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IMUNIDADE, ISENÇÃO, ALÍQUOTA ZERO E NÃO INCIDÊNCIA Um ponto importante para a compreensão de todo o Direito Tributário é a distinção entre os seguintes institutos: imunidade, isenção, alíquota zero e não incidência. Isso porque a distinção passa pela compreensão de todo o processo de tributação. Repisando: tributar é criar e cobrar tributo. A tributação tem sua raiz permissiva na Constituição Federal, onde nasce o poder de tributar, que é exercido através da competência tributária. Portanto, o «start» tributário nasce na Constituição Federal, que outorga o poder de tributar aos entes federativos por meio do exercício da competência tributária. Entretanto, a Constituição Federal não só diz o que pode ser tributado, mas também o que não pode ser tributado. Ou seja, na via da outorga do poder de tributar, a Constituição dá a competência; na mão contrária, a Constituição retira qualquer possibilidade de se exercer a tributação, por meio da imunidade. Quando dá a competência, a Constituição Federal outorga poder para tributar; quando retira a competência, a Constituição estabelece uma imunidade. A imunidade é uma norma que estabelece uma determinação de não fazer, ou uma norma de incompetência; é uma ordem de não tributação, estabelecida pelo mesmo texto constitucional que dá a ordem de tributação. A fonte é a mesma, seja para tributar, seja para não tributar: o pressuposto para o exercício da competência tributária nasce na Constituição Federal; as imunidades nascem também na Constituição Federal. Assim, a imunidade é a expressão do arquétipo constitucional, representação da fonte normativa do poder de tributar e de não tributar: a Constituição Federal. A medida da tributação, tal como outorgada pela CF/88, é o resultado da competência tributária aberta aos entes tributantes, subtraídas as imunidades. O resultado essa equação é a exata medida da competência para se exercer a tributação. Desse modo, a outorga da competência para tributar não é um mandamento «cego»: aquele que recebe o poder de instituir determinado tributo tem o dever de aferir a capacidade contributiva antes de criá-lo. Depois de criado o tributo, essa aferição deve ser constante, de modo que a dose da capacidade de contribuir deve ser medida todo o tempo. Vamos a um exemplo. A União, os Estados, DF e Municípios recebem competência tributária para instituir impostos, pelo art. 145, I, da CF/88. A União, especificamente, recebe competência para instituir o imposto sobre «renda e proventos de qualquer natureza» .Ao outorgar essa competência, a própria Constituição Federal também estabelece uma incompetência: não se pode tributar a renda dos demais entes federativos, por força da imunidade tributária recíproca . Recebida a competência em sua exata medida, a União não está autorizada a tributar toda e qualquer renda e proventos, mas apenas a renda e proventos que representem capacidade contributiva. Ou seja, a instituição tributária passa por uma dosagem por ocasião da efetiva criação do tributo. É por esse motivo que, até determinado valor mensal , não se tributa a renda. Assim, embora a renda surja, conceitualmente e de fato, quando se ganha qualquer centavo por mês, a renda tributável será aquela que representa a capacidade efetiva de contribuir, de participar da tributação. Renda, como fato da vida, é uma coisa; renda tributável, é outra coisa. Quando você toma a renda e a adjetiva de «tributável», deve ter em mente que essa qualificação passa por um exame da capacidade contributiva. Desse modo, na dosagem da tributação da renda, a União entendeu que a medida da capacidade de contribuir surge a partir de quase 2 mil reais mensais; abaixo disso, a renda simplesmente não é tributada. Importante destacar que a isenção exige lei específica para sua instituição, diferentemente da determinação genérica para a instituição do tributo. Entendeu o STF que a lei específica, para efeitos de isenção fiscal, estará atendida mesmo quando a legislação tratar de outras temáticas, desde que conexas com o benefício fiscal. No caso da Lei Geral da Copa, é evidente não foi tratada apenas a isenção, mas todos os demais temas da lei disseram respeito a uma mesma temática: a regulação de um evento esportivo específico. Assim, considerou o STF que se tratava de uma «lei específica». Até aqui espero estar bem firmada a diferença entre imunidade e isenção. Passemos a diferenciar a imunidade e a isenção da «não incidência», também conhecida como «não incidência pura e simples». A não incidência é simplesmente a constatação de que um fato da vida não se amolda ao tipo tributário. Por exemplo, a Constituição Federal autoriza que os Estados instituam o IPVA, imposto sobre a propriedade de veículos automotores. Desse modo, se alguém possui uma bicicleta importada de 30 mil reais, há a constatação de que essa realidade não se amolda ao conceito de «veículo automotor». Não há, aqui, exame de imunidade, tampouco de norma de isenção, mas tão somente da incidência do próprio tributo sobre a realidade posta. A não incidência confronta norma e fato. A imunidade decota as possibilidades instituídas de um tributo. A isenção dispensa legalmente o pagamento de um tributo, nesse caso, não fosse ela, o tributo seria plenamente devido. Em outras palavras, o Judiciário não dispensou o pagamento de um tributo devido, a Constituição Federal não prevê nenhuma imunidade para o caso, tampouco há lei que isenta o recebimento de dano moral do imposto de renda. Simplesmente, cumprindo seu papel de interpretar a lei tributária , o Poder Judiciário confrontou a norma e o fato e concluiu pela ausência de subsunção normativa. Com as devidas adaptações, é como afastar a tipicidade penal de um fato; o crime existe, como norma hipotética e abstrata, mas o fato da vida não se amolda a ele. Portanto, a não incidência é o confronto negativo entre fato e norma, quando aquele não se amolda a esta. Por fim, temos o fenômeno da alíquota zero. Já vi professores chamarem a alíquota zero de «isenção numérica ou matemática». Com o máximo respeito, não simpatizo com a forma de exposição. Isenção, tecnicamente, tem uma classificação no CTN: é causa de exclusão do crédito tributário. A semelhança da isenção com a alíquota zero reside no fato de que ambas são benefícios fiscais. Imunidade e a «não incidência pura e simples» não são benefícios fiscais, mas a isenção e a alíquota zero são favores fiscais. Referência Bibliográfica: GRILO, Renato; Direito Tributário; 2ª edição; Brasilia; CP Iuris; 2021.
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