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RESUMO DO TEXTO “O DISCURSO PROCESSUAL DEMOCRÁTICO, DE DHENIS CRUZ MADEIRA O texto “O Discurso Processual Democrático”, do escritor Dhenis Cruz Madeira inicia-se comentando acerca de países que se dizem democráticos onde o povo é considerado a única fonte de poder. Nesse viés, o autor formula uma pergunta que se faz necessária para a compreensão do discurso processual democrático e o próprio Processo Constitucional: que povo serie este e qual o significado atribuído a tal expressão? Nesse sentido, a palavra povo não está relacionada com sua concepção icônica, pois não possui o mesmo significado que malta, isto é, uma massa abstrata, sem identificação efetiva. Contudo, para que a compreensão do que é o povo no Estado Democrático de Direito, Dhenis revela ser necessário trazer esclarecimentos acerca da adjetivação icônico e o sentido empregado no texto da locução malta. Nesse diapasão, o autor usa-se dos conhecimentos de Friedrich Muller que, em sua obra “Quem é o povo?”, revela que o termo povo é polissêmico e, dentro os vários significados atribuídos a ele, tem-se o povo como ícone. Nessa vertente, Friedrich entende que existe uma ideia abstrata de povo, uma concepção muito utilizada por governantes autocráticos que usam a expressão para transformar o povo real numa massa uniforme e indivisível, facilitando, dessa forma, o processo de dominação. O povo-ícone, nesse contexto, carece de legitimação, visto que não participa do espaço político de construção de decisões estatais, sendo apenas uma ferramenta para o governante autoritário justificar seus atos. Além disso, a expressão ganha, na voz do déspota, significados como bem- comum, interesse público, finalidade social entre outros. Mais adiante no texto, o autor tece comentários comparativos entre a ideia de povo-ícone, a do homo sacer e da malta. Diante disso, o homo sacer seria o homem sacralizado que habita em um espaço não normativo, dominado por alguém que o sacraliza. Esse indivíduo não se enxerga como indivíduo, está fora da sociedade civil e não consegue participar do discurso processual. O termo sacralização empregado no texto refere-se a uma sacralização negativa, na qual se transcende o direito positivo e suspende sua aplicação – trata-se da suspensão de direitos civis. Outrossim, a expressão sociedade civil traz uma ideia semelhante a essa, uma vez que faz referência a um conjunto de pessoas que já possuem direitos civis, já efetivaram seus direitos fundamentais básicos, contudo, os que estão fora dessa espacialidade jurídica não integram a sociedade civil. Partindo para a noção de malta, de acordo com o autor ela seria a matriz da massa, entretanto, os conceitos podem se confundir, pois a malta forma a massa e a massa abriga a malta. O texto busca explicar isso fundamentado na obra de Elias Canetti, que entende a malta como um grupo de pessoas excitadas que desejam veementemente serem mais, porém uma das características da malta é o fato de que ela não pode crescer. Nesse viés, esse pequeno grupo que vive em um estado de excitação coletiva objetiva alcançar o mesmo objetivo e, para isso, devem se voltar para um bem-comum, uma mesma meta. Caso não haja essa união diante de um objetivo, a malta corre o risco de se desfazer e perder sua força, prejudicando todos que a integram. Por esse motivo a malta busca sempre expandir, ter um número maior de componentes, para que fique mais robusto e torne-se indestrutível. Nessa linha de raciocínio, existem quatro características presentes tanto na massa como na malta. A igualdade e o direcionamento são duas características presentes, enquanto o crescimento e a densidade estão presentes no grupo como um objetivo em comum. É categórica a presença do crescimento, da densidade, igualdade e direcionamento nas massas dominadas por governantes autoritários onde o governante carismático se diz tradutor da vontade popular. Nessa vertente, o escritor identifica a presença dessas características nas torcidas organizadas de futebol, nos comícios eleitorais, nos shows de cantores famosos, em grandes reuniões sindicais, e em algumas marchas militares. Outrossim, existe na malta uma relação entre governante e governados, dominador e dominados, prevalecendo a ideia de que a maioria é quem manda. Neste cenário, surge alguém apresentando-se como líder capaz de ser o locutor autorizado de todos utilizando- se de discursos retóricos e erísticos para encontrar um topos (lugar comum) de todos os integrantes da malta para iludir a todos. Isso ocorre pelo fato de que na malta todos devem pensar em um bem-comum e os membros que não estiverem de acordo são anulados, dessa forma basta ao déspota usar essa homogeneidade do grupo para agradar todo o auditório e, posteriormente, dominá-los. Dado o exposto, a malta adota um discurso de ódio e elege um inimigo que vai contra o posicionamento da maioria. Nesse cenário, o discurso tópico homologa esse discurso de ódio, pois a tópica se apoia na endoxa, que é formada pela opinião de todos, da maioria ou dos mais sábios e renomados. A ligação entre endoxa e a opinião de todos ou da maioria acaba imprimindo à tópica jurídica uma ligação com a ideia de malta. Por conseguinte, Dhenis entende que a malta é incompatível com o discurso processual democrático, visto que ela despreza a individualidade e nas assembleias populares não existe uma demarcação normativa do discurso. Já na Democracia contemporânea, é imprescindível respeitar e cultivar as individualidades para que o povo possa argumentar num espaço discursivo demarcado normativamente e institucionalizado pelo devido processo, não havendo, portanto, um soberano que se apresente como o único capaz de dizer como a lei deve ser desenvolvida, interpretada e aplicada. Nessa lógica, o princípio da soberania popular é uma das bases do Estado constitucional. O Estado Democrático de Direito deve, portanto, se basear na efetiva participação do povo estes devem ser a fonte de todo o poder estatal, inclusive devendo estes participarem, livre e plenamente, da aplicação do direito legislado. Desse modo, é dever do juiz, além de atuar nos limites da normatividade jurídica, permitir a participação popular pela via do devido processo legal e constitucional, sendo-lhe vedado decidir sem passar pelos argumentos dos destinatários e sem explicar os motivos pelos quais rejeitou ou acolheu os argumentos apresentados. Nessa perspectiva, a fundamentação racional e jurídica ganha mais importância, na medida em que reduz o espaço de arbitrariedade da autoridade e evita que os destinatários da decisão se transformem em um homo sacer. Sendo assim, o agente governativo não pode, diante de uma suposta lacuna da lei, preenchê-la por meio de suas preferências subjetivas, estando, ao mesmo tempo, dentro e fora do direito. Dando continuidade ao texto, o autor acredita que mais importante do que indagar quem será o governante é saber como fiscalizá-lo. Diante disso, o Estado Democrático de Direto e o discurso processual se apoiam na ideia de poder (indagando sobre quem o emana), na ideia de responsabilidade (de quem o exerce, diretamente ou por delegação) a ideia de controle (fiscalização dos atos praticados pelos agentes públicos). É com base nisso que se pode concluir que todo e qualquer indivíduo que exerce uma função pública ou presta algum serviço público pode ser fiscalizado pelos destinatários de suas decisões, devendo a fiscalização ser exercida dentro de espaços procedimentais de argumentação. Tal espaço deve, necessariamente, ser regido por princípios jurídicos que garantam a existência de um espaço discursivo livre, demarcado, isonômico e não-arbitrário. Nesse viés, o discurso processual não pode esconder os argumentos da crítica irrestrita, visto que essa atitude pode ser considerada antidemocrática por não permitir que seja possível exercer o contraditório,um princípio basilar da democracia. Com isso, trazer a argumentação para fora do direito blinda o discurso processual da fiscalização, retirando dele sua legitimidade democrática. Nessa vertente, o escritor se atém a explicar o mito da lei do Estado Liberal e o mito da autoridade do Estado social, evidenciando que ambos são solipsistas por impedir o contraditório pleno e por criar um espaço de arbítrio totalmente “infiscalizável”. No Estado Liberal, o juiz seria um mero expectador, mera boca da lei, enquanto no Estado Social seria uma espécie de justiceiro, podendo atuar, em nome do sendo de justiça, contra a própria lei. O discurso processual, contudo, não descarta os direitos individuais pregado no Estado liberal, nem os direitos sociais postos no Estado social, mas faz isso sem cair no mito da lei e no mito da autoridade, defendidos, respectivamente, pelos modelos “privatísticos” e socializantes do processo. Outro ponto importante colocado no texto é o fato de que o discurso processual, diferentemente dos discursos dialético e retórico, não se baseia na endoxa. Isso porque a opinião de todos ou da maioria não confere legitimidade necessária ao discurso processual, sendo necessário, para isso, a efetiva participação argumentativa daqueles que sofrerão os efeitos da decisão. Por se basear no devido processo, no respeito à opinião das minorias, bem como na construção compartilhada dos provimentos jurisdicionais, o discurso processual é sui generis. Por fim, Dhenis Madeira conclui com o entendimento de que o discurso processual democrático possui como objetivo central “contribuir argumentativamente para a construção compartilhada do provimento (decisão) jurisdicional.” (MADEIRA, p. 1013). REFERÊNCIA MADEIRA, Dhenis Cruz. Direito Processual: O discurso processual democrático. Minas Gerais: Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, 2012.
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