DISSERTAÇÃO SOBRE AS ESPÉCIES DE SUCESSÃO E DE SUCESSORES

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Disserte sobre as espécies de sucessão e de sucessores, principalmente quanto à sucessão legítima e testamentária; liberdade de testar; sucessão a título universal e a título singular; sucessão contratual; sucessões irregulares; e espécies de sucessores.

Como leciona Flávio Tartuce, em citação à José de Oliveira Ascensão, \u201co Direito das Sucessões realiza a finalidade institucional de dar a continuidade possível ao descontínuo causado pela morte\u201d. Destarte, tal instituto está baseado, ainda nas lições de Flávio Tartuce, no direito de propriedade e na sua função social (art. 5.º, incs. XXII e XXIII, da CF/88), porém, mais do que isso, a sucessão mortis causa tem esteio na valorização constante da dignidade humana, seja do ponto de vista individual ou coletivo, conforme o art. 1.º, inc. III, e o art. 3.º, inc. I, da CF/88.

Deste modo, como aduz Gustavo Tepedino, a existência da pessoa natural termina com a morte (art. 6º, CC/02). Contudo, nem todas as titularidades se extinguem com ela. Algumas transmitem-se aos sucessores do titular anterior, o de cujus , e ocorre, dessa forma, o fenômeno sucessório.

Assim, costumam-se identificar as espécies de sucessão conforme sua fonte ou seus efeitos. Quanto à fonte, a sucessão pode ser legítima ou testamentária, conforme decorra respectivamente da lei ou de disposição de última vontade, nos termos do art. 1.786 do Código Civil.

Isso significa dizer, pois, que sucessão legítima é aquela que enuncia a ordem de vocação hereditária, presumindo a vontade do autor da herança, sendo também denominada sucessão ab intestato justamente por inexistir testamento. Já a sucessão testamentária tem origem em ato de última vontade do morto, por testamento, legado ou codicilo, mecanismos sucessórios para exercício da autonomia privada do autor da herança.

Ademais, consoante ao disposto na obra de Gustavo Tepedino, a sucessão legítima ocorrerá sempre que existirem herdeiros necessários (art. 1.845, CC/02), vez que a lei lhes destina uma reserva hereditária, da qual não podem ser privados por ato voluntário do autor da herança. Contudo, poderá haver concomitantemente sucessão legítima e testamentária, já que a reserva hereditária corresponde apenas à metade da herança.

Sendo assim, no que tange a liberdade de testar, como salienta Carlos Roberto Gonçalves, esta será plena, caso testador não tenha herdeiros necessários, consoante ao disposto no art. 1.789 do Código Civil.

À vista disso, o autor da herança, por sua vez, tem apenas a faculdade de dispor acerca da metade disponível e, se for casado no regime da comunhão universal de bens, o patrimônio do casal será dividido em duas meações, e só poderá dispor, em testamento, integralmente, da sua, se não tiver herdeiros necessários, e da metade, correspondente a um quarto do patrimônio do casal, se os tiver.

Isto posto, também ocorre sucessão legítima quando: não existe testamento; o testamento não dispõe de toda a cota disponível; e o testamento é ineficaz ou inválido. Trata-se do princípio da supletividade da legítima, segundo o qual a sucessão legítima supre a ausência da vontade testamentária, à luz do art. 1.788 do CC.

Quanto aos efeitos, segundo Gustavo Tepedino, a sucessão pode ser a título universal ou a título singular. Na sucessão a título universal, o herdeiro recolhe a totalidade dos bens da herança ou uma fração aritmética da universalidade, isto é, uma cota ideal do patrimônio sem discriminação de quais sejam os bens transmitidos e só se admite na modalidade mortis causa , tendo em vista o disposto no artigo 548 do Código Civil. Na sucessão a título singular, o legatário recebe bens determinados; certa generalidade de coisas ou uma quota concreta de bens, sendo que tais disposições são sempre discriminadas em testamento ou codicilo.

Noutro vértice, como alude Carlos Roberto Gonçalves, o ordenamento jurídico não admite outras formas de sucessão, especialmente a contratual, por estarem expressamente proibidos os pactos sucessórios, não podendo ser objeto de contrato herança de pessoa viva (art. 426, CC/02). No entanto, há uma exceção: à luz do art. 2.018 do Código Civil, podem os pais, por ato entre vivos, partilhar o seu patrimônio entre os descendentes.

Assim, ainda na visão de Carlos Roberto Gonçalves, cumpre mencionar as sucessões anômalas ou irregulares, que é as disciplinadas por normas peculiares e próprias, não observando a ordem da vocação hereditária estabelecida no art. 1.829 do Código Civil para a sucessão legítima, como, por exemplo, o benefício ao cônjuge ou filhos brasileiros, na sucessão de bens de estrangeiros situados no País, permitindo a aplicação da lei pessoal do de cujus , se mais favorável, à luz do art. 5°, XXXI da CF, dentre outras hipóteses.

Por conseguinte, podem ser apontadas as seguintes espécies de sucessores, de acordo com Carlos Roberto Gonçalves: herdeiro legítimo, que é o indicado pela lei, em ordem preferencial (art. 1.829, CC/02); testamentário ou instituído, que é o beneficiado pelo testador no ato de última vontade com uma parte ideal do acervo, sem individuação de bens; legatário, que é a pessoa contemplada em testamento com coisa certa e determinada; herdeiro necessário, legitimário ou reservatório, que é o descendente ou ascendente sucessível e o cônjuge (art. 1.845, CC); e herdeiro universal, que recebe a totalidade da herança, mediante auto de adjudicação lavrado no inventário, seja em virtude de lei, seja em virtude de renúncia dos outros herdeiros ou de testamento.

Por fim, conforme dispõe Flávio Tartuce, o objetivo do Direito das Sucessões é destinar os bens do falecido aos seus herdeiros. Entretanto, pode ocorrer que o de cujus não tenha deixado herdeiros, prevendo o art. 1.844 do CC que, não sobrevivendo sucessores, ou tendo eles renunciado à herança, esta se devolve ao Município ou ao Distrito Federal, se localizada nas respectivas circunscrições, ou à União, quando situada em território federal. Além disso, insta mencionar que, consoante ao informativo 864 do STF, o companheiro foi equiparado ao cônjuge na ordem de vocação hereditária, disposta no artigo 1.829 do CC.

REFERÊNCIAS

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Esquematizado: Responsabilidade Civil - Direito de Família - Direito das Sucessões . 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2020.

TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil . 10. ed. São Paulo: Método, 2019.

TEPEDINO, Gustavo (org.); NEVARES, Ana Luiza Maia; MEIRELES, Rose Melo Vencelau. Fundamentos do Direito Civil: Direito das Sucessões . São Paulo: Forense, 2020. vol. 7.

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Direito de Família e Sucessões

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