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Partograma Junyara Souza 2 · Representação gráfica do trabalho de parto normal de apresentação cefálica!! · Permite acompanhar sua evolução, diminuir o índice de intervenções desnecessárias e diagnosticar alterações em tempo hábil, contribuindo para melhores desfechos obstétricos e redução da taxa de cesarianas em países de baixa/média renda. · Sua aplicação é considerada parte das “boas práticas” na assistência ao parto e é recomendado pelo Ministério da Saúde do Brasil e pela FEBRASGO. CONCEITO: gráfico no qual são anotadas a progressão do trabalho de parto e as condições da mãe e do feto. FUNCIONAMENTO: sistema precoce de aviso de anormalidades na evolução da dilatação cervical e da descida da apresentação fetal na pelve. BENEFÍCIOS: (1) Monitoramento do trabalho de parto em fase ativa (2) Ajuda na supervisão e decisão de conduta, (3) Uso racional de ocitócitos, amniotomia e parto instrumental (4) Diagnóstico de distocias (5) Redução do índice de cesárea (6) Proteção legal do profissional. definição do trabalho de parto ativo · Contrações uterinas regulares que causam esvaecimento e dilatação cervical, a partir de no mínimo 5 cm de dilatação. · O partograma deve considerar a FASE ATIVA DO TRABALHO DE PARTO. partograma schwarcz et al., 1996 friedman, 1978 Representação gráfica que descreve a progressão da dilatação do colo do útero em relação ao tempo de evolução do TP em um trabalho fisiológico considerado ideal em primigraves. Três períodos: 1. Preparatório 2. Dilatação 3. Pélvico Alguns estudos atuais rotularam o partograma de Friedman como obsoleto, concluindo que as suas curvas representam mais um ideal do que uma realidade do momento. trabalho de parto fisiologia da dilatação cervical De acordo com o Centro Latinoamericano de Perinatologia – CLAP (Schwarcz et al., 1996) · A curva de dilatação é ASCENDENTE, de INÍCIO COM MENOR VELOCIDADE de dilatação · No FINAL, a VELOCIDADE AUMENTA Portanto, o parto se desenvolve mais rápido a partir dos 4 cm de dilatação A fisiologia da dilatação cervical é a base para caracterizar a FASE LATENTE e FASE ATIVA do trabalho de parto. FASE LATENTE · VELOCIDADE LENTA · CONDUTA EXPECTANTE* · Aumento da atividade uterina com contrações consideradas úteis, mas irregulares · Início do apagamento do colo do útero · Duração de período variável *Conduta expectante na fase latente – Mantida desde que a vitalidade fetal seja preservada. Se não classificadas em gestação de risco, o ideal é que as parturientes sejam acompanhadas em ambulatório. Uma vez que a fase latente é > 20h em muitas mulheres, recomenda-se evitar ocitócicos devido ao risco de aumento na incidência de cesária, decorrente do colo uterino desfavorável. A parturiente deve estar atenta à ocorrência dos sinais de alerta para que retorne ao hospital. Os sinais de alerta são: perda de líquido, sangramento uterino, contrações eficientes a cada 5 minutos e diminuição dos movimentos fetais. FASE ATIVA > 3 CM DE DILTAÇÃO · 2 – 3 CONTRAÇÕES/10 MIN · VELOCIDADE DE DILATAÇÃO 1CM/H · Inclui dilatação cervical = Mínima de 3 – 4 cm · Inicia o 2º período do trabalho de parto Expulsão do feto · Contrações que aumentam em intensidade, frequência e duração · A fase latente não pode ser > 8h · A progressão da DILATAÇÃO CERVICAL na FASE ATIVA mais lenta que 1cm/h demanda maior atenção O tempo de 4h entre a LENTIFICAÇÃO DA PROGRESSÃO DO TP e a NECESSIDADE DE INTERVENÇÃO é insuficiente para comprometer mãe ou feto. É importante relembrar que, para o acompanhamento do trabalho de parto, a fase ou divisão funcional de interesse na aplicação do partograma é a de DILATAÇÃO (Friedman, 1978) ou FASE ATIVA (Schwarcz et al., 1996), com velocidade de dilatação cervical mínima de 1 cm/hora. A abertura do partograma na fase latente ou no início da dilatação (menor que 3-4 cm) implicaria em intervenções desnecessárias e iatrogênicas. histórico do partograma · 1950: avaliação apenas do TRAJETO ÓSSEO · 1972: Philpott e Castle · Antiga Rodésia (Zimbábue) · Criado para orientar as parteiras sobre os sinais de partos disfuncionais para encaminhar essas parturientes para o hospital · A partir do conhecimento da dilatação cervical, construíram a LINHA DE ALERTA para identificar as pacientes com parto de risco (que, se fosse cruzada, a parturiente deveria ser levada ao hospital) · Em um intervalo de 4 horas padronizaram a LINHA DE AÇÃO (paralela à de alerta), porque era o tempo de transporte médio da parturiente para centros médicos, onde se efetuavam intervenções e partos operatórios · 1994: OMG TORNA OBRIGATÓRIO O USO DO PARTOGRAMA NAS MATERNIDADES. · 2001: Ministério da Saúde recomenda o uso. · 2002: Febrasgo recomenda o uso. construção do partograma: como preencher? O partograma é a representação gráfica do trabalho de parto, feita para acompanhar a sua evolução, documentar, diagnosticar alterações e indicar as condutas adequadas a serem tomadas para correção de desvios, sempre evitando intervenções desnecessárias. No início do trabalho de parto, a curva de dilatação cervical é ascendente, com velocidade de dilatação progressiva, sendo inicialmente mais lenta (caracterizando a fase latente – inicial). Ao final do TP (já na fase ativa), após 4cm de dilatação, a velocidade aumenta espontaneamente. Na dúvida não abre partograma e faz o toque vaginal depois de 1h. Como construir um partograma? 1. Feito em um papel quadriculado (mais comum), sendo o eixo X (abcissas) o tempo em horas e o eixo Y (ordenadas) a dilatação cervical à esquerda e a descida da apresentação à direita, as duas em centímetros. *A descida da apresentação leva em conta o plano 0 de De Lee (= plano III de Hodge), ou seja, as espinhas ciáticas do estreito médio da bacia (valores acima são negativos e valores abaixo são positivos). 2. Existem 2 linhas paralelas: linha de alerta e linha de ação. · Caso a dilatação cruze ou chegue a linha de alerta, deve ser feita uma melhor observação clínica; a intervenção clínica é necessária apenas quando a curva de dilatação ultrapassa a linha de ação (não necessariamente uma conduta cirúrgica). *Linha de alerta – Melhor observação clínica; linha de ação – Intervenção médica RESUMINDO: · EIXO X (abcissas): tempo em horas. · EIXO Y (coordenadas): dilatação cervical em cm (esquerda) + descida da apresentação na bacia (direita). · LINHA DE ALERTA: indica necessidade de maior observação clínica. Traçada IMEDIATAMENTE NA HORA SEGUINTE. · LINHA DE AÇÃO: indica necessidade de intervenção médica. Traçada 4 HORAS APÓS A LINHA DE ALERTA. · Na evolução normal do parto, a curva de dilatação fica à esquerda da linha de ação. Se passar dela, trata-se de um parto disfuncional. 3. Inicia-se o registro no gráfico quando a parturiente estiver na FASE ATIVA DO TRABALHO DE PARTO (mínimo de 2 contrações em 10min + dilatação cervical mínima de 3-4 cm e apagamento de 50%). 4. Realização de toques vaginais a cada 4h, sendo observados e anotados: (1) dilatação cervical, (2) altura da apresentação, (3) variedade de posição e (4) condições da bolsa das águas e do líquido amniótico. Também são registrados: (1) padrão das contrações uterinas e dos BCF, (2) infusão de líquidos, (3) fármacos e (4) uso de analgesia. *BCF devem ser verificados a cada hora, 20 segundos antes, durante e até 20 segundos após a contração, com o objetivo de detectar alterações/desacelerações. 5. A dilatação cervical inicial é marcada no ponto correspondente do gráfico, traçando-se na hora imediatamente seguinte à linha de alerta e, em paralelo, 4h após, sinaliza-se a linha de ação, DESDE QUE A PARTURIENTE ESTEJA NA FASE ATIVA DO TP (no mínimo, dilatação de 1cm/hora). No PARTO NORMAL, observa-se: · Início espontâneo · Apresentação cefálica de vértice, única · Gravidez a termo > 37 a 42 semanas · Nenhuma intervenção artificial · Duração < 12h em primíparas; e > 8h em multíparas Zona A > ESQUERDA DA LINHA DE ALERTA. Enquanto a evolução estiver nessa zona, ela está NORMAL (evolução eutócica). Zona B > DILATAÇÃO CRUZA A LINHA DE ALERTA. Deve ser feita OBSERVAÇÃOCUIDADOSA com algumas ações (amniotomia – análise macroscópica do líquido amniótico, infusão de ocitocina – aumenta-se a infusão gradativamente até obter 5 contrações em 10min). Zona C > QUANDO ULTRAPASSA A LINHA DE AÇÃO. Avaliar necessidade de INTERVENÇÃO MÉDICA, não necessariamente cirúrgica. 6. Nessa parte, se registra: · Frequência cardíaca fetal (FCF) · Número de contrações em 10min de observação · Situação da bolsa das águas (se está integra – I –; ou rota – R) · Coloração do líquido amniótico (LA) > claro (CI); com mecônio (M); com sangue (Sg) · Uso de medicamentos e ocitocina · Uso de analgesia Preenchimento de partograma então, como preencher? Primeiro, a paciente deve estar na FASE ATIVA DO TRABALHO DE PARTO: · 2 a 3 contrações em 10 minutos · Dilatação cervical mínima de 3 cm · Se dúvida, reavaliar após 1h (*velocidade = 1cm/h) exemplo 01: · Às 10h: · 3 cont/30’’/10’ · BCF 140 bpm · Toque vaginal: colo pérvio, 3m, cefálico, bolsa íntegra, móvel TOQUE VAGINAL · Deve ser realizado com INTERVALO DE 2 HORAS · Avalia: · Dilatação · Altura · Apresentação · Variedade de posição · Descrição da bolsa descrições · Padrão de contração uterina · Batimentos cardíacos fetais · Uso de medicações · Analgesia se: EVOLUÇÃO NORMAL DO TRABALHO DE PARTO: ocorrer à ESQUERDA DA LINHA DE AÇÃO. EVOLUÇÃO DISFUNCIONAL DO TRABALHO DE PARTO: ULTRAPASSA A LINHA DE AÇÃO. Exemplo 02 Exemplo 03 Obs: Parto eutócico Quando o nascimento do bebê ocorre por via viaginal sem qualquer intervenção instrumental durante o parto. diagnósticos do partograma DISTOCIA: Qualquer perturbação no bom andamento do parto em que estejam implicadas alterações em um dos três fatores fundamentais que participam desse processo: · Força motriz ou contratilidade uterina Caracteriza DISTOCIA FUNCIONAL · Objeto Caracteriza DISTOCIA FETAL · Trajeto (bacias e partes moles) DISTOCIA DO TRAJETO Período do parto Distocias DILATAÇÃO Fase ativa prolongada Parada secundária da dilatação Parto precipitado Período expulsivo prolongado EXPULSIVO Parada secundária da descida FEBRASGO: DISTOCIAS durante a dilatação fase ativa prolongada · Velocidade < 1cm/h · Causa CONTRAÇÕES INEFICAZES (logo, uma distocia funcional) parada secundária da dilatação · Não há mudanças na dilatação após 2 toques consecutivos com intervalo mínimo de 2 horas · Causa DESPROPORÇÃO CÉFALO-PÉLVICA (distocia fetal e/ou de trajeto) Parto precipitado · Velocidade > 1cm/h · Tempo total entre dilatação e o período expulsivo de < 4 horas · Causa TAQUISSISTOLIA OU HIPERSISTOLIA (distocia funcional) entre a dilatação e o período expulsivo Período expulsivo prolongado · Descida da apresentação é lenta · Causa CONTRATILIDADE INEFICAZ (distocia funcional) Duração média do período expulsivo Gestante Sem analgesia Com analgesia PRIMÍPARA 2 horas 3 horas MULTÍPARA 1 hora 2 hora durante o período expulsivo Parada secundária da descida · Não há mudança na altura da apresentação após 2 toques sucessivos com intervalo mínimo de 1 hora. · Causa DESPROPORÇÃO CÉFALO-PÉLVICA partograma de zhang atenção! · Os dados de Friedman são antigos e não refletem necessariamente o padrão “normal” de evolução do TP. (Zhang, 2010) · Cerca de 50% das mulheres NÃO dilatam 1cm/hora até alcançarem 5-6cm · Padrão de evolução diferente pode ser usado para definir fase ativa. Em estudo prospectivo recente, a OMS indica 5cm como definidor de fase ativa. (OMS, 2018) · O uso da linha de alerta é pobre para detecção de desfechos adversos e não deve ser utilizado (Souza et al, 2018) o partograma · Construído para NULÍPARAS · Avalia a evolução de DILATAÇÃO ATÉ 10 CM · Traçado – Percentil 95 · PARTO DISTÓCITO À DIREITA DA CURVA curva de friedman x curva de zhang exemplo 04 Parada de progressão segundo Zhang · A fase latente prolongada (>20 horas em nulíparas e >14 horas em multíparas) NÃO deve ser uma indicação para cesariana. · Trabalho de parto lento, PORÉM PROGRESSIVO NÃO deve ser uma indicação para cesariana. · Dilatação cervical de 6 cm deve ser considerada a dilatação inicial na fase ativa da maioria das mulheres em trabalho de parto. · Antes de 6 cm de dilatação, os padrões de progresso de fase ativa não devem ser aplicados. No primeiro período: · Dilatação cervical ≥ 6 centímetros de dilatação e ruptura de membranas com: · Nenhuma mudança cervical depois ≥ 4 horas, apesar de contrações adequadas · Nenhuma mudança cervical depois ≥ 6 horas, com contrações inadequadas No segundo período: · Nenhum progresso (descida ou rotação) · Nulíparas: ≥ 3 horas · Multíparas: ≥ 2 horas PARTOGRAMA DE FRIEDMAN MULTÍPARAS PARTOGRAMA DE ZHANG NULÍPARAS (*individualização de casos e reflexão) evidências da importância do partograma 2013: Effect of partogram use on Outcome for women in spontaneous labour at term REVISÃO SISTEMÁTICA DA COCHRANE · 6 ECR: 7706 mulheres · Não houve diferença na incidência de cesárea, parto instrumental ou baixos escores de Apgar · Partograma sem fase latente: menores taxas de cesárea PRECONIZAÇÃO DA OMS ➥ Toque vaginal 4/4h ➥ Menos intervenção ➥ Analgesia ➥ Deambulação atividade
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