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Sarah Silva Cordeiro @study.sarahs | 2º período 2021.1 | Metabolismo | MEDICINA – FITS Lipídios Objetivo: 1) Entender as características gerais dos lipídios 2) Compreender o metabolismo dos lipídios 3) Entender os principais exames laboratoriais de diagnóstico com a hipótese do problema 4) Correlacionar a alta ingestão de lipídios com as placas de ateroma 5) Destacar os principais tratamentos medicamentoso e não medicamentoso para alta níveis de lipídios (dislipidemia). 1) Entender as características gerais dos lipídios Propriedades Gerais Um segundo grupo de compostos orgânicos que serve como alimento para o corpo são os lipídios. Lipídios são compostos orgânicos de origem biológica e, de maneira geral, 1. São insolúveis em água. 2. São solúveis em solventes orgânicos como éter, acetona e tetracloreto de carbono. 3. Contêm carbono, hidrogênio e oxigênio; às vezes contêm nitrogênio e fósforo. 4. Na maioria dos casos, quando hidrolisados produzem ácidos graxos ou combinam com ácidos graxos para formar ésteres. 5. Fazem parte do metabolismo vegetal e animal. Ácidos Graxos Tanto lipídios simples como compostos produzem ácidos graxos através da hidrólise. Ácidos graxos são ácidos orgânicos de cadeia linear. Os ácidos graxos encontrados em gorduras naturais contêm geralmente um número par de carbonos. Ácidos graxos podem ser saturados e insaturados. Ácidos graxos saturados contêm apenas ligações simples entre os átomos da cadeia carbônica, ao passo que ácidos graxos insaturados contêm algumas ligações duplas entre os átomos de carbono. Ácidos graxos poliinsaturados contêm muitas ligações duplas. A Tabela 21-1 apresenta alguns ácidos graxos comuns e onde eles são encontrados na natureza. Note que todos contêm um número par de átomos de carbono. Ácidos graxos insaturados têm ponto de fusão menor que os ácidos graxos saturados correspondentes, e quanto maior o grau de instauração, menor o ponto de fusão. O ácido graxo saturado de 18 carbonos, ácido esteárico, funde a 70 °C. O ácido graxo de 18 carbonos com uma insaturação, ácido oleico, funde a 13 °C. O ácido graxo com duas ligações duplas, ácido linoleico, funde a –5 °C; e o ácido graxo de 18 carbonos com três ligações duplas, ácido linolênico, funde a –10 °C Ácidos graxos insaturados podem ser divididos nas seguintes categorias: 1. Monoinsaturados, aqueles que contêm apenas uma ligação dupla. 2. Poliinsaturados, aqueles que contêm muitas ligações duplas. 3. Eicosanóides, que incluem as prostaglandinas, leucotrienos, prostaciclinas e tromboxanos. O ácido linoleico, do ponto de vista nutricional, é chamado de ácido graxo essencial; ele é essencial para a nutrição completa do corpo humano. Ele não pode ser sintetizado no corpo e deve ser fornecido através de nossa alimentação. Os ácidos araquidônico e linolênico, que eram anteriormente tidos como ácidos graxos essenciais, podem ser sintetizados no corpo a partir do ácido linoleico. O ácido linoleico é encontrado em grandes concentrações no milho, sementes de algodão, amendoim e óleo de soja, mas não nos óleos de coco e oliva. Uma das funções desse ácido graxo essencial está na síntese de prostaglandinas. A ausência de um ácido graxo essencial na dieta de uma criança causa perda de peso e também eczema*. Essas condições podem ser curadas pela administração de óleo de milho ou óleo de linhaça. Óleo de linhaça comercial fervido jamais Sarah Silva Cordeiro @study.sarahs | 2º período 2021.1 | Metabolismo | MEDICINA – FITS pode ser usado para esse propósito, pois contém litargírio, um composto venenoso à base de chumbo. As porcentagens de ácidos graxos nos óleos de milho e linhaça, na manteiga e no sebo de origem animal são mostrados na Tabela 21-2. As porcentagens apresentadas são valores médios, já que a composição percentual de uma gordura ou óleo pode variar de forma considerável dependendo do clima e do tipo de alimentação consumida pelo animal, ou de ambos. O ácido oleico (C17H33COOH) ocorre na natureza com configuração cis (ver página 270), sendo o ácido graxo insaturado natural mais abundante. A forma trans é chamada de ácido elaídico. A necessidade de uma baixa quantidade de gorduras saturadas na dieta tem sido fartamente documentada, e muitos indivíduos, bem como estabelecimentos comerciais, os substituíram por óleos vegetais na preparação de alimentos. Gorduras saturadas são encontradas na carne e nos produtos lácteos, e em óleos como o de dendê. Dietas compostas com gorduras saturadas aumentam os níveis sanguíneos de lipoproteínas de baixa densidade (LDL), as quais auxiliam na formação de depósitos de colesterol das paredes arteriais. Óleos vegetais parcialmente hidrogenados têm substituído as gorduras saturadas como uma das maneiras de baixar os níveis tanto de colesterol como de LDL no sangue. Contudo, óleos parcialmente hidrogenados, como as gorduras vegetais sólidas e margarinas, têm um efeito contrário ao desejado. Os óleos vegetais naturais contêm principalmente isômeros cis, mas a hidrogenação parcial produz uma mistura de isômeros cis e trans. São os isômeros trans os causadores de muitos efeitos indesejáveis como a redução dos níveis de HDL (bom colesterol), o aumento dos níveis de LDL (mau colesterol) e o aumento dos níveis de colesterol total. Classificação dos Lipídios Os lipídios são divididos em três categorias principais: simples, complexos e precursores e derivados. Lipídios Simples Lipídios simples são ésteres de ácidos graxos. A hidrólise de um lipídio simples pode ser representada da seguinte forma: lipídio simples + H2O → ácido(s) graxo(s) + álcool (→ hidrolise) Se a hidrólise de um lipídio simples produz três ácidos graxos e glicerol, o lipídio simples é chamado gordura ou óleo. Se a hidrólise de um lipídio simples produz um ácido graxo e um álcool monoídrico de alta massa molecular, o lipídio simples é chamado cera. Lipídios Complexos A hidrólise de lipídios complexos resulta em um ou mais ácidos graxos, um álcool e algum outro tipo de composto. Nessa categoria encontram- se os fosfolipídios e glicolipídios (também chamados de cerebrosídeos, pois são encontrados no cérebro). Fosfolipídios sofrem hidrólise segundo a seguinte reação: fosfolipídio + H2O → ácido graxo + álcool + ácido fosfórico + um composto nitrogenado Os fosfolipídios são também divididos em: (1) fosfoglicerídeos, nos quais o álcool é glicerol; e (2) fosfoesfingosídeos, nos quais o álcool é esfingosina. Glicolipídios (glicoesfingolipídios) sofrem hidrólise da seguinte maneira: glicolipídio + H2O → ácido graxo + um carboidrato + esfingosina (um álcool nitrogenado) Outros lipídios complexos incluem os sulfolipídios e os aminolipídios, bem como as lipoproteínas. Lipídios Precursores e Derivados Lipídios precursores são compostos produzidos quando lipídios simples e complexos sofrem hidrólise. Eles incluem substâncias tais como ácidos graxos, glicerol, esfingosina e outros álcoois. Os derivados dos lipídios são formados pela transformação metabólica dos ácidos graxos. Eles incluem corpos cetônicos, esteróides, aldeídos graxos, prostaglandinas e vitaminas lipossolúveis. Sarah Silva Cordeiro @study.sarahs | 2º período 2021.1 | Metabolismo | MEDICINA – FITS Gorduras e Óleos Estrutura Gorduras são ésteres formados pela combinação de um ácido graxo com um álcool em particular, o glicerol. Se uma molécula de glicerol reage com uma molécula de ácido esteárico (um ácido graxo), é formado gliceril monoestearato. O produto dessa reação pode reagir com uma segunda molécula e em seguida com uma terceira molécula de ácido esteárico. Gliceril triestearato (também chamado de triestearina) é formado pela reação de uma molécula de glicerol com três moléculasde ácido esteárico. Uma vez que o ácido esteárico é um ácido graxo saturado, o produto é uma gordura. Na medida em que o grau de insaturação de um ácido graxo aumenta, seu ponto de fusão diminui. Gorduras com ponto de fusão abaixo da temperatura ambiente são chamados óleos. A molécula de glicerol contém três grupos —OH e assim combina-se com três moléculas de ácido graxo. Contudo, essas moléculas de ácidos graxos podem não ser as mesmas. Gorduras e óleos podem conter três moléculas diferentes de ácidos graxos, as quais podem ser saturadas, insaturadas, ou mesmo uma combinação de ambas. Um exemplo de triglicerídeo misto formado pela reação entre glicerol e três moléculas de ácidos graxos diferentes é mostrado a seguir. Os ácidos graxos são oleico, esteárico e linoleico. Ácido oleico apresenta uma configuração cis em torno da dupla ligação; ácido linoleico tem uma configuração cis-cis. A fórmula precedente para um triglicerídeo misto pode ser escrita de forma condensada como mostra a estrutura indicando a configuração L da maioria dos triglicerídeos de ocorrência natural; mas para simplificar usaremos a estrutura. Número de Iodo Gorduras e óleos insaturados combinam facilmente com iodo, ao passo que para gorduras e óleos saturados essa reação não é tão fácil. Quanto mais insaturados são as gorduras ou óleos, mais iodo irá reagir com eles. O número de iodo de uma gordura ou óleo é o número de gramas de iodo que reagirão com as ligações duplas presentes em 100 g de gordura ou óleo. Quanto maior o número de iodo, maior é o grau de insaturação de uma gordura ou óleo. Em geral, gorduras animais apresentam um número de iodo menor do que óleos vegetais. Isso indica que óleos vegetais são mais insaturados. Esse aumento de insaturação é acompanhado também por uma mudança de estado: gorduras animais são sólidas, e óleos vegetais são líquidos. Gorduras têm número de iodo menor que 70, óleos acima de 70. Óleos vegetais e animais não devem ser confundidos com óleos minerais, os quais são uma mistura de hidrocarbonetos saturados, ou com óleos essenciais, que são líquidos aromáticos voláteis usados como aromatizantes e perfumes. O Uso de Gorduras no Corpo As gorduras servem como combustível no corpo, produzindo mais energia por grama do que qualquer carboidrato e proteína. O metabolismo de gorduras produz 9 kcal/g, ao passo que o metabolismo tanto de carboidratos como de proteínas produz 4 kcal/g. As gorduras servem também como um suprimento de reserva de alimento e energia para o corpo. Se uma pessoa de 70 kg armazenasse energia na forma de carboidratos e não de gorduras, essa pessoa deveria pesar 55 kg adicionais. A gordura é estocada nos tecidos adiposos e serve como um elemento de proteção dos órgãos vitais; ou seja, as gorduras envolvem os órgãos vitais para mantê-los no lugar e também atuar como amortecedores de impacto. Gorduras nas camadas mais externas do corpo atuam como isolantes térmicos, auxiliando a manter o corpo aquecido em climas frios. As gorduras atuam como isolantes elétricos e permitem a rápida propagação de impulsos nervosos. O conteúdo em gordura dos tecidos nervosos é particularmente alto. Gorduras são constituintes das lipoproteínas, que são encontradas nas membranas celulares e nas mitocôndrias, e também servem como meio de transporte de lipídios na corrente sanguínea. Sarah Silva Cordeiro @study.sarahs | 2º período 2021.1 | Metabolismo | MEDICINA – FITS Propriedades Físicas Gorduras e óleos puros são geralmente sólidos e líquidos, respectivamente, de cor branca ou amarela. Gorduras e óleos puros são inodoros e insípidos. Contudo, após certo período as gorduras tornam-se rançosas, e desenvolvem um odor e sabor desagradáveis. Gorduras e óleos são insolúveis em água, mas são solúveis em solventes líquidos orgânicos tais como benzeno, acetona e éter. Gorduras não difundem através de membranas. São mais leves do que a água e apresentam uma sensação escorregadia ao tato. Gorduras e óleos formam uma emulsão temporária quando agitados com água. A emulsão pode tornar-se permanente pela adição de um agente emulsificante como o sabão. Gorduras e óleos devem ser emulsificados pela bile antes que possam ser digeridos. Reações Químicas Hidrólise. Quando as gorduras são tratadas com enzimas, ácidos ou bases, elas hidrolisam para formar ácidos graxos e glicerol. Quando a tripalmitina (gliceril tri-palmitato) é hidrolisada, ela forma ácido palmítico e glicerol, requerendo três moléculas de água. Lembre-se que na formação de uma gordura, a água é um produto. Quando as gorduras são hidrolisadas para formar ácidos graxos e glicerol, o glicerol separa-se dos ácidos graxos e pode ser retirado e em seguida purificado. Glicerol tem usos tanto medicinais como industriais. Saponificação. Saponificação é uma reação que se processa através do aquecimento de uma gordura em presença de uma base forte, como o hidróxido de sódio, para produzir glicerol e o sal de um ácido graxo. O sal de sódio ou potássio de um ácido graxo é chamado de sabão. Hidrogenação. Gorduras e óleos são compostos similares, exceto pelo fato de os óleos serem mais insaturados; ou seja, os óleos contêm maior número de ligações duplas. Essas ligações duplas podem ser transformadas em ligações simples pela adição de hidrogênio. Óleos vegetais podem ser convertidos para gorduras pela adição de hidrogênio em presença de um catalisador. Esse processo é chamado hidrogenação. A hidrogenação é usada para produzir as chamadas manteigas vegetais de uso doméstico. A margarina é preparada através da hidrogenação de certas gorduras e óleos, seguida pela adição de agentes flavorizantes e colorantes, mais vitaminas A e D. Compostos que dão à manteiga seu sabor característico são adicionados às vezes. Na prática, os óleos vegetais não são totalmente hidrogenados. É adicionado hidrogênio suficiente para produzir um sólido à temperatura ambiente. Se um óleo for completamente hidrogenado, a gordura sólida será dura e quebradiça, inadequada para propósitos culinários. Como esperado, a hidrogenação reduz o número de iodo para um valor na faixa típica das gorduras. Teste da Acroleína O teste da acroleína, para verificar a presença de glicerol, é às vezes usado como um teste para gorduras e óleos, uma vez que todas as gorduras e óleos contêm glicerol. Quando o glicerol é aquecido até altas temperaturas, especialmente em presença de um agente desidratante tal como bissulfato de potássio (KHSO4), desse processo resulta um produto chamado acroleína. Essa substância é facilmente reconhecida através de seu forte odor pungente. Quando gorduras e óleos são aquecidos até altas temperaturas ou são queimados, o odor desagradável provém da acroleína. Rancidez. As gorduras desenvolvem odor e sabor desagradáveis quando permanecem ao ar em temperatura ambiente por um certo período. Ou seja, elas tornam-se rançosas. A rancidez ocorre em virtude de dois tipos de reação: hidrólise e oxidação. O oxigênio presente no ar pode oxidar parcialmente algumas insaturações das gorduras e óleos. Se essas reações de oxidação produzem ácidos ou aldeídos de cadeia curta, a gordura torna-se rançosa, como evidenciado pelo odor e sabor desagradáveis. Uma vez que a oxidação, bem como a hidrólise, ocorrem mais rapidamente a temperaturas mais elevadas, gorduras e alimentos que contenham alto percentual de gorduras devem ser estocados em local fresco. A oxidação de gorduras, especialmente compostos vegetais hidrogenados, pode ser inibida pela adição de antioxidantes, substâncias que previnem a oxidação. Dois antioxidantes de ocorrência natural são a vitamina C e a vitamina E. Quando a manteiga é deixada ao ar à temperatura ambiente, ocorre hidrólise entre as gordurase a água presente na manteiga. Os produtos dessa hidrólise Sarah Silva Cordeiro @study.sarahs | 2º período 2021.1 | Metabolismo | MEDICINA – FITS são ácidos graxos e glicerol. Um dos ácidos graxos produzidos, o ácido butírico, tem um odor desagradável, indicando que a manteiga está rançosa. Os catalisadores necessários para a reação de hidrólise são produzidos pela ação de microorganismos presentes no ar, que agem sobre a manteiga. Essa reação ocorre rapidamente à temperatura ambiente, de modo que a manteiga torna-se rapidamente rançosa. Esse efeito pode ser minimizado mantendo-se a manteiga coberta e em local refrigerado. Sabões Sabões são produzidos pela saponificação de gorduras. Sabões são sais de ácidos graxos. Quando o agente saponificante usado é o hidróxido de sódio, um sabão de sódio é produzido. Sabões de sódio são sabões duros, que podem ser colocados na forma de barra. Quando o agente saponificante usado é o hidróxido de potássio, um sabão de potássio é produzido. Sabões de potássio são moles ou líquidos. Sabões podem também ser produzidos pela reação de um ácido graxo com uma base inorgânica, embora esse método seja demasiadamente custoso para que tenha uso comercial. Detergentes Detergentes são compostos sintéticos usados como agentes de limpeza. Eles funcionam como os sabões, mas estão livres das suas várias desvantagens. Os detergentes funcionam bem em água dura, da mesma maneira que em água de baixa dureza. Ou seja, os sais de cálcio e magnésio de detergentes são solúveis e não precipitam na solução (como fazem os sabões de cálcio e magnésio). Lembre-se que os sabões não funcionam tão bem em água dura, pois sais insolúveis de cálcio e magnésio precipitam na solução. Detergentes são geralmente compostos neutros quando comparados com sabões, que são substâncias alcalinas ou básicas. Portanto, os detergentes podem ser usados na lavagem de sedas e lãs, diferentemente dos sabões. Os detergentes são usados na lavagem de roupas e também como agentes de limpeza em pastas de dentes e pós para uso dentário. Lipídios Complexos Fosfolipídios Fosfolipídios são ésteres de fosfatos e podem ser divididos em duas categorias – fosfoglicerídeos e fosfoesfingosídeos —, dependendo de o álcool ser glicerol ou esfingosina. os fosfolipídios também contêm um composto nitrogenado. Fosfolipídios são encontrados em todos os tecidos do corpo humano, particularmente no cérebro, fígado, tecido espinal e membranas celulares. Os fosfolipídios ocorrem também nas membranas de todas as células. Suas propriedades particulares são responsáveis pela passagem de várias substâncias entre o interior e o exterior das células. Considere um fosfoglicerídeo cuja estrutura é representada como: Nos carbonos 1 e 2 do glicerol existem ésteres dos ácidos graxos. No carbono 3 existe um grupo fosfato, que por sua vez está ligado a um composto nitrogenado. Existem muitos fosfoglicerídeos diferentes, dependendo dos tipos de ácidos graxos ligados ao glicerol e também da identidade do composto nitrogenado ligado ao grupo fosfato. A maioria dos fosfoglicerídeos possuem um ácido graxo saturado ligado ao carbono 1 e um ácido graxo insaturado no carbono 2. O grupo fosfato e o composto nitrogenado são substâncias polares, enquanto as moléculas de ácido graxo são apolares. As cadeias do ácido graxo são hidrofóbicas*, apontam para fora da água. O outro extremo da molécula, que contém o composto nitrogenado e o ácido fosfórico, é hidrofílico*, dissolve-se em água. Moléculas desse tipo, com um extremo hidrofóbico (apolar) e um extremo hidrofílico (polar), são chamados de anfipáticas*. Sabões são anfipáticos, assim como os fosfolipídios. Sarah Silva Cordeiro @study.sarahs | 2º período 2021.1 | Metabolismo | MEDICINA – FITS Membranas Celulares. Servem para duas funções importantes: (1) suporte mecânico para separar o conteúdo de uma célula de seu meio externo e (2) suporte estrutural para certas proteínas que servem ao transporte de íons e moléculas polares através da membrana. Algumas dessas proteínas atuam como “portas” e “bombas” para mover determinados materiais através da membrana, excluindo outros. Outras proteínas membranares atuam como “sítios receptores”, pelos quais as moléculas de fora da célula podem enviar mensagens para dentro das células. Um exemplo de tal proteína é o hormônio insulina, que regula o metabolismo da glicose em certas células, mas não atravessa as membranas. No lugar disso, a insulina reage com uma proteína receptora específica situada na parte externa da membrana, e essa proteína receptora, por sua vez, comunica a mensagem específica para o interior da célula. Membranas celulares são compostas, em média, de 40% a 50% de lipídios e 50% a 60% de proteína. Fosfoglicerídeos Uma categoria de fosfolipídio são os fosfoglicerídeos, cuja estrutura geral é mostrada a seguir. Os fosfoglicerídeos podem por sua vez subdividir-se em vários tipos, dependendo do composto nitrogenado presente. Entre esses compostos estão as lecitinas e as cefalinas. Lecitinas. Lecitinas, chamadas de fosfatidilcolinas, são compostos que têm importância particular no metabolismo de gorduras no fígado. Nas lecitinas, o composto nitrogenado é a colina, um álcool. Colina é um exemplo de composto de amônio quaternário Cefalinas. Cefalinas são similares às lecitinas, exceto pelo fato de pos-suírem um outro composto nitrogenado, etanolamina, em vez de colina. O novo nome desse composto é fosfatidiletanolamina. Cefalinas são importantes na coagulação do sangue e também são fontes de ácido fosfórico para a formação de novos tecidos. Compostos similares, fosfatidilserina e fosfatidilinositol, são abundantes nos tecidos cerebrais. Nesses compostos, serina e inositol, respectivamente, aparecem no lugar da colina e da etanolamina das estruturas. Plasmalogênios. Plasmalogênios se parecem estruturalmente com lecitinas e cefalinas, mas têm um éter insaturado no carbono 1 no lugar de um éster. O ácido graxo no carbono 2 do glicerol é geralmente insaturado. Plasmalogênios cons-tituem cerca de 10% dos fosfolipídios encontrados nas membranas do cérebro e nas células musculares. Fosfoesfingosídeos. Fosfoesfingosídeos, chamados também de esfingolipídeos, diferem dos fosfoglicerídeos pelo fato de conterem o álcool esfingosina no lugar de glicerol. Um tipo particular de esfingolipídeo, chamado de esfingomielina, está presente em grandes quantidades no cérebro e nos tecidos nervosos. A fórmula geral para um esfingolipídeo é dada a seguir, e a fórmula estrutural para a esfingomielina é a estrutura. Na doença de Niemann-Pick, que aparece em crianças lactentes, esfingomielinas acumulam-se no cérebro, fígado e baço. A acumulação de esfingomielinas causa o retardamento mental e a morte prematura. Ela é causada pela falta de uma enzima específica, a esfingomielinase. Glicolipídios Glicolipídios são semelhantes às esfingomielinas, exceto por conterem um carboidrato, geralmente galactose, no lugar da colina e do ácido fosfórico. Como nas esfingomielinas, o ácido graxo está ligado a um grupo —NH2 da molécula de esfingosina. Glicolipídios não produzem ácido fosfórico durante a hidrólise pois não contêm esse composto. Glicolipídios são também chamados de cerebrosídios, pois são encontrados em grandes quantidades nos tecidos cerebrais. Entre os glicolipídios estão a querasina, cerebron, nervon, oxinervon e os gangliosídios. Esses compostos diferem principalmente na identidade do ácido graxo ligado à esfingosina. Na doença de Gaucher, glicolipídios acumulam-se no cérebro e causam severo retardamento mental e morte em crianças em torno de 3 anos. As formas adultas e juvenis dessa doença são caracterizadas pelo inchaço do baço e dos rins,hemorragias, anemia moderada e fragilização dos ossos. Essa doença é causada pela falta de uma enzima específica, β-glucosidase. Sarah Silva Cordeiro @study.sarahs | 2º período 2021.1 | Metabolismo | MEDICINA – FITS Derivados de Lipídios Eicosanóides Os eicosanóides são um grupo de compostos com atividade biológica derivados do ácido araquidônico. Eles são compostos extremamente potentes com uma varie-dade de ações, como será discutido nos parágrafos seguintes. Entre os eicosanóides estão as prostaglandinas, os tromboxanos, prostaciclina e os leucotrienos. As Prostaglandinas. As prostaglandinas consistem em ácidos graxos insaturados de 20 carbonos constituídos por um anel de cinco membros e duas cadeias laterais. Um cadeia lateral tem sete carbonos e termina com um grupo ácido (COOH). A outra cadeia contém oito átomos de carbono com um grupo —OH no terceiro carbono a partir do anel. A série E das prostaglandinas tem, além de quatro átomos de carbono quirais, uma configuração trans. Prostaglandinas são derivados do ácido araquidônico, o qual é formado a partir de um ácido graxo, o ácido linoleico, nutricionalmente essencial. Prostaglandinas apresentam grande variedade de efeitos fisiológicos. Elas parecem estar envolvidas nas defesas naturais do corpo contra todas as formas de mudança, incluindo as induzidas por estímulos químicos, mecânicos, fisiológicos e patológicos. Aspirina e outras drogas anti-inflamatórias parecem operar parcialmente pela inibição da síntese de prostaglandina. Prostaglandinas estão envolvidas, em nível celular, na regulação de muitas funções do corpo, incluindo secreção de suco gástrico, contração e relaxamento de músculos lisos, inflamação e permeabilidade vascular, temperatura corporal e agregação das plaquetas sanguíneas. Prostaglandinas estimulam a produção de esteróides pelas glândulas supra-renais e a liberação de insulina do pâncreas. Prostaciclina e Tromboxanos. Prostaciclina tem esse nome pois contém um segundo anel de cinco membros além do anel encontrado nas prostaglandinas. Tromboxanos têm um anel ciclopentano interrompido por um átomo de oxigênio. Prostaciclina é um potente inibidor da agregação de plaquetas e um potente vasodilatador. Os tromboxanos têm um efeito oposto ao da prostaciclina. Eles são aglutinantes potentes das plaquetas sanguíneas e apresentam um intenso efeito de contração sobre vários músculos lisos. Os tromboxanos funcionam em conjunção com prostaciclina na manutenção do sistema vascular. Ambas as substâncias exercem sua influência regulando a produção de cAMP, com os tromboxanos atuando como inibidores e a prostaciclina como um estimulante da produção de cAMP. Leucotrienos. São outro grupo de eicosanóides derivados do ácido araquidônico. O tri refere-se aos três grupos alternados de ligações duplas na molécula. Um desses grupos, leucotrieno C, está envolvido nas respostas alérgicas do corpo. Ele causa a constrição das vias respiratórias aos brônquios durante um ataque de asma. Esteróides. Esteróides são compostos tetracíclicos (quatro anéis) de alta massa molecular. Aqueles contendo um ou mais grupos —OH e nenhum grupo C=O são chamados esteróis. O esterol mais comum é o colesterol, o qual é encontrado em gorduras animais mas não em gorduras vegetais. O colesterol é encontrado em todos os tecidos animais, particularmente no cérebro e nos tecidos nervosos, na corrente sanguínea e nos cálculos biliares. Ele auxilia na absorção de ácidos graxos no intestino delgado. A maior parte do colesterol do corpo humano é derivado ou sintetizado a partir de outras substâncias tais como carboidratos e proteínas, bem como de gorduras. O restante provém da dieta. Aterosclerose, uma forma de arteriosclerose, resulta da deposição de excesso de lipídios, principalmente triglicerídeos e colesterol, da corrente sanguínea. Desses dois, o colesterol oferece um risco maior ao bem-estar da pessoa, embora o excesso de triglicerídeos também represente um risco significativo. Uma maneira de combater doenças do coração e aterosclerose é reduzir a concentração de lipídios na corrente sanguínea, seja pela redução na ingestão de lipídios ou através do uso de drogas anti- hiperlipidêmicas, que tendem a reduzir os níveis de lipídios no sangue. Observou-se que certos óleos insaturados de peixe e de vegetais, quando usados em substituição às gorduras saturadas, causam a redução do nível de colesterol no soro sanguíneo. Sarah Silva Cordeiro @study.sarahs | 2º período 2021.1 | Metabolismo | MEDICINA – FITS O nível de colesterol em seres humanos deve variar entre 200 e 220 mg/dL, com níveis ligeiramente maiores considerados normais em indivíduos mais idosos. Níveis elevados de colesterol devem ser controlados, geralmente através de dieta. Em casos extremos, drogas redutoras de colesterol como a pravastatina ou lovastatina podem ser prescritas. O colesterol não ocorre em plantas. Ergosterol é um esterol semelhante ao colesterol. Quando ergosterol é irra-diado (exposto à radiação) com luz ultravioleta, um dos produtos formados é o calciferol (vitamina D2). Outros esteróides incluem sais biliares, hormônios sexuais e os hormônios da glândula supra-renal. 2) Compreender o metabolismo dos lipídios Níveis Plasmáticos de Lipídios Durante a digestão, gorduras e fosfolipídios são emulsificados e então hidrolisados em ácidos graxos e glicerol. Os produtos são sintetizados para gerar triglicerídeos na mucosa intestinal e fluir para o interior do duto torácico e então para a corrente sanguínea. Contudo, tais substâncias são insolúveis tanto na água como no sangue. Para serem transportados pelo sangue, gorduras e fosfolipídios formam um complexo com proteínas plasmáticas (hidrossolúveis). Tais complexos são chamados lipoproteínas. Anormalidades no metabolismo de lipídios conduzem a vários tipos de hipolipoproteinemia ou hiperlipoproteinemia. A anormaliadade mais comum é o diabetes, em que a deficiência de insulina leva à hipertriacilglicerolemia. Absorção de Gordura A digestão de gorduras ocorre principalmente no intestino delgado, com a hidrólise produzindo ácidos graxos e glicerol. Antes de serem digeridas, as gorduras devem ser emulsificadas pelos sais biliares. Os produtos da digestão de gorduras passam através dos lácteos* das vilosidades intestinais* para o interior dos vasos linfáticos*, onde aparecem na forma de gorduras ressintetizadas. Após passar pelos vasos linfáticos, as gorduras fluem através do duto torácico para a corrente sanguínea e então para o fígado. Após as refeições o teor de gorduras no sangue aumenta e permanece em um nível elevado por várias horas; então decresce gradualmente até o nível de jejum. No fígado, algumas das gorduras são transformadas em fosfolipídios; assim, o sangue que deixa o fígado contém gorduras e fosfolipídios. Esses fosfolipídios, tais como a esfingomielina e lecitina, são necessários para a formação de nervos e tecidos cerebrais. As lecitinas (fosfatidil colinas) estão também envolvidas no transporte de gorduras para os tecidos. A cefalina, um outro fosfolipídio, está envolvida na coagulação normal do sangue. Depois de passar pelo fígado, uma parte das gorduras vai para as células, onde são oxidadas para fornecer calor e energia. O excesso de gordura, acima daquele necessário para as células, é armazenado na forma de tecido adiposo. A lipólise, a hidrólise de triacilgliceróis (triglicerídeos) para ácidos graxos e glicerol é controlada principalmente pela quantidade de cAMP presente nos tecidos. Hormônios que estimulam a produção de cAMP e assim aumentam a lipólise incluem a epinefrina, a norepinefrina, o glucagon, o hormônio adrenocorticotrópico (ACTH), os hormônios α e β melanócito-estimuladores (MSH), o hormôniotireóide-estimulador (TSH), o hormônio de crescimento (GH) e a vasopressina. Contudo, a insulina e as prostaglandinas deprimem os níveis de cAMP e deste modo diminuem a taxa de lipólise. A enzima que degrada cAMP é inibida por metil xantinas tais como a cafeína e a teofilina. Um efeito não usual dessa inibição é a presença de uma elevação definida e prolongada dos níveis de ácidos graxos livres no corpo daqueles que bebem grandes quantidades de café (que contém cafeína). Oxidação de Gorduras A oxidação de gorduras (triglicerídeos) envolve na verdade a oxidação de dois produtos de hidrólise: glicerol e ácidos graxos. Essa sequência é bloqueada pela insulina ou por altos níveis de glicose. Sarah Silva Cordeiro @study.sarahs | 2º período 2021.1 | Metabolismo | MEDICINA – FITS Oxidação do Glicerol Esse composto pode ser convertido em glicogênio no fígado e tecidos musculares ou em ácido pirúvico, o qual entra no ciclo de Krebs. Assim, a porção glicerol de uma gordura é metabolizada através da sequência de carboidratos. Oxidação de Ácidos Graxos Existem várias teorias sobre a oxidação de ácidos graxos. A primeira delas, proposta por Knoop em 1905 e ainda hoje a preferida, é chamada de teoria da β- oxidação. Essa teoria envolve a oxidação do segundo átomo de carbono a partir do extremo ácido da molécula de ácido graxo: o átomo de carbono β. Nesse processo a β -oxidação remove dois átomos de carbono de uma única vez da cadeia do ácido graxo. Ou seja, um ácido graxo de 18 carbonos é oxidado para um ácido graxo de 16 carbonos, então para um ácido graxo de 14 carbonos, e assim por diante, até que o processo de oxidação se complete. Os ácidos graxos insaturados são metabolizados lentamente. Eles devem ser primeiro reduzidos por uma das desidrogenases encontradas nas células. Eles podem então seguir o ciclo de oxidação dos ácidos graxos. Energia Produzida pela Oxidação de Ácidos Graxos A oxidação de 1 g de gordura produz mais que o dobro de energia que a oxidação de 1 g de carboidrato. Corpos Cetônicos (Acetona) Em um paciente diabético, ou em outra situação na qual o metabolismo de carboidratos vê-se restringido, nosso corpo usa oxaloacetato para produzir glicose para o cérebro e os músculos. Isso reduz a quantidade de oxaloacetato disponível para o ciclo de Krebs, e a acetil CoA não pode ser metabolizada apropriadamente. Quando isso ocorre, a acetil CoA é transformada para acetoacetil CoA, a qual é convertida para ácido acetoacético no fígado pela enzima deacilase. Essas três substâncias: ácido acetoacético, ácido-β- hidroxibutírico e acetona, são comumente conhecidas como corpos cetônicos. Eles são transportados pelo sangue para os músculos e tecidos, onde são convertidos novamente para aceto-cetil CoA e então oxidados normalmente. Contudo, em pacientes com diabetes a produção desses corpos cetônicos pelo fígado ultrapassa a capacidade dos músculos e tecidos de promover sua oxidação, e eles se acumulam no sangue. Cetose O acúmulo em excesso de corpos cetônicos no sangue é chamado de cetonemia. O acúmulo em excesso de corpos cetônicos na urina é chamado de cetonúria. A acumulação total de corpos cetônicos no sangue e urina é chamada de cetose. Durante a cetose, a acetona pode ser detectada na respiração do paciente, pois é um composto volátil, que tende a evaporar rapidamente e é facilmente excretado pelos pulmões. A cetose pode ocorrer em casos de diabetes melito, inanição e danos severos ao fígado, ou dietas ricas em gorduras e baixas em carboidratos. No diabetes melito nosso corpo é incapaz de oxidar carboidratos ou, ainda, de oxidar gorduras, o que conduz ao acúmulo de corpos cetônicos no sangue e na urina. Esses corpos cetônicos têm caráter ácido e tendem a diminuir o pH do sangue. A redução do pH do sangue é chamada de acidose e pode levar a um estado de coma fatal. Durante a acidose, um aumento na ingestão de água se faz necessário para eliminar os produtos do metabolismo. A menos que a quantidade de água ingerida seja aumentada para um paciente diabético, pode ocorrer desidratação. A desidratação em pacientes com diabetes pode ser causada também pela poliúria, em virtude do aumento da quantidade de glicose na urina. Do mesmo modo, durante a inanição prolongada ou no caso de uma dieta rica em gorduras e baixa em carboidratos, o corpo tende a queimar gorduras no lugar de carboidratos, o que conduz à cetose e acidose. No caso de danos graves ao fígado, este não pode armazenar glicogênio nas quantidades necessárias. A diminuição resultante da quantidade de carboidratos necessária para oxidação normal de gorduras leva à cetose. Doenças Metabólicas Causadas Pela Deficiência na Oxidação de Ácidos Graxos 1. Doença jamaicana vomitiva é causada por ingestão de frutos verdes de algumas árvores tropicais da América Central, da família das Saporáceas. Os frutos verdes dessas árvores contêm hipoglicina, substância que inativa Sarah Silva Cordeiro @study.sarahs | 2º período 2021.1 | Metabolismo | MEDICINA – FITS acil-CoA-desidrogenase, inibindo assim a - oxidação e causando hipoglicemia. 2. Doença de Refsum, uma rara doença genética, é causada pelo acúmulo de ácido fitânico. O ácido fitânico, por sua vez, bloqueia a β- oxidação. 3. Deficiência hepática de carnitina palmitoiltransferase produz hipoglicemia e baixo nível plasmático de corpos cetônicos. 4. Deficiência muscular de carnitina palmitoiltransferase conduz à oxidação deficiente de ácidos graxos, causando fraqueza muscular. Armazenamento de Gordura Gordura em excesso à requerida para o processo oxidativo normal do nosso corpo é armazenada na forma de tecidos adiposos sob a pele e ao redor dos órgãos internos. Essa gordura armazenada serve para propósitos importantes: 1. Suprimento de reserva alimentar. 2. Suporte para os órgãos internos. 3. Absorção de choques para os órgãos internos. 4. Isolamento do interior do corpo contra mudanças externas bruscas de temperatura. A gordura armazenada em nosso corpo está em equilíbrio com aquela presente na corrente sanguínea; ou seja, as gorduras armazenadas nos tecidos adiposos não permanecem ali simplesmente como compostos inertes até que sejam necessários. Elas são continuamente utilizadas e repostas, e existe sempre uma transferência dinâmica entre corrente sanguínea e tecidos adiposos. A obesidade (20% ou mais acima do peso normal) é uma condição na qual o excesso de gordura é depositado no tecido adiposo. Uma pessoa ingere mais alimento que seu corpo pode queimar, e o excesso é convertido em gordura e armazenado como tecido adiposo. Para cada 9 kcal de alimento ingerido em excesso aos requisitos corporais, 1 g de gordura é depositado. A maioria das pessoas apresentam tendência ao excesso de peso à medida que envelhecem, pois necessitam menor quantidade de alimento para manter-se e exercitam-se menos que as pessoas mais jovens. Em geral, a obesidade leva a uma menor expectativa de vida. Uma pessoa com excesso de peso corre riscos acima do normal de desenvolver doenças cardiovasculares, diabetes ou doenças hepáticas. Um peso 10% acima do considerado normal para uma pessoa de certa idade e estatura pode causar problemas médicos. A resposta para a obesidade está na dieta adequada, efetuada sob supervisão médica, pois o metabolismo do corpo é um mecanismo altamente intrincado e que pode ser facilmente perturbado. A acumulação excessiva de triglicerídeos no fígado conduz à cirrose e à função hepática deficiente. Tal acúmulo pode ser causado tanto por níveis plasmáticos elevados de ácidos graxos livres como pelo bloqueio da produção de lipoproteínas plasmáticas a partir dos ácidos graxos livres. O alcoolismo crônico também leva à hiperlipidemia e eventualmenteà cirrose. Lipogênese Lipogênese, a conversão de glicose em gorduras, ocorre no fígado e nos tecidos adiposos, sendo estes últimos o lugar predominante. A insulina é necessária para a lipogênese tanto no fígado como nos tecidos adiposos. O principal fator no controle da taxa de lipogênese é o estado nutricional do organismo. Se uma pessoa consome uma dieta rica em carboidratos, a taxa de lipogênese aumenta. Se uma pessoa está sob uma dieta restrita em calorias ou rica em gorduras, ou quando existe uma deficiência de insulina, como no caso de diabetes melito, a taxa de lipogênese diminui. Ocorre também um aumento da concentração plasmática de ácidos graxos livres associado com o decréscimo da taxa de lipogênese. A síntese de ácidos graxos ocorre na mitocôndria e no citoplasma celular, especialmente neste último. O processo na mitocôndria envolve o aumento no comprimento da cadeia dos ácidos graxos de comprimento moderado, enquanto o processo citoplasmático envolve a síntese dos ácidos graxos a partir da acetil CoA. Síntese de Fosfolipídios Os fosfolipídios são muito importantes, pois formam (ao lado das proteínas) a base estrutural do sistema de membranas celulares. Colesterol O colesterol é encontrado em todas as células do corpo, mas particularmente no cérebro e nos tecidos nervosos. O colesterol está presente em gorduras de origem animal, mas não é encontrado em gorduras vegetais. Um adulto ingere normalmente 500 mg diários de colesterol presentes em alimentos como a gema de ovo, gorduras da carne, fígado e óleos de Sarah Silva Cordeiro @study.sarahs | 2º período 2021.1 | Metabolismo | MEDICINA – FITS fígado. Além disso, o corpo produz 500 mg de colesterol diariamente. Do colesterol produzido no corpo, 50% é produzido pelo fígado, 15% pelo intestino, e a pele produz o restante para que o balanço seja completado. Contudo, quase todos os tecidos contendo células nucleadas são capazes de sintetizar colesterol. O colesterol normalmente é eliminado na bílis. Entretanto, às vezes ele se deposita na vesícula na forma de cálculos biliares. Se o colesterol é depositado nas paredes das artérias maiores, essa condição é conhecida como aterosclerose, um tipo de endurecimento das artérias. Quando isso ocorre, o diâmetro útil dos vasos sanguíneos é reduzido. A elasticidade das paredes arteriais diminui. Ocorre uma interferência sobre a taxa de fluxo sanguíneo, pela maior fricção causada pelo revestimento irregular dos vasos sanguíneos. Esse revestimento irregular pode causar também a formação de coágulos, à medida que o sangue flui sobre esse tipo de superfície, conduzindo ao infarto de miocárdio. O colesterol é importante como um precursor de muitos esteróides importantes, tais como a vitamina D, os hormônios sexuais e os hormônios adrenocorticais (os hormônios do córtex das glândulas supra-renais). Síntese do colesterol O colesterol é sintetizado principalmente no fígado, mas o córtex supra-renal, a pele, os testículos, a aorta e os intestinos também são capazes de sintetiza-lo. Essa síntese ocorre nas partes microssômica e citossômica da célula. Acetil CoA é o material de partida e é também a fonte de todos os átomos de carbono do colesterol 3) Entender os principais exames laboratoriais de diagnóstico com a hipótese do problema Diagnóstico: O diagnóstico de dislipidemia baseia-se na dosagem dos lipídios séricos: colesterol total, HDL-C e triglicerídeos. A dosagem direta do LDL-C não é necessária, podendo o cálculo ser feito por meio da fórmula de Friedewald [LDL-C = (CT - HDL-C) - (TG/5)], quando o valor dos triglicerídeos for inferior a 400 mg/dL. Para os casos em que o nível dos triglicerídeos for superior a 400 mg/dL, utiliza-se como critério o colesterol não HDL [não HDL-C = CT – HDL-C], cujo alvo é 30 mg/dL acima do alvo de LDL-C (isto é, para pacientes cujo LDL-C alvo for 100 mg/dL, o alvo de não HDL-C será 130 mg/dL). Para o diagnóstico e a detecção dos pacientes sob risco de desenvolvimento de eventos cardiovasculares, o primeiro passo é a identificação dos que já apresentam manifestação prévia da doença. Estes pacientes têm elevado risco de novos eventos. Para os sem manifestação prévia da doença, o Escore de Risco de Framingham. O diagnóstico de hipercolesterolemia familiar deve ser considerado se houver níveis muito elevados de colesterol (acima do percentil 90), presença de xantomas tendinosos, arco córneo em paciente com menos de 45 anos, xantomas tuberosos ou xantelasma em pacientes com menos de 25 anos e familiar de primeiro grau com as manifestações anteriores. Os critérios diagnósticos de hipercolesterolemia familiar definidos pela Organização Mundial da Saúde estão descritos no Quadro 1. O diagnóstico da dislipidemia é feito, laboratorialmente, medindo-se os níveis plasmáticos de colesterol total e suas frações (LDL-colesterol ou “colesterol ruim” e o HDL-colesterol ou “colesterol bom”) e triglicérides. 4) Correlacionar a alta ingestão de lipídios com as placas de ateroma Doenças Associadas ao Armazenamento de Lipídios Glicolipídios são constituintes dos nervos e do tecido cerebral. Se esses compostos acumulam-se em virtude da decomposição do sistema enzimático, ocorrem anormalidades genéticas como a doença de Tay-Sachs, a doença de Niemann-Pick e a doença de Gaucher. Se o colesterol é depositado nas paredes das artérias maiores, essa condição é conhecida como aterosclerose, um tipo de endurecimento das artérias. Quando isso ocorre, o diâmetro útil dos vasos sanguíneos é reduzido. A elasticidade das paredes arteriais diminui. Ocorre uma interferência Sarah Silva Cordeiro @study.sarahs | 2º período 2021.1 | Metabolismo | MEDICINA – FITS sobre a taxa de fluxo sanguíneo, pela maior fricção causada pelo revestimento irregular dos vasos sanguíneos. Esse revestimento irregular pode causar também a formação de coágulos, à medida que o sangue flui sobre esse tipo de superfície, conduzindo ao infarto de miocárdio. O colesterol é importante como um precursor de muitos esteróides importantes, tais como a vitamina D, os hormônios sexuais e os hormônios adrenocorticais (os hormônios do córtex das glândulas supra-renais). Dislipidemia, também chamada de hiperlipidemia, refere-se ao aumento dos lipídios (gordura) no sangue, principalmente do colesterol e dos triglicerídeos. Como o colesterol é insolúvel na água, utiliza-se para seu transporte de uma molécula de gordura e proteína = lipoproteína. Uma, a LDL colesterol (do inglês low density lipoprotein), ou seja, lipoproteína de baixa densidade também conhecida como mau colesterol ou colesterol ruim transporta o colesterol do fígado para o sangue e para os tecidos. A outra, HDL colesterol (do inglês High density lipoprotein), ou seja, lipoproteína de alta densidade o devolve ao fígado. O HDL é conhecido como o bom colesterol porque remove o excesso de colesterol e traz de volta ao fígado onde será eliminado. As dislipidemias podem ser primárias devidas a causas genéticas e por influência ambiental devido à dieta inadequada e/ou sedentarismo e secundárias a algumas doenças/fatores de risco e medicamentos como: Doenças/fatores de risco: Hipotireoidismo (eleva níveis de LDL pela diminuição do número de receptores hepáticos para LDL), Insuficiência renal crônica (aumento dos triglicerídeos), Obesidade (aumento dos triglicerídeos e redução de HDL), Fumo (reduz HDL e oxida o LDL), Alcoolismo (aumento dos triglicerídeos), Diabetes mellitus (aumenta triglicerídeos e diminui HDL) Nos dias atuais, em que predominam o sedentarismo, alimentação abundante em gordura e açúcar, obesidade, estresse e tabagismo, os estudos têm mostrado que as placas de gordura nas artérias começam muito cedo. A estimativa é a de que, aos20 anos, cerca de 20% das pessoas estarão afetadas de alguma forma. Assim, os eventos finais deste processo, infarto e derrame, são as maiores causas de morte. Quando o LDL está em excesso no sangue lesa os vasos e ainda se deposita na parede formando as placas de ateroma (gordura). Esse processo é chamado de aterosclerose. O excesso de colesterol no sangue é um dos principais fatores de risco da aterosclerose. Ele está relacionado às doenças cardiovasculares (angina, infarto) e cerebrovasculares (derrame). O risco de doença aterosclerótica coronariana aumenta, significativamente, em pessoas com níveis de colesterol total e LDL acima dos patamares da normalidade. Para colesterol HDL, a relação é inversa: quanto mais elevado seu valor, menor o risco. Os ácidos graxos saturados de origem animal (carnes vermelhas gordas, ovos, manteiga, queijos amarelos etc.), e as gorduras trans (presente nas margarinas vegetais, biscoitos, bolos e outros doces) elevam os níveis de colesterol ruim no sangue e podem também diminuir o colesterol bom. Os triglicerídeos são um dos componentes gordurosos do sangue e sua elevação está relacionada, também com as doenças cardiovasculares, cerebrovasculares e doenças digestivas (pancreatite). 5) Destacar os principais tratamentos medicamentoso e não medicamentoso para alta níveis de lipídios (dislipidemia). Reduzindo o Colesterol Sérico Se uma dieta baixa em colesterol não levar à redução dos níveis de colesterol aos seus valores adequados, o uso de certos hipolipidêmicos pode ser indicado. Entre essas drogas encontram-se as estatinas (lovastatina, pravastatina, sinvastatina e fluvastatina), que inibem a síntese de colesterol na primeira etapa da cadeia; o sitosterol (Cytellin), que bloqueia a absorção de colesterol a partir do trato gastrointestinal; a colestiramina (Questran), que atua impedindo a reabsorção dos sais biliares; o genfibrozol (Lopid), que aumenta a oxidação dos ácidos graxos e diminui a secreção de triacilgliceróis; o probucol (Lorelco), que aumenta o catabolimo dos LDL; e o ácido nicotínico, que inibe a produção de VLDL no fígado. Sarah Silva Cordeiro @study.sarahs | 2º período 2021.1 | Metabolismo | MEDICINA – FITS Medicamentos: diuréticos tiazídicos (podem aumentar os triglicerídeos), betabloqueadores (podem aumentar os triglicerídeos e reduzem HDL), corticóides (podem aumentar os triglicerídeos), estrógenos (podem aumentar os triglicerídeos) Prevenção A realização de exercícios físicos é fundamental para reduzir colesterol total, LDL, trigliceridios e aumentar o HDL. A maior parte do HDL é determinado geneticamente, mas a realização de exercícios físicos regulares, a suspensão do fumo em fumantes e a redução de peso em obesos pode aumentá-lo. Portanto, mesmo que você se veja enquadrado em algum dos casos acima, nada melhor do que começar hoje uma mudança de seus hábitos para práticas mais saudáveis e passar a visitar seu médico ou unidades básicas de saúde para consultas e exames periódicos. Estatinas O grupo das estatinas foi o primeiro a apresentar evidência de benefício no tratamento da dislipidemia. Tempo de tratamento – critérios de interrupção O tratamento deve ser feito de modo contínuo. Efeitos adversos (como mialgias durante o uso dos medicamentos e elevação de creatinofosfoquinase (CPK) 10 vezes acima do valor normal, ou AST- TGO/ALTTGP 3 vezes acima do valor normal) ou surgimento de contraindicações determinarão sua suspensão. Referências Química e bioquímica para ciências biomédicas – Lehman http://www.riocomsaude.rj.gov.br/site/Conteudo/Fic ha.aspx?C=1210#:~:text=Quando%20o%20LDL%20est %C3%A1%20em,fatores%20de%20risco%20da%20ate rosclerose. https://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2014 /abril/02/pcdt-dislipidemia-livro-2013.pdf http://www.riocomsaude.rj.gov.br/site/Conteudo/Ficha.aspx?C=1210#:~:text=Quando%20o%20LDL%20est%C3%A1%20em,fatores%20de%20risco%20da%20aterosclerose http://www.riocomsaude.rj.gov.br/site/Conteudo/Ficha.aspx?C=1210#:~:text=Quando%20o%20LDL%20est%C3%A1%20em,fatores%20de%20risco%20da%20aterosclerose http://www.riocomsaude.rj.gov.br/site/Conteudo/Ficha.aspx?C=1210#:~:text=Quando%20o%20LDL%20est%C3%A1%20em,fatores%20de%20risco%20da%20aterosclerose http://www.riocomsaude.rj.gov.br/site/Conteudo/Ficha.aspx?C=1210#:~:text=Quando%20o%20LDL%20est%C3%A1%20em,fatores%20de%20risco%20da%20aterosclerose https://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2014/abril/02/pcdt-dislipidemia-livro-2013.pdf https://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2014/abril/02/pcdt-dislipidemia-livro-2013.pdf Sarah Silva Cordeiro @study.sarahs | 2º período 2021.1 | Metabolismo | MEDICINA – FITS
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