necrose central. Em contrapartida, o carcinoma verrucoso é caracterizado por arquitetura exofítica e papilar e atipia coilocitótica proeminente. Carcinomas Queratinizantes de Células Escamosas Não possuem relação com a infecção por HPV; são mais comuns (70%) e ocorrem em mulheres mais idosas. Ocorre mais frequentemente em indivíduos com histórico de longa data de líquen escleroso ou hiperplasia das células escamosas. Ele surge de uma lesão precursora – neoplasia intraepitelial vulvar diferenciada (NIV diferenciada) ou NIV simples. O pico de ocorrência acontece na 8a década de vida. Estudos mostram que a irritação epitelial crônica do líquen escleroso ou na hiperplasia de células escamosas pode contribuir para uma evolução gradual para o fenótipo maligno, presumidamente através da aquisição de mutações “condutoras” em oncogenes e em supressores tumorais. De acordo com essa ideia, tem-se relatado uma alta frequência de mutações TP53. MORFOLOGIA: A NIV diferenciada é caracterizada pela atipia acentuada da camada basal do epitélio escamoso e uma diferenciação de aparência normal das camadas mais superficiais. Os carcinomas queratinizantes invasores de células escamosas que surgem na NIV diferenciada contêm ninhos e línguas de epitélio escamoso maligno com proeminentes perolas de queratina centrais. Os carcinomas invasores associados ao líquen escleroso, à hiperplasia das células escamosas e à NIV diferenciada podem se desenvolver de maneira traiçoeira, podendo ser erroneamente interpretados como dermatite ou leucoplasia por longos períodos. Uma vez que o câncer invasor esteja desenvolvido, o risco do avanço metastático é associado ao tamanho do tumor, profundidade da invasão e envolvimento dos vasos linfáticos. A disseminação inicial ocorre para os linfonodos inguinais, pélvicos, ilíacos e periaórticos. Laísa Dinelli Schiaveto Finalmente, pode ocorrer disseminação linfo- hematogênica para os pulmões, fígado e para outros órgãos internos. Os pacientes com lesões de menos de 2 cm de diâmetro apresentam 90% de sobrevida em 5 anos após o tratamento com vulvectomia e linfadenectomia; contudo, lesões maiores, com envolvimento de linfonodos, apresentam um prognóstico ruim. Obs.: O risco de desenvolvimento de câncer na NIV depende da duração e extensão da doença, e da condição imunológica do paciente. LESÕES NEOPLÁSICAS GLANDULARES A vulva contém glândulas sudoríparas apócrinas modificadas, assim como na mama. Então, devido a essas características similares às das mamas, a vulva pode ser envolvida por dois tumores que têm correspondentes na mama. HIDRADENOMA PAPILÍFERO Apresenta-se como um nódulo bem circunscrito, mais comumente nos lábios maiores ou na pregas interlabiais, podendo ser confundido com carcinoma devido a sua tendência à ulceração. Sua aparência histológica é idêntica àquela do papiloma intraductal da mama, e consiste em projeções papilares cobertas com duas camadas de células: uma camada superior de células secretoras colunares e uma camada mais profunda de células mioepiteliais aplanadas. Esses elementos mioepiteliais são característicos das glândulas sudoríparas e dos tumores da glândula sudorípara. DOENÇA DE PAGET EXTRAMAMÁRIA Trata-se de uma lesão curiosa e rara da vulva, sendo semelhante em suas manifestações à doença de Paget da mama. Na vulva, se apresente com uma área de traçado geográfico, pruriginosa, vermelha, crostosa, que ocorre geralmente nos lábios maiores. MORFOLOGIA É uma particular proliferação intraepitelial de células malignas. As células de Paget são maiores que os queratinócitos ao redor, sendo vistas individualmente ou em pequenos grupos dentro da epiderme. Estas têm um citoplasma pálido que contém mucopolissacarídeos. Além disso, expressam citoqueratina 7. Exibem diferenciação apócrina, écrina e de queratinócitos e supostamente sugerem a partir de células multipotentes encontradas nos ductos de glândulas similares às da mama encontradas na pelve vulvar. A doença de Paget vulvar não é tipicamente associada ao câncer subjacente e fica confinada à epiderme da pele vulvar. O tratamento consiste na excisão local ampla. As células de Paget se espalham lateralmente dentro da epiderme, e podem estar presentes além dos limites da lesão visível. Como resultado, as células do tumor podem não ser excisadas completamente, e a doença pode recorrer. A doença de Paget intraepidérmica pode persistir por muitos anos, mesmo décadas, sem invasão ou metástases. Nos raros casos em que a invasão se desenvolve, o prognóstico é ruim. Laísa Dinelli Schiaveto Vagina É um tubo musculomembranáceo distensível (7 a 9 cm de comprimento), que estende-se do meio do colo do útero até o óstio da vagina, uma abertura em sua extremidade inferior. O óstio da vagina, o óstio externo da uretra e os ductos da glândula vestibular maior e as glândulas vestibulares menores abrem-se no vestíbulo da vagina, que é uma fenda entre os lábios menores da vulva. Ainda, a parte vaginal do colo do útero está localizada anteriormente na parte superior da vagina. A vagina serve como canal para o líquido menstrual; forma a parte inferior do canal de parto; recebe o pênis e o ejaculado durante a relação sexual; comunica-se superiormente com o canal do colo do útero e inferiormente com o vestíbulo da vagina. Geralmente, a vagina encontra-se colapsada. Quatro músculos comprimem a vagina e atuam como esfíncteres: pubovaginal, esfíncter externo da uretra, esfíncter uretrovaginal e bulboesponjoso. O fórnice da vagina, um recesso ao redor do colo, tem partes anterior, posterior e lateral. A parte posterior é a mais profunda e tem intima relação com a escavação retouterina.A vagina está relacionada: • Anteriormente com o fundo da bexiga e da uretra; • Lateralmente, com o músculo levantador do 6anus, a fáscia visceral da pelve e dos ureteres; • Posteriormente (da parte inferior para a superior) com o canal anal, o reto e a escavação retouterina. à A vagina é uma porção do trata genital feminino que é notavelmente livre de doenças primárias. Dessa forma, estas lesões são rara, das quais a mais grave é o carcinoma de células escamosas vaginal. MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS VAGINA SEPTADA OU DUPLA É uma anomia incomum que surge da falha na fusão total dos ductos de Müller, acompanhando um útero duplo (útero didelfo). Essa e outras anormalidade podem ser manifestações de síndromes genéticas, exposição intrauterina a dietilestilbestrol (DES – usado para prevenir abortos) ou outros fatores perturbadores da sinalização epitelial-estromal recíproca durante o desenvolvimento fetal. ADENOSE VAGINAL Durante o desenvolvimento embrionário, a vagina é inicialmente recoberta por um epitélio colunar do tipo endocervical. Este é normalmente substituído por um epitélio escamoso que sobe a partir do seio urogenital. Contudo, pequenas áreas residuais do epitélio glandular podem persistir na vida adulta – adenose vaginal. Manifesta-se clinicamente como áreas vermelhas, granulares, contrastando com a mucosa vaginal rosa clara normal ao redor. Ao exame microscópico, consiste em epitélio mucinoso colunas indistinguível do epitélio endocervical. CISTOS DO DUCTO DE GARTNER São lesões relativamente comuns, encontradas ao longo das paredes laterais da vagina, sendo derivadas dos ductos de Wolff (mesonéfricos). Consistem em cistos de 1 a 2 cm preenchidos com fluido que ocorrem em localização submucosa. Laísa Dinelli Schiaveto NEOPLASIAS PRÉ-MALIGNAS E MALIGNAS DA VAGINA A maioria dos tumores benignos da vagina ocorre em mulheres em idade reprodutiva e inclui tumores estromais (pólipos estromais), leiomiomas e hemangiomas. O tumor maligno mais comum envolvendo a vagina é a propagação do carcinoma do colo uterino, seguido por um carcinoma de células escamosas primário da vagina. NEOPLASIA INTRAEPITELIAL VAGINAL E CARCINOMA DE CÉLULAS ESCAMOSAS Quase todos os carcinomas primários da vagina consistem em carcinomas de células escamosas associados a HPVs de alto risco. O carcinoma primário da vagina é um câncer extremamente raro, representando aproximadamente 1% das neoplasias malignas do trato genital feminino. O maior fator de risco é o carcinoma prévio do colo uterino ou da vulva. O carcinoma de células escamosas da vagina surge a partir de uma lesão pré-maligna – neoplasia intraepitelial vaginal (NIVA ou VAIN)– semelhante às lesões intraepiteliais escamosas cervicais. Mais frequentemente, o tumor invasor afeta a porção posterior da vagina, particularmente a parede posterior na junção com a ectocérvice. As lesões nos dois terços inferiores da vagina metastatizam para os linfonodos inguinais, enquanto as lesões da parte superior da vagina tendem a envolver os linfonodos ilíacos regionais. RABDOMIOSSARCOMA EMBRIONÁRIO OU SARCOMA BOTRIOIDE É um tumor vaginal incomum, composto por rabdomioblastos embrionários malignos, sendo mais frequentemente encontrado em bebês e crianças com menos de 5 anos de idade. Têm a tendência de crescer como massas polipoides arredondadas e volumosas, que têm a aparência e consistência de cachos de uvas. As células tumorais são pequenas e possuem núcleos ovais, com pequenas protrusões de citoplasma a partir de uma extremidade, parecidas com uma raquete de tênis. Raramente, as estriações, que indicam diferenciação muscular, podem ser vistas no citoplasma. Abaixo do epitélio vaginas, estas células estão aglomeradas na camada de cambio, porém profundamente estão situadas em meio a um estroma fibromixomatoso frouxo, que é edematoso e pode conter muitas células inflamatórias. Estes tumores tendem a invadir localmente e causar morte por penetração na cavidade peritoneal ou por obstrução do trato urinário. A cirurgia conservadora, associada à quimioterapia, oferece os melhores resultados, nos casos diagnosticados em fases iniciais. Obs.: Tais lesões podem ser confundidas com pólipos inflamatórios benignos. Laísa Dinelli Schiaveto Colo Uterino Anatomicamente, o colo uterino compreende a porção vaginal externa (ectocérvice) e o canal endocervical. A ectocérvice é visível no exame vaginal e é coberta por um epitélio escamoso contínuo com a parede vaginal. O epitélio escamoso converge centralmente em uma pequena abertura chamada de orifício externo, que se continua com o canal endocervical. A endocérvice é revestida por um epitélio colunar secretor de muco. O ponto onde o epitélio escamoso e o colunar se encontram é chamado de junção escamocolunar. A posição da junção varia e muda com a idade e a influência hormonal, mas em geral a junção sobe ao longo do canal endocervical com o tempo. A substituição do epitélio glandular pelo avanço do epitélio escamoso é um processo chamado de metaplasia escamosa. A área do colo uterino onde o epitélio toca o epitélio escamoso é chamada de “zona de transformação”. O ambiente epitelial singular do colo uterino o faz altamente suscetível a infecções com HPV, a principal causa de câncer do colo uterino. As células epiteliais metaplásicas escamosas imaturas na zona de transformação são mais suscetíveis à infecção por HPV, e como resultado disso, é onde se desenvolvem as lesões e cânceres precursores cervicais. Ainda, a ectocérvice, em condições normais, é revestida por epitélio plano estratificado não corneificado; a estratificação é regular; as células da superfície são achatadas e possuem glicogênio, que aparece como vacúolos claros no citoplasma; não existem glândulas. Já, a endocérvice, em condições normais, é revestida por epitélio cilíndrico simples mucoso; há glândulas. INFLAMAÇÕES CERVICITES AGUDA E CRÔNICA No início da menarca, a produção de estrogênios pelo ovário estimula a maturação da mucosa escamosa cervical e vaginal e a formação de vacúolos de glicogênio intracelular nas células escamosas. À medida que essas células descamam, o glicogênio fornece um substrato para microrganismos vaginais endógenos aeróbios e anaeróbios, mas particularmente para os lactobacilos, que são a espécie microbiana dominante na vagina normal. Os lactobacilos produzem ácido lático, que mantém o pH vaginal abaixo de 4,5 (pH ácido), suprimindo o crescimento de outros organismos patogênicos. Além disso, em pH baixo, os lactobacilos produzem peróxido de hidrogênio (H2O2) bacteriotóxico. Se o pH se tornar alcalino (pH alto) devido a sangramento, relação sexual ou uso de ducha vaginal, a produção de H2O2 pelos lactobacilos diminui. à Em cada uma dessas condições, o ambiente vaginal alterado promove o crescimento excessivo de outros microrganismos, o que pode resultar em cervicite ou vaginite. Contudo, infecções por gonococos, clamídia, micoplasma e vírus do herpes simples podem produzir cervicite aguda ou crônica significativa, e sua identificação é importante devido à sua associação com doenças do trato genital superior, complicações durante gravidez e transmissão sexual. Uma inflamação cervical pronunciada produz alterações reparadoras e reativas no epitélio e descamação de células escamosas de aparência atípica, e, portanto, podem causar um resultado anormal e inespecífico no exame de Papanicolau. Em áreas com cervicite crônica, há um infiltrado inflamatório inespecífico, com linfócitos e plasmócitos na lâmina própria. Se ela for intensa, o epitélio de revestimento pode sofrer erosão (cervicite crônica erosiva). Ademais, quando há, além de linfócitos e plasmócitos, neutrófilos, recebe o nome de cervicite crônica ativa. PÓLIPOS ENDOCERVICAIS São crescimentos exofíticos benignos que surgem dentro do canalendocervical. Eles variam de protuberâncias sésseis pequenas a grandes polipoides Laísa Dinelli Schiaveto que podem avançar através do orifício externo cervical. Histologicamente, são compostos por um estroma fibromixomatoso frouxo coberto por glândulas endocervicais secretoras de muco, frequentemente acompanhadas por inflamação. A maior importância dos pólipos é que eles podem ser fontes de “sangramento de escape” ou sangramentos maiores que levam a suspeita de uma lesão mais assustadora. A curetagem simples ou a excisão cirúrgica são curativas. NEOPLASIAS PRÉ-MALIGNAS E MALIGNAS DO COLO UTERINO O carcinoma cervical é o terceiro câncer mais comum em mulheres, sendo que mais da metade é fatal. PATOGENIA Os HPVs de alto risco são de longe o fator mais importante no desenvolvimento do câncer de colo uterino. Existem 15 HPVs de alto risco identificado, mas os HPV-16 representa 60% dos casos e o HPV-18 representa 10% dos casos. Os HPVs de alto risco também estão associados nos carcinomas de células escamosas que surgem em muitos outros locais, incluindo a vagina, a vulva, o ânus, tonsilas palatinas e outros locais da orofaringe. Obs.: Lembrando que, os HPVs de baixo risco oncog6enico são a causa de verrugas vulvares, perineais e perianais transmitidas sexualmente (condiloma acuminado). As infecções genitais por HPV são extremamente comuns, sendo que, a maioria é assintomática e não causa qualquer alteração do tecido. A maioria dessas infecções é transitória e eliminada pela resposta imunológica no decorrer de meses. Em média, 50% das infecções por HPV são eliminadas dentro de 8 meses e 90% são eliminadas dentro de 2 anos. A duração da infecção é relacionada ao tipo de HPV; em média, as infecções com alto risco duram mais que as infecções com baixo risco oncogênico (13 meses contra 8 meses, respectivamente). A infecção persistente aumenta o risco de desenvolvimento das lesões precursoras do colo uterino e do carcinoma subsequente. Os HPVs infectam as células basais imaturas do epitélio escamoso em áreas de ruptura epitelial o células escamosas metaplásicas imaturas presentes na junção escamucolunar. Estes não infectam as células superficiais escamosas maduras que recobrem a ectocérvice, a vagina e a vulva. Então, o estabelecimento da infecção por HPV nesses locais requer lesão do epitélio superficial, permitindo, assim, o acesso do vírus às células imaturas da camada basal do epitélio. O colo uterino, com suas áreas relativamente grandes de epitélio escamoso metaplásico imaturo, é particularmente vulnerável à infecção por HPV. A capacidade do HPV agir como carcinógeno depende das proteínas virais E6 e E7, que interferem na atividade das proteínas supressoras de tumores, que regulam o crescimento e a sobrevivência das células. Embora o HPV infecte as células escamosas imaturas, a replicação viral ocorre durante a maturação das células escamosas. Normalmente, essas células mais maduras são detidas na fase G1 do ciclo celular, mas elas continuam a progredir ativamente através do ciclo celular ao serem infectadas pelo HPV, que usa maquinaria de síntese de DNA da célula hospedeira para replicar seu próprio genoma. Ainda, outro fator que contribui para a transformação maligna pelo HPV é o estado físico do vírus. Ainda que o HPV tenha sido estabelecido firmemente como uma causa habitual de câncer cervical, este não é suficiente para causar câncer à Essa conclusão é apoiada pelo fato de que uma alta porcentagem de mulheres jovens é infectada por um ou mais tipos de HPV durante seus anos reprodutivos, mas apenas algumas desenvolvem câncer à Dessa forma, outros fatores como a exposição a carcinógenos e o estado imune do hospedeiro influenciam se uma infecção por HPV regride ou persiste, e, enfim, evolui para um câncer. Laísa Dinelli Schiaveto NEOPLASIA INTRAEPITELIAL CERVICAL (LESÕES INTRAEPITELIAIS ESCAMOSAS) As lesões intraepiteliais escamosas de baixo grau (LSIL) são associadas com a infecção de HPV produtiva. Há um alto nível de replicação viral e apenas pequenas alterações no crescimento das células hospedeiras. Esta não progride diretamente para carcinoma invasivo e, na verdade, em muitos casos, regride espontaneamente; apenas uma pequena porcentagem progride para HSIL. Por esse motivo, a LSIL não é tratada como uma lesão pré-maligna. Nas lesões intraepiteliais escamosas de alto grau (HSIL) ocorre uma desregulação progressiva do ciclo celular pelo HPV, que resultam em aumento da proliferação celular, diminuição ou parada da maturação epitelial e uma menor taxa de replicação viral. O desarranjo do ciclo celular neste caso pode se tornar irreversível e resultar em um fenótipo maligno totalmente transformado. Sendo assim, considera-se que as HSILs oferecem um alto risco de progredirem para um carcinoma. Obs.: Mais de 80% das LSILs e 100% das HSILs são associadas com HPVs de alto risco, dos quais o HPV- 16 é o tipo mais comum de HPV em ambas as categorias de lesões. Obs.: A LSIL é 10 vezes mais comum do que a HSIL. MORFOLOGIA O diagnóstico de SIL se baseia na identificação de atipia nuclear caracterizada por aumento nuclear, hipercromasia (coloração escura), presença de grânulos grosseiros de cromatina e variação dos tamanhos e formas nucleares. As mudanças nucleares são frequentemente acompanhadas por halos citoplasmáticos. No nível ultraestrutural, esses halos consistem em vacúolos perinucleares, uma mudança citopática criada em parte por uma proteína codificada no HPV chamada E5 que se concentra nas membranas do retículo endoplasmático. As alterações nucleares e o halo perinuclear associado são chamados de atipia coilocitótica. A classificação de SIL em baixo ou alto grau se baseia na expansão da camada de células imaturas a partir de sua localização basal normal. Se as células escamosas imaturas estiverem confinadas ao terço inferior do epitélio, a lesão é classificada como LSIL; se houver expansão para dois terços da espessura epitelial, é classificada como HSIL. CARCINOMA CERVICAL • 80% - carcinoma de células escamosas; • 15% - adenocarcinoma (que se desenvolve a partir de uma lesão precursora – adenocarcinoma in situ); • 5% - carcinomas adenoescamosos e neuroendócrinos. Todos os tipos tumorais são causados por HPVs de alto risco. A idade média das pacientes com carcinoma cervical invasor é de 45 anos. O tempo de progressão a partir da forma in situ até o carcinoma adenoescamoso e o carcinoma neuroendócrino é mais curto do que no carcinoma das células escamosas; então, os pacientes com esses tumores frequentemente se apresentam em estágios avançados das doenças, tendo um prognóstico menos favorável. MORFOLOGIA O carcinoma cervical invasor pode se manifestar como massa vegetante (exofítico) ou infiltrativa. O carcinoma de células escamosas é composto por ninhos e projeções de epitélio escamoso maligno, queratinizado ou não queratinizado, invadindo o estroma cervical subjacente. Laísa Dinelli Schiaveto Os adenocarcinomas são caracterizados pela proliferação de epitélio glandular composto por células endocervicais malignas com núcleos grandes, hipercromáticos, e citoplasma com relativa diminuição de mucina, resultando em um aspecto escuro das glândulas, em comparação ao epitélio endocervical normal. Os carcinomas adenoescamosos são tumores compostos por uma mistura de epitélio maligno glandular e escamoso. O carcinoma cervical neuroendócrino tem uma aparência similar à do carcinoma de pequenas células do pulmão, mas a diferença é que ele é positivo para HPVs de alto risco. O carcinoma cervical avançado se estende por disseminação direta para envolver tecidos contíguos, incluindo os tecidos paracervicais, a bexiga, os ureteres (resultando em hidronefrose), o reto e a vagina. A invasão linfovascular resulta em metástases de linfonodos locaise distantes. As metástases distantes também podem ser encontradas no fígado, pulmões, medula óssea e outros órgãos. O câncer cervical é estadiado da seguinte forma: Estádio 0 – Carcinoma in situ (NIC III, HSIL). Estádio I – Carcinoma confinado ao colo uterino; • Ia – Carcinoma pré-clínico (diagnosticado apenas por microscopia); • IaI – Invasão do estroma não mais profunda que 3 mm e não mais larga que 7 mm (carcinoma microinvasor); • IaII – Profundidade máxima de invasão do estroma acima de 3 mm e não mais profundo que 5 mm, considerado a partir da base do epitélio; invasão horizontal de no máximo 7 mm; • Ib – Carcinoma histologicamente invasivo confinado ao colo uterino, sendo maior que o estágio IaII. Estádio II – O carcinoma se estende além do colo uterino, mas não até a parede pélvica. O carcinoma envolve a vagina, mas não o terço inferior. Estádio III – O carcinoma se estende para a parede pélvica. Ao exame retal não existe um espaço sem câncer entre o tumor e a parede pélvica. O tumor envolve o terço inferior da vagina. Estádio IV – O carcinoma se estende além da pelve verdadeira ou envolve a mucosa da bexiga ou do reto. Esse estádio também inclui câncer com disseminação metastática. ASPECTOS CLÍNICOS Mais da metade dos cânceres cervicais invasores são detectados em mulheres que não participaram de triagem regular. O prognóstico e a sobrevida nos carcinomas invasores dependem em grande parte do estádio no qual o câncer é inicialmente descoberto e, em certo grau, do tipo celular, com tumores neuroendócrinos de pequenas células apresentando um prognóstico muito desanimador. Com os tratamentos atuais, a taxa de sobrevida em 5 anos é de 100% para carcinomas microinvasores, e menos do que 50% para tumores que se estendem além da pelve. A maioria dos pacientes com câncer de colo uterino avançado morre das consequências da invasão tumoral local (p. ex., obstrução uretral, pielonefrite e uremia), e não das complicações da doença metastática. Laísa Dinelli Schiaveto Corpo do Útero e Endométrio O útero tem dois componentes principais: o miométrio e o endométrio. O miométrio é composto por feixes entrelaçados de músculo liso que formam a parede do útero. A cavidade interna do útero é revestida pelo endométrio, composto por glândulas em meio a um estroma celular. O útero está sujeito a uma variedade de distúrbios, sendo que os mais comuns resultam de desequilíbrios endócrinos, complicações da gravidez e proliferação neoplásica. HISTOLOGIA ENDOMETRIAL DO CICLO MENSTRUAL O endométrio passa por mudanças morfológicas e fisiológicas dinâmicas durante o ciclo menstrual em resposta aos hormônios esteroides sexuais produzidos coordenadamente no ovário. O ovário é influenciado pelos hormônios produzidos pela hipófise, em resposta a sinais provenientes do hipotálamo. Em conjunto, os fatores hipotalâmicos, hipofisários e ovarianos, e suas interações, regulam a maturação dos folículos ovarianos, a ovulação e a menstruação. A “determinação da data” do endométrio por seu aspecto histológico muitas vezes é usada clinicamente para avaliar o estado hormonal, documentar a ovulação e determinar as causas de sangramento endometrial e infertilidade. A progressão através de ciclos menstruais normais tem correlação com as seguintes características histológicas: • O ciclo começa com a menstruação, durante a qual a porção superficial do endométrio, chamada de camada funcional, é desprendida. • A fase de proliferação é marcada pelo rápido crescimento das glândulas e do estroma vindo da porção mais profunda do endométrio (camada basal). Durante a fase proliferativa, as glândulas são estruturas retas e tubulares revestidas por células colunares regulares, altas, pseudoestratificadas. As figuras mitóticas são numerosas e não existem evidências de secreção de muco ou vacuolização. O estroma endometrial é composto por células fusiformes com citoplasma escasso, também em processo ativo de proliferação. • Durante a ovulação, cessa a proliferação endometrial, e a diferenciação começa em resposta aos efeitos da progesterona produzida pelo corpo lúteo do ovário. • A pós-ovulação é marcada pela aparição de vacúolos secretórios abaixo dos núcleos no epitélio glandular. Essa atividade secretora é mais proeminente durante a 3ª semana do ciclo menstrual, quando os vacúolos basais movem-se progressivamente para a superfície apical. Quando a secreção é máxima, entre 18 e 24 dias, as glândulas estão dilatadas. Na 4ª semana, as glândulas estão tortuosas, produzindo uma aparência serrilhada. Esse aspecto serrilhado ou de “dente de serrote” é acentuado pela exaustão secretora e encolhimento das glândulas. • As mudanças estromais no fim da fase secretora, devidas predominantemente à progesterona, são importantes para estabelecer a data do endométrio. As arteríolas espiraladas proeminentes aparecem nos dias 21 e 22, Laísa Dinelli Schiaveto acompanhadas de um aumento na substância fundamental e no edema entre as células estromais. Nos dias 23° e 24° aparecem a hipertrofia das células estromais, o aumento da eosinofilia citoplasmática (alteração prédecidual) e o ressurgimento de mitoses estromais. As alterações pré-deciduais se espalham pela camada funcional durante os dias 24 a 28 e são acompanhadas por um esparso infiltrado de neutrófilos e linfócitos, que neste contexto é considerado normal. • Com a dissolução do corpo lúteo e a subsequente queda nos níveis de progesterona, a camada funcional se degenera, e ocorre sangramento no estroma, seguido do rompimento do estroma e início do próximo ciclo menstrual. DISTÚRBIOS ENDOMETRIAIS FUNCIONAIS (SANGRAMENTO UTERINO DISFUNCIONAL) Embora o sangramento uterino anormal possa ser causado por condições patológicas bem definidas, como endometrite crônica, pólipos endometriais, leiomiomas submucosos ou neoplasias endometriais, ele é gerado mais comumente a partir de perturbações hormonais que produzem sangramentos uterinos disfuncionais. Esse é o termo clínico para um sangramento uterino sem qualquer normalidade orgânica (estrutural) subjacente. CICLO ANOVULATÓRIO A causa mais frequente de sangramento disfuncional é a anovulação (falha na ovulação). Os ciclos anovulatórios são resultado de desequilíbrios hormonais sutis, e são mais comuns na menarca e no período perimenopausa. A falha na ovulação resulta em uma estimulação endometrial excessiva pelos estrogênios, que não é contraposta pela progesterona. Nessas circunstâncias, as glândulas endometriais sofrem discretas alterações arquiteturais, incluindo dilatação cística, que geralmente são resolvidas com o ciclo ovulatório seguinte. No entanto, as repetidas anovulações podem resultar em um sangramento que, em certas condições clínicas, pode levar a uma biópsia endometrial. Nessa situação, as biópsias revelam uma condensação estromal e uma metaplasia epitelial eosinófila parecidas com aquelas vistas no endométrio menstrual. Mais comumente, o endométrio é composto de glândulas pseudoestratificadas, e contém figuras mitóticas dispersas. FASE LÚTEA INADEQUADA Refere-se à condição que se manifesta clinicamente como infertilidade associada ou com aumento de sangramento ou com amenorreia. Acredita-se que a causa seja a produção inadequada de progesterona durante o período pós-ovulatório. A biópsia do endométrio realizada em uma data pós- ovulatória estimada mostra o endométrio secretor com características que não correspondem àquelas esperadas para a data estimada. DISTÚRBIOS INFLAMATÓRIOS O endométrio e o miométrio são relativamente resistentes a infecções, principalmente porque a endocérvice forma uma barreira para a infecção ascendente. Portanto, embora a inflamação crônica do colo uterino seja um achado esperado e frequentemente insignificante, é motivo de preocupação a inflamação no endométrio,excluindo a fase menstrual. Laísa Dinelli Schiaveto ENDOMETRITE AGUDA É rara e limitada a infecções bacterianas originadas após o parto ou aborto. Produtos de concepção retidos constituem o fator predisponente usual; dessa forma, os agentes causadores incluem estreptococos hemolíticos do grupo A, estafilococos e outras bactérias. A resposta inflamatória é limitada principalmente ao estroma e é totalmente inespecífica. A remoção dos fragmentos gestacionais retidos por curetagem, acompanhada por antibioticoterapia, é rapidamente seguida da remissão da infecção. ENDOMETRITE CRÔNICA Ocorre em associação com os seguintes distúrbios: • Doença inflamatória pélvica (DIP); • Tecido gestacional retido, pós-parto ou pós- aborto; • Dispositivos contraceptivos intrauterinos; • Tuberculose, seja através de disseminação miliar ou, mais frequentemente, a partir da drenagem da salpingite tuberculosa (ambas são raras nos países ocidentais). O diagnóstico da endometrite crônica se baseia na identificação de plasmócitos no estroma, que não são vistos no endométrio normal. Em cerca de 15% dos casos, não há qualquer causa aparente. Algumas mulheres com essa, assim chamada, endometrite crônica inespecífica apresentam queixas ginecológicas como sangramento anormal, dor, secreção e infertilidade. A clamídia pode estar envolvida, e é comumente associada a infiltrado celular inflamatório tanto agudo (ex.: neutrófilos) quanto crônico (ex.: linfócitos, plasmócitos). Os organismos responsáveis podem ou não ser detectados através de cultura. Se houver suspeita de infecção por razões clínicas, a antibioticoterapia é indicada mesmo diante de culturas negativas, já que pode prevenir outras sequelas (ex.: salpingite). ENDOMETRIOSE É definida pela presença de tecido endometrial “ectópico” em um local fora do útero. O tecido anormal inclui mais comumente tanto as glândulas endometriais quanto o estroma, mas pode consistir apenas em estroma em alguns casos. Ocorre nos seguintes locais, em ordem descendente de frequência: (1) ovários; (2) ligamentos uterinos; (3) septo retovaginal; (4) fundo de saco; (5) peritônio pélvico; (6) intestinos grosso e delgado, e apêndice; (7) mucosa do colo uterino, vagina e tubas uterinas; e (8) cicatrizes de laparotomia. Frequentemente causa infertilidade, dismenorreia (menstruação dolorosa), dor pélvica e outros problemas. O distúrbio é principalmente uma doença de mulheres na vida reprodutiva ativa, mais frequentemente na 3ª e 4ª décadas. Menos frequentemente, a endometriose pode invadir e se espalhar, comportamentos que frequentemente contribuem para significativas complicações. Por exemplo, a invasão da parede muscular do intestino pela endometriose pode resultar em sintomas intestinais. PATOGENIA As origens propostas das lesões endometrióticas são classificadas em duas categorias principais: (1) aquelas que propõem uma origem a partir do endométrio uterino e (2) aquelas que propõem uma origem a partir de células fora do útero, que têm a capacidade de fazer surgir tecido endometrial. As teorias mais aceitas são as seguintes: Laísa Dinelli Schiaveto • Teoria Regurgitante: tecido endometrial se implanta em locais ectópicos, via fluxo retrógrado do endométrio menstrual, uma vez que a menstruação retrógrada pelas tubas uterinas ocorre regularmente mesmo em mulheres normais. • Teoria das Metástases Benignas: tecido endometrial do útero pode se espalhar para locais distantes (ex.: ossos, pulmão e cérebro) através dos vasos sanguíneos e dos canais linfáticos. • Teoria Metaplásica: endométrio surge diretamente do epitélio celômico (mesotélio da pelve ou abdome), a partir do qual são originados os ductos de Müller e por fim o próprio endométrio durante o desenvolvimento embrionário; além disso, os remanescentes mesonéfricos podem sofrer diferenciação endometrial e gerar tecido endometrial ectópico. • Teoria das Células-Tronco/Progenitoras Extrauterinas: célulastronco/progenitoras da medula óssea se diferenciam em tecido endometrial. O endométrio implantado libera fatores pró- inflamatórios, como prostaglandina, TNF, Interleucinas, VEGF, entre outros; também, aumenta a produção de estrogênio pelas células endometrióticas, pois há altos níveis de aromatase, que está ausente no estroma endometrial normal. Esse é um ponto chave, pois, como o estrogênio aumenta a persistência e a vida útil do endométrio, os inibidores da aromatase são usados para o tratamento da endometriose. Esses fatores pró-inflamatórios permitem que o endométrio ectópico cresça e invada, estabelecendo redes neurovasculares e diminuindo a remoção pelo sistema imune. Acredita-se na influência de alterações epigenéticas. MORFOLOGIA As lesões endometrióticas sangram periodicamente em resposta tanto à estimulação hormonal extrínseca (dos ovários) quanto à intrínseca. Esse sangramento produz nódulos com aspecto vermelho-azulado a amareloacastanhado sobre ou logo abaixo da superfície da mucosa e/ou serosa nos locais de envolvimento. Quando a doença é extensa, a organização da hemorragia causa aderências fibrosas extensas entre as tubas, ovários e outras estruturas, e oblitera o saco de Douglas. Os ovários podem ser acentuadamente distorcidos por grandes massas císticas (3 a 5 cm de diâmetro) preenchidas com um líquido marrom resultante de hemorragia prévia; estes são citados frequentemente na clínica como cistos de chocolate ou endometriomas. As formas agressivas de endometriose podem infiltrar os tecidos e causar fibrose e aderências subsequentes. O diagnóstico histológico da endometriose geralmente é simples, mas pode ser difícil em casos de longa duração, em que o tecido endometrial é obscurecido pela fibrose secundária. Um diagnóstico histológico de endometriose é realizado facilmente se tanto as glândulas endometriais quanto o estroma estiverem presentes, com ou sem a presença de hemossiderina. Em raros casos, somente o estroma é identificado. Se apenas as glândulas estiverem presentes, outros diagnósticos com ramificações clínicas, como a endossalpingiose, devem ser considerados. A endometriose atípica, o precursor provável do carcinoma dos ovários relacionado à endometriose, tem duas aparências morfológicas. Uma delas consiste na atipia citológica do revestimento do epitélio que recobre cisto endometriótico sem grandes alterações de arquitetura. A segunda é marcada pela aglomeração das glândulas devido à proliferação epitelial excessiva, frequentemente associada com a atipia citológica, a qual produz uma aparência que lembra a hiperplasia endometrial atípica complexa. ASPECTOS CLÍNICOS Os sinais e sintomas clínicos geralmente incluem dismenorreia grave, dispareunia (dor na relação Laísa Dinelli Schiaveto sexual) e dor pélvica decorrente do sangramento intrapélvico e das aderências periuterinas. A dor durante a defecação indica envolvimento da parede retal e a disúria resulta do envolvimento da serosa da bexiga. Irregularidades menstruais são comuns, e infertilidade é uma queixa de apresentação em 30% a 40% de mulheres. Além disso, embora raros, tumores malignos podem se desenvolver nesse contexto, sugerindo que a endometriose contém um epitélio “de risco”. ADENOMIOSE É definido como a presença de tecido endometrial no interior da parede uterina (miométrio). A adenomiose permanece em continuidade com o endométrio, supostamente significando crescimento para baixo do tecido endometrial na direção, e entre, dos fascículos de músculo liso do miométrio. Ao exame microscópico, ninhos irregulares de estroma endometrial, com ou sem glândulas, estão organizados dentro do miométrio, separados da basal por pelo menos 2 a 3 mm. Como na endometriose, os sintomas clínicos da adenomiose incluem menometrorragia (menstruações irregulares e intensas), dismenorreia em cólica, dispareunia e dorpélvica, particularmente durante o período prémenstrual. Ela pode estar presente juntamente com a endometriose. PÓLIPOS ENDOMETRIAIS São massas exofíticas de tamanho variável que se projetam para a cavidade endometrial. Podem ser únicos ou múltiplos, e geralmente são sésseis, medindo de 0,5 a 3 cm de diâmetro, mas ocasionalmente são grandes e pediculados. Podem ser assintomáticos ou podem causar sangramento anormal (intramenstrual, menometrorragia, ou na pós-menopausa) se sofrerem ulceração ou necrose. As células estromais nos pólipos endometriais contêm certas reorganizações cromossômicas similares àquelas encontradas em outros tumores mesenquimais benignos à Sugere que o estroma do pólipo é neoplásico, e que as glândulas associadas são reativas, e são simplesmente como acompanhantes. As glândulas nos pólipos podem ser hiperplásicas ou atróficas, e podem ocasionalmente demonstrar alterações secretoras (pólipos funcionais). Os pólipos podem tornar-se hiperplásicos em associação com a hiperplasia endometrial generalizada, e respondem ao estrogênio, mas mostram pouca ou nenhuma resposta à progesterona. Têm sido observados pólipos endometriais em associação com a administração de tamoxifeno, que é usado geralmente na terapia de câncer de mama, devido à sua atividade antiestrogênica nas mamas. No entanto, o tamoxifeno tem fracos efeitos pró- estrogênicos no endométrio. Os pólipos atróficos, que em grande parte ocorrem em mulheres na pós-menopausa, provavelmente representam o que sobrou de pólipos anteriormente hiperplásicos. Raramente, adenocarcinomas surgem no interior de pólipos endometriais. HIPERPLASIA ENDOMETRIAL É causa importante de sangramento anormal, e uma precursora frequente dos tipos mais comuns de carcinoma endometrial. É definida como um aumento da proliferação das glândulas endometriais relativas ao estroma, resultando em maior proporção de glândulas para estroma em comparação ao endométrio proliferativo normal. Está associada à estimulação estrogênica prolongada do endométrio, que pode ser decorrente de anovulação, aumento da produção de estrogênio a partir de fontes endógenas, ou devido a estrogênio exógeno. As condições associadas incluem: • Obesidade (conversão periférica de androgênios em estrogênios); • Menopausa; Laísa Dinelli Schiaveto • Síndrome do ovário policístico; • Tumores de células granulosas funcionais do ovário; • Função cortical ovariana excessiva (hiperplasia estromal cortical); • Administração prolongada de substâncias estrogênicas (terapia de substituição de estrogênio). A inativação do gene supressor de tumores PTEN é uma alteração genética comum tanto nas hiperplasias endometriais quanto nos carcinomas endometriais. O PTEN codifica uma fosfatase lipídica, que é um importante regulador negativo da via reguladora de crescimento fosfatidilinositol 3-cinase (PI3K)/AKT. Quando a função do PTEN é perdida, a via PI3K/AKT se torna excessivamente ativa. MORFOLOGIA Hiperplasia Típica: Tem uma grande variedade de aparências, mas a característica primordial é o aumento relação glândula-estroma. As glândulas mostram variação em tamanho e forma, e podem estar dilatadas. Embora focalmente possa haver glândulas justapostas (back-to-back), uma certa quantidade de estroma persiste. Essas lesões refletem uma resposta do endométrio à estimulação persistente do estrogênio, e raramente evoluem para adenocarcinoma (aproximadamente de 1% a 3%). A hiperplasia típica pode evoluir para atrofia cística quando o estrogênio é retirado. Hiperplasia Atípica (neoplasia intraepitelial endometrial): é composta por padrões complexos de proliferação glandular exibindo atipia nuclear. As glândulas estão comumente justapostas e frequentemente têm contornos complexos devido às estruturas ramificantes. As células se tornam arredondadas e perdem a sua normal orientação perpendicular em relação à membrana basal. Além disso, os núcleos possuem cromatina aberta (vesicular) e nucléolos evidentes. De fato, aproximadamente de 23% a 48% das mulheres com diagnóstico de hiperplasia atípica mostram-se como portadoras de carcinoma após ser realizada uma histerectomia. Atualmente a hiperplasia atípica é tratada com histerectomia ou, em mulheres jovens que desejam Laísa Dinelli Schiaveto engravidar, realiza-se um teste terapêutico com progestina, seguido de acompanhamento cuidadoso. Mais frequentemente, com sorte após uma gravidez bem-sucedida, a ausência de regressão exige a remoção do útero. TUMORES MALIGNOS DO ENDOMÉTRIO CARCINOMA DO ENDOMÉTRIO Câncer invasor do trato genital feminino mais comum. Representa 7% de todos os cânceres invasores em mulheres, excluindo-se o câncer de pele. PATOGENIA A classificação do carcinoma endometrial pode ser feita em duas grandes categorias. Carcinoma Tipo I (Endometrioide) Representa o tipo mais comum, respondendo por mais de 80% de todos os casos. A maioria é bem diferenciada e imita as glândulas endometriais proliferativas, e como tais, são chamados de carcinomas endometrioides. São associados com (1) obesidade, (2) diabetes (a tolerância anormal à glicose é encontrada em mais de 60%), (3) hipertensão, (4) infertilidade e (5) estimulação estrogênica sem antagonismo. Da mesma forma que com outros cânceres, o desenvolvimento de um carcinoma endometrial envolve a aquisição em etapas de várias alterações genéticas nos genes supressores de tumores e oncogenes. O sequenciamento dos genomas dos carcinomas endometrioides tipo I tem mostrado que as mutações mais comuns agem de maneira a aumentar a sinalização através da via PI3K/AKT, que é a marca desse tipo específico de tumor. A sinalização PI3K/AKT aumenta de alguma forma a expressão dos genes-alvo dependentes de receptores de estrogênio em células endometriais. Os carcinomas endometriais tipo I são um tanto únicos no sentido de que os tumores individuais podem abrigar múltiplas mutações que aumentam a sinalização PI3K/AKT, sugerindo que o desenvolvimento e a progressão do tumor são incentivados por aumentos sucessivos na força do sinal. Morfologia: Pode tomar a forma de um tumor polipoide localizado, ou de um tumor que infiltra difusamente o revestimento endometrial. Os adenocarcinomas endometrioides demonstram padrões de crescimento das glândulas que lembram o epitélio endometrial normal. Há três graus histológicos: • Bem diferenciado (grau 1), composto quase que inteiramente de glândulas bem formadas; • Moderadamente diferenciado (grau 2), que mostra glândulas bem formadas, misturadas com áreas compostas por lençóis celulares sólidos que, por definição, constituem 50% ou menos do tumor; Laísa Dinelli Schiaveto • Pouco diferenciado (grau 3), caracterizado por mais do que 50% de padrão de crescimento sólido. Obs.: Pode-se distinguir os tumores bem diferenciados das hiperplasias pela falta de estroma entre as glândulas. Carcinoma Tipo II (Seroso) Geralmente ocorre em mulheres que são em torno de 10 anos mais velhas do que aquelas com os carcinomas tipo I; em contraste com o carcinoma tipo I, geralmente surge no contexto de atrofia endometrial. Os tumores tipo II por definição são pouco diferenciados (grau 3) e representam aproximadamente 15% dos casos de carcinoma endometrial. O subtipo mais comum é o carcinoma seroso, citado deste modo devido à sua sobreposição morfológica e biológica com os carcinomas serosos do ovário. As mutações no supressor de tumores TP53 estão presentes em pelo menos 90% dos carcinomas endometriais serosos. A maioria são mutações com troca de sentido (missense), que resultam em um acúmulo da proteína alterada. O precursor do carcinoma seroso, o carcinoma intraepitelial endometrial seroso, consiste em células idênticas às do carcinoma seroso, porém não possui invasão estromal identificável. As mutaçõesno TP53 também são encontradas em aproximadamente 75% dos carcinomas intraepiteliais endometriais, sugerindo que a mutação do TP53 é um evento inicial na evolução do carcinoma endometrial seroso. Portanto, o carcinoma seroso supostamente começa como uma neoplasia epitelial de superfície, que se estende para estruturas glandulares adjacentes, e mais tarde invade o estroma endometrial. Acredita-se que seu pior prognóstico seja consequência de uma propensão a esfoliação, deslocamento através das tubas uterinas, e implantação nas superfícies peritoneais, como seus equivalentes ovarianos. Morfologia: Geralmente, os carcinomas serosos surgem em úteros pequenos e atróficos e frequentemente constituem tumores grandes e volumosos, ou profundamente invasivos para o Laísa Dinelli Schiaveto miométrio. A lesão precursora, o carcinoma intraepitelial endometrial seroso, consiste em células malignas idênticas às do carcinoma seroso, que permanecem confinadas às superfícies epiteliais. As lesões invasivas podem apresentar um padrão de crescimento papilar composto por células com atipia citológica acentuada, incluindo uma elevada proporção núcleo-citoplasma, figuras mitóticas atípicas, hipercromasia e nucléolos proeminentes. Contudo, também podem apresentar um padrão de crescimento predominantemente glandular; nesses casos, podem ser distinguidos do carcinoma endometrioide pela acentuada atipia citológica. Todos os tumores nessa categoria são classificados como grau 3, independentemente do padrão histológico. Aspectos Clínicos: É incomum em mulheres com menos de 40 anos de idade; o pico de incidência se dá em mulheres de 55 a 65 anos de idade, após a menopausa. Embora possa permanecer assintomático por um período de tempo, geralmente produz sangramento vaginal irregular ou no período da pós- menopausa, com leucorreia excessiva. O aumento do útero pode estar ausente nos estádios iniciais. O diagnóstico do câncer endometrial deve ser estabelecido através de exame histológico do tecido obtido por biópsia ou curetagem. O prognóstico depende fortemente do estádio clínico no momento do diagnóstico, assim como do grau e do subtipo histológico. Nos Estados Unidos, a maioria dos tumores (aproximadamente 80%) é de carcinomas endometrioides bem diferenciados ou moderadamente diferenciados do estágio I. A cirurgia, isolada ou em combinação com radioterapia, determina 90% de sobrevida em 5 anos se a doença estiver em estádio I (grau 1 ou 2). Essa taxa cai para aproximadamente 75% em tumores de grau 3/estádio I, e para 50% ou menos nos carcinomas endometriais estádios II e III. Em geral, a sobrevida em 5 anos para as mulheres com carcinoma seroso é de 18% a 27%, e mesmo quando ele fica confinado no útero, a taxa de recorrência é de até 80%. TUMORES MÜLLERIANOS MISTOS MALIGNOS (CARCINOSSARCOMAS) São adenocarcinomas endometriais com um componente mesenquimal maligno; este pode assumir várias formas. Alguns contêm células tumorais que lembram elementos mesenquimais uterinos (sarcoma estromal, leiomiossarcoma), enquanto outros contêm tipos celulares malignos heterólogos (rabdomiossarcoma, condrossarcoma). As mutações encontradas nos TMMMs têm a tendência de envolver os mesmos genes que sofrem mutação no carcinoma endometrial, como o PTEN, o TP53, e o PIK3CA. Morfologia: Os TMMMs são geralmente volumosos e polipoides, e podem apresentar-se salientes no óstio cervical. Ao exame histológico, os tumores geralmente consistem em adenocarcinomas (endometrioides, serosos ou de células claras) misturados com elementos mesenquimais malignos (sarcomatosos). Laísa Dinelli Schiaveto De maneira alternativa, o tumor pode conter dois componentes epiteliais e mesenquimatosos distintos e separados. Os componentes sarcomatosos também podem mimetizar tecidos extrauterinos (ex.: músculo estriado, cartilagem, tecido adiposo e osso). As metástases geralmente contêm apenas componentes epiteliais. Os TMMMs ocorrem em mulheres na pós-menopausa e se apresentam acompanhados de sangramento. O resultado é determinado principalmente pela profundidade da invasão e pelo estádio. As taxas gerais de sobrevida em 5 anos são de 25% a 30% para os pacientes com a doença em estádio avançado. Os estádios patológicos tanto do adenocarcinoma endometrial dos tipos I e II, quanto dos tumores müllerianos mistos malignos são os seguintes: Estádio I – O carcinoma está confinado apenas ao corpo uterino. Estádio II – O carcinoma envolve o corpo e o colo uterino. Estádio III – O carcinoma se estende para fora do útero, mas não para fora da pelve verdadeira. Estádio IV – O carcinoma se estende para fora da pelve verdadeira ou envolve a mucosa da bexiga ou o reto. TUMORES DO ESTROMA ENDOMETRIAL Estes tumores relativamente incomuns compreendem menos do que 5% dos cânceres endometriais e incluem neoplasias estromais combinadas com glândulas benignas (adenossarcomas) e neoplasias estromais puras. ADENOSSARCOMAS Se apresentam mais comumente como crescimentos polipoides endometriais de base larga e ampla que podem sofrer prolapso pelo óstio cervical. O diagnóstico é baseado na presença de estroma de aspecto maligno, que coexiste com glândulas endometriais benignas, porém com aspecto anormal. Esses tumores predominam em mulheres entre a 4ª e a 5ª década de vida e geralmente são considerados como de baixo grau de malignidade; as recorrências desenvolvem-se em um quarto dos casos e quase sempre estão confinadas à pelve. O principal dilema diagnóstico consiste em diferenciar esses tumores de grandes pólipos benignos. A distinção é importante, pois o adenossarcoma é sensível ao estrogênio e responde à ooforectomia. TUMORES ESTROMAIS O endométrio ocasionalmente origina neoplasias que se parecem com as células estromais normais. As neoplasias endometriais estromais são divididas em duas categorias: (1) nódulos estromais benignos e (2) sarcomas de estroma endometrial. Os sarcomas estromais podem ainda ser divididos nos tipos de baixo e alto grau, dependendo de sua diferenciação. Estão associados com translocações cromossômicas que criam genes de fusão. As taxas de sobrevida em 5 anos são de 50%, em média, para tumores de grau baixo, e ainda menores para os de alto grau. Laísa Dinelli Schiaveto TUMORES DO MIOMÉTRIO LEIOMIOMAS Os leiomiomas uterinos (comumente chamados fibroides) talvez constituam o tipo de tumor mais comum em mulheres. São neoplasias benignas de músculo liso, que podem ocorrer isoladamente, porém são mais frequentemente múltiplas. A maioria dos leiomiomas apresenta cariótipo normal, mas aproximadamente 40% possuem uma anormalidade cromossômica simples. Morfologia: São tumores bastante circunscritos, nítidos, arredondados, firmes, de cor cinza- esbranquiçada, variando em tamanho de nódulos pequenos, pouco visualizáveis, a tumores volumosos, que preenchem a pelve. Exceto em raros casos, são encontrados no miométrio do corpo uterino. Apenas raramente envolvem os ligamentos uterinos, o segmento uterino inferior, ou colo uterino. Eles podem ocorrer dentro do miométrio (intramurais), logo abaixo do endométrio (submucosos) ou abaixo da serosa (subserosos). Qualquer que seja o seu tamanho, o característico padrão turbilhonado dos feixes de músculo liso na superfície de corte geralmente torna essas lesões facilmente identificáveis. Tumores grandes podem desenvolver áreas de ecimento amarelo-acastanhadas a vermelhas. São compostos por feixes de células musculares lisas que lembram o miométrio não envolvido. Geralmente, as células musculares individuais têm tamanho e forma homogêneos, possuem o núcleo oval característico e processos citoplasmáticos bipolares longos e finos. As figuras mitóticas são escassas. Variantes benignas de leiomioma incluem tumores atípicos ou bizarros (simplásticos) com atipias nucleares e
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