Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
O papel ético dos profissionais museológicos na produção de conhecimento Uma das áreas que caracterizam a museologia é a Pesquisa, que depende necessariamente da manutenção conservativa do acervo sob guarda da instituição. A pesquisa é o primeiro passo para difundir para o público os conhecimentos que se obterão dos acervos. Disto, a instituição poderá estabelecer estratégias de maior transparência das informações obtidas, meios para estabelecer uma relação com seu público e seu entorno. Toda atividade se torna um ciclo que visa a contínua manutenção dos museus. A relação do homem com o conhecimento deve ser de natureza ética, por envolver não só o pesquisador e os objetos de sua pesquisa, mas também porque o resultado final de tal ato é a difusão destes conhecimentos para outros. O que seria de um museu ou um centro de documentação em que seus profissionais atuam de forma desonesta e não transparente? Toda ação que envolve a produção de conhecimento envolve responsabilidade e transparência. É possível que alguns pesquisadores entendam suas atividades como meros afazeres, como mera obrigação, o que acaba tirando o caráter cuidadoso que se deve ter nesse tipo de ação, assim como em outras áreas - a documentação e a preservação. Produzir conhecimento não é um mero ato automático e repetitivo, é um processo que envolve honestidade intelectual e no qual as pessoas envolvidas devem traçar com passos éticos, não só em relação a si mesmo como pessoa privada, mas como profissional e um sujeito que estará se relacionando com outros. A produção de conhecimento, seja nos museus ou em outras instituições, envolve um ato para com a verdade, não é um ato narcisístico. Nessa área, assim como outras, muitos indivíduos encontram oportunidades de se auto-promoverem, mesmo que isso envolva a transfiguração da pesquisa em produto de vontades próprias para agradar alguém ou algum grupo. Seja na falsificação nesse processo de produção, porque o resultado desagrada a equipe atuante ou porque acreditam que tais informações contradiz seu público. Produzir conhecimento significa estar conectado com a realidade: não às nossas expectativas, mas a como as coisas foram ou são, como se apresentaram ou se apresentam. Nos museus esse procedimento deve ser o mesmo. Essa produção não só envolve responsabilidade e transparência durante seu processo, mas todos os profissionais atuantes também são responsáveis pelos resultados. O conhecimento tem esse caráter de um grande peso. Este peso pode oprimir aquele que possui essa consciência, mas é possível, também, que alguns profissionais se evadam dessa responsabilidade. E tal fenômeno independe do local de produção de conhecimento. O termo adequado para essa evasão é “Ideologia”, cunhado pelo historiador e filósofo Eric Voegelin. Geralmente, define-se ideologia como um “conjunto de ideias” ou até “conjunto de ideais”, mas para Voegelin o termo utilizado traduz um fenômeno muito peculiar: a criação de uma segunda realidade. Um dos exemplos dado pelo autor de uma situação dessas foi o ambiente cultural e intelectual da Alemanha com o desenvolvimento do nazismo, onde poucos foram aqueles que se mantiveram na realidade e não abraçaram a uma “segunda realidade”. Karl Kraus fora um dos nomes que se manteve conectado com a realidade e não sucumbiu ao nazismo: As ideologias destroem a linguagem, uma vez que, tendo o contato com a realidade, o pensador ideológico passa a construir símbolos não mais para expressá-la, mas para expressar sua alienação a ela (VOEGELIN, 2007, p. 39). Alguns podem pensar que a atividade de pesquisa nos museus não envolve uma disposição ética dos seus profissionais por se tratar de objetos musealizados e que já são objetos de documentação. Mas tal não é verdadeiro. Há uma série de ações antiéticas que poderiam minar a instituição: furtos, falsificação ou alteração de documentos, a má conduta profissional que levaria a perda tanto de objetos quanto de informações, além da não difusão dos resultados dessa pesquisa. Essas ações são capazes de minar a produção de conhecimento de uma instituição museológica e o seu serviço para com o público. O papel ético desses profissionais é de importância vital para a continuação do ciclo contínuo dos museus. Hoje, possuímos inúmeras maneiras de divulgação desse processo, principalmente meios virtuais, exposições e passeios históricos - virtuais ou presenciais - que são situações para expor os conhecimentos obtidos; atividades de interação com o público, seja através do Instagram, Facebook, Youtube e outras redes. Mas o mais importante é que estes profissionais tenham consciência do papel que têm enquanto produtores de conhecimento e da responsabilidade que carregam. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CAFÉIL, Ligia. SILVALLL, Lúcia de. PADIHAL, Renata Cardozo. O papel das instituições museológicas na sociedade da informação In Perspectivas em Ciência da Informação, v.19, n.2, p.68-82, abr./jun. 2014. VOEGELIN, Eric. Reflexões Autobiográficas. São Paulo: É Realizações, 2007. Tradução: Maria Inês de Carvalho.
Compartilhar