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Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 4: TRAUMA TORÁCICO 1 1. Introdução Causa importante de morte Minoria requer cirurgia → Ressuscitação no atendimento primário Consequências ❖ Hipóxia → A hipóxia tecidual é definida como a oferta inadequada de oxigênio aos tecidos. A hipovolemia é condição associada à hipóxia, não só no trauma torácico, mas em qualquer tipo de trauma que origine sangramento importante. Entretanto, o trauma torácico pode ainda gerar ou mesmo agravar a hipóxia tecidual por outros dois fatores: a alteração na relação ventilação–perfusão ou pela alteração nas relações pressóricas dentro da cavidade torácica ❖ Hipercapnia → A hipercarbia definida como o acúmulo de CO2 ocorre em virtude de uma ventilação inadequada. Esta pode ser ocasionada por alterações nas relações pressóricas da cavidade torácica, que podem gerar colapso pulmonar, ou pelo rebaixamento do nível de consciência, com queda do estímulo respiratório, podendo levar inclusive à parada respiratória. ❖ Acidose metabólica → A acidose metabólica é gerada pelo estado de hipoperfusão tecidual (choque) e também está presente em outras modalidades de trauma que não o torácico. Porém, no trauma torácico, esta pode ser agravada em virtude da associação com acidose respiratória devida a estado de hipoventilação. Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 4: TRAUMA TORÁCICO 2 O politraumatismo é atualmente a maior causa de óbitos em pacientes até a quarta década de vida. Estima-se que nos Estados Unidos 25% das mortes devidas a politrauma estejam diretamente associadas ao traumatismo torácico. Muitas dessas mortes poderiam ser evitadas por medidas simples, uma vez que menos de 10% dos traumatismos fechados do tórax e apenas 15% a 30% das lesões penetrantes exigem toracotomia para tratamento. O trauma torácico pode ser causado por traumas contusos (acidentes automobilísticos, quedas e impactos em geral), penetrantes (lesões por arma de fogo ou arma branca) ou pela associação dos anteriores (por exemplo, acidente automobilístico com contusão e lesão penetrante associadas). A via aérea é dividida topograficamente em via aérea superior (fossas nasais, faringe, laringe e traqueia) e via aérea inferior. A traqueia é a transição entre a VA superior e inferior, e está localizada a nível de T1. Na altura de T4, a traqueia se bifurca através da carina, formando os brônquios fonte. O brônquio fonte direito é mais curto e largo, enquanto que o brônquio fonte esquerdo é mais longo e estreito. Os brônquios fonte penetram no hilo pulmonar (hilo = elo abertura por onde estruturas atravessam) juntamente com as artérias pulmonares, e lá estarão presentes as veias pulmonares. Ao penetrarem no hilo pulmonar, os brônquios fonte originam os brônquios lobares (um para cada lobo pulmonar). O pulmão direito tem 3 lobos (superior, médio e inferior), separados por duas fissuras (oblíqua e transversa), e o pulmão esquerdo tem 2 lobos (superior e inferior, separados pela fissura oblíqua. O brônquio lobar também é chamado de brônquio secundário, enquanto o brônquio fonte pode ser chamado de brônquio primário. Os brônquios lobares dão origem aos brônquios segmentares, referentes aos segmentos broncopulmonares, que são estruturas pulmonares que têm uma separação vascular e aerífera, de forma que podem ser dissecadas cirurgicamente e não comprometer a vascularização e aeração das outras partes do pulmão. Geralmente, há entre 8-11 segmentos broncopulmonares. Os brônquios segmentares dão origem aos bronquíolos, que dão origem aos bronquíolos respiratórios, que por sua vez dão origem aos alvéolos. Nos bronquíolos, toda essa estrutura é revestida por uma mucosa. A partir dos bronquíolos terminais não existe mais cartilagem. Os alvéolos são estruturas saculares que permitem a troca gasosa. Vários alvéolos se juntam e formam uma “bolsa” de alvéolos, e essa estrutura completamente aerada forma o que chamamos de pulmão. Todos os vasos do corpo seguem essa hierarquia ❖ Artéria de grande calibre → artéria de médio calibre → artéria de pequeno calibre → arteríola → capilar → tecido → vênula → veia de pequeno calibre → veia de médio calibre → veia de grande calibre. ❖ Todas as artérias do corpo são ramos diretos ou indiretos da aorta, exceto a artéria pulmonar. ❖ A artéria pulmonar emerge do coração com o sangue rico em CO2, entra pelo hilo pulmonar e se ramifica até formar as arteríolas e capilares. ❖ Os capilares pulmonares entremeiam os alvéolos para que ocorram as trocas gasosas. Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 4: TRAUMA TORÁCICO 3 ❖ Artérias não são os vasos que conduzem sangue arterial, mas sim os vasos eferentes do coração (que divergem do coração). As veias são os vasos aferentes do coração (que convergem para o coração). ❖ Nos alvéolos, a pO2 estará maior que nos capilares, pois os capilares que vêm da artéria pulmonar terão uma baixa concentração de O2. ❖ Tudo vai da alta pressão para a baixa pressão. Como a membrana alveolocapilar é formada por apenas uma camada de célula, a troca gasosa ocorre facilmente. ❖ No sangue, o oxigênio se liga à hemoglobina e é transportado pelos capilares, vênulas e veias pulmonares. Chegam ao átrio direito 4 veias pulmonares. No caso do pulmão direito que tem 3 lobos, há 3 veias pulmonares, mas a veia do lobo médio tributa para a veia pulmonar superior direita. Sem oxigênio ocorre morte do tecido, porque ele precisa do O2 para fazer a respiração celular. O O2 é um catalisador que participa da formação de ATP. Sem o O2, a célula se utiliza de vias alternativas para produzir ATP, como a respiração anaeróbia, produzindo lactato como metabólito, que é tóxico para o organismo, e alterando todo o equilíbrio acidobásico. Chega um momento que ele não consegue mais realizar respiração anaeróbica e a célula morre. No trauma torácico ou qualquer outra patologia do tórax, podem ocorrer 3 situações que alterem a funcionalidade do sistema respiratório ❖ Alterações que agem na ventilação/perfusão, por exemplo, alterações que impeçam que o O2 fique em concentrações adequadas dentro do alvéolo. Consequentemente, haverá pouco O2 nos capilares e veias pulmonares, gerando a hipóxia. No covid-19, os alvéolos ficam repletos de líquido, impedindo a troca gasosa. A oxigenioterapia suplementar é usada para aumentar as concentrações de O2 nesse alvéolo repleto de líquido com o objetivo de aumentar a pO2. ❖ Alterações que agem na perfusão → Se houver pouco sangue, haverá pouca hemoglobina, causando hipóxia. O O2 estará disponível, mas haverá pouca Hb para captá-lo. ❖ Alterações que agem na ventilação → Nas alterações na mecânica da inspiração e expiração. O ar se desloca do local de maior pressão para o de menor pressão. O uso de musculatura acessória tenta diminuir ao máximo possível a pressão intratorácica para facilitar a entrada do ar. Situações em que há um comprometimento da ventilação também geram hipóxia. As situações 1 e 3 haverá um aumento de CO2 na corrente sanguínea (hipercapnia), que leva a acidose respiratória. Na situação 2 (hipoperfusão), que acontece por exemplo no choque hemorrágico, como há pouco sangue, é feita reposição inicialmente com volume. Nesse caso, não se deve usar muito volume porque pode hemodiluir exacerbadamente. Portanto, nessa situação 2, os pacientes entram em acidose metabólica. O reflexo dessa hipóxia é a baixa satO2. A acidose gera um desequilíbrio hidroeletrolítico que pode evoluir para PCR. 2. Atendimento inicial Atendimento primário → ABCDE Ressuscitação ainda na cena ❖ A → Garantir via aérea ❖ B → Tratar lesões pleuro-pumonares Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 4: TRAUMA TORÁCICO 4 ❖ C → Tratar choque Atendimento secundário ❖ Examefísico ❖ AMPLA ❖ Exames complementares Tratamento definitivo Pontos importantes ❖ O trauma torácico pode ser causado por traumas contusos, penetrantes ou pela associação de ambos. ❖ A fisiopatologia do trauma torácico está relacionada com três alterações básicas: a hipóxia, a hipercarpnia e a acidose. ❖ O atendimento a uma vítima de trauma torácico deve contemplar todos os passos do atendimento ao politraumatizado, conforme as normas do ATLS®. ❖ As lesões torácicas com risco iminente de vida são: obstrução de via aérea, Pneumotórax hipertensivo, Pneumotórax aberto, Tórax instável, hemotórax maciço e Tamponamento cardíaco. ❖ As lesões com potencial risco de vida são: Pneumotórax simples, hemotórax, Contusão pulmonar, Laceração traqueobrônquica, traumatismo contuso do coração, Ruptura traumática de aorta, Ruptura traumática de diafragma e ferimentos transfixantes do mediastino. ❖ O tratamento inicial do Pneumotórax hipertensivo consiste na imediata descompressão através de punção torácica com agulha calibrosa (ex: jelco 14 gauge) no 2º espaço intercostal ❖ O hemotórax é considerado maciço se houver saída imediata de 1.500 ml ou mais de sangue à drenagem do hemitórax acometido; perda de um terço da volemia à drenagem do hemitórax; sangramento superior a 200 ml/h durante duas ou mais horas sem a normalização dos parâmetros hemodinâmicos (excluída outra causa); ou sangramento contínuo pelo dreno, exigindo transfusões repetidas, sem que haja outro foco de sangramento. ❖ A Contusão pulmonar é a lesão torácica potencialmente letal mais comum. Seu espectro de apresentação varia desde quadros assintomáticos até quadros graves de insuficiência respiratória, com síndrome do desconforto respiratório ❖ A broncoscopia, principalmente a rígida, é o tratamento-padrão para a remoção de corpos estranhos de via aérea ❖ No caso especifico do ferimento penetrante do pré-cordio, em vítimas que estejam em atividade elétrica sem pulso, a toracotomia de reanimação está indicada. Sistematização Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 4: TRAUMA TORÁCICO 5 Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 4: TRAUMA TORÁCICO 6 Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 4: TRAUMA TORÁCICO 7 3. Anatomia torácica O tórax pertence ao grupo do esqueleto axial situado entre o pescoço e o abdome. Sua estrutura é dada pela parte superior mais estreita e aumenta inferiormente, tendo o que chamamos de formato de cone truncado. Tem como componentes: doze pares de costelas, esterno e cartilagens costais, e em seu assoalho está o diafragma. Tem como função proteger estruturas anatômicas como os órgãos vitais da respiração e circulação Mediastino → Compartimento central, onde está presente as vísceras torácicas, delimitado lateralmente pelas cavidades pulmonares. Tem como divisão cavidades mediastinais superior e inferior. O último compartimento, por sua vez, é dividido em compartimento, posterior, anterior e médio. Cavidades Pulmonares → Laterais ao Mediastino, alojam os pulmões. Ele é formado pela parede torácica (12 costelas), pele, tecido subcutâneo, músculos intercostais, músculos acessórios (peitorais, serrátil e oblíquo externo) e cavidade torácica (cavidades pulmonares/pleurais – isoladas uma da outra, alojam os pulmões, revestidas pela pleura – e mediastino). Face Posterior → Formado pelas 12 vértebras torácicas e partes posteriores das costelas. Face Anterior → Formada pelo esterno e cartilagens costais. Faces Laterais → Formadas pelas costelas separadas pelos espaços intercostais, ocupados por músculos e membranas. Abertura Superior → Formada pela primeira vértebra torácica, atrás, pelo bordo superior do esterno, adiante, e pela primeira costela de ambos os lados. Abertura Inferior → Formada pela 12˚ vértebra torácica, atrás, pela 11˚ e 12˚ costelas, lateralmente é a frente pelas cartilagens da decima, nona, oitava e sétima costelas. O esterno está localizado na parede anterior do tórax, tem como característica ser um osso alongado e achatado. É dividido em três partes de cima para baixo do Manúbrio, Corpo e Processo Xifoide. Manúbrio tem formato quadrangular e em sua junção com o corpo é estreita, mas se alonga em cima. ❖ Face Anterior → Origem ao Músculo Peitoral e ao Músculo Esternocleidomastóideo. ❖ Face Posterior → Inserção de cada lado ao Músculo Esterno-hioideo e ao Músculo Esternotireóideo. ❖ Bordos Superior → É o mais espesso e apresenta em seu centro a chanfradura jugular ou pré-esternal. ❖ Bordo Inferior → É oval e áspero e articulado com o Corpo do esterno. ❖ Bordos Laterais → Marcados em cima por uma depressão e em baixo por uma pequena faceta ❖ Corpo do Esterno → É a parte mais longa do esterno, além de ser estreito e delgado. ❖ Face Anterior → Orientada para cima e para frente dando inserção à porção esternal do Músculo Peitoral Maior. ❖ Face Posterior → Ligeiramente côncava e dá origem, em sua parte inferior, ao Músculo Transverso do Tórax. ❖ Bordo Superior → É oval e articulado com o Manúbrio o que resulta no Ângulo Esteral. ❖ Bordo Inferior → Estreito e articula-se com o Processo Xifóide. ❖ Bordo Lateral → Cada bordo lateral apresenta seu ângulo superior uma pequena faceta que forma uma cavidade para a cartilagem da segunda costela. Abaixo existem quatro depressões angulares que recebem as cartilagens da terceira à sexta costela. Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 4: TRAUMA TORÁCICO 8 Processo Xifoide (ou Apêndice Xifoide) → É a menor das três outras partes e está na extremidade inferior do Esterno. Possui formas variáveis podendo apresentar-se: pontiagudo, bífido, largo, delgado até mesmo desviado para um dos lados. ❖ Face Anterior → Inserem-se os ligamentos Costoxifoideo Anterior e parte da parte do músculo Reto Abdominal. ❖ Face Posterior → Algumas fibras do diafragma, triangular do tórax e o ligamento costoxifóideo posterior inserem-se na estrutura. ❖ Bordos Laterais → Inserção para as aponeuroses dos músculos abdominais Costelas → As costelas são ossos arqueados e compõe a maioria do tórax sendo em número doze pares. Podem ser divididas entre: verdadeiras, falsas e flutuantes. Costelas Verdadeiras articulam-se posteriormente com a coluna vertebral e anteriormente ligadas diretamente ao externo pelas cartilagens costais. As que fazem parte desse grupo são do primeiro ao sétimo par de costelas. Costelas Falsas → O oitavo, nono e decimo par não se ligam diretamente ao esterno e sim a cartilagem do sétimo par. Por conta de não estarem conectadas diretamente ao esterno classificam-se como Costelas Falsas. Costelas Flutuantes → Já os dois últimos pares, décimo primeiro e décimo segundo par, são livres nas suas extremidades anteriores. Características comuns entre as costelas → Tendo em mente que cada costela possui as extremidades vertebral e esternal (ou posterior e anterior), e o corpo que é uma porção intermédia entre os extremos do osso Extremidade Posterior ou Vertebral: apresenta as porções cabeça, colo e tubérculo. ❖ Cabeça → Marcada por superfície articular reniforme e dividia por uma depressão e duas facetas. A faceta inferior é a maior enquanto a superior a menor, para que na crista o ligamento interarticular se insira. ❖ Colo → É a porção achatada do osso, sendo que sua face anterior é achatada e lisa enquanto a posterior é áspera servindo de inserção ao Ligamento do Colo. Seu Bordo Superior apresenta uma crista para a inserção do Ligamento Costotransverso Anterior, e seu Bordo Inferior possui a característica de ser arredondado. Já na Face Posterior apresenta o Tubérculo com porção articular e não articular. ❖ Corpo → É composto por face interna e externa e dois bordos (superior e inferior), tendo como característica ser delgado e chato.Extremidade Anterior ou Esternal → Apresenta uma depressão que recebe a Cartilagem Costal. Cartilagens → As cartilagens costais são compostas por cartilagem hialina, o que permite certo grau de movimento para a respiração, no sentido latero-lateral quanto no sentido antero-posterior (se não existisse esse tipo de cartilagem, a única movimentação que nosso pulmão poderia fazer seria no sentido crânio-caudal). Assim como as costelas, as cartilagens variam em comprimento, largura e direção. Lembrando do tópico anterior, as cartilagens aumentam em comprimento do primeiro ao sétimo par e em seguida decrescem a partir do oitavo par até o décimo segundo par. Já sobre a largura o mesmo modo dos intervalos entre as cartilagens, vai diminuindo do primeiro até o décimo segundando par. Outra variante é a direção sendo que o primeiro par é um pouco para baixo, o segundo é horizontal, o terceiro é angulado pouco para cima e os outros pares seguem o curso das costelas para depois se unirem à cartilagem precedente e seguir para o esterno. ❖ Face Anterior tem forma convexa com sua face para cima e adiante. Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 4: TRAUMA TORÁCICO 9 ❖ Face Posterior tem forma côncava com sua face para trás e para baixo. ❖ Bordo Superior tem forma côncava. ❖ Bordo Inferior tem forma convexa. Sendo esses bordos inferiores da sexta, sétima, oitava e nona cartilagens apresentam pontos de projeções tuberosas nos pontos de maior convexidade. ❖ Extremidade Lateral → De cada cartilagem sua extremidade lateral é contínua com tecido ósseo da costela a que pertence. ❖ Extremidade Medial →A extremidade medial da primeira cartilagem é continua com o esterno, já as seis seguintes encaixam-se em concavidades dos bordos do esterno. Já as cartilagens sexta até a décima se ligam a cartilagem superior e a décima primeira e décima segunda são livres e pontiagudas. Pleura 4. Via aérea – A Manobras de liberação da via aérea Aspiração da cavidade oral Suporte de oxigênio não invasivo ❖ Cateter nasal → Uma parte do O2 é perdida para o ambiente. ❖ Máscara de Venturi → Cada válvula tem uma vazão, que varia de 10% a 75%, e um fluxo, que varia de 3L a 15L/min. ❖ Máscara não reinalante → Máscara com reservatório. O oxigênio vindo da fonte se concentra no reservatório. Há uma válvula na máscara, que impede a mistura do ar a ser inspirado pelo paciente com o ar expirado. Por esse motivo, ela garante uma FiO2 de 100% e um fluxo de até 15 L. * Paciente ventilando em ar ambiente com O2 suplementar através de cateter nasal/máscara de Venturi/máscara não reinalante” está em oxigenação / paciente em ventilação mecânica está em ventilação *O cateter nasal, a máscara de Venturi e a máscara não reinalante são ligadas a fonte de O2 por esses instrumentos acima Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 4: TRAUMA TORÁCICO 10 Fluxômetro de ar → Regula a vazão de O2; ele é conectado num ponto de O2 (na parede ou na ambulância). Umidificador → São colocados em torno de 10 ml de SF para umidificar o oxigênio que vem da fonte e prevenir o ressecamento da mucosa; é ligado ao fluxômetro Tubo → É conectado ao umidificador em uma extremidade e ao cateter ou máscara na outra extremidade Avaliar a necessidade de via aérea definitiva ❖ TCE ❖ Trauma de face e/ou pescoço ❖ Cornagem → Espécie de rouquidão muito alta ❖ Incapacidade de manter a ventilação adequada sob máscara ❖ Utilização de musculatura acessória ❖ Cianose e apneia ❖ Pacientes potencialmente em risco de broncoaspiração ❖ Lesão de via aérea por inalação Opções de via aérea definitiva ❖ Intubação endotraqueal ➢ Orotraqueal → Via de escolha no trauma ➢ Nasotraqueal → Contraindicada em causas de suspeita de fratura de base de crânio (sinal do Guaxinim e equimose Battle) ❖ Via aérea cirúrgica ➢ Cricotireoidostomia ➢ Traqueostomia Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 4: TRAUMA TORÁCICO 11 5. Lesões torácicas B ❖ Lesões que ameaçam a vida ➢ Pneumotórax traumático Hipertensivo → Diagnóstico clínico (dor torácica; dispneia/desconforto respiratório; taquicardia/hipotensão; estase jugular; desvio de traqueia) *Situação de elevada gravidade, considerada pela classificação como uma das seis lesões com risco iminente de vida, o Pneumotórax hipertensivo causa desvio do mediastino podendo provocar colapso circulatório (compressão de grandes vasos e câmaras cardíacas), ocasionando choque que, se não prontamente tratado, leva à morte. Importante diagnóstico diferencial com tamponamento pericárdico e com choque hipovolêmico. O desvio mediastinal pode ser severo de forma a comprimir o parênquima do pulmão não lesado. Para o diagnóstico encontramos: dispneia, taquipneia, diminuição da ausculta de murmúrios vesiculares, hipertimpanismo à percussão e redução da expansão torácica do lado acometido. Um sinal que pode ser de difícil identificação é desvio traqueal, principalmente em pacientes brevilíneos e obesos. Em casos em que a vítima não está chocada, a turgência jugular pode ser visualizada (frequentemente presente na clínica do tamponamento). O tratamento inicial consiste na imediata descompressão que pode ser obtida facilmente com a punção do hemitórax. Esta deve ser realizada antes da drenagem com dreno tubular, por ser mais fácil e rápida. A técnica consiste na introdução de uma agulha calibrosa (por exemplo, jelco 14 gauge) no 2°. espaço intercostal, facilmente palpável, com a linha hemiclavicular, sempre na borda superior da costela para não lesar o feixe vásculo-nervoso que se localiza no bordo inferior do arco costal. A agulha é introduzida a 90 graus do plano da parede torácica. Quando o jelco atinge o Pneumotórax Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 4: TRAUMA TORÁCICO 12 hipertensivo, muitas vezes pode ser reconhecida a rápida saída de ar sobre pressão; nesse momento, podemos introduzir o componente plástico e recuar o componente metálico para evitar perfuração inadvertida do pulmão. O tratamento definitivo que deve ser realizado após a punção é a drenagem pleural sob selo d’água. Aberto → Comunicação do espaço pleural com o meio externo (ferimento com diâmetro >2/3 da traqueia; passagem de ar pela menor resistência); traumatopneia; desconforto respiratório; curativo em três pontas *Está lesão, também conhecida como ferida torácica aspirativa, é uma das seis lesões com risco iminente de vida, em razão da severa insuficiência respiratória subjacente. É caracterizada pela perda de parte da parede torácica, permitindo uma ampla comunicação do espaço pleural com o meio externo. O diagnóstico pode ser realizado na inspeção, que evidencia perda importante de tecidos da parede torácica. Se o diâmetro da ferida tiver mais que dois terços do diâmetro da traqueia, durante a inspiração, o ar adentrará preferencialmente através da ferida à cavidade pleural, e não pelas vias aéreas aos pulmões, gerando grave insuficiência respiratória. A ferida deve ser coberta imediatamente com um curativo de três pontos fixos e um solto. O tórax deve ser drenado de forma habitual ao trauma, e o paciente, tão rápido quanto possível, encaminhado ao tratamento definitivo. A intubação orotraqueal e a ventilação com pressão positiva podem ser instituídas a qualquer momento como tratamento da insuficiência respiratória. O tratamento definitivo é o desbridamento e a reconstrução cirúrgica da parede. Caso o fechamento primário não seja possível, enxertos e retalhos podem ser usados no intuito de reestabelecer a integridade da caixa torácica. ➢ Pneumotórax simples Presença de ar no espaço pleural por perfuração ou laceração pulmonar Dispneia Dor torácica Hipertimpanismo à percussão Diminuição ou ausência do murmúrio vesicular Drenagem pleuralsob selo d´água no 5-6º espaço intercostal na linha axilar média *É definido como a presença de ar na cavidade pleural que ocasiona o colapso pulmonar e pode acarretar insuficiência respiratória aguda. O quadro clínico em geral apresenta dispneia de intensidade variável, muitas vezes associada à dor torácica. Ao exame físico podemos identificar o hipertimpanismo à percussão e a diminuição ou ausência de murmúrio vesicular à ausculta.O Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 4: TRAUMA TORÁCICO 13 diagnóstico pode ser confirmado com a radiografia de tórax, que demonstra linha de pleura afastada do gradeado costal, bem como colapso pulmonar. A conduta a ser tomada é a drenagem torácica fechada. ➢ Hemotórax Acúmulo de sangue no espaço pleural → > 1.500mL (hemotórax maciço) Diagnóstico clinico → Sinais de choque; sinais de submacicez; disfunção respiratória Reposição volêmica + drenagem torácica Toracotomia (indicações) → Hemotórax maciço; volume drenado de imediato > 1.500mL; drenagem >200mL/hora por 2 até 4 horas; necessidade constante de hemoterapia; localização *É definido como a presença de sangue na cavidade pleural que pode ser proveniente de lesões de parênquima pulmonar, parede torácica, grandes vasos como cava, aorta e seus ramos, lesões cardíacas ou de órgãos abdominais. Para o diagnóstico podemos encontrar sinais de derrame pleural, como a redução ou ausência de murmúrio vesicular e macicez à percussão. A presença de dispneia depende do grau de compressão pulmonar, bem como sinais de choque hipovolêmico dependem do volume sanguíneo perdido. Muitos pacientes apresentam-se assintomáticos em virtude do hemotórax de pequeno volume. A radiografia simples de tórax faz o diagnóstico demonstrando linha de derrame pleural ou, quando feita em decúbito dorsal, velamento difuso do hemotórax acometido. A conduta a ser realizada é a drenagem pleural fechada, como descrita anteriormente com drenos tubulares multiperfurados de grosso calibre e reposição volêmica conforme a necessidade. Hemotórax Maciço → Considera-se maciço o hemotórax que apresente um dos seguintes critérios: saída imediata de 1.500 ml ou mais de sangue à drenagem do hemitórax acometido; perda de um terço da volemia à drenagem do hemitórax; sangramento superior a 200 ml/h durante duas ou mais horas sem a normalização dos parâmetros hemodinâmicos (excluída outra causa); ou sangramento contínuo pelo dreno, exigindo transfusões repetidas, sem que haja outro foco de sangramento. O tratamento do hemotórax maciço consiste em controle do sangramento e reposição volêmica, que devem ser realizados concomitantemente. O controle do foco hemorrágico no hemotórax maciço traumático exige exploração cirúrgica da cavidade torácica. ➢ Tórax instável Fraturas de duas ou mais costelas e pontos consecutivos Movimentação paradoxal Crepitação Dor torácica intensa Analgesia + oxigenação + hidratação IOT → Gasometria e FR *É decorrente de múltiplas fraturas de costelas, ocasionando a perda da rigidez do segmento do envoltório ósseo acometido. A presença de duas ou mais fraturas em dois ou mais arcos costais é suficiente para determinar a instabilidade. Pode estar associada à insuficiência respiratória de graus variados, que decorre não da instabilidade torácica, mas da Contusão pulmonar subjacente. O grau de dispneia depende das reservas muscular ventilatória e pulmonar prévias Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 4: TRAUMA TORÁCICO 14 e da extensão da área de flacidez, além das lesões associadas principalmente à gravidade da Contusão pulmonar. A inspeção revela o sinal característico do movimento paradoxal do tórax. A palpação pode demonstrar crepitação de arcos e intensa dor. A radiografia de tórax apresenta múltiplas fraturas de arcos costais, podendo demonstrar também a Contusão pulmonar. A tomografia computadorizada de tórax não é imprescindível para o diagnóstico, mas, quando possível, diante das condições clínicas do paciente, ela demonstra detalhes como a presença de intercorrências pleurais, laceração pulmonar, pneumomediastino e, principalmente, a extensão do dano parenquimatoso. Analgesia vigorosa e eficiente é a prioridade no tratamento, podendo ser usados desde anti-inflamatórios não-hormonais, opiáceos e derivados, bloqueios intercostais, até mesmo peridural torácica. Tratar as complicações pleurais como acima descrito (hemotórax, Pneumotórax). A assistência ventilatória deve ser instituída e consiste desde simples suplementação de O2 até ventilação mecânica com pressão positiva para manter PO2 acima de 60 mmHg e PCO2 abaixo de 48 mmHg. Lembrar que, associado ao quadro de Contusão pulmonar, pode ocorrer síndrome do desconforto respiratório do adulto (SDRA), portanto, na ausência de hipotensão sistêmica, a infusão de cristaloides deve ser criteriosa. A fixação cirúrgica da parede torácica é contraindicada pela maioria dos autores ➢ Tamponamento cardíaco Acúmulo de sangue na cavidade pericárdica Ferimentos penetrantes Clínica → Pulso paradoxal; tríade de Beck (hipofonese de bulhas, turgência jugular e hipotensão); sinal de Kussmaul (pulsação e turgência jugular em respiração profunda); PCR (AESP) Pericardiocentese subxifoidiana → Introduzir agulha calibrosa entre o apêndice xifóide e a margem costal esquerda em um ângulo de 45º direcionada para o ombro esquerdo aplicando pressão negativa Exames complementares → USG-FAST na janela pericárdica; ecocardiograma Toracotomia de reanimação → Massagem cardíaca direto; trauma penetrante em AESP; presença de sinais vitais (pupilas fotorreagentes, atividade eletrocardiográfica); trauma contuso em AESP (sem indicação de reanimação) *O Tamponamento cardíaco ocorre mais comumente em ferimentos penetrantes, porém, ocasionalmente pode ser encontrado em traumas contusos. O saco pericárdico é uma estrutura fibrosa inelástica, por isso uma pequena quantidade de líquido pode ser suficiente para restringir o enchimento cardíaco. Da mesma forma, a remoção de quantidades mínimas de sangue, como 20 ml, pode ocasionar melhora hemodinâmica imediata. O quadro clínico clássico do tamponamento é de difícil identificação no atendimento de urgência ao trauma, logo, a suspeita deve sempre lembrada. A clássica “tríade de Beck” no trauma não deve ser esperada: elevação Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 4: TRAUMA TORÁCICO 15 da pressão venosa central – que é suspeitada pela distensão das veias do pescoço – pode estar ausente devido à hipovolemia; abafamento de bulhas cardíacas – é de difícil reconhecimento em virtude do ambiente barulhento de pronto-socorro; hipotensão – muitas vezes interpretada somente como choque hipovolêmico. O pulso paradoxal, que é a redução da pressão sistólica em mais de 10 mmHg durante a inspiração, e o sinal de Kussmaul, que é o aumento da pressão venosa durante a inspiração, podem estar presentes, mas na situação de emergência também são de difícil identificação. A atividade elétrica sem pulso em paciente vítima de trauma na ausência de hipovolemia e de Pneumotórax hipertensivo sugere fortemente Tamponamento cardíaco. A ultra-sonografia quando disponível pode, com boa margem de segurança, demonstrar a presença de derrame pericárdico, porém, não se deve atrasar o atendimento para aguardá-la, em virtude da gravidade do caso. O tratamento do choque com reposição volêmica é mandatório. A evacuação do sangue deve ser realizada por pericardiocentese (punção pericárdica com agulha e sob monitorização eletrocardiográfica) ou cirurgicamente pela drenagem pericárdica (realizada pela incisão de marfan) ou pela pericardiotomia por toracotomia de urgência. A decisão entre essas modalidades de tratamento dependerá dos recursos disponíveis e de experiência e treinamento da equipe de atendimento.Todos os doentes com pericardiocentese positiva para sangue devida a trauma necessitam de avaliação cirúrgica para toracotomia ou esternotomia para inspeção e correção da causa de sangramento. Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 4: TRAUMA TORÁCICO 16 ❖ Drenagem fechada em selo d´água → Drenagem torácica ou também chamada drenagem pleural fechada (sob selo d’agua) deve ser realizada nos casos de trauma, segundo a orientação do ATLS®, no 5°. ou 4°. espaço intercostal do lado afetado, anteriormente à linha médio-axilar. O ATLS® também recomenda a exploração digital da cavidade torácica antes da inserção do dreno torácico durante a drenagem, com objetivo de averiguar a possibilidade de hérnia diafragmática. O dreno recomendado é o tubular multiperfurado calibroso (para adultos, 36 french) para evitar a obstrução. O dreno deve ser introduzido cuidadosamente no sentido cranial e posterior. A fixação à pele deve ser realizada com fio resistente, além de curativo adequado. Importante lembrar de nunca pinçar o dreno. *Drenagem pleural ou torácica: A drenagem pleural (ou torácica, ou “em selo d’água”) consiste na colocação de dreno entre o 5o ou 6º espaço intercostal, perpendicular à linha axilar média, no espaço pleural– este normalmente conectado a um sistema valvular fechado tipo “selo d’água” – para a retirada de líquido e/ou ar. A retirada do dreno deve ser feita quando ele não está mais borbulhando (mesmo quando se solicita ao paciente tossir), com débito < 200mL e total expansão pulmonar ao raio x. É solicitado ao paciente que inspire profundamente e prenda a respiração, o dreno é puxado com movimento firme e único, e a ferida aberta é tampada com gaze, cobrindo-a imediatamente com curativo. É prudente manter o curativo oclusivo pelo menos por 48 horas. Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 4: TRAUMA TORÁCICO 17 ❖ Mapamental C ❖ Hemotórax ❖ Tamponamento cardíaco 6. Outras lesões torácicas Contusão pulmonar → Alterações da ventilação/perfusão; hipóxia ❖ Contusão pulmonar e síndrome do desconforto respiratório → A Contusão pulmonar é a lesão torácica potencialmente letal mais comum. Seu espectro de apresentação varia desde quadros assintomáticos até quadros graves de insuficiência respiratória, com síndrome do desconforto respiratório. O diagnóstico contempla história de trauma violento de tórax; dispneia progressiva muitas vezes de início tardio; hipoxemia, em geral, progressiva; radiografia de tórax revelando infiltrado alveolar que mais tardiamente pode evoluir com áreas de condensação. A tomografia computadorizada de tórax delimita de forma mais precisa a extensão da lesão. Para os casos mais leves, a observação rigorosa, o controle da dor e a fisioterapia respiratória são indicados. Nos casos graves, além dos cuidados acima, se impõem: restrição hídrica, após a estabilização do possível choque hipovolêmico de outra causa, diuréticos e a assistência ventilatória por ventilação não invasiva ou intubação orotraqueal com ventilação mecânica utilizando-se estratégias de ventilação específicas. Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 4: TRAUMA TORÁCICO 18 ❖ Obstrução de Via Aérea (Intratorácica) → Em razão de sua gravidade, é importante que as lesões críticas que afetam as vias aéreas devam ser reconhecidas e abordadas durante o exame primário. A permeabilidade das vias aéreas deve ser garantida, e a inspeção da orofaringe à procura de corpos estranhos é fundamental. Existe grande associação de trauma de laringe com trauma torácico. A obstrução da via aérea intratorácica deve ser sempre suspeitada e investigada, pois muitas vezes é oligossintomática. Corpos estranhos (objetos, fragmentos ósseos e dentes), além de sangue, são causas comuns de obstrução de via aérea no paciente politraumatizado. O quadro clínico em geral é composto por dispneia, taquipneia e estridor. A dificuldade de fonação pode ser identificada, e a alteração de murmúrio vesicular unilateral pode ocorrer na presença de obstrução brônquica (por exemplo, corpo estranho). A radiologia pode demonstrar objetos radiopacos, alteração na coluna aérea da traqueia (difícil visualização) e atelectasia pulmonar (quando ocorre obstrução completa do brônquio). A broncoscopia é o exame definitivo para a avaliação e o tratamento. Inicialmente, a oxigenoterapia suplementar e até a ventilação mecânica se necessário, são indicados, garantindo o suporte ventilatório. A intubação orotraqueal é sempre a forma preferencial de garantir a via aérea; na impossibilidade desta, muitas vezes se impõe a necessidade de acessos como a cricotiroidostomia por punção ou cricotiroidostomia cirúrgica, uma vez que a traqueostomia é um procedimento preferencialmente eletivo. Entretanto, em alguns casos, na impossibilidade de se locar uma cânula por via orotraqueal ou cricotiroidostomia, se faz necessária a realização da traqueostomia na sala de urgência, que, por ser complexa, deve preferencialmente ser realizada por cirurgião com treinamento em vias aéreas. A broncoscopia, principalmente a rígida, é o tratamento- padrão para a remoção de corpos estranhos de via aérea. Em casos de sangramento intenso na via aérea, a intubação seletiva pode ser um recurso valioso. O tratamento cirúrgico por toracotomia é reservado para poucos casos em que a broncoscopia foi ineficiente. Outra causa de obstrução das vias aéreas no trauma torácico é o afundamento das clavículas com compressão da traqueia contra a coluna vertebral. O tratamento consiste em pinçar as cabeças claviculares com pinças cirúrgicas e tracioná- las anteriormente. Concomitantemente, abduzem-se os braços da vítima, tracionando- os em sentido posterior, de preferência com os membros superiores pendendo nas laterais da maca. Após a descompressão, avalia-se a estabilidade dos anéis cartilaginosos e a necessidade da colocação de uma cânula traqueal distal ao esmagamento. ❖ Laceração de traqueia cervical → Pode ser decorrente de trauma direto com contusão traqueal, da hiperextensão do pescoço que ocorre em impactos frontais ou de ferimentos cervicais penetrantes. O quadro clínico pode apresentar sinais externos de trauma cervical, cornagem, alteração vocal, dispneia, enfisema de subcutâneo cervical. O diagnóstico definitivo pode ser estabelecido por broncoscopia. Deve-se estabelecer a permeabilidade de vias aéreas, após a estabilização, bem como avaliação cirúrgica para tratamento conservador ou cirúrgico. O tratamento conservador consiste em observação, caso o paciente esteja com ventilação espontânea ou em traqueostomia com colocação do balonete abaixo da lesão, se a ventilação mecânica for necessária. O tratamento cirúrgico pode ser realizado pela rafia primária da lesão ou ressecção e anastomose do segmento acometido, considerando-se o tamanho e as características da lesão. ❖ Laceração de traqueia torácica ou brônquios principais → É causada por compressão ântero-posterior do tórax, desaceleração súbita (impactos frontais ou quedas de grandes Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 4: TRAUMA TORÁCICO 19 alturas) e, menos frequentemente, por ferimentos penetrantes. Constituem diagnóstico a história de trauma torácico fechado de grande energia ou penetrante, desconforto respiratório, escarro hemoptóico ou hemoptise, enfisema de subcutâneo, fuga aérea significativa e constante pelo dreno torácico após a drenagem pleural. O diagnóstico definitivo pode ser estabelecido pela broncoscopia. Se houver insuficiência respiratória ou perda aérea intensa pelo dreno pleural, realizar intubação seletiva contralateral para garantir a ventilação do paciente. A toracotomia para abordagem da lesão pode ser necessária para corrigir o defeito, podendo ser realizadas sutura primária, broncoplastia ou traqueoplastia,a depender do local e da extensão da lesão. Contusão cardíaca → Trauma contuso; lesões das câmaras e vasos ❖ Traumatismo Contuso do Coração → A lesão cardíaca decorrente do trauma torácico fechado pode variar de uma contusão miocárdica subepicárdica, subendocárdica ou transmural, até ruptura de câmara cardíaca com Tamponamento cardíaco. A contusão pode apresentar-se como infarto do miocárdio, arritmias e até falência miocárdica (rara). O diagnóstico é dado por sinais externos de trauma na região esternal, eletrocardiograma com elevação do segmento ST (alterações de onda T), presença de arritmias cardíacas em pacientes não hipoxêmicos. Os exames laboratoriais devem ser colhidos na suspeita, pois a elevação de CPK, CKmb e troponina nas primeiras 6 horas sugerem lesão miocárdica, e seus níveis parecem correlacionados com o risco de arritmia e disfunção ventricular. O ecocardiograma evidencia áreas hipocinéticas sugestivas de contusão. Como cuidados gerais, devem-se evitar hipoxemia, monitorização em UTI por pelo menos 48 horas (com ECG contínuo) e tratamento específico das arritmias. ❖ Traumatismo penetrante do coração → Lesão extremamente grave pode levar ao choque hemorrágico de rápida instalação e Tamponamento cardíaco. Quando o paciente portador de lesão como essa chega vivo a uma unidade de atendimento, diagnóstico e tratamento imediato são imperativos para evitar a evolução ao óbito. O quadro clínico pode ser composto por ferimento da área de “Ziedler” (quadrilátero limitado superiormente pelo ângulo de Louis, inferiormente pelo apêndice xifóide, e lateralmente pelas linhas mamilares), choque com sinais de tamponamento, choque hemorrágico grave. A toracotomia de urgência deve ser realizada rapidamente para alívio do tamponamento e controle do sangramento. Ruptura esofágica e diafragmática ❖ Lesão esofágica → O esôfago pode ser lesado em virtude de ferimentos penetrantes do tórax, devidos a lesões iatrogênicas como na passagem de sondas e, mais raramente, nos traumas fechados de tórax. Na maioria das vezes, a lesão esofágica é assintomática na sua fase inicial, porém, a demora no diagnóstico e o aparecimento de complicações como mediastinite levam a situações graves com alta mortalidade. A história de ferimento transfixante ao mediastino deve sempre levantar a suspeita. Pode aparecer dor após manipulação do esôfago, como na passagem de sondas e endoscópios. O enfisema mediastinal pode estar presente. Em fase tardia (12 a 24 horas) aparecem dor, febre, empiema pleural, toxemia, sinais de mediastinite e até mesmo choque. O diagnóstico definitivo pode ser realizado com endoscopia digestiva alta. A conduta na fase aguda deve ser o tratamento cirúrgico com toracotomia direita e correção cirúrgica primária da lesão. Já na fase tardia deve-se iniciar antibioticoterapia de amplo espectro, com debridamento cirúrgico, se necessário, e desvio esofágico por esofagostomia cervical e gastrostomia para alimentação, deixando a correção definitiva postergada Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 4: TRAUMA TORÁCICO 20 ❖ Ruptura traumática do diafragma → Decorrente de traumatismos fechados com compressão torácica ou abdominal ou ferimentos penetrantes da transição toracoabdominal. É mais comum à esquerda nos casos de trauma contuso. Pode passar despercebida na fase aguda, podendo ser diagnosticada em fase crônica até anos após o trauma. Raramente na fase aguda podem ser auscultados ruídos hidroaéreos no tórax. Durante a drenagem de tórax, a exploração digital pode sugerir a presença das vísceras abdominais. A radiografia de tórax pode demonstrar a presença de conteúdo aéreo próprio do abdome em cavidade de torácica, além da posição anômala de sondas gástricas. O exame contrastado constitui em exame que pode firmar o diagnóstico. A ultrassonografia pode revelar alterações no diafragma. A tomografia computadorizada de tórax também confirma o diagnóstico. A ressonância nuclear magnética é reservada para casos selecionados em geral já crônicos para diferenciar hérnia de eventração e paralisia diafragmática. Ruptura da aorta → Óbito ❖ É apontada como causa frequente de morte súbita após colisões automobilísticas ou quedas de grandes alturas. Quando o paciente sobrevive ao evento inicial, a recuperação passa a ser possível, desde que a ruptura seja identificada e tratada precocemente. Nesses casos, é frequente o hematoma restrito ao mediastino, que, se extravasar para o espaço pleural, leva a hipotensão, choque e consequente óbito em minutos, se não prontamente tratado. ❖ Sinais e sintomas são frequentemente ausentes, sendo importante investigar o mecanismo de trauma. ❖ Sinais radiológicos que podem estar presentes são alargamento de mediastino (principal sinal), desvio da traqueia para a direita, apagamento da janela aorto-pulmonar, fratura de 1° e 2° arcos costais, entre outros. ❖ A arteriografia é considerada o método diagnóstico padrão, porém, com o avanço tecnológico, a tomografia computadorizada aparece com boa capacidade de diagnóstico. O tratamento cirúrgico deve ser realizado o mais rápido possível, porém, por cirurgião qualificado e com o suporte adequado. A tabela 4 resume os principais sinais e sintomas das lesões torácicas e a tabela 5 resume o tratamento destas lesões. Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 4: TRAUMA TORÁCICO 21 7. Mapamental Referências bibliográficas Aula de Dr. Felipe Góis (30/08/2021_ GUIMARÃES, H.P., LOPES, R.D., LOPES, A.C., TIMERMAN, S. Tratado de medicina de emergência: pronto-socorro e UTI. 1a edição, 2 volumes. São Paulo: Atheneu, 2010 - Capítulo 21 / Volume 1; Capítulo 162 / Volume 2 ATLS: Advanced Trauma Life Support for Doctors. American College of Surgeons. 10 a edição. 2018 - Capítulo 2 e 4 Fenili, R., Alcacer, J. A. M., & Cardona, M. C. (2002). Traumatismo Torácico: uma breve revisão. ACM arq catarin med, 31(1-2), 31-6. Sanar Residência
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