Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
BBPM 4 – TUTORIA 02 31/08/2021 Paciente de 47 anos sem história hereditária significativa; enxaqueca há 30 anos, com diagnóstico de hipertensão arterial sistêmica e diabetes mellitus há dois anos e meio; atualmente em tratamento com captopril 25 mg por via oral a cada 12 horas e metformina 1.000 mg por via oral por dia, respectivamente. Refere ter sido diagnosticada há um ano com fibrilação atrial sem tratamento atualmente; possui alergia à penicilina. O motivo da admissão no Hospital Nossa Senhora Auxiliadora é que nas 24 horas antes da internação, acordou à meia-noite com dor de cabeça na região occipital; de moderado a intenso. Foi a um médico particular, onde notou pressão arterial de 140/90 mmHg; toma medicação sublingual e retorna para casa, duas horas depois acorda com profusa diaforese, náuseas, vômitos, vertigem à prostração, disartria, voz anasalada, disfagia, perda de força no hemicorpo esquerdo e marcha lateralizada para a esquerda; retornou ao HNSA para diagnóstico e tratamento. Na admissão, o paciente apresentava voz anasalada, referida a “dormência” da face esquerda e hipoestesia do hemicorpo direito, bulhas arrítmicas, miose, enoftalmia e ausência de reflexo corneano em olho esquerdo, úvula com lateralização à direita diminuída elevação do palato mole e ausência do reflexo de gag (engasgo) à esquerda, hipoestesia para sensibilidade superficial à esquerda e à direita, nistagmo horizontal (inesgotável à esquerda), dismetria e disdiadococinesia do hemicorpo esquerdo. Trofismo normal, força generalizada 4/5 e tônus do meio-corpo esquerdo diminuído. O eletrocardiograma mostra sinais de fibrilação atrial. Foi avaliado pelo Neurologista que diagnosticou síndrome de Wallenberg, com cefaleia secundária à referida síndrome. Portanto, a ressonância magnética foi realizada onde o infarto subagudo da superfície dorso lateral esquerda do bulbo é identificado no território de artéria cerebelar posterior inferior ipsilateral (Figura 1). Com base nesses achados, a síndrome de Wallenberg é diagnosticada. O tratamento é iniciado com enoxaparina 60mg 12/12h. Na alta, ela é substituída por varfarina 5mg cinco dias por semana e 2,5 mg dois dias por semana, metoprolol 150 mg por via oral por dia, digoxina 0,250 mg por dia. Além da gestão da diabetes mellitus tipo 2 com metformina 1 700 mg por. Fig. 1. Ressonância magnética demonstrando a área de infarto TERMOS DESCONHECIDOS Profusa diaforese: transpiração excessiva; Disartria: dificuldade na fala; Enoftalmia: aprofundamento do olho na órbita; Nistagmo: movimento involuntário dos olhos; Dismetria: distúrbio nos movimentos musculares que os tornam mais ou menos extensos que o pretendido; Disdiadococinesia: incapacidade da realização de movimentos rápidos e alternados. SÍNDROME DE WALLENBERG Síndrome bulbar lateral/síndrome da artéria cerebelar póstero-inferior Descrita em 19845 por Wallenberg, essa síndrome (conjunto sintomático) tem etiologia vascular, em um AVC (acidente vascular cerebral) na artéria vertebral ou na cerebelar posterior inferior, que irriga a região lateral do bulbo e as porções inferiores e posteriores do cerebelo. “Um acidente vascular encefálico refere-se a uma síndrome clínica de um déficit neurológico focal desenvolvido rapidamente que não se deve à crise convulsiva. Se a causa é a falta de suprimento sanguíneo ou sua redução para uma porção do encéfalo, então admite-se o termo acidente vascular isquêmico. Os défices apresentados após o acidente incluem deficiência nas funções motoras, sensitivas, mentais, perceptivas e da linguagem, dependendo da localização da artéria acometida, da extensão da lesão e da disponibilidade de fluxo colateral.” ANATOMIA DO BULBO O bulbo é a porção mais inferior pertencente ao tronco cerebral, sendo contínuo com a medula espinhal inferiormente (sem demarcação exata, aprox. forame magno) e com a ponte superiormente (limite é o sulco bulbo pontino). Em sua superfície existem vários sulcos contínuos com os da medula, como a fissura mediana anterior, sulcos laterais anteriores, sulcos laterais posteriores, sulco intermédio posterior e sulco mediano posterior - delimitam estruturas no bulbo contínuas com os funículos medulares que caracterizam as áreas anterior, lateral e posterior do bulbo. Anteriormente, lateralmente à fissura mediana anterior, existem as pirâmides (feixes compactos de fibras nervosas descendentes derivadas do hemisfério ipsilateral do córtex cerebral que ligam as áreas motoras do cérebros aos neurônios motores da medula, o trato corticoespinhal). A decussação das pirâmides se trata de uma estrutura na região caudal onde as fibras do trato corticoespinhal cruzam o plano mediano, para continuar como trato corticoespinhal lateral. “A decussação dos lemniscos (ou sensitiva) também é de extrema importância. A partir dos núcleos grácil e cuneiforme, emergem as fibras arqueadas internas, que se curvam anterolateralmente, cruzam o plano mediano na área ventral, formando a decussação dos lemniscos e flete-se cranialmente para constituir de cada lado, o lemnisco medial. Essa estrutura conduz ao tálamo os impulsos que ascenderam pelos fascículos grácil e cuneiforme contralaterais. Os fascículos grácil e cuneiforme conduzem pelo SNC impulsos relacionados a tato epicrítico, propriocepção consciente, sensibilidade vibratória e estereognosia.” NERVOS CRANIANOS Emergem dessa estrutura os nervos hipoglosso (XII), acessório (XI), vago (X) e glossofaríngeo (IX). O núcleo destes nervos se encontram na substância cinzenta, mas na substância cinzenta própria do bulbo encontram-se o núcleo grácil e o cuneiforme. Na substância branca existem fibras longitudinais, que podem ser ascendentes, descendentes e de associação, e fibras transversais e, na formação reticular do bulbo existe o centro respiratório, o centro vasomotor e o centro do vômito. Por fim, o bulbo é percorrido por muitos tratos motores e sensitivos, o que leva a sinais e sintomas muito variados diantes de uma lesão, como disfagia, alteração da fonação e movimentação da língua, VASCULARIZAÇÃO DO BULBO “A irrigação é feita por ramos das artérias vertebral, espinal anterior e posterior, cerebelar inferior posterior e basilar, que entram ao longo da fissura mediana anterior e do sulco mediano posterior (STANDRING, 2010). Vasos que suprem a substância central entram ao longo das radículas dos nervos glossofaríngeo, vago, acessório e hipoglosso. Existe um suprimento adicional via plexo pial a partir das mesmas artérias principais (STANDRING, 2010).” O encéfalo é vascularizado através de dois sistemas: vértebro-basilar (artérias vertebrais) e Carotídeo (artérias carótidas internas). Estas são artérias especializadas pela irrigação do encéfalo. Na base do crânio estas artérias formam um polígono anastomótico, o Polígono de Willis, de onde saem as principais artérias e arteríolas para vascularização cerebral. As artérias vertebrais se anastomosam originando a artéria basilar, alojada na goteira basilar. Ela se divide em duas artérias cerebrais posteriores que irrigam a parte posterior da face inferior de cada um dos hemisférios cerebrais. As artérias carótidas internas originam, em cada lado, uma artéria cerebral média e uma artéria cerebral anterior. As artérias cerebrais anteriores se comunicam através de um ramo entre elas que é a artéria comunicante anterior. Já as artérias cerebrais posteriores se comunicam com as artérias carótidas internas através das artérias comunicantes posteriores. FUNÇÃO BULBO Recebe as informações de diversos órgãos e controla funções como os batimentos cardíacos, respiração, pressão do sangue, entre outros. A função do bulbo é conduzir os impulsos nervosos do cérebro para a medula espinhal e vice-versa. Também produz estímulos nervosos que controlam a circulação, a respiração, a digestão e a excreção. A região do bulbo que controla os movimentos respiratórios e os cardíacos chama-se nó vital. Recebe esse nome porque se uma pessoa receber uma forte pancada nesse local poderá morrer instantaneamente,devido à paralisação dos movimentos respiratórios e cardíacos. ÁREAS AFETADAS Ramo espinhal do nervo trigêmeo, nervo glossofaríngeo, via espinotalâmica, núcleo ambíguo do nervo vago, pedúnculo cerebelar inferior e as fibras simpáticas descendentes SINTOMAS Lesões no bulbo podem acarretar sintomas com características mais relacionadas à disfagia (dificuldade de deglutição) e alterações na fonação por lesão do núcleo ambíguo, bem como alterações no movimento da língua por lesão no hipoglosso. Podem, também, ocorrer paralisias e perdas de sensibilidade nos troncos e nos membros - lesão de vias ascendentes e descendentes. Do lado da lesão: hemi síndrome cerebelar, paralisia velo-faringo-laríngea (e consequentemente disfagia, alterações da palavra), comprometimento da sensibilidade superficial na hemiface correspondente, sobretudo das formas térmica e dolorosa. Do lado oposto a lesão — anestesia dos membros e tronco, com dissociação do tipo siringomielia. Por influência irritativa de edema ou por extensão maior da lesão, o comprometimento do núcleo do hipoglosso ou dos núcleos do VIII par, especialmente do núcleo vestibular, pode processar-se. Em consequência, síndrome de Wallenberg é frequentemente acompanhada de paresia da hemilíngua, vertigem e nistagmo (JULIAO, 1944). EPIDEMIOLOGIA O quadro de instalação da síndrome bulbar é geralmente súbita e costuma ocorrer após os 40 anos de idade, é a síndrome vascular mais frequente da circulação posterior. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL As hipóteses diagnósticas podem incluir tanto a SW (artéria cerebelar posterior inferior) quanto o infarto da artéria cerebelar anterior inferior. Isso porque existem características em comum nos dois casos, visto que o infarto pode atingir estruturas anatômicas iguais e causar sintomas semelhantes. O infarto na artéria cerebelar anterior inferior, no entanto, possui alguns sinais distintos, como a diminuição da audição ipsilateral. TRATAMENTO O tratamento da Síndrome se dá por meio de anticoagulantes, na tentativa de evitar que surja um novo infarto, uma trombose ou sangramentos. Em caso de pressão arterial elevada, outros fármacos podem ser utilizados, e o tratamento pode ser complementado pela fonoterapia, para reduzir ou eliminar o quadro disfágico. DIABETES E HAS O diabetes leva a um quadro de resistência à insulina, o que aumenta as concentrações de glicose e insulina circulantes na corrente sanguínea; o que leva ao aumento da resistência da musculatura vascular, enrijecimento das artérias e aumento da pressão arterial dos vasos. Ao mesmo tempo que leva ao aumento da HAS, a DM também favorece a formação da aterosclerose devido à resistência à insulina que é provocada, aumentando as concentrações de glicose e de lipoproteínas no sangue, que se depositam nas paredes vasculares. Ou ainda pode haver a DM2 que favorece a formação de HAS, a qual pode levar ou induzir a formação da aterosclerose
Compartilhar