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Brenna Corrêa Esteves MEDICINA- UNIFTC 3ºP Caso 1 DIABETES MELLITUS OBJETIVOS: Entender a diabetes: classificação, complicações, fisiopatologia, sinais e sintomas| Descrever a cetoacidose diabética| Comentar os achados clínicos relacionados (DM TIPO 1)| Entender o tratamento medicamentoso e não medicamentoso. DIABETES MELLITUS • É um distúrbio de metabolismo intermediário caracterizado por hiperglicemia persistente, decorrente de deficiência na produção de insulina ou na sua ação, ou em ambos os mecanismos. • Metabolismo intermediário é composto por reações de anabolismo e catabolismo; ou seja envolve a síntese e degradação de proteínas,carboidratos e lipídios. A regulação do metabolismo intermediário é feita pela insulina e hormônios contrainsulínicos REVENDO A FISIOLOGIA • Insulina: produzida nas células beta das ilhotas pancreáticas e parte da sua produção é liberada de forma constante na corrente sanguínea, no entanto, seu nível é elevado após as refeições- o que caracteriza o pico de insulina, o estado pós prandial. • POR QUE O PICO DE INSULINA ACONTECE? A glicose consegue entrar nas células beta do pâncreas através de uma proteína conhecida como GLUT-2 e, daí, estimula a secreção de insulina. Além disso, após as refeições produzimos INCRETINAS (peptídeos gastrointestinais GLP1 E GIP) que são capazes de aumentar a resposta pancreática à glicose, o que resulta na liberação de mais gasolina. • O próximo passo da insulina é se ligar ao seu receptor nas células do corpo e induzir a translocação de vesículas contendo a proteína GLUT- 4 para a membrana plasmática e o que essa proteína faz é justamente servir de canal para que a glicose adentre na célula. • Importância da GLICOSE entrar na célula- É essa entrada que permite a ocorrência da glicólise (principalmente nos hepatócitos e miócitos), que é o processo através da qual esse substrato é utilizado como principal fonte de energia para as atividades celulares; e porque é através disso que os hepatócitos conseguem pegar o excesso de glicose e armazená-lo sob a forma de glicogênio (glicogenogênese). • A insulina também estimula que parte desse excedente de glicose passe por um processo conhecido como lipogênese, que consiste em transformá-la em ácido graxo para que esse seja direcionado aos adipócitos, onde serão transformados em triglicérides. • CONTRAINSULÍNICOS- Adrenalina (medula suprarrenal); cortisol (córtex suprarrenal); GH(adenohipófise) e GLUCAGON (células alfa do pâncreas) • Desses, o glucagon é o mais relevante no que tange à ação contrainsulínica, que basicamente consiste em se opor à insulina. • Ou seja, enquanto a insulina é estimulada pela hiperglicemia a retirar glicose do sangue, o glucagon é estimulado pela hipoglicemia (jejum) a aumentar os níveis de glicose no sangue - é justamente por isso que ele é tido como um hormônio hiperglicemiante! Ele faz isso através da glicogenólise e gliconeogênese. • Os hormônios contrainsulínicos também atuam sobre os lipídios estimulando o processo de lipólise, que consiste em quebrar os triglicérides para liberar ácido graxo e esses, então, poderem ser utilizados pelas células como fonte de energia através da beta-oxidação. Caso a liberação de ácidos graxos seja exagerada, o fígado vai utilizar o excesso para produzir corpos cetônicos e isso leva a um quadro de cetoacidose,um tipo de acidose metabólica. • O objetivo da insulina e do glucagon é manter constante o nível de GLICOSE no sangue, por causa dos neurônios, pois estes não conseguem usar outra fonte de energia, então é necessário ter sempre glicose disponível no sangue. Embora não precisem da insulina para absorver a glicose, tanto a falta quando o excesso de glicose, ou seja tanto a hipoglicemia quanto a hiperglicemia afeta o funcionamento dessas células (neurônios) OBS: Uma fonte alternativa de energia para os neurônios seria o corpo cetônico produzido pelo fígado a partir do excesso de ácido graxo, mas como vimos, isso pode levar à cetoacidose. Então garantir a disponibilidade de glicose acaba sendo a única saída. FISIOPATOLOGIA E CLASSIFICAÇÃO De modo geral. o problema do diabetes é justamente a ação insulínica alterada, assim, o organismo do paciente diabético se comportará o tempo inteiro em estado de jejum. • EM RESUMO: um problema de produção ou ação da insulina fará com que a glicose não entre na célula. • Nesse caso, como a célula não tem substrato (glicose) para produzir energia, o corpo entende que a pessoa está em jejum e isso aumenta a atividade dos hormônios contrainsulínicos. • Esses hormônios estimulam a glicogenólise, a gliconeogênese e a lipólise. CLASSIFICAÇÃO DM TIPO 1: Doença autoimune e poligênica; nesse tipo de diabetes os linfócitos T CD8+ invadem as ilhotas pancreáticas e atacar, de forma seletiva, as células BETA, ou seja, as células que produzem a insulina. O resultado é uma produção nula ou insuficiente desse hormônio. • A base patológica dessa doença parece ser genética, já que 90% dos diabéticos tipo 1 apresentam alterações nos genes HLA (antígeno leucocitário humano); podendo ser o HLA DR3 ou HLA DR4; no entanto, nem todos os indivíduos com essas alterações apresentam a doença, o que reforça a ideia de que fatores ambientais também influenciam sua ocorrência. • A DM tipo 1 pode ser divida em tipo A e tipo B- na 1ª são detectados anticorpos no sangue; na 1B essa detecção não é possível, portanto é tida como idiopática (doença sem causa definida) • OS autoanticorpos da DM 1ª (Anti-Ilhota, anti- GAD, anti-IA-2) são identificados como marcadores da doença autoimune • Mais comum em crianças e adolescentes (costuma ocorrer antes dos 30) DM TIPO 2 • Forma mais comum da doença, cerca de 90% dos casos • Diferente da diabetes tipo 1, não é uma doença autoimune. É um problema de base genética que se precipita por fatores ambientais. • Se caracteriza por uma deficiência de secreção ou, principalmente, pela resistência insulínica. • Essa resistência parece estar associada a fatores de risco como a obesidade visceral- a gordura abdominal gera citocinas inflamatórias que dificultam a ação da insulina sobre os tecidos. • Como a insulina não está atuando de forma eficiente, o corpo responde provocando hiperplasia e hipertrofia nas células beta, na tentativa de aumentar muito a oferta de insulina e assim compensar a sua ineficácia e colocar a glicose dentro da célula. Inicialmente, isso dá certo, no entanto, esse estado de hiperprodução acaba levando as células beta à exaustão e com o tempo elas vão parando de funcionar. Nesse momento (já avançado), a DM2 se assemelha a DM1, porque elas se igualam no que diz respeito à quantidade de células betas funcionantes. DM GESTACIONAL Na gravidez ocorre o desenvolvimento da placenta, que é um órgão capaz de produzir uma série de hormônios com efeito hiperglicemiante. Então, por si só, a gravidez já é uma condição potencialmente diabetogênica e isso, quando se associa com outros fatores de risco, acaba levando à diabetes. Estes fatores são: idade materna avançada;Sobrepeso/obesidade, história familiar de DM, crescimento fetal excessivo, história de abortamento, hipertensão/eclampsia, ovários policísticos, baixa estatura < 1,5m OUTROS TIPOS Entre as outras causas de DM (menos frequentes) estão os defeitos genéticos, as doenças pancreáticas, infecções, entre outros. Desses, o mais comum é o MODY (Maturity- -Onset Diabetes of the Young), que consiste em uma doença genética de herança autossômica dominante, mas que não é autoimune. Na verdade, a DM MODY altera a produção de alguns fatores que interferem na regulação da glicose e é justamente em cima disso que eles são classificados em 6grupos: Brenna Corrêa Esteves MEDICINA- UNIFTC 3ºP Quadro clínico DM1 • Por conta da própria fisiopatologia de ser uma doença autoimune, a DM tipo I acaba se manifestando mais cedo, de modo que a grande maioria dos pacientes com essa condição são diagnosticados ainda crianças ou adolescentes (geralmente entre os 10-15 anos). • Os pacientes normalmente são magros e vão desenvolver um quadro AGUDO e clássico. Os 4 Ps da diabetes: • POLIÚRIA (aumento do volume urinário)- se o paciente é diabético, ele tem uma hiperglicemia, daí, com mais glicose no sangue, mais glicose é excretada através da urina. E como ela é uma substância osmoticamente ativa, o paciente acaba perdendo mais água através do trato urinário • POLIDIPSIA (aumento da sede)- como o volume urinário aumenta, o paciente começa a desidratar e por consequência da desidratação, tem aumento da sede • POLIFAGIA (aumento da fome)- as células não estão recebendo glicose, então o corpo interpreta isso como estado de jejum o que leva ao aumento da sensação de fome. • PERDA PONDERAL – a interpretação de estado de jejum estimula os hormônios contra insulínicos que promovem a lipólise, levando á perda ponderal. • Por vezes, o paciente com DM1 vai ter uma destruição grande e rápida das células beta, de modo que 1/3 deles podem iniciar o quadro já com CETOACIDOSE DIABÉTICA. CETOACIDOSE DIABÉTICA • Os hormônios contrainsulínicos vão estimular lipólise, que é o processo pelo qual ocorre a quebra de triglicérides para liberar ácidos graxos, os quais podem ser utilizados como fonte de energia. • No entanto, a partir do momento em que essa liberação se dá de forma exagerada, o fígado começa a fazer cetogênese, que é a produção de corpos cetônicos a partir desses ácidos. • É justamente em cima disso que ocorre a cetoacidose diabética. O que acontece é mais ou menos o seguinte: • Como o paciente DM 1 tem níveis de insulina muito baixos, o estado de jejum que ele desenvolve acaba sendo muito intenso, bem como a ação dos contrainsulínicos. • A partir daí, a produção de ácidos graxos aumenta e o fígado inicia a cetogênese. O problema é que dos 3 corpos cetônicos produzidos, 2 são ácidos (acetoacético e beta-hidroxibutírico). • Dessa maneira, aumenta-se a quantidade de íons H+ no sangue, levando a um ânion- gap elevado (diferença entre as quantidades de íons positivos e negativos no sangue) e manifestações como, por exemplo: • Hipocalemia: Vai haver troca de íons através das bombas H+/K+ presentes nas células; • Hálito de acetona: O 3º corpo cetônico é a acetona, que é inócua ao organismo, promovendo apenas alterações no hálito; • Respiratórias: Kussmaul (uma tentativa do pulmão de eliminar o H+ através da respiração); Nesses casos, a respiração do indivíduo é lenta e profunda, e, quando encontrada, deve alertar o médico para quadros de intoxicação no bulbo respiratório desses pacientes, podendo ser uma cetoacidose diabética (principal causa) ou uma acidose metabólica. Podemos dividi-la em 4 fases principais: a primeira é caracterizada por inspirações ruidosas (que são mais amplas) e que se alternam com inspirações mais rápidas (porém menos amplas). A segunda fase, por sua vez, tem como sua principal característica a apneia durante a inspiração. Já a terceira fase é uma fase de expirações ruidosas mais profundas que se intercalam com expirações rápidas, por sua vez menos amplas. E o ciclo se finaliza com uma apneia durante a expiração • Gastrointestinal: Dor abdominal (pelo atrito entre os folhetos abdominais desidratados); náuseas e vômitos. • Pacientes DM1 costumam apresentar uma glicemia > 200mg/dL com presença de autoanticorpos (ICA, IAA, Anti-GAD65, Anticorpo • Antitirosina-Fosfatase IA-2 e IA-B2, Znt8…) e também não respondem bem aos antidiabéticos orais e sem insulina vão acabar desenvolvendo cetoacidoacidose. • Outra característica é o peptídeo C <0,1 ng/dL ou ausente. o peptídeo C é um componente da pró- insulina que é liberado quando ocorre a quebra dessa molécula. No entanto, como aqui praticamente não há produção do hormônio, os níveis de peptídeo C são geralmente indetectáveis. • Exames laboratoriais para o diagnóstico: glicemia de jejum, teste oral de tolerância à glicose, hemoglobina glicada] TRATAMENTO • NÃO FARMACOLÓGICO – Mudança no estilo de vida. Ele está indicado para todos os pacientes diabéticos ou pré-diabéticos e envolve: a) adequação alimentar através de dietas com baixo nível calórico; b) atividade física (150min/ sem); e também c) cessação do tabagismo,já que essa prática pode aumentar muitos os riscos DM. • No caso da DM tipo 1 também pode ser feito o transplante de pâncreas e de células das ilhotas; é necessária imunossupressão pelo resto da vida TRATAMENTO MEDICAMENTOSO- DM1- INSULINOTERAPIA/ DM2- HIPOGLICEMIANTES ORAIS DM TIPO 1- INSULINOTERAPIA A dose diária de insulina varia de acordo com a duração e a fase do diabetes, sendo preconizada para a doença já estabelecida valores entre 0,5 a 1 U/kg/dia. As medidas diárias podem não ser fixas, sendo alterada pela demanda de cada paciente e o período da vida em que ele se encontra. Os tipos de insulina são classificados de acordo com o tempo de ação de cada, sendo agrupadas: • Ultrarrápida: início 5-15 min, pico 30 min a 1h 30min e age por 4-6h (Lispro, Aspart) • Rápida: início 30-60 min, pico 2-3h e age por 5- 8h (Regular) • Intermediária: início 2-4 h, pico 4-8h e age até 16h (NPH) • Prolongada: Período de ação entre > 18h (Ultralenta, Glargina) • Combinada: 70% NPH – 30% Regular/ 50% NPH – 50% Regular • A reposição é feita preferencialmente com uma insulina basal, que pode ser de ação intermediária ou prolongada, para evitar a lipólise e a liberação hepática da glicose entre as refeições, uma insulina de ação rápida ou ultrarrápida durante as refeições (bolus de refeição) e doses adicionais de insulina necessárias para correção de hiperglicemias (bolus de correção). Complicações
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